Por Marco Faustino
A morte continua sendo um grande tabu para inúmeras pessoas e famílias, e por uma motivo bem simples: ninguém costuma desejar ou gostar muito de pensar na morte. Nesse sentido, certa vez comentamos sobre as águas de uma piscina de um centro esportivo da cidade de Redditch, que fica a cerca de 185 km a nordeste de Londres, capital da Inglaterra, que eram aquecidas por um crematório local. Em 2011, o governo local tentou aprovar a construção de uma piscina pública, integrada a um novo centro esportivo, que passaria a ser aquecida pelo calor de um forno crematório, vizinho do local. A ideia era simplesmente transportar o calor gerado pela incineração, que atinge uma temperatura de 800ºC, através de canos, ao invés de simplesmente ser liberado na atmosfera por uma chaminé. Na época, essa proposta surgiu tendo como objetivo economizar o equivalente a R$ 38.000 por ano com energia elétrica. E isso não era pouca coisa, visto que representava cerca de 40% do valor gasto pelo centro esportivo. Nem todo mundo, é claro, gostou dessa proposta. Simon Thomas, de uma funerária local chamada "Thomas Brothers Funeral", chegou a classificar o projeto de estranho, assustador e doentio. Ele não se sentia confortável em economizar dinheiro em benefício da morte de algum membro da família ou amigos. Aliás, para ele toda essa história seria um fracasso, e a piscina seria rejeitada pela população. Após muita discussão o projeto saiu do papel em 2013, e desde então tem gerado uma economia e um benefício significativo para toda a população local.
Em outubro do ano passado, também comentamos sobre um artista plástico chamado Justin Crowe, 28 anos, que possuía um estúdio em Santa Fé, no México, e que se tornou a primeira pessoa a incorporar cinzas humanas em um aparelho de jantar, no ano anterior, como parte de um projeto de arte chamado "Nourish". Porém, seus amigos gostaram tanto da ideia, que passaram a fazer pedidos customizados para eles. Assim sendo, ele transformou sua ideia em negócio, e a empresa dele, a "Chronicle Cremation Design", continua oferecendo até hoje a oportunidade das pessoas em manter seus amados por perto através de suas cinzas incorporadas em objetos de uso cotidiano, tais como: xícaras, canecas, tigelas ou castiçais (saiba mais: Artista Plástico Cria Aparelho de Jantar com Cinzas Humanas! - M.A. #58). Já em junho desse ano abordei um tema bem delicado: a dissolução dos corpos em uma solução alcalina. Sim, exatamente isso que você leu. Seu nome técnico é "hidrólise alcalina", porém devido a estranheza e polêmica em relação ao método, o mesmo vem até hoje sendo comercializado como "cremação verde." Apesar do tema, é uma matéria muito bonita e informativa. Vale a pena você conferir (leia mais: Dissolvendo os Mortos: Conheça o Estranho e Polêmico Método que Pretende Acabar com os Enterros e as Cremações no Mundo!).
Agora, eis que o Luiz de Freitas, integrante da nossa SSA (Sociedade Secreta dos AssombradOs) novamente nos alertou para uma matéria que foi publicada no dia 2 de setembro no Portal G1 com o seguinte título: "A empresa que está transformando pessoas mortas em discos de vinil". Sem dúvida alguma, achei um assunto bem interessante para trazer de maneira um pouco mais completa, é claro, maiores detalhes para vocês sobre o processo, os valores, e a opinião de eventuais clientes que pagaram pelo serviço. Afinal de contas, não é todo dia que ficamos sabendo de uma empresa que visa adicionar cinzas humanas em discos de vinil reproduzíveis. Pode parecer estranho, mas realmente são inseridas faixas de áudio nesses discos, que podem ser tocadas por quaisquer aparelhos destinados a reprodução de discos de vinil comuns. Incrível e meio mórbido, não é mesmo? Vamos saber mais sobre esse assunto?
A Recente Matéria Publicada Pela BBC Sobre Esse Assunto
A matéria publicada pelo G1, na verdade, é praticamente uma cópia do mesmo material publicado no site da rede britânica BBC, no dia 31 de agosto desse ano. O texto britânico (uma vez que é sempre melhor saber mais sobre um assunto a partir das fontes originais) começou com uma frase muito simbólica: "As palavras estão gravadas no vinil, embora isso seja mais do que uma gravação de memórias". As cinzas de uma senhora chamada Madge Hobson foram misturadas ao vinil juntamente com uma fotografia e detalhes de sua vida, que foram inclusos e impressos no encarte.
"Isso torna o registro familiar perfeito, que pode ser transmitido ao longo das gerações", disse Jason Leach, 46 anos, fundador da And Vinyly, a empresa responsável pela produção do disco.
O Sr. Hobson, um escultor de 69 anos, disse que sua mãe, devota fiel de uma igreja, aprovaria totalmente sua recordação. Ele disse que teve que medir a quantidade de cinzas (que estavam sendo mantidas em urna) e colocar uma grande colher de chá em diversos saquinhos plásticos, sendo que cada saquinho era destinado a um disco. Cerca de quize discos foram produzidos para familiares e amigos. Aliás, para o Sr. Hobson, a And Vinyly havia ajudado a manter a memória viva de sua mãe.
Cerca de quize discos foram produzidos para familiares e amigos. Aliás, para o Sr. Hobson, a And Vinyly havia ajudado a manter a memória viva de sua mãe. |
Jason Leach, cuja empresa está situada na cidade de Scarborough, no condado de North Yorkshire, na Inglaterra, começou a ponderar sobre as possibilidades de misturar cinzas humanas em discos há aproximadamente 10 anos. Não havia um plano de negócios. Ele estava apenas refletindo sobre a mortalidade, uma questão que ganhou força e ficou bem mais tênue, quando sua mãe começou a trabalhar em uma empresa funerária.
Não havia um plano de negócios. Ele estava apenas refletindo sobre a mortalidade, uma questão que ganhou força e ficou bem mais tênue, quando sua mãe começou a trabalhar em uma empresa funerária. |
Resumindo? não é que o disco seja feito inteiramente a partir de cinzas e nem que as cinzas se transformem em discos de vinil conforme os títulos tentam demonstrar (nitidamente para chamar a atenção do leitor). Existe uma grande diferença nesse aspecto.
"Existe um equilíbrio entre adicionar cinzas suficientes para ficarem visíveis, mas não tanto para afetar a rotação. Haverá, naturalmente, alguns estalos e crepitações extras provocadas pela inclusão das cinzas, mas gostamos disso, uma vez que é você", continuou.
Jason Leach, que é produtor musical e proprietário de um selo de músicas, atualmente produz cerca de dois discos com cinzas humanas por mês, usando os equipamentos que já possui. Contudo, ele está em processo de angariar mais recursos para atender à crescente demanda, e está se associando a empresas funerárias, que também vão passar a oferecer o serviço. Jason disse que era evidente, que existiam aquelas pessoas, que achavam tudo aquilo bem estranho e até mesmo assustador, mas que a maioria acabava mudando de ideia.
Conforme mencionei anteriormente, essa se tornou uma história tão fascinante envolvendo a música e a morte, que resolvi ir atrás de maiores informações para contar para vocês. A seguir, vocês conferem um pouco mais sobre a empresa And Vinyly!
Conheça Um Pouco Mais Sobre a Empresa Britânica "And Vinyly"!
Bem, é importante ter em mente que a And Vinyly não é uma empresa nova. A mesma foi fundada entre 2009 e 2010 pelo Jason Leach, que é empresário da indústria fonográfica do Reino Unido há quase 20 anos, assumindo funções de músico, produtor, e co-fundador de selos independentes tais como Subhead e House of Fix. Aliás, o nome da empresa é uma espécie de trocadilho para "And Finally" ("E, Finalmente", em português) ou "End Vinyly" ("Fim em Vinil"), nomes um tanto quanto sugestivos considerando a finalidade do seu empreendimento, não é mesmo?
Jason Leach é um empresário da indústria fonográfica do Reino Unido há quase 20 anos, assumindo funções de músico, produtor, e co-fundador de selos independentes tais como Subhead e House of Fix. |
A penúltima grande exposição na mídia internacional ocorreu em 2013, ocasião na qual Jason revelou um outro detalhe um tanto quanto inusitado para os sites Stoney Roads e Four Over Four. Aparentemente, Jason foi inspirado após duas situações bem peculiares. A primeira foi um episódio envolvendo seu pai tentando espalhar as cinzas do avô no mar, sendo que as cinzas voltaram em direção ao deck, que o pai estava, devido ao vento que soprava ao contrário. Essa não teria sido a única vez, visto que algo semelhante aconteceu quando a família resolveu ir de barco espalhar as cinzas do avô de Jason no mar, porém o vento novamente soprou na direção contrária, e na direção do Jason, ou seja, as cinzas do seu avô foram parar em seu rosto, uma experiência nada agradável.
A empresa de Jason Leach está situada na cidade de Scarborough, no condado de North Yorkshire, na Inglaterra, e possui cerca de 60 mil habitantes de acordo com o último censo realizado em 2011 |
Já em entrevista ao site Audigon, em 2013, Jason disse que, particularmente, ele adoraria ter sua própria recordação do seu bisavô, na qual ele pudesse ouvir a voz dele, ouvir o que ele gostava, a música, e os locais que eram importantes para ele. Ouvir o som real da voz de alguém, exatamente como era, ressoando dentro do seu quatro, falando de coisas que realmente importavam para elas era algo muito profundo e emocionante para ele. Jason adorava a ideia de que suas futuras gerações fossem capazes de ouvir sua voz, mesmo após 200 anos, ao simplesmente colocar uma agulha em um disco de vinil criado por ele.
Ouvir o som real da voz de alguém, exatamente como era, ressoando dentro do seu quatro, falando de coisas que realmente importavam para elas era algo muito profundo e emocionante para o Jason Leach |
No site oficial da empresa, é possível perceber que o pacote básico começa a partir de £3,000 (talvez o valor de £900 seja para animais de estimação). Esse valor é referente até 30 discos, que inclui todo o trabalho de gravação, inclusão das cinzas, encarte etc. Já as faixas podem incluir músicas, sons da natureza, a própria voz do ente querido (previamente gravada, é claro) ou até mesmo um completo silêncio para que as pessoas escutem apenas os estalos e as crepitações provocadas pelas cinzas, desde que tudo isso não exceda 24 minutos (12 minutos de cada lado). O tempo excedente seria cobrado a parte.
O Documentário Recentemente Criado pela Empresa Britânica "And Vinyly" Para Apresentar os Seus Serviços
No site oficial da And Vinyly também é possível encontrar uma espécie de documentário de aproximadamente 10 minutos, que foi publicado no fim de janeiro desse ano, chamado "Hearing Madge", que trata justamente sobre escolha do Sr. Hobson (aquele escultor de 69 anos que apareceu na matéria da BBC), que decidiu incluir as cinzas de sua mãe em um disco de vinil. Confira o documentário em questão no canal "Aeon Video", que foi publicado em 24 de janeiro desse ano, no YouTube (em inglês, mais iremos comentar rapidamente sobre esse documentário):
O documentário começa apresentando duas declarações de Jason Leach. A primeira conta sobre a tentativa de seu pai em jogar as cinzas do avô (o bisavô do Jason) no mar, a partir de um deck. Aparentemente, um vento soprou na direção contrária e ao invés de irem para o mar, as cinzas voltaram para o deck.
Algo semelhante também teria acontecido, quando foram jogar as cinzas do avô do Jason, visto que ele resolveram ir de barco para o meio do oceano, porém novamente um vento soprou na direção contrária, e as cinzas teriam se espalhado pelo barco (dessa vez ele não comentou sobre as cinzas terem ido parar em seu rosto, talvez devido ao tom do vídeo).
...visto que qualquer som que esteja sendo reproduzido ao fundo, ainda que seja uma pequena respiração, pode trazer memórias à tona |
Já o Sr. Hobson disse que muitas pessoas achariam isso assustador ou até mesmo que fosse sacrilégio, mas que sua mãe jamais pensaria dessa forma e, inclusive, o incentivaria a seguir adiante.
John disse que sua mãe tinha uma memória fantástica, visto que se lembrava perfeitamente das datas, detalhes dos acontecimentos e que contava ótimas histórias. |
Já o Sr. Hobson disse que muitas pessoas achariam isso assustador ou até mesmo que fosse sacrilégio, mas que sua mãe jamais pensaria dessa forma e, inclusive, o incentivaria a seguir adiante. |
Para Jason, o lado positivo da morte é que a mesma fazia as pessoas viverem. Infelizmente, no entanto, a parte ruim é que isso geralmente só acontecia quando as pessoas estavam perto de morrer ou que sabiam que tinham pouco tempo de vida. Então, segundo ele, se as pessoas vivessem mais ou se preparassem com antecedência para isso, elas viveriam melhor.
Então, segundo ele, se as pessoas vivessem mais ou se preparassem com antecedência para isso, elas viveriam melhor. |
Aliás, de acordo com Jason, isso era algo que netos ou bisnetos poderiam se sentar, ler o encarte, ouvir a sua voz, as músicas que gostava, exatamente como se o mesmo estivesse presente na sala.
Ele também queria ter uma música gravada no disco, mas essa era uma tarefa específica bem difícil, e por razões bem óbvias |
O documentário praticamente termina nos apresentando o disco de vinil de Madeline Dorothy, a Madge, sendo ouvido pelo seu filho, esposa, e pelo próprio Jason |
A Recente Entrevista Concedida Por Jason Leach para o Blog "Discogs"
No mês seguinte a divulgação do documentário, o blog "Discogs" publicou uma interessante entrevista com o Jason Leach, que tentarei contar para vocês de uma forma mais dinâmica e menos "engessada". Inicialmente, foi perguntado ao Jason se existia uma forte demanda para incluir cinzas humanas em discos de vinil, e se ele havia notado se o chamado "boom do vinil", ou seja, a "alta do vinil" havia impulsionado o interesse pelo serviço.
Jason respondeu que a demanda parecia estar estável e aumentando gradualmente, mas não diria que o "boom do vinil" tivesse feito muita diferença em relação a demanda por esse serviço. Ele acreditava que o tipo de pessoa interessada no serviço eram as mesmas que sempre estiveram interessadas em discos de vinil. Por outro lado, eles tinham recebido um bom interesse por parte da mídia, algo que podia ter afetado positivamente em relação ao número de pedidos.
No mês seguinte a divulgação do documentário, o blog "Discogs" publicou uma interessante entrevista com o Jason Leach |
As pessoas pareciam gostar da ideia de poder falar com seus parentes, mesmo após muito tempo de terem partido. Para ele, esse era um conceito de imortalidade à medida que sua voz se movimenta pelo ar, no futuro. Além disso, tudo vinha sindo muito positivo, inspirador, emotivo e profundo. Ele também comentou que atualizou o site recentemente, deixando-o menos emotivo e um pouco mais sombrio, e que isso iria acabar filtrando algumas das pessoas que inicialmente foram atraídas pela proposta. Isso, no entanto, não interferia em relação a artistas, músicos e verdadeiros amantes da música, que geralmente tendem a compreender melhor esse tipo de humor.
Em relação ao licenciamento das músicas, Jason respondeu que nunca aconteceu nenhum problema em relação a direitos autorais, visto que eles são músicos que gravam, produzem e lançam o próprio material, e que todos os discos produzidos são de materiais fornecidos pelos próprios clientes. Os mesmos precisam assinar documentos que afirmem que o conteúdo foi adquirido de forma apropriada, e os discos são apenas para uso pessoal, não para distribuição, revenda ou transmissão pública. Já em relação ao humor meio sombrio do site, Jason disse que nunca viu uma pessoa morta, e não sabia como reagiria a isso. Construir o site foi fazer um acordo com o inevitável, e que muitas pessoas também não se sentiam confortáveis a falar sobre a morte. Então um site com um tom sombrio, porém leve, foi a forma que ele encontrou para enfrentar a situação. Ele reconhecia que nem todos iriam gostar do aspecto, mas depois do choque inicial, as mesmas começavam a mudar de ideia e ficavam mais entusiasmadas pelo serviço. Até o momento, ele não havia recebido nenhuma reclamação nesse sentido. Jason também disse que tinha anos de experiência em fabricar tais discos, que já tinha aprendido com seus erros no passado, e que sabia exatamente como evitá-los.
Para finalizar, ele também mencionou já ter recebido o pedido de um artista para acrescentar poeira de asteroide em um disco vinil (algo que é mencionado bem no finalzinho do documentário), instrumentos e partituras musicais, cabelos, e até mesmo a madeira proveniente de portos no Alasca. Resumindo? Não era necessário serem apenas cinzas humanas, visto que existe uma grande diversidade de materiais que poderiam ser adicionados ao disco de vinil!
Comentários Finais
Talvez você não saiba, mas no ano passado, o Vaticano divulgou novas regras para a cremação de católicos, que incluíam a proibição à conservação das cinzas do ente querido em casa, evitando que elas se tornassem "lembranças comemorativas", e que as mesmas deveriam ser mantidas em um "local sacro ou cemitério". Outro hábito comum, o de espalhar as cinzas no mar ou em qualquer outro tipo de ambiente também foi vetado. Embora seja dito, que a cremação de um cadáver não é por si só a negação da fé cristã, o documento (uma instrução da Congregação para a Doutrina da Fé, e aprovada pelo Papa Francisco) ressaltou, que a preferência continuava sendo pelo sepultamento dos corpos. As regras eram uma forma encontrada pelo Vaticano de regulamentar uma prática difundida em muitos países, mas que em alguns casos estava baseada em ideias que contrariavam a doutrina católica. Vale ressaltar nesse ponto, que a cremação é permitida pela Santa Sé desde 1963, desde que não seja um ato de contestação da fé. Segundo o documento, a Igreja não tem razões doutrinárias para impedir tal ato, já que a cremação do cadáver não atinge a alma e não impede a onipotência divina de ressuscitar o corpo. Porém, a Igreja continua preferindo o sepultamento, porque assim se mostra uma "estima maior" em relação aos mortos.
Assim como explanei na postagem referente a hidrólise alcalina, seria ingenuidade pensar que a fé não continua sendo um produto. Crucifixos, terços, livros, santinhos de papel, cristais, sininhos budistas, estátuas, camisetas religiosas, chaveiros e até mesmo uma água benta possuem um custo inerente a crença, mesmo que você não consiga perceber isso. Se em vida, a fé costuma ter uma etiqueta de preço, muitas vezes invisível, seria ilógico pensar que na morte nada seria cobrado das pessoas. Basta lembrar que funerais, sejam eles enterros, cremações, deposição de cinzas em recifes artificiais ou qualquer outra coisa, possuem um preço a ser cobrado pelo serviço a ser executado. A questão é muito mais voltada em justificar simbolicamente, culturalmente e até mesmo biblicamente a dor de uma pessoa, do que qualquer outra coisa. Portanto, quando entramos no campo da dor, da perda e da saudade deixada por um familiar ou amigo(a) estamos entrando em um campo totalmente subjetivo, onde somente a pessoa que sente tem o direito de julgá-la. Obviamente, devemos respeitar todo e qualquer tipo de fé, mas se esquecermos do caráter humano, então toda nossa humanidade estará perdida. O problema da fé é que muitas vezes o ser humano é esquecido para ser elevado a categoria de produto divino, quando, na verdade somos simplesmente pessoas de carne e osso, que sentem saudades, que desejam escutar e ver mais uma vez, ainda que por alguns segundos, aqueles que amamos e que infelizmente já se foram.
Com certeza absoluta essa postagem entrou para a lista de textos, que me senti honrado em poder escrever e tentar transmitir um pouco do sentimento que tive ao ler e traduzir todo esse material para vocês. Sinceramente, fiquei pensando em como seria a voz da minha avó ou do meu avô, que infelizmente não tenho memórias, visto que ambos faleceram quando eu era bem pequeno. Pensei em qual seria a mensagem dele(a) para mim, o que ele(a) pensava que eu iria me tornar, se ele(a) tinha algum conselho para me dar ou então qual era a razão da minha avó para fazer questão que eu tivesse um determinado nome que poucos conhecem. Gostaria de ter a chance de ouvir a mesma música que ela, de ouvi-la brincando comigo em sua cadeira de balanço para tentar buscar em uma memória, talvez perdida, a chance de fazer com que o vento levasse minhas palavras até ela. Fico imaginando, da mesma forma, se cada um de vocês não gostaria de ter essa mesma oportunidade, inclusive de familiares que conviveram bem próximos, e se não gostariam de dar essa chance a seus netos e bisnetos. É difícil imaginar, não é mesmo? Talvez seja difícil compreender isso de forma racional, mas ainda assim é impossível dizer que Deus poderia ser contra isso. Talvez seja nesse momento que percebemos, que podem nos tirar tudo, menos o direito de nos lembrar de quem nos amou e amamos.
Até a próxima, AssombradOs!
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2016-10/vaticano-proibe-manter-cinzas-em-casa-apos-cremacao
http://br.radiovaticana.va/news/2016/10/25/doutrina_da_f%C3%A9_publica_instru%C3%A7%C3%A3o_sobre_sepultura_e_crema%C3%A7%C3%A3o/1267717
http://hub.audiogon.com/blog/2013/08/06/rest-in-vinyl/
http://stoneyroads.com/2013/09/have-your-ashes-pressed-onto-vinyl-when-you-die/
http://www.bbc.com/news/business-40492466
http://www.fouroverfour.jukely.com/news/ashes-vinyl-record/
http://www.livemint.com/Leisure/6zpayNDzJVl5ZJNaSpNjqO/Rest-in-vinyl.html
https://blog.discogs.com/en/interview-with-the-guy-who-presses-ashes-into-vinyl-records/
https://noisey.vice.com/en_uk/article/69w7dp/when-you-die-a-company-will-press-your-ashes-into-a-vinyl
https://thevinylfactory.com/news/documentary-and-vinyly-ashes-vinyl/
https://thevinylfactory.com/news/pressed-in-peace-cremation-company-offers-to-have-your-ashes-memorialised-in-vinyl/
https://www.boredpanda.com/company-turns-your-relatives-ashes-into-vinyl-that-plays-their-voices-after-their-death/