Diz a lenda que Robert Johnson foi até um encruzilhada e vendeu sua alma ao diabo para aprender a tocar sua guitarra. Depois disso fez enorme sucesso, mas teve uma carreira curta, morrendo aos 27 anos e deixando apenas 29 músicas. Só que essas músicas influenciam grande bandas, como Led Zeppelin, Bob Dylan, Eric Clapton, The Rolling Stones, The Blues Brothers, Red Hot Chili Peppers e The White Stripes...Assombrados, uns dias atrás eu li num comentário um leitor pedindo para eu escrever sobre Robert Johnson, e resolvi pesquisar. Para minha surpresa, descobri que saiu no mês passado um documentário ótimo sobre ele. Isso foi muito bom, porque praticamente tudo na internet sobre o cara era a mesma coisa, e bem superficial. Eu assisti o documentário e trago um resumo dele para vocês.Contexto HistóricoRobert Leroy Johnson, mais conhecido como Robert Johnson nasceu em Hazlehurst, Mississippi no dia 8 de maio de 1911. Era negro, filho de ex-escravos. Muito pouco do início da vida de Johnson é conhecido com certeza, mas podemos esboçar como ela foi.
- Vida no Mississipi: O estado americano do Mississipi não era o melhor lugar para um negro viver no final do séc. XIX e no séc. XX. O sul dos EUA neste período viveu A "era dos linchamentos". Seu ápice foi entre 1890 e 1930. Em alguns casos, inclusive, eram publicados anúncios nos jornais, convocando as massas para participarem. "
Três mil pessoas vão queimar um negro", dizia uma notícia do New Orleans State, de 1919. "J
ohn Hartfield será linchado por uma multidão de Ellisville às 5 da tarde de hoje", falava o Daily News de Jackson, Mississipi, do mesmo período. Não era uma forma de fazer justiça pelas próprias mãos. Tratava-se, na verdade, de crimes raciais. Para saber mais, leia este
artigo da BBC. Charles Dodds, um ex-namorado de sua mãe, Julia Dodds, era um carpinteiro e fazendeiro rico tinha terras no Mississipi, e isso irritou os brancos, que decidiram linchar o homem. Desesperado, esse fugiu, largando sua esposa e terras.
- Problemas Familiares: Julia então conhece um lenhador, Noah Johnson, e desta união nasce Robert Johnson. Ele nunca viveu com seu pai, e com sua mãe ficou perambulando, vivendo cada dia em uma nova casa e lugar diferente, nunca teve um lar estável. Sua mãe então arrumou um padastro para ele, um meeiro (homem que trabalho no campo e divide o lucro com o dono da terra) e este abusava de Robert e o batia, pois o mesmo não queria trabalhar nos campos. Não era o que queria para a vida, mas por ser negro no Mississipi, não tinha alternativa de trabalho, assim decide tocar blues.
- Blues, o Som do Diabo: Robert começou a tocar blues para os trabalhadores das fazendas, mas esses não tinham dinheiro, então ele teve de ir para as cidades. E um negro andar pelas cidades naquela época era algo bem perigoso. E tinha mais um problema, o blues para os cristãos era a música do diabo! Enquanto as mulheres rezavam, os homens iam para o bar, dançar, beber. Então os pastores começaram a dizer que o blues era do diabo, e as mulheres começaram a brigar com os maridos. Se saia briga no bar, era por causa do blues, e por ai vai...
- Tragédia Pessoal: Uma lenda diz que quando ele tinha 18 anos se apaixonou por uma jovem de 15 anos chamada Virginia Travis. Eles mentiram a idade e se casaram. Só que a família dela era muito religiosa e então ele prometeu a moça que deixaria a música e seria um fazendeiro e bom marido. Se mudaram para a plantação e quando a esposa Virgínia estava com 8 meses e meio de gestação, foi para casa da avó para dar a luz. Robert livre decidiu tocar blues até viajar para encontrá com seu bebê. Mas quando ele chegou, estava atrasado. A mãe e a criança haviam morrido no parto e já estavam enterrados. A família o culpou pela morte, por estar tocando a música do Diabo!
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| Só existem duas fotos autenticadas como sendo verdadeiras de Robert Johnson, esta aqui... |
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| ... e esta outra. Foram localizadas em 1973, na posse de sua meia-irmã Carrie Thompson, mas não foram amplamente publicadas até o final dos anos 1980. |
Não era muito Bom...Como você viu, a vida do rapaz não era fácil, e depois disso tudo ele decidiu que queria ser realmente músico.
O música Son House em julho de 1930 se muda para Rosinsonville. Ele era mais velho que Robert e também mais conhecido. Robert queria ser como ele, e para isso ia até seus shows, que realizava junto com Willie Brown. Ele seguia os dois e quando eles colocavam as guitarras de lado para descansar, Robert corria para pegar e tentar tocá-las, mas Robert era um guitarrista novato, que só fazia barulhos ruins, disseram os dois. E também eles não queriam que Robert arrebenta-se cordas do instrumento. É claro que Robert ficou chateado e supostamente disse que seria um bom guitarrista e sumiu do Delta por um ano. Ninguém sabe onde ele foi.
Pois bem, no início dos anos 30, Son House e Willie Brown estavam tocando no bar Banks, no Mississipi, e entra pela porta Robert Johnson com uma guitarra. Os dois conversaram e perguntaram se o Robert iria irritar as pessoas com sua música, e ele disse que não e pediu uma chance de tocar, que lhe foi concedida. Son House disse que a guitarra de Robert tinha 7 cordas ao invés das 6 tradicionais.
É claro que ele arrasou! Era rápido e tocava de uma forma nunca vista. Como em apenas um ano ele conseguiu deixar de ser um péssimo guitarrista para superar seus mentores?
O Pacto com o DiaboAs pessoas ficaram com medo do que tinha acontecido e começaram a dizer que ele tinha feito um pacto com o diabo! A história varia um pouco, mas diz que Johnson vendeu sua alma ao diabo na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, Mississippi, com seu violão e uma garrafa de whisky adulterado, quando teria-se ouvido um bend escandaloso de uma gaita cromada - assim teria se manifestado o diabo. Tomou seu violão, afinou um tom abaixo e o devolveu para Johnson e tocou como toca nas gravações, e fez isso em troca da proeza para tocar guitarra.
Este mito foi difundido principalmente por Son House, e ganhou força devido às letras de algumas de suas músicas, como "Crossroads Blues", "Me And The Devil Blues" e "Hellhound On My Trail". A magia Hoodoo comum na região também estava presente nas letras das músicas.
Ajudava a perpetuar o mito o fato de Johnson costumava tocar quase que de costas para o seu público. As pessoas então diziam que ele fazia isto para esconder o olhar do diabo que surgia para auxiliá-lo. Mais coerente seria supor que ele se preocupava em esconder os acordes que bolava sozinho e não queria que outros músicos na platéia o copiassem.
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Monumento marcando onde Robert Johnson vendeu
a alma para o diabo |
Mas o que aconteceu foi outra coisa... Sabe aquele período de um ano que ele sumiu do delta do Mississipi? Pois bem, ele voltou para a cidade onde nasceu, Hazlehurst, em busca de Noah Johnson, seu pai biológico. Avo invés de encontrar seu pai, encontro seu mentor, Ike Zimmerman, que era conhecido no sul do estado do Mississipi como o melhor guitarrista.
A história conta que ambos iam para o cemitério perto da casa de Ike, a quilômetros da cidade, e praticavam ali. Não importava o quão mal tocasse naquele lugar, ninguém reclamaria. Para Ike, aprender a tocar blues significava tocar sentado em uma lápide a meia noite, e então os fantasmas sairiam e te ensinariam a tocar.
É claro que tocar num cemitério não é normal, e isso só ajudou a perpetuar o mito de que vendeu a alma para o diabo.
Como curiosidade, a encruzilhada onde supostamente ele fez o pacto hoje fica dentro da cidade de Clarksdale e tem uma grande placa simbolizando o local.
.A MorteRobert conheceu Virgie Cain e ela ficou grávida. Ele tentou convencê-la a ir embora com ele, mas ela não foi. Sua família era religiosa e não deixou ela ficar com Robert, adivinha por quê? Porque tocava blues, a música do diabo! Longe dele nasceu Claude Johnson, seu filho, que viu o pai apenas duas vezes na vida e nunca falou com o mesmo.
Mais uma vez perdendo sua família, Robert começou a levar um vida boêmia de bar em bar, excursionando por várias cidades e estados do sul dos EUA. Ele bebia bastante e também saia com várias garotas. Era um mulherengo, muitas vezes arrogante, e bastante famoso na região (sua fama mundial veio só depois de sua morte, muito tempo depois).
No dia 13 de agosto de 1938, Roberto foi se apresentação no bar "Tree Forks" em Greenwood, Mississippi, e sem limites, mexeu com a mulher do dono do bar, e é claro que este não gostou.
Sonny Boy Williamson, que estava tocando junto com Jonhson, naquele dia, disse para Robert Johnson quando uma este pediu uma garrafa de Whisky que chegou com o lacre violado, para ele devolver e pedir outra, mas Robert o ignorou e bebeu. O whisky estava envenenado com estricnina, supostamente preparado pelo dono do bar. Johnson ficou muito mal, e saiu correndo do lugar em busca de melhora. Ele se recuperou do envenenamento, mas contraiu uma pneumonia e morreu 3 dias depois, em 16 de agosto de 1938, em Greenwood, Mississippi. Seu certificado de óbito cita apenas "No Doctor" (sem médico) como causa da morte.
Como essa versão foi contada por uma pessoa que estava com ele naquele dia, considero ela a verdadeira, mas como estamos falando de Robert Johnson, o homem que para muitos fez pacto com o diabo, ele morreu porque o diabo veio cobrar a conta.
Lembra que ele saiu correndo do bar Tree Forks? Pois a lenda conta que ele estava sendo perseguido por cães pretos e foi encontrado com marcas de mordidas profundas, cortes em forma de cruz no rosto e seu violão intacto ao lado do corpo ensanguentado. Morreu de olhos abertos e uma expressão tranquila no rosto. Você decide em que acreditar :)
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Uma das lápides de Robert Johnson.
Na verdade ninguém sabe onde ele está enterrado. |
A localização exata do túmulo de Johnson é oficialmente desconhecida; Três marcadores diferentes foram erguidos em locais possíveis em cemitérios de igreja fora de Greenwood. John Hammond, Jr., no documentário
The Search for Robert Johnson (1991), sugere que, devido à pobreza e à falta de transporte, é mais provável que Johnson tenha sido enterrado no túmulo de um indigente muito perto de onde ele estava quando morreu.
Robert Johnson gravou apenas 29 músicas em um total de 40 faixas, em duas sessões de gravação em San Antonio, Texas, em Novembro de 1936 e em Dallas, Texas, em Junho de 1937. Treze músicas foram gravadas 2 vezes. Abaixo, você pode ouvir essas 29 músicas gravadas durante sua curta vida. Tenha em mente que isso foi a quase 100 anos atrás, a qualidade e tudo mais era diferente da que estamos acostumados hoje em dia.
.O Clube dos 27Robert Johnson morreu aos 27 anos e entrou para o seleto Clube dos 27. Para quem não sabe, O clube dos 27 é um termo que se refere à crença de que um incomum alto número de músicos da música popular morreram aos 27 anos, frequentemente pelo uso excessivo de bebidas alcoólicas ou drogas, ou meios violentos como homicídio ou suicídio. Os mais famosos da lista são:
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Brian Jones: Músico multi-instrumentista, membro fundador dos Rolling Stones.
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Jimi Hendrix: Guitarrista, compositor e líder das bandas The Jimi Hendrix Experience e Band of Gypsys.
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Janis Joplin: Vocalista principal e compositora das bandas Big Brother and the Holding Company, The Kozmic Blues Band e Full Tilt Boogie Band.
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Jim Morrison: Vocalista e principal compositor da banda The Doors.
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Kurt Cobain: Membro fundador, vocalista, guitarrista e compositor da banda Nirvana.
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Amy Winehouse: Cantora e compositora britânica
Só um detalhe é que provavelmente ele não morreu com 27 anos, apesar de constar na sua lápide que nasceu em 2011, registros existentes (documentos escolares, certidões de casamento e certidão de óbito) sugerem diferentes datas, entre 1909 e 1912, embora nenhum contenha a data de 1911.
O LegadoApesar do seu estilo muito peculiar do Delta Blues, e o padrão técnico das gravações de sua época muito distantes dos padrões estéticos e técnicos de hoje, Robert Johnson é frequentemente citado como "o maior cantor de blues de todos os tempos", e até mesmo como o mais importante músico do Século XX. Ele criou as bases para o que hoje é considerado Rock and Roll.
Influenciou grandes artistas durante anos como Muddy Waters, que considerava Johnson "o mais importante cantor de blues que já viveu". Em 2011, foi eleito o 71º melhor guitarrista da história, em uma enquete de eleitores e colaboradores da revista norte-americana Rolling Stone.
Suas músicas continuam sendo interpretadas e adaptadas por diversos artistas e bandas, como Led Zeppelin, Bob Dylan, Eric Clapton, The Rolling Stones, The Blues Brothers, Red Hot Chili Peppers e The White Stripes. Abaixo temos a super banda Cream tocando a famosa Crossroads. Essa música está presente no jogo Guitar Hero I e eu adoro tocá-la.
. .Sua vida serviu de inspiração para o filme
Encruzilhada (Crossroads) de 1986, um filme cult que já assisti e recomendo! Também marcou presença no episódio 8, da segunda temporada da série Supernatural. Recentemente a Netflix liberou o documentário
ReMastered: O Diabo na Encruzilhada contando sua história. Recomendo assistir.
. Fontes (Acessadas em 08/05/2019):
- Netflix: ReMastered: O Diabo na Encruzilhada
- Wikipedia.pt: Robert Johnson
- Wikipedia.pt: Clube dos 27
- Wikipedia.pt: Encruzilhada (filme)- BBC: A história brutal e quase esquecida da era de linchamentos de negros nos EUA- Whiplash.net: Tragédia e dor: O Blues, o Rock e o Diabo
