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A "Casa dos Horrores": Homem Decide Morar com Sua Família em Antiga Casa de um "Monstro" da Segunda Guerra Mundial, na Polônia!

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Por Marco Faustino

Sinceramente, escrever ainda que parcialmente sobre um assunto tão complexo, amplo, e que representa um dos mais tristes capítulos na história moderna da civilização humana, assim como foi o Holocausto, que consistiu na  perseguição e o extermínio sistemático, burocraticamente organizado e patrocinado pelo governo nazista, é bem complicado. Apesar de estar acostumado a realizar pesquisas sérias em relação ao que escrevo para vocês, como parte do meu compromisso em trazer incessantemente informações mais próximas da realidade dos fatos, sempre é necessário respirar fundo para não se envolver ou deixar uma determinada emoção tomar conta. Nem sempre é possível evitar, mas espero que saiam dessa postagem enriquecidos culturalmente, visto que esse é o real objetivo pelo qual escrevo, ou seja, que vocês tenham uma informação suficientemente adequada para que possam formar suas opiniões de modo muito mais consciente do que fariam se dependessem apenas do que é publicado de forma resumida e muitas vezes sensacionalista por parte de tabloides britânicos, cujo conteúdo é replicado, sem o menor critério, por jornais populares aqui no Brasil, e até mesmo por portais de notícias considerados "confiáveis".

Nessa postagem iremos conferir uma notícia relacionada a chamada "Casa dos Horrores", que ficou famosa no filme "A Lista de Schindler", onde Amon Göth, um ex-comandante do campo de concentração na cidade de Plaszow, na Polônia, teria atirado em judeus a partir da varanda da própria casa. A mesma vem sendo alvo de polêmica após um "desenvolvedor" começar a convertê-la em uma propriedade de luxo. Vale lembrar nesse ponto que o "sádico" Amon Göth comandava sua casa com punho de ferro ao torturar judeus em sua adega, e ao esfaquear uma de suas empregadas na perna, simplesmente porque não tinha colocado pratos suficientes na mesa. Conta-se ainda que ele teria matado um jovem judeu, porque ele deixou a sala sem pedir permissão. Além disso, os sobreviventes dizem que Amon Göth costumava incentivar seus dois cachorros a atacar os judeus, com o intuito de dilacerá-los. Portanto, a polêmica basicamente reside em quem teria coragem de morar em uma casa , que já abrigou uma pessoa assim.

Conforme dissemos anteriormente, em uma notória adaptação realizada pelo filme "A Lista de Schindler", de 1993, o comandante austríaco da SS, interpretado pelo ator Ralph Fiennes, foi mostrado atirando em prisioneiros a partir da varanda de sua casa. Agora, um homem chamado Artur Niemyski, que teria comprado a propriedade no ano passado (embora algumas fontes indiquem que teria sido em 2015), está reformando-a para se mudar juntamente com sua família para essa mesma casa. Artur Niemyski vem insistindo em dizer que não quer ofender as memórias de ninguém. Por outro lado, ele recusou uma campanha para transformar o local em uma espécie de memorial, no qual contava com o apoio de uma das duas judias que foram torturadas e mantidas como prisioneiras por Amon Göth. Complicado, não é mesmo? Vamos saber mais sobre esse assunto?

Quem foi Amon Göth? Um Breve Resumo Sobre a História de um Monstro


Amon Leopold Göth, o principal vilão do filme "A Lista de Schindler", nasceu em 1908, em Viena, na Áustria, e ao completar 24 anos, ingressou no Partido Nazista. Em 1940, Amon Göth tornou-se um membro da Waffen-SS, a temida tropa de elite de Hitler. Ele foi designado ao quartel-general da SS para a Operação Reinhard, em Lublin, na Polônia, ocupada pela Alemanha em 1942. A Operação Reinhard consistia basicamente em um plano de evacuar os judeus dos guetos da Polônia para três campos de extermínio: Treblinka, Sobibor e Belzec, todos na região leste do país. A primeira tarefa de Göth foi supervisionar a eliminação de diversos pequenos guetos na cidade de Lublin.

Amon Leopold Göth, o principal vilão retratado no filme "A Lista de Schindler", nasceu em 1908, em Viena, na Áustria,
e ao completar 24 anos, ingressou no Partido Nazista
Os guetos judeus de Lublin foram os primeiros a serem liquidados, e alguns dos judeus de Lublin foram os primeiros a serem enviados para o campo de extermínio de Belzec, durante a Operação Reinhard, que marcou o início da "Solução Final da Questão Judaica na Europa". Göth aceitou subornos de alguns judeus do gueto de Lublin, durante o processo de seleção, e os colocou na lista para serem enviados para um campo de trabalho, ao invés do campo de Belzec. Há quem diga inclusive, que essa atitude de Göth pode ter "salvo" um número comparável de pessoas, tal como fez Oskar Schindler. Porém, como vocês podem notar, esse é um ponto extremamente controverso e polêmico, que não iremos abordar nessa postagem.

Em fevereiro de 1943, Göth recebeu uma promoção e se tornou o terceiro oficial da SS a ocupar o cargo de comandante do campo de trabalho forçado de Plaszow. Enquanto foi comandante do campo de Plaszow, Göth foi designado para supervisionar a liquidação do gueto de Podgorze, em 13 de março de 1943, e posteriormente do campo de trabalho, em Szebnie. Aliás, a liquidação do gueto de Podgorze, na cidade de Cracóvia, uma das mais antigas cidades da Polônia, é mostrada no filme, "A Lista de Schindler". As cenas do gueto no filme, no entanto, foram filmadas em Kazimierz, outro gueto de Cracóvia.

Em fevereiro de 1943, Göth recebeu uma promoção e se tornou o terceiro oficial da SS a ocupar
o cargo de comandante do campo de trabalho forçado de Plaszow
Enquanto foi comandante do campo de Plaszow, Göth foi designado para supervisionar a liquidação do gueto de Podgorze, em 13 de março de 1943, e posteriormente do campo de trabalho, em Szebnie
Em 3 de setembro de 1943, Göth supervisionou a liquidação do gueto de Tarnow. Durante a liquidação desses guetos, Göth aproveitou a situação para roubar alguns dos bens que foram confiscados dos judeus, incluindo casacos de pele e móveis. Ele guardou parte desses bens em um apartamento em Viena, onde sua segunda esposa morava com seus dois filhos.

Em janeiro de 1944, o campo de trabalho forçado em Plaszow foi convertido em um campo de concentração sob a jurisdição da WVHA, o chamado "Escritório de Economia e Administração da SS", na cidade de Oranienburg, próxima de Berlim. Os dois sub-campos de Prokocim e Biezanow foram incorporados ao campo principal em Plaszow, e as condições de vida dos prisioneiros foram "melhoradas".

Foto da antiga casa onde Amon Leopold Göth morou em Plaszow, na Polônia
Foto de Ruth Irene Kalder, a amante de Amon Göth, na varanda do segundo andar da casa onde moravam, em Plaszow,
juntamente com um dos cães de Göth
Os prisioneiros poloneses e alguns criminosos alemães passaram a ficar no mesmo campo que os judeus, algo até mesmo comum em outros campos de concentração nazistas. Apenas alguns poucos prisioneiros foram obrigados a trabalhar na pedreira como punição.  Havia fábricas criadas para a produção de uniformes da Wehrmacht (nome dado ao exército alemão durante o Terceiro Reich) e para móveis estofados. Também havia uma alfaiataria, uma joalheria e um fábrica de cabos no campo de concentração.

Foto de Amon Göth segurando um rifle, na varanda de sua casa, em Plaszow
Uma vez sendo o comandante do campo de concentração de Plaszow, Amon Göth tinha que se reportar a sede do escritório da WVHA, em Oranienburg, e isso viria a ser um problema devido a sua conduta.

"Os chefes de Oranienburg não permitiam a execução sumária, ou seja, os dias em que os descascadores de batata menos eficientes podiam ser executados no local tinham acabado, e agora só podiam ser eliminados após passar por uma espécie de processo. Tinha que haver um interrogatório, e o registro do mesmo deveria ser enviado em três vias para Oranienburg. A sentença tinha que ser confirmada não somente pelo escritório do General Glueck, mas também pelo chamado Departamento W (um departamente relacionado a economia de empresas), do General Pohl", disse o escritor Thomas Keneally, em seu livro chamado "A Lista de Schindler".

Foto mostrando um trecho do campo de concentração de Plaszow, na Polônia
Mais uma foto mostrando um outro trecho do campo de concentração de Plaszow, na Polônia
De acordo com o livro do escritor David Crowe, intitulado "Oskar Schindler", depois que Göth foi preso em 13 de setembro de 1944, Oskar Schindler foi detido alguns dias depois e foi interrogado pela SS como parte da investigação contra Göth. David Crowe escreveu que Schindler transferiu para Brünnlitz, um vilarejo na atual República Checa, muito do que havia sido saqueado pelo ex-comandante do Plaszow. Göth, que ainda parecia ter apreço pelo seu amigo Schindler, visitou Brünnlitz diversas vezes durante os últimos meses da guerra enquanto estava em liberdade condicional.

David Crowe escreveu que Amon Göth foi preso depois de uma investigação, que durou 6 meses, a respeito de sua posição como comandante de Plaszow. Göth foi mantido na prisão em Breslau, porém foi solto, em liberdade condicional, em 22 de outubro de 1944, porque ele estava sofrendo de diabetes. Ele estava se recuperando em um sanatório da SS em Bad Tölz, próximo de Munique, quando foi preso pelas tropas do general Patton em 1945. Sua amante, Ruth Irene Kalder, estava com ele em Bad Tölz e sua filha, Monika, que tinha nascido no local. A segunda esposa de Göth tinha se divorciado dele em 1944.

Fotos tiradas de Amon Göth na prisão, e com uma aparência bem mais magra devido a diabetes tipo 2
Foto de Ruth Irene Kalder e de sua filha Monika, na década de 1940
De acordo com um livro chamado "A Arca de Schindler", de Thomas Keneally, Amon Göth estava "vendendo uma parte das rações dos prisioneiros no mercado aberto em Cracóvia através de um agente, um prisioneiro judeu chamado Wilek Chilowicz, que tinha contatos com gerentes de fábricas, comerciantes e até mesmo restaurantes em Cracóvia". Na verdade, essa foi apenas uma pequena parte da corrupção descoberta pela SS durante a investigação. Curiosamente, Wilek Chilowicz teria sido morto por Göth, porque ele era uma potencial testemunha do seu crime ao roubar a comida dos prisioneiros.

Mietek Pemper, um prisioneiro de Plaszow, que trabalhava como estenógrafo de Göth, e tinha conhecimento de documentos secretos da SS, foi a principal testemunha contra Amon Göth quando foi julgado na Polônia depois da guerra. Mietek Pemper disse ao autor David Crowe que "a base da riqueza de Chilowicz provinha dos bens que Göth havia coletado dos judeus de Cracóvia, após o fechamento do gueto de Podgorze." Embora Göth pudesse enviar esses objetos de valor ao Reichsbank, ele disse a Chilowicz para guardá-los, o que acabou se tornando a base do império do mercado negro de Göth, em Plaszow.

Amon Göth usando a farda da SS antes de sua saúde se deteriorar (à esquerda) e mesmo Amon Göth após ter sido preso pela Polícia Criminal da SS por "corrupção e brutalidade", em 13 de setembro de 1944, e levado para Breslau
De acordo com o livro de David Crowe, Wilek Chilowicz era o chefe da OD, a polícia judaica em Plaszow. Ele escreveu que "Göth pediu permissão para assassinar Chilowicz, e vários outros homens proeminentes da OD no campo de concentração sob acusações falsas". Em todos os campos de concentração nazistas, os oficiais tinham que obter permissão da sede em Oranienburg para punir um prisioneiro, mas a punição não incluía homicídios.

Göth teria pedido a um de seus oficiais da SS, chamado Josef Sowinski, para preparar um relatório detalhado, porém falso, sobre uma potencial rebelião no campo de concentração, que teria sido conduzida por Wilke Chilowicz e outros homens de OD. Com base nesse relatório, Wilhelm Koppe, um oficial que trabalhava no escritório central, em Oranienburg, enviou uma carta secreta a Göth dando-lhe a autoridade para executar Chilowicz e diversos outros homens da OD. A execução ocorreu em 13 de agosto de 1944, sendo que Göth foi preso exatamente um mês depois ao ser acusado de corrupção e brutalidade, incluindo o assassinato de Wilek Chilowicz e diversos outros. O escritório em Oranienburg não tinha autoridade para dar uma ordem de execução, visto que só poderia ser autorizada pela Gestapo, em Berlim.

Amon Göth durante seu julgamento (à esquerda), e saindo do tribunal após ter sido sentenciado à morte (à direita)
Devido ao fato de que a Alemanha estava perdendo a guerra e a SS passou a ter problemas maiores, Göth nunca foi julgado pelos próprios nazistas. Ele se considerava um homem culto, até mesmo um poeta. Os pais de Göth eram donos de uma editora em Viena, e eles queriam que o filho assumisse o negócio algum dia, mas ele não estava interessado. O primeiro casamento de Göth, arranjado por seus pais, terminou em divórcio, em 1934.

Para vocês terem uma ideia, o campo de Plaszow ficou em operação por cerca de dois anos e meio, e durante esse tempo a Comissão Principal para a Investigação de Crimes Nazistas na Polônia estimou que 150.000 prisioneiros passaram pelo local, sendo que 80.000 deles teriam morrido como resultado de execuções em massa ou epidemias.

Plaszow teria servido como uma espécie de "campo temporário" para os prisioneiros que estavam sendo enviados para Auschwitz, o que poderia explicar o número de 150.000 prisioneiros que passaram pelo campo de trabalho e concentração. Oficialmente, no entanto, o número de mortes atribuidas ao campo de Plaszow é bem menor, cerca de apenas 8.000, de acordo com o Supremo Tribunal Nacional da Polônia, após ouvir o testemunho de sobreviventes.

Fotos de prisioneiros no campo de concentração de Plaszow
Após a Segunda Guerra Mundial terminar, os militares norte-americanos entregaram Amon Göth para que o mesmo fosse julgado devido aos seus crimes de guerra. Seu julgamento ocorreu entre 27 de agosto e 5 de setembro de 1946. Ele foi acusado de ser membro do partido nazista e membro da Waffen-SS, ambos designados como organizações criminosas pelos Aliados após a guerra. Ele foi acusado de emitir pessoalmente ordens para privar a liberdade das pessoas, maltratar e exterminar indivíduos e grupos inteiros de pessoas. Seus crimes, incluindo o recém-criado crime de "genocídio", vieram sob uma nova lei dos Aliados, chamada de "Crimes contra a Humanidade".

Ele teria sido enforcado na Cracóvia, no dia 13 de setembro de 1946, exatamente dois anos após ter sido detido no campo de Plaszow. A questão é que nunca apareceu nenhuma foto ou vídeo do seu enforcamento, uma vez que o material disponível em plataformas como o YouTube são vídeos retratando outras pessoas. Seu corpo teria sido cremado e suas cinzas teriam sido jogadas no rio Weichsel.

A Polêmica Relacionada a Aquisição da Casa de Amon Göth Para Servir como uma Residência de Luxo


Em uma recente entrevista exclusiva para o tabloide britânico Daily Mail, a empregada judia de Göth, Helen Jonas-Rosenzweig, acusou Artur Niemyski de querer silenciar, apagar e encobrir os horrores envolvendo a história da propriedade em questão.

"Eu fui uma prisioneira e uma vítima nessa casa. Quero que o mundo saiba o que aconteceu naquele lugar", disse Helen Jonas-Rosenzweig.

Amon Göth, que foi casado por duas vezes, teve uma espécie de caso extraconjugal com uma "esteticista" chamada Ruth Irene Kalder, sua amante. Os sobreviventes relataram que o casal vivia uma vida de prazeres absolutos em meio à intensa violência que ocorria diariamente.

Na verdade, Ruth Irene Kalder era uma ex-atriz e ex-secretária de Oskar Schindler. Aliás, foi o próprio Schindler que a apresentou pessoalmente para Amon Göth, que acabou desenvolvendo um relacionamento com a mesma. Em uma entrevista em 1983, Ruth Irene Kalder, descreveu Göth como um homem encantador, com "modos impecáveis". Ela disse que nunca lamentou, nem por um segundo, de ter tido um relacionamento com Amon, que começou quando ela tinha 25 anos. Kalder cometeu suicídio no dia seguinte a essa entrevista, porém ela já vinha sofrendo de uma grave doença pulmonar.

Foto de Helen Jonas-Rosenzweig, no passado (a menina na posição mais alta, à direita), e atualmente (à esquerda)
"Ele viveu uma vida muito luxuosa. Tinha uma bela propriedade. Havia entregas diárias de carne fresca, frutas frescas, legumes frescos, vinho, e licor. O criminoso de guerra nazista festejava 
'a noite toda' com sua namorada", lembrou.

"Sua amante vivia em meio ao luxo, embelezando-se o dia inteiro. Deitava-se com máscaras no rosto, fazendo todos os tipos de misturas para a pele... Ela colocava música para não ouvir ou saber de nada (em relação à violência praticada diariamente por Amon)", continuou.

Foto antiga da casa onde Amon Göth e Ruth Irene Kalder moravam em Plaszow, na Polônia
Foto mais atual da antiga casa de Amon Göth na época em que a mesma foi colocada à venda
Helen Jonas-Rosenzweig serviu nas festas mais luxuosas destinadas aos oficiais da SS e testemunhou torturas e abusos praticados de forma sistemática. Em uma ocasião, ela teria visto um jovem, um menino judeu sendo morto a tiros no local, porque ele deixou uma sala sem permissão. Além disso, ela é assombrada até hoje pelos cachorros de Amon Göth.

"Um era preto e branco. Ele era tão grande. Eu escovava o cachorro, o alimentava... Ele poderia dar um comando para esse cachorro, o Ralph, e ele dilaceraria as pessoas. Rasgaria elas ao meio", disse Helen.

Fotos antigas de Ruth Irene Kalder, amante de Amon Göth
"Um era preto e branco. Ele era tão grande. Eu escovava o cachorro, o alimentava... Ele poderia dar um comando para esse cachorro, o Ralph, e ele dilaceraria as pessoas. Rasgaria elas ao meio", disse Helen. Essa parte é interessante, porque alguns sites sobre o Holocausto apontam que Ralph (à esquerda) era o outro cachorro que aparece nessa foto (à direita)
Foto mais recente de Monika Göth, filha biológica de Amon Göth e Ruth Irene Kalder
Um dia ela se lembrou de ver a imagem assustadora de Göth, de pé junto à janela, com uma metralhadora, observando os trabalhadores escravos cavando valas e carregando pedras na estrada bem próximo ao seu jardim, onde foram forçados a trabalhar.

"Olhe para aqueles porcos. Se eles não começarem a trabalhar dentro de poucos segundos, estarão todos mortos", disse Amon para Helen. Além disso, ela disse que correu desesperadamente para dizer as pessoas, que se elas não trabalhassem direito, iriam morrer. Acrescentou ainda que se ela não tivesse deslizado pela colina para avisá-los teria havido um massacre.

Amon Göth segurando um rifle na varanda do segundo andar da casa,
na parte dos fundos da mesma
Uma outra empregada chamada Helen Horowitz, foi esfaqueada na perna após não ter conseguido colocar pratos suficientes para o jantar.

"Controlei a dor e corri para a cozinha. Então percebi que ele tinha cortado uma veia", disse Helen Horowitz. Em um outro incidente, Helen Horowitz disse que foi agarrada pelos seios enquanto trabalhava na casa.

"Pensei que ele estivesse arrancando meus seios. Ele me empurrou com tanta força. Era um sádico, um sádico indescritível... ele começou a me bater e me empurrou com todas as suas forças", completou.

Foto da parte frontal da antiga casa onde morava Amon Göth
Foto da parte dos fundos da antiga casa onde morava Amon Göth
Amon Göth, que segundo as testemunhas "nunca começava o seu café da manhã sem disparar em pelo menos uma pessoa", foi julgado na Polônia, em 1946. Ele foi condenado à morte por "matar pessoalmente, mutilar e torturar um número substancial, embora não identificado, de pessoas". Conforme mencionamos anteriormente, Göth foi enforcado em pouco menos de 10 dias após o seu julgamento.

Nesse ponto seria interessante mencionar a origem desses relatos, que foram colocados acima, visto que os mesmos originalmente pertencem a Helen Hirsch Horowitz, a outra empregada e a mais velha das duas que ele possuía. Helen Horowitz tinha cerca de 30 anos de idade na época do julgamento de Amon Göth. Naquela ocasião, ela forneceu maiores detalhes sobre o que acontecia na casa, sendo que está disponível na internet a transcrição de trechos de alguns depoimentos que ocorreram no julgamento de Amon Göth, basta clicar aqui para conferí-los (em inglês).

Evidentemente, o ideal seria que estivesse no idioma nativo dos depoentes, e que fosse realizada uma tradução minuciosa do seu conteúdo. Isso até pode ter sido feito, porém é difícil dizer, uma vez que algumas imagens que acompanham as transcrições, principalmente relacionadas a execução de Göth, não refletem a veracidade dos fatos. De qualquer forma, vamos traduzir alguns trechos mais relevantes para essa postagem.

Uma das poucas imagens que temos referentes a Helen Horowitz. Essa imagem foi extraída a partir de uma entrevista que ela concedeu para a Fundação USC Shoah, fundada por Steven Spielberg
"... Após um jantar joguei fora os ossos que restaram em um prato, à noite o acusado apareceu na cozinha e exigiu saber onde estavam os ossos, eu respondi que os tinha jogado fora. Ele me bateu no rosto com tal força, que eu caí, e me falou que se eu não obedecesse suas ordens, ele iria atirar em mim. Uma vez na "Casa Vermelha" entrando em uma sala, notei um rifle ou outro tipo de arma."

Ao ser questionada sobre o que era a "Casa Vermelha", Helen Horowitz respondeu:

"Essa era a residência particular do acusado. Foi aí que eu notei como ele segurava um rifle e, felicitando-se por sua habilidade, ou por sua perícia, diante de outros alemães também presentes na sala, ele disparava contra um grupo de pessoas que trabalhavam a uma distância, de talvez 200 metros, a partir da janela da casa.

Em seguida, outro fato, após a liquidação do Gueto em Cracóvia, os judeus foram levados para o campo de concentração e para a colina apenas para serem alvejados..."

Foto antiga mostrando o portão principal do campo de Plaszow, na Polônia
Agora, confira outros trechos do depoimento de Helen Horowitz:

"... Então, ele me disse na época, que se o jantar não fosse um sucesso, eu seria baleada. Naturalmente, seguindo tal ameaça, fiz o que pude, para que o jantar fosse preparado de maneira exemplar. Todos os alimentos utilizados para preparar este jantar vieram da cozinha do campo de prisioneiros. 

Felizmente, para mim, a festa acabou por ser um sucesso, e para minha surpresa, no dia seguinte ele estava furioso novamente. Eu não sabia que uma pessoa a mais iria aparecer para a festa. Göth me chamou e me perguntou a razão para qual a mesa estava posta apenas para uma pessoa. Sem esperar minha resposta, ele atirou uma faca afiada em mim, que penetrou a minha perna.

Foto do memorial localizado no antigo local onde ficava o campo de concentração de Plaszow, na Polônia
Outro fato é que no campo havia um alemão chamado Biegel, que trabalhava no setor de compra e venda do escritório de administração do campo. Em um jantar, esse oficial Biegel deu ordem a um menino, que também trabalhava lá, que fosse buscar uma carruagem nos estábulos. O garoto congelou quando Biegel lhe avisou, que ele seria chicoteado 25 vezes, se ele não cumprisse sua ordem. 

Naturalmente, o menino trouxe a carruagem, como ordenado, que Göth acabou descobrindo mais tarde. Göth chamou o menino e lhe perguntou quem tinha dado a ordem de trazer aquela carruagem. O rapaz respondeu, explicando as circunstâncias, e como a mesma tinha aparecido. Göth, sem ouvir o menino, o matou no local. O menino tinha apenas 20 anos de idade."

A razão pela qual eu escolhi esses trechos? Bem, de acordo o livro "A Arca de Schindler", de Thomas Keneally, Göth saía pela porta da frente de uma "residência temporária", e atirava em prisioneiros aleatoriamente. Posteriormente, quando ele se mudou para uma "casa branca" de 3 andares na rua Jerozolimska (justamente a casa que costuma ser visitada pelos turistas), Göth atirava em prisioneiros da varanda de casa, ou seja, possivelmente ele teria morado em mais de uma casa na cidade. De acordo com muitos sites, a "Casa Vermelha" descrita por Helen Horowitz seria a tal "Casa Branca" mencionada por Thomas Keneally. Porém, até hoje não se tem maiores informações conclusivas sobre isso.

De acordo com muitos sites, a "Casa Vermelha" descrita por Helen Horowitz seria a tal "Casa Branca" mencionada por Thomas Keneally. Porém, até hoje não se tem maiores informações conclusivas sobre isso
O novo dono da propriedade, Artur Niemyski, reconheceu os horrores de seu passado, mas se recusou a permitir que isso determinasse o seu futuro.

"Não podemos fazer nada sobre o que aconteceu no país naquela época. Não sei se vou me sentir confortável ao dormir à noite, mas não acredito que haverá algum problema", disse Artur. Aliás, o porão onde as empregadas judias eram aprisionadas passou por uma "grande reforma" para protegê-lo da umidade do local. Artur planeja utilizá-lo como uma oficina e considerava usar o espaço para armazenar garrafas de vinho.

"A rua inteira foi ocupada por oficiais, das mais diversas graduações do campo de concentração, e histórias diferentes aconteceram lá também. Temos que viver com isso", completou.

Aliás, o porão onde as empregadas judias eram aprisionadas passou por uma "extensa reforma" para protegê-lo da umidade do local. Artur planeja utilizá-lo como uma oficina e considera usar o espaço para armazenar vinho
O campo de concentração de Plaszow era notório pela violência extrema que aconteceu no local, até mesmo para os padrões nazistas. Os prisioneiros eram rotineiramente executados ao acaso, e a tortura era comum. Uma das principais comandantes femininas, Alice Orlowski, era conhecida por chicotear prisioneiras na região dos olhos.

As forças alemãs fizeram grandes esforços para desmantelar o maior número de evidências possível do que acontecia no local, quando se retiraram diante do avanço soviético, em 1945. Os documentos foram destruídos, e até mesmo os corpos em valas comuns foram exumados e queimados.

Artur Niemyski, no entanto, disse que restaurou a casa em suas "condições originais", e pretende se mudar com sua família no próximo verão (do Hemisfério Norte, ou seja, em meados desse ano).

Artur Niemyski, no entanto, disse que restaurou a casa em suas "condições originais" e pretende se mudar com sua família no próximo verão (do Hemisfério Norte, ou seja, em meados desse ano)
"Minha opinião é que essa casa foi ocupada por pouco tempo pelos nazistas, algo que não deve influenciar essa propriedade para sempre", disse Artur.

"Muitas casas na região foram ocupadas por nazistas. Os oficiais do campo de concentração viviam em todas as casas da rua. Coisas ruins podem ter acontecido nas antigas propriedades, mas temos que conviver com isso", continuou.

Artur Niemyski confirmou que os passeios educativos serão interrompidos na propriedade. Porém, acrescentou que "consideraria" permitir que uma placa fosse instalada no local.

Artur Niemyski confirmou que os passeios educativos serão interrompidos na propriedade. Porém, acrescentou que "consideraria" permitir que uma placa fosse instalada no local
"Eles podem tirar fotos do lado de fora. Isso é direito deles, mas não permitirei que entrem. Por que eu deveria permitir que as pessoas deem uma olhada em minha propriedade particular?", disse Artur, insistindo que não quer causar nenhuma ofensa.

"Costumava ter boas relações com a comunidade judaica. Já gerenciei o projeto de reforma de uma sinagoga, e me encontrei com grupos de Israel, de Nova Iorque, e de todas as partes do mundo naquela época. Não quero fazer com que ninguém se sinta mal pelo que estamos fazendo", continuou.

"Em termos gerais, quero restaurar a casa para ser novamente uma casa de uma família polonesa, e mantê-la dessa forma", completou.

"Eles podem tirar fotos do lado de fora. Isso é direito deles, mas não permitirei que entrem. Por que eu deveria permitir que as pessoas deem uma olhada em minha propriedade particular?", disse Artur, insistindo que não quer causar nenhuma ofensa.
Grupos judaicos que levavam grupos para visitar o local, como parte de programas de ensino sobre o Holocausto vêm criticando os planos de Artur Niemyski em relação a propriedade.

"Estamos abertos ao diálogo com o proprietário, mas ele deixou claro para nós que ele quer que o mundo esqueça o que aconteceu lá. Nosso objetivo é inspirar os jovens a acender velas no local, e trazer a luz para um lugar escuro. Para cantar canções judaicas, que Amon Göth teria matado você por cantar", disse Rabbi Naftali Schiff, fundador da JRoots, uma organização britânica sem fins lucrativos comprometida com o ensino sobre a história, o patrimônio e a identidade judaica.

"Pedimos aos jovens para fazerem uma promessa naquela casa de crueldade, e que retornem à  Grã-Bretanha, e tornem a sociedade um lugar melhor. Agora, todo esse ensinamento foi perdido. A história está sendo apagada diante de nossos olhos", completou.

Comentários Finais


Provavelmente, você deve ter ficado com raiva ou indignado com a atitude de Artur Niemyski durante essa postagem, não é mesmo? Afinal, quem em sã consciência gostaria de morar em uma casa onde um dia viveu um monstro considerado sádico e cruel por aqueles que sobreviveram aos seus atos bábaros? Tentei conduzir essa postagem da maneira mais imparcial possível, mostrando os diversos lados dessa história, e tentando contar para vocês um pouco mais sobre Amon Göth, pai de pelo menos quatro crianças, mas que até hoje apenas uma delas ganhou importância, justamente a única filha de sua amante. Aparentemente, as esposas que Göth teve em sua vida, e seus respectivos filhos, não importam para praticamente ninguém, apenas sua amante, que morava e presenciava sua crueldade com os judeus. Obviamente, o que Amon Göth praticou é indefensável, condenável pelos próprios nazistas, e eventualmente teve o fim que mereceu, visto que não há imagens reais de seu enforcamento. Porém, não contaram algumas coisas para vocês, e que talvez isso traga uma nova ótica ao caso, principalmente para a situação de Artur Niemyski. Em uma matéria publicada em 31 de janeiro de 2015, no site da TVN 24, uma emissora de TV polonesa, foi mencionado que a cada ano, os recursos disponíveis para a manutenção dos memoriais relacionados ao Holocausto estavam cada vez mais escassos, e muitos locais se encontravam em estado de abandono. Além disso, o antigo proprietário da casa teria entrado em contato com a prefeitura e o museu histórico da cidade, que foram unânimes em dizer que a casa de Amon Göth não serviria para abrigar um museu em homenagem as vítimas. Assim sendo, apareceu um comprador chamado Artur Niemyski, disposto a reformar a casa e morar nela. Nisso apareceu também a JRoots, uma organização sem fins lucrativos, mas que lucra ao realizar passeios educativos sobre o Holocausto, na Polônia, e como parte do passeio visitava a antiga casa de Amon Göth. Não gosto de pensar nisso, mas aparentemente o dinheiro está falando muito mais alto nessa questão, do que realmente a preservação da memória de um povo.

Ironicamente, Artur Niemyski está certo ao dizer que muitos oficiais moravam naquela mesma região, e nunca saberemos o que realmente fizeram dentro dessas casas, e as práticas que cometeram em diversas localidades da cidade. Além disso, aparentemente Amon Göth não morou em apenas uma casa da cidade, mas segundo alguns pesquisadores, ele poderia ter morado em até três casas diferentes, mas essas outras duas passaram praticamente desapercebidas, visto que a casa da rua Jerozolimska foi a que recebeu todo o destaque no filme "A Lista de Schindler". A grande realidade é que todas as casas pertencentes aos judeus, em todos os países invadidos durante a Segunda Guerra Mundial, possuem histórias de horror, morte, tristeza, dor, desespero e também uma certa dose de esperança na espectativa de tentar sobreviver por pelo menos mais um dia. E, infelizmente, isso é algo com que todos têm que conviver, tanto com as casas onde vítimas inocentes sofreram, quanto em casas onde monstros saciavam sua sede de sangue. As lágrimas e o sangue que caíam no piso e nos carpetes eram os mesmos: de homens, mulheres, idosos e crianças judias sem entender o que estava acontecendo. As balas foram varridas para debaixo do tapete, mas o sangue e as lágrimas ainda estão lá. Podemos não ver, mas foram absorvidas pela madeira, pelo concreto e pelo solo, que testemunhou em um silêncio sepulcral algo que não tínhamos sequer uma palavra para descrever.

Oskar Schindler saiu dessa história como heroi, devido a sua atitude de empregar uma mão de obra judaica a um custo praticamente zero (um total aproximado de 1.200 pessoas) em sua fábrica, salvando-os de uma morte praticamente certa. Porém, ele tinha algumas coisas em comum com Amon Göth. Ambos tinham nascido em 1908, adoravam beber, eram corpulentos, católicos (ao menos se consideravam ou vieram de famílias católicas), e ambos foram presos pelos nazistas por se engajarem em atividades no mercado negro. Oskar Schindler, por exemplo, foi preso pelo crime de ajudar Göth a armazenar os produtos saqueados pelo mesmo, mas Schindler foi solto antes de ser julgado pelos nazistas. Alguns pesquisadores apontam que a atitude de Göth em aceitar suborno para transferir judeus para campos de trabalho, e não de extermínio, pode ter contribuído para que centenas de judeus tenham sido poupados da máquina da morte nazista. A grande diferença de ambos, que é bem gritante, diga-se de passagem, é que Schindler era bem mais ético, e não teve o sangue em suas mãos. Ele se importava com a vida humana, algo que nem passava pela cabeça de Göth. A pior parte é pensar que toda essa discussão sobre morar em uma casa onde viveu um monstro da Segunda Guerra Mundial, se torna quase irrelevante se formos considerar, por exemplo, o que a União Soviética (leia-se Stalin) fez com a Ucrânia, quando provocou a morte de milhões, por fome, entre 1932 e 1933 (bem antes do Terceiro Reich), ao confiscar os grãos dos camponeses ucranianos e lucrando com as exportações. Sim, o mundo comeu a comida daqueles que morreram de fome. O mais lamentável é pensar que se Amon Göth, estivesse sob a édige de um martelo e de uma foice, e não de um rifle em uma janela, com uma suástica em seu braço, muito provavelmente, hoje em dia, ele também seria considerado um heroi.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://ww2tourism.blogspot.com/2013/02/krakow-part-i-visit-plaszow-liban.html
http://www.dailymail.co.uk/news/article-4197060/Schindler-s-List-House-Horrors.html
http://www.holocaustresearchproject.org/trials/goeth3.html
http://www.scrapbookpages.com/Poland/Plaszow/Plaszow03.html
http://www.scrapbookpages.com/Poland/Plaszow/Plaszow03A.html

http://www.tvn24.pl/krakow,50/teren-dawnego-plaszowskiego-obozu-pozostaje-niezagospodarowany,510747.html
https://furtherglory.wordpress.com/2012/07/10/did-amon-goeth-really-shoot-prisoners-from-his-balcony-testimony-from-his-trial/

https://furtherglory.wordpress.com/2012/09/30/amon-goeth-had-two-different-maids-named-helen-and-lived-in-three-different-houses-at-the-plaszow-concentration-camp/
https://furtherglory.wordpress.com/2013/09/21/amon-goeth-in-the-news-was-he-actually-hanged/

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