Por Marco Faustino
Escrevi essa postagem há quase dois anos, e desde então pude ver, modéstia às favas, o quanto evoluí em termos de qualidade de conteúdo gerado e proporcionado para vocês. Lembro que o primeiro contato, que tive com o Canal AssombradO, foi uma mera sugestão de vídeo, enquanto navegava pela minha falecida TV de plasma, que foi o melhor equipamento que tive, enquanto durou, é claro, e acabou se tornando o pior possível, quando a situação ganhou outros caminhos que, felizmente, acabaram de uma forma muito positiva para mim. Pouco depois passei a integrar a SSA e, em pouco tempo, comecei a escrever para o blog, ocupando uma posição de um mero redator, algo que continuo sendo e me orgulho até hoje. Poucas vezes vocês ouviram falar sobre mim, e poucas vezes fiz questão de aparecer para vocês. Aliás, quem tem que brilhar não é aquele que escreve, mas o texto, as palavras, a pesquisa, é o material que passo noites em claro, que deve prevalecer sobre meu ego e meu sorriso de canto, a cada elogio que recebo e leio. Ainda que cada comentário pareça ter sido escrito para um imenso vazio, acredite, eu leio. Amanhã, completo dois anos escrevendo para vocês.
Talvez o número dois não signifique muita coisa numericamente, mas foram 730 dias em que respirei, pesquisei, me emocionei, sorri, me decepcionei, fiquei com raiva e acima de tudo, amei escrever. Não considero isso um talento, e nem me acho privilegiado por isso. Não escrevo por dinheiro, visto que escrevi por muito tempo e elaborei especiais, assim como esse, muito antes de imaginar que permaneceria por tanto tempo, e que fosse de alguma forma recompensado financeiramente por isso. Posso ser, de certa forma, até mesmo ingênuo nesse aspecto, mas nunca poderei ser chamado de mercenário. Até hoje considero o que faço como uma espécie de hobby, uma conversa particular e sigilosa, entre mim e ti, entre eu e você. Provavelmente, você encontrará alguns erros gramaticais em meus textos, o que de certa forma prova diversas coisas: sou humano, que não tive o cuidado de ao menos clicar no botão de correção ortográfica do Blogger, que não deveria usar a palavra "coisa", e que pensei que minhas revisões fossem boas, mas pelo visto me enganei redondamente. Ao menos tenho a vantagem de nunca ter contado vantagem, se é que isso serve para alguma coisa, por mais que eu tenha, involuntariamente, transparecido isso. Pode até parecer mentira, mas para quem sempre buscou a verdade, o que eu ganharia mentindo justamente agora?
Para celebrar esse momento, talvez de conquista, talvez de superação, talvez de comemoração ou talvez de encerramento de um ciclo, é que eu abro essa matéria especial. Uma matéria que mostra como cinco histórias reais inspiraram casos estranhos e assustadores de fantasmas, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Afinal de contas, quase toda cidade tem uma história para ser contada sobre fantasmas. Contudo, é bem raro quando uma história sobre fantasmas pode ser investigada mais a fundo, e conseguimos descobrir um caso verdadeiro como plano de fundo e, ainda por cima, sendo amplamente documentado. Assim sendo, os casos acabam gerando um pouco mais de apreensão, e com certeza algum tipo de sentimento de compaixão pelas vítimas, visto que todos esses casos que vamos contar envolvem mortes. Algumas vítimas, por assim dizer, tiveram relacionamentos bem conturbados. Porém, tantas outras foram vítimas de violência doméstica ou até mesmo infantil. Vamos saber mais sobre esse assunto?
A história do "Fantasma de Greenbrier" pode ser simplesmente uma das histórias mais originais, que se tem notícia até os dias atuais. Essa estranha história, que aconteceu na zona rural do estado norte-americano da Virgínia Ocidental, não é apenas uma parte da história do chamado "sobrenatural", mas da história do Poder Judiciário dos Estados Unidos. Esse é um dos raros casos em que a palavra de um suposto "fantasma" ajudou a resolver um crime e, ainda por cima, condenar uma pessoa.
Elva Zona Heaster nasceu no condado de Greenbrier, na Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, por volta de 1873. Pouco se sabe sobre os primeiros anos de sua vida, na pequena comunidade de Richards (atual Richland, localizada a cerca de 10 km ao norte de Lewisburg, sede do referido condado), assim como sobre sua adolescência, exceto pelo fato de ter engravidado e dado a luz a um filho ilegítimo, ou seja, concebido fora de um casamento formal, ao menos para os padrões da época, em 1895, quando tinha apenas 22 anos. Cerca de um ano depois, em outubro de 1896, ela conheceu um homem chamado Erasmus, mais conhecido como Edward Stribbling Trout Shue, que para simplificar iremos chamar apenas de "Shue", combinado?
Bem, Shue não tinha residência fixa, e pelo que se conta era um viajante que não mantenha laços permanentes por onde passava. Entretanto, ele se mudou para Greenbrier e passou a trabalhar como ferreiro, meio que para tentar se estabilizar e, portanto, começar uma nova vida. Ele acabou indo trabalhar na loja de um homem chamado James Crookshanks, que ficava localizada ao lado da antiga Ferrovia Midland.
Todas as vias públicas não eram asfaltadas naquela época e, uma vez que o condado estava localizado bem próximo das colinas, era o lugar perfeito para encontrar muitos cavalos e também rebanhos de outros animais. Seja qual fosse a pessoa que estivesse disposta a trabalhar como ferreiro, iria encontrar muito trabalho no condado de Greenbrier. Foi exatamente isso que Shue fez.
Elva Zona Heaster conheceu Shue pouco tempo depois do mesmo ter se mudado para o condado. Foi praticamente um amor à primeira vista. Ambos estavam perdidamente apaixonados, e logo se casaram. Entretanto, a mãe de Elva, a Sra. Mary Jane Robinson Heaster, quase na mesma proporção da filha, mas em sentido oposto, tinha criado uma antipatia muito grande por Shue. Aliás, a Sra. Mary Jane Robinson Heaster sentia que ele estava escondendo alguma coisa de sua família.
Elva e Shue viveram como marido e mulher, sendo um casal absolutamente normal, nos meses seguintes. Tudo mudou em 23 de janeiro de 1897, uma sexta-feira, quando o corpo de Elva foi descoberto dentro de sua casa por um jovem chamado Andy Jones, que tinha sido mandado por Shue, que por sua vez estava na loja onde trabalhava como ferreiro, para ir correndo até a sua casa, e ver se Elva "precisava de alguma coisa." O menino encontrou Elva no chão, na parte inferior da escada. Ela estava deitada, com os pés unidos, e uma mão em seu abdômen, sendo que a outra estava próxima do seu corpo. Além disso, ela estava com a cabeça ligeiramente inclinada para um lado, e seus olhos estavam abertos e estáticos.
Apesar da idade e possível inexperiência de Andy Jones, era evidente que Elva estava simplesmente morta. Muito assustado, o rapaz saiu correndo da casa, e contou para sua mãe o que tinha visto. Foi assim que o médico local, que também era médico-legista, o Dr. George W. Knapp, foi chamado para ir até a casa, porém ele demorou mais de uma hora para chegar até o local. Enquanto o médico-legista não aparecia, Shue levou o corpo da sua esposa para o andar de cima, e o colocou na cama.
Ao contrário do costume local, ele mesmo vestiu o corpo de sua própria esposa. Normalmente, essa atitude era tomada por senhoras da comunidade, que lavavam e vestiam o corpo de modo a prepará-lo para o enterro. Entretanto, Shue por si mesmo decidiu vestir a esposa com sua melhor roupa. Um vestido de gola alta, um colarinho rígido, que cobria seu pescoço e um véu que foi colocado sobre seu rosto.
Enquanto o Dr. Knapp a examinava, tentando determinar a causa da morte, Shue ficou ao lado de sua esposa, embalando sua cabeça e soluçando copiosamente. Devido a dor que Shue estava sentindo, o Dr. Knapp fez apenas um exame superficial, muito embora ele tenha notado alguns hematomas no pescoço de Elva. Quando ele tentou olhar mais de perto, Shue reagiu tão violentamente, que o médico deu por encerrado o exame, e foi embora. Inicialmente, ele apontou a causa da morte como "síncope perpétua" e, mais tarde, mudou para "complicações devido uma gravidez". Nunca se soube se Elva estava realmente grávida, porém duas semanas antes de sua morte, ela passou por uma consulta com o próprio Dr. Knapp devido a "problemas femininos."
O Dr. Knapp pensou em enviar alguém para notificar os pais de Elva, mas a notícia sobre sua morte rapidamente se espalhou pela comunidade. Ao final da tarde, dois jovens que eram amigos de Elva, voluntariamente se ofereceram para ir até uma região chamada "Meadow Bluff", e dizer a família Heaster o que tinha acontecido. A fazenda da família Heaster se localizava a cerca de 25 km da comunidade de Richards, em uma região próxima do moinho Livesay, e da cidade de Rainelle. A família morava em um lugar isolado, onde existiam poucas casas e fazendas, nos arredores das Montanhas Little Sewell.
Quando a Sra. Mary Heaster, mãe de Elva, foi informada sobre a morte da filha, seu rosto se transformou em uma expressão de extrema amargura. "O diabo a matou", teria dito ela. No sábado, dia 24 de janeiro de 1897, o corpo de Elva foi levado até a casa de seus pais, em um caixão considerado inacabado, que foi fornecido pela empresa "Handley Undertaking Establishment."
Os vizinhos da família Heaster, incluindo o próprio Shue, participaram do velório, que durou todo o domingo seguinte (25). Aliás, Shue demonstrou uma extraordinária devoção, tanto na procissão que conduziu o corpo de Elva até a casa dos pais no dia anterior, quanto no velório em si, ficando sempre bem próximo do rosto de sua amada. Apesar de Elva ter sido enterrada somente na segunda-feira (26), isso acabou dando oportunidade para que vizinhos e amigos prestassem suas últimas homenagens, dando os pêsames aos familiares, e até mesmo levando um pouco de comida para a família Heaster, visto que não tiveram tempo e nem mesmo ambiente para cozinhar alguma coisa. Afinal de contas, a filha havia morrido, e nada a traria de volta.
Entretanto, aqueles que foram ao velório notaram um comportamento bem estranho por parte de Shue. A tristeza, que ele aparentemente sentia, alternava entre a melancolia e a obsessividade. Ele não permitiu que ninguém chegasse muito próximo do caixão, principalmente enquanto ele colocava uma espécie de "travesseiro" ao lado da cabeça de Elva, que na verdade era um pano enrolado, e uma echarpe ao redor do seu pescoço. Para explicar esse inusitado comportamento, Shue disse apenas, que era para ajudar Elva "a descansar melhor". Na procissão em direção ao cemitério local, muitos notaram que havia uma certa maleabilidade no pescoço de Elva, ou seja, tinha algo errado naquela situação, e nem é preciso dizer, que as pessoas começaram a comentar sobre isso.
Havia uma pessoa, é claro, que não precisava ser convencida, de que Shue estava agindo de forma suspeita em relação a morte de Elva. Essa pessoa era justamente a Sra. Mary Jane Heaster. Ela odiava Shue desde o início, e nunca quis que sua filha se casasse com um estranho. Ela se tornou uma opositora ainda maior em relação ao casamento, quando Elva revelou para ela, que Shue já tinha sido casado por cerca de duas vezes. A mãe sabia que havia alguma coisa de muito errado sobre isso, mas ao mesmo tempo parecia que não havia nenhuma maneira de provar isso.
Após o velório, a Sra. Mary Jane tentou devolver o mesmo pano enrolado, que Shue havia colocado no caixão de Elva, mas ele não quis. Ela notou que o tecido tinha um odor muito específico, então ela decidiu lavá-lo. Assim que ela colocou o tecido na bacia, a água teria ficado avermelhada.
Estranhamente, no entanto, o tecido teria ficado rosado e a cor avermelhada da água teria desaparecido. Sem entender muito o que estava acontecendo, a Sra. Mary Jane tentou ferver o pano, e o pendurou no varal por alguns dias. Para piorar a situação, a mancha não conseguia ser removida de jeito algum. Assim sendo, ela interpretou que as manchas misteriosas, supostamente de sangue, eram um sinal que Elva tinha sido morta. Portanto, a Sra. Mary Jane começou a rezar. O movimento espiritualista estava em alta naquela época, e a Sra. Mary Jane era uma dessas pessoas, que acreditavam piamente na existência de uma "vida após a morte."
Todas as noites, durante cerca de quatro semanas, a Sra. Mary Jane orou fervorosamente para que sua filha viesse até ela e revelasse a verdade sobre como ela havia morrido. Segundo o que se conta até hoje, algumas semanas mais tarde, suas preces teriam sido atendidas. Durante quatro noites, o espírito de Elva teria aparecido ao lado da cama da mãe. Inicialmente, teria sido apenas uma luz brilhante, mas com o passar do tempo teria começado a tomar forma, e deixava o quarto completamente gelado.
Elva teria despertado sua mãe durante o sono e contado para ela, por diversas vezes, como o marido a teria matado. Shue era violento, cruel, e durante um acesso de raiva ele a teria atacado, porque não tinha nada pronto para o jantar. Ele teria quebrado, de forma selvagem, o pescoço de Elva. Para demonstrar isso, o "fantasma" ou "espírito" de Elva teria virado completamente a cabeça, até que sua face ficasse alinhada as suas costas. A Sra. Mary Jane tinha certeza do que visto, e que o espírito de sua filha tinha mostrado exatamente como havia morrido. Curiosamente, diante dessa situação, Shue teria matado a esposa apenas 3 meses após ter se casado com ela. Não contei isso anteriormente para manter o clima de suspense.
Embora fosse improvável, que Preston estivesse disposto a considerar qualquer outra versão para os fatos, ainda mais devido ao depoimento de um suposto "fantasma", o inquérito acabou sendo reaberto. Os jornais locais relataram, que a Sra. Mary Jane Heaster não era a única na comunidade, que estava desconfiada sobre a morte de Elva. Havia também "certos cidadãos", que tinham começado a fazer perguntas, bem como os crescentes "rumores" circulando pela comunidade.
Foi noticiado no jornal local, o "Greenbrier Independent", que Shue se queixou muito sobre o fato de sua esposa ser exumada, mas ficou claro que ele seria forçado a comparecer a exumação, caso não fosse por livre e espontânea vontade. Ao contestar o que estava acontecendo, ele respondeu que sabia que acabaria sendo preso, mas que eles não seriam capazes de provar que ele tinha feito aquilo. Essa declaração no mínimo descuidada de Shue, indicava que pelo menos ele tinha conhecimento que sua esposa tinha sido morta.
A autópsia durou cerca de 3 horas, e os médicos trabalharam sob a luz de lampiões de querosene. Curiosamente, o corpo de Elva estava em um estado bem próximo de uma "perfeita conservação", isso graças às baixas temperaturas do mês de fevereiro daquele ano, o que acabou tornando o trabalho dos médicos muito mais fácil, por assim dizer. Uma bancada, uma espécie de júri composto por cinco homens havia sido organizado, e eles dividiram o espaço apertado e abafado da escola juntamente com oficiais do condado, Shue e Andy Jones (o menino que foi o primeiro a encontrar o corpo de Elva), testemunhas e alguns outros espectadores.
A autópsia foi realizada seguindo os métodos tradicionais, ao menos para a época, o que significava que primeiramente tinha sido realizado um exame nos órgãos vitais. Posteriormente, os médicos fizeram uma incisão ao longo da parte posterior do crânio, de modo a permitir que o cérebro pudesse retirado. Entretanto, a retirada do cérebro não foi necessária, uma vez que os médicos rapidamente encontraram o que estavam procurando. "Descobrimos que o pescoço da sua esposa foi quebrado", disse um dos médicos para Shue. Ele abaixou a cabeça, e uma expressão de desespero tomou conta de seu rosto. "Eles não podem provar que eu fiz isso", sussurrou Shue.
Os resultados da autópsia foram bastante condenatórios para Shue. Em um relatório emitido no dia 9 de março daquele ano, e publicado no jornal "The Pocahontas Times", foi mencionado que: "O pescoço tinha sido quebrado, e a traqueia esmagada. Na garganta havia marcas de dedos, indicando que Elva tinha sido estrangulada. O pescoço tinha sido deslocado entre a primeira e a segunda vértebra, sendo que os ligamentos tinham sido rompidos."
Os resultados imediatamente se tornaram públicos, o que perturbou muitas pessoas na comunidade. Shue foi preso e acusado de homicídio. Inicialmente, ele ficou preso em uma pequena prisão, feita de pedra, na rua Washington, na cidade de Lewisburg. Apesar das provas contra Shue serem, na melhor das hipóteses, um tanto quanto circunstanciais (desconsiderando as eventuais comunicações espiritualistas), o mesmo foi indiciado formalmente por homicídio. Ele ainda tentou recorreu, uma vez que sempre constantemente alegava que era inocente.
Enquanto aguardava julgamento, informações sobre o passado, um tanto quanto desagradáveis de Shue, começaram a surgir, levando muitos a acreditar que Sra. Mary Jane Heaster estava certa sobre ele o tempo todo. Elva tinha sido de fato sua terceira esposa. Seu primeiro casamento com uma mulher chamada Allie Estelline Cutlip, resultou em uma criança, mas terminou em divórcio, em 1889, enquanto Shue estava na prisão por roubo de cavalos. Allie alegou na sentença de divórcio, que seu marido batia nela com certa frequência. Em 1894, Shue se casou novamente, dessa vez com Lucy Ann Tritt. Estranhamente, Lucy morreu apenas oito meses depois, em circunstâncias que foram descritas como "misteriosas." Shue afirmou que Lucy tinha caído e batido a cabeça em uma pedra, mas poucos acreditaram nele. Sabiamente, ele fez as malas e sumiu. No outono de 1896, Shue mudou-se para Greenbrier. O restante, bem, acho que vocês já devem imaginar.
Ironicamente, na prisão, Shue passou a ficar bem humorado, e dizia que seu luto por Elva havia terminado. Na verdade, ele teria dito que tinha um objetivo ao longo de sua vida: ter sete esposas. Elva teria sido apenas sua terceira esposa e, considerando que ele ainda era jovem, tinha muito tempo para realizar seu objetivo. Shue, no entanto, teria dito repetidamente aos jornalistas, que ninguém poderia provar o que estava sendo alegado, ou seja, que ele teria matado Elva.
O julgamento de Shue começou no dia 22 de junho de 1897, e muitas pessoas da comunidade testemunharam contra ele. O destaque do julgamento, é claro, foi quando a Sra. Mary Jane Heaster apareceu. O promotor Preston a apresentou como mãe da mulher morta, e também como a primeira pessoa a notar as circunstâncias incomuns de sua morte. Preston queria ter certeza que a Sra. Mary Jane aparentava estar sã e confiável. Por essa mesma razão, ele se esquivou e ignorou a questão sobre o "fantasma de Elva", porque isso faria com que a Sra. Mary Jane aparentasse estar agindo de forma irracional, e também porque era uma prova inadmissível. A narradora da história, ou seja, a Elva, evidentemente não poderia ser interrogada pela defesa, uma vez que estava morta, e assim seu testemunho seria considerado simplesmente como "boato" nos termos da lei.
Infelizmente, para Shue, seu advogado pediu a Sra. Mary Jane para que falasse sobre seu "avistamento fantasmagórico." Parecia óbvio, que ele estava fazendo isso para tentar ridicularizá-la perante o júri. Ele caracterizou suas visões da Sra. Mary Jane, como "delírios de uma mãe", e se esforçou muito para que ela admitisse, que poderia ter se confundido sobre o que supostamente viu. Ele continuou a atormentá-la por algum tempo, mas a Sra. Mary Jane nunca recuou em relação ao que ela acreditava ter visto. Quando o advogado de defesa percebeu que o testemunho não estava indo na direção que ele queria, ele a dispensou.
Nessa altura dos acontecimentos, o estrago já tinha sido feito. Uma vez que a defesa, e não a acusação tinha introduzido o testemunho de um "fantasma" durante o julgamento, o juiz teve que pedir ao júri para que desconsiderasse aquilo. No entanto, era evidente que a maioria das pessoas da comunidade acreditava mesmo que a Sra. Mary Jane tinha visto o fantasma de sua filha. Apesar do testemunho eloquente de Shue, em sua própria defesa, o júri o considerou culpado. Curiosamente, dez dos jurados ainda votaram para que ele fosse enforcado, mas isso não foi suficiente para condená-lo a morte. Assim sendo, Shue foi condenado a prisão perpétua.
Por outro lado, a sentença não satisfez a todos no condado de Greenbrier. Em 11 de julho de 1897, um grupo de cidadãos entre 15 a 30 homens, se reuniram a cerca de 13 km da cidade de Lewisburg para formar um "pelotão de linchamento." Eles tinham comprado uma corda, e estavam fortemente armados. Assim sendo, todos começaram a caminhar em direção a prisão onde Shue se encontrava. Se não fosse por um homem chamado George M. Harrah, que contatou o Xerife, Shue certamente teria sido linchado até a morte. Harrah entrou em contato com ao xerife Dwyer, que por sua informou a situação a Shue que, ficou apavorado, que não conseguia nem mesmo amarrar os próprios sapatos. O xerife Dwyer levou Shue a um refúgio no meio da floresta, a cerca de 1,5 km da cidade e, em seguida, conseguiu dispersar a multidão, fazendo com que voltassem para suas casas.
Shue foi transferido para a Penitenciária Estadual da Virgínia Ocidental, em Moundsville, no dia 14 de julho de 1897, onde viveu durante os três anos seguintes. Ele faleceu no dia 13 março de 1900, em uma das epidemias de sarampo, caxumba ou pneumonia, que assolaram a prisão naquela primavera. Naquela época,. era comum que fossem enterrados os restos mortais de indigentes em um cemitério próximo, o qual não se manteve nenhum registro até 1930. Portanto, não há nenhuma lápide ou identificação de onde Shue estaria atualmente enterrado.
Por outro lado, a Sra. Mary Jane Robinson Heaster viveu para contar sua história para todos aqueles, que quisessem ouvi-la. Ela morreu em setembro de 1916, sem nunca desmentir sua história sobre o fantasma de sua filha.
Já em relação a Elva, seu fantasma nunca mais foi visto novamente, mas ela deixou uma marcante "história assombrada", no condado de Greenbrier. Algo que ainda pode ser notado até hoje, pelo que está escrito em uma placa ao longo da Rota 60: "Enterrada em um cemitério próximo está Zona Heaster Shue. Sua morte,em 1897,foi dada como natural, até que seu espírito apareceu à sua mãe para descrever como ela foi morta por seu marido Edward. Na autópsia realizada no corpo exumado verificou-se o que foi relatado pela aparição. Edward foi considerado culpado por homicídio, e condenado à prisão estadual. Apenas um caso conhecido, pelo qual um depoimento de fantasma ajudou a condenar uma pessoa".
Esse é apenas o primeiro caso, que estamos trazendo um pouco mais a fundo para vocês. Devido ao fato dos jornais serem muito antigos, e a maior parte do conteúdo atualmente ser cobrado para ser acessado, infelizmente não consegui obter todas imagens das notícias dos respectivos jornais.
De qualquer forma, vocês podem conferir a transcrição do que foi publicado pelos jornais locais, inclusive toda a parte do julgamento de Shue, ao clicar aqui. Bem, ainda faltam mais quatro casos, sendo que os próximos serão igualmente interessantes. Vamos continuar nossa "pequena" saga!
Algo que se tornaria um dos mistérios mais antigos, e que persiste até hoje, em Elizabeth City, no estado norte-americano da Carolina do Norte, aconteceu no dia 20 de novembro de 1901. Naquela noite, uma linda menina de apenas 19 anos, chamada Ella Maude Cropsey, mais conhecida como "Nell Cropsey", simplesmente desapareceria do mapa.
Aliás, essa história também foi contada e de forma bem resumida pelo programa "Tar Heel Traveler", da WRAL-TV, uma emissora de TV sediada em Raleigh, na Carolina do Norte, em agosto de 2012. Vocês podem conferir a matéria realizada através de um vídeo publicado em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês, sendo que usaremos algumas imagens para ilustrar o caso):
Bem, Nell Cropsey nasceu em julho de 1882, no bairro do Brooklyn, em Nova York, e era filha de William Hardy (1853 - 1938) e Mary Louise Cropsey (1859 - 1930). Nell era a segunda filha de um total de nove filhos, e era bem apegada a sua irmã mais velha, a primogênita da família, que se chamava Olive, mais conhecida como Ollie.
Foi em Elizabeth City, que o destino de Nell Cropsey, 19 anos, logo cruzou com o de Jim Wilcox, 24 anos, que era engenheiro civil e filho de um ex-Xerife do condado de Pasquotank. Jim era homem franzino, tinha cerca de 1,57 m de altura, mas isso não impediu que o amor nascesse entre ambos, e logo estavam apaixonados. Inicialmente, o namoro era como qualquer outro, mas no início de 1901 as coisas começaram a desandar. Nell estava impaciente para se casar, e não acreditava que Jim tivesse qualquer intenção de se casar com ela.
Na noite de 20 de novembro de 1901, Jim resolveu fazer uma visita a Nell, mas ele não era estava sozinho durante a visita. O namorado de Ollie, que se chamava Roy Crawford também estava lá. Ollie, Nell, e um outro irmão, chamado William, ficaram conversando com Jim e Roy até por volta das 23h, quando Jim se levantou, porque precisava ir embora. Aliás, o namoro de três anos entre Nell e Jim parecia estar indo de mal a pior. Ela o havia ignorado durante toda a noite, e só ficava falando de sua próxima viagem ao Brooklyn para visitar parentes no dia de Ação de Graças.
Após se despedir de todos, Jim perguntou se poderia dar uma rápida saída com Nell, porque queria conversar com ela, na varanda, sobre a situação de ambos. Nesse ponto é importante mencionar, que Ollie tinha 20 anos, era apenas 1 ano mais velha do que Nell, e ambas eram consideradas adultas. Mesmo assim eram tempos conservadores e, bem ou mal, Ollie estava meio que responsável pela irmã mais nova. No entanto Ollie, querendo que ambos se acertassem, permitiu que os dois saíssem juntos.
Pouco depois de sua irmã ter saído com Jim, Ollie teria ouvido algo semelhante a um "estrondo" na parte de trás da casa. Uma vez que seu namorado também já estava de saída, ela lhe pediu para procurar por Nell. Ele fez isso e voltou para dizer, que ela não estava na varanda. Ollie subiu as escadas de casa, até o quarto em que ela e sua irmã dividiam, e Nell também não estava lá. Curiosamente, Ollie não levantou suspeitas, talvez por ter pensado que Nell voltaria logo ou pensou que seu pai estivesse irritado com Nell ou com ela mesma por ter deixado a irmã sair com Jim. Ollie simplesmente foi dormir.
Na manhã seguinte, a cidade inteira começou a procurar por Nell. A especulação inicial, de que Nell teria fugido com Jim, tinha sido meio que descartada, uma vez que todos os pertences de Nell estavam na casa, e ela não tinha motivos para fugir. Isso foi confirmado após a polícia ter encontrado Jim na casa de seus pais. Ele disse para a polícia que o relacionamento deles havia terminado, e ele devolvido para Nell, a foto dela juntamente com o guarda-chuva, que ela havia lhe dado.
Ele insistentemente alegava que a deixou chorando na varanda de casa por volta de 23h15. Então para afogar as mágoas, ele resolveu tomar uma cerveja com um amigo antes de ir para a casa de seus pais, onde ele teria dormido por volta da meia-noite. De qualquer forma, naquela altura dos acontecimentos, Jim Wilcox já estava sendo apontando como o principal responsável pelo desaparecimento de Nell Cropsey.
A cidade entrou em clima de guerra. Uma reunião foi realizada, mais precisamente na Academia de Música, que ficava no andar de cima de uma loja de departamentos chamada "Mitchell's Nee Hive." Um comitê formado por cinco pessoas começou a organizar uma busca desenfreada por Nell Cropsey: cães farejadores foram levados até a cidade e vasculharam o rio, e uma cigana e clarividente chamada Madame Snell Newman disse que o corpo de Nell Cropsey seria encontrado em um poço em Weekville, mas todas as pistas e todas as tentativas de encontrar Nell foram infrutíferas. Porém, mesmo assim, a família ainda mantinha esperanças que encontraria a jovem com vida.
Após 37 dias de buscas, no dia 27 de dezembro de 1901, um pescador chamado J.D. Stillman, encontrou algo boiando no rio local, que possui o mesmo nome do condado, Pasquotank. Quando ele foi olhar mais de perto, logo notou que se tratava do corpo de Nell Cropsey.
A situação de Jim Wilcox começou a piorar quando uma garrafa de whisky foi encontrada às margens do rio Pasquotank, ainda nas terras que pertenciam a família Cropsey. Isso porque um funcionário de um estabelecimento local alegou, que tinha vendido aquela mesma garrafa de bebida para Jim. Para alguns essa foi a confirmação do que eles já vinham suspeitando. Algumas outras pessoas, no entanto, levantaram algumas questões bem pertinentes. Se todo mundo tinha vasculhado o rio Pasquotank diversas vezes, como que o corpo de Nell não apareceu antes? Ela tinha sido realmente morta na época que sumiu?
Com o tempo foram surgindo algumas supostas testemunhas. Um morador local chamado Charles T. Parker afirmou ter visto Jim e Nell por volta de 23h30 nas proximidades do rio Pasquotank. Já um outro morador chamado Boatman Leonard Owens, jurou ter visto Jim Wilcox por volta da meia noite, com a roupa molhada, indo em direção a casa de seus pais. Surpreendentemente, algum tempo depois, o pai de Nell dispersou uma multidão de linchadores, que tinha se reunido com a intenção de matar Jim Wilcox. Ele pediu a multidão para que deixasse a Justiça lidar com o caso. A multidão então decidiu acatar o pedido do pai de Nell, que se mostrava extremamente desolado.
O julgamento de Jim pela morte de Nell foi o maior escândalo que a cidade já tinha visto. Jim foi considerado culpado e sentenciado a morte por enforcamento, mas seu advogado, E.F. Aydlett, recorreu da sentença e apelou para a Suprema Corte do Estado da Carolina do Norte. Um novo julgamento foi realizado em 1903, e Jim foi condenado a 30 anos de reclusão.
O mais estranho de tudo isso, no entanto, foi o que aconteceu alguns anos após a morte de Nell Cropsey. O espírito dela parecia atormentar a todos que estavam presentes em sua casa, na noite de sua morte, talvez em busca de uma vingança de uma morte que, talvez, nunca tivesse sido realmente solucionada. E acredite, a sequência de acontecimentos vai surpreender você.
William Cropsey, o irmão de Nell, que estava com ela na noite do seu desaparecimento, tirou a própria vida, em 1908, ao ingerir grandes quantidades de ácido carbólico (também conhecido como ácido fênico, comumente utilizado na época como um antisséptico para limpar feridas, tratar as inflamações da boca, garganta e ouvidos) na frente de sua esposa e filho. Rumores diziam que Wilcox seria colocado em liberdade condicional, e alegaram que irmão de Nell tinha se matado como forma de protesto, porém Jim Wilcox não tinha sido colocado em liberdade naquela época. Já Roy Crowford, namorado de Ollie, tirou a própria vida em 1911, usando uma arma. Rumores na época apontavam que Roy teria ajudado Jim a se livrar do corpo de Nell, algo que nunca ficou comprovado.
Em 1915, as poucas pessoas que apoiavam Jim Wilcox, renovaram o apelo pela libertação dele, visto que ele tinha sido diagnosticado com tuberculose, mas não isso comoveu o governador da Carolina do Norte na época. O mesmo apontou que havia um "grande número" de pessoas que exigiam a libertação do prisioneiro, mas se recusou a permitir que ele fosse colocado em liberdade, ao citar os sentimentos e desejos da Sra. Mary Cropsey, mãe de Nell.
A liberdade de Jim só foi concedida em 1918, após o perdão concedido por um outro governador da Carolina do Norte, Thomas Walter Bickett, no dia 24 de dezembro, véspera do Natal daquele ano. Jim Wilcox passou cerca de 16 anos na prisão, e acabou voltando para Elizabeth City, aparentemente planejando retomar a sua vida interrompida. Ignorado pela absoluta maioria da população, sendo ainda amplamente odiado na cidade, Jim Wilcox sempre alegou inocência e permaneceu até o fim dos seus dias na cidade.
Entretanto, antes de sua morte, que ocorreu em 5 de dezembro de 1934, Jim Wilcox teria entrado em contato com o editor do jornal "Independent", o Sr. William Oscar Saunders (mais conhecido como W.O. Saunders) para contar tudo o que teria acontecido na noite do desaparecimento de Nell. Alguns contam que Jim, por alguma razão desconhecida, teria pedido para que W.O. Saunders não contasse a ninguém sobre o que havia revelado, porém há quem diga, que esse encontro nunca aconteceu, apesar da vontade de Jim. Já outras pessoas acreditavam que Jim Wilcox teria realmente se encontrado com W.O. Saunders, e revelado a verdade sobre quem matou Nell, algo que acabaria sendo divulgado pelos jornais locais.
Entretanto, duas semanas após esse encontro, Jim Wilcox tirou sua própria vida usando uma arma. Para muitas pessoas, aquilo tinha sido um indício de culpa pela morte de Nell Cropsey. Já outras acreditavam que tivesse sido meramente um ato de desespero, visto que até o último instante Jim alegava inocência. Aparentemente, no entanto, para algumas pessoas o espírito de Nell Cropsey não descansou após a morte de Jim Wilcox, uma vez que, em 1940, W.O. Saunders, o único homem que supostamente sabia o que realmente teria acontecido na noite de 20 de novembro de 1901, morreu afogado, após ter perdido a direção do carro, devido a um mal súbito, que fez com que seu veículo caísse no pântano Dismal. Estranho, não é mesmo? Será que alguém matou todos os envolvidos nessa história?
Depois de algum tempo, não se sabe precisamente quanto tempo, veio à tona uma informação perturbadora. Aparentemente, o gasto com gelo do Sr. William Cropsey, naquele frio mês de dezembro de 1901, foi três vezes maior do que o habitual. Será que o pai de Nell armazenou o corpo da própria filha, no gelo, em algum lugar? Aliás, o corpo de Nell, quando foi retirado do rio, se encontrava em ótimo estado de conservação. Será que um corpo estando na água, ao longo de 37 dias, não estaria em um avançado estado de decomposição? Infelizmente, no entanto, essas e tantas outras perguntas permanecerão enterradas no solo de Elizabeth City por muito tempo, visto que não sobrou praticamente ninguém para contar o que realmente aconteceu na noite de 20 de novembro de 1901.
Em setembro de 2015, o site do jornal local chamado "The Daily Advance" publicou que 80 anos após sua morte, um funeral havia sido realizado para James. E. Wilcox (mais conhecido como Jim Wilcox), um homem que alguns disseram que teria sido injustamente acusado, em 1901, por uma morte que repercutiu pelos Estados Unidos. O escritor William Dunstan, da cidade de Chapel Hill, que organizou o funeral disse que seu avô tinha provas que podiam ter impedido que Wilcox acabasse indo parar na prisão pela morte de Nell Cropsey. Outras pessoas que participaram da cerimônia, realizada no Cemitério Old Hollywood, também acreditavam, que Wilcox tinha sido preso por um crime que ele não cometeu.
"Acredito que ele estava acobertando alguém, que a família deixou ele assumir a culpa sozinho", disse Debbie Oveton, uma das dezenas de pessoas que compareceram ao local, onde foi colocada uma nova lápide para Wilcox. Curiosamente, desde o seu enterro, em 1934, não havia nenhum placa ou lápide indicando o local de sua morte.
Aliás, William Dunstan apontava para o próprio cemitério como prova de sua teoria. O espaço pertencente a família Cropsey está vazio, exceto pelo pai, que está enterrado sozinho no local. Dunstan questionou o motivo pelo qual o restante da família foi enterrado no Cemitério Highland Park, na Estrada Peartree. Já outros questionavam a culpa de Wilcox.
Lloyd Betts, morador de Elizabeth City, disse que Wilcox havia contado ao pai Eugene Betts, que ele não matou Nell Cropsey. Eugene Betts teria sido a última pessoa a ver Wilcox ainda vivo, enquanto moravam em uma garagem de carros, onde Betts trabalhava. Naquela última conversa, Wilcox teria pedido um cigarro, mas Betts não tinha um. Wilcox respondeu que não importava e acabou dando uma pista, que possivelmente tentaria tirar a própria vida.
Aliás, Eugene teria impedido uma tentativa anterior de Wilcox nesse sentido. Na tentativa anterior, Wilcox tinha arrumado uma corda para puxar o gatilho de uma espingarda, quando a corda acabou enroscando em um carro, porém Eugene teria visto a corda correndo pelo lado de fora da janela e a cortou.
Assim como Dunstan, Lloyd Betts acreditava que o pai de Cropsey tinha sido o responsável pela morte de sua filha. Outra pessoa no funeral também duvidava da culpa de Wilcox, mas acreditava, que ele provavelmente sabia mais do que disse naquela época.
"Ele estava acobertando alguém, devia saber de alguma coisa", disse Pat McMahon. "É um mistério que nunca será resolvido nesta vida", acrescentou seu marido, John McMahon.
Durante o último século, aqueles que moraram na casa da família Cropsey relataram acontecimentos estranhos, algo que acontece até os dias de hoje, mesmo após 116 anos: luzes que acendem e apagam sozinhas, portas que abrem e fecham sozinhas, ruídos, som de passos nas escadas, e rajadas de um vento úmido e frio, que circula pelos corredores.
Além disso, um vulto pálido de uma jovem mulher também é visto andando pela casa. Muitas pessoas que passam na rua já relataram ter visto a figura fantasmagórica de uma menina, que fica olhando em direção a rua por uma janela do andar de cima. Os moradores dizem, inclusive, que Nell Cropsey já aparecido em seus quartos durante a noite.
Para vocês terem uma ideia, em uma matéria sobre a casa de Nell Cropsey, publicada em 12 de junho de 2013, em um blog chamado "Sillykhan", foi mencionado que os últimos moradores seriam Frank e Robin Caruso, que viviam ou ainda vivem na casa há quase 22 anos, e já teriam sido testemunhas de vários acontecimentos estranhos. Segundo o casal, o mais estranho era quando algo supostamente "paranormal" acontecia, visto que bastava dizer a frase "Nell, pare com isso!" que, independentemente do que fosse, parava imediatamente.
Enfim, será que a verdade em torno da morte de Nell Cropsey nunca será conhecida? De uma forma ou de outra, esse mistério se tornou parte da história de Elizabeth City. Para quem quiser conhecer a casa da família Cropsey, um dia, o endereço é: 1109 Riverside Ave, Elizabeth City, NC 27909.
Ao longo do ano a casa costuma ficar aberta para visitação pública, principalmente durante o Halloween, assim como no final do mês de novembro, quando Nell Cropsey é lembrada por toda cidade através de tour fantasmagórico.
Este é o caso que possui um dos julgamentos de maior repercussão na história da Justiça dos Estados Unidos. Além disso, a história inspira diversos relatos de pessoas que avistam o espírito de uma mulher chamada Grace Brown rondando as margens do Lago Big Moose, no estado norte-americano de Nova York, até hoje. É uma história muito interessante e que provavelmente você irá se emocionar ao acompanhar passo a passo como era a vida de Grace e Chester, assim como a vida de ambos terminou, por razões completamente diferentes. Respire fundo e acompanhe a história!
Grace Brown (apelidada de Billy) nasceu em 20 de março de 1886, e foi criada em uma fazenda ao norte do estado de Nova York, nos Estados Unidos. A pequena fazenda da família Brown era uma típica fazenda de laticínios autossuficiente gerenciada pela própria família. O celeiro estava sempre repleto de galinhas e porcos, o jardim cheio de legumes e o pomar repleto de frutas. A vida de Grace era como a de qualquer outra menina do campo na virada do século XIX para o século XX.
Ela frequentou a escola Tallet Hill, que ficava a pouco menos de 800 metros de distância de onde morava. Na escola ela fez muitos amigos, incluindo sua professora, Maude Kenyon. Aliás, trechos de um diário mantido por Grace expressava os sentimentos, que às vezes ela sentia pela Srta. Kenyon.
A fazenda da família ficava no vilarejo de South Otselic, localizado a oeste do condado de Chenango, que era uma localidade pequena e tranquila, com muitos prédios e lojas de departamento, que por sua vez tornavam a vida uma pouco mais fácil para quem vivia por lá. Uma dessas pessoas era justamente Grace Brown.
A cidade tinha diversos prédios de três andares, incluindo nessa conta o quarteirão Cox e o quarteirão Perkins. Ambos possuíam uma grande diversidade de lojas no andar térreo e salões de convivência no segundo andar. O quarteirão Cox possuía um templo maçônico no terceiro andar, e o quarteirão Perkins possuía uma casa de ópera, que muitas vezes também era utilizada para reuniões públicas ou palestras.
O pequeno vilarejo também tinha um grande empregador, a "Gladding Fish Line Factory", que tinha cerca de 300 máquinas produzindo diariamente linhas de pesca para serem usadas por todo o Estados Unidos. A cidade ainda contava com uma editora, um jornal semanal, uma fábrica de caixotes, uma selaria, um hotel, duas lojas de ferragens, uma loja de roupas, diversas lojas menores, um curtume, uma serraria, diversas leiterias e queijarias, uma pista de boliche e um salão de bilhar.
South Otselic talvez estivesse um pouco isolada do restante do país, mas ainda assim era uma comunidade, que dependia somente de si mesma. O pequeno vilarejo prosperou por conta própria, e muitas pessoas estavam contentes e felizes por estar vivendo lá. No entanto, isso não significava que tinham parado no tempo.
Por outro lado, Grace parecia ser uma menina que queria sair do pequeno vilarejo e do campo para ver e experimentar uma vida diferente em uma cidade "de verdade". Sua mais provável escapatória era sua irmã, Ada Hawley. Ada havia recentemente se casado e se mudado para a cidade de Cortland com o seu marido, Clarence. É importante lembrar que Grace era uma típica menina do campo, para os padrões da época, e que estava tentando sair do campo para buscar novos horizontes nas cidades maiores. Isso não é muito diferente dos dias de hoje, quando alguém nasce em uma cidade do interior e tenta ampliar sua experiência de vida em cidades maiores ou até mesmo no exterior.
Assim sendo, Grace foi para Cortland, em 1904. Rapidamente, ela passou a estar no meio comercial e industrial da cidade, que com certeza ela deve ter achado bem diferente da vida do campo. Não demorou muito, e ela encontrou emprego na "The Gillette Skirt Factory", uma fábrica que produzia saias, uma peça do vestuário feminino amplamente utilizada na época.
O salário era apenas alguns poucos dólares por semana, mas era mais dinheiro do que ela já tinha visto na fazenda. Entretanto, depois que o filho de Ada e Clarence nasceu, ambos se mudaram de Cortland, e Grace se viu obrigada a tomar uma decisão. Ela poderia escolher voltar para sua casa em South Otselic ou então permanecer em Cortland, possivelmente como uma pensionista, e continuar trabalhando na fábrica de saias. Ela decidiu ficar, e logo conheceria um homem que mudaria totalmente o rumo de sua vida.
Chester Gillette nasceu em 9 de agosto de 1883, no estado de Montana, nos Estados Unidos, mas passou parte de sua infância em Spokane, Washington. Seus pais possuiam um certo conforto em termos financeiros, mas eram profundamente religiosos e, eventualmente, renunciaram a riqueza material para se juntarem ao Exército da Salvação.
Durante sua adolescência, Chester viajou e viveu com sua família em lugares como o Havaí, Washington, Montana, Oregon, Wyoming, Califórnia, Ohio e Nova York, e de tanto se mudarem, sua família logo percebeu que ele precisava de uma educação que lhe fosse adequada. Ele entrou para a Escola Preparatória Oberlin, devido a generosidade de um tio rico em 1901. Durante as férias de verão, Chester foi para Cortland para trabalhar para seu tio, Horace Chester, que por sua vez era proprietário da "Gillette Skirt Factory".
De qualquer forma, parecia que Chester não levava muito a sério o estudo, visto que suas notas começaram a cair, e ele resolveu abandonar a escola na primavera de 1903. Foi naquele mesmo ano, que ele se mudou para Chicago e passou a fazer pequenos "bicos". Chester trabalhou como vendedor de livros e também de guarda-freios (empregado de linhas férreas, que vigia os freios das linhas ferroviárias) em uma ferrovia local.
A situação financeira não estava muito boa, então ele resolveu aceitar o emprego, que seu tio Horace havia lhe oferecido anteriormente em sua fábrica. Ele surpreendeu até mesmo seu tio, uma vez que apareceu em Cortland, em 1904, sem nem mesmo avisá-lo de sua chegada. Seu objetivo era mais uma vez começar uma nova vida. Seu salário acabou sendo de dez dólares por semana e nunca teve nenhum tipo de aumento. Ele permaneceu na casa de seu tio até encontrar um lugar para ficar, mas rapidamente ele absorveu o clima da cidade de Cortland e, em pouco tempo, já estava familiarizado com a maioria das ruas e dos vilarejos nos arredores da cidade.
Foi justamente na fábrica de saias do tio, que Grace e Chester se encontraram pela primeira vez em 1904. Grace trabalhava cortando as partes que formavam as saias na época, a partir de grandes rolos de tecido do almoxarifado. Chester parecia estar atraído pela encantadora Grace, uma vez que ele sempre arranjava desculpas para visitá-la em sua mesa de trabalho. Suas conversas acabaram gerando uma amizade.
Durante o verão, Chester ligava para Grace com certa frequência. Havia muitas festas para participar, mas aparentemente a maior parte do tempo juntos era gasto na sala de estar da casa de sua irmã. Certa vez, ambos foram deixados a sós após os Hawleys terem ido dormir, então Chester e Grace puderam finalmente se beijar, e se abraçar no sofá da sala de estar. Isso era considerado muito íntimo para os padrões daquela época, então tentem imaginar a situação da forma mais respeitosa possível.
Chester frequentemente jogava tênis nos fins de semana, e fazia passeios em grupo com outros amigos, que possuíam bicicletas. Acima de tudo, ele gostava de praticar natação e canoagem nos lagos próximos, assim como participar de festas com os amigos, que ele conheceu na fábrica e também por meio deles. Isso quer dizer, que muitas vezes Chester se envolvia com outras garotas. Aliás, ele também passou a vistar a mesa de outras funcionárias na fábrica onde Grace e ele trabalhavam. Para piorar a situação, ele também passou a se envolver com algumas estudantes de uma escola da região. Grace estava aflita e um tanto quanto desesperada diante dessa situação.
Grace parecia realmente amar e nutrir um certo carinho por Chester, muito embora, aparentemente ele não sentisse o mesmo por ela. Grace estava apaixonada, provavelmente pela primeira vez em sua vida. Ela continuou a dar o seu melhor para manter Chester ao seu lado, apesar dos diversos alertas de seus amigos e colegas de trabalho. Seus amigos viviam avisando Grace de que Chester não era o que ele aparentava ser, que ele era bem diferente. Podemos imaginar, que Grace não tinha nenhuma experiência com esse tipo de pessoa.
Em maio de 1906, quando Grace descobriu que estava grávida, ela ficou muito abalada. Seus colegas de trabalho notaram uma mudança em seu comportamento, e Chester continuava a agir da mesma forma que fazia antes. Ele ligava para Grace algumas vezes durante a semana, enquanto ainda frequentava festas com outras mulheres da comunidade. Eventualmente, Grace acabou contando para Chester, que teria oferecido uma rápida solução que seria paga pelo tio, ou seja, abortar a criança indesejada por ele. Evidentemente, Grace recusou, jamais passaria pela sua cabeça em tirar a vida de uma criança sendo gerada em seu ventre. A única solução seria que ele se cassasse com ela.
Na época, mães solteiras eram párias. Não era incomum que meninas tirassem a própria vida, pois isso era melhor do que serem humilhadas publicamente. Assim sendo, Grace tinha um enorme problema em suas mãos. Ela esperava que Chester fosse se oferecer para casar com ela, mas ele nunca tocou no assunto. Sem ter o que fazer em Cortland e percebendo que estava de mãos atadas, Grace voltou para sua casa em South Otselic, onde se comunicou durante algum tempo com Chester através de cartas. Uma cópia da parte de uma carta ilustra bem a tristeza que ela sentia.
"Meu querido Chester,
Estou escrevendo para dizer-lhe, que estou voltando para Cortland. Eu simplesmente não posso ficar aqui por mais tempo. Minha mãe está preocupada e me questiona porque eu choro tanto, estou prestes a adoecer. Por favor, venha e me leve embora para algum lugar, querido. Eu vim para casa esta manhã, e eu não consigo parar de chorar o tempo todo, assim como eu fiz naquela noite. Minha dor de cabeça está terrível. Eu tenho medo que você não virá e eu estou tão assustada, querido. Eu sei que você vai pensar que é estranho, mas eu não posso ajudá-lo. Você disse que viria, e às vezes acredito mesmo que você virá, mas depois eu penso em outras coisas, e estou certa de que você não virá. Quero que você me escreva, querido, assim que você receber essa carta, e me diga o dia exato que você pode vir. Eu voltarei em breve, não posso ficar aqui, querido, e por favor não me peça para esperar mais tempo..." (Trecho de uma carta de Grace para Chester. de 20 de junho de 1906).
Essa é uma das muitas cartas escritas por Grace para Chester enquanto ela estava em South Otselic. Ela implorava para que ele ajudasse a resolver a situação em que ela tinha sido colocada. Ela falava que pensava em se matar, e algumas vezes as palavras que usava podiam soar um tanto quanto ameaçadoras para Chester. Os amigos e amigas de Grace, em Cortland, escreviam para ela dizendo o quanto ele estava se divertindo com as moças da cidade. Por vezes, nas cartas que escrevia, Grace deixava implícito que voltaria a Cortland, e iria expor Chester como um homem que enganou uma moça solteira e a engravidou.
Grace recebeu uma carta de Chester no dia seguinte e não era bem o que ela queria ler. A primeira carta de Chester chegou, mas Grace estava muito desapontada com o leu e com o tom que ele havia escrito, após ela ter passado a semana inteira chorando por ele. Chester parecia desconfortável com a situação, mas disse que não era para ela se preocupar, que ela deveria, enquanto isso, fazer uma viagem com os pais, até mesmo porque ele não queria que Grace voltasse de modo algum para Cortland e arruinasse a reputação que ele havia conquistado, se é que havia alguma que pudesse se orgulhar. Grace sentiu que hora de tomar uma decisão, que teria uma consequência fatal.
Desde o começo, Chester Gillette tinha grandes esperanças de se casar com alguma garota de uma das famílias mais ricas da cidade. Ele constantemente era avisado por parentes por estar "andando com uma uma garota da fábrica." Seu tio era um dos homens mais ricos da cidade, e como um membro da família Gilette em Cortland, ele não poderia se render a pobreza tal como seus pais um dia fizeram.
Chester tomou uma decisão no início de julho de 1906, escrevendo uma carta para Grace, e orientando para que fosse encontrá-lo em um hotel, na cidade de DeRuyter, no condado de Madison, em Nova York, que fica somente a 17 km (em linha reta) de South Otselic. Grace estava muito contente naquela altura dos acontecimentos, porque esperava que ele finalmente tivesse tomado a decisão de se casar com ela.
Chester e Grace passaram sua primeira noite no Hotel Martin, na cidade de Utica, registrando seus nomes como marido e mulher. No dia seguinte, eles foram para o Lago Tupper, novamente se registrando como marido e mulher. Eles desceram para olhar o lago, mas estava um dia muito chuvoso e não puderam passear de barco.
Ambos saíram para passear de barco na tarde do 11 de julho de 1906. Nesse ponto é importante ressaltar que Grace havia escrito para Chester, em uma de suas cartas, que não sabia nadar, mas de qualquer forma Grace amava Chester, de certa forma confiava nele, uma vez que ela estava esperando um filho dele. Durante o passeio, eles leram revistas e desfrutaram do entardecer no Lago Big Moose, enfim como um casal completamente normal aproveitando uma viagem.
Por volta das 18h, quando não havia mais nenhum outro barco no lago, Chester parou de remar próximo a Punkey Bay. Foi exatamente nesse momento que ele a golpeou com força na cabeça usando uma raquete de tênis, que ele havia levado em uma mala, e empurrou, provavelmente já inconsciente, nas águas do Lago Big Moose.
Chester levou o barco até chegar em terra firme, pegou sua mala e correu pela estrada, que ele já havia definido como sua rota de fuga. Aliás, essa raquete de tênis, que foi a arma do crime, foi vista por diversas pessoas que lembraram que tinham visto os dois no Hotel Glenmore naquele mesmo dia. As pessoas se lembraram, porque era bem estranho alguém passear levando uma mala e uma raquete de tênis dentro do barco.
Entretanto, novamente ele não teve muita sorte. Três jovens que estavam próximos do local, passaram por ele pouco antes do anoitecer. A razão pela qual eles tinham tanta certeza que era Chester, era que eles nunca tinha visto um homem andando pela floresta carregando uma mala.
Chester chegou na cidade de Eagle Bay e se hospedou no Hotel Arrowhead, na cidade de Inlet, onde se registrou pela primeira vez com seu próprio nome. No dia seguinte, ele foi encontrar com as duas meninas, que havia se deparado no trem, assim como ele disse que faria. Em seguida voltou a Eagle Bay para verificar se o adiantamento que ele havia pedido tinha sido enviado para ele.
Em sua cabeça, tudo estava indo conforme planejado. Além disso, ele contou para as pessoas que havia estado no Lago Raquette, no começo da semana. Se passou por um turista comum, e foi visitar a Montanha Black Bear, além do lago Seventh. Ele inclusive cantou músicas com os demais turistas na varanda do hotel onde ficou hospedado.
Na manhã de sábado, 14 de julho, ele tinha acabado de almoçar e estava voltando para seu quarto no hotel, quando foi parado por três homens. Um deles era seu amigo Bert Gross, de Cortland e os outros dois eram George W. Ward, promotor do distrito de Inlet, no condado de Herkimer e Austin B. Klock, vice-Xerife do condado. Chester estava preso sob a acusação de ter matado Grace Brown.
Voltando um pouco no tempo, na noite do dia 11 de julho, depois do casal não retornar com o barco durante a noite, Robert Morrison, responsável por cuidar das embarcações, solicitou imediatamente que buscas fossem realizadas. Na manhã do dia seguinte (12) ainda não havia nenhuma pista sobre o paradeiro do barco. Então, ele decidiu sair pessoalmente para procurar pela embarcação e consequentemente pelo casal. Logo ele descobriu que o barco havia virado, mas ainda não havia sinal de quaisquer pessoas à bordo. Um menino de treze anos de idade, chamado Roy Higby, acabou encontrando o corpo da Grace Brown. Ele tinha avistado uma mancha branca nas águas escuras do lago, e quando foram ver o que era, infelizmente era o corpo de Grace Brown.
Eles continuaram a fazer buscas na região e encontraram apenas um chapéu e um casaco, porém não encontraram o corpo de Carl Graham, que na verdade era Chester Gilette. Depois que o corpo de Grace foi encontrado em 12 de julho, os repórteres de jornais, promotores e xerifes combinaram seus esforços para rastrear as informações, que pudessem ser encontradas sobre Grace Brown. No início, acreditava-se que ela e "Carl Graham" tinham se afogado, porém como sabemos, nenhum corpo, exceto o dela, tinha sido encontrado. Além disso, descobriu-se que o "namorado" dela em Courtland, também estava em Adirondacks, assim sendo a suspeita recaiu totalmente sobre Chester Gilette.
A autópsia do corpo de Grace Brown foi realizada no dia 14 de julho. Foi constatado que havia ferimentos e hematomas em sua cabeça, e sempre do lado esquerdo, desde a altura do olho, passando pela bochecha e maxilar. Grace Brown havia recebido diversos golpes em seu rosto, da esquerda para direita. Provavelmente, devido a natureza e dimensão das manchas escurecidas em seu rosto, ela ficou inconsciente após os impactos. Parar piorar a situação, a notícia mais triste e que ninguém queria dar: Grace estava entre o terceiro e quarto mês de gestação.
Entretanto, a prisão de Chester foi apenas o início do trabalho do promotor George W. Ward. Ele passou meses procurando por qualquer pessoa que tivesse visto Chester e Grace juntos durante aqueles dias em julho. Ele encontrou todas as cartas que Grace tinha escrito para Chester, encontrou a raquete de tênis, que Chester havia escondido e os registros de hotel com os nomes falsos que ele forneceu. Até o momento do julgamento, que começou em 11 de novembro daquele ano, Ward tinha mais de 100 testemunhas e 100 evidências que incriminavam Chester Gillete.
Chester poderia ter os melhores advogados do estado de Nova York, porque seu tio era rico, porém a família o abandonou diante do constante assédio da imprensa, que não descansou nem por um instante. Sem dinheiro, Chester pediu para o juiz, que fosse nomeado um advogado para defendê-lo. Foram nomeados dois advogados para fazer sua defesa, Charles D. Thomas e Albert M. Mills, os dois melhores do condado. Chester sempre alegou que, naquela tarde no barco, Grace Brown vendo que ele não queria se casar com ela, simplesmente tirou a própria vida ao pular no lago. Porém, ele nunca conseguiu explicar o motivo, de não ter se atirado no lago para salvar a vida de Grace, visto que ele era um ótimo nadador e ela não sabia nadar.
Chester permaneceu sempre sentado, mascando chiclete e agindo como se fosse outra pessoa diante de um julgamento, em que sua vida estava em jogo. Quando George W. Ward lia as cartas de Grace, até mesmo os jornalistas admitiram, que choravam ao ouvir as frases da pobre menina. Apenas Chester parecia não se importar.
Ele só mascava seu chiclete e parecia entediado. Havia entre 25 a 30 jornalistas presentes no julgamento a cada dia, incluindo representantes de jornais de Nova York, e de outras agências de notícias nacionais. Uma vez que os hotéis já estavam cheias de testemunhas de Ward, não havia muito espaço sequer nas pousadas locais.
Depois de longos dias, o julgamento atingiu seu clímax às 10h55 do dia 4 de dezembro. Foi nesse momento que o júri, depois de cinco horas de deliberação, anunciou que Chester tinha sido declarado culpado de homicídio qualificado, o que significava na época, que ele seria condenado à cadeira elétrica.
Chester foi observado cuidadosamente por jornalistas que procuravam por qualquer sinal de emoção em seu rosto, mas ele não demonstrou nenhuma. Ele continuou mascando seu chiclete, e foi dormir em sua cela, poucos minutos depois. Três dias depois, sua mãe, Louisa Gillette, finalmente chegou no condado de Herkimer. Isso porque um certo jornal concordou em pagar sua passagem de trem, em troca de um artigo escrito por ela sobre a sentença de seu filho.
Chester foi levado para a prisão estadual de Auburn, enquanto sua mãe tentava arrecadar fundos por toda Nova York para tentar recorrer da sentença do filho. Ela tentou atacar a reputação de Grace Brown, mas não deu muito resultado, porque independente de quem ela fosse, seu filho era o responsável por engravidá-la e isso feria o sentimento da maioria das pessoas.
Na primavera de 1908, depois do Tribunal de Apelações ter confirmado a condenação, Louisa Gillette visitou o governador Charles E. Hughes duas vezes, em um esforço para obter um novo julgamento ou pelo menos atrasar a sentença de morte. Entretanto, em 29 de março, um dia antes da execução, ele emitiu sua decisão final. O governador não viu nenhuma evidência que apontasse que a justiça não tivesse sido feita.
Em suas últimas horas de vida, Loiuse falou com seu filho, e pouco tempo depois disse que estava finalmente convencida de que seu filho era realmente culpado de causar a morte de Grace Brown, mas nunca conseguiria explicar como isso aconteceu. Ela disse, no entanto, que a raquete de tênis não era a arma do crime. Chester ainda escreveu cartas para cada membro de sua família.
A morte de Grace Brown foi a inspiração para muitos livros, assim como o brilhante "An American Tragedy" ("Uma Tragédia Americana", em português), de Theodore Drieser, e serviu como base para um filme americano chamado "A Place in the Sun" ("Um Lugar ao Sol", em português) lançado em 1951, no qual foi estrelado por Elizabeth Taylor e Montgomery Clift.
Entretanto, o fantasma de Grace tem sido avistado no Lago Big Moose desde a sua morte em 1906. Testemunhas afirmam que costumam vê-la caindo do barco e se afogando no lago, outros afirmam que a veem caminhando ao longo da margem do mesmo. Seu espírito também assombraria diversas casas de campo da região, visto que, supostamente, seu espírito gosta de apagar as luzes das mesmas.
Conta-se que, no verão de 1988, diversos funcionários do Covewood Lodge, um complexo criado nos arredores do Lago Big Moose, que possui dezenas de casas para locação temporária, campos de golfe, aluguel de barcos, restaurantes entre outros serviços, e que existe até hoje, teriam se deparado com o fantasma de Grace Brown.
Um grupo estava voltando para o alojamento dos funcionários, quando uma mulher chamada Rhonda Bousselot estava andando pelo alojamento, e parou próximo do alto da escada. Quando ela estendeu a mão para puxar a corda que ligava a luz, ela sentiu que alguém estava em pé, ao lado dela. Essa presença teria sido tão poderosa, que ela praticamente congelou e não teve coragem de puxar a corda. Enquanto isso, do lado de fora do alojamento, três companheiros de trabalho dela teriam visto o fantasma de Grace Brown, bem diante dos olhos deles. A aparição teria permanecido no local durante alguns minutos, e depois se afastado.
Enfim, será que o "fantasma de Grace Brown" ronda mesmo o Lago Big Moose até os dias de hoje?
Cherry Hill, a imponente mansão com vista para o rio Hudson, bem próxima da cidade de Albany, no estado norte-americano de Nova York, já tinha cerca de 40 anos em 1827, quando abrigou 17 pessoas. Em sua maioria essas pessoas eram aristocratas, descendentes das famílias Van Rensselaer e Lansing. E lá estava um homem chamado John Whipple, o jovem arrogante que se casara com Elsie Lansing, a sobrinha excêntrica de Catherine Van Rensselaer.
Pelo menos cinco empregados, incluindo um homem chamado Jesse Strang, estavam morando e dormindo em quartos no porão. A tranquilidade doméstica em Cherry Hill seria interrompida para sempre quando Elsie e Jesse não respeitaram a distinção entre o andar de cima e o de baixo.
A Mansão Cherry Hill foi construída em 1787, por um homem chamado Philip Van Rensselaer, que fez fortuna como comerciante e fazendeiro. Ele morreu em 1798, mas em 1826 sua esposa, a Maria, ainda estava morando lá. Ela ocupava o lado norte da mansão, enquanto que seu filho, Philip P. Van Rensselaer ocupava o lado sul juntamente com sua esposa Catherine, e quatro dos seus sete filhos. Um quarto acabou sendo alugado na região sudoeste da mansão para John Whipple, sua esposa Elsie Lansing Whipple, e o filho do casal.
Elsie era filha de Abraão Lansing, falecido irmão de Catherine, e tinha a reputação de ser histérica e indisciplinada. Seu pai morreu quando ela era muito jovem, sendo que Elsie foi criada, e muito mimada, pela sua mãe e sua avó, que tinham o mesmo jeito dela. Aos 14 anos ela fugiu com John Whipple, que morava na casa ao lado. Ele era nove anos mais velho que ela, ou seja tinha 23 anos. O maior problema, no entanto, é que o avô de Elsie, o capitão Abraham Lansing, estava morrendo. Ele tinha deixado para seu filho, ou seja, o pai de Elsie, a herança e a propriedade que morava, que então passaria para Elsie e, devido a lei na época, seria controlada por John Whipple.
O Capitão Lansing sempre viu John Whipple como um caçador de fortunas e foi ao tribunal tentando evitar que isso acontecesse, mas perdeu o processo. Assim sendo, o capitão Lansing morreu antes de haver qualquer reconciliação, mas o restante da família, eventualmente, gostava de John Whipple. Ele era um empresário bem astuto e transformou a herança de sua esposa em uma pequena fortuna.
Morando em um dos quartos da mansão de Cherry Hill havia um empregado que atendia pelo nome de Joseph Orton, que era chamado de "doutor" pelas demais pessoas, porque ele simplesmente usava óculos e sabia ler e escrever. Ele cuidava do campo, cortava madeira, cuidava do estábulo e fazia pequenos reparos na casa quando era necessário. Seu verdadeiro nome era Jesse Strang, nascido em Sunderland, Vermont, no dia 11 de agosto de 1793. Ele tinha uma esposa e quatro filhos em Fishkill, Nova York, que deixou para trás em 1825, por acreditar que a esposa o traía. Ele se mudou para Sandusky, Ohio, e em seguida, na primavera de 1826, se mudou novamente para a região oeste de Nova York, onde Jesse Strang forjou sua própria morte e se tornou Joseph Orton.
Jesse Strang viu Elsie Whipple pela primeira vez, quando ele estava trabalhando em uma taverna perto de Albany, que era propriedade de Otis Bates. Elsie entrou na taverna com a uma moça chamada Maria, que era filha de Philip P. Van Rensselaer. As meninas eram um pouco agitadas, e Elsie, a qual era descrita por Jesse Strang como "alegre, jovial e vertiginosa", chamou a sua atenção. Naquela noite, ele comentou com o filho de Bates, que ele gostaria de dormir com ela.
Logo depois Strang foi trabalhar em Cherry Hill, e seus sentimentos amorosos por Elsie continuaram crescendo. Ele sempre a via com muita frequência e às vezes eles se falavam, mas ele não tinha nenhuma indicação de que ela estava interessada nele. Então, um dia, Elsie disse a Strang para escrever uma carta para ela e contar sobre seus sentimentos. Strang ficou perplexo. Ele sabia que Elsie era casada e não queria problemas, mas também não queria deixar passar a oportunidade.
A carta original que ele escreveu e entregou a ela foi praticamente destruída, mas foi reconstruída cerca de 10 meses depois:
"Querida Elsie,
Tenho seriamente considerado o que você me pediu ontem, e decidi escrever algumas linhas para você. Pensei que não seria certo da minha parte fazer isso, sem saber sua motivação. Talvez seja apenas um modo de atrair minha atenção para mostrar ao seu marido, que você é uma mulher casada, se for essa a sua intenção. É meu desejo que saiba, que isso é algo que criará um problema entre você e seu marido, mas se por outro lado isso for simplesmente devido a sentimentos verdadeiros, então eu ficaria bem contente em saber disso, quando escrever para mim. Eu espero que você não estranhe a forma como estou escrevendo, uma vez que somos perfeitos estranhos um para outro, mas espero que essas poucas linhas sejam suficientes para que eu possa descobrir sua motivação. Meus pensamentos e sentimentos sobre este assunto são bem favoráveis. Eu espero uma resposta de você, caso essa também seja sua motivação. De qualquer forma continuo sendo seu amigo.
Joseph Orton"
Meia hora depois de receber a carta, Elsie entregou a Strang sua resposta. Ela não mediu palavras: "Minha motivação é o meu amor verdadeiro por você", disse Elsie. Várias vezes na carta ela expressou seu amor por Strang e terminou a mesma dizendo: "Permaneço como sua devotada e afetuosa amante até que a morte nos separe". Isso acabou dando início a uma série de cartas de amor diárias entre os dois, entregues por empregados ou até mesmo pelos filhos dos Van Rensselaer. O desejo de um pelo outro aumentava ainda mais pelo fato de que era quase impossível de estarem a sós com tantas pessoas na casa. Entretanto, ocasionalmente encontraram uma oportunidade para ficarem juntos e terem uma relação amorosa "criminosa."
Em uma de suas cartas, Elsie expressou sua vontade de fugir com Strang. Ele estava de acordo com isso, mas disse que seria necessário cerca de US$ 1.200 (o que era um bom dinheiro na época) para se estabelecerem em outro lugar. Elsie tinha uma fortuna valia muito mais do que US$1.200, mas pelas leis da época tudo isso pertencia ao seu marido. Ela não podia tocar em nada disso, enquanto ele estivesse vivo. Strang e Elsie perceberam que eles só poderiam viver juntos caso John Whipple morresse, e eles estavam determinados a fazer isso acontecer.
Eles fizeram uma promessa de que não um não contaria nada sobre o outro. Isso porque, se fossem capturados, um deles poderia acabar confessando e eles seriam enforcados juntos.
Na primavera de 1827, Strang e Elsie "começaram a tentar matar" John Whipple. Strang comprou arsênico em Albany e Elsie colocou o veneno em um tônico, que seu marido tomava todos os dias. Ela acabou errando na quantidade, e acabou dando uma quantidade menor do que a necessário para matá-lo. Isso só rendeu dores de estômago a John Wipple, ou seja, o veneno não o matou. Depois disso, eles pensaram em contratar um pistoleiro. Strang acreditava que ele poderia contratar um homem em Montreal, por cerca de US$ 300, mas eles não tinham esse dinheiro. Finalmente, eles decidiram que o próprio Strang teria que atirar em John Whipple. Elsie sugeriu que ele usasse uma das pistolas de duelo do marido, mas Strang gostava mais de rifles e comprou um por cerca de US$ 25. O divórcio era algo impensável. Além do escândalo social que poderia ser causado, deixaria Elsie sem nenhum centavo.
Eles espalharam rumores de que alguns homens queriam matar Whipple devido a um assunto de negócios. Strang também passou a dizer que tinha visto homens estranhos rondando a casa. Com todo cuidado do mundo, ambos testaram o rifle para ver se ele tinha uma boa precisão quando disparasse, passasse por uma janela de vidro. Eles planejavam atirar em John Whipple, enquanto ele estivesse em seu quarto, fazendo a bala atravessar o vidro da janela.
Na noite do dia 7 de maio de 1827, por volta das 21h, Jesse Strang tirou seu casaco, suas botas, e escalou um galpão anexo, que ficava na parte de trás da mansão Cherry Hill, levando apenas o seu rifle. De pé, no escuro, ele podia ver a janela do quarto de John Whipple sem ser visto por ninguém. John Whipple estava em seu quarto conversando com Abraham Lansing Whipple, seu filho. John Whipple ficou de costas para a janela, e Strang disparou o rifle, acertando-o debaixo do braço esquerdo. A bala acabou rompendo uma das principais artérias do coração. John Whipple ainda conseguiu dar alguns passos, mas acabou caindo no chão, já sem vida.
Strang pulou do galpão, vestiu seu casaco e calçou suas botas novamente. Correu para um barranco atrás da mansão, onde ele enterrou o rifle. Ao voltar para a mansão, ele "descobriu" que John Whipple tinha sido baleado e morto. Ninguém da família sabia que Strang era o responsável por aquilo, e pediram para que ele fosse até a cidade para buscar o legista. Quando voltou, ironicamente ele foi nomeado como "membro do júri do legista."
Na manhã seguinte, o júri foi chamado, e mesmo sendo um membro do júri, Strang também deu seu testemunho. Ele falou com veemência sobre homens, que tinha visto no lado de fora da mansão, na noite anterior. Entretanto, Strang exagerou na dose, e seu zelo em colocar a culpa em supostos bandidos fizeram com que o legista levantasse suspeitas contra ele. Na tarde do dia seguinte, Strang foi preso por homicídio. Duas semanas mais tarde, Elsie Whipple também acabaria presa.
Em junho daquele ano Jesse Strang confessou o crime, e disse aos promotores onde encontrar o rifle. Ele acreditava que, se Elsie fosse condenada, uma vez que possuía poderosos laços familiares, ambos seriam perdoados. Dessa forma Strang tentou colocar a culpa nela, e chegou a pedir ao seu advogado para plantar provas incriminatórias em Cherry Hill contra Elsie, mas ele se recusou. Quando seu advogado e o promotor público, Edward Livingston, um parente da família Van Rensselaer, lhe disseram que nada do que ele dissesse contra Elsie iria aliviar sua punição, ele retirou sua confissão. Na prisão, Elsie e Strang podiam se comunicar, e ela nunca deixou de lembrá-lo, que se ele não tivesse inicialmente confessado, ambos poderiam ter fugido juntos para Montreal.
O julgamento de Strang havia gerado uma grande euforia nos moradores da região, tanto que ele teve que ser realizado na Câmara Legislativa da capital do Estado, porque nenhum outro prédio era grande o bastante para que coubesse a multidão. Mesmo assim as ruas ao redor da câmara estavam repletas de pessoas que não conseguiam entrar.
Membros da família testemunharam, que tinham ouvido Strang espalhar histórias sobre pessoas que queriam matar John Whipple. Os comerciantes que o venderam o rifle e o arsênico também testemunharam, assim como os recepcionistas de hotéis, que tinham visto Strang e Elsie juntos. Entretanto, foi a confissão de Strang, admitindo a culpa durante o objeção da defesa, que selou seu destino. O júri deliberou por 15 minutos antes de voltar com um veredito de culpado por homicídio qualificado.
O julgamento de Elsie seguiu o mesmo curso de Strang, exceto pelo fato que a promotoria tentou chamar Strang como testemunha. Houve muito debate sobre a sua elegibilidade para depor, porque ele havia sido condenado, mas ainda não tinha sido sentenciado. Ao final, o juiz não permitiu que John Whipple testemunhasse. A acusação desistiu, e os membros do júri, sem sair de seus assentos, absolveram Elsie Whipple. Aliás, a cidade de Albany aparentemente não estava preparada para condenar uma mulher, que possuía laços com algumas das mais proeminentes famílias da cidade, independentemente das evidências.
Entre 30.000 e 40.000 pessoas compareceram em 24 agosto de 1827 para testemunhar o enforcamento de Jesse Strang, que possuía 34 anos na época de sua execução. No meio da multidão estavam vendedores ambulantes que vendiam um panfleto intitulado "The Authentic Confession of Jesse Strang" ("A Autêntica Confissão de Jesse Strang", em português).
No cadafalso (tablado ou palco erguido em lugar público para que os condenados sejam expostos ou executados), segurando uma cópia da confissão, Jesse Strang pronunciou o que estava escrito no panfleto dizendo: "Esse panfleto contém uma confissão completa da grande transação, pela qual estou prestes a morrer, e cada palavra que ele contém, até onde eu sei, é verdadeira. Se houver uma única palavra em que isso não é verdade, foi inserida por engano, e não devido a um erro durante a sua criação."
Pouco tempo depois Elsie se casou com Nathanial Freeman, em New Brunswick, Nova Jersey, e depois da morte do marido, ela se mudou para Onondaga, Nova York, onde ela morreu em 1832.
A mansão Cherry Hill ainda existe e está totalmente restaurada e aberta ao público. Passou de geração para geração até chegar em Catherine Putman Rankin, bisneta de Philip P. Van Rensselaer. Catherine amava sua casa e fez tudo o que podia preservar o espaço e a história que foi mantida dentro das paredes. Catherine manteve registros de tudo o que aconteceu na mansão.
Ela ainda tinha um diário, no qual ela escrevia sobre sua participação nas reformas de casas, incluindo ter derramado uma lata de selante no chão. Ela queria preservar tudo o que podia para olhar e ter a mesma sensação de quando ela morava lá, na década de 1940. Alguns anos mais tarde, sua filha Emily dedicou seu tempo para preservar o que restava.
Em 1963, Emily faleceu e especificou em seu testamento que a casa deveria se tornar um museu. No ano seguinte, em 1964 isso se tornou uma realidade, pois a mansão Cherry Hill estava no primeiro grupo de propriedades da cidade listadas no Registro Nacional de Locais Históricos. Seu acervo inclui cerca de 20.000 objetos - todos os móveis originais da casa - utensílios de cozinha e talheres, 5.000 livros, 3.000 fotografias, e 30.000 documentos históricos dos arquivos da família Van Rensselaer. Alguns dos itens, tais como tapetes originais do século 18, foram emprestados a outros museus como o Museu Metropolitano de Arte de Nova York.
A equipe que atualmente cuida da casa, ainda faz de tudo o que pode para continuar o sonho deixado por Catherine, com a ajuda de doações. Você pode acessar o site da mansão, clicando aqui. Muitos alegam que a casa é assombrada, mas ninguém sabe dizer ao certo se é o fantasma de John Whipple ou de Jesse Strang.
Esse último caso que será descrito aqui, talvez seja o mais chocante e repulsivo em relação a todos os anteriores. Vamos contar para vocês a história das mortes de 3 menininhas, entre 5 e 10 anos de idade, em Cannock Chase, na Inglaterra. Muitos relacionam essas mortes, com a aparição de "fantasmas de crianças de olhos negros", na densa floresta, que possui o mesmo nome, e que ocupa boa parte do território da localidade.
Raymond Leslie Morris nasceu em Walsall, no condado de Staffordshire, na Inglaterra, em 13 agosto de 1929, e possuía uma boa aparência e uma inteligência acima da média. Seu QI era de 120. Ele gostava de poesia, fotografia, e tinha habilidades impressionantes. Raymond Morris passou por diversos empregos antes de se firmar em um como engenheiro-chefe em uma fábrica de instrumentos de precisão em Oldbury, West Midlands, em 1967.
Ele se casou quando tinha 22 anos, em 1951, com uma mulher que era dois anos mais nova que ele, e teve dois filhos, que foram frutos desse mesmo relacionamento, porém Morris assustava sua esposa devido as mudanças bruscas de humor, exibindo uma fúria impassível quando ela se recusava a atender as suas exigências espontâneas "amorosas", se é que vocês me entendem.
Eles se separaram oito anos depois, mas Morris sempre evitou de pagar pensão para ajudá-la a sobreviver com os filhos, até que ela concordasse em visitá-lo uma ou duas vezes por semana. Ela inclinava-se sobre uma mesa para que ele pudesse possuí-la em uma posição "selvagem".
Aos 35 anos, Raymond Morris se casou pela segunda vez, com uma mulher chamada Carol, que tinha 21 anos. O lado violento da natureza de Raymond aparentemente tinha sumido, o tornando um "marido perfeito". Entretanto, na verdade, sua raiva silenciosa tinha apenas sido desviada de sua própria casa para um outro lugar.
Raymond Morris e sua segunda esposa viviam no Flat 20, Regent House, Green Lane, Walsall. Era um apartamento de propriedade do município em Birchills, em frente à delegacia de polícia. Para vocês terem uma ideia, o mesmo ficava a menos de 75 metros de distância da polícia.
No dia 1º de dezembro de 1964, Julia Taylor, com apenas 9 anos, foi atraída para entrar em um carro na região de Bloxwich, por um homem que dizia ser um amigo de sua mãe, e que queria levá-la para comprar alguns presentes de Natal. A menina sofreu abusos, foi estrangulada e deixada para morrer. No começo da noite, no entanto, ela conseguiu recobrar a consciência, e sair da vala onde foi jogada, indo em direção à beira da estrada.
A pequena menina estava encharcada e tremendo de frio devido a chuva que caía. Para sua sorte ela foi avistada por uma pessoa que passava de bicicleta, que a socorreu. Ela não conseguia se lembrar de muita coisa, apenas que tinha entrado em um carro grande de duas cores.
No dia 8 de setembro de 1965, Margaret Reynolds, na época com apenas 6 anos, desapareceu a caminho de sua escola, no subúrbio de Birmingham, em Aston. Nenhuma pista ou vestígio havia sido descoberto sobre seu paradeiro. Em 30 de dezembro daquele mesmo ano, Diane Tift, de 5 anos, desapareceu na curta caminhada entre sua casa e a casa de sua avó, na cidade vizinha de Bromwich.
No dia 12 de janeiro de 1966, um trabalhador avistou o corpo de uma criança em um campo, alguns quilômetros ao norte. Foi quando um pequeno corpo foi encontrado em uma vala em Mansty Gully, Cannock Chase. Um segundo corpo foi descoberto por baixo ao verificarem, que a terra estava macia demais e diferente dos demais pontos ao redor. Assim sendo, a busca por Margaret Reynolds e Diane Tift tinha acabado, afinal de contas seus corpos tinham sido encontrados.
No dia 14 de agosto de 1966, Jane Taylor, 10 anos, saiu para um passeio em sua bicicleta em Mobberly, ao sul da região de Cannock Chase, e desapareceu para sempre. Dois meses depois, em outubro de 1966, Raymond Morris foi acusado de levar duas meninas em seu apartamento em Walsall, colocando-as em quartos separados, depois despir cada uma dela e fotografá-las nuas. Devido ao fato de que nenhuma das meninas conseguiu confirmar com precisão com o que teria acontecido, durante seus depoimentos, e também pelo fato de que a polícia não encontrou nenhuma evidência de que tal atitude teria sido realmente praticada, o caso foi dado por encerrado. Sim, exatamente isso que você leu.
No dia 19 de agosto de 1967, Christine Ann Darby, de 7 anos, estava brincando com amigos em Walsall, quando um homem parou com o carro bem próximo da calçada e pediu informações sobre como chegar em Caldmore Green. Christine entrou no carro para o espanto de suas amiguinhas que estavam brincando com ela. O motorista do carrou seguiu, no entanto, para outra direção.
O que aconteceu nesse dia provavelmente é o pior pesadelo de qualquer pai. Christine Darby tinha sido levada por um estranho, em plena luz do dia, por volta das 14h, na rua Camden, em Walsall. A família esperava encontrá-la viva, e para ajudar nas buscas, cartazes foram impressos pelo jornal "Express & Star", e foram fixados em paredes e postes da região.
Quando Christine desapareceu, uma impressionante investigação policial foi deflagrada. Testemunhas que estavam na rua Camden disseram, que tinham visto um homem em um carro cinza, e que seu sotaque era bem parecido com alguém que morava na região. Duas pessoas em Cannock Chase naquele dia, lembravam de ter visto um carro Austin A55 ou A60 de cor cinza.
Uma verdadeira caçada humana começou. 150 detetives visitaram cerca de 39.000 casas, e interrogaram mais de 23.000 proprietários de carros Austin A55 ou A60 de cor cinza, sendo que no total mais de 80.000 depoimentos foram tomados. Mais de 1.000 pessoas ajudaram nas buscas, sendo que a maioria eram os próprios moradores, que tentavam desesperadamente encontrá-la. Raymond Morris também passou a ser investigado, visto que já tinha sido acusado anteriormente diante de um suposto caso de abuso.
A esperança terminou quando o corpo de Christine Ann Darby foi encontrado por um soldado, que fazia parte do grupo de buscas, no dia 22 de agosto, ou seja, três dias depois, em um matagal em Cannock Chase, apenas 1,5km de distância de onde os corpos de Margaret Reynolds e Diane Tift tinham sido encontrados. Ela havia sido morta por asfixia, provavelmente por mãos que pressionaram seu nariz e sua boca. Christine tinha sido a terceira criança encontrada, e que tinha sido morta, em Cannock Chase, desde janeiro de 1966, ou seja, isso não podia ser mais uma coincidência.
A caçada ao monstro de Cannock Chase estava sendo conduzida por Sir Stanley Bailey, chefe-adjunto da polícia de Staffordshire. Entretanto, a participação de Morris no crime acabou sendo descartada após o depoimento de sua esposa. Ela disse que ambos estavam fazendo compras em um shopping, no dia e no horário em que Christine Ann Darby tinha desaparecido. Portanto, para a polícia, o responsável não podia ser Raymond Morris.
Enquanto isso, uma mulher chamada Maureen Freeman desempenhava um papel-chave na investigação, que levou à prisão de Morris. Ela se juntou a força policial em 1965, quando tinha apenas 21 anos. Ela ainda estava em seu período de estágio, quando o primeiro corpo foi encontrado. Ela foi a responsável em 1967 por montar uma base operacional equipada com telefones, na estrada New Penkridge, e chamar a Scotland Yard para ajudar nas investigações. Foi também uma das responsáveis por organizar as equipes de busca.
Uma reviravolta aconteceria em 4 de novembro de 1968, quando Margaret Aulton, 10 anos, moradora de Walsall, conseguiu escapar de um homem que tentou forçá-la entrar em um carro Ford Corsair verde e branco. Uma jovem de 18 anos que estava passando conseguiu anotar a placa do veículo, e foi até a base operacional montada por Maureen para dizer o que tinha acontecido. Foi verificado mais tarde nos registros, que o carro pertencia justamente a Raymond Morris.
Raymond Morris foi levado pela polícia sob custódia, em 15 de novembro, sendo que polícia já estava ciente de que Morris havia sido interrogado quatro vezes nos últimos anos. Ele também tinha um Austion A55 cinza semelhante ao utilizado no caso de Christine Darby. Alíás, ele tinha sido um dos suspeitos de tê-la matado, e só tinha se livrado devido ao depoimento de sua esposa. Isso sem contar a suspeita anterior, que recaía sobre ele, de ter molestado meninas, em 1966.
Naquele mesmo dia foi realizada uma intensa busca em seu apartamento. A polícia acabou encontrando fotos inapropriadas de uma menininha, que logo descobriram se tratar da sobrinha da esposa de Raymond Morris, com apenas 5 anos. Sob custódia e proteção da polícia, sua esposa mudou seu depoimento ao ver as fotos encontradas pela polícia, e disse ter "confundido" o dia. Talvez ela tivesse medo dele, mas foi o suficiente para ela testemunhasse contra Raymond Morris, que também acabou sendo identificado por duas pessoas, que o tinham visto em Cannock Chase. No dia seguinte (16), Raymond Leslie Morris foi formalmente acusado pela morte de Christine Darby, e permaneceu em prisão preventiva até seu julgamento, que só aconteceu em fevereiro de 1969.
Em fevereiro de 1969, Raymond Morris, outrora considerado como sendo um marido respeitável e pai de família, estava sendo julgado em um tribunal pela morte de uma criança. Ele afirmava não ser culpado pela morte de Christine Darby, e da tentativa de raptar Margaret Aulton, mas considerava-se culpado por atentado ao pudor em relação a sobrinha de Carol, sua segunda esposa.
Após a grande cobertura da imprensa em relação a uma série de outras mortes de crianças, que tinham acontecido alguns anos antes, onde hoje se localiza a Grande Manchester, havia um enorme interesse público no caso de Raymond Morris. Horas antes do julgamento começar, havia uma grande fila de pessoas que tentavam entrar na galeria pública do Tribunal de Justiça de Staffordshire Assizes.
"Foi um crime odioso de luxúria e vocês em breve terão que olhar algumas fotografias desagradáveis, mas vocês estão aqui para julgar serenamente, desapaixonadamente, o que agora pode provar que este homem acusado, Raymond Leslie Morris, seja o culpado", disse o juiz Ashworth em direção ao júri, no início do julgamento.
Muitos foram testemunhar contra Morris, isso incluía peritos e populares. O patologista do Ministério do Interior do Reino Unido na época, o Dr. Alan Usher, confirmou que Christine havia sido morta por asfixia. Joseph Wilson, gerente técnico da multinacional Pirelli na época, declarou que as marcas de pneu deixadas em Cannock Chase eram de um veículo similar ao que Morris conduzia. Muitos populares testemunharam ter visto um homem que correspondia à descrição de Morris na região de Cannock Chase, dirigindo um carro cinza, no dia em que Christine foi raptada. O promotor público do caso QC Brian Gibbens, chamou duas testemunhas, Victor Whitehouse e Jean Rawlings, que deram relatos detalhados de como Morris conduzia um Austin A55 cinza, em Cannock Chase. Maureen Freeman também foi uma das escolhidas para testemunhar no julgamento, e descreveu Morris como tendo um olhar "frio e calculista."
No julgamento, Carol, segunda esposa de Morris, foi uma das testemunhas de acusação. Ela disse que o marido não tinha voltado para casa até as 16h30, explicando que ela tinha anteriormente fornecido um álibi, porque Morris tinha agido normalmente naquele dia, e parecia impossível para ela, que ele fosse o responsável por algo tão terrível.
Do público que estava assistindo ao julgamento, veio um grito de pavor que dizia: "É ele! Esse é o homem que fez isso comigo!". O grito era de Julia Taylor, agora uma adolescente, que tinha sido raptada e abusada, em 1964. A única vítima que havia sobrevivido para contar sua história. Ela foi retirada do tribunal, mas nenhum dos presentes conseguiu esquecer as suas palavras. Raymond Morris continuou a manter sua inocência, mas a pressão sobre ele estava aumentando. Ele chegou a ter um colapso emocional no banco dos réus, após Ian Forbes, detetive da Scotland Yard ter dito a seguinte frase: "Você está por conta própria agora, filho. Sua esposa o abandonou."
Seu advogado de defesa, QC Kenneth Mynett, disse ao júri que seu cliente estava "muito chateado consigo mesmo" em relação as fotografias que ele havia tirado, e que se eles acreditavam que seu álibi estava correto: ele não poderia ser o homem que foi visto em Cannock Chase. No entanto, não havia muita escapatória. Em 18 de fevereiro 1969, após 7 dias de julgamento, o júri chegou por unanimidade a um veredito, que considerava Raymond Morris culpado pelo rapto e morte de Christine Ann Darby. Mais de 300 pessoas aguardavam do lado de fora do tribunal pela sentença. Morris foi condenado à prisão perpétua, sendo que precisaria ser mantido preso, no mínimo por 30 anos, antes de tentar qualquer tipo de recurso de revisão de pena, devido a natureza de seus crimes.
"Deve haver muitas mães cujos corações vão bater mais calmamente, devido a este veredito", disse o juiz Ashworth, enquanto Morris não esboçava nenhuma expressão de emoção. O juiz ainda elogiou tanto o público quanto a imprensa por ajudarem a trazer Morris à Justiça. Mesmo que Morris também fosse amplamente considerado culpado pelas mortes de Diane e Margaret, em 1965, assim como pelo abuso de Julia Taylor, nunca houve provas suficientes para acusá-lo em relação a esses casos.
Décadas mais tarde, Morris foi descrito como "frio, cruel, e simplesmente perverso" por um ex-chefe de polícia que estava no comando da investigação. O ex-detetive e superintendente, Pat Molloy, um dos três principais oficiais que investigavam o caso, disse que não tinha dúvidas que Morris havia matado Christine Ann Darby. "Estou muito satisfeito que ele tenha sido considerado culpado e que ele seja o responsável", disse Pat Molloy, em uma entrevista para a rádio BBC, em agosto de 2001, e que escreveu um livro sobre as mortes em Cannock Chase, publicado na década de 1990.
"Se por um lado, as mortes e os raptos de meninas em Cannock Chase foram acontecendo ao longo de quatro anos e envolveu uma operação tão grande, por outro, isso parou de acontecer após a sua prisão. Não houve nenhum outro caso depois daquilo. Eu o descreveria como frio, cruel, lascivo e simplesmente perverso", completou Pat Molloy.
Em novembro de 2010, quando foi concedida uma revisão judicial a Raymond Morris, a família de Diane Tift falou sobre a raiva que eles ficaram após saberem da notícia. Seu irmão Terrence foi o último a vê-la com vida, e disse que a família nunca se recuperou emocionalmente falando. Diga-se de passagem, Terrence Tift tinha apenas 9 anos na época. Ele disse que os sentimentos ainda estavam muito presentes sobre o que tinha acontecido com a sua irmã.
"Eu fiquei com o coração partido com o que aconteceu, porque nunca mais pude ver a minha irmã novamente. Raymond Morris deveria morrer na prisão e ser deixado lá para apodrecer", disse Terrence, na época.
"Vida deve significar vida. Nós ainda sentimos falta da Diane, mesmo após mais de 40 anos. Perdemos a chance de vê-la crescer e formar a sua própria família", completou.
Amy Jo-Cutts, advogada de Raymond Morris naquela época, disse que seu cliente estava vivendo uma vida "tranquila e simples" na prisão, uma vez que os outros presos desconheciam sua notoriedade. De qualquer forma o tempo na prisão havia gerado efeitos sobre o corpo dele.
"Ele está fisicamente bem, mas os anos atrás da grades fizeram grandes mudanças em seu corpo. Tem sido uma batalha para Ray, que sempre afirmou sua inocência. Ele é, em grande parte, um anônimo na prisão, porque ele não tem notoriedade entre a geração mais jovem dos detidos. Ele vive uma vida tranquila e simples na prisão, e não quer notoriedade e nem mesmo um grande estigma", disse Amy Jo-Cutts, que havia trabalhado desde 1993 na solicitação de revisão da pena de Raymond Morris, porém naquele mesmo ano a solicitação foi derrubada pela Justiça.
De acordo com o relatório da época, Raymond sofria de leucemia mieloide crônica e também tinha insuficiência renal e fazia diálise, quando necessário. Morris já havia assinado um documento pedindo para a equipe médica não o reanimasse em caso de insuficiência cardíaca ou respiratória.
"Mais tarde, a respiração do homem era superficial e seu pulso estava fraco. Seus olhos estavam fechados e ele balançava a cabeça quando perguntado se estava com dor. As 16h45, não respondia mais, mas não parecia estar com dor ou agitado. As 19h15, ele ficou agitado e foi-lhe dado um sedativo. Ele morreu de forma tranquila as 19h40, do dia 11 de março de 2014", disse Nigel Newcomen, responsável por fiscalizar os procedimentos adotados no HMP Preston, em Wymott, Lancashire, onde Raymond ficou preso desde 1969. Esse acabou sendo o fim de um dos mais notórios "monstros" do Reino Unido durante o século XX, mas algo perturbador ainda aconteceria no século XXI, e que amedrontaria ou revoltaria alguns cidadãos britânicos.
A suposta origem da lenda urbana das famosas "crianças de olhos negros" remete ao ano de 1998, devido a postagens feitas por um repórter chamado Brian Bethel, em uma "lista de discussão" (BBS/Usenet para os mais antigos), cujo tema estava relacionado a "fantasmas". Foi esse mesmo homem, o Brian Bethel que havia relatado seus supostos encontros com "crianças de olhos negros" na cidade de Abilene, no estado norte-americano do Texas, e na cidade de Portland, no estado norte-americano do Oregon. Portanto, a lenda urbana viria, a princípio, dos Estados Unidos.
Aparentemente, desde a década de 1960, não havia nenhum relato sobre espíritos ou fantasmas de crianças, que estivessem relacionados de alguma forma a Cannock Chase. Não tinha até que um tabloide britânico chamado "Daily Star" (que particularmente considero o pior tabloide do Reino Unido) publicou na capa de seu jornal, praticamente o mesmo conteúdo, sobre um suposto avistamento de crianças de olhos negros, três vezes na mesma semana, no período compreendido entre o final de setembro e começo de outubro do ano de 2014.
Inicialmente a primeira notícia dizia a respeito de garotinha de olhos negros, que teria sido avistada em um bar (um "pub") chamado "Four Crosses Inn", localizado na região de Staffordshire, na Inglaterra, que estava sendo vendido por um preço muito abaixo do praticado no mercado na época, algo por volta de £ 325,000. O valor "abaixo do mercado" era justamente devido ao fato do local ser supostamente assombrado por essa garotinha, além de diversos outros fantasmas (muito embora, atualmente os imóveis sejam valorizados por lá, quando há uma suposta assombração).
Aparentemente o assunto rendeu e muito para o tabloide "Daily Star", que encontrou e apresentou um suposto "investigador paranormal e autor de um livro sobre o mundo sobrenatural", chamado Lee Brickley, que tinha 28 anos na época, como sendo uma "pessoa que havia feito uma investigação aprofundada" sobre um suposto mistério, que ele chamou de "A Criança de Olhos Negros de Cannock Chase". O detalhe é que ninguém o conhecia, e sua reputação até mesmo como escritor era totalmente questionável devido aos outros assuntos abordados tais como OVNIs, Orbes, Lobisomens e um tal de "Homem-Porco". Aparentemente, Lee viu nesse caso uma oportunidade de negócios.
Naquela mesma época, outro tabloide britânico chamado "Birmingham Mail" também comprou essa ideia. Assim sendo, segundo ambos os tabloides, mesmo sem qualquer ponto que fosse credível ou passível de ser verificado, a menina de olhos negros, que nunca existiu até aquela presente data, teria sido vista pela última vez na região há cerca de 30 anos. As recentes descrições sobre a menina seriam exatamente as mesmas da década de 1980. Estranho, mas vamos seguir em frente.
"No verão de 1982, minha tia tinha 18 anos. Ela e suas amigas se reuniam muitas vezes em Cannock Chase no final da tarde e no começo da noite, provavelmente da mesma forma que muitos adolescentes fazem hoje em dia. Certa vez, pouco antes do anoitecer, ela ouviu uma menina freneticamente gritando por ajuda. Ela ficou nervosa e desesperada para localizar de onde vinha aquele grito. Ela acabou se deparando com uma trilha de terra e avistou a garota, que deveria ter por volta de seis anos, correndo na direção oposta. Quando minha tia conseguiu alcançá-la, a garota se virou, e a olhou nos olhos. Em seguida, ela correu em direção a floresta escura. Seus olhos eram completamente negros, sem nenhum vestígio da parte branca. Foi feita uma busca pela polícia, mas sem sucesso. Na época, ninguém tinha qualquer razão para acreditar, que alguma coisa paranormal estivesse acontecendo. A menina certamente parecia ser de carne e osso", escreveu Lee Brickley, admitindo que havia outros relatos de avistamento dessas crianças em diversos países ao redor do mundo.
"Algumas pessoas acreditam que elas sejam extraterrestres, vampiros ou fantasmas. Entretanto, há uma grande diferença entre os avistamentos ao redor do mundo e as histórias que saem de Cannock Chase. Apenas em Cannock Chase, que os avistamentos acontecem durante o dia. Nos Estados Unidos muitos relatos sugerem, que as crianças de olhos negros muitas vezes aparecem em grupos, batendo na porta das vítimas desavisadas, com certa frequência, e pedindo silenciosamente se eles podem entrar em suas casas", completou Lee Brickley.
Entretanto, Lee não apresentou nomes, muito menos mostrou quaisquer provas, que havia sido realizada uma busca policial devido ao relato de quaisquer moradores, nesse sentido, ainda mais em 1982. Ele simplesmente havia escrito sua história em um mero blog, assim como Brian Bethel, no passado, havia feito. Resumindo, ele criou a base da lenda urbana sobre uma suposta criança de olhos negros em Cannock Chase.
O maior problema, no entanto, não foi o Lee, mas o imenso sensacionalismo do "Daily Star". Em uma das publicações, o "Daily Star" alegou que a menina dos olhos negros havia sido avistada pela segunda vez naquela semana, em outubro de 2014. Para contar como isso teria acontecido, eles usaram uma postagem do próprio Lee Brickley, que datava de 17 de julho de 2013, ou seja, mais de 1 ano antes. O texto utilizado pelo "Daily Star" foi extremamente cortado e aparentemente isso foi feito com o objetivo de vender mais jornais, uma vez que o assunto estava em alta.
Confira o que realmente foi escrito por Lee Brickley em seu blog, no dia 17 de julho de 2013, que seria o relato de uma pessoa, que se identificou no email como Srta. Kelly, e que foi enviado no dia anterior (vale a pena ressaltar que não se saber se a tal Srta. Kelly realmente existiu ou se Lee a inventou para acrescentar mais um relato nesse sentido):
Uma mulher chamada Hayley Stevens, que se considera uma investigadora paranormal cética, e que já escreveu mais de 400 artigos em seu site chamado "Hayley is a Ghost Geek", foi uma das primeiras a perceber a mentira que estava sendo publicada pelo Daily Star. Ela inclusive considerou o livro lançado por Lee Brickley (o único livro dele) como uma "leitura amargurada e decepcionante". Hayley disse que, inicialmente, considerou a leitura interessante, mas aos poucos percebeu a "natureza tendenciosa e um tanto quanto irracional de seu livro", que foi enviado pelo próprio Lee, ao pedir para que ela lesse e comentasse sobre o mesmo.
Hayley ainda criticou Lee Brickley por simplesmente divulgar o conteúdo de um email de uma pessoa, que ele nem ao menos sabe quem é, e passível de dezenas de interpretações, uma vez muitos pessoas têm suas próprias interpretações para o que veem ou sentem. Para Hayley e muito dos seus leitores, o que o "Daily Star" fez foi algo ultrajante e uma falta de respeito com as famílias das meninas mortas por Raymond Morris.
Não obstante, no início de abril de 2015, somente alguns meses depois da notícia sobre uma menina de olhos negros ter viralizado por todo o Reino Unido, acabou surgindo um vídeo onde um usuário do Youtube chamado "Furious Otter", que estava com seu drone na região de Cannock Chase, e que teria supostamente flagrado uma menina vestida de branco, com longo cabelos negros e olhos negros durante o dia. Coincidência? Como era de se esperar a notícia novamente teve uma grande uma repercussão na Inglaterra.
Assista ao vídeo original logo abaixo, em um canal de terceiros, no YouTube:
Em outubro de 2015, a suposta criança dos olhos negros teria sido registrada novamente por um grupo paranormal, que teria colocado diversas câmeras na densa floresta de Cannock Chase. Eles teriam gravado por cerca de 6 horas, quando se depararam com um "estranho vulto" captado ao fundo. "Se parece com uma criança vestida de branco, você pode ver as pernas em movimento enquanto anda. Nem sabia que eu tinha capturado um fantasma até que fui ver a gravação e pensei: Mas que diabos é isso?", disse Tom Buckmaster, responsável pelo grupo "Haunted Finders TV", para o tabloide Daily Mirror. Novamente, um tabloide envolvido.
Tom ainda disse que o exato momento em que o fantasma é registrado por uma de suas câmeras, ocorreu por volta das 19h do dia 10 de outubro. Outra coincidência em relação a data? Muito provavelmente, não.
De qualquer forma, assista ao vídeo original, em um canal de terceiros, no YouTube:
Enfim, ao escrever sobre o caso de Cannock Chase é inevitável não se comover com as histórias de crianças, que tiveram suas vidas interrompidas por um monstro. É ainda mais assustador ver que uma história real passou a servir de fachada para relatos aleatórios, esporádicos e explorados de forma praticamente brutal por uma mídia sensacionalista. Se alguém, algum dia, realmente vir uma criança de olhos negros, posso até acreditar nessa pessoa se souber quem é ela, suas crenças, seus relacionamentos e uma série de outros detalhes que a tornem uma testemunha confiável. Uma coisa é você contar o que você acredita que viu ou sua experiência pessoal para alguém, porém algo totalmente diferente é espalhar isso como se fosse algo verdadeiro, e que todas as testemunhas sejam plenamente confiáveis. De qualquer forma, as "crianças de olhos negros"é somente uma lenda urbana (quem sabe um dia eu escreva mais detalhadamente sobre isso).
Agora, uma criança de olhos negros, especificamente uma menina que vaga por uma floresta em Cannock Chase, vítima de Raymond Morris, é algo bem complicado de se acreditar, até porque independentemente da história que seja contada, ninguém nunca comentou sobre isso até se popularizar através de um tabloide de cunho sensacionalista e de um escritor que não tem nenhuma base credível para afirmar isso, apenas de relatos enviados para ele. Você não pode afirmar a existência de algo, vendendo isso como um produto, baseado apenas em experiências subjetivas de terceiros. Imaginem realizar um estudo sobre um determinado assunto, baseando-se apenas por achismos ou sensações particulares? Você tomaria um remédio, cuja análise foi baseada no que a pessoa que o fabricou sentiu, sem qualquer análise técnica, laboratorial, e uma investigação mais aprofundada do remédio? Você confiaria apenas no que a pessoa disse, da boca para fora?
Bem, termino essa matéria especial com a certeza que essa história continuará se propagando de forma sensacionalista, e a lenda urbana continuará sendo reescrita por todos os cantos do mundo. A única certeza é que a dor das famílias daquelas crianças jamais será apagada, e nem a vida de seus entes queridos poderá ser reescrita. Por outro lado, esperamos que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais de cada um dos casos que contamos para vocês, e espero que tenham assimilado a dose de realidade por trás de cada um deles.
Até a próxima, AssombradOs.
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
Livro "Staffordshire Murders" de Alan Hayhurst
Livro "Legendary Locals of Elizabeth City" escrito por Marjorie Ann Berry
http://mentalfloss.com/article/30608/elva-zona-heaster-ghost-who-helped-solve-her-own-murder
http://www.prairieghosts.com/shue.html
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http://www.ovcs.org/Downloads/Grace_Brown_story.pdf
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http://ghosts.wikia.com/wiki/Big_Moose_Lake
http://cortland.org/community/history/Cortland-Historic-Resources%20-Survey.pdf
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http://murderpedia.org/male.M/m/morris-raymond-leslie.htm
http://www.crimeandinvestigation.co.uk/crime-files/cannock-chase-murders/trial
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2789355/notorious-child-killer-died-jail-remained-chains-treatment-crippling-leukaemia.html
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http://www.expressandstar.com/news/2014/03/13/life-meant-life-for-wicked-killer-raymond-morris/
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http://www.dailystar.co.uk/news/latest-news/402755/Black-Eyed-Child-Ghost-spotted-second-time-UK-30-years-locals-leave-town
http://www.dailyedge.ie/black-eyed-ghost-children-1703721-Oct2014/
http://paranormalcannock.blogspot.co.uk/2013/07/return-of-black-eyed-children.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Black-eyed_children
http://www.dailystar.co.uk/news/latest-news/402755/Black-Eyed-Child-Ghost-spotted-second-time-UK-30-years-locals-leave-town
http://www.mirror.co.uk/news/weird-news/terrifying-moment-black-eyed-ghost-6637483
http://io9.com/5-gruesome-real-life-murders-that-inspired-spooky-ghost-1735995578
Escrevi essa postagem há quase dois anos, e desde então pude ver, modéstia às favas, o quanto evoluí em termos de qualidade de conteúdo gerado e proporcionado para vocês. Lembro que o primeiro contato, que tive com o Canal AssombradO, foi uma mera sugestão de vídeo, enquanto navegava pela minha falecida TV de plasma, que foi o melhor equipamento que tive, enquanto durou, é claro, e acabou se tornando o pior possível, quando a situação ganhou outros caminhos que, felizmente, acabaram de uma forma muito positiva para mim. Pouco depois passei a integrar a SSA e, em pouco tempo, comecei a escrever para o blog, ocupando uma posição de um mero redator, algo que continuo sendo e me orgulho até hoje. Poucas vezes vocês ouviram falar sobre mim, e poucas vezes fiz questão de aparecer para vocês. Aliás, quem tem que brilhar não é aquele que escreve, mas o texto, as palavras, a pesquisa, é o material que passo noites em claro, que deve prevalecer sobre meu ego e meu sorriso de canto, a cada elogio que recebo e leio. Ainda que cada comentário pareça ter sido escrito para um imenso vazio, acredite, eu leio. Amanhã, completo dois anos escrevendo para vocês.
Talvez o número dois não signifique muita coisa numericamente, mas foram 730 dias em que respirei, pesquisei, me emocionei, sorri, me decepcionei, fiquei com raiva e acima de tudo, amei escrever. Não considero isso um talento, e nem me acho privilegiado por isso. Não escrevo por dinheiro, visto que escrevi por muito tempo e elaborei especiais, assim como esse, muito antes de imaginar que permaneceria por tanto tempo, e que fosse de alguma forma recompensado financeiramente por isso. Posso ser, de certa forma, até mesmo ingênuo nesse aspecto, mas nunca poderei ser chamado de mercenário. Até hoje considero o que faço como uma espécie de hobby, uma conversa particular e sigilosa, entre mim e ti, entre eu e você. Provavelmente, você encontrará alguns erros gramaticais em meus textos, o que de certa forma prova diversas coisas: sou humano, que não tive o cuidado de ao menos clicar no botão de correção ortográfica do Blogger, que não deveria usar a palavra "coisa", e que pensei que minhas revisões fossem boas, mas pelo visto me enganei redondamente. Ao menos tenho a vantagem de nunca ter contado vantagem, se é que isso serve para alguma coisa, por mais que eu tenha, involuntariamente, transparecido isso. Pode até parecer mentira, mas para quem sempre buscou a verdade, o que eu ganharia mentindo justamente agora?
Para celebrar esse momento, talvez de conquista, talvez de superação, talvez de comemoração ou talvez de encerramento de um ciclo, é que eu abro essa matéria especial. Uma matéria que mostra como cinco histórias reais inspiraram casos estranhos e assustadores de fantasmas, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Afinal de contas, quase toda cidade tem uma história para ser contada sobre fantasmas. Contudo, é bem raro quando uma história sobre fantasmas pode ser investigada mais a fundo, e conseguimos descobrir um caso verdadeiro como plano de fundo e, ainda por cima, sendo amplamente documentado. Assim sendo, os casos acabam gerando um pouco mais de apreensão, e com certeza algum tipo de sentimento de compaixão pelas vítimas, visto que todos esses casos que vamos contar envolvem mortes. Algumas vítimas, por assim dizer, tiveram relacionamentos bem conturbados. Porém, tantas outras foram vítimas de violência doméstica ou até mesmo infantil. Vamos saber mais sobre esse assunto?
O "Fantasma de Greenbrier": A Morte de Elva Zona Heaster Shue, em 1897 (#5)
A história do "Fantasma de Greenbrier" pode ser simplesmente uma das histórias mais originais, que se tem notícia até os dias atuais. Essa estranha história, que aconteceu na zona rural do estado norte-americano da Virgínia Ocidental, não é apenas uma parte da história do chamado "sobrenatural", mas da história do Poder Judiciário dos Estados Unidos. Esse é um dos raros casos em que a palavra de um suposto "fantasma" ajudou a resolver um crime e, ainda por cima, condenar uma pessoa.
Elva Zona Heaster nasceu no condado de Greenbrier, na Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, por volta de 1873. Pouco se sabe sobre os primeiros anos de sua vida, na pequena comunidade de Richards (atual Richland, localizada a cerca de 10 km ao norte de Lewisburg, sede do referido condado), assim como sobre sua adolescência, exceto pelo fato de ter engravidado e dado a luz a um filho ilegítimo, ou seja, concebido fora de um casamento formal, ao menos para os padrões da época, em 1895, quando tinha apenas 22 anos. Cerca de um ano depois, em outubro de 1896, ela conheceu um homem chamado Erasmus, mais conhecido como Edward Stribbling Trout Shue, que para simplificar iremos chamar apenas de "Shue", combinado?
Imagem mostrando o mapa do condado de Greenbrier, no estado norte-americano da Virgínia Ocidental, em 1887 |
Foto recente do Tribunal de Justiça do condado de Greenbrier, na cidade de Lewisburg, na Virgínia Ocidental |
Todas as vias públicas não eram asfaltadas naquela época e, uma vez que o condado estava localizado bem próximo das colinas, era o lugar perfeito para encontrar muitos cavalos e também rebanhos de outros animais. Seja qual fosse a pessoa que estivesse disposta a trabalhar como ferreiro, iria encontrar muito trabalho no condado de Greenbrier. Foi exatamente isso que Shue fez.
Antigo Mapa da Ferrovia Midland, sendo possível ver que ela cortava a cidade de Lewisburg, sede do condado de Greenbrier |
Elva Zona Heaster Shue é Encontrada Morta em Sua Casa
Elva e Shue viveram como marido e mulher, sendo um casal absolutamente normal, nos meses seguintes. Tudo mudou em 23 de janeiro de 1897, uma sexta-feira, quando o corpo de Elva foi descoberto dentro de sua casa por um jovem chamado Andy Jones, que tinha sido mandado por Shue, que por sua vez estava na loja onde trabalhava como ferreiro, para ir correndo até a sua casa, e ver se Elva "precisava de alguma coisa." O menino encontrou Elva no chão, na parte inferior da escada. Ela estava deitada, com os pés unidos, e uma mão em seu abdômen, sendo que a outra estava próxima do seu corpo. Além disso, ela estava com a cabeça ligeiramente inclinada para um lado, e seus olhos estavam abertos e estáticos.
Única foto que se tem conhecimento, que é atribuída ao casamento de Elva Zona Heaster (à esquerda) e Edward Stribbling Trout Shue (à direita) |
Ao contrário do costume local, ele mesmo vestiu o corpo de sua própria esposa. Normalmente, essa atitude era tomada por senhoras da comunidade, que lavavam e vestiam o corpo de modo a prepará-lo para o enterro. Entretanto, Shue por si mesmo decidiu vestir a esposa com sua melhor roupa. Um vestido de gola alta, um colarinho rígido, que cobria seu pescoço e um véu que foi colocado sobre seu rosto.
Foto da antiga casa onde Elva Zona Heaster Shue foi morta, em 23 de janeiro de 1897 |
O Dr. Knapp pensou em enviar alguém para notificar os pais de Elva, mas a notícia sobre sua morte rapidamente se espalhou pela comunidade. Ao final da tarde, dois jovens que eram amigos de Elva, voluntariamente se ofereceram para ir até uma região chamada "Meadow Bluff", e dizer a família Heaster o que tinha acontecido. A fazenda da família Heaster se localizava a cerca de 25 km da comunidade de Richards, em uma região próxima do moinho Livesay, e da cidade de Rainelle. A família morava em um lugar isolado, onde existiam poucas casas e fazendas, nos arredores das Montanhas Little Sewell.
O Velório e o Funeral de Elva Zona Heaster Shue
Quando a Sra. Mary Heaster, mãe de Elva, foi informada sobre a morte da filha, seu rosto se transformou em uma expressão de extrema amargura. "O diabo a matou", teria dito ela. No sábado, dia 24 de janeiro de 1897, o corpo de Elva foi levado até a casa de seus pais, em um caixão considerado inacabado, que foi fornecido pela empresa "Handley Undertaking Establishment."
Os vizinhos da família Heaster, incluindo o próprio Shue, participaram do velório, que durou todo o domingo seguinte (25). Aliás, Shue demonstrou uma extraordinária devoção, tanto na procissão que conduziu o corpo de Elva até a casa dos pais no dia anterior, quanto no velório em si, ficando sempre bem próximo do rosto de sua amada. Apesar de Elva ter sido enterrada somente na segunda-feira (26), isso acabou dando oportunidade para que vizinhos e amigos prestassem suas últimas homenagens, dando os pêsames aos familiares, e até mesmo levando um pouco de comida para a família Heaster, visto que não tiveram tempo e nem mesmo ambiente para cozinhar alguma coisa. Afinal de contas, a filha havia morrido, e nada a traria de volta.
Fotos de Elva Zona Heaster (à esquerda), e de sua mãe a Sra. Mary Heaster (à direita) |
Havia uma pessoa, é claro, que não precisava ser convencida, de que Shue estava agindo de forma suspeita em relação a morte de Elva. Essa pessoa era justamente a Sra. Mary Jane Heaster. Ela odiava Shue desde o início, e nunca quis que sua filha se casasse com um estranho. Ela se tornou uma opositora ainda maior em relação ao casamento, quando Elva revelou para ela, que Shue já tinha sido casado por cerca de duas vezes. A mãe sabia que havia alguma coisa de muito errado sobre isso, mas ao mesmo tempo parecia que não havia nenhuma maneira de provar isso.
Foto da Capela Soule, pertencente a Igreja Metodista Unida dos Estados Unidos, em Meadow Bluff uma comunidade não-incorporada do condado de Greenbrier |
Os restos mortais de Elva Zona Heaster se encontram no Cemitério da Capela Soule |
O túmulo de Elva Zona Heaster constantemente recebe a visita de turistas e curiosos, que além de tirar fotografias costumam deixar algumas flores diante da sua lápide |
Estranhamente, no entanto, o tecido teria ficado rosado e a cor avermelhada da água teria desaparecido. Sem entender muito o que estava acontecendo, a Sra. Mary Jane tentou ferver o pano, e o pendurou no varal por alguns dias. Para piorar a situação, a mancha não conseguia ser removida de jeito algum. Assim sendo, ela interpretou que as manchas misteriosas, supostamente de sangue, eram um sinal que Elva tinha sido morta. Portanto, a Sra. Mary Jane começou a rezar. O movimento espiritualista estava em alta naquela época, e a Sra. Mary Jane era uma dessas pessoas, que acreditavam piamente na existência de uma "vida após a morte."
O Espírito de Elva Zona Heaster Shue Teria Aparecido Para Sua Mãe
Todas as noites, durante cerca de quatro semanas, a Sra. Mary Jane orou fervorosamente para que sua filha viesse até ela e revelasse a verdade sobre como ela havia morrido. Segundo o que se conta até hoje, algumas semanas mais tarde, suas preces teriam sido atendidas. Durante quatro noites, o espírito de Elva teria aparecido ao lado da cama da mãe. Inicialmente, teria sido apenas uma luz brilhante, mas com o passar do tempo teria começado a tomar forma, e deixava o quarto completamente gelado.
Elva teria despertado sua mãe durante o sono e contado para ela, por diversas vezes, como o marido a teria matado. Shue era violento, cruel, e durante um acesso de raiva ele a teria atacado, porque não tinha nada pronto para o jantar. Ele teria quebrado, de forma selvagem, o pescoço de Elva. Para demonstrar isso, o "fantasma" ou "espírito" de Elva teria virado completamente a cabeça, até que sua face ficasse alinhada as suas costas. A Sra. Mary Jane tinha certeza do que visto, e que o espírito de sua filha tinha mostrado exatamente como havia morrido. Curiosamente, diante dessa situação, Shue teria matado a esposa apenas 3 meses após ter se casado com ela. Não contei isso anteriormente para manter o clima de suspense.
Embora fosse improvável, que Preston estivesse disposto a considerar qualquer outra versão para os fatos, ainda mais devido ao depoimento de um suposto "fantasma", o inquérito acabou sendo reaberto. Os jornais locais relataram, que a Sra. Mary Jane Heaster não era a única na comunidade, que estava desconfiada sobre a morte de Elva. Havia também "certos cidadãos", que tinham começado a fazer perguntas, bem como os crescentes "rumores" circulando pela comunidade.
Foi noticiado no jornal local, o "Greenbrier Independent", que Shue se queixou muito sobre o fato de sua esposa ser exumada, mas ficou claro que ele seria forçado a comparecer a exumação, caso não fosse por livre e espontânea vontade. Ao contestar o que estava acontecendo, ele respondeu que sabia que acabaria sendo preso, mas que eles não seriam capazes de provar que ele tinha feito aquilo. Essa declaração no mínimo descuidada de Shue, indicava que pelo menos ele tinha conhecimento que sua esposa tinha sido morta.
A Autópsia no Corpo de Elva Zona Heaster Shue
A autópsia durou cerca de 3 horas, e os médicos trabalharam sob a luz de lampiões de querosene. Curiosamente, o corpo de Elva estava em um estado bem próximo de uma "perfeita conservação", isso graças às baixas temperaturas do mês de fevereiro daquele ano, o que acabou tornando o trabalho dos médicos muito mais fácil, por assim dizer. Uma bancada, uma espécie de júri composto por cinco homens havia sido organizado, e eles dividiram o espaço apertado e abafado da escola juntamente com oficiais do condado, Shue e Andy Jones (o menino que foi o primeiro a encontrar o corpo de Elva), testemunhas e alguns outros espectadores.
A autópsia foi realizada seguindo os métodos tradicionais, ao menos para a época, o que significava que primeiramente tinha sido realizado um exame nos órgãos vitais. Posteriormente, os médicos fizeram uma incisão ao longo da parte posterior do crânio, de modo a permitir que o cérebro pudesse retirado. Entretanto, a retirada do cérebro não foi necessária, uma vez que os médicos rapidamente encontraram o que estavam procurando. "Descobrimos que o pescoço da sua esposa foi quebrado", disse um dos médicos para Shue. Ele abaixou a cabeça, e uma expressão de desespero tomou conta de seu rosto. "Eles não podem provar que eu fiz isso", sussurrou Shue.
Os resultados da autópsia foram bastante condenatórios para Shue. Em um relatório emitido no dia 9 de março daquele ano, e publicado no jornal "The Pocahontas Times", foi mencionado que: "O pescoço tinha sido quebrado, e a traqueia esmagada. Na garganta havia marcas de dedos, indicando que Elva tinha sido estrangulada. O pescoço tinha sido deslocado entre a primeira e a segunda vértebra, sendo que os ligamentos tinham sido rompidos."
Os resultados imediatamente se tornaram públicos, o que perturbou muitas pessoas na comunidade. Shue foi preso e acusado de homicídio. Inicialmente, ele ficou preso em uma pequena prisão, feita de pedra, na rua Washington, na cidade de Lewisburg. Apesar das provas contra Shue serem, na melhor das hipóteses, um tanto quanto circunstanciais (desconsiderando as eventuais comunicações espiritualistas), o mesmo foi indiciado formalmente por homicídio. Ele ainda tentou recorreu, uma vez que sempre constantemente alegava que era inocente.
Uma Parte do Passado de Edward Stribbling Trout Shue é Descoberta: O Julgamento e a Condenação a Prisão Perpétua
Enquanto aguardava julgamento, informações sobre o passado, um tanto quanto desagradáveis de Shue, começaram a surgir, levando muitos a acreditar que Sra. Mary Jane Heaster estava certa sobre ele o tempo todo. Elva tinha sido de fato sua terceira esposa. Seu primeiro casamento com uma mulher chamada Allie Estelline Cutlip, resultou em uma criança, mas terminou em divórcio, em 1889, enquanto Shue estava na prisão por roubo de cavalos. Allie alegou na sentença de divórcio, que seu marido batia nela com certa frequência. Em 1894, Shue se casou novamente, dessa vez com Lucy Ann Tritt. Estranhamente, Lucy morreu apenas oito meses depois, em circunstâncias que foram descritas como "misteriosas." Shue afirmou que Lucy tinha caído e batido a cabeça em uma pedra, mas poucos acreditaram nele. Sabiamente, ele fez as malas e sumiu. No outono de 1896, Shue mudou-se para Greenbrier. O restante, bem, acho que vocês já devem imaginar.
Reportagem de um jornal da época (não foi possível identificar o jornal e nem mesmo a data da notícia) comentando sobre o julgamento de Shue |
O julgamento de Shue começou no dia 22 de junho de 1897, e muitas pessoas da comunidade testemunharam contra ele. O destaque do julgamento, é claro, foi quando a Sra. Mary Jane Heaster apareceu. O promotor Preston a apresentou como mãe da mulher morta, e também como a primeira pessoa a notar as circunstâncias incomuns de sua morte. Preston queria ter certeza que a Sra. Mary Jane aparentava estar sã e confiável. Por essa mesma razão, ele se esquivou e ignorou a questão sobre o "fantasma de Elva", porque isso faria com que a Sra. Mary Jane aparentasse estar agindo de forma irracional, e também porque era uma prova inadmissível. A narradora da história, ou seja, a Elva, evidentemente não poderia ser interrogada pela defesa, uma vez que estava morta, e assim seu testemunho seria considerado simplesmente como "boato" nos termos da lei.
Infelizmente, para Shue, seu advogado pediu a Sra. Mary Jane para que falasse sobre seu "avistamento fantasmagórico." Parecia óbvio, que ele estava fazendo isso para tentar ridicularizá-la perante o júri. Ele caracterizou suas visões da Sra. Mary Jane, como "delírios de uma mãe", e se esforçou muito para que ela admitisse, que poderia ter se confundido sobre o que supostamente viu. Ele continuou a atormentá-la por algum tempo, mas a Sra. Mary Jane nunca recuou em relação ao que ela acreditava ter visto. Quando o advogado de defesa percebeu que o testemunho não estava indo na direção que ele queria, ele a dispensou.
Nessa altura dos acontecimentos, o estrago já tinha sido feito. Uma vez que a defesa, e não a acusação tinha introduzido o testemunho de um "fantasma" durante o julgamento, o juiz teve que pedir ao júri para que desconsiderasse aquilo. No entanto, era evidente que a maioria das pessoas da comunidade acreditava mesmo que a Sra. Mary Jane tinha visto o fantasma de sua filha. Apesar do testemunho eloquente de Shue, em sua própria defesa, o júri o considerou culpado. Curiosamente, dez dos jurados ainda votaram para que ele fosse enforcado, mas isso não foi suficiente para condená-lo a morte. Assim sendo, Shue foi condenado a prisão perpétua.
Por outro lado, a sentença não satisfez a todos no condado de Greenbrier. Em 11 de julho de 1897, um grupo de cidadãos entre 15 a 30 homens, se reuniram a cerca de 13 km da cidade de Lewisburg para formar um "pelotão de linchamento." Eles tinham comprado uma corda, e estavam fortemente armados. Assim sendo, todos começaram a caminhar em direção a prisão onde Shue se encontrava. Se não fosse por um homem chamado George M. Harrah, que contatou o Xerife, Shue certamente teria sido linchado até a morte. Harrah entrou em contato com ao xerife Dwyer, que por sua informou a situação a Shue que, ficou apavorado, que não conseguia nem mesmo amarrar os próprios sapatos. O xerife Dwyer levou Shue a um refúgio no meio da floresta, a cerca de 1,5 km da cidade e, em seguida, conseguiu dispersar a multidão, fazendo com que voltassem para suas casas.
Outra notícia de um jornal da época apontando que cidadãos estavam planejando e tinham a intenção de linchar Shue devido ao crime que ele tinha cometido |
Por outro lado, a Sra. Mary Jane Robinson Heaster viveu para contar sua história para todos aqueles, que quisessem ouvi-la. Ela morreu em setembro de 1916, sem nunca desmentir sua história sobre o fantasma de sua filha.
Desenho que Shue teria supostamente feito dele e de Elva durante o tempo que passou na prisão |
Foto mostrando a placa marcando o ponto aproximado onde Elva Zona Heaster Shue permanece enterrada |
De qualquer forma, vocês podem conferir a transcrição do que foi publicado pelos jornais locais, inclusive toda a parte do julgamento de Shue, ao clicar aqui. Bem, ainda faltam mais quatro casos, sendo que os próximos serão igualmente interessantes. Vamos continuar nossa "pequena" saga!
O "Fantasma de Elizabeth City": Os Detalhes da Morte de Ella Maude "Nell" Cropsey, em 1901 (#4)
Algo que se tornaria um dos mistérios mais antigos, e que persiste até hoje, em Elizabeth City, no estado norte-americano da Carolina do Norte, aconteceu no dia 20 de novembro de 1901. Naquela noite, uma linda menina de apenas 19 anos, chamada Ella Maude Cropsey, mais conhecida como "Nell Cropsey", simplesmente desapareceria do mapa.
Aliás, essa história também foi contada e de forma bem resumida pelo programa "Tar Heel Traveler", da WRAL-TV, uma emissora de TV sediada em Raleigh, na Carolina do Norte, em agosto de 2012. Vocês podem conferir a matéria realizada através de um vídeo publicado em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês, sendo que usaremos algumas imagens para ilustrar o caso):
Bem, Nell Cropsey nasceu em julho de 1882, no bairro do Brooklyn, em Nova York, e era filha de William Hardy (1853 - 1938) e Mary Louise Cropsey (1859 - 1930). Nell era a segunda filha de um total de nove filhos, e era bem apegada a sua irmã mais velha, a primogênita da família, que se chamava Olive, mais conhecida como Ollie.
Foi em Elizabeth City, que o destino de Nell Cropsey, 19 anos, logo cruzou com o de Jim Wilcox, 24 anos, que era engenheiro civil e filho de um ex-Xerife do condado de Pasquotank. Jim era homem franzino, tinha cerca de 1,57 m de altura, mas isso não impediu que o amor nascesse entre ambos, e logo estavam apaixonados. Inicialmente, o namoro era como qualquer outro, mas no início de 1901 as coisas começaram a desandar. Nell estava impaciente para se casar, e não acreditava que Jim tivesse qualquer intenção de se casar com ela.
O Desaparecimento de Nell Cropsey
Na noite de 20 de novembro de 1901, Jim resolveu fazer uma visita a Nell, mas ele não era estava sozinho durante a visita. O namorado de Ollie, que se chamava Roy Crawford também estava lá. Ollie, Nell, e um outro irmão, chamado William, ficaram conversando com Jim e Roy até por volta das 23h, quando Jim se levantou, porque precisava ir embora. Aliás, o namoro de três anos entre Nell e Jim parecia estar indo de mal a pior. Ela o havia ignorado durante toda a noite, e só ficava falando de sua próxima viagem ao Brooklyn para visitar parentes no dia de Ação de Graças.
Na noite de 20 de novembro de 1901, Jim resolveu fazer uma visita a Nell (na foto), mas ele não era estava sozinho durante a visita |
Foto antiga mostrando a casa da família Cropsey |
Pouco depois de sua irmã ter saído com Jim, Ollie teria ouvido algo semelhante a um "estrondo" na parte de trás da casa. Uma vez que seu namorado também já estava de saída, ela lhe pediu para procurar por Nell. Ele fez isso e voltou para dizer, que ela não estava na varanda. Ollie subiu as escadas de casa, até o quarto em que ela e sua irmã dividiam, e Nell também não estava lá. Curiosamente, Ollie não levantou suspeitas, talvez por ter pensado que Nell voltaria logo ou pensou que seu pai estivesse irritado com Nell ou com ela mesma por ter deixado a irmã sair com Jim. Ollie simplesmente foi dormir.
O Corpo de Nell Cropsey é Encontrado
Na manhã seguinte, a cidade inteira começou a procurar por Nell. A especulação inicial, de que Nell teria fugido com Jim, tinha sido meio que descartada, uma vez que todos os pertences de Nell estavam na casa, e ela não tinha motivos para fugir. Isso foi confirmado após a polícia ter encontrado Jim na casa de seus pais. Ele disse para a polícia que o relacionamento deles havia terminado, e ele devolvido para Nell, a foto dela juntamente com o guarda-chuva, que ela havia lhe dado.
Ele insistentemente alegava que a deixou chorando na varanda de casa por volta de 23h15. Então para afogar as mágoas, ele resolveu tomar uma cerveja com um amigo antes de ir para a casa de seus pais, onde ele teria dormido por volta da meia-noite. De qualquer forma, naquela altura dos acontecimentos, Jim Wilcox já estava sendo apontando como o principal responsável pelo desaparecimento de Nell Cropsey.
Notícia publicada no jornal "The Pittsburgh Press" em 30 de novembro de 1901, revelando a esperança dos familiares de encontrar Nell Cropsey viva |
Após 37 dias de buscas, no dia 27 de dezembro de 1901, um pescador chamado J.D. Stillman, encontrou algo boiando no rio local, que possui o mesmo nome do condado, Pasquotank. Quando ele foi olhar mais de perto, logo notou que se tratava do corpo de Nell Cropsey.
A situação de Jim Wilcox começou a piorar quando uma garrafa de whisky foi encontrada às margens do rio Pasquotank, ainda nas terras que pertenciam a família Cropsey. Isso porque um funcionário de um estabelecimento local alegou, que tinha vendido aquela mesma garrafa de bebida para Jim. Para alguns essa foi a confirmação do que eles já vinham suspeitando. Algumas outras pessoas, no entanto, levantaram algumas questões bem pertinentes. Se todo mundo tinha vasculhado o rio Pasquotank diversas vezes, como que o corpo de Nell não apareceu antes? Ela tinha sido realmente morta na época que sumiu?
Com o tempo foram surgindo algumas supostas testemunhas. Um morador local chamado Charles T. Parker afirmou ter visto Jim e Nell por volta de 23h30 nas proximidades do rio Pasquotank. Já um outro morador chamado Boatman Leonard Owens, jurou ter visto Jim Wilcox por volta da meia noite, com a roupa molhada, indo em direção a casa de seus pais. Surpreendentemente, algum tempo depois, o pai de Nell dispersou uma multidão de linchadores, que tinha se reunido com a intenção de matar Jim Wilcox. Ele pediu a multidão para que deixasse a Justiça lidar com o caso. A multidão então decidiu acatar o pedido do pai de Nell, que se mostrava extremamente desolado.
Notícia publicada pelo jornal "The New York Times", em janeiro de 1902, comentando sobre o funeral de Nell Cropsey |
O mais estranho de tudo isso, no entanto, foi o que aconteceu alguns anos após a morte de Nell Cropsey. O espírito dela parecia atormentar a todos que estavam presentes em sua casa, na noite de sua morte, talvez em busca de uma vingança de uma morte que, talvez, nunca tivesse sido realmente solucionada. E acredite, a sequência de acontecimentos vai surpreender você.
As Estranhas Mortes das Pessoas Que Estavam na Companhia de Nell Cropsey Em Sua Última Noite
William Cropsey, o irmão de Nell, que estava com ela na noite do seu desaparecimento, tirou a própria vida, em 1908, ao ingerir grandes quantidades de ácido carbólico (também conhecido como ácido fênico, comumente utilizado na época como um antisséptico para limpar feridas, tratar as inflamações da boca, garganta e ouvidos) na frente de sua esposa e filho. Rumores diziam que Wilcox seria colocado em liberdade condicional, e alegaram que irmão de Nell tinha se matado como forma de protesto, porém Jim Wilcox não tinha sido colocado em liberdade naquela época. Já Roy Crowford, namorado de Ollie, tirou a própria vida em 1911, usando uma arma. Rumores na época apontavam que Roy teria ajudado Jim a se livrar do corpo de Nell, algo que nunca ficou comprovado.
Notícia publicada pelo "Herald Journal" em 5 de dezembro de 1934, sobre a morte de Jim Wilcox |
A liberdade de Jim só foi concedida em 1918, após o perdão concedido por um outro governador da Carolina do Norte, Thomas Walter Bickett, no dia 24 de dezembro, véspera do Natal daquele ano. Jim Wilcox passou cerca de 16 anos na prisão, e acabou voltando para Elizabeth City, aparentemente planejando retomar a sua vida interrompida. Ignorado pela absoluta maioria da população, sendo ainda amplamente odiado na cidade, Jim Wilcox sempre alegou inocência e permaneceu até o fim dos seus dias na cidade.
Entretanto, antes de sua morte, que ocorreu em 5 de dezembro de 1934, Jim Wilcox teria entrado em contato com o editor do jornal "Independent", o Sr. William Oscar Saunders (mais conhecido como W.O. Saunders) para contar tudo o que teria acontecido na noite do desaparecimento de Nell. Alguns contam que Jim, por alguma razão desconhecida, teria pedido para que W.O. Saunders não contasse a ninguém sobre o que havia revelado, porém há quem diga, que esse encontro nunca aconteceu, apesar da vontade de Jim. Já outras pessoas acreditavam que Jim Wilcox teria realmente se encontrado com W.O. Saunders, e revelado a verdade sobre quem matou Nell, algo que acabaria sendo divulgado pelos jornais locais.
Entretanto, duas semanas após esse encontro, Jim Wilcox tirou sua própria vida usando uma arma. Para muitas pessoas, aquilo tinha sido um indício de culpa pela morte de Nell Cropsey. Já outras acreditavam que tivesse sido meramente um ato de desespero, visto que até o último instante Jim alegava inocência. Aparentemente, no entanto, para algumas pessoas o espírito de Nell Cropsey não descansou após a morte de Jim Wilcox, uma vez que, em 1940, W.O. Saunders, o único homem que supostamente sabia o que realmente teria acontecido na noite de 20 de novembro de 1901, morreu afogado, após ter perdido a direção do carro, devido a um mal súbito, que fez com que seu veículo caísse no pântano Dismal. Estranho, não é mesmo? Será que alguém matou todos os envolvidos nessa história?
Depois de algum tempo, não se sabe precisamente quanto tempo, veio à tona uma informação perturbadora. Aparentemente, o gasto com gelo do Sr. William Cropsey, naquele frio mês de dezembro de 1901, foi três vezes maior do que o habitual. Será que o pai de Nell armazenou o corpo da própria filha, no gelo, em algum lugar? Aliás, o corpo de Nell, quando foi retirado do rio, se encontrava em ótimo estado de conservação. Será que um corpo estando na água, ao longo de 37 dias, não estaria em um avançado estado de decomposição? Infelizmente, no entanto, essas e tantas outras perguntas permanecerão enterradas no solo de Elizabeth City por muito tempo, visto que não sobrou praticamente ninguém para contar o que realmente aconteceu na noite de 20 de novembro de 1901.
James "Jim" Wilcox Realmente Foi o Culpado Pela Morte de Nell Cropsey?
Em setembro de 2015, o site do jornal local chamado "The Daily Advance" publicou que 80 anos após sua morte, um funeral havia sido realizado para James. E. Wilcox (mais conhecido como Jim Wilcox), um homem que alguns disseram que teria sido injustamente acusado, em 1901, por uma morte que repercutiu pelos Estados Unidos. O escritor William Dunstan, da cidade de Chapel Hill, que organizou o funeral disse que seu avô tinha provas que podiam ter impedido que Wilcox acabasse indo parar na prisão pela morte de Nell Cropsey. Outras pessoas que participaram da cerimônia, realizada no Cemitério Old Hollywood, também acreditavam, que Wilcox tinha sido preso por um crime que ele não cometeu.
"Acredito que ele estava acobertando alguém, que a família deixou ele assumir a culpa sozinho", disse Debbie Oveton, uma das dezenas de pessoas que compareceram ao local, onde foi colocada uma nova lápide para Wilcox. Curiosamente, desde o seu enterro, em 1934, não havia nenhum placa ou lápide indicando o local de sua morte.
Aliás, William Dunstan apontava para o próprio cemitério como prova de sua teoria. O espaço pertencente a família Cropsey está vazio, exceto pelo pai, que está enterrado sozinho no local. Dunstan questionou o motivo pelo qual o restante da família foi enterrado no Cemitério Highland Park, na Estrada Peartree. Já outros questionavam a culpa de Wilcox.
Curiosamente, desde o seu enterro, em 1934, não havia nenhum placa ou lápide indicando o local de sua morte |
Aliás, Eugene teria impedido uma tentativa anterior de Wilcox nesse sentido. Na tentativa anterior, Wilcox tinha arrumado uma corda para puxar o gatilho de uma espingarda, quando a corda acabou enroscando em um carro, porém Eugene teria visto a corda correndo pelo lado de fora da janela e a cortou.
Lloyd Betts segurando uma bengala de madeira com várias imagens entalhadas, além do ano de 1912, que foi esculpida por James Wilcox enquanto ele estava preso pela morte de Nellie Cropsey. |
"Ele estava acobertando alguém, devia saber de alguma coisa", disse Pat McMahon. "É um mistério que nunca será resolvido nesta vida", acrescentou seu marido, John McMahon.
As Sombras do Passado Supostamente Deixadas por Nell Cropsey
Durante o último século, aqueles que moraram na casa da família Cropsey relataram acontecimentos estranhos, algo que acontece até os dias de hoje, mesmo após 116 anos: luzes que acendem e apagam sozinhas, portas que abrem e fecham sozinhas, ruídos, som de passos nas escadas, e rajadas de um vento úmido e frio, que circula pelos corredores.
Além disso, um vulto pálido de uma jovem mulher também é visto andando pela casa. Muitas pessoas que passam na rua já relataram ter visto a figura fantasmagórica de uma menina, que fica olhando em direção a rua por uma janela do andar de cima. Os moradores dizem, inclusive, que Nell Cropsey já aparecido em seus quartos durante a noite.
Foto mostrando a visão atual do rio Pasquotank a partir da antiga casa da família Cropsey |
Enfim, será que a verdade em torno da morte de Nell Cropsey nunca será conhecida? De uma forma ou de outra, esse mistério se tornou parte da história de Elizabeth City. Para quem quiser conhecer a casa da família Cropsey, um dia, o endereço é: 1109 Riverside Ave, Elizabeth City, NC 27909.
Ao longo do ano a casa costuma ficar aberta para visitação pública, principalmente durante o Halloween, assim como no final do mês de novembro, quando Nell Cropsey é lembrada por toda cidade através de tour fantasmagórico.
O "Fantasma do Lago Big Moose": A Morte de Grace Brown, em 1906 (#3)
Este é o caso que possui um dos julgamentos de maior repercussão na história da Justiça dos Estados Unidos. Além disso, a história inspira diversos relatos de pessoas que avistam o espírito de uma mulher chamada Grace Brown rondando as margens do Lago Big Moose, no estado norte-americano de Nova York, até hoje. É uma história muito interessante e que provavelmente você irá se emocionar ao acompanhar passo a passo como era a vida de Grace e Chester, assim como a vida de ambos terminou, por razões completamente diferentes. Respire fundo e acompanhe a história!
A História de Grace Brown
Grace Brown (apelidada de Billy) nasceu em 20 de março de 1886, e foi criada em uma fazenda ao norte do estado de Nova York, nos Estados Unidos. A pequena fazenda da família Brown era uma típica fazenda de laticínios autossuficiente gerenciada pela própria família. O celeiro estava sempre repleto de galinhas e porcos, o jardim cheio de legumes e o pomar repleto de frutas. A vida de Grace era como a de qualquer outra menina do campo na virada do século XIX para o século XX.
Grace Brown, nascida e criada em uma fazenda no vilarejo de South Otselic, no estado de Nova York |
A fazenda da família ficava no vilarejo de South Otselic, localizado a oeste do condado de Chenango, que era uma localidade pequena e tranquila, com muitos prédios e lojas de departamento, que por sua vez tornavam a vida uma pouco mais fácil para quem vivia por lá. Uma dessas pessoas era justamente Grace Brown.
A cidade tinha diversos prédios de três andares, incluindo nessa conta o quarteirão Cox e o quarteirão Perkins. Ambos possuíam uma grande diversidade de lojas no andar térreo e salões de convivência no segundo andar. O quarteirão Cox possuía um templo maçônico no terceiro andar, e o quarteirão Perkins possuía uma casa de ópera, que muitas vezes também era utilizada para reuniões públicas ou palestras.
O pequeno vilarejo também tinha um grande empregador, a "Gladding Fish Line Factory", que tinha cerca de 300 máquinas produzindo diariamente linhas de pesca para serem usadas por todo o Estados Unidos. A cidade ainda contava com uma editora, um jornal semanal, uma fábrica de caixotes, uma selaria, um hotel, duas lojas de ferragens, uma loja de roupas, diversas lojas menores, um curtume, uma serraria, diversas leiterias e queijarias, uma pista de boliche e um salão de bilhar.
A antiga fazenda onde Grace Brown passou sua infância e adolescência no vilarejo de South Otselic, em Nova York |
Por outro lado, Grace parecia ser uma menina que queria sair do pequeno vilarejo e do campo para ver e experimentar uma vida diferente em uma cidade "de verdade". Sua mais provável escapatória era sua irmã, Ada Hawley. Ada havia recentemente se casado e se mudado para a cidade de Cortland com o seu marido, Clarence. É importante lembrar que Grace era uma típica menina do campo, para os padrões da época, e que estava tentando sair do campo para buscar novos horizontes nas cidades maiores. Isso não é muito diferente dos dias de hoje, quando alguém nasce em uma cidade do interior e tenta ampliar sua experiência de vida em cidades maiores ou até mesmo no exterior.
A antiga fábrica têxtil de saias da família Gillette, em Cortland, no estado norte-americano de Nova York |
O salário era apenas alguns poucos dólares por semana, mas era mais dinheiro do que ela já tinha visto na fazenda. Entretanto, depois que o filho de Ada e Clarence nasceu, ambos se mudaram de Cortland, e Grace se viu obrigada a tomar uma decisão. Ela poderia escolher voltar para sua casa em South Otselic ou então permanecer em Cortland, possivelmente como uma pensionista, e continuar trabalhando na fábrica de saias. Ela decidiu ficar, e logo conheceria um homem que mudaria totalmente o rumo de sua vida.
A História de Chester Gillette
Chester Gillette nasceu em 9 de agosto de 1883, no estado de Montana, nos Estados Unidos, mas passou parte de sua infância em Spokane, Washington. Seus pais possuiam um certo conforto em termos financeiros, mas eram profundamente religiosos e, eventualmente, renunciaram a riqueza material para se juntarem ao Exército da Salvação.
Chester Gillett |
De qualquer forma, parecia que Chester não levava muito a sério o estudo, visto que suas notas começaram a cair, e ele resolveu abandonar a escola na primavera de 1903. Foi naquele mesmo ano, que ele se mudou para Chicago e passou a fazer pequenos "bicos". Chester trabalhou como vendedor de livros e também de guarda-freios (empregado de linhas férreas, que vigia os freios das linhas ferroviárias) em uma ferrovia local.
A situação financeira não estava muito boa, então ele resolveu aceitar o emprego, que seu tio Horace havia lhe oferecido anteriormente em sua fábrica. Ele surpreendeu até mesmo seu tio, uma vez que apareceu em Cortland, em 1904, sem nem mesmo avisá-lo de sua chegada. Seu objetivo era mais uma vez começar uma nova vida. Seu salário acabou sendo de dez dólares por semana e nunca teve nenhum tipo de aumento. Ele permaneceu na casa de seu tio até encontrar um lugar para ficar, mas rapidamente ele absorveu o clima da cidade de Cortland e, em pouco tempo, já estava familiarizado com a maioria das ruas e dos vilarejos nos arredores da cidade.
O Encontro de Grace Brown e Chester Gilette
Foi justamente na fábrica de saias do tio, que Grace e Chester se encontraram pela primeira vez em 1904. Grace trabalhava cortando as partes que formavam as saias na época, a partir de grandes rolos de tecido do almoxarifado. Chester parecia estar atraído pela encantadora Grace, uma vez que ele sempre arranjava desculpas para visitá-la em sua mesa de trabalho. Suas conversas acabaram gerando uma amizade.
Durante o verão, Chester ligava para Grace com certa frequência. Havia muitas festas para participar, mas aparentemente a maior parte do tempo juntos era gasto na sala de estar da casa de sua irmã. Certa vez, ambos foram deixados a sós após os Hawleys terem ido dormir, então Chester e Grace puderam finalmente se beijar, e se abraçar no sofá da sala de estar. Isso era considerado muito íntimo para os padrões daquela época, então tentem imaginar a situação da forma mais respeitosa possível.
Concepção artística mostrando como se parecia a cidade de Cortland, localizada no condado de mesmo nome, no início do século XX |
Grace parecia realmente amar e nutrir um certo carinho por Chester, muito embora, aparentemente ele não sentisse o mesmo por ela. Grace estava apaixonada, provavelmente pela primeira vez em sua vida. Ela continuou a dar o seu melhor para manter Chester ao seu lado, apesar dos diversos alertas de seus amigos e colegas de trabalho. Seus amigos viviam avisando Grace de que Chester não era o que ele aparentava ser, que ele era bem diferente. Podemos imaginar, que Grace não tinha nenhuma experiência com esse tipo de pessoa.
Grace Brown Descobre Que Está Grávida
Em maio de 1906, quando Grace descobriu que estava grávida, ela ficou muito abalada. Seus colegas de trabalho notaram uma mudança em seu comportamento, e Chester continuava a agir da mesma forma que fazia antes. Ele ligava para Grace algumas vezes durante a semana, enquanto ainda frequentava festas com outras mulheres da comunidade. Eventualmente, Grace acabou contando para Chester, que teria oferecido uma rápida solução que seria paga pelo tio, ou seja, abortar a criança indesejada por ele. Evidentemente, Grace recusou, jamais passaria pela sua cabeça em tirar a vida de uma criança sendo gerada em seu ventre. A única solução seria que ele se cassasse com ela.
Na época, mães solteiras eram párias. Não era incomum que meninas tirassem a própria vida, pois isso era melhor do que serem humilhadas publicamente. Assim sendo, Grace tinha um enorme problema em suas mãos. Ela esperava que Chester fosse se oferecer para casar com ela, mas ele nunca tocou no assunto. Sem ter o que fazer em Cortland e percebendo que estava de mãos atadas, Grace voltou para sua casa em South Otselic, onde se comunicou durante algum tempo com Chester através de cartas. Uma cópia da parte de uma carta ilustra bem a tristeza que ela sentia.
O envelope de uma das diversas cartas enviadas por Grace Brown para Chester Gillette |
Estou escrevendo para dizer-lhe, que estou voltando para Cortland. Eu simplesmente não posso ficar aqui por mais tempo. Minha mãe está preocupada e me questiona porque eu choro tanto, estou prestes a adoecer. Por favor, venha e me leve embora para algum lugar, querido. Eu vim para casa esta manhã, e eu não consigo parar de chorar o tempo todo, assim como eu fiz naquela noite. Minha dor de cabeça está terrível. Eu tenho medo que você não virá e eu estou tão assustada, querido. Eu sei que você vai pensar que é estranho, mas eu não posso ajudá-lo. Você disse que viria, e às vezes acredito mesmo que você virá, mas depois eu penso em outras coisas, e estou certa de que você não virá. Quero que você me escreva, querido, assim que você receber essa carta, e me diga o dia exato que você pode vir. Eu voltarei em breve, não posso ficar aqui, querido, e por favor não me peça para esperar mais tempo..." (Trecho de uma carta de Grace para Chester. de 20 de junho de 1906).
Essa é uma das muitas cartas escritas por Grace para Chester enquanto ela estava em South Otselic. Ela implorava para que ele ajudasse a resolver a situação em que ela tinha sido colocada. Ela falava que pensava em se matar, e algumas vezes as palavras que usava podiam soar um tanto quanto ameaçadoras para Chester. Os amigos e amigas de Grace, em Cortland, escreviam para ela dizendo o quanto ele estava se divertindo com as moças da cidade. Por vezes, nas cartas que escrevia, Grace deixava implícito que voltaria a Cortland, e iria expor Chester como um homem que enganou uma moça solteira e a engravidou.
Cartas de Grace Brown sendo exibidas durante uma exposição de uma faculdade local, que ainda preserva o acervo da história entre Grace e Chester |
A Morte de Grace Brown
Desde o começo, Chester Gillette tinha grandes esperanças de se casar com alguma garota de uma das famílias mais ricas da cidade. Ele constantemente era avisado por parentes por estar "andando com uma uma garota da fábrica." Seu tio era um dos homens mais ricos da cidade, e como um membro da família Gilette em Cortland, ele não poderia se render a pobreza tal como seus pais um dia fizeram.
Chester tomou uma decisão no início de julho de 1906, escrevendo uma carta para Grace, e orientando para que fosse encontrá-lo em um hotel, na cidade de DeRuyter, no condado de Madison, em Nova York, que fica somente a 17 km (em linha reta) de South Otselic. Grace estava muito contente naquela altura dos acontecimentos, porque esperava que ele finalmente tivesse tomado a decisão de se casar com ela.
Chester e Grace passaram sua primeira noite no Hotel Martin, na cidade de Utica, registrando seus nomes como marido e mulher. No dia seguinte, eles foram para o Lago Tupper, novamente se registrando como marido e mulher. Eles desceram para olhar o lago, mas estava um dia muito chuvoso e não puderam passear de barco.
Chester e Grace passaram sua primeira noite no Hotel Martin, na cidade de Utica, registrando seus nomes como marido e mulher |
Foto área mostrando uma parte do Lago Big Moose |
Foto antiga mostrando um local destinado a locação de barcos no Lago Big Moose |
Foto recente de uma parte do Lago Big Moose |
Chester levou o barco até chegar em terra firme, pegou sua mala e correu pela estrada, que ele já havia definido como sua rota de fuga. Aliás, essa raquete de tênis, que foi a arma do crime, foi vista por diversas pessoas que lembraram que tinham visto os dois no Hotel Glenmore naquele mesmo dia. As pessoas se lembraram, porque era bem estranho alguém passear levando uma mala e uma raquete de tênis dentro do barco.
A raquete de tênis usada por Chester, que teria sido a arma do crime, até hoje é preservada em uma faculdade local |
Chester chegou na cidade de Eagle Bay e se hospedou no Hotel Arrowhead, na cidade de Inlet, onde se registrou pela primeira vez com seu próprio nome. No dia seguinte, ele foi encontrar com as duas meninas, que havia se deparado no trem, assim como ele disse que faria. Em seguida voltou a Eagle Bay para verificar se o adiantamento que ele havia pedido tinha sido enviado para ele.
Em sua cabeça, tudo estava indo conforme planejado. Além disso, ele contou para as pessoas que havia estado no Lago Raquette, no começo da semana. Se passou por um turista comum, e foi visitar a Montanha Black Bear, além do lago Seventh. Ele inclusive cantou músicas com os demais turistas na varanda do hotel onde ficou hospedado.
Foto recente de uma das entradas da cidade de Eagle Bay |
Foto antiga do Hotel Arrowhead, na cidade de Inlet, onde Chester se registrou pela primeira vez com seu próprio nome |
Voltando um pouco no tempo, na noite do dia 11 de julho, depois do casal não retornar com o barco durante a noite, Robert Morrison, responsável por cuidar das embarcações, solicitou imediatamente que buscas fossem realizadas. Na manhã do dia seguinte (12) ainda não havia nenhuma pista sobre o paradeiro do barco. Então, ele decidiu sair pessoalmente para procurar pela embarcação e consequentemente pelo casal. Logo ele descobriu que o barco havia virado, mas ainda não havia sinal de quaisquer pessoas à bordo. Um menino de treze anos de idade, chamado Roy Higby, acabou encontrando o corpo da Grace Brown. Ele tinha avistado uma mancha branca nas águas escuras do lago, e quando foram ver o que era, infelizmente era o corpo de Grace Brown.
Registro do Hotel Glenmore, onde Chester Gillette se registrou como Carl Graham |
A autópsia do corpo de Grace Brown foi realizada no dia 14 de julho. Foi constatado que havia ferimentos e hematomas em sua cabeça, e sempre do lado esquerdo, desde a altura do olho, passando pela bochecha e maxilar. Grace Brown havia recebido diversos golpes em seu rosto, da esquerda para direita. Provavelmente, devido a natureza e dimensão das manchas escurecidas em seu rosto, ela ficou inconsciente após os impactos. Parar piorar a situação, a notícia mais triste e que ninguém queria dar: Grace estava entre o terceiro e quarto mês de gestação.
O Julgamento de Chester Gillete
Entretanto, a prisão de Chester foi apenas o início do trabalho do promotor George W. Ward. Ele passou meses procurando por qualquer pessoa que tivesse visto Chester e Grace juntos durante aqueles dias em julho. Ele encontrou todas as cartas que Grace tinha escrito para Chester, encontrou a raquete de tênis, que Chester havia escondido e os registros de hotel com os nomes falsos que ele forneceu. Até o momento do julgamento, que começou em 11 de novembro daquele ano, Ward tinha mais de 100 testemunhas e 100 evidências que incriminavam Chester Gillete.
Chester poderia ter os melhores advogados do estado de Nova York, porque seu tio era rico, porém a família o abandonou diante do constante assédio da imprensa, que não descansou nem por um instante. Sem dinheiro, Chester pediu para o juiz, que fosse nomeado um advogado para defendê-lo. Foram nomeados dois advogados para fazer sua defesa, Charles D. Thomas e Albert M. Mills, os dois melhores do condado. Chester sempre alegou que, naquela tarde no barco, Grace Brown vendo que ele não queria se casar com ela, simplesmente tirou a própria vida ao pular no lago. Porém, ele nunca conseguiu explicar o motivo, de não ter se atirado no lago para salvar a vida de Grace, visto que ele era um ótimo nadador e ela não sabia nadar.
As versões da defesa (à esquerda) e da acusação (à direita) sobre o que teria acontecido no Lago Big Moose |
O barco alugado por Chester e sua mala foram levados para serem mostrados para o júri e a multidão que acompanhava o julgamento |
Ele só mascava seu chiclete e parecia entediado. Havia entre 25 a 30 jornalistas presentes no julgamento a cada dia, incluindo representantes de jornais de Nova York, e de outras agências de notícias nacionais. Uma vez que os hotéis já estavam cheias de testemunhas de Ward, não havia muito espaço sequer nas pousadas locais.
Depois de longos dias, o julgamento atingiu seu clímax às 10h55 do dia 4 de dezembro. Foi nesse momento que o júri, depois de cinco horas de deliberação, anunciou que Chester tinha sido declarado culpado de homicídio qualificado, o que significava na época, que ele seria condenado à cadeira elétrica.
Foto do julgamento de Chester Gillette publicada por um dos jornais da época |
Foto do júri que participou do julgamento de Chester Gillette |
Chester foi levado para a prisão estadual de Auburn, enquanto sua mãe tentava arrecadar fundos por toda Nova York para tentar recorrer da sentença do filho. Ela tentou atacar a reputação de Grace Brown, mas não deu muito resultado, porque independente de quem ela fosse, seu filho era o responsável por engravidá-la e isso feria o sentimento da maioria das pessoas.
Na primavera de 1908, depois do Tribunal de Apelações ter confirmado a condenação, Louisa Gillette visitou o governador Charles E. Hughes duas vezes, em um esforço para obter um novo julgamento ou pelo menos atrasar a sentença de morte. Entretanto, em 29 de março, um dia antes da execução, ele emitiu sua decisão final. O governador não viu nenhuma evidência que apontasse que a justiça não tivesse sido feita.
Notícia do jornal "Washington Times", de 30 de março de 1908, contando sobre a execução de Chester |
O "Fantasma de Grace Brown" Costuma Ser Avistado no Lago Big Moose
A morte de Grace Brown foi a inspiração para muitos livros, assim como o brilhante "An American Tragedy" ("Uma Tragédia Americana", em português), de Theodore Drieser, e serviu como base para um filme americano chamado "A Place in the Sun" ("Um Lugar ao Sol", em português) lançado em 1951, no qual foi estrelado por Elizabeth Taylor e Montgomery Clift.
Uma placa mostra o local exato do ponto de partida do que seria a última jornada de Grace Brown |
Entretanto, o fantasma de Grace tem sido avistado no Lago Big Moose desde a sua morte em 1906. Testemunhas afirmam que costumam vê-la caindo do barco e se afogando no lago, outros afirmam que a veem caminhando ao longo da margem do mesmo. Seu espírito também assombraria diversas casas de campo da região, visto que, supostamente, seu espírito gosta de apagar as luzes das mesmas.
O complexo turístico de Coverwood Lodge |
Um grupo estava voltando para o alojamento dos funcionários, quando uma mulher chamada Rhonda Bousselot estava andando pelo alojamento, e parou próximo do alto da escada. Quando ela estendeu a mão para puxar a corda que ligava a luz, ela sentiu que alguém estava em pé, ao lado dela. Essa presença teria sido tão poderosa, que ela praticamente congelou e não teve coragem de puxar a corda. Enquanto isso, do lado de fora do alojamento, três companheiros de trabalho dela teriam visto o fantasma de Grace Brown, bem diante dos olhos deles. A aparição teria permanecido no local durante alguns minutos, e depois se afastado.
Enfim, será que o "fantasma de Grace Brown" ronda mesmo o Lago Big Moose até os dias de hoje?
O "Fantasma da Mansão Cherry Hill": O Triângulo Amoroso, que Resultou na Morte de John Whipple, em 1827 (#4)
Cherry Hill, a imponente mansão com vista para o rio Hudson, bem próxima da cidade de Albany, no estado norte-americano de Nova York, já tinha cerca de 40 anos em 1827, quando abrigou 17 pessoas. Em sua maioria essas pessoas eram aristocratas, descendentes das famílias Van Rensselaer e Lansing. E lá estava um homem chamado John Whipple, o jovem arrogante que se casara com Elsie Lansing, a sobrinha excêntrica de Catherine Van Rensselaer.
Cherry Hill, a imponente mansão com vista para o rio Hudson, bem próxima da cidade de Albany, no estado norte-americano de Nova York, já tinha cerca de 40 anos em 1827, quando abrigou 17 pessoas |
Pelo menos cinco empregados, incluindo um homem chamado Jesse Strang, estavam morando e dormindo em quartos no porão. A tranquilidade doméstica em Cherry Hill seria interrompida para sempre quando Elsie e Jesse não respeitaram a distinção entre o andar de cima e o de baixo.
Os Moradores da Mansão Cherry Hill
A Mansão Cherry Hill foi construída em 1787, por um homem chamado Philip Van Rensselaer, que fez fortuna como comerciante e fazendeiro. Ele morreu em 1798, mas em 1826 sua esposa, a Maria, ainda estava morando lá. Ela ocupava o lado norte da mansão, enquanto que seu filho, Philip P. Van Rensselaer ocupava o lado sul juntamente com sua esposa Catherine, e quatro dos seus sete filhos. Um quarto acabou sendo alugado na região sudoeste da mansão para John Whipple, sua esposa Elsie Lansing Whipple, e o filho do casal.
Philip P. Van Rensselaer |
O Capitão Lansing sempre viu John Whipple como um caçador de fortunas e foi ao tribunal tentando evitar que isso acontecesse, mas perdeu o processo. Assim sendo, o capitão Lansing morreu antes de haver qualquer reconciliação, mas o restante da família, eventualmente, gostava de John Whipple. Ele era um empresário bem astuto e transformou a herança de sua esposa em uma pequena fortuna.
Morando em um dos quartos da mansão de Cherry Hill havia um empregado que atendia pelo nome de Joseph Orton, que era chamado de "doutor" pelas demais pessoas, porque ele simplesmente usava óculos e sabia ler e escrever. Ele cuidava do campo, cortava madeira, cuidava do estábulo e fazia pequenos reparos na casa quando era necessário. Seu verdadeiro nome era Jesse Strang, nascido em Sunderland, Vermont, no dia 11 de agosto de 1793. Ele tinha uma esposa e quatro filhos em Fishkill, Nova York, que deixou para trás em 1825, por acreditar que a esposa o traía. Ele se mudou para Sandusky, Ohio, e em seguida, na primavera de 1826, se mudou novamente para a região oeste de Nova York, onde Jesse Strang forjou sua própria morte e se tornou Joseph Orton.
Nasce um Romance Proibido Entre Jesse Strang e Elsie Whipple
Jesse Strang viu Elsie Whipple pela primeira vez, quando ele estava trabalhando em uma taverna perto de Albany, que era propriedade de Otis Bates. Elsie entrou na taverna com a uma moça chamada Maria, que era filha de Philip P. Van Rensselaer. As meninas eram um pouco agitadas, e Elsie, a qual era descrita por Jesse Strang como "alegre, jovial e vertiginosa", chamou a sua atenção. Naquela noite, ele comentou com o filho de Bates, que ele gostaria de dormir com ela.
Logo depois Strang foi trabalhar em Cherry Hill, e seus sentimentos amorosos por Elsie continuaram crescendo. Ele sempre a via com muita frequência e às vezes eles se falavam, mas ele não tinha nenhuma indicação de que ela estava interessada nele. Então, um dia, Elsie disse a Strang para escrever uma carta para ela e contar sobre seus sentimentos. Strang ficou perplexo. Ele sabia que Elsie era casada e não queria problemas, mas também não queria deixar passar a oportunidade.
Antiga ilustração mostrando como a mansão Cherry Hill se parecia na época |
"Querida Elsie,
Tenho seriamente considerado o que você me pediu ontem, e decidi escrever algumas linhas para você. Pensei que não seria certo da minha parte fazer isso, sem saber sua motivação. Talvez seja apenas um modo de atrair minha atenção para mostrar ao seu marido, que você é uma mulher casada, se for essa a sua intenção. É meu desejo que saiba, que isso é algo que criará um problema entre você e seu marido, mas se por outro lado isso for simplesmente devido a sentimentos verdadeiros, então eu ficaria bem contente em saber disso, quando escrever para mim. Eu espero que você não estranhe a forma como estou escrevendo, uma vez que somos perfeitos estranhos um para outro, mas espero que essas poucas linhas sejam suficientes para que eu possa descobrir sua motivação. Meus pensamentos e sentimentos sobre este assunto são bem favoráveis. Eu espero uma resposta de você, caso essa também seja sua motivação. De qualquer forma continuo sendo seu amigo.
Joseph Orton"
Meia hora depois de receber a carta, Elsie entregou a Strang sua resposta. Ela não mediu palavras: "Minha motivação é o meu amor verdadeiro por você", disse Elsie. Várias vezes na carta ela expressou seu amor por Strang e terminou a mesma dizendo: "Permaneço como sua devotada e afetuosa amante até que a morte nos separe". Isso acabou dando início a uma série de cartas de amor diárias entre os dois, entregues por empregados ou até mesmo pelos filhos dos Van Rensselaer. O desejo de um pelo outro aumentava ainda mais pelo fato de que era quase impossível de estarem a sós com tantas pessoas na casa. Entretanto, ocasionalmente encontraram uma oportunidade para ficarem juntos e terem uma relação amorosa "criminosa."
Foto recente da Mansão Cherry Hill, localizada na cidade norte-americana de Albany, no Estado de Nova York |
Outra recente da Mansão Cherry Hill, localizada na cidade norte-americana de Albany, no Estado de Nova York |
Eles fizeram uma promessa de que não um não contaria nada sobre o outro. Isso porque, se fossem capturados, um deles poderia acabar confessando e eles seriam enforcados juntos.
A Morte de John Whipple
Na primavera de 1827, Strang e Elsie "começaram a tentar matar" John Whipple. Strang comprou arsênico em Albany e Elsie colocou o veneno em um tônico, que seu marido tomava todos os dias. Ela acabou errando na quantidade, e acabou dando uma quantidade menor do que a necessário para matá-lo. Isso só rendeu dores de estômago a John Wipple, ou seja, o veneno não o matou. Depois disso, eles pensaram em contratar um pistoleiro. Strang acreditava que ele poderia contratar um homem em Montreal, por cerca de US$ 300, mas eles não tinham esse dinheiro. Finalmente, eles decidiram que o próprio Strang teria que atirar em John Whipple. Elsie sugeriu que ele usasse uma das pistolas de duelo do marido, mas Strang gostava mais de rifles e comprou um por cerca de US$ 25. O divórcio era algo impensável. Além do escândalo social que poderia ser causado, deixaria Elsie sem nenhum centavo.
Eles espalharam rumores de que alguns homens queriam matar Whipple devido a um assunto de negócios. Strang também passou a dizer que tinha visto homens estranhos rondando a casa. Com todo cuidado do mundo, ambos testaram o rifle para ver se ele tinha uma boa precisão quando disparasse, passasse por uma janela de vidro. Eles planejavam atirar em John Whipple, enquanto ele estivesse em seu quarto, fazendo a bala atravessar o vidro da janela.
Foto panorâmica do quarto em que John Wipple foi morto. Na época que a foto foi tirada, em 2013, a mansão estava passando por uma grande reforma. |
Mais uma foto mostrando o ambiente interno da casa durante uma reforma ocorrida em 2013 |
Strang pulou do galpão, vestiu seu casaco e calçou suas botas novamente. Correu para um barranco atrás da mansão, onde ele enterrou o rifle. Ao voltar para a mansão, ele "descobriu" que John Whipple tinha sido baleado e morto. Ninguém da família sabia que Strang era o responsável por aquilo, e pediram para que ele fosse até a cidade para buscar o legista. Quando voltou, ironicamente ele foi nomeado como "membro do júri do legista."
Ilustração representando o momento que Jesse Strang disparou seu rifle de um galpão anexo na parte de trás da mansão Cherry Hill |
Foto panorâmica do galpão de onde Jesse Strang atirou e matou John Wipple |
O Julgamento de Jesse Strang e Elsie Whipple
Em junho daquele ano Jesse Strang confessou o crime, e disse aos promotores onde encontrar o rifle. Ele acreditava que, se Elsie fosse condenada, uma vez que possuía poderosos laços familiares, ambos seriam perdoados. Dessa forma Strang tentou colocar a culpa nela, e chegou a pedir ao seu advogado para plantar provas incriminatórias em Cherry Hill contra Elsie, mas ele se recusou. Quando seu advogado e o promotor público, Edward Livingston, um parente da família Van Rensselaer, lhe disseram que nada do que ele dissesse contra Elsie iria aliviar sua punição, ele retirou sua confissão. Na prisão, Elsie e Strang podiam se comunicar, e ela nunca deixou de lembrá-lo, que se ele não tivesse inicialmente confessado, ambos poderiam ter fugido juntos para Montreal.
Cópia do panfleto que foi vendido em 1827 |
Membros da família testemunharam, que tinham ouvido Strang espalhar histórias sobre pessoas que queriam matar John Whipple. Os comerciantes que o venderam o rifle e o arsênico também testemunharam, assim como os recepcionistas de hotéis, que tinham visto Strang e Elsie juntos. Entretanto, foi a confissão de Strang, admitindo a culpa durante o objeção da defesa, que selou seu destino. O júri deliberou por 15 minutos antes de voltar com um veredito de culpado por homicídio qualificado.
O julgamento de Elsie seguiu o mesmo curso de Strang, exceto pelo fato que a promotoria tentou chamar Strang como testemunha. Houve muito debate sobre a sua elegibilidade para depor, porque ele havia sido condenado, mas ainda não tinha sido sentenciado. Ao final, o juiz não permitiu que John Whipple testemunhasse. A acusação desistiu, e os membros do júri, sem sair de seus assentos, absolveram Elsie Whipple. Aliás, a cidade de Albany aparentemente não estava preparada para condenar uma mulher, que possuía laços com algumas das mais proeminentes famílias da cidade, independentemente das evidências.
Entre 30.000 e 40.000 pessoas compareceram em 24 agosto de 1827 para testemunhar o enforcamento de Jesse Strang, que possuía 34 anos na época de sua execução. No meio da multidão estavam vendedores ambulantes que vendiam um panfleto intitulado "The Authentic Confession of Jesse Strang" ("A Autêntica Confissão de Jesse Strang", em português).
No cadafalso (tablado ou palco erguido em lugar público para que os condenados sejam expostos ou executados), segurando uma cópia da confissão, Jesse Strang pronunciou o que estava escrito no panfleto dizendo: "Esse panfleto contém uma confissão completa da grande transação, pela qual estou prestes a morrer, e cada palavra que ele contém, até onde eu sei, é verdadeira. Se houver uma única palavra em que isso não é verdade, foi inserida por engano, e não devido a um erro durante a sua criação."
Pouco tempo depois Elsie se casou com Nathanial Freeman, em New Brunswick, Nova Jersey, e depois da morte do marido, ela se mudou para Onondaga, Nova York, onde ela morreu em 1832.
Catherine Putman Rankin, bisneta de Philip P. Van Rensselaer, quando tinha 10 anos |
Ela ainda tinha um diário, no qual ela escrevia sobre sua participação nas reformas de casas, incluindo ter derramado uma lata de selante no chão. Ela queria preservar tudo o que podia para olhar e ter a mesma sensação de quando ela morava lá, na década de 1940. Alguns anos mais tarde, sua filha Emily dedicou seu tempo para preservar o que restava.
Em 1963, Emily faleceu e especificou em seu testamento que a casa deveria se tornar um museu. No ano seguinte, em 1964 isso se tornou uma realidade, pois a mansão Cherry Hill estava no primeiro grupo de propriedades da cidade listadas no Registro Nacional de Locais Históricos. Seu acervo inclui cerca de 20.000 objetos - todos os móveis originais da casa - utensílios de cozinha e talheres, 5.000 livros, 3.000 fotografias, e 30.000 documentos históricos dos arquivos da família Van Rensselaer. Alguns dos itens, tais como tapetes originais do século 18, foram emprestados a outros museus como o Museu Metropolitano de Arte de Nova York.
A equipe que atualmente cuida da casa, ainda faz de tudo o que pode para continuar o sonho deixado por Catherine, com a ajuda de doações. Você pode acessar o site da mansão, clicando aqui. Muitos alegam que a casa é assombrada, mas ninguém sabe dizer ao certo se é o fantasma de John Whipple ou de Jesse Strang.
A Criança dos Olhos Negros: As Mortes de Crianças em Cannock Chase, na Década de 1960 (#1)
Esse último caso que será descrito aqui, talvez seja o mais chocante e repulsivo em relação a todos os anteriores. Vamos contar para vocês a história das mortes de 3 menininhas, entre 5 e 10 anos de idade, em Cannock Chase, na Inglaterra. Muitos relacionam essas mortes, com a aparição de "fantasmas de crianças de olhos negros", na densa floresta, que possui o mesmo nome, e que ocupa boa parte do território da localidade.
A História de Raymond Leslie Morris
Raymond Leslie Morris |
Ele se casou quando tinha 22 anos, em 1951, com uma mulher que era dois anos mais nova que ele, e teve dois filhos, que foram frutos desse mesmo relacionamento, porém Morris assustava sua esposa devido as mudanças bruscas de humor, exibindo uma fúria impassível quando ela se recusava a atender as suas exigências espontâneas "amorosas", se é que vocês me entendem.
Eles se separaram oito anos depois, mas Morris sempre evitou de pagar pensão para ajudá-la a sobreviver com os filhos, até que ela concordasse em visitá-lo uma ou duas vezes por semana. Ela inclinava-se sobre uma mesa para que ele pudesse possuí-la em uma posição "selvagem".
Aos 35 anos, Raymond Morris se casou pela segunda vez, com uma mulher chamada Carol, que tinha 21 anos. O lado violento da natureza de Raymond aparentemente tinha sumido, o tornando um "marido perfeito". Entretanto, na verdade, sua raiva silenciosa tinha apenas sido desviada de sua própria casa para um outro lugar.
Foto do casamento de Raymond Morris e Carol |
Os Desaparecimentos e as Mortes de Crianças em Cannock Chase
No dia 1º de dezembro de 1964, Julia Taylor, com apenas 9 anos, foi atraída para entrar em um carro na região de Bloxwich, por um homem que dizia ser um amigo de sua mãe, e que queria levá-la para comprar alguns presentes de Natal. A menina sofreu abusos, foi estrangulada e deixada para morrer. No começo da noite, no entanto, ela conseguiu recobrar a consciência, e sair da vala onde foi jogada, indo em direção à beira da estrada.
A pequena menina estava encharcada e tremendo de frio devido a chuva que caía. Para sua sorte ela foi avistada por uma pessoa que passava de bicicleta, que a socorreu. Ela não conseguia se lembrar de muita coisa, apenas que tinha entrado em um carro grande de duas cores.
No dia 8 de setembro de 1965, Margaret Reynolds, na época com apenas 6 anos, desapareceu a caminho de sua escola, no subúrbio de Birmingham, em Aston. Nenhuma pista ou vestígio havia sido descoberto sobre seu paradeiro. Em 30 de dezembro daquele mesmo ano, Diane Tift, de 5 anos, desapareceu na curta caminhada entre sua casa e a casa de sua avó, na cidade vizinha de Bromwich.
Local onde os corpos de Margaret Reynolds e Diane Tift foram encontrados |
Mais uma foto do local onde os corpos de Margaret Reynolds e Diane Tift foram encontrados |
Um dos diversos cartazes impressos pelo jornal Express & Star na tentativa de encontrar Christine Darby |
No dia 19 de agosto de 1967, Christine Ann Darby, de 7 anos, estava brincando com amigos em Walsall, quando um homem parou com o carro bem próximo da calçada e pediu informações sobre como chegar em Caldmore Green. Christine entrou no carro para o espanto de suas amiguinhas que estavam brincando com ela. O motorista do carrou seguiu, no entanto, para outra direção.
O que aconteceu nesse dia provavelmente é o pior pesadelo de qualquer pai. Christine Darby tinha sido levada por um estranho, em plena luz do dia, por volta das 14h, na rua Camden, em Walsall. A família esperava encontrá-la viva, e para ajudar nas buscas, cartazes foram impressos pelo jornal "Express & Star", e foram fixados em paredes e postes da região.
Rua Camden, em Walsall, na qual Christine Ann Darby foi levada por volta das 14h, do dia 19 de agosto de 1967 |
A Caçada ao "Monstro de Cannock Chase"
Uma verdadeira caçada humana começou. 150 detetives visitaram cerca de 39.000 casas, e interrogaram mais de 23.000 proprietários de carros Austin A55 ou A60 de cor cinza, sendo que no total mais de 80.000 depoimentos foram tomados. Mais de 1.000 pessoas ajudaram nas buscas, sendo que a maioria eram os próprios moradores, que tentavam desesperadamente encontrá-la. Raymond Morris também passou a ser investigado, visto que já tinha sido acusado anteriormente diante de um suposto caso de abuso.
A esperança terminou quando o corpo de Christine Ann Darby foi encontrado por um soldado, que fazia parte do grupo de buscas, no dia 22 de agosto, ou seja, três dias depois, em um matagal em Cannock Chase, apenas 1,5km de distância de onde os corpos de Margaret Reynolds e Diane Tift tinham sido encontrados. Ela havia sido morta por asfixia, provavelmente por mãos que pressionaram seu nariz e sua boca. Christine tinha sido a terceira criança encontrada, e que tinha sido morta, em Cannock Chase, desde janeiro de 1966, ou seja, isso não podia ser mais uma coincidência.
Local onde o corpo de Christine Ann Darby foi encontrado em Cannock Chase |
Enquanto isso, uma mulher chamada Maureen Freeman desempenhava um papel-chave na investigação, que levou à prisão de Morris. Ela se juntou a força policial em 1965, quando tinha apenas 21 anos. Ela ainda estava em seu período de estágio, quando o primeiro corpo foi encontrado. Ela foi a responsável em 1967 por montar uma base operacional equipada com telefones, na estrada New Penkridge, e chamar a Scotland Yard para ajudar nas investigações. Foi também uma das responsáveis por organizar as equipes de busca.
Uma reviravolta aconteceria em 4 de novembro de 1968, quando Margaret Aulton, 10 anos, moradora de Walsall, conseguiu escapar de um homem que tentou forçá-la entrar em um carro Ford Corsair verde e branco. Uma jovem de 18 anos que estava passando conseguiu anotar a placa do veículo, e foi até a base operacional montada por Maureen para dizer o que tinha acontecido. Foi verificado mais tarde nos registros, que o carro pertencia justamente a Raymond Morris.
Enquanto isso, uma mulher chamada Maureen Freeman desempenhava um papel-chave na investigação, que levou à prisão de Morris. Ela se juntou a força policial em 1965, quando tinha apenas 21 anos |
Christine Darby (à esquerda), Margaret Reynolds (centro), e Diane Tift (à direita) |
Raymond Morris, sendo levado sob custódia pela polícia por sua ligação no caso de Margaret Aulton |
O Julgamento de Raymond Morris
Em fevereiro de 1969, Raymond Morris, outrora considerado como sendo um marido respeitável e pai de família, estava sendo julgado em um tribunal pela morte de uma criança. Ele afirmava não ser culpado pela morte de Christine Darby, e da tentativa de raptar Margaret Aulton, mas considerava-se culpado por atentado ao pudor em relação a sobrinha de Carol, sua segunda esposa.
Após a grande cobertura da imprensa em relação a uma série de outras mortes de crianças, que tinham acontecido alguns anos antes, onde hoje se localiza a Grande Manchester, havia um enorme interesse público no caso de Raymond Morris. Horas antes do julgamento começar, havia uma grande fila de pessoas que tentavam entrar na galeria pública do Tribunal de Justiça de Staffordshire Assizes.
Uma multidão aguardava para entrar na galeria pública do tribunal e assistir ao julgamento todos os dias |
Muitos foram testemunhar contra Morris, isso incluía peritos e populares. O patologista do Ministério do Interior do Reino Unido na época, o Dr. Alan Usher, confirmou que Christine havia sido morta por asfixia. Joseph Wilson, gerente técnico da multinacional Pirelli na época, declarou que as marcas de pneu deixadas em Cannock Chase eram de um veículo similar ao que Morris conduzia. Muitos populares testemunharam ter visto um homem que correspondia à descrição de Morris na região de Cannock Chase, dirigindo um carro cinza, no dia em que Christine foi raptada. O promotor público do caso QC Brian Gibbens, chamou duas testemunhas, Victor Whitehouse e Jean Rawlings, que deram relatos detalhados de como Morris conduzia um Austin A55 cinza, em Cannock Chase. Maureen Freeman também foi uma das escolhidas para testemunhar no julgamento, e descreveu Morris como tendo um olhar "frio e calculista."
No julgamento, Carol, segunda esposa de Morris, foi uma das testemunhas de acusação. Ela disse que o marido não tinha voltado para casa até as 16h30, explicando que ela tinha anteriormente fornecido um álibi, porque Morris tinha agido normalmente naquele dia, e parecia impossível para ela, que ele fosse o responsável por algo tão terrível.
Maureen Freeman (centro), umas das principais responsáveis por prender o "Monstro de Cannock Chase"" |
Seu advogado de defesa, QC Kenneth Mynett, disse ao júri que seu cliente estava "muito chateado consigo mesmo" em relação as fotografias que ele havia tirado, e que se eles acreditavam que seu álibi estava correto: ele não poderia ser o homem que foi visto em Cannock Chase. No entanto, não havia muita escapatória. Em 18 de fevereiro 1969, após 7 dias de julgamento, o júri chegou por unanimidade a um veredito, que considerava Raymond Morris culpado pelo rapto e morte de Christine Ann Darby. Mais de 300 pessoas aguardavam do lado de fora do tribunal pela sentença. Morris foi condenado à prisão perpétua, sendo que precisaria ser mantido preso, no mínimo por 30 anos, antes de tentar qualquer tipo de recurso de revisão de pena, devido a natureza de seus crimes.
"Deve haver muitas mães cujos corações vão bater mais calmamente, devido a este veredito", disse o juiz Ashworth, enquanto Morris não esboçava nenhuma expressão de emoção. O juiz ainda elogiou tanto o público quanto a imprensa por ajudarem a trazer Morris à Justiça. Mesmo que Morris também fosse amplamente considerado culpado pelas mortes de Diane e Margaret, em 1965, assim como pelo abuso de Julia Taylor, nunca houve provas suficientes para acusá-lo em relação a esses casos.
A Morte de Raymond Morris
Décadas mais tarde, Morris foi descrito como "frio, cruel, e simplesmente perverso" por um ex-chefe de polícia que estava no comando da investigação. O ex-detetive e superintendente, Pat Molloy, um dos três principais oficiais que investigavam o caso, disse que não tinha dúvidas que Morris havia matado Christine Ann Darby. "Estou muito satisfeito que ele tenha sido considerado culpado e que ele seja o responsável", disse Pat Molloy, em uma entrevista para a rádio BBC, em agosto de 2001, e que escreveu um livro sobre as mortes em Cannock Chase, publicado na década de 1990.
"Se por um lado, as mortes e os raptos de meninas em Cannock Chase foram acontecendo ao longo de quatro anos e envolveu uma operação tão grande, por outro, isso parou de acontecer após a sua prisão. Não houve nenhum outro caso depois daquilo. Eu o descreveria como frio, cruel, lascivo e simplesmente perverso", completou Pat Molloy.
Em novembro de 2010, quando foi concedida uma revisão judicial a Raymond Morris, a família de Diane Tift falou sobre a raiva que eles ficaram após saberem da notícia. Seu irmão Terrence foi o último a vê-la com vida, e disse que a família nunca se recuperou emocionalmente falando. Diga-se de passagem, Terrence Tift tinha apenas 9 anos na época. Ele disse que os sentimentos ainda estavam muito presentes sobre o que tinha acontecido com a sua irmã.
O presídio HMP Preston, em Wymott, Lancashire, onde Raymond Morris foi mantido preso e morreu em março de 2014 |
"Vida deve significar vida. Nós ainda sentimos falta da Diane, mesmo após mais de 40 anos. Perdemos a chance de vê-la crescer e formar a sua própria família", completou.
Amy Jo-Cutts, advogada de Raymond Morris naquela época, disse que seu cliente estava vivendo uma vida "tranquila e simples" na prisão, uma vez que os outros presos desconheciam sua notoriedade. De qualquer forma o tempo na prisão havia gerado efeitos sobre o corpo dele.
"Ele está fisicamente bem, mas os anos atrás da grades fizeram grandes mudanças em seu corpo. Tem sido uma batalha para Ray, que sempre afirmou sua inocência. Ele é, em grande parte, um anônimo na prisão, porque ele não tem notoriedade entre a geração mais jovem dos detidos. Ele vive uma vida tranquila e simples na prisão, e não quer notoriedade e nem mesmo um grande estigma", disse Amy Jo-Cutts, que havia trabalhado desde 1993 na solicitação de revisão da pena de Raymond Morris, porém naquele mesmo ano a solicitação foi derrubada pela Justiça.
De acordo com o relatório da época, Raymond sofria de leucemia mieloide crônica e também tinha insuficiência renal e fazia diálise, quando necessário. Morris já havia assinado um documento pedindo para a equipe médica não o reanimasse em caso de insuficiência cardíaca ou respiratória.
"Mais tarde, a respiração do homem era superficial e seu pulso estava fraco. Seus olhos estavam fechados e ele balançava a cabeça quando perguntado se estava com dor. As 16h45, não respondia mais, mas não parecia estar com dor ou agitado. As 19h15, ele ficou agitado e foi-lhe dado um sedativo. Ele morreu de forma tranquila as 19h40, do dia 11 de março de 2014", disse Nigel Newcomen, responsável por fiscalizar os procedimentos adotados no HMP Preston, em Wymott, Lancashire, onde Raymond ficou preso desde 1969. Esse acabou sendo o fim de um dos mais notórios "monstros" do Reino Unido durante o século XX, mas algo perturbador ainda aconteceria no século XXI, e que amedrontaria ou revoltaria alguns cidadãos britânicos.
A "Criança de Olhos Negros" de Cannock Chase
A suposta origem da lenda urbana das famosas "crianças de olhos negros" remete ao ano de 1998, devido a postagens feitas por um repórter chamado Brian Bethel, em uma "lista de discussão" (BBS/Usenet para os mais antigos), cujo tema estava relacionado a "fantasmas". Foi esse mesmo homem, o Brian Bethel que havia relatado seus supostos encontros com "crianças de olhos negros" na cidade de Abilene, no estado norte-americano do Texas, e na cidade de Portland, no estado norte-americano do Oregon. Portanto, a lenda urbana viria, a princípio, dos Estados Unidos.
Aparentemente, desde a década de 1960, não havia nenhum relato sobre espíritos ou fantasmas de crianças, que estivessem relacionados de alguma forma a Cannock Chase. Não tinha até que um tabloide britânico chamado "Daily Star" (que particularmente considero o pior tabloide do Reino Unido) publicou na capa de seu jornal, praticamente o mesmo conteúdo, sobre um suposto avistamento de crianças de olhos negros, três vezes na mesma semana, no período compreendido entre o final de setembro e começo de outubro do ano de 2014.
Capas do tabloide "Daily Star" sobre "os avistamentos de uma menina de olhos negros" em Cannock Chase, entre o final de setembro e começo de outubro de 2014 |
O "Four Crosses Inn" estava à venda por um preço abaixo do praticado pelo mercado imobiliário, porque seria assombrado por diversos fantasmas e por uma menina de olhos negros |
Naquela mesma época, outro tabloide britânico chamado "Birmingham Mail" também comprou essa ideia. Assim sendo, segundo ambos os tabloides, mesmo sem qualquer ponto que fosse credível ou passível de ser verificado, a menina de olhos negros, que nunca existiu até aquela presente data, teria sido vista pela última vez na região há cerca de 30 anos. As recentes descrições sobre a menina seriam exatamente as mesmas da década de 1980. Estranho, mas vamos seguir em frente.
Imagem do Google Maps mostrando a distância entre Cannock Chase e Walsall |
A densa floresta de Cannock Chase, na Inglaterra |
Lee Brickley, principal responsável por disseminar relatos de avistamentos sobre uma criança de olhos negros em Cannock Chase, na Inglaterra |
Entretanto, Lee não apresentou nomes, muito menos mostrou quaisquer provas, que havia sido realizada uma busca policial devido ao relato de quaisquer moradores, nesse sentido, ainda mais em 1982. Ele simplesmente havia escrito sua história em um mero blog, assim como Brian Bethel, no passado, havia feito. Resumindo, ele criou a base da lenda urbana sobre uma suposta criança de olhos negros em Cannock Chase.
O maior problema, no entanto, não foi o Lee, mas o imenso sensacionalismo do "Daily Star". Em uma das publicações, o "Daily Star" alegou que a menina dos olhos negros havia sido avistada pela segunda vez naquela semana, em outubro de 2014. Para contar como isso teria acontecido, eles usaram uma postagem do próprio Lee Brickley, que datava de 17 de julho de 2013, ou seja, mais de 1 ano antes. O texto utilizado pelo "Daily Star" foi extremamente cortado e aparentemente isso foi feito com o objetivo de vender mais jornais, uma vez que o assunto estava em alta.
Entretanto, Lee não apresentou nomes, muito menos mostrou quaisquer provas, que havia sido realizada uma busca policial devido ao relato de quaisquer moradores, nesse sentido, ainda mais em 1982 |
"...há cerca de 2 meses, eu e minha filha estávamos andando por Birches Valley (uma área conhecida por sua avistamentos espectrais), quando ouvimos os gritos de uma criança. Eu não saberia dizer se era um menino ou uma menina, mas definitivamente parecia estar em perigo e aparentemente estava muito perto de nós, portanto, imediatamente começamos a correr em direção aos gritos. Não conseguimos encontrar a criança em lugar algum, e por isso paramos para recuperar o fôlego. Foi quando eu me virei e vi uma menina, que estava atrás de mim, e não tinha mais do que 10 anos de idade, com as mãos sobre os olhos, como se estivesse à espera de um bolo de aniversário. Eu perguntei se ela estava bem e se ela tinha sido o única a gritar, então ela abaixou os braços, e abriu os olhos. Foi quando eu vi que eles estavam completamente negros, não havia íris, não havia o branco do olhos, nada. Dei um pulo para trás e agarrei a minha filha, quando eu olhei novamente a criança tinha ido embora. Foi algo realmente bem estranho. Eu sabia que algo iria acontecer, antes mesmo viesse acontecer, simplesmente tive uma sensação estranha."O Daily Star aparentemente ignorou tudo isso, e publicou que "uma testemunha", não dizendo o nome de quem era, dado a seguinte declaração naquela semana, no começo de outubro de 2014
"Eu me virei e vi uma menina, que estava atrás de mim, e não tinha mais do que 10 anos de idade, com as mãos sobre os olhos, como se estivesse à espera de um bolo de aniversário. Foi quando ela abaixou os braços, e abriu os olhos. Foi quando eu vi que eles estavam completamente negros, não havia íris, não havia o branco do olhos, nada. Dei um pulo para trás e agarrei a minha filha, quando eu olhei novamente a criança tinha ido embora."Reparam na extrema semelhança? O "Daily Star" copiou o relato de mais de um ano, que sequer podemos dizer que era autêntico e apontou como se uma testemunha, que eles não quiseram dizer o nome, tivesse dito que aquilo havia acontecido em 2014. Ainda que o relato fosse de alguma forma verdadeiro, era impossível ter acontecido em outubro de 2014, entenderam?
Uma mulher chamada Hayley Stevens, que se considera uma investigadora paranormal cética, e que já escreveu mais de 400 artigos em seu site chamado "Hayley is a Ghost Geek", foi uma das primeiras a perceber a mentira que estava sendo publicada pelo Daily Star. Ela inclusive considerou o livro lançado por Lee Brickley (o único livro dele) como uma "leitura amargurada e decepcionante". Hayley disse que, inicialmente, considerou a leitura interessante, mas aos poucos percebeu a "natureza tendenciosa e um tanto quanto irracional de seu livro", que foi enviado pelo próprio Lee, ao pedir para que ela lesse e comentasse sobre o mesmo.
Uma mulher chamada Hayley Stevens (na foto), que se considera uma investigadora paranormal cética, e que já escreveu mais de 400 artigos em seu site chamado "Hayley is a Ghost Geek", foi uma das primeiras a perceber a mentira que estava sendo publicada pelo Daily Star |
Não obstante, no início de abril de 2015, somente alguns meses depois da notícia sobre uma menina de olhos negros ter viralizado por todo o Reino Unido, acabou surgindo um vídeo onde um usuário do Youtube chamado "Furious Otter", que estava com seu drone na região de Cannock Chase, e que teria supostamente flagrado uma menina vestida de branco, com longo cabelos negros e olhos negros durante o dia. Coincidência? Como era de se esperar a notícia novamente teve uma grande uma repercussão na Inglaterra.
Assista ao vídeo original logo abaixo, em um canal de terceiros, no YouTube:
Em outubro de 2015, a suposta criança dos olhos negros teria sido registrada novamente por um grupo paranormal, que teria colocado diversas câmeras na densa floresta de Cannock Chase. Eles teriam gravado por cerca de 6 horas, quando se depararam com um "estranho vulto" captado ao fundo. "Se parece com uma criança vestida de branco, você pode ver as pernas em movimento enquanto anda. Nem sabia que eu tinha capturado um fantasma até que fui ver a gravação e pensei: Mas que diabos é isso?", disse Tom Buckmaster, responsável pelo grupo "Haunted Finders TV", para o tabloide Daily Mirror. Novamente, um tabloide envolvido.
Tom ainda disse que o exato momento em que o fantasma é registrado por uma de suas câmeras, ocorreu por volta das 19h do dia 10 de outubro. Outra coincidência em relação a data? Muito provavelmente, não.
De qualquer forma, assista ao vídeo original, em um canal de terceiros, no YouTube:
Enfim, ao escrever sobre o caso de Cannock Chase é inevitável não se comover com as histórias de crianças, que tiveram suas vidas interrompidas por um monstro. É ainda mais assustador ver que uma história real passou a servir de fachada para relatos aleatórios, esporádicos e explorados de forma praticamente brutal por uma mídia sensacionalista. Se alguém, algum dia, realmente vir uma criança de olhos negros, posso até acreditar nessa pessoa se souber quem é ela, suas crenças, seus relacionamentos e uma série de outros detalhes que a tornem uma testemunha confiável. Uma coisa é você contar o que você acredita que viu ou sua experiência pessoal para alguém, porém algo totalmente diferente é espalhar isso como se fosse algo verdadeiro, e que todas as testemunhas sejam plenamente confiáveis. De qualquer forma, as "crianças de olhos negros"é somente uma lenda urbana (quem sabe um dia eu escreva mais detalhadamente sobre isso).
Agora, uma criança de olhos negros, especificamente uma menina que vaga por uma floresta em Cannock Chase, vítima de Raymond Morris, é algo bem complicado de se acreditar, até porque independentemente da história que seja contada, ninguém nunca comentou sobre isso até se popularizar através de um tabloide de cunho sensacionalista e de um escritor que não tem nenhuma base credível para afirmar isso, apenas de relatos enviados para ele. Você não pode afirmar a existência de algo, vendendo isso como um produto, baseado apenas em experiências subjetivas de terceiros. Imaginem realizar um estudo sobre um determinado assunto, baseando-se apenas por achismos ou sensações particulares? Você tomaria um remédio, cuja análise foi baseada no que a pessoa que o fabricou sentiu, sem qualquer análise técnica, laboratorial, e uma investigação mais aprofundada do remédio? Você confiaria apenas no que a pessoa disse, da boca para fora?
Bem, termino essa matéria especial com a certeza que essa história continuará se propagando de forma sensacionalista, e a lenda urbana continuará sendo reescrita por todos os cantos do mundo. A única certeza é que a dor das famílias daquelas crianças jamais será apagada, e nem a vida de seus entes queridos poderá ser reescrita. Por outro lado, esperamos que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais de cada um dos casos que contamos para vocês, e espero que tenham assimilado a dose de realidade por trás de cada um deles.
Até a próxima, AssombradOs.
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
Livro "Staffordshire Murders" de Alan Hayhurst
Livro "Legendary Locals of Elizabeth City" escrito por Marjorie Ann Berry
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