Por Marco Faustino
Acredito que a única vez que escrevi sobre vampiros, ao longo de quase dois anos como redator desse blog, tenha sido no dia 11 de abril do ano passado, quando publiquei um triste caso que chocou a cidade de Chihuahua, no México, justamente no dia 1º de março daquele ano, onde um rapaz chamado Edwin Miguel Juárez Palma, mais conhecido pelo apelido de "Piwa", 24 anos, foi morto durante um ritual satânico, uma espécie de ritual de iniciação, de uma seita denominada "Filhos de Baphomet I". Em uma sequência absurda de mentiras contadas tanto para rapaz quanto para os próprios seguidores dessa seita, Edwin acabou se tornando a própria oferenda. Na postagem foi mencionado que, Pablo Rocha Acosta, delegado titular da PEU (Policía Estatal Única), disse durante uma coletiva de imprensa, que o caso chamou a atenção das autoridades "pelo colapso social que se tinha atualmente, porque os envolvidos acreditavam que estariam iniciando a vítima em um ritual satânico, que a própria vítima teria pedido com o objetivo de ressuscitar como um vampiro." Resumindo, o jovem teria morrido para voltar como vampiro. Obviamente, conforme vocês já devem ter imaginado, ele não voltou do mundo dos mortos, para a tristeza de amigos e familiares. Aliás, os familiares, disseram que o governo de Chihuahua, através da Procuradoria Geral do Estado, estava gerando uma série de atos de discriminação e xenofobia contra todos os jovens que vestiam roupas pretas ou que possuíam tatuagens e piercings, uma vez que eles relacionaram a morte do rapaz com esses "hábitos comuns" entre os adolescentes (leia mais: Jovem é Morto em Ritual Satânico que Pretendia Convertê-lo em um "Vampiro" na Cidade de Chihuahua, no México).
Recentemente, também comentei sobre o lacrimatório, um nome que até hoje algumas pessoas costumam atribuir a pequenos recipientes de vidro ou cerâmica, que teriam sido encontrados desde a Grécia e a Roma Antiga, e que se presume terem sido utilizados para coletar as lágrimas vertidas pelos enlutados (pessoas que se encontram em luto, ou seja, daqueles que sofrem com a morte de alguém) nos funerais. Contudo, conforme explicamos direitinho para vocês, o lacrimatório nunca existiu. Os frascos de vidro atualmente vendidos em antiquários custando entre R$ 400 e R$ 5.000 nada mais são do que frascos que serviam para guardar vinagres e sais perfumados, perfumes ou para então perfumar lenços umedecidos. Para piorar a situação, alguns outros eram até mesmo descartáveis servindo apenas para armazenar essências aromáticas, geralmente de pétalas de rosas ou lavanda. Apesar de muitos donos de antiquários serem honestos e avisarem previamente seus clientes sobre a verdade por trás dos frascos que possuem para vender, muitos clientes simplesmente não se importam ou então não acreditam na palavra do vendedor, ou seja, pagam pequenas fortunas por algo simples e que não há nenhuma história real por trás do mesmo (leia mais: Conheça o Lacrimatório: A Estranha História Sobre um Recipiente que Serviria Para Coletar as Lágrimas dos Enlutados na Era Vitoriana!).
Agora, vocês devem estar pensando como vampiros e lacrimatórios poderiam estar relacionados, não é mesmo? Bem, você pode até não saber, mas tem gente que vem ganhando muito dinheiro ao longo do tempo vendendo kits supostamente autênticos, que teriam sido utilizados para combater (entenda como matar) vampiros durante o século XIX! Sim, isso mesmo que você leu. Dessa vez, a "pequena fortuna" desembolsada é ainda maior, visto que já teve kit que foi vendido por mais de R$ 80.000 (considerando a cotação do dia anterior da mais recente crise política envolvendo o presidente Michel Temer). Vocês até podem pensar que isso seria algo vendido apenas por antiquários ou sites de compra e venda de produtos no exterior, não é mesmo? Porém, um kit bem parecido com aqueles que iremos mostrar nessa postagem está disponível para compra no Mercado Livre, custando quase R$ 1.000. Será que algum desses kits para combater vampiros é realmente tão antigo e autêntico conforme mencionam? Será que algum deles teria sido efetivamente usado para matar um vampiro no século XIX? Vamos saber mais sobre esse assunto?
O Caso Envolvendo os "Kits" Para Combater Vampiros Durante o Século XIX
Por volta de 1970, quando os filmes e as séries televisas, mostrando o temido e terrível Drácula, ajudaram a reavivar o interesse em antigos mortos-vivos sanguinários da Europa Oriental, os vendedores, principalmente os antiquários, começaram a atender a um mercado emergente de antiguidades relacionadas aos vampiros. Caixas de madeira desgastadas repletas de armas oxidadas, que supostamente teriam servido para matar ou repelir vampiros, apareceram de forma espantosa no mercado, incluindo casas de leilões. Dizia-se que as mesmas tinha sido montadas e organizadas há séculos, como se fossem uma espécie de "equipamento portátil" visando proteger os viajantes da ameaça dos vampiros, que poderiam estar à espreita na calada da noite em alguma rua deserta de algum país pouco conhecido da Europa Oriental ou até mesmo em vagões de trem.
Cena do filme britânico "Taste the Blood of Dracula" lançado em 1970. Na foto aparece o ator Christopher Lee interpretando o papel de Conde Drácula. |
Jonathan Ferguson, é o curador de armas do Museu Royal Armouries, na cidade de Leeds, na Inglaterra, que por sua vez possui um "kit para matar vampiros", que ele descreve como "inspirado pelos filmes, não pelas histórias vitorianas e pelo folclore." O museu o adquiriu em 2012, sabendo que provavelmente o mesmo tinha sido criado na década de 1970 ou 1980.
"Apesar dos artigos aprofundados e das descrições expostas nos museus explicando as origens dos objetos, a crença é mais forte do que a evidência objetiva", disse Jonathan Ferguson, que além de curador é um especialista em armamento britânico.
Foto do Museu Royal Armouries, na cidade de Leeds, na Inglaterra |
Foto mostrando uma das galerias internas do Museu Royal Armouries |
De acordo com Jonathan Ferguson manter esses artefatos à mostra, no entanto, teria valor acadêmico, porque eles "representam o duradouro fascínio gótico do público em relação a criaturas sobrenaturais e os meios para derrotá-las."
O "kit para matar vampiros" pertencente ao Museu Royal Armouries, não é tão antigo quanto alguns podem acreditar |
Foto mostrando mais de perto alguns itens do "kit para matar vampiros" pertencente ao Museu Royal Armouries |
No papel amarelado do seu estojo de couro, o suposto fabricante alemão, um professor chamado Ernst Blomberg, enumerou seu conteúdo, incluindo "balas de prata", uma amostra do seu "novo soro", e uma arma feita pelo armeiro belga Nicholas Plomdeur. A descrição também se vangloria de que o kit ajudará a evitar ascensão de uma manifestação particular do mal, conhecida como vampiros, na Europa Ocidental.
O Museu Winterthur, no estado norte-americano do Delaware também possui um "kit para matar vampiro"s à mostra, em uma exposição chamada: "Treasures on Trial: The Art and Science of Detecting Fakes." (algo como "Tesouros à Prova: A Arte e a Ciência de Detectar Falsificações", em português) que deve permanecer em cartaz até janeiro do ano que vem |
"Essa caixa contém os itens considerados necessários para a proteção de pessoas, que viajam para certos países pouco conhecidos da Europa Oriental, onde a população está atormentada por uma manifestação particular do mal, conhecida como vampiros. O professor Ernst Blomberg solicita respeitosamente que o comprador deste kit, estude cuidadosamente o seu livro, para caso as manifestações maléficas tornem-se aparentes, esteja preparado para lidar com elas de forma eficiente. O professor Blomberg gostaria de prestar seus agradecimentos ao conhecido fabricante de armas de Liège, Nicholas Plomdeur, cuja ajuda na compilação dos itens especiais, as balas de prata, entre outros, o tornou mais eficiente.
Os itens inclusos são os seguintes:
(1) Uma pistola eficaz com seus itens habituais;
(2) Balas de prata;
(3) Um crucifixo de marfim;
(4) Pó de flor de alho;
(5) Uma estaca de madeira;
(6) Novo soro do professor Blomberg."
Confira um trecho que o Museu Winterthur publicou justamente sobre isso:
"Indo contra todo um forte contexto histórico, no qual se refere a um possível kit autêntico para matar vampiros, o Laboratório de Análise e Pesquisa Científica de Winterthur foi capaz de testar os materiais utilizados para fazer o kit, e verificar a sua autenticidade. Uma análise combinada usando fluorescência de raios-X (XRF), luz UV e espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) sugeriu que a face cor de marfim da cruz é realmente marfim e, portanto, uma antiguidade genuína. O FTIR utilizado no feltro verde no interior da caixa, e no couro do lado externo da mesma são compatíveis com materiais verdadeiros. No entanto, a identificação de branqueadores ópticos nos rótulos de papel contestou, que os mesmos tivessem sido feitos no século XIX. Os branqueadores ópticos foram produzidos na década de 1940, e por isso, estes rótulos não pode datar do século XIX. Da mesma forma, a suposta bala de prata do kit, quando testada com o XFR, revelou possuir grandes quantidades de chumbo, estanho e antimônio, mas nenhuma prata. Isso sugere que a bala foi feita de uma liga de estanho em vez de prata. Portanto, mesmo que a bala seja um objeto genuíno do século XIX, o que não foi descartado, isso gera um ponto interessante em termos de determinar se esse objeto é falso ou genuíno. Resumindo, se esse é um kit verdadeiro para matar vampiros feito no século XIX, por que sua bala seria feita do metal errado?"
Anthony Hogg, costumam publicar acusações bem detalhadas contra a autenticidade desses kits (iremos comentar sobre isso daqui a pouco). Algumas vezes, as maletas de madeira repletas de compartimentos são claramente falsificações, geralmente adaptadas a partir de mesas antigas ou caixas originalmente utilizadas para ferramentas, armas, canetas, cosméticos, joias ou até mesmo instrumentos musicais.
Em determinadas vezes, as balas contidas nesses kits sequer cabem nos tambores das armas, que também fazem parte dos conjuntos. Algumas poções anti-vampiro vêm em frascos com tampas modernas, as populares tampas de enroscar, que não existiam no século XIX. Além disso, em um determinado caso, as estacas e o martelo tinham sido claramente fabricados a partir de madeira reciclada de pés de móveis, que foram torneadas artesanalmente para se transformarem, por exemplo, nas estacas.
O texto que pode ser encontrado no museu ainda observa, que os componentes modernos da caixa de couro, afinal de contas, "podem apenas representar substituições ou reparos", e que os kits de Blomberg "foram vendidos em casas respeitáveis de leilão."
kit Blomberg" por cerca de US$ 26.400 (cerca de R$ 82.000 pela cotação antes da crise política envolvendo o presidente Michel Temer ou cerca de R$ 90.000 no dia de ontem, como preferirem), apesar do catálogo claramente ter advertido, que "nem a existência do professor Blomberg, nem a do fabricante de armas Plomdeur podiam ser confirmadas."
Em 2011, um kit para matar vampiros sem qualquer tipo de assinatura, com cerca de 32 itens, incluindo um mapa da Transilvânia, e dois crucifixos, arrecadou US$ 25.000 para a Sotheby's. Um outro "kit Blomberg", que surgiu na Sotheby's, em 2012, foi vendido por US$ 13.750, sendo descrito como "Característica europeia, por volta de 1900 ou posteriormente", e não havia nenhum comentário se os fabricantes eram ou não ficcionais.
Em 2011, um kit para matar vampiros sem qualquer tipo de assinatura, com cerca de 32 itens, incluindo um mapa da Transilvânia, e dois crucifixos, arrecadou US$ 25.000 para a Sotheby's |
Cory Amsler, vice-presidente do Museu Mercer, disse que seu kit aumentou a quantidade de público ao longo das últimas décadas. Além disso, o mesmo serve como uma atração sombria durante programas de Halloween, e tem sido usado como uma ferramenta educacional séria, para explicar séculos de equívocos lastimáveis sobre as causas de doenças debilitantes.
Alguns visitantes acabam levando seus próprios kits, supostamente antigos e que estão em suas famílias há gerações, para compará-los com aqueles que estão à mostra no museu. Segundo Cory Amsler, todos esses conjuntos de repelentes de vampiros são baseados na cultura popular do final do século XX, que acabam gerando suas próprias narrativas. As pessoas continuam criando suas próprias histórias, que acabam atravessando as gerações.
Confira a descrição do item:
"Por fora, um mero livro que o viajante de Boston levava a Romênia, quando visitava a longínqua Transilvânia. Por dentro, um kit de matar vampiro completo, para a total segurança do viajante. Esses kits eram vendidos como água no século XIX, quando viajantes errantes viajavam para os Montes Cárpatos na Transilvânia à procura de compradores para terrenos ingleses e norte americanos na Nova Inglaterra e Boston. Kit raríssimo, qualidade Phineas J. Legheart, comprado em Sigshoara, na Romênia, cidade natal do Conde Drácula.
Foto da caixa onde os itens estão acondicionados |
Fotos de alguns itens que compõe a o "kit para matar vampiros"à venda no Mercado Livre |
- Um livro antigo no estilo baú, que mede 31 x 21 cm;
- Três estacas feitas de carvalho vermelho;
- Um terço de carvalho vermelho;
- Duas velas benzidas;
- Uma réplica da famosíssima pistola flintlock do século 19;
- Uma adaga da ordem do dragão;
- Uma frasco de água benta (vazio, procure o padre local para enchê-lo);
- Um frasco de pó de alho;
- Um frasco de wolfsbane (acônito);
- Um frasco de terra consagrada;
- Um frasco de semente de mostarda;
- Três balas de chumbo;
- Um compartimento secreto;
- Um manual de instruções de como exterminar a criatura da noite.
Mais uma foto mostrando os itens que compõe o "kit de matar vampiros"à venda no Mercado Livre |
Evidentemente, não estamos dizendo que esse kit seja falso, porém não há nenhuma análise científica que mostre o quão antigo sejam esses itens que, conforme vimos até agora existem em museus que já comprovaram que muitas peças não são tão antigas quanto dizem ser. Aliás, não há nenhuma prova que os principais e supostos fabricantes desses kits tenham algum dia existido. E aí, teriam coragem de desembolsar uma quantia como essa? A seguir você ficará sabendo como você pode, inclusive, montar seu próprio kit (sem armas, é claro).
O Interessante Texto Publicado por Anthony Hogg: Seis Motivos Para Você não Comprar um Kit Para Matar Vampiros e Como Você Pode Fazer seu Próprio Kit
Nessa segunda e última parte dessa postagem vou mostrar a vocês um interessante artigo escrito por Anthony Hogg, um australiano que é editor e proprietário da revista eletrônica Vamped, que é especializada no chamado "universo vampírico", ou seja, eles abordam temas relacionado ao mundo dos vampiros e, principalmente, algo fundamental: desmistificam ou tentam pregar a verdade em relação aos casos envolvendo desde supostos encontros com vampiros até mesmo os tais "kits para matar vampiros", que circulam ao redor do mundo.
No Dia das Bruxas de 2014, Anthony escreveu que, cerca de 9 dias antes, no dia 22 de outubro, a "Sterling Associates, Inc." - uma empresa voltada para leilões de artes e propriedades em Closter, Nova Jersey, nos Estados Unidos - vendeu dois "kits de caça de vampiros": um chamado "Vampire Hunting Kit in Coffin Box" (Lote 337, cujos apetrechos vinham em uma caixa no formato de caixão) por US$ 9.000 e outro chamado "Vampire Hunting Kit in Hand Painted Box" (Lote 338, cujos apetrechos vinham em uma caixa pintada a mão) por US$ 6.500, de sua coleção chamada "Danse Macabre". Ambos também foram listados como um "Kit de Caça-Vampiros Europeu do Século XIX"
Razão nº6: Os Kits Não São Autenticados de Forma Correta
Se um comerciante de antiguidades ou um museu lista um item como um "Kit de Caça-Vampiros Europeu do Século XIX", você espera que seja realmente um kit de caça-vampiros europeu do século XIX, não é mesmo? Essa é uma suposição razoável, mas não é algo que eles podem se sentir obrigados a confirmar. Nem mesmo jornalistas, que cobrem as vendas de kits para matar vampiros, fazem isso.
Anthony descobriu sobre essas ações de venda da Sterling Associates, Inc através de um artigo do DailyMail (DM) chamado "Worried That Dracula Is Headed Your Way? Vampire-Slaying Kit from 1800s Complete with Wooden Stakes, Crucifixes and Vials of Holy Water Goes Up for Sale (You Might Want to Add Garlic Just in Case)" de 19 outubro de 2014 que, na época, estava sendo amplamente divulgado no Facebook. Assim como muitos jornalistas que retratam tais kits, a jornalista Sophie Jane Evans, responsável pela matéria no DM, alegou a idade do kit simplesmente pelo seu valor nominal. Poucos se preocupam em discutir a autenticidade com os vendedores, porém esse não era o caso do Anthony, que foi atrás do vendedor para fazer a seguinte pergunta: "Quais evidências você já descobriu sobre a autenticidade do kit, ou seja, ele foi fabricado no século XIX?"
Eis a resposta da Sterling Associates, Inc: "Acreditamos que as caixas e os elementos contidos nas mesmas sejam século XIX. Não somos especialistas em kits para matar vampiros. Não temos conhecimento de qualquer fabricante que produza essas caixas, de modo que investigação e a capacidade investigativa é limitada. Quando eles foram montados, e se nunca foram usados para matar vampiros está além de nossa capacidade."
Então, Anthony colocou isso à prova ao entrevistar o vice-presidente de Exposições e Arquivos do museu "Ripley Believe It or Not's!", o homem responsável pela maior coleção de "kits para matar de vampiros" do século XIX, no mundo. Confira um trecho de um comunicado de imprensa deles, no ano de 2009, sobre esses kits:
"Os kits foram adquiridos por pessoas que possivelmente se preparavam para encontrar um vampiro durante suas viagens internacionais para a Europa Oriental e seu uso data de meados do século XIX. A maioria foi criada na região de Boston, e foi disponibilizada através de catálogo pelos correios. Os kits foram comprados por americanos ricos indo para a Europa Oriental - a então Transilvânia, e atual Romênia. Os viajantes trouxeram de volta terríveis contos de vampiros da região - bem antes de Drácula ter sido trazido à vida por Bram Stoker."
Um trecho comunicado de imprensa do museu "Ripley Believe It or Not's!", no ano de 2009, sobre esses kits para matar vampiros |
Um "Kit para Matar Vampiros" em exibição no Ripley’s Believe It or Not!, em Niagara Falls, no Canadá supostamente fabricado em 1850 |
No vídeo também é possível ver Michael Hirsch, então presidente do museu, confirmando que o kit foi "produzido na década de 1850, e que foi usado por viajantes que estivessem indo para a Europa Oriental." Confira o vídeo abaixo (em inglês):
Segundo Anthony, o grande problema desse vídeo é que Meredith Woerner não era proprietária de um antiquário. Ela é uma jornalista e o máximo que ela já escreveu sobre vampiros se resume a um livro chamado "Vampire Taxonomy: Identifying and Interacting with the Modern-Day Bloodsucker", lançado em 2009, que possui um tom muito mais cômico e hilariante, do que realmente uma abordagem séria sobre o tema. Perceba que Meredith não está realmente examinando o kit, mas meramente descrevendo seu conteúdo.
Além disso, Michael Hirsch também nunca teve nenhuma qualificação nesse sentido. Seu perfil no Linkedln mostra que ele é especializado em: "Administração, Motivação Pessoal, Técnicas de Vendas Customizadas, Redução Acelerada de Despesas, Análise Interna de Trabalho, Práticas de Marketing Digital, entre outras qualificações, mas nenhuma que lhe atribua a perícia de analisar artefatos antigos." Resumindo? Ele é basicamente um empresário nova-iorquino.
Assim sendo, se alguém estiver realmente disposto a comprar um kit desses, mesmo pelo pouco que foi mostrado na razão nº6, a pessoa deve solicitar uma documentação que corrobore com a data indicada pelo vendedor. O interessado deve sempre questionar e não presumir que "século XIX" significa que o kit foi realmente fabricado nessa época. O grande questionamento é que nem tudo mundo tem tempo para fazer isso. Aliás, muitos são leiloados e vendidos muito rapidamente, sendo considerados itens raros. Porém, esses kits são realmente raros assim?
Razão nº5: Os Kits Não São Tão "Raros" Quanto Vocês Pensam
Vamos continuar usando a coleção de kits do museu "Ripley’s Believe It or Not!" como exemplo. A coleção de Ripley, adquirida pelo vice-presidente Edward Meyer, possuía 30 kits supostamente autênticos para matar vampiros, dos quais 26 estavam em exibição em cerca de oito museus da franquia. Essa informação havia sido publicada no site chamado "io9", uma espécie de blog lançado pela Gawker Media, voltado para o mundo da fantasia, futurismo, ficção científica, ciência e tecnologia. O artigo intitulado "Ripley’s Has Authentic Vampire Killing Kits for Every Taste" foi publicado em dezembro de 2009. Essa quantidade também foi confirmada por um comunicado de imprensa chamado "Vampires Beware: Ripley’s Believe It or Not! Owns the World’s Largest Collection of Authentic Vampire Killing Kits" daquela mesma época, onde dizia:
"Cada kit na coleção do Museu Ripley foi adquirido por Edward Meyer, vice-presidente de Exposições e Arquivos da empresa. Recentemente, ele adquiriu mais dois kits para matar vampiros, elevando o número da coleção para 30. Segundo Meyer, os kits pertencentes ao Museu Ripley são os únicos em exibição pública no país - o restante está em coleções particulares.
Um site chamado "Spooky Land" realizou um bom trabalho em catalogar "kits para matar vampiros" em sua página chamada "Vampire Hunter Kit Gallery". A barra lateral também possui cerca de 27 kits e uma página dedicada a coleção do museu Ripley. No entanto, veja o que um outro site chamado "BS Historian" cita em uma postagem intitulada "Towards a Typology of Vampire Killing Kits", de outubro de 2010:
"Conforme vocês podem ver a partir da tentativa do Spooky Land em classificar e categorizar kits para matar vampiros, essa é uma tarefa complicada, uma vez que não existem dois kits idênticos, e muito poucos chegam a ser semelhantes, apesar de compartilharem a palavra 'Blomberg'"
Foto de um "Kit para Matar Vampiros do Século XIX", supostamente francês, catalogado pelo site "Spooky Land" |
"Uma coisa que sabemos com certeza é que eles não são raros. Até agora, tenho documentado a existência de 100 kits que pretendem, ou parecem ser, reais. O que queremos dizer com 'real'? Bem, 'real' pode ser um conceito complicado, mas a maioria provavelmente iria sugerir que significa 'antigo'. Alguns podem também dizer que isso poderia incluir um propósito genuíno, assim como em kits criados para realmente matar vampiros. Uma vez que todas as evidências apontam para uma origem norte-americana ou da Europa Ocidental, em algum momento do século XX, é improvável que eles tenham sido feitos por, ou para, pessoas que acreditavam em vampiros.", disse Jonathan Ferguson.
Foto do "kit para matar vampiros" do Museu Royal Armouries, na cidade de Leeds, na Inglaterra |
Durante a entrevista de Anthony Hogg com Edward Meyer, vice-presidente de Exposições e Arquivos do museu "Ripley’s Believe It or Not!", ele perguntou se Edward sabia alguma coisa a respeito dos kits supostamente criados por um tal de professor Ernst Blomberg, uma vez que tais kits poderiam ter alguma conexão entre eles e, portanto, uma fonte em comum. Edward respondeu que "sabia somente o que era divulgado através de relatos populares e do Google."
Foto do Museu "Ripley’s Believe It or Not!" localizado na Times Square, em Nova York, nos Estados Unidos |
Esses kits "muito raros" também aparecem na TV. No episódio de estreia da série "Auction Kings", chamado "Vampire Hunting Kit/Meteorite", de 26 de outubro de 2010, apresentou Edwin, um colecionador de armas antigas, que levou um kit "muito raro" para a estrela do show, Paul Brown, que ao menos naquela época estava à frente da "Gallery 63", uma casa de leilões e consignação de Atlanta. Posteriormente, o kit foi vendido a um comprador, por telefone, pelo valor de US$ 12.000. Vocês podem conferir um trecho desse episódio no YouTube (em inglês):
Com isso, é possível fazer o seguinte questionamento: Se eles são vendidos e comprados por milhares de dólares e, obviamente, não são primordial antiguidades genuínas, o que esses kits são?
Razão nº4: Os Kits São Montados com Antiguidades Genuínas e Itens Envelhecidos Artificialmente
Na razão nº4, o Anthony Hogg cita justamente aquele kit pertencente ao Museu Mercer, lembram dele? Em um artigo publicado pelo jornal "Philadelphia Inquirer", intitulado "Promoting Bucks County as a Destination, Not a Side Trip", de junho de 1990, é mencionado que o kit foi doado em 1989. O museu teria sido criado por Henry C. Mercer para abrigar sua coleção de antigas ferramentas norte-americanas. Assim sendo, Anthony mencionou que quatro anos antes tinha enviado um email para o Cory Amsler, vice-presidente do museu, perguntando se o kit havia passado por um processo de verificação. Eis a resposta dele:
"Acredita-se ser uma das compilações tanto de itens históricos quanto de artefatos 'inventados', que encontrou seu caminho no mercado de antiguidades em algum momento nos anos 1970 ou 1980. Tivemos algumas partes analisadas nos laboratório do Museu Winterthur e descobrimos que as balas de 'prata' são de estanho (o que não é surpresa alguma considerando a ausência de manchas), e que o papel é do século XX, que foi artificialmente 'envelhecido'. Atualmente, usamos o kit para colocar em xeque a tradição de vampiro tradicional e contemporâneo, para ajudar a interpretar as origens de algumas crenças de vampiros, e demonstrar o uso de metodologias científicas na autenticação de artefatos."
O Museu Mercer teria sido criado por Henry C. Mercer para abrigar sua coleção de antigas ferramentas norte-americanas |
"'Quando as pessoas retornam para visitar o museu, e eles trazem alguém, eles dizem: Olha, você tem que ver o kit para matar vampiros', disse Cory Amsler, vice-presidente do museu.
Isso é real?
'Quando adquirimos o kit, não tínhamos visto nada parecido', disse Amsler. 'Obviamente, muitos dos objetos apontavam para os anos de 1800 - a pistola, o molde da bala, o frasco de pó. A seringa era antiga. O crucifixo de marfim, que funciona como uma estaca de madeira, também era de época', continuou. Porém, havia suspeitas. Os itens pareciam misturar lendas e tradições de vampiros. Balas de prata? Isso é para lobisomens, não é?
'Parecia refletir mais a tradição da cultura literária e popular dos vampiro,s não das lendas folclóricas tradicionais do vampirismo', acrescentou. Como se pode notar, o kit é provavelmente falso, embora a crença em vampiros, e como despachar os "mortos-vivos" fosse real na Europa.
Foto mostrando uma parte do interior do Museu Mercer |
Outra foto mostrando o interior do Museu Mercer |
'O que nos ocorreu é alguém muito provavelmente reuniu o material e o colocou em um contexto diferente. Sabe como é, encontrando uma caixa que tenha sido projetada para pistolas de duelo ou algo parecido, recontextualizando os objetos e apresentando-os como um kit de matar vampiros', finalizou."
Se o museu está ciente sobre a falsidade do seu kit, por que eles ainda o exibem? Cory Amsler elaborou nesse mesmo artigo a seguinte justificativa:
"O Museu Mercer decidiu exibir o kit em tempo integral, porque seu valor em termos de curiosidade hipnotiza. O museu o incorpora em seu evento anual de Halloween chamado 'Mercer by Moonlight', onde são realizadas excursões para explicar como os vivos acreditavam nos mortos-vivos.
Mais uma foto mostrando o interior do Museu Mercer |
E isso não se aplica apenas ao Museu Mercer, mas ao Museu Royal Armouries também, conforme é possível notar em um blog chamado "Postcards from the Hinterland", em agosto de 2012:
"Entretanto, após comprar o kit, o Royal Armouries revelou que, embora algumas partes individuais provavelmente fossem da Era Vitoriana, o kit 'foi provavelmente foi compilado no final do século XX, seguindo o sucesso dos filmes de terror inspirados pelo romance de Bram Stoker, o 'Drácula', de 1897'
Jonathan Ferguson contou que conteúdo era do século XIX, embora um antigo especialista em caixas tenha dito que a caixa poderia ser da década de 1920. A pesquisa mostrou que os conjuntos dessa natureza foram montados na segunda metade do século XX, e que seriam realizados testes.
Além disso, Jonathan Ferguson mantinha seu kit em exibição para utilizá-lo como "ferramenta educativa", por mais que ele não acreditasse na autenticidade do mesmo. Apesar dos pesares, de acordo com ele, o kit era uma espécie de testemunho do quão os vampiros e sua mitologia ainda prevaleciam na cultura popular.
Entretanto, Rick Harrison, um famoso penhorista norte-americano, claramente não compartilhava dos "valores culturais", que Amsler e Ferguson investem nos kits. No episódio da série "Pawn Stars" chamado "Rick or Treat" (exibido em 24 de outubro de 2011), um homem chamado Edmondo, o proprietário de um antiquário fez uma parada na "World Famous Gold & Silver Pawn Shop", em Las Vegas, em busca de vender um "kit original para matar vampiros do século XIX" por US$ 9.000, um valor baseado em "pesquisa". Confira a cena desse episódio (entre 1:20 e 4:08), que está disponível no DailyMotion (em inglês):
Em vez de entregar o dinheiro, Rick Harrison eviscerou o preço pedido por Edmondo em dois pontos: sua familiaridade com a tradição de vampiros - o Dracula de Bram Stoker (1897), que teria influenciado os componentes do kit, calculando uma data posterior ao mesmo, e a inclusão de uma arma "obsoleta" da década de 1830. Resultado? A conclusão de Rick é que somente a arma tinha algum valor, porém o kit seria bem mais moderno do que o alegado.
Então, isso nos deixa com algumas pergunta óbvias. Se esses kits são falsos, quem está fazendo eles? Se estamos lidando com um "imitador", podemos identificar alguém responsável por instigar o comércio? Temos algum suspeito?
Razão nº3: Alguém Confessou Falsificar os "Kits Originais"
Em 10 de janeiro de 2005, um homem chamado Michael de Winter, de Torquay, no Reino Unido surgiu em um fórum de discussões do site "SurvivalArts.com", mais precisamente no tópico "Rare Mid to Late 19th Vampire Killing Kit", com um anúncio um tanto quanto corajoso:
"Olá, pessoal! Vocês precisam saber que todas as citações no site de vocês são completamente sem sentido. A razão é essa: todo o mito do kit para matar vampiros é puramente o resultado da minha imaginação muito fértil. Eu criei "O Original" em 1972. O fabricante Nicolas Plomdeur e o professor Ernst Blomberg não são e nunca foram pessoas reais. Ainda tenho uma cópia original do rótulo da caixa e estou surpreso ao saber como minha brincadeira causou tanto interesse."
O "Kit para Matar Vampiros" no Museu Ripley’s Believe It or Not!, em St. Augustine, na Flórida |
"Minha história começa por volta de 1970, quando estava empregado na indústria tipográfica. Meu passatempo era comprar, vender e remodelar armas antigas. Eu vendia principalmente no famoso Mercado Portobello, em Londres. Meu estoque habitual de armas para venda era apenas entre 10 a 20, e eram de boa qualidade. Eu tinha um número de clientes regulares, que chegavam a cada semana para ver se eu tinha alguma novidade no estoque. Um dos meus clientes regulares queria uma pistola flintlock, e pediu-me para aceitar como parte do pagamento, uma pistola belga de bolso. Relutei em concordar e deixei ele descontar £ 15 do preço da flintlock.
Então, fiquei uma pistola de bolso de má qualidade, em uma condição medíocre! O que fazer com isso? Essa era a minha pergunta. Tendo uma imaginação extremamente fértil e sendo um ávido leitor, fiquei inspirado. Ocorreu-me que eu poderia produzir algo único, que seria um grande truque de publicidade e iria atrair as pessoas para a minha barraca. O 'Kit para Matar Vampiros' estava à caminho."
A história de Michael de Winter é convincente, mas reconhecidamente não conclusiva. Não há nenhuma evidência fotográfica que acompanhasse suas postagens, e outros membros do fórum lançaram dúvidas sobre sua alegação como um criador de "kits de matar vampiros", incluindo alguém chamado Ed, que mencionou ter comprado um "kit de matar vampiros" através de um leilão em 1969, cerca de três anos antes. Infelizmente, nem mesmo o próprio Ed postou nada que corroborasse com sua alegação. Para piorar a situação, o site "SurvivalArts.com" não existe mais (somente através da Wayback Machine), assim como quaisquer endereços de email daquela época.
Parte do texto de Michael de Winter. Vocês podem conferir o texto inteiro ao clicar aqui. |
"No final do dia, eu pensei no nome de 'Nicolas Plomdeur', então o fato de que havia alguém com esse nome é verdadeiramente pura coincidência.", escreveu Michael de Winter, em uma resposta nesse fórum de discussões.
"Olá pessoal. Não, não estou mentindo! A verdade nesse site é a verdadeira história. Ainda não vi nenhuma evidência da existência do professor Ernst Blomberg antes de 1972. Concordo, no entanto, que há evidências disponíveis indicando que o fabricante Nicolas Plomdeur existiu, mas afirmaram em outro lugar que isso é apenas coincidência.", escreveu Michael de Winter, em uma outra resposta.
Entretanto, Michael de Winter não é o único a reivindicar o título de "Pai de Todos os Antigos Kits Para Matar Vampiros", um homem chamado Christopher Pinto apontou em seu blog chamado "StarDust Mysteries", no artigo intitulado "Vampire Killing Kit for Sale on eBay", de setembro de 2011, um "artista gótico" chamado "CRYSTOBAL."
Agora, se vocês acompanharem o link na postagem, vocês serãp levados para uma página chamada "CRYSTOBAL’s Vampire Killing Kits & Other Horrific Works of Art", que é parte do blog "StarDust Mysteries", o que significa que Christopher Pinto estava realmente se referindo a si mesmo ("CRYSTOBAL") em terceira pessoa: "Talvez CRYSTOBAL seja mais famoso (ou infame) por seus 'Kits para Matar Vampiros'. Inspirado por um conjunto real em exposição no Museu Ripley’s Believe it or Not!, em St. Augustine, na Flórida, o artista criou seu primeiro conjunto para si mesmo. Com o passar do tempo, os amigos começariam a perguntar sobre a peça incomum, e ele logo estaria criando kits para coleções e peças de teatro."
A página ainda apresenta imagens de dois kits, um supostamente de 1959 e outro de 1970. Ambas as datas são anteriores a alegação de Michael de Winter, mas vale a pena ressaltar que Edward Meyer, vice-presidente de Exposições e Arquivos do Museu "Ripley’s Believe it or Not!", certa vez disse que não eles não tinham nada, que mencionasse a existência desses kits antes da década de 1990. Além disso, apesar de algumas fotos estarem em preto e branco, claramente se nota que foi aplicado um efeito digital, ou seja, as fotos não são tão antigas assim.
Além disso, apesar de algumas fotos estarem em preto e branco, claramente se nota que foi aplicado um efeito digital, ou seja, as fotos não são tão antigas assim |
Para complicar ainda mais a situação ele também escreveu um livro chamado "How to Kill Vampires (Because They Are Unnatural Jerks)", que foi publicado em 2013. No mesmo, é possível notar que Christopher se passa pelo "CRYSTOBAL", um suposto artista gótico, que ele mesmo inventou.
Para complicar ainda mais a situação ele também escreveu um livro chamado "How to Kill Vampires (Because They Are Unnatural Jerks)", que foi publicado em 2013 |
No mesmo, é possível notar claramente que Christopher se passa pelo "CRYSTOBAL", um suposto artista gótico, que ele mesmo inventou. |
"Bonnie Keyser, de West Chester, relata que ela e seu marido viram um "Kit para Matar Vampiros"à venda por milhares de dólares, em janeiro de 1986, no Manhattan Pier Show. Ela observou em sua carta, que o romance 'Drácula' de Bram Stoker foi publicado pela primeira vez em 1897, tornando o "Kit para Matar Vampiros", de meados do século XIX um pouco suspeito. Seu sentimento na época era que o kit datava da década de 1930.
Patrick Kelly, de St. Paul, Minnesota, me enviou uma fotocópia de uma parte do Catálogo 22 da Houses of Swords and Militaria’s (Independence, Missouri) de 1986, em que um Kit para Matar Vampiros foi colocado à venda por US$ 850."
Embora precisemos confiar mais do que um mero "sentimento" de Bonnie Keyser para verificar sua estimativa da década de 1930, ainda temos duas fontes independentes - um rumor, e uma fotocópia - apontando para kits de matar vampiros supostamente "antigos", já em 1986.
Razão nº2: Comprar os Kits Incentiva que Mais Sejam Fabricados, Vendidos e Expostos
Se o relato de Michael de Winter for verdadeiro, que ele criou o primeiro kit desse gênero, então estamos lidando com um próspero comércio de antiguidades falsas. Pense nisso por um momento. As antiguidades não deveriam ser mensuradas pela idade delas? Não deveriam ter a idade que são anunciadas? O valor delas não deveria ser determinado pelo seu significado histórico e raridade? Agora, quando se trata de kits supostamente "antigos" para matar vampiros, as pessoas estão investindo em quê?
Segundo Anthony Hogg, após questionar a Sterling Associates Antiques sobre os valores praticados, considerando que eles não eram especialistas em tais kits, e nem sabiam estimar o quão antigos eles realmente eram, os mesmos disseram que "as estimativas conservadoras eram baseadas em resultados de leilões anteriores de itens semelhantes."
O precedente estabelecido pelas vendas de kits antigos de matar vampiros a partir da década de 1980 criou uma demanda por itens "históricos", sendo que nada está devidamente autenticado. Confira um trecho de um artigo publicado pelo jornalista Rick Hampson, na Associated Press, uma das maiores agências de notícias do mundo, no qual realizou a cobertura de um leilão de um "kit Blomberg", no ano de 1994.
"O kit provavelmente foi montado nos Estados Unidos, no século XX, não na Europa do século XIX; A pistola parecia ter vindo da década de 1830, mas havia sido criada recentemente, pelo menos nos últimos 15 anos; E como sempre havia um "Professor Ernst Blomberg", supostamente o nome do criador do kit.
'O caixa em si é de meados do século XIX, provavelmente inglesa, nenhuma raridade particular, porém ao ser apresentada como um kit de matar vampiros, ela abre novas visões. Todo mundo está intrigado com isso, desde decoradores de interiores até piadistas', continuou.
Um vampiro, é claro, foge do alho, da Bíblia e da cruz; Ele é vulnerável a balas de prata e, se adormecido em seu caixão, uma estaca. E quanto um espelho? 'Pode estar faltando', disse McCullough, cujo conhecimento dos vampiros vem principalmente de filmes de terror.
McCullough disse que não sabia quem montou o kit, mas tinha uma ideia do porquê: 'Ganhar dinheiro'. A Sotheby's disse que esperava que o kit fosse vendido entre US$ 3.000 e US$ 4.000, como resultado de uma venda para um proprietário norte-americano anônimo."
"Temo que isso seja apenas uma pastiche, uma curiosidade romântica. Nunca houve um kit de matar vampiros", disse Nicholas McCullough, consultor da Sotheby's. |
Aliás, se ninguém verifica isso há quase três décadas e as outras antiguidades? Como saber se um vaso Ming ou um objeto raro é realmente tão valioso e único como dizem? Quem realmente garante isso? Os vendedores? De qualquer forma, há quem mostre que é possível fazer seu próprio kit em casa ou comprá-los por um preço irrisório.
Razão nº1: Faça Você Mesmo o Seu Kit ou Compre Por Muito Menos
Finalmente chegamos no último item das seis razões pelas quais vocês não deveriam comprar um kit desse gênero, ao menos de acordo com o Anthony Hogg, que é o verdadeiro responsável por toda essa pesquisa sobre o assunto, ou seja, dá para perceber o quanto ele sabe sobre o que está falando não é mesmo?
Agora, se você está realmente desesperado por um kit "antigo" para matar vampiros, considere três opções: Vasculhar a literatura do século XIX e antiquários no mundo inteiro, que mencionem ou possuam de kits antigos desse gênero, fazer seu próprio kit, ou comprar de um vendedor que admite abertamente a fabricação moderna deles. Vamos considerar apenas as duas últimas opções.
Exemplo de "Kit para Matar Vampiros" custando apenas US$ 41 no eBay. |
Se criar um kit aparenta ser um grande esforço para vocês, e ao mesmo tempo não acreditam que conseguirão produzir um bom produto para si mesmos, vocês pode comprar um pré-fabricado de origem moderna. Ironicamente, Anthony Hogg cita os kits de Phineas J. Legheart (lembram do kit disponível no Mercado Livre?), cujos preços variavam entre US$ 50 e US$ 395, dependendo do tamanho e quantidade de itens.
Aliás o kit que está à venda no Mercado Livre é fabricando pelo próprio Phineas J. Legheart (clique aqui para vê-lo na página do fabricante) pelo valor de US$ 295 (cerca de R$ 1.000 + frete + impostos, caso seja entregue aqui no Brasil, algo que duvido muito por uma série de restrições devido ao conteúdo do mesmo), sendo que um novinho em folha demora apenas duas semanas para ficar pronto. Resumindo, o kit disponível para vender no Mercado Livre não é datado do século XIX, e obviamente a arma que o acompanha é um trabalho artístico. Para piorar a situação, Phineas J. Legheart é um norte-americano e não tem nenhuma relação com a Romênia, mas a intenção dele também não é enganar ninguém. Ele vende diversos kits para matar zumbis, kits de magia, de piratas etc. Ele é bem famoso nesse ramo, o problema são algumas pessoas que se aproveitam do material para contar alguns histórias irreais sobre esses kits.
Enfim, AssombradOs, esperamos que tenham gostado dessa postagem, e tenham adquirido conhecimento sobre um universo onde muitos podem ser facilmente enganados a todo tempo, ainda mais para quem ter um verdadeiro fascínio pelo mundo "sobrenatural ou paranormal". Essa postagem não serve apenas de exemplo para esses kits, mas tudo que vendem por aí, que custe muito caro e esteja relacionado a qualquer coisa do seu interesse. Pesquise, se aprofunde sobre o que planeja investir o seu dinheiro. Você pode até perder um perder um pouco de tempo, mas com certeza irá economizar muito dinheiro!
Até a próxima, AssombradOs!
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://propnomicon.blogspot.com.br/2014/04/christies-vampire-killing-kit.html
http://vamped.org/2014/10/31/6-reasons-why-you-shouldnt-buy-an-antique-vampire-killing-kit/
http://www.atlasobscura.com/articles/vampire-killing-kits
https://blog.royalarmouries.org/2016/10/31/object-of-the-month-october-the-vampire-killing-kit/
https://collections.royalarmouries.org/object/rac-object-56585.html