Por Marco Faustino
Se tem um assunto que raramente abordei em todo esse tempo é um fenômeno praticamente lendário chamado "chuva de animais", que teria acontecido em inúmeras cidades ao redor do mundo, ao longo da história. E acreditem, já teria caído praticamente de tudo: aranhas, sapos, peixes, pássaros, serpentes, caranguejos, ratos e até mesmo supostos "pedaços de carne de animais". Evidentemente, conforme vocês devem imaginar, cada caso precisa ser analisado com muita cautela e de forma individual. Dizem que esse fenômeno teria ocorrido no Antigo Egito, passando pela Antiga Grécia, textos bíblicos e Idade Média, sendo que os relatos começaram a se tornar mais frequentes e melhor documentados a partir do século XIX (parece perseguição, não é mesmo?). Para vocês terem uma ideia, até hoje existe muita discussão sobre um caso chamado a "Grande Chuva de Carne de Kentucky", que ocorreu no início de março de 1846. Na época, o incidente aconteceu nos arredores da cidade de Olympia Springs, no condado de Bath, no estado norte-americano do Kentucky, onde supostos "pedaços de carne" teriam caído em uma área de 91 x 46 metros.
Diversas hipóteses e as mais surreais possíveis foram mencionadas ao longo do tempo. Uma delas por exemplo, é que o material não seria bem "carne", mas um tipo de cianobactéria que forma colônias protegidas por uma espécie de envelope gelatinoso chamada "nostoc". Nesse caso a espécie seria a "Nostoc craneum", que era descrita como tendo "cor de carne", e que teria gosto de "sapo ou pernas de frango". O problema é que essas colônias não aparentam ser avermelhadas. Outras teorias incluíam a regurgitação proveniente de uma eventual revoada de urubus (considerada até hoje como a hipótese mais provável, porém muitos ainda consideram como improvável pela forma "orquestrada" que dezenas de urubus teriam que regurgitar ao mesmo tempo nos céus de um mesmo local), tornado, "chuva de meteoros", e até mesmo uma farsa que teria sido gerada por alguma dona de casa entediada. De qualquer forma, nunca houve uma explicação oficial para esse incidente.
Talvez algum dia eu faça uma matéria bem interessante sobre a ocorrência desse fenômeno ao redor do mundo, e principalmente sobre a lendária e icônica chuva anual de peixes de Honduras, visto que tenho um material muito bom e inédito em termos de pesquisa, tanto em português quanto em inglês, sobre esse caso. Por falar em peixes, um novo caso relacionado a esse fenômeno envolvendo justamente esses animais aconteceu na pequena cidade de Oroville, no condado de Butte, no estado norte-americano da Califórnia. O dia 16 de março desse ano era para ser uma terça-feira normal em uma escola de ensino fundamental da cidade, até que alunos começaram a notar a existência de diversos peixes mortos e espalhados no gramado, nos brinquedos, e até mesmo em um bebedouro, na área externa da escola, onde os alunos costumam brincar. Diversas teorias começaram rapidamente a circular entre os moradores. Algumas pessoas acreditavam que os peixes teriam vindo uma barragem próxima, devido a uma tempestade, porém outros acreditavam que poderia ter sido um ato de vandalismo. Agora, será que realmente choveu peixe em uma escola de ensino fundamental de Oroville? Vamos saber mais sobre esse assunto?
Entenda o Caso: A Suposta "Chuva de Peixes" de Oroville, na Califórnia
Aparentemente, a situação está bem conturbada na pequena cidade de Oroville no começo desse ano. A cidade com cerca de 18 mil habitantes (de acordo com a última estimativa do Escritório do Censo dos Estados Unidos) já havia passado por momentos de tensão em fevereiro, quando a barragem da cidade, que é a maior dos Estados Unidos, se viu diante do risco de um colapso devido as fortes chuvas.
Nesse sentido, foi emitida uma ordem de evacuação, no dia 12 de fevereiro, para que os moradores de três condados próximos da barragem, quase 200.000 pessoas, deixassem imediatamente suas casas. Felizmente, nada de grave aconteceu, e a ordem foi suspensa cerca de dois dias depois, permitindo assim o retorno dos moradores para suas respectivas residências.
Imagem do Google Maps mostrando a localização da cidade de Oroville, na Califórnia |
Vocês podem conferir essa matéria através de um canal de terceiros, no YouTube (em inglês, mas não se preocupem, visto que comentaremos sobre a mesma a seguir):
No texto foi mencionado, que um caso bem estranho ocorrido naquela semana, mais precisamente dois dias antes (16), tinha deixado estudantes e funcionários da escola de ensino fundamental Stanford Avenue (crianças da 1ª a 5ª série) completamente atônitos: havia "chovido peixe". No entanto, havia uma situação bem peculiar, visto que, apesar de haver inúmeras pessoas, que dissessem ter visto os tais peixes espalhados na área externa da escola, ninguém disse ter visto os tais peixes caindo do céu.
Imagem do Google Street View mostrando a entrada da escola de ensino fundamental Stanford Avenue |
"Eles eram pequenos e da mesma cor, e parecia ter no mínimo uns 60, em todos os lugares", completou.
"Minha primeira preocupação foi saber quem estava no campus que não conhecíamos... mas os supervisores do campus não viram nenhum adulto, os zeladores não virem nada de estranho, então nós meio que descartamos essa hipótese", disse a diretora Shannon Capshew.
Então, se não foi nenhum invasor, os peixes poderiam ter literalmente caído do céu? "Alguns anos atrás houve um relato sobre ter chovido truta na cidade de Chico, então logo pensei: 'eles vieram da incubadora de peixes?'", questionou Liz Barber-Gabriel.
Incubadora de Peixes do Rio Feather", que na prática é uma instalação mantida pelo Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia, e que cultiva salmão e truta steelhead, em condições artificiais, é claro. Essa instalação fica a cerca de 800 metros de distância da escola de ensino fundamental Stanford Avenue, razão pela qual havia essa suspeita.
Entretanto, um representante do Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia disse que não houve nenhuma entrega naquele dia (de vez em quando acontece o transporte aéreo de peixes dessa instalação). Com base nas fotos que a equipe do Action News Now mostrou ao departamento, eles acreditavam que os peixes pudessem ser um tipo de carpa, um peixe que vive em águas quentes, e que pode ser encontrado na barragem de Thermalito Afterbay, mas não nas proximidades do rio Feather.
Segundo a Action News Now, não houve nenhuma resposta por parte do DWR, mas ainda podia haver uma chance real, que tivesse sido realmente uma "chuva de peixes". O texto mencionou a existência de um fenômeno meteorológico, onde os objetos podem ser sugados para cima a partir de lagos ou do oceano por trombas d'água durante uma tempestade. Se o vento fosse forte o suficiente poderia levar os peixes ou outras criaturas por quilômetros antes de deixá-los cair. Portanto, era possível, mas ainda assim bem estranho.
Kris Kuyper, meteorologista-chefe da Action News Now, disse que a chance de ser um fenômeno relacionado ao tempo era improvável, uma vez que não teria havido a ocorrência de trombas d'água ou nuvens funil em Oroville, no dia do incidente, ou seja, na terça-feira passada (16).
Cerca de duas horas depois, a própria Action News Now estranhamente publicou uma versão muito contraditória desse mesmo caso. A princípio, foi mencionado que teria chovido peixe na madrugada terça-feira (16) e que, assim que os funcionários e estudantes começaram a chegar pela manhã, a escola estava coberta por centenas de pequenos peixes, uma vez que uma nuvem de tempestade passou pelo local.
Enfim, ainda segundo o texto e de acordo com Rachael Thompson, bibliotecária da escola, teria começado novamente a chover peixe durante as aulas e o intervalo. Curiosamente, não havia nenhuma entrevista com essa bibliotecária, nem mesmo uma únca foto, e anteriormente não foi mencionado que teria chovido peixe duas vezes no mesmo dia. Para tirar essa dúvida, a única forma era ver o que os demais veículos de imprensa estavam noticiando. Afinal de contas, talvez alguém soubesse dizer a realidade sobre o que tinha acontecido.
A Eventual Distorção Provocada Por Alguns Veículos de Imprensa Norte-Americanos e as Novas Informações Sobre o Caso
Lembram que eu disse que uma palavrinha poderia gerar muita confusão? Pois bem, some a isso a falta de atenção de alguns veículos de imprensa, que acabam copiando a notícia de outros lugares sem nenhuma espécie de filtro ou até mesmo inventando informações com o pretexto de preservar as fontes. O resultado é uma imensa bola de neve.
Um exemplo disso foi a notícia publicada pelo site do jornal "The Sacramento Bee" onde foi divulgado que, na noite de terça-feira uma tempestade se abateu sobre a escola Stanford Avenue Elementary. Assim sendo, diante da passagem da tempestade, o campus da escola ficou coberto de inúmeros peixes mortos. Ironicamente, o "The Sacramento Bee" disse que as informações eram da KHSL, uma das emissoras de TV do conglomerado da Action News Now (foi tomado como base aquele texto contraditório). O site do jornal chegou a informar que um funcionário da escola, cujo nome não foi divulgado, teria confirmado essa versão (da noite de terça-feira) ao próprio jornal, e disse que a diretora da escola, a Shannon Capshew não podia dar entrevista naquele momento. Portanto, de acordo com o "The Sacramento Bee", teria chovido peixe na noite de terça-feira (16) e novamente no dia seguinte (17), enquanto os alunos estavam em aula.
Ainda de acordo com o "The Sacramento Bee", meteorologistas (novamente não foram informados os nomes) do Serviço Meteorológico Nacional de Sacramento disseram que não estavam cientes de uma tempestade de peixes de Oroville, e nem mesmo de quaisquer padrões climáticos que pudessem fazer com que as trombas d'água se formassem. Bem estranho, não é mesmo?
Foto de um dos peixes encontrados no gramado da escola |
Foto mostrando supostamente um outro peixe encontrado em uma superfície de concreto |
Além disso, um porta-voz do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos, cujo nome não foi mencionado, não parecia concordar com a teoria de que os peixes foram parar na escola devido a uma tromba d'água. Ele disse que não tinha havido nenhuma evidência meteorológica que explicasse isso.
Agora, além da primeira matéria da Action News Now e da KTVU, o que realmente temos de confiável em termos de informação sobre esse caso partiu da CBS Sacramento. Vocês podem conferir a matéria que eles realizaram a partir de um canal de terceiros, no YouTube (em inglês, mas comentaremos a seguir):
"Parecia que eles tinham caído do céu. Havia cerca de meia dúzia deles no bebedouro. Foi uma espécie de caça ao ovo de Páscoa", disse Corey Simpson, especialista em recursos da escola de ensino fundamental Stanford Avenue, acrescentando que peixes também foram encontrados sobre o telhado de um dos prédios da escola e de um depósito da mesma.
Corey também disse que havia três grandes possibilidades: vandalismo, o Departamento de Recursos Hídricos ou que tivesse mesmo chovido peixe. A CBS Sacramento também foi atrás para tentar descobrir o que havia acontecido.
De acordo com o DFW, o transporte aéreo de peixes é uma prática comum, quando os caminhões não conseguem transportar os peixes por terra. Contudo, Harry Morse disse que raramente fazem esse tipo de transporte, porque todos os salmões são transportados por caminhões-tanque. Ele disse que a agência dele não era responsável pelo incidente, visto que o DFW cria somente trutas e salmões. O peixe na escola Stanford Avenue era de uma espécie diferente.
Segundo Harry Morse, os peixes encontrados na escola poderia ser do tipo "shiner" (um nome comum na América do Norte para denominar diversos peixes pequenos e prateados) ou então carpas ou perca-sóis de guelras azuis prematuras.
Podemos Dizer que Realmente Choveu Peixe em Oroville?
Por mais estranho que a situação pareça, a resposta é não. Não podemos dizer que tenha "chovido" peixes na escola de ensino fundamental Stanford Avenue, em Oroville, na Califórnia.
Aliás, antes que você pense que uma tromba d'água poderia ser a explicação mais ilustrativa, é importante que você saiba que esse fenômeno apesar de lembrar um tornado, não faz com que peixes sejam sugados para o céu. Isso porque as trombas de água não aspiram a água do curso de água sobre o qual estão posicionadas. A água que vemos na nuvem funil principal são gotas de água formadas pela condensação, ou seja, a umidade é capturada e condensa. Entenderam? Logo, a ideia que uma tromba d'água possa carregar peixes, ainda mais a grandes distâncias é meio que fantasiosa, visto que isso nunca foi documentado antes. Além disso, se tivesse ocorrido uma tromba d'água na região provavelmente alguém teria filmado.
O texto contraditório da Action News Now disse que uma nuvem de tempestade teria passado sobre a escola, assim como outros veículos de imprensa que copiaram aquele texto um tanto quanto confuso. Porém, não há nenhuma evidência que corrobore efetivamente nesse sentido. Para não sermos desonestos, houve um metereologista chamado Mark Finan, da cidade de Sacramento, na Califórnia, que tentou explicar esse caso de maneira natural, por assim dizer. Vocês podem conferir o vídeo no canal da KRCA (uma emissora de TV afiliada da NBC), no YouTube (em inglês):
De acordo com Mark Finan, a escola em questão está localizada a apenas cerca de 800 metros da incubadora de peixes, uma distância relativamente curta e próxima, quase em linha reta. Voltando um pouco no tempo, aquela terça-feira (16) foi um dia bem frio, com possíveis pontos de chuva isolados, porém não é possível saber quanto choveu, porque a estação meteorológica mais próxima estava fora do ar, ou seja, não foi possível obter maiores informações das condições climáticas daquele dia.
Entretanto, Mark Finan teorizou, ou melhor, especulou que fortes ventos ou pequenos núcleos de tempestade poderiam ter "varrido" alguns peixes na superfície do rio Feather, os fazendo cair na escola.
No entanto, Mark Finan teorizou, ou melhor, especulou que fortes ventos ou pequenos núcleos de tempestade teriam "varrido" alguns peixes na superfície do rio Feather, os fazendo cair na escola |
Infelizmente, as mais diversas teorias não devem ser mais investigadas pelo Departamento Estadual de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia, que aparentemente deu o caso por encerrado. Uma das teorias mais inusitadas foi publicado pelo site de notícias SFGate.com, pertencente ao jornal San Francisco Chronicle, onde foi mencionado rumores que pelicanos teriam sido avistados nas proximidades da escola, ou seja, os pelicanos poderiam ter deixado os peixes caírem.
Enfim, AssombradOs, e vocês? O que acham que pode ter acontecido na Stanford Avenue? Sinceramente, ainda aposto em uma brincadeira de mau gosto. Vocês acreditam em algum fenômeno meteorológico? A culpa é de algum departamento estadual? Animais teriam sido os responsáveis? Por enquanto, o mistério ainda permanece! Caso tenhamos maiores informações, manteremos vocês informados através de uma atualização nessa mesma postagem, combinado?
Até a próxima, AssombradOs!
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://kdvr.com/2017/05/18/fish-rain-from-the-sky-covering-school-in-smelly-sea-life/
http://kron4.com/2017/05/19/video-oroville-school-littered-with-fish/
http://sacramento.cbslocal.com/2017/05/19/oroville-school-covered-in-dead-fish/
http://sacramento.cbslocal.com/2017/05/19/stanford-avenue-elementary-dead-fish-school/
http://www.actionnewsnow.com/story/35463479/weird-weather-fish-rains-down-from-clouds-on-oroville-elementary-school
http://www.actionnewsnow.com/story/35466772/its-raining-fish-at-an-elementary-school-in-oroville
http://www.kcra.com/article/did-it-rain-fish-in-oroville-possibly-1495171942/9878789
http://www.ktvu.com/news/255770855-story
http://www.sacbee.com/news/weather/article151394812.html
http://www.sfgate.com/news/article/Oroville-elementary-fish-rain-11159594.php
http://www.wtol.com/story/35474917/fish-rain-down-on-ca-kindergartners