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Em Minas Gerais, na cidade de Barbacena, existiu o Hospital Colônia de Barbacena, um local onde durante décadas, pessoas que problemas psiquiátricos foram enviadas para o local e recebiam tratamentos desumanos, tanto que mais de 60.000 mil pessoas morreram no local! É uma história triste do nosso país e é comparada muitas vezes a um campo de concentração...
Assombrados, chegou a hora de falarmos de um capítulo triste da história do nosso Brasil, vamos falar do Hospital Colônia de Barbacena, um tema muito pedido por vocês. Eu não conhecia o caso, assim como a maioria dos que vão ler esta postagem ou ver o vídeo que fiz. É horripilante, chocante e revoltante. Vamos saber mais do assunto...
A História do Local
Em 1903, Barbacena, MG, ganhou a alcunha de “Cidade dos Loucos”, graças à inauguração de sete instituições psiquiátricas no município. Na época, estâncias de clima ameno, como Barbacena, eram vistas como propícias para o tratamento de doenças mentais. Uma dessas iniciativas era o Hospital Colônia. A elite do Rio de Janeiro, que era uma cidade considerada insalubre, vinha para Barbacena se tratar, descansar. Mas, com o tempo, o que era planejado como uma instituição médica tornou-se um matadouro partir de 1930, o que se estendeu até 1980.
O manicômio era formado por dezesseis pavilhões independentes, tendo cada um deles a sua função específica: Pavilhão "Zoroastro Passos" para mulheres indigentes; Pavilhão "Antônio Carlos" para homens indigentes; Pavilhão "Afonso Pena"; Pavilhão "Milton Campos"; Pavilhão "Rodrigues Caldas" e Pavilhão "Júlio Moura".
Tendo inicialmente cerca de 200 leitos. O Colônia estava operando muito acima de sua capacidade normal, contanto com em média 5 mil pacientes na década de 1950 - Há um relato, do Doutor Jairo Toledo, que em um único dia, dezessete pacientes vieram a morrer durante a madrugada, vítimas do intenso frio.
No período em que houve o maior número de mortes, entre as décadas de 1960 e 1970, o que acontecia no hospital chegou a ser chamado de "Holocausto Brasileiro". Estima-se que pelo menos 60 mil pessoas tenham morrido no Hospital Colônia de Barbacena.
Junto ao hospital, com uma área aproximada de 8 mil metros quadrados, foi construído na mesma época um cemitério, designado de "Cemitério da Paz".
Quem era Enviado para Lá?
Enquanto o plano do Hospital Colônia era primariamente atender a pessoas com transtornos mentais, o local acabou por tornar-se um campo de extermínio para aqueles que não se adequavam aos padrões normativos da época ou não atendiam aos interesses políticos de classes dominantes.
Cerca de 70% dos pacientes do Colônia não possuíam diagnóstico de transtorno psicológico algum. Muitos dos pacientes eram apenas alcoólatras, andarilhos, amantes de políticos, crianças indesejadas, epiléticos, inimigos políticos da Elite local, prostitutas, homossexuais, vítimas de estupro e pessoas que simplesmente não se adequavam ao padrão normativo da época, como homens tímidos e mulheres com senso de liderança ou que não desejavam casar-se. Boa parte da população do Hospital Colônia também era da etnia negra.
De hospital psiquiátrico, a instituição virou depósito de gente indesejada.
Os pacientes eram separados por sexo, idade e características físicas. Como o Colônia não tratava apenas pessoas da cidade, muitas vinham de fora, desembarcando de trem. Em 1933, o escritor Guimarães Rosa, que trabalhou brevemente como médico no Colônia, chamou aquilo de “trem de doido”. Anos depois, o cenário rendeu comparações inevitáveis com os campos de concentração nazistas, já que eles também eram abastecidos com trens.
Crianças que cresceram dentro do Colônia jamais aprenderam a falar, ler ou escrever e contavam com a ajuda de bons-samaritanos no local para realizar atividades mais básicas.
Como Eram Tratados?
- Ócio terrível
- Eram forçados a trabalhar manualmente, muitas vezes sem receber nada ou em troca de maços de cigarro.
- Dormir sobre folhas de capim. Formigas saiam dessas folhas e mordiam os pacientes
- Precisavam lidar com estupros, torturas físicas e psicológicas
- Eram submetidos à terapia de choque e duchas escocesas sem nenhuma razão aparente, tal tortura era aplicada com o propósito de servir apenas como castigo ou devido à perseguição oriunda de falta de afinidade entre pacientes e funcionários. Muitos não resistiam e acabavam falecendo.
- Devido a superpopulação, os internos andavam parcialmente ou completamente nus e eram expostos às baixas temperaturas de Barbacena durante a noite. Em uma tentativa de sobreviver, buscavam aquecer-se dormindo em círculos, mas ainda assim muitos padeceram por conta de hipotermia ou sufocados.
- Não existia um sistema de água encanada ou suprimento de alimentos que abastecessem o alto número de pacientes. Muitos banhavam-se ou bebiam de um esgoto a céu aberto dentro do local.
- Para proteger seus bebês que eram separados das mães após algum determinado tempo, grávidas cobriam a si mesmas com fezes, evitando que funcionários e outros pacientes se aproximassem.
- Doentes eram abandonados em seus leitos para morrer.
As Crianças
Crianças também ficavam internadas ou nasciam no local...
- As Crianças de Oliveira: Trinta e três meninos e meninas do hospital psiquiátrico da cidade de Oliveira (MG) - na verdade uma enfermeira disse que foram quase 140 - , que havia sido extinto nos anos 1970, foram transferidos para a unidade. Lá eles sentiram na pele os maus-tratos das correntes, da camisa de força, do encarceramento e do abandono.
As crianças eram mantidas nos pavilhões e recebiam tratamento idêntico ao oferecido aos adultos, permanecendo, inclusive, no meio deles.
- Crianças Nascidas no Local: Ocorriam relações entre pacientes e muitos eram estuprados. As vezes as mulheres engravidavam, e os "filhos da loucura", – cerca de três dezenas – eram doados logo após o nascimento sem que suas mães biológicas tivessem a chance de abraçá-los. Compreensível que, depois disso, muitas mulheres tivessem, de fato, enlouquecido.
Como foi o caso de Sueli Aparecida Resende,que deu entrada na unidade em 1971, aos 8 anos de idade, – ela era uma das crianças de Oliveira -, em função de crises de epilepsia. Engravidou dentro do hospital, 19 anos mais tarde, quando tinha 27 anos. Deu à filha o nome Débora Aparecida e lutou como uma leoa para amamentar sua cria. Não conseguiu. Débora foi tirada dos seus braços com dez dias de vida e, desde aquele episódio, Sueli tornou-se uma paciente cada vez mais agressiva. A cada data de aniversário da filha, rezava por ela e sonhava com o dia em que poderia tocar a menina e ver de perto alguém que, afinal, era um pedaço seu. Sueli apareceu no curta "Em Nome da Razão" cantando uma música. Ela morreu no início de janeiro de 2006, de infarto, aos 50 anos, privada de realizar seu sonho. Se tivesse aguentado por mais um ano teria sido encontrada por Débora, hoje com 27 anos, que a procurou desesperadamente, em 2007, logo que soube que sua mãe verdadeira era uma paciente em Barbacena.
Tráfico de Corpos
Percebendo que o cemitério municipal já não comportava o número cada vez mais alto de mortos no Colônia, funcionários do hospital começaram a traficar corpos para faculdades de medicina, que os usavam em aulas de anatomia.
“Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, internadas à força. Cerca de 70% não tinha diagnóstico de doença mental. Nos períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam a cada dia. Ao morrer, davam lucro, pois seus corpos eram vendidos às faculdades de medicina. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, e suas ossadas eram comercializadas”, investigou Daniela.
Mais de 1800 cadáveres foram vendidos para 17 faculdades de medicina entre 1969-1980.
A Imprensa Começa a Denunciar
- Fotos da Revista Cruzeiro: Em 1961, o fotógrafo Luiz Alfredo do Jornal O Cruzeiro retratou a realidade dentro do Hospital por um determinado período de tempo, trazendo a público o que ocorria no interior dos muros do Colônia. Eram as primeiras fotos feitas no local que chegavam a conhecimento público e chocaram.
Foi um convite de Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais, que levou o fotógrafo ao lado do repórter José Franco para conhecer as instalações do hospital. O que encontrou lá o marcou profundamente.
“Passamos pelo portão de ferro do manicômio e vimos uma gente maltrapilha andando largada pelo pátio em um silêncio sepulcral. Me distanciei do grupo de visita, comecei a fotografar sozinho e fiquei bastante chocado. Ainda havia democracia no país àquela época, em uma cidade linda conhecida como ‘Cidade das Rosas’. Como poderia haver algo desse tipo?”, relata Alfredo, que conversou com a VICE pelo telefone. Apesar disso tudo continuou como estava...
- Reportagens "Nos Porões da Loucura": Em 1979, o jornal O Estado de Minas publicou uma série de reportagens intitulada Nos Porões da Loucura relatando o que ocorria no hospital psiquiátrico Colônia de Barbacena. Os maus tratos aos internos foram divulgados nas fotografias de Jane Faria e nos textos de Hiram Firmino que mais tarde foram reunidos num livro. Infelizmente não ecntrei imagens essa série de reportagens...
- Fotografias Napoleão Xavier: Em 1979, tá todo mundo nu, as mulheres estão nuas, completamente violadas, em uma condição muito mais precária. As imagens do Napoleão são muito mais duras, porque as do Luiz Alfredo tem poesia ainda, mas as dele são totalmente indigestas. Beirava o insuportável já em 61, imagina em 79...
Curta: Em Nome da Razão: documentário brasileiro de 1979 do cineasta Helvécio Ratton. O documentário é todo filmado em preto e branco, mostrando o cotidiano dos pacientes internados no Hospital Colônia de Barbacena. O documentário mostra relatos de pacientes sobre a realidade no Hospital, possui como técnica cinematográfica o documentário denúncia, que evidencia, através da edição de depoimentos uma determinada realidade social. O diretor não se furta em fazer comentários durante o desenvolvimento das cenas, que mostram, por exemplo um interno no chão, quando o diretor denuncia a locução dizendo "...o ócio é absoluto".
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Que Fim Levou?
O curta, as reportagens da série e as fotos de Napoleão Xavier fizeram o debate começar. Junta-se a isso o psiquiatra italiano Franco Basaglia, que teve a chance de visitá-lo em 1979 chegou a comparar o local a um campo de concentração nazista e exigiu seu fechamento imediato.
Isso tudo fez ocorrer a mobilização dos trabalhadores da saúde mental, das grandes denúncias. Foi todo este movimento que deu origem à reforma psiquiátrica em Minas, que mais tarde alcança outros estados brasileiros.
O fechamento do Colônia só ocorreria anos mais tarde, durante a década de 80.
A casa funciona até hoje sob a administração da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) e conta com 160 pacientes daquela época, e chama-se Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. Foram construídos módulos residenciais na unidade, hoje transformada em hospital regional. Muitos pacientes moram nestes módulos.
Das 33 crianças, somente quatro estão vivas, entre eles Silvio Savat, que deu entrada na Colônia com cerca de 9 anos. Ele foi fotografado por Napoleão Xavier, em 1979, aos 11 anos, vestido de mulher e com o corpo coberto de moscas na colônia deu ao autor da foto a impressão de ver um cadáver. Outra sobrevivente é Maria Cláudia Geijo, que chegou à instituição, em 1974, aos 13 anos de idade, e permanece internada até hoje.
A maior parte do grupo foi transferido, a pedido do psiquiatra Jairo Toledo, para o Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, em Belo Horizonte, em 1980, atual Centro Psíquico da Adolescência e Infância, onde Silvio, aos 43 anos, ainda recebe atendimento no Lar Abrigado. "O Silvio, como os outros, chegou aqui imundo. Vieram para passar um dia e acabaram ficando a vida inteira. Quem os recebeu ficou chocado com o estado dos vinte e tantos meninos de Barbacena. Aqui eles tiveram que aprender até como usar o banheiro. Fizemos todo um trabalho de resgate da cidadania, inclusive com a retirada de documentos que eles não tinham. Nenhum dos quatro que ainda estão vivos fala, mas a gente entende o que eles querem, inclusive seus gritos. O bonito de verdade é que eles não têm mais o olhar perdido", afirmou a coodernadora do Lar Abrigado, Mercês Hatem Osório.
Em 1996, anos após seu fechamento, o Colônia foi reaberto, desta vez transformado no "Museu da Loucura".
O Museu da Loucura
Em 1996, em memória às vitimas do Colônia, foi inaugurado o Museu da Loucura, no torreão do hospital. A instituição é conhecida por abrigar um acervo que conta a história do primeiro hospital psiquiátrico de Minas Gerais. O local reúne textos, fotografias, documentos, objetos, equipamentos e instrumentação cirúrgica, que relatam a história do tratamento do paciente com sofrimento mental.
Em 2014 ele passou por uma revitalização e ficou fechado por quase 2 anos. "Levamos cerca de um ano nas obras físicas do edifício e mais oito meses para a instalação da exposição. A história e o acervo são os mesmos, mas agora são apresentados em um conceito diferente, através de recursos audiovisuais e tecnológicos que, até então, não eram possíveis", contou o curador.
Em 2016 mais uma revitalização, desta vez
A instituição recebe uma média de 1.100 visitantes por mês. E em 18 anos já recebeu 131.156 visitantes registrados no livro de assinaturas.
O Museu da Loucura funciona na Avenida 14 de agosto, sem número, no Bairro Floresta, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB). O local abre de terça-feira a domingo, das 8h às 12h e das 13h às 18h.
Holocausto Brasileiro (Livro e Documentário)
Os horrores do local acabaram sendo novamente divulgados a partir do livro Holocausto brasileiro, lançado em 2013, escrito pela jornalista Daniela Arbex. O livro retrata os maus-tratos da história do Hospital Colônia de Barbacena administrado pela FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) através do depoimento de ex-funcionários e pessoas ligadas diretamente ao dia-a-dia do funcionamento do local. Foi lançado pela Geração Editorial e ganhou segundo lugar no prêmio Jabuti na categoria livro-reportagem.
Em 2016 foi lançado o documentário Holocausto Brasileiro (HBO e Vagalume Filmes, 2016), filme baseado no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex, lançado em 2013. Conta a história vexatória do Hospital Colônia, em Barbacena, no interior de Minas Gerais (MG). Ele foi exibido no canal Max da HBO.
Inclusive no documentário foi mostrado que alguns dos meninos mostrados no curta "Em Nome da Razão" estavam vivendo sob o cuidado de uma senhora.
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Fontes (acessadas em 11/05/2018)
- Documentário Holocausto Brasileiro
- Wikipedia.pt: Hospital Colônia de Barbacena
- Wikipedia.pt: Holocausto brasileiro (livro)
- Wikipedia.pt: Em Nome da Razão
- Universidade Federal de Minas Gerais
- Vice: O Luiz Alfredo Fotografou o Holocausto Brasileiro
- Vice: ‘Holocausto Brasileiro’, o angustiante documentário sobre um genocídio no maior hospício do Brasil
- G1: Museu da Loucura é reaberto com objetivo de conscientizar a sociedade
- G1: Revitalização do Museu da Loucura é entregue nesta quinta em Barbacena
- Mundo Estranho: O que foi a tragédia do Hospital Colônia de Barbacena?
- Tribuna de Minas: 33 crianças viveram horrores da Colônia
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Em Minas Gerais, na cidade de Barbacena, existiu o Hospital Colônia de Barbacena, um local onde durante décadas, pessoas que problemas psiquiátricos foram enviadas para o local e recebiam tratamentos desumanos, tanto que mais de 60.000 mil pessoas morreram no local! É uma história triste do nosso país e é comparada muitas vezes a um campo de concentração...
Assombrados, chegou a hora de falarmos de um capítulo triste da história do nosso Brasil, vamos falar do Hospital Colônia de Barbacena, um tema muito pedido por vocês. Eu não conhecia o caso, assim como a maioria dos que vão ler esta postagem ou ver o vídeo que fiz. É horripilante, chocante e revoltante. Vamos saber mais do assunto...
A História do Local
Em 1903, Barbacena, MG, ganhou a alcunha de “Cidade dos Loucos”, graças à inauguração de sete instituições psiquiátricas no município. Na época, estâncias de clima ameno, como Barbacena, eram vistas como propícias para o tratamento de doenças mentais. Uma dessas iniciativas era o Hospital Colônia. A elite do Rio de Janeiro, que era uma cidade considerada insalubre, vinha para Barbacena se tratar, descansar. Mas, com o tempo, o que era planejado como uma instituição médica tornou-se um matadouro partir de 1930, o que se estendeu até 1980.
O manicômio era formado por dezesseis pavilhões independentes, tendo cada um deles a sua função específica: Pavilhão "Zoroastro Passos" para mulheres indigentes; Pavilhão "Antônio Carlos" para homens indigentes; Pavilhão "Afonso Pena"; Pavilhão "Milton Campos"; Pavilhão "Rodrigues Caldas" e Pavilhão "Júlio Moura".
Tendo inicialmente cerca de 200 leitos. O Colônia estava operando muito acima de sua capacidade normal, contanto com em média 5 mil pacientes na década de 1950 - Há um relato, do Doutor Jairo Toledo, que em um único dia, dezessete pacientes vieram a morrer durante a madrugada, vítimas do intenso frio.
No período em que houve o maior número de mortes, entre as décadas de 1960 e 1970, o que acontecia no hospital chegou a ser chamado de "Holocausto Brasileiro". Estima-se que pelo menos 60 mil pessoas tenham morrido no Hospital Colônia de Barbacena.
Junto ao hospital, com uma área aproximada de 8 mil metros quadrados, foi construído na mesma época um cemitério, designado de "Cemitério da Paz".
Quem era Enviado para Lá?
Enquanto o plano do Hospital Colônia era primariamente atender a pessoas com transtornos mentais, o local acabou por tornar-se um campo de extermínio para aqueles que não se adequavam aos padrões normativos da época ou não atendiam aos interesses políticos de classes dominantes.
Cerca de 70% dos pacientes do Colônia não possuíam diagnóstico de transtorno psicológico algum. Muitos dos pacientes eram apenas alcoólatras, andarilhos, amantes de políticos, crianças indesejadas, epiléticos, inimigos políticos da Elite local, prostitutas, homossexuais, vítimas de estupro e pessoas que simplesmente não se adequavam ao padrão normativo da época, como homens tímidos e mulheres com senso de liderança ou que não desejavam casar-se. Boa parte da população do Hospital Colônia também era da etnia negra.
De hospital psiquiátrico, a instituição virou depósito de gente indesejada.
Os pacientes eram separados por sexo, idade e características físicas. Como o Colônia não tratava apenas pessoas da cidade, muitas vinham de fora, desembarcando de trem. Em 1933, o escritor Guimarães Rosa, que trabalhou brevemente como médico no Colônia, chamou aquilo de “trem de doido”. Anos depois, o cenário rendeu comparações inevitáveis com os campos de concentração nazistas, já que eles também eram abastecidos com trens.
Crianças que cresceram dentro do Colônia jamais aprenderam a falar, ler ou escrever e contavam com a ajuda de bons-samaritanos no local para realizar atividades mais básicas.
- Ócio terrível
- Eram forçados a trabalhar manualmente, muitas vezes sem receber nada ou em troca de maços de cigarro.
- Dormir sobre folhas de capim. Formigas saiam dessas folhas e mordiam os pacientes
- Precisavam lidar com estupros, torturas físicas e psicológicas
- Eram submetidos à terapia de choque e duchas escocesas sem nenhuma razão aparente, tal tortura era aplicada com o propósito de servir apenas como castigo ou devido à perseguição oriunda de falta de afinidade entre pacientes e funcionários. Muitos não resistiam e acabavam falecendo.
- Devido a superpopulação, os internos andavam parcialmente ou completamente nus e eram expostos às baixas temperaturas de Barbacena durante a noite. Em uma tentativa de sobreviver, buscavam aquecer-se dormindo em círculos, mas ainda assim muitos padeceram por conta de hipotermia ou sufocados.
- Não existia um sistema de água encanada ou suprimento de alimentos que abastecessem o alto número de pacientes. Muitos banhavam-se ou bebiam de um esgoto a céu aberto dentro do local.
- Para proteger seus bebês que eram separados das mães após algum determinado tempo, grávidas cobriam a si mesmas com fezes, evitando que funcionários e outros pacientes se aproximassem.
- Doentes eram abandonados em seus leitos para morrer.
As Crianças
Crianças também ficavam internadas ou nasciam no local...
- As Crianças de Oliveira: Trinta e três meninos e meninas do hospital psiquiátrico da cidade de Oliveira (MG) - na verdade uma enfermeira disse que foram quase 140 - , que havia sido extinto nos anos 1970, foram transferidos para a unidade. Lá eles sentiram na pele os maus-tratos das correntes, da camisa de força, do encarceramento e do abandono.
As crianças eram mantidas nos pavilhões e recebiam tratamento idêntico ao oferecido aos adultos, permanecendo, inclusive, no meio deles.
- Crianças Nascidas no Local: Ocorriam relações entre pacientes e muitos eram estuprados. As vezes as mulheres engravidavam, e os "filhos da loucura", – cerca de três dezenas – eram doados logo após o nascimento sem que suas mães biológicas tivessem a chance de abraçá-los. Compreensível que, depois disso, muitas mulheres tivessem, de fato, enlouquecido.
Como foi o caso de Sueli Aparecida Resende,que deu entrada na unidade em 1971, aos 8 anos de idade, – ela era uma das crianças de Oliveira -, em função de crises de epilepsia. Engravidou dentro do hospital, 19 anos mais tarde, quando tinha 27 anos. Deu à filha o nome Débora Aparecida e lutou como uma leoa para amamentar sua cria. Não conseguiu. Débora foi tirada dos seus braços com dez dias de vida e, desde aquele episódio, Sueli tornou-se uma paciente cada vez mais agressiva. A cada data de aniversário da filha, rezava por ela e sonhava com o dia em que poderia tocar a menina e ver de perto alguém que, afinal, era um pedaço seu. Sueli apareceu no curta "Em Nome da Razão" cantando uma música. Ela morreu no início de janeiro de 2006, de infarto, aos 50 anos, privada de realizar seu sonho. Se tivesse aguentado por mais um ano teria sido encontrada por Débora, hoje com 27 anos, que a procurou desesperadamente, em 2007, logo que soube que sua mãe verdadeira era uma paciente em Barbacena.
Sueli Aparecida Resende em cena do curta "Em Nome da Razão". |
Tráfico de Corpos
Percebendo que o cemitério municipal já não comportava o número cada vez mais alto de mortos no Colônia, funcionários do hospital começaram a traficar corpos para faculdades de medicina, que os usavam em aulas de anatomia.
“Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, internadas à força. Cerca de 70% não tinha diagnóstico de doença mental. Nos períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam a cada dia. Ao morrer, davam lucro, pois seus corpos eram vendidos às faculdades de medicina. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, e suas ossadas eram comercializadas”, investigou Daniela.
Mais de 1800 cadáveres foram vendidos para 17 faculdades de medicina entre 1969-1980.
A Imprensa Começa a Denunciar
- Fotos da Revista Cruzeiro: Em 1961, o fotógrafo Luiz Alfredo do Jornal O Cruzeiro retratou a realidade dentro do Hospital por um determinado período de tempo, trazendo a público o que ocorria no interior dos muros do Colônia. Eram as primeiras fotos feitas no local que chegavam a conhecimento público e chocaram.
Foi um convite de Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais, que levou o fotógrafo ao lado do repórter José Franco para conhecer as instalações do hospital. O que encontrou lá o marcou profundamente.
“Passamos pelo portão de ferro do manicômio e vimos uma gente maltrapilha andando largada pelo pátio em um silêncio sepulcral. Me distanciei do grupo de visita, comecei a fotografar sozinho e fiquei bastante chocado. Ainda havia democracia no país àquela época, em uma cidade linda conhecida como ‘Cidade das Rosas’. Como poderia haver algo desse tipo?”, relata Alfredo, que conversou com a VICE pelo telefone. Apesar disso tudo continuou como estava...
Paciente bebendo água de esgoto! |
Pacientes em suas camas de capim |
Um paciente no completo ócio, no sol |
Paciente em sua cama de capim. Repare na sola do pé. |
- Reportagens "Nos Porões da Loucura": Em 1979, o jornal O Estado de Minas publicou uma série de reportagens intitulada Nos Porões da Loucura relatando o que ocorria no hospital psiquiátrico Colônia de Barbacena. Os maus tratos aos internos foram divulgados nas fotografias de Jane Faria e nos textos de Hiram Firmino que mais tarde foram reunidos num livro. Infelizmente não ecntrei imagens essa série de reportagens...
- Fotografias Napoleão Xavier: Em 1979, tá todo mundo nu, as mulheres estão nuas, completamente violadas, em uma condição muito mais precária. As imagens do Napoleão são muito mais duras, porque as do Luiz Alfredo tem poesia ainda, mas as dele são totalmente indigestas. Beirava o insuportável já em 61, imagina em 79...
Curta: Em Nome da Razão: documentário brasileiro de 1979 do cineasta Helvécio Ratton. O documentário é todo filmado em preto e branco, mostrando o cotidiano dos pacientes internados no Hospital Colônia de Barbacena. O documentário mostra relatos de pacientes sobre a realidade no Hospital, possui como técnica cinematográfica o documentário denúncia, que evidencia, através da edição de depoimentos uma determinada realidade social. O diretor não se furta em fazer comentários durante o desenvolvimento das cenas, que mostram, por exemplo um interno no chão, quando o diretor denuncia a locução dizendo "...o ócio é absoluto".
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Que Fim Levou?
O curta, as reportagens da série e as fotos de Napoleão Xavier fizeram o debate começar. Junta-se a isso o psiquiatra italiano Franco Basaglia, que teve a chance de visitá-lo em 1979 chegou a comparar o local a um campo de concentração nazista e exigiu seu fechamento imediato.
Isso tudo fez ocorrer a mobilização dos trabalhadores da saúde mental, das grandes denúncias. Foi todo este movimento que deu origem à reforma psiquiátrica em Minas, que mais tarde alcança outros estados brasileiros.
O fechamento do Colônia só ocorreria anos mais tarde, durante a década de 80.
A casa funciona até hoje sob a administração da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) e conta com 160 pacientes daquela época, e chama-se Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. Foram construídos módulos residenciais na unidade, hoje transformada em hospital regional. Muitos pacientes moram nestes módulos.
Das 33 crianças, somente quatro estão vivas, entre eles Silvio Savat, que deu entrada na Colônia com cerca de 9 anos. Ele foi fotografado por Napoleão Xavier, em 1979, aos 11 anos, vestido de mulher e com o corpo coberto de moscas na colônia deu ao autor da foto a impressão de ver um cadáver. Outra sobrevivente é Maria Cláudia Geijo, que chegou à instituição, em 1974, aos 13 anos de idade, e permanece internada até hoje.
A maior parte do grupo foi transferido, a pedido do psiquiatra Jairo Toledo, para o Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, em Belo Horizonte, em 1980, atual Centro Psíquico da Adolescência e Infância, onde Silvio, aos 43 anos, ainda recebe atendimento no Lar Abrigado. "O Silvio, como os outros, chegou aqui imundo. Vieram para passar um dia e acabaram ficando a vida inteira. Quem os recebeu ficou chocado com o estado dos vinte e tantos meninos de Barbacena. Aqui eles tiveram que aprender até como usar o banheiro. Fizemos todo um trabalho de resgate da cidadania, inclusive com a retirada de documentos que eles não tinham. Nenhum dos quatro que ainda estão vivos fala, mas a gente entende o que eles querem, inclusive seus gritos. O bonito de verdade é que eles não têm mais o olhar perdido", afirmou a coodernadora do Lar Abrigado, Mercês Hatem Osório.
Em 1996, anos após seu fechamento, o Colônia foi reaberto, desta vez transformado no "Museu da Loucura".
A coordenadora do Lar Abrigado, Mercês Hatem Osório, em cena do documentário "Holocausto Brasileiro". |
O Museu da Loucura
Em 1996, em memória às vitimas do Colônia, foi inaugurado o Museu da Loucura, no torreão do hospital. A instituição é conhecida por abrigar um acervo que conta a história do primeiro hospital psiquiátrico de Minas Gerais. O local reúne textos, fotografias, documentos, objetos, equipamentos e instrumentação cirúrgica, que relatam a história do tratamento do paciente com sofrimento mental.
Em 2014 ele passou por uma revitalização e ficou fechado por quase 2 anos. "Levamos cerca de um ano nas obras físicas do edifício e mais oito meses para a instalação da exposição. A história e o acervo são os mesmos, mas agora são apresentados em um conceito diferente, através de recursos audiovisuais e tecnológicos que, até então, não eram possíveis", contou o curador.
Em 2016 mais uma revitalização, desta vez
A instituição recebe uma média de 1.100 visitantes por mês. E em 18 anos já recebeu 131.156 visitantes registrados no livro de assinaturas.
O Museu da Loucura funciona na Avenida 14 de agosto, sem número, no Bairro Floresta, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB). O local abre de terça-feira a domingo, das 8h às 12h e das 13h às 18h.
Museu da Loucura (Foto: Museu Mariano Procópio/ Arquivo) |
Holocausto Brasileiro (Livro e Documentário)
Os horrores do local acabaram sendo novamente divulgados a partir do livro Holocausto brasileiro, lançado em 2013, escrito pela jornalista Daniela Arbex. O livro retrata os maus-tratos da história do Hospital Colônia de Barbacena administrado pela FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) através do depoimento de ex-funcionários e pessoas ligadas diretamente ao dia-a-dia do funcionamento do local. Foi lançado pela Geração Editorial e ganhou segundo lugar no prêmio Jabuti na categoria livro-reportagem.
Em 2016 foi lançado o documentário Holocausto Brasileiro (HBO e Vagalume Filmes, 2016), filme baseado no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex, lançado em 2013. Conta a história vexatória do Hospital Colônia, em Barbacena, no interior de Minas Gerais (MG). Ele foi exibido no canal Max da HBO.
Inclusive no documentário foi mostrado que alguns dos meninos mostrados no curta "Em Nome da Razão" estavam vivendo sob o cuidado de uma senhora.
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Fontes (acessadas em 11/05/2018)
- Documentário Holocausto Brasileiro
- Wikipedia.pt: Hospital Colônia de Barbacena
- Wikipedia.pt: Holocausto brasileiro (livro)
- Wikipedia.pt: Em Nome da Razão
- Universidade Federal de Minas Gerais
- Vice: O Luiz Alfredo Fotografou o Holocausto Brasileiro
- Vice: ‘Holocausto Brasileiro’, o angustiante documentário sobre um genocídio no maior hospício do Brasil
- G1: Museu da Loucura é reaberto com objetivo de conscientizar a sociedade
- G1: Revitalização do Museu da Loucura é entregue nesta quinta em Barbacena
- Mundo Estranho: O que foi a tragédia do Hospital Colônia de Barbacena?
- Tribuna de Minas: 33 crianças viveram horrores da Colônia