Por Marco Faustino
De vez em quando, invariavelmente aparece alguém, em algum lugar do mundo, que ressuscita o caso envolvendo um homem supostamente chamado "Edward Mordrake" (sendo que alguns sites o chamam de Edward "Mordake"). Aliás, ao longo do tempo, algumas pessoas o apelidaram de o "Homem da Face Demoníaca". Para vocês terem uma ideia da amplitude desse caso, a história sobre esse ilustre personagem, um tanto quanto folclórico, já foi tema de uma curta matéria e um vídeo basicamente narrando sua história, em março de 2013. Na época, eu sequer conhecia ou fazia parte de alguma forma do "AssombradO" e, assim como vocês, acompanhei toda a narrativa, que rendeu e continua rendendo centenas de milhares de visualizações. No entanto, durante esses últimos cinco anos, a história de "Edward Mordrake", dada como verdadeira, alimentou uma crença desenfreada baseada em evidências anedóticas, visto que alguns supostos relatos sobre a "segunda face" presente na nuca de Edward eram extremamente assustadores. Dizia-se, que Edward alegava, que a mesma era o próprio "demônio" e que, quando estava triste, a face sorria, sendo que algumas vezes até mesmo gargalhava durante a noite. Rotineiramente, Edward seria acordado na madrugada por sussurros da "face demoníaca", mediante palavras de baixo calão, e um choro enlouquecedor, que tinha como objetivo perturbar claramente o pobre Edward. Não aguentando mais a situação, ele teria tirado sua própria vida aos 23 anos. Algumas pessoas diziam, que ele teria se envenenado, já outras contavam, que teria disparado uma bala no meio da testa de sua segunda face. Impressionante, não é mesmo?
Assim sendo, resolvi revisitar essa história para ilustrar de maneira bem didática para vocês, a diferença que existe entre contar algo, que supostamente teria acontecido, e o fato de algo realmente ter acontecido. Estamos vivendo em uma época, onde a informação de qualidade vem perdendo cada vez mais espaço para vídeos aleatórios de contas e páginas destinadas a propagação de conteúdo viral nas redes sociais, que não acrescentam em absolutamente nada na vida das pessoas que disseminam os mesmos. Uma época, um tanto quanto obscura, em que grandes veículos de comunicação apenas traduzem o que é divulgado por agências de notícias ou sites de curiosidades gerais, não fornecendo qualquer análise mais aprofundada ou refutações. Apenas publicam um determinado material da forma que tiver maior repercussão ao engajamento do público, não importando o quão ridículo, falso ou sensacionalista seja a manchete ou o conteúdo. Tenham sempre muito cuidado, principalmente quando algo é fornecido a vocês como sendo baseado na publicação de um livro ou estudo científico. Apesar da absoluta maioria envolver realmente uma pesquisa séria, alguns escritores ou pesquisadores visam muito mais a ampla propagação para posteriormente angariar fundos de pesquisa, do que realmente fornecer uma resposta mais concreta e fidedigna para a população, e a comunidade científica como um todo. Resumindo? Nunca acredite em uma única fonte, ainda mais quando um determinado assunto for considerado polêmico. Enfim, chegou a hora de revisitar "Edward Mordrake". Vamos saber mais sobre esse assunto?
A Origem Mais Conhecida e Mais Comentada Sobre a História de "Edward Mordrake": O "Homem da Face Demoníaca"
Inicialmente, é muito importante que vocês saibam, que Edward Mordrake seria considerado atualmente um indivíduo apócrifo de uma lenda urbana. Parece "grego", mas o que isso significa na prática? Bem, ele seria uma pessoa, que nunca teve sua identidade provada, ou seja, de origem suspeita ou duvidosa, envolvida em uma pequena história de caráter fantasioso, amplamente divulgado de forma oral, através de livros, vídeos ou pela imprensa, sendo algo, portanto, folclórico.
Imagem mais conhecida atribuída a Edward Mordrake, porém iremos falar sobre a mesma apenas no final desta matéria |
Como forma de dar autenticidade a história de Edward Mordrake, muitos ainda citam um livro centenário chamado "Anomalies and Curiosities of Medicine" ("Anomalias e Curiosidades da Medicina"), que foi originalmente publicado em outubro de 1896.
"Uma das histórias mais estranhas e melancólicas da deformidade humana é a de Edward Mordake, que dizem ter sido o herdeiro de um dos pariatos mais nobres da Inglaterra. Ele nunca reivindicou o título e, em vez disso, tirou a própria vida em seu vigésimo terceiro ano de vida. Ele vivia completamente recluso, recusando até mesmo as visitas de seus próprios familiares. Ele era um jovem de muita capacidade, um ávido estudioso e uma músico de rara habilidade. Sua figura era notável por sua graça, e seu rosto - isto é, seu rosto natural - era de beleza grega. Porém, na parte de trás da cabeça havia outro rosto, a de uma linda garota, 'adorável como um sonho, medonho como um demônio'. O rosto feminino era uma mera máscara, 'ocupando apenas uma pequena porção da parte posterior do crânio, mas exibindo todos os sinais de inteligência, de um tipo maligna, no entanto'. A mesma seria vista sorrindo e sendo sarcástica, enquanto Mordake chorava. Os olhos seguiam os movimentos do espectador, e os lábios 'mexiam sem parar'. Nenhuma voz era audível, mas Mordake dizia que, durante seu repouso, à noite, eram proferidos sussurros abomináveis do seu 'gêmeo diabólico', tal como ele chamava, 'que nunca dorme, mas que sempre falava comigo sobre coisas, que são faladas somente no Inferno. Nenhuma imaginação pode conceber as terríveis tentações que ele me impõe. Por alguma imoralidade impiedosa dos meus antepassados, sou o tecido para este espírito maligno - certamente um demônio. Eu imploro e suplico a vocês, que extirpem o semblante humano, mesmo que eu morra por isso'. Essas teriam sido as palavras do infeliz Mordake para Manvers e Treadwell, seus médicos. Apesar de ser constantemente vigiado, ele teria conseguido obter veneno, razão de sua morte, deixando uma carta pedindo que a 'face demoníaca' fosse destruída ainda do enterro 'para evitar que os abomináveis sussurros continuassem em seu túmulo'. A seu pedido, ele foi sepultado em um local de descarte de lixo, sem nenhuma lápide ou menção para identificar seu túmulo."
Páginas 188 e 189 do livro "Anomalies and Curiosities of Medicine" ("Anomalias e Curiosidades da Medicina"), que foi originalmente publicado em outubro de 1896. Clique aqui para acessar gratuitamente o livro completo. |
De qualquer forma, a inclusão dessa versão da história de Edward Mordrake em uma publicação médica (em vez de, digamos, uma coleção de histórias curtas) adicionou um ar de autenticidade à narrativa, não é mesmo? Afinal de contas, algumas pessoas têm uma certa tendência a acreditar em qualquer coisa, que seja contada por médicos, pesquisadores ou ex-astronautas da NASA, por exemplo, sem questionar ou pesquisar absolutamente nada sobre o assunto, como se o material divulgado fosse proveniente de verdadeiros deuses. Imaginem, então, toda essa situação aplicada ao século XIX. Era muito pior.
Edição de 1896 do livro "Anomalies and Curiosities of Medicine" |
Questionamentos e Dúvidas Sobre o Caso "Edward Mordrake"
Existe uma condição médica real, chamada "Craniopagus parasiticus" (um tipo raro de xifopagia, que ocorre entre 4 a 6 nascimentos humanos em cada dez milhões), cujos sintomas apresentam uma semelhança muito básica e rasa com os descritos no caso envolvendo Edward Mordrake. É uma complicação extremamente rara, que ocorre com gêmeos xipófagos (também chamados de conjugados ou siameses), quando a cabeça de um gêmeo sem corpo desenvolvido fica unida (de forma parasitária) à cabeça de um gêmeo com corpo desenvolvido (chamado de "gêmeo dominante").
Para vocês terem uma ideia, em um caso relatado no períodico "Journal of Medical Case Reports", em 2016, foi mencionado que somente cerca de 10 casos teriam sido documentados na literatura médica. Além disso, a maioria dos bebês que possuem a condição "Craniopagus parasiticus" morrem dentro do útero materno ou durante o trabalho de parto. Entre os 10 casos documentados, apenas 3 teriam sobrevivido com a ajuda da medicina moderna. Desses 3 casos, dois morreram antes dos dois anos de idade, apesar das tentativas cirúrgicas de salvar a vida do gêmeo dominante. O terceiro, conhecido como o "Menino de Duas Cabeças de Bengala", teria vivido até os quatro anos de idade e, aparentemente, estava em bom estado de saúde até ser mordido por uma cobra e morrer.
Manar Maged nasceu com a condição médica chamada "Craniopagus parasiticus". Em 19 de fevereiro de 2005, Manar sofreu uma operação de 13 horas para remover sua gêmea parasitária. Em meados de abril, a Reuters informou que Manar havia sido saído da terapia intensiva e estava se alimentando normalmente. Posteriormente, ela passou por cinco cirurgias para a inserção de válvulas para drenar o excesso de fluídos do cérebro. Infelizmente, em 25 de março de 2006, poucos dias antes de completar 2 anos de idade, ela faleceu (clique aqui). |
Outro detalhe em relação a "face demoníaca"é que, embora a mesma não possuísse voz audível, assim como acontece nos casos de "Craniopagus parasiticus", dizia-se que mesma apresentava traços de inteligência, ou seja, que a mesma costumava proferir sussurros abomináveis durante a noite, e que costumava rir e ser sarcástica, algo que não acontece nos casos de "Craniopagus parasiticus". Os relatos (evidências anedóticas) sobre o "Menino de Duas Cabeças de Bengala" mencionavam que a face vestigial conseguia fazer "caretas", e os olhos eram observados se movendo. De qualquer forma, embora pudesse haver algum tipo de consciência rudimentar, não havia sinais de inteligência na face vestigial. Lembrando que o caso do "Menino de Duas Cabeças de Bengala" foi relatado em 1790, na Índia, ou seja, cerca de 106 anos antes da publicação de George M. Gould e Walter L. Pyle.
Uma ilustração do usuário "kagomelovesinu" publicada no site "DevianArt" em 2009. A imagem retrata uma visão bem utópica de como seria Manar Maged com sua gêmea parasitária |
Os mecanismos por trás dessa malformação ainda não são totalmente compreendidos. Alguns pesquisadores acreditam, que isso seja uma outra forma rara de xipofagia, porém atualmente sabe-se que a diprosopia é causada pela atividade anormal de uma proteína chamada "SHH". A SHH e seu gene correspondente desempenham um papel importante na sinalização do padrão craniofacial durante o desenvolvimento embrionário, ou seja, a princípio, a diprosopia não seria um caso envolvendo xipofagia. Embora isso seja um pouco mais comum do que a condição "Craniopagus parasiticus" (com pouco menos de 50 casos documentados desde meados do século XIX), a diprosopia tem uma taxa de sobrevivência igualmente baixa, sendo que a maioria dos bebês morrem dentro do útero materno ou durante o trabalho de parto. Raramente algum caso sobrevive mais do que alguns minutos ou horas de vida.
Em 2008, por exemplo, tivemos o caso envolvendo a pequena Lali Singh, que nasceu na Índia com essa malformação. E, por negligência da família ao evitar que os médicos tentassem tratá-la por considerá-la a reencarnação de uma divindade, Lali acabou morrendo com apenas dois meses de idade, vítima de um ataque cardíaco. Vocês também conferir um documentário completo sobre esse caso, que foi publicado em março de 2016, no canal "Real Stories", no YouTube (clique aqui)
Em 2008, por exemplo, tivemos o caso envolvendo a pequena Lali Singh, que nasceu na Índia com essa malformação e... |
...por negligência da família ao evitar que os médicos tentassem tratá-la por considerá-la a reencarnação de uma divindade, Lali acabou morrendo com dois meses de idade, vítima de um ataque cardíaco. |
De qualquer forma, sempre tivemos outros motivos para desconfiarmos sobre toda essa história. Em primeiro lugar, toda a narrativa é muito melodramática, se distanciando, e muito, de algo científico. Em segundo lugar, de acordo com uma citação na edição nº 37 do periódico "The Theosophical Review", de 1906, os nomes dos supostos médicos de Edward Mordrake, Manvers e Treadwell, nunca apareceram no "Dictionary of National Biography", uma publicação de referência sobre as figuras mais notáveis da história britânica. Se eles eram médicos de um membro da nobreza britânica, certamente iriam aparecer em alguma edição dessa publicação, mas isso nunca aconteceu. Para completar, em 1958, o folclorista Paul Brewster solicitou aos leitores do periódico "Journal of the History of Medicine" maiores informações sobre Edward Mordrake, observando que "se o mesmo fosse um autêntico caso de teratologia, deveria haver fontes confiáveis nesse sentido". Nunca houve qualquer resposta positiva. Vale ressaltar que a teratologia é um ramo da ciência médica preocupado com o estudo da contribuição ambiental ao desenvolvimento pré-natal alterado, ou seja, estuda as causas, mecanismos e padrões do desenvolvimento anormal.
Mesmo diante de todos esses questionamentos, ou seja, indicativos claros que toda essa história teria sido criada em uma momento anterior a 1896, muitas revistas, livros, e posteriormente sites e fóruns na internet disseminaram essa história como sendo a mais absoluta verdade. Mesmo não sendo citada uma única fonte sequer, a absoluta maioria das pessoas abraçou o caso como sendo autêntico.
A Origem da História Publicada no Livro "Anomalies and Curiosities of Medicine" de 1896
Em 24 de abril de 2015, o historiador científico Alex Boese, criador do site "Museum of Hoaxes", resolveu ir atrás da origem da história publicada no livro "Anomalies and Curiosities of Medicine". Ele fez uma pesquisa por palavra-chave, no arquivo de notícias de jornais norte-americanos do século XIX, do site newspaper.com (requer uma assinatura paga para realizar essa pesquisa), e descobriu que a história de Mordake apareceu em um artigo escrito pelo poeta Charles Lotin Hildreth, que foi publicado em alguns jornais norte-americanos, no ano de 1895, ou seja aproximadamente um ano antes da publicação do livro dos médicos George M. Gould e Walter L. Pyle.
O artigo foi primeiramente publicado no jornal "Boston Sunday Post", em 8 de dezembro de 1895, e poucos dias depois foi publicado em diversos outros jornais, incluindo o "Parsons Daily Sun" (11 de dezembro), e "The Decatur Herald" (14 de dezembro). Intitulado "The Wonders of Modern Science: some half human monsters once thought to be of the Devil's brood" ("As Maravilhas da Ciência Moderna: alguns monstros metade humano já foram considerados proles do Diabo", em uma tradução livre para o português), o artigo descreve uma notável variedade de "aberrações humanas", cujos casos Charles Hildreth alegava terem sido encontrados em antigos relatórios da "Royal Scientific Society" ("Real Sociedade Científica").
Primeira parte do artigo publicado no jornal "Boston Sunday Post", em 8 de dezembro de 1895 |
Segunda parte do artigo publicado no jornal "Boston Sunday Post", em 8 de dezembro de 1895. Vocês podem conferí-lo, na íntegra, clicando aqui. |
O "Homem de Quatro Olhos de Cricklade" tinha dois pares de olhos, um acima do outro. Um homem chamado "Jackass Johnny" teria sido amaldiçoado com "um par de orelhas muito longas e peludas, exatamente como as de um burro". A "Aranha de Norfolk", por exemplo, era uma coisa monstruosa, que se arrastava sobre sua própria barriga com seis pernas peludas acrescidas de garras e uma cabeça humana. Para ajudar os leitores a imaginar como seriam esses seres, o artigo contava com algumas ilustrações.
Para ajudar os leitores a imaginar como seriam esses seres, o artigo de Charles Hildrethcontava com algumas ilustrações. |
visto que todo o trecho relacionado ao "Homem de Quatro Olhos de Cricklade" também foi copiado e, assim como no caso de Edward Mordrake, não foi dado nenhum crédito a Charles Hildreth.
A Realidade Sobre "Edward Mordrake": Tudo Não Passou de uma História Inventada por Parte de Charles Hildreth
O artigo publicado por Charles Hildreth tenta aparentar ser um texto de não ficção, e certamente foi apresentado aos leitores dessa forma. Evidentemente, na melhor das hipóteses, Gould e Pyle acreditaram que as histórias eram relatos verdadeiros de casos médicos antigos, visto que eles não apenas copiaram o trecho referente a "Edward Mordake", mas também o caso do "Homem de Quatro Olhos de Cricklade". Porém, ao analisarmos atentamente o artigo de Hildreth, percebemos o quão o mesmo é fantasioso. Em primeiro lugar, o que é essa "Real Sociedade Científica"? Será que ele quis se referir a "Real Sociedade de Londres"? Será que, talvez, ele inventou uma sociedade com um nome bem expressivo e pomposo, porém inexistente?
Se Charles Hildreth estivesse se referindo a "Real Sociedade de Londres", então seria possível localizar referências anteriores aos casos, que ele descreveu. Isso porque as primeiras transações da Real Sociedade foram todas digitalizadas, sendo possível pesquisar gratuitamente pela internet. Porém, esse não foi o caso. Esses personagens, tais com a "Mulher-Peixe de Lincoln" e a "Aranha de Norfolk" não são mencionados em lugar algum, exceto no artigo de Charles Hildreth. E, quando nos damos conta disso, é quando se torna evidente que o artigo de Hildreth era ficção, ou seja, tudo isso surgiu de sua imaginação, incluindo Edward Mordrake.
E, quando nos damos conta disso, é quando se torna evidente que o artigo de Hildreth era ficção, ou seja, tudo isso surgiu de sua imaginação, incluindo Edward Mordrake. |
Suas histórias curtas frequentemente circulavam entre os artigos acadêmicos, e muitos delas são o que descreveríamos atualmente como uma mera ficção científica. Até mesmo sua poesia (sendo boa parte inspirada em Edgar Allan Poe) mostra uma preocupação com temas góticos, e do "outro mundo". Assim sendo, uma peça de ficção sobre "monstros metade humanos" não seria algo estranho no mundo de Hildreth.
Um dos exemplos mais famosos é o caso da "Árvore Comedora de Gente de Madagascar". Em 1874, o jornal "New York World" publicou um artigo sobre essa árvore bizarra que comia carne humana. O texto era inteiramente ficcional, mas os leitores não sabiam disso e, durante décadas, diversas cópias do artigo continuaram a circular como se fossem verdade. Para vocês terem uma ideia, diversos exploradores gastaram fortunas e desperdiçaram muito tempo para tentar encontrar uma árvore que nunca existiu.
Trecho inicial do artigo publicado no jornal "New York World" em 28 de abril de 1874 |
Ironicamente, Charles Hildreth não viveu para ver o sucesso de sua criação. Ele morreu em agosto de 1896, aos 39 anos, antes da publicação do livro "Anomalies and Curiosities of Medicine". Porém, sem dúvida alguma, ele ficaria orgulhoso de que seu personagem tenha atraído a atenção e a imaginação de tantas pessoas, mesmo após 123 anos.
E as Fotos que Circulam na Internet? As Imagens Não São de Edward Mordrake?
Para terminar essa matéria, nada melhor do que falar rapidamente sobre as fotos que circulam na internet sobre "Edward Mordrake". Obviamente, vocês se lembram da primeira imagem publicada nesta matéria (desconsiderando a imagem de capa), não é mesmo? Aquela imagem em preto e branco, meio borrada, meio desfocada etc. Muitos tentam alegar que, aquela imagem seria a autêntica foto de Edward Mordrake, que não haveria qualquer tipo de manipulação digital ou qualquer outra forma de adulteração. A verdade é que o elemento contido na imagem é tão somente uma estátua de cera, ilustrando como teria sido a aparência de Edward Mordrake.
Existem diversas versões de estátuas de cera representando "Edward Mordrake" em museus e exposições ao redor do mundo. O fato de estar em preto e branco é meramente ilusório, justamente para fazer uma pessoa leiga acreditar que a mesma é antiga. Uma foto em preto e branco do século XIX não teria essa resolução e definição, a exemplo da foto de Joseph Merrick, o "Homem-Elefante"
Não existe nenhuma imagem do século XIX, que mostre a identidade de Mordrake até mesmo porque, conforme já sabemos, ele nunca existiu. |
Estátua de cera de "Edward Mordrake" exibida durante uma exposição realizada na Bratislávia, capital da Eslováquia, em janeiro do ano passado (clique aqui para ver mais fotos) |
A mais famosa das estátuas de cera de "Edward Mordrake" se encontra no Museu Panoptikum, em Hamburgo, na Alemanha, o mais antigo museu de cera do país. |
Também existem algumas outras imagens que circulam na internet, assim como a do personagem que aparece no terceiro e quarto episódios da quarta temporada de série de TV "American Horror Story" (2014), e até mesmo o que seria o crânio de Edward Mordrake, porém neste último caso trata-se apenas de uma escultura moderna, que foi originalmente publicada por um usuário chamado "EJShindler", no site DevianArt, em outubro de 2015.
Sabendo e tendo realmente vontade de usá-las, é possível ter uma pequena noção do que realmente acontecia em décadas ou séculos anteriores. Infelizmente, no entanto, nem todos tem a mesma disposição de mostrar cada um desses detalhes para vocês.
Até a próxima, AssombradOs!
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://hoaxes.org/images/hoaxarchive/mordake_article.jpg
http://hoaxes.org/weblog/comments/edward_mordake
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/hildreth_charles_lotin
https://archive.org/details/anomaliescuriosi00goul
https://books.google.com.br/books?id=VeoIAAAAIAAJ&dq=intitle:anomalies+intitle:and+intitle:curiosities+intitle:of+intitle:medicine&pg=PA258&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
https://catalog.hathitrust.org/Record/100488730
https://en.wikipedia.org/wiki/Diprosopus
https://web.archive.org/web/20080327214927/www.forteantimes.com/features/articles/148/the_twoheaded_boy_of_bengal.html
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5134060/
https://www.snopes.com/edward-mordrake/