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Uma Garotinha de Apenas 8 Anos Foi Encontrada Vivendo e Agindo como Macacos em uma Reserva Florestal, na Índia? (Atualizado 09/04)

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Por Marco Faustino

Parece até premonição, mas esse é mais um caso sobre a dura e triste realidade da situação da mulher na Índia. Recentemente, mais precisamente no dia 1º de abril, eu havia publicado uma matéria sobre a situação de duas mulheres que tinham assumido a administração de um crematório na cidade de Chennai, no estado de Tamil Nadu, que já foi considerada uma das cidades mais seguras para se morar. Muito provavelmente, esse ranqueamento não levou em consideração a realidade vivida por elas e por tantas outras mulheres. Naquela matéria em questão, eu contei a história de Esther Shanthi e Praveena Solomon, e a fúria que elas enfrentaram dos homens ao assumir um crematório, no início de 2014. Ambas sofreram com o preconceito e a constante ameaça de ser jogado ácido em seus rostos por parte de muitos homens, simplesmente por serem mulheres.

Como se isso não bastasse, na última parte da matéria mostrei o lado considerado "sobrenatural" da história, visto que, para piorar, havia a crença que as mulheres são mais facilmente possuídas por espíritos dos mortos, que vagam por até 10 dias em nosso plano, do que homens. Muitos acreditam que os espíritos mais pertubados possuem uma maior atração por mulheres do que pelos homens, porque simplesmente as mulheres menstruam. Vale ressaltar que Chennai, anteriormente conhecida como "Madras", é um dos maiores centros culturais, econômicos e educacionais na região Sul da Índia. De acordo com o último censo realizado em 2011, a cidade contava com pouco mais de 7 milhões de habitantes, que a tornavam a quarta aglomeração urbana mais populosa da Índia, com um território que lhe atribuía o título de sexta maior cidade do país. Mesmo assim, a realidade em terra firme é bem diferente do que imaginamos diante dos números e informações apresentadas (leia mais: "As Mulheres São Mais Facilmente Possuídas? Os Medos e as Ameaças Contra Mulheres Responsáveis Por Crematórios, na Índia!").

Agora, poucos dias atrás, a mídia internacional começou a propagar uma história de partir o coração, mas que boa parte da mesma a transformou em algo grotesco. Afinal de contas, infelizmente, o grotesco e o bizarro geralmente dão muito mais audiência, ou seja, acessos e com eles toda a publicidade que os sites de notícias carregam em suas páginas. Provavelmente, em quase todos os lugares você encontrará títulos como: "'Menina Mogli'é encontrada em floresta vivendo com macacos", "'Garota Mogli'é encontrada vivendo com os macacos em floresta na Índia" ou então "Menina Mogli de 8 anos foi resgatada da selva na Índia". Sim, é exatamente dessa forma que isso vem sendo propagado pela maioria dos sites internacionais e brasileiros. Como defesa, muitos podem até alegar que isso se assemelha ao conto sobre "Mogli - O Menino Lobo", criado por Rudyard Kipling, sobre a história de um bebê perdido em meio a selva indiana, e que foi criado por lobos, ou seja, teria nascido como uma espécie de "criança feral" (também chamado de "criança selvagem"). Aliás, histórias assim aparecem de tempos em tempos. O problema é que na Índia, encontrar uma menina abandonada ou morta geralmente tem uma conotação bem diferente. Assim sendo, vamos mostrar os detalhes dessa história, que geralmente não são replicados nos poucos parágrafos que já escreveram sobre o caso. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Como Tudo Isso Começou? Uma Menina Teria Sido Criada Por Macacos?


Para começarmos a entender essa história, é necessário buscar informações na mídia indiana, visto que uma parte dela possui jornais relativamente decentes e mais sérios, em inglês, uma herança praticamente britânica. Isso, é claro, facilita a pesquisa, mas nem sempre quer indicar que seja o melhor conteúdo disponível sobre um determinado caso. Assim sendo, vamos começar com o que foi publicado no site do jornal "The Times of India" (TOI), no dia 6 de abril.

Segundo o "TOI", policiais em Uttar Pradesh encontraram uma menina que não sabia falar e "nem se comportar como seres humanos normais". A menina de 8 anos de idade (idade estimada, uma vez que não há nenhuma confirmação nesse sentido) teria sido resgatada pela polícia nos arredores da cidade de Bahraich, em um distrito de mesmo nome, no estado indiano de Utta Pradesh. Segundo as primeiras informações, ela estava em meio a um bando de macacos.

Segundo o "TOI", policiais em Uttar Pradesh encontraram uma menina que não sabia falar
e "nem se comportar como seres humanos normais"
A menina de 8 anos de idade (idade estimada, uma vez que não há nenhuma confirmação nesse sentido) teria sido resgatada pela polícia nos arredores da cidade de Bahraich, em um distrito de mesmo nome, no estado indiano de Utta Pradesh. Segundo as primeiras informações, ela estava em meio a um bando de macacos.
Para vocês terem uma noção, a cidade de Bahraich possui pouco mais de 186.000 habitantes (de acordo com o último censo realizado em 2011), em uma área de 34 km². Um fator que torna essa cidade importante para a Índia, é que ela fica bem próxima da fronteira com o país vizinho, o Nepal.

Além disso, no distrito de Bahraich, se encontra o Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat, que é o lar para uma série de espécies ameaçadas de extinção, tais como: o gavial (uma espécie de crocodilo), o cervo-do-pântano, tigres, rinocerontes, diversas espécie de cobras (sendo muitas delas venenosas), entre outros animais. Vale destacar que o santuário nada mais é do que reserva ambiental protegida pelo governo, criada em 1975, e que possui uma área de 400 km².

Além disso, no distrito de Bahraich, se encontra o Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat, que é o lar para uma série de espécies ameaçadas de extinção, tais como: o gavial (uma espécie de crocodilo), o cervo-do-pântano, tigres, rinocerontes, diversas espécie de cobras (sendo muitas delas venenosas), entre outros animais
Placa encontrada no Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat,
em manifestação para a preservação dos tigres no local
Dezenas de tigres e gaviais habitam o Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat
Teria sido justamente em uma patrulha de rotina nesse santuário, que o subinspetor Suresh Yadav teria avistado a garotinha. Quando ele tentou resgatar a garota, que parecia estar confortável com os macacos, eles guincharam para ele, assim como a menina. No entanto, mediante muitos esforços, a polícia conseguiu resgatar a menina, e ela deu entrada no hospital do distrito de Bahraich.

Teria sido justamente em uma patrulha de rotina nesse santuário, que o subinspetor Suresh Yadav teria avistado a garotinha. Quando ele tentou resgatar a garota, que parecia estar confortável com os macacos, eles guincharam para ele, assim como a menina
No entanto, mediante muitos esforços, a polícia conseguiu resgatar a menina,
e ela deu entrada no hospital do distrito de Bahraich
Ainda segundo o TOI, a menina não conseguia falar e nem entender qualquer idioma, ficando "assustada diante dos seres humanos". Os médicos que estavam tratando dela, disseram que muitas vezes ela apresentava um comportamento violento. A menina teria apresentado uma melhora após o tratamento, mas em um ritmo bem lento. Foi mencionado também que ela ainda comia diretamente com a boca. Além disso, por mais que ela tivesse sido "treinada para andar sobre duas pernas, às vezes ela caminhava assim como animais, usando as mãos e as pernas juntas, ou seja, de quatro."

Vale ressaltar nesse ponto, que a maioria dos sites indianos usaram como base um texto publicado pela "Asian News International" (ANI), uma agência de notícias indiana, sediada em Nova Délhi, que fornece um conteúdo multimídia para para 50 escritórios na Índia e na maior parte do sul da Ásia. O detalhe é que o pequeno texto publicado pela agência é ligeiramente diferente.

Os médicos que estavam tratando dela, disseram que muitas vezes ela apresentava um comportamento violento. A menina teria apresentado uma melhora após o tratamento, mas em um ritmo bem lento.
Na notícia publicada no site da ANI, foi informado que os médicos, que vinham tratando de uma garotinha de 10 anos de idade (algo que reforça que ninguém sabia exatamente sua idade), disseram anteontem (6), que "a menina e seu estado de saúde estavam começando a apresentar melhoras". Ao menos essas teriam sido as palavras de D.K. Singh, diretor do hospital onde ela se encontrava. O detalhe é que a menina teria sido encontrada há dois meses, e que teria sido vista no meio de animais. Ao descrever a menina, o diretor disse que a mesma já teria comido e andado como animais, acrescentando que ela poderia ter vivido com esses animais por algum tempo, porém não estimou quanto tempo.

"A menina tinha marcas em sua pele, parecia que ela tinha vivido com animais por algum tempo", disse D.K. Singh.

O site de notícias "India.com" chegou a mencionar que a NDTV, uma das principais emissoras de TV da Índia, teria divulgado que a menina comia alimentos como macacos, e jogava a comida servida no chão para depois comer, muito embora não seja isso que vemos nas imagens, visto que é possível ver a menina segurando até mesmo um copo plástico de água.

A menina teria sido encontrada há dois meses, e que teria sido vista no meio de animais. Ao descrever a menina, o diretor disse que a mesma já teria comido e andado como animais, acrescentando que ela poderia ter vivido com esses animais por algum tempo, porém não estimou quanto tempo
O site de notícias "India.com" chegou a mencionar que a NDTV, uma das principais emissoras de TV da Índia, teria divulgado que a menina comia alimentos como macacos, e jogava a comida servida no chão para depois comer, muito embora não seja isso que vemos nas imagens, visto que é possível ver a menina segurando até mesmo um copo plástico de água
Já o site do jornal "The New Indian Express" publicou algumas declarações bem peculiares do subinspetor de polícia e do diretor do hospital, os principais personagens dessa história, e também alguns outros detalhes pertinentes sobre o caso.

"Nós a vimos brincando entre macacos. Assim que tentamos nos aproximar da menina, os macacos a cercaram e alguns deles pularam sobre nós", teria dito o subinspetor Suresh Yadav, acrescentando que a menina não possuía roupa alguma, ou seja, estava nua, no momento do resgate. Também não havia nenhuma pista de parentes ou familiares da menina, uma vez que ela não conseguia se comunicar.

"Nós a vimos brincando entre macacos. Assim que tentamos nos aproximar da menina, os macacos a cercaram e alguns deles pularam sobre nós", teria dito o subinspetor Suresh Yadav
"Quando ela foi levada para o hospital, ela tinha hematomas por todo o corpo. Suas unhas estavam compridas e os cabelos estavam despenteados como macacos. Diante do seu comportamento, parece que ela estava com os macacos desde o nascimento. Eu a visito pessoalmente de vez em quando", disse Dinesh Tripathi, superintendente de polícia.

"Ela se comporta como um macaco e grita alto, caso os médicos tentem se aproximar dela. Às vezes ela anda normal e, de repente, passa a andar de quatro", disse D.K. Singh, novamente citado como diretor do Hospital do Distrito de Bahraich. A presença da menina no hospital distrital provocou curiosidade entre os habitantes locais. Confira também a sequência abaixo relacionada a três vídeos que foram publicados na página do portal de notícias "Oneindia", no Facebook, onde mostra rapidamente o comportamento dessa menina em questão:







"Caso ela veja alguém olhando para ela, ainda que de longe, ela começa a rosnar", disse Shiraz, que era "um entre os curiosos que visitam a estranha paciente no hospital distrital regularmente".

"Ela usa a boca para pegar os alimentos", disse uma enfermeira do hospital, acrescentando que ela espalha o alimento na cama e não usava as mãos para pegá-los.

"O tratamento está sendo uma tarefa difícil para os médicos, uma vez que ela não entende nada, e faz barulhos e caras como macacos, atacando os médicos quando eles se aproximam dela", disse um outro médico do hospital.

Cavando um Pouco Mais a Fundo: Polícia Nega que Menina Estivesse Entre Macacos e a Negligência das ONGs


Uma vez que praticamente todos os sites de notícias estavam querendo dizer a mesma coisa, como se uma menina tivesse nascido e passado 8 a 10 anos juntamente com macacos em uma reserva ambiental na Índia, cujas temperaturas alcançam 45ºC durante o verão, e caem para até 3ºC durante o inverno, além de possuir cobras venenosas, crocodilos e até mesmo tigres, talvez outros sites no idioma hindi pudessem ajudar a dar mais pistas sobre esse caso.

O site do jornal "Naya India" informou que o resgate da menina tinha acontecido no dia 25 de janeiro, ou seja, quase três meses atrás, não apenas dois. Já o site de notícias "Khas khabar" mencionou que antes dessa data, alguns moradores locais já tinham avistado essa menina entre os macacos, que tentaram resgatá-la, mas que um bando de macacos teriam atacado eles.

Assim sendo, os moradores ligaram para a polícia, que estava há alguns dias em busca da menina. Confira também algumas outras reportagens realizadas pela imprensa indiana sobre o assunto e que foram publicadas nos canais "Live Hindustan" e "Hindustan Times", no YouTube (em hindi):





Assim como as imagens divulgadas pela agência de notícias Ruptly, em seu próprio canal no YouTube (praticamente sem falas, e contando com uma entrevista em hindi):



Entretanto, houve uma reviravolta em toda essa história. O site do jornal "New Indian Express" mencionou ontem (7), que após terem surgido relatos que uma menina de oito anos de idade teria sido encontrada vivendo em uma floresta com um bando de macacos, autoridades policiais e florestais negaram que tal incidente tivesse ocorrido. Segundo eles, a garota foi encontrada à beira de uma estrada em Bahraich, por um inspetor da polícia, no início de janeiro. A menina apresentava problemas mentais e permanecia internada no hospital distrital desde então.

Quem também publicou sobre isso foi o site do jornal "Times of India". O TOI mencionou que, de acordo com a polícia, a menina de Bahraich foi provavelmente abandonada pela família. Na quarta-feira (5), a mídia local havia relatado sobre uma menina que deu entrada no hospital distrital de Bahraich, no dia 25 de janeiro, como tendo sido resgatada de um bando de macacos. Na quinta-feira (6), no entanto, a polícia local disse que não havia evidências sobre isso.

Para piorar a situação, a menor não identificada, e que até o momento nenhum parente ou familiar apareceu, foi rejeitada por ONGs que trabalham para os direitos da criança por causa de seu comportamento selvagem e andar estranho.

O TOI mencionou que, de acordo com a polícia, a menina de Bahraich foi provavelmente abandonada pela família
"Escrevi para a Childline pela terceira vez em busca de ajuda e espero que respondam dessa vez", disse o Dr. D.K. Singh, acrescentando que a menina, que provavelmente tinha uns 10 anos de idade, era saudável, mas apresentava transtornos mentais. Vale ressaltar nesse ponto, que a Childline é uma ONG que lida com crianças vítimas de abuso, bullying, que possuem doenças mentais, entre outras condições médicas e sociais.

Enquanto isso, uma mulher chamada Rina, que trabalha como faxineira no hospital estava desempenhando o papel de uma verdadeira mãe para a menina. Atualmente, a mesma estava sendo mantida em um quarto particular, mas o hospital vinha achando difícil tomar conta dela.

"A garota foi encontrada primeiramente por cortadores de lenha na rodovia Bahraich-Lakhimpur, nas florestas de Motipur, no Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat, e avisaram a polícia. Não há registro que ela tenha sido resgatada de macacos", disse o oficial de polícia Ramavtar Yadav.

O Dr. D.K. Singh, acrescentando que a menina, que provavelmente tinha uns 10 anos de idade, era saudável,
mas apresentava transtornos mentais
Para piorar a situação, a menor não identificada, e que até o momento nenhum parente ou familiar apareceu, foi rejeitada por ONGs que trabalham para os direitos da criança por causa de seu comportamento selvagem e andar estranho
Quando a menina foi conduzida até a delegacia de polícia de Motipur, ela apresentava hematomas, e estava andando com o apoio dos pés e das mãos, como um quadrúpede. De acordo com a polícia, a menina tinha uma perna bem machucada, algo que poderia ter feito com que andasse daquela forma.

Ainda ontem (7), o TOI publicou que a menina de Bahraich, que por sua vez passou a ser chamada de "Puja", teria um novo lar a partir de hoje (8). A menina seria levada até Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh, para um abrigo para crianças carentes e com transtornos mentais. Quem declarou isso foi o "Comitê do Bem-Estar da Criança" (CWC) que teria aprovado essa transferência após uma "pressão" da mídia em dizer que ninguém estava fazendo nada por ela.

Enquanto isso, havia uma multidão de pessoas querendo entrar no hospital para ver a menina, tanto que os portões tiveram que ser fechados para contê-las. O Dr. D.K. Singh explicou que eles tinham poucos funcionários e estava ficando difícil controlar toda aquela situação. Aliás, não é difícil de imaginar isso, visto que até repórteres entravam no hospital para gravar matérias. No vídeo abaixo podemos ver um deles se aproximando da menina, que estava no chão, enquanto tentavam segura-lá pelo braço para que não fugisse e pudesse ser filmada (diga-se de passagem, um atitude deplorável):



O chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade Médica de King George (KGMU), de Lucknow, o professor P. K. Dalal também visitou a menina para "examiná-la". Havia a suspeita que a menina fosse "surda e muda" (por mais que esses termos não sejam politicamente corretos) desde o nascimento. Quando questionado sobre isso, ele disse que poderia aparentar, mas que eles a tinham visto "murmurar" por água no hospital.

Apesar do site ressaltar que autoridades policiais e do próprio hospital terem negado que a menina tivesse sido encontrada em meio a macacos, um funcionário do hospital, cujo nome não foi revelado, disse que certa vez alguns macacos, ainda que não estivessem em bando, entraram no hospital e chamaram mais a atenção do que o normal.

"Pacientes e visitantes começaram a dizer que eles (os macacos) tinham vindo para ver se a menina estava feliz e segura", teria dito esse funcionário. Curiosamente, houve até que levasse oferenda para a menina acreditando que ela fosse uma espécie de "deusa". Vale lembrar nesse ponto, que crianças com deficiência na Índia são adorados como deuses, portanto não há nenhuma honra real em toda essa história.

Havia a suspeita que a menina fosse "surda e muda" (por mais que esses termos não sejam politicamente corretos) desde o nascimento. Quando questionado sobre isso, ele disse que poderia aparentar, mas que eles a tinham visto "murmurar" por água no hospital.
Para completar um dos poucos sites de notícias que não fizeram dessa notícia uma espiral fantasiosa sobre uma "menina criada por macacos" na floresta, foi o site "Amarujala.com", que publicou que a menina estava sofrendo de algum transtorno mental, e que talvez nem mesmo tivesse origem indiana. Foi mencionado que os pediatras que estavam tratando dela acreditavam que ela podia ter origem nepalesa.

Além disso, o site publicou as declarações do Dr. Jitendra Chaturvedi, chefe executivo da Associação em Prol do Desenvolvimento Humano, uma ONG que se esforça para restaurar os direitos das crianças que são abandondas ou enfrentam algum tipo de deficiência, na Índia. De acordo com ele, a região florestal onde a menina foi encontrada é muito pequena, e que ele já tinha trabalhado ao longo de 15 anos juntamente com os moradores locais. Assim sendo, não havia um único local que não houvesse a interferência humana. Era ridículo de se pensar que uma criança pudesse sobreviver em meio de tigres e leopardos, que circulam livremente durante o dia, muito menos que pudesse estar há muito tempo no local, visto que a sua presença já teria sido notada antes.

O site "Amarujala.com" ainda publicou que o "Comitê do Bem-Estar da Criança" admitiu ter recebido diversas cartas do hospital informando a condição da menina, porém eles sempre questionaram o hospital para esclarecer melhor a situação, algo que não tinha acontecido até o momento. De qualquer forma, ficou claro que somente após a exposição na mídia é que algo começou a ser realmente feito, quer dizer, isso é o que esperamos, é claro.

A Menina de Bahraich Pode Estar Sofrendo da Síndrome de Rett?


Talvez, ainda que seja altamente especulativo tentar apontar algo nesse sentido, uma possível condição médica para explicar o comportamento do menina de Bahraich poderia ser a chamada "Síndrome de Rett", algo que muito provavelmente a absoluta maioria população desconhece ou nunca ouviu falar. Pois bem, a Síndrome de Rett é definida como uma desordem do desenvolvimento neurológico relativamente rara, tendo sido reconhecida pelo mundo no início da década de 1980. Desde então, diversos estudos já apontaram que pode ocorrer em qualquer grupo étnico, com aproximadamente a mesma incidência. A particularidade é que a prevalência da Síndrome de Rett é de uma em cada 10.000 a 20.000 pessoas do sexo feminino.

A Síndrome de Rett é definida como uma desordem do desenvolvimento neurológico relativamente rara, tendo sido reconhecida pelo mundo no início da década de 1980
Desde que foi identificada, sempre foi vislumbrada a natureza genética dessa desordem, primeiro por afetar predominantemente o sexo feminino, e também pelos raros casos familiares, embora se trate de síndrome de ocorrência esporádica em 95,5% dos casos, e o risco de casos familiares seja inferior a 0,5%. Desde 1999, já se sabe que a grande maioria das meninas e mulheres, que preenchem os critérios para a Síndrome de Rett, apresenta mutações no gene MECP2.

Durante os últimos 25 anos, os conhecimentos sobre as características clínicas e a história natural da Síndrome de Rett evoluíram de maneira surpreendente. Entretanto, ainda se trata de condição muito desconhecida para segmentos sociais e científicos importantes: ainda há muitos médicos, terapeutas e educadores que não fazem ideia do que seja a Síndrome de Rett, e muitos dos que já ouviram falar sobre ela permanecem relativamente desinformados sobre os avanços no conhecimento clínico e terapêutico adquiridos especialmente nesta última década.

Durante os últimos 25 anos, os conhecimentos sobre as características clínicas e a história natural da Síndrome de Rett evoluíram de maneira surpreendente. Entretanto, ainda se trata de condição muito desconhecida para segmentos sociais e científicos importantes
A análise da origem parental (dos pais) nos casos esporádicos revelou que, na maioria deles, as mutações ocorreram de novo no alelo de origem paterna. Isso explicaria a predominância de Síndrome de Rett clássica em meninas, já que os meninos não herdam o cromossomo X paterno, mas sim o materno.

Por outro lado, nos raros casos familiais (somente 0,5%), o alelo mutado é proveniente da mãe, que não apresenta o quadro clínico de Síndrome de Rett. Esses casos poderiam ser explicados: pela inativação favorável do cromossomo X da mãe que tem a mutação ou pela ocorrência de mosaicismo gonadal, quando o alelo mutado é encontrado apenas nas células da linhagem germinativa materna.

A análise da origem parental (dos pais) nos casos esporádicos revelou que, na maioria deles, as mutações ocorreram de novo no alelo de origem paterna. Isso explicaria a predominância de Síndrome de Rett clássica em meninas, já que os meninos não herdam o cromossomo X paterno, mas sim o materno
Geralmente, a Síndrome de Rett se manifesta clinicamente por volta dos 2 a 4 anos de idade, embora os prejuízos ao desenvolvimento neurológico já estejam provavelmente presentes entre 6 e 18 meses de idade, ou até mesmo antes. Os bebês nascem geralmente sem quaisquer intercorrências, e parecem se desenvolver dentro dos parâmetros normais na primeira infância. Normalmente, apresentam padrões adequados de desenvolvimento motor no que se refere ao sentar-se e ao andar. Todavia, são raros os relatos de crianças que vieram a receber o diagnóstico de Síndrome de Rett, que tenham engatinhado em qualquer fase da infância.

Os primeiros sinais da manifestação clínica da Síndrome de Rett incluem:
  • Irritabilidade geralmente crescente ao longo de um período determinado, representada por crises de choro inconsolável;
  • Estabilização (interrupção) na aquisição de habilidades motoras (incluindo a fala);
  • Perda óbvia das habilidades motoras finas, representadas pela falta de uso prático das mãos para, por exemplo, manipular brinquedos e quaisquer outros objetos;
  • Nesse período, as meninas também podem apresentar menos interesse pelo ambiente que a rodeia e pela socialização e interação com os outros. Em alguns casos, elas podem interagir de uma forma "autista", motivo pelo qual muitas recebem esse diagnóstico, erroneamente, no início da manifestação da doença;
  • Outros elementos comunicativos também são perdidos nessa fase, e há muitas meninas que parecem não estar escutando o que é dito, mesmo quando apresentam audição normal e preservada confirmada por avaliações pertinentes;
  • No período que segue após a perda das habilidades motoras e as alterações nos processos de comunicação e socialização, surgem os movimentos estereotipados das mãos, "marca registrada" da forma clássica da doença. Esses movimentos se manifestam de forma diferente em cada menina, mas, geralmente, são movimentos como: lavar ou torcer as mãos, bater as mãos uma na outra, apertar ou bater as mãos ou uma delas em alguma outra parte do corpo (geralmente a boca), levar às mãos à boca, ou levar parte da roupa à boca e ficar mordiscando. Esses movimentos estereotipados ocorrem geralmente, mas não obrigatoriamente, na linha média do corpo. Em muitos casos, esses movimentos não ocorrem com as mãos juntas. Cada menina desenvolve o seu repertório próprio de movimentos estereotipados que, ao longo do tempo, mostram um padrão evolucionário na mesma menina. Esses movimentos estereotipados das mãos só ocorrem nos períodos em que a pessoa está acordada, mas são, no geral, movimentos incessantes. Esses movimentos tendem a exacerbar (ou ficar mais intensos e repetitivos) em situações de estresse ou excitação. Quando se restringem as mãos, é usual observar movimentos similares realizados com os pés, ou mesmo movimentos estereotipados envolvendo a musculatura orofacial;
  • Cerca de 80% das meninas com Síndrome de Rett chegam a aprender a andar, mas sua marcha se torna dispráxica (ou sem função, sem destino intencional), uma vez que o caráter funcional e voluntário da marcha diminui a princípio para, depois, ser definitivamente perdido em parte importante dos casos. Em última estância, quando preservada, a marcha é realizada com base alargada e sem qualquer função. A marcha também pode ser ocasionalmente caracterizada por "andar nas pontas dos pés", "dar o primeiro passo para trás", ou "transferir o peso de um pé para o outro repetidamente";
  • Todas as meninas com a Síndrome de Rett apresentam deficiência mental severa a profunda. Estudos nacionais e internacionais reportam que o desenvolvimento intelectual dessas meninas atinge, no máximo, o equivalente ao desenvolvimento intelectual de uma criança de 24 meses com desenvolvimento normal. Tendo em vista todas as dificuldades motoras presentes na Síndrome de Rett, é bastante difícil avaliar o desenvolvimento intelectual com os testes disponíveis (que requerem, minimamente, o uso prático das mãos ou linguagem preservada).
Critérios para diagnóstico de formas variantes da Síndrome de Rett:
  • Preencher pelo menos 3 dos 6 critérios maiores;
  • Preencher pelo menos 5 dos 11 critérios menores.
Critérios maiores
  • Ausência ou redução das habilidades manuais práxicas;
  • Redução ou perda da fala em balbucios;
  • Redução ou perda das habilidades comunicativas;
  • Desaceleração do crescimento cefálico nos primeiros anos de vida;
  • Padrão monótono de estereotipias manuais;
  • Perfil da desordem Rett: Estágio de regressão seguido de recuperação da interação social contrastando com regressão neuromotora lenta.
Critérios menores
  • Irregularidades respiratórias;
  • Distensão abdominal / Aerofagia;
  • Bruxismo;
  • Locomoção anormal;
  • Escoliose / cifose;
  • Amiotrofia dos membros inferiores;
  • Contato visual intenso;
  • Resposta diminuída para dor;
  • Episódios de risadas / gritos;
  • Hipotermia, pés arroxeados, crescimento (usualmente) comprometido;
  • Distúrbios de sono, incluindo episódios de terrores noturnos.
No estágio inicial da doença, a Síndrome de Rett pode ter seu diagnóstico clínico dificultado, principalmente considerando que muitos médicos ainda não estão suficientemente familiarizados com essa condição. Estima-se que, em cerca de 50% das meninas brasileiras afetadas pela Síndrome de Rett, o diagnóstico clínico seja equivocado. Confira um vídeo, em português, sobre essa síndrome, que foi realizado pela TV Brasil em março de 2015:



Confira também esse outro vídeo realizado pelo canal "Academia Play", no YouTube, que resume basicamente tudo já explicamos para vocês de forma bem didática e ilustrada (em espanhol):



Grande parte das pacientes com Síndrome de Rett vivem até a quinta ou sexta década de vida, e geralmente com deficiências bastante graves. As taxas de sobrevida podem declinar em pacientes com Síndrome de Rett com mais de 10 anos de idade, embora 70% delas atinjam os 35 anos de idade (uma sobrevida muito maior do que em outros pacientes com deficiência mental profunda, dos quais apenas 27% atingem os 35 anos de idade).

Vale ressaltar que todas as informações acima foram extraídas do site da Abre-te, a Associação Brasileira de Síndrome de Rett de São Paulo, que visa promover a saúde, a aprendizagem e exercício de cidadania para meninas, adolescentes e adultas com a Síndrome de Rett em todo o território nacional, para que possam ser incluídas na sociedade com o respeito que suas diferenças merecem, subsidiando suas famílias com acolhimento e divulgação de conhecimentos sociais e científicos. Portanto, caso você tenha alguma dúvida ou até mesmo suspeita que sua filha tenha essa condição médica, entre em contato com eles através do email abrete@abrete.org.br ou pelo telefone (11) 5083-0292.

O Caso Envolvendo as Meninas Chamadas de "Amala e Kamala", no Início do Século XX: Uma das Maiores Farsas Envolvendo "Crianças Selvagens"


Provavelmente, vocês devem estar se questionando sobre a razão pela qual mencionei a Síndrome de Rett, não é mesmo? Bem, vocês podem não saber, mas certo dia surgiram duas menininhas chamadas "Amala e Kamala", também conhecidas como as meninas lobo, foram consideradas como duas "crianças selvagens" encontradas na Índia, em 1920. Acreditava-se que Amala tinha cerca de 1 ano e meio e faleceu um ano mais tarde. Kamala, no entanto, diziam que tinha oito anos de idade, e viveu até 1929. Contava-se que elas agiam como lobos. As meninas não falavam, não sorriam, andavam de quatro e uivavam para a Lua.

Bem, vocês podem não saber, mas certo dia surgiram duas menininhas chamadas "Amala e Kamala", também conhecidas como as meninas lobo, foram consideradas como duas "crianças selvagens" encontradas na Índia, em 1920
Contava-se que elas agiam como lobos. As meninas não falavam, não sorriam, andavam de quatro e uivavam para a Lua
Em 1926, Joseph Amrito Lal Singh, reitor de um orfanato local, o mesmo onde as meninas eram mantidas, publicou um relato no jornal indiano "The Statesman", dizendo que as duas garotas foram entregues a ele por um homem que morava na floresta, próximo do vilarejo de Godamuri, no distrito de Midnapore, a oeste de Calcutá. As meninas, quando ele as viu pela primeira vez, viviam em uma espécie de gaiola próxima da casa. Porém, posteriormente, ele afirmou que ele próprio resgatou as meninas do covil dos lobos, em 9 de outubro de 1920.

Joseph Amrito Lal Singh (no centro, de preto), reitor de um orfanato local,
juntamente com crianças e funcionários
Devido a muitas versões dessa história e nenhuma embasada por nenhuma testemunha, exceto o próprio Singh, muitas pessoas até pouco tempo atrás desconfiavam dessa história. Vale lembrar que o "mito" de ser criado por lobos é uma antiga concepção indo-europeia para explicar o comportamento animalesco de crianças abandonadas com doenças congênitas.

Entretanto, de acordo com o cirurgião francês Serge Aroles, autor do livro "L'Enigme des enfants-loup" ("O Enigma das Crianças Lobos", em português), publicado em 2007, esse caso é uma das mais escandolosas fraudes em termos de "crianças ferais". Ele chegou as seguintes conclusões:
  • O diário original que Singh afirmou ter escrito "dia após dia durante a vida das duas meninas-lobo"é falso. Foi escrito na Índia, após 1935, seis anos após a morte de Kamala. (o manuscrito original é mantido na divisão de manuscritos da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, na capital, Washington);
  • As fotos mostrando as duas meninas-lobo andando de quatro, comendo carne crua, entre outras atitudes, foram tiradas em 1937, após a morte de ambas. Na verdade, as fotos mostram duas meninas de Midnapore posando a pedido de Singh;
  • De acordo com o médico encarregado do orfanato, Kamala não tinha nenhuma das anomalias inventadas por Singh, tais como dentes muito afiados e longos, locomoção usando os quatro membros, visão noturna com emissão de um intenso brilho azul a partir dos seus olhos etc.;
  • De acordo com vários depoimentos confiáveis ​​coletados entre 1951 e 1952, Singh costumava bater em Kamala para fazê-la agir conforme havia descrito, na frente dos visitantes;
  • Serge Aroles disse que teve acesso as cartas entres Singh e um professor chamado Robert M. Zingg, no qual Zingg expressava sua opinião sobre o valor financeiro da história, e que pedia sua colaboração para publicá-la. Após a publicação do diário de Singh, Zingg enviou um pagamento de royalties de US$ 500 para Singh, que precisava desesperadamente de dinheiro para manter o orfanato aberto;
  • Zingg simplesmente acreditou na palavra Singh. O livro que ele publicou em parceria com Singh, chamado "Wolf-Children and Feral Man", atraiu muitas críticas de antropólogos. Zingg pagou caro por sua falha em verificar de forma independente a autenticidade do relato de Singh, e as consequências dessas controvérsias resultaram na demissão do Dr. Zingg de seu posto acadêmico na Universidade de Denver, em 1942. Ele nunca mais lecionou novamente após o escândalo;
  • Kamala sofria com uma desordem do desenvolvimento neurológico, a Síndrome de Rett.
Vale ressaltar aqui que o livro Serge Aroles não trata apenas desse caso, mas de todos os casos conhecidos de "crianças selvagens" entre 1304 e 1954, um trabalho que envolveu cerca de 4 anos de pesquisas. Segundo ele, de todos os casos somente um era autêntico: a de Marie-Angélique Memmie Le Blanc, conhecida como a "Garota Selvagem de Champagne, um caso que ocorreu no século 18.

Segundo Serge Aroles, de todos os casos somente um era autêntico: a de Marie-Angélique Memmie Le Blanc, conhecida como a "Garota Selvagem de Champagne, um caso que ocorreu no século 18
Ainda de acordo com Serge, todos os outros casos ou são mal-documentados, simplesmente mal compreendidos, fraudes deliberadas ou então fraudes com objetivo financeiro. Resumindo, não importa o caso que você tenha ouvido antes, é muito provável que tenha sido uma farsa. Assim sendo, ou o caso da menina de Bahraich é muito raro e o segundo autêntico desde 1304 ou então a menina realmente foi abandonada de forma deliberada pelos pais por alguma condição médica ou simplesmente deixa a mercê da própria sorte por ser mulher.

Apontar a Síndrome de Rett é emblemático devido a dificuldade locomotora da menina, os gestos repetidos das mãos, contato visual intenso, redução da capacidade de falar ou de se comunicar, entre uma série de outros detalhes. Será que ela é mais nova do que andam dizendo? Se fosse a Síndrome de Rett, assim como no caso de Kamala, será que ainda está em um estágio muito inicial? É difícil saber, e conforme disse anteriormente, é totalmente especulativo, visto que não tenho conhecimento médico e cientifíco para dar esse diagnóstico, muito menos a distância.

O Tratamento Dado as Mulheres na Índia: O Direito Negado de Simplesmente Nascer Mulher


Antes de prosseguirmos, é bom deixar claro que o texto abaixo não visa generalizar o comportamento dos indianos, visto que, com certeza absoluta, há muitos pais que sonham em ter uma menina ou até mesmo não teriam coragem de cometer quaisquer crimes devido ao nascimento de uma menina. Porém, o mesmo reflete basicamente o que acontece na maioria dos casos, principalmente em regiões do interior do país, que conta com mais de 1 bilhão e 200 milhões de habitantes. Evidentemente, não é possível tomar conta de tanta gente ao mesmo tempo, o que acaba facilitando que a tradição, muitas vezes torpe e desumana, acabe resultando na morte de dezenas ou centenas de milhares de meninas (na melhor das hipóteses) todos os anos. Aliás, quando alguém procura notícias sobre a Índia, não é difícil encontrar textos dizendo que "Morte de menina após jejum religioso de 68 dias provoca polêmica na Índia" ou "Aborto seletivo pode explicar déficit de 8 milhões de meninas na Índia". Afinal de contas, a China e a Índia são dois países no topo da lista mundial do infanticídio feminino.

Evidentemente, não é possível tomar conta de tanta gente ao mesmo tempo, o que acaba facilitando que a tradição, muitas vezes torpe e desumana, acabe resultando na morte de dezenas ou centenas de milhares de meninas (na melhor das hipóteses) todos os anos
No caso da Índia, após o nascimento de um menino é feita uma celebração, e dependendo da região são dias de festa regadas a muita comida e bebida. Todos ficam felizes e dançam. A esposa ganha inúmeros presentes, principalmente se for o primeiro filho. Pela tradição indiana, apenas o filho homem pode acender o fogo sagrado quando o pai morre. É o filho que vai perpetuar o nome da família, administrar os negócios, cuidar dos pais na velhice e herdar a fortuna etc. Quando nasce uma menina não tem festa, é uma decepção na forma como pensam, pelo menos diante do que as tradições impõem. A menina geralmente é vista como uma despesa, porque de acordo com a tradição, a família da menina terá que pagar o casamento e o "dote" que, mesmo sendo proibido, é o que a tradição manda. Vale lembrar que o "dote"é o valor pago em dinheiro e presentes para a família do noivo. Ao casar, a mulher passa a pertencer à família do marido. Então, para os indianos, "ter uma filha não é um bom negócio".

O aborto é permitido na Índia em casos específicos como: quando a mulher é portadora de alguma doença grave e a gravidez pode colocar sua vida em risco; quando o feto corre o risco de nascer com anomalias físicas ou mentais; caso ela tenha gerado filhos com anomalias congênitas anteriormente, e outros casos específicos, porém apenas é permitido até as primeiras 12 semanas de gravidez. A ironia da história é que o sexo do feto só pode ser determinado por ultrassom após a 14ª ou 15ª semana. Desde 1994, uma lei proíbe e criminaliza o aborto feito por identificação do sexo feminino, sendo que é proibido que o médico revele o sexo do bebê no ultrassom, visto que se as famílias descobrirem que é uma menina, elas podem cometer um aborto, e consequentemente um crime. Na Índia, existem cerca de 40 mil clínicas de ultrassom registradas e muitas mais sem registro. Isso sem contar as inúmeras ofertas de aborto no momento do exame de ultrassom, tudo de maneira ilícita. A Suprema Corte da Índia também proibiu os sites de busca de oferecerem nomes de laboratórios ou clínicas que ofereçam revelar o sexo do bebê. Porém, isso é muito pouco perante um verdadeiro genocídio velado.

Desde 1994, uma lei proíbe e criminaliza o aborto feito por identificação do sexo feminino, sendo que é proibido que o médico revele o sexo do bebê no ultrassom, visto que se as famílias descobrirem que é uma menina, elas podem cometer um aborto, e consequentemente um crime
Além disso, os abortos não só acontecem em famílias mais humildes. A classe média e pessoas com ótimas condições financeiras, a elite social, por assim dizer, são as que mais realizam os abortos, uma vez que possuem condições financeiras de pagar por tudo e o peso da tradição é maior, principalmente se já tiverem uma menina na família. Já as famílias pobres não possuem dinheiro para realizar o aborto seguro e fazem clandestinamente; muitas vezes nem a mãe, nem o bebê sobrevivem. Outras tomam remédios, não se alimentam direito, e muitas crianças já nascem com sérios problemas de saúde, morrendo logo em seguida ao parto. Quando não realizam o exame de ultrassom, porque não têm dinheiro, depois do nascimento, muitas mães matam as meninas no nascimento; elas são jogadas em poços, enterradas vivas, e abandonadas à própria sorte, principalmente se as meninas tiverem algum tipo de deficiência.

Recentemente, diversos sites de notícias internacionais reportaram que uma recém-nascida foi encontrada enterrada viva. Repararam no que eu disse? "Uma recém-nascida", ou seja, um bebê do sexo feminino. Segundo a polícia, a motivação do crime "devia" ser o sexo da criança, algo que chamava mais uma vez a atenção para o "problema" do infanticídio feminino na Índia. No entanto, também havia a suspeita de que a mãe fosse solteira, situação que costuma isolar mulheres na sociedade indiana. De qualquer forma, o pai da criança foi preso pouco tempo depois.

As famílias pobres não possuem dinheiro para realizar o aborto seguro e fazem clandestinamente; muitas vezes nem a mãe, nem o bebê sobrevivem. Outras tomam remédios, não se alimentam direito, e muitas crianças já nascem com sérios problemas de saúde, morrendo logo em seguida ao parto
Vale lembrar que somente no início do mês passado, a polícia indiana recuperou 19 fetos femininos de um esgoto no estado de Maharashtra, e acusou um médico de abortá-los ilegalmente para pais desesperados por um menino. Além disso, segundo um estudo publicado em 2011, pelo periódico médico britânico "The Lancet", estima-se que cerca de 12 milhões de meninas foram abortadas ao longo das últimas três décadas. Isso sem contar o que acontecia antes, o que ainda acontece, e os casos em que meninas são abandondas ou completamente marginalizadas. Para vocês terem uma dimensão disso, é como se toda a população da cidade de São Paulo simplesmente desaparecesse ao longo de 30 anos. A pior parte é que esses números, na prática, podem ser ainda maiores.

Atualização #1 - 09/04 às 13h: O Jogo de "Empurra-Empurra" da Imprensa e das Autoridades Indianas: Quem Realmente Inventou Essa História? 


Hoje pela manhã (9), o site do jornal "The Indian Express" voltou a publicar sobre a menina de Bahraich, dizendo que ela não foi encontrada nua, não estava se movendo de quatro, e que não havia a presença de macacos. Pelo menos essas eram a informações do chefe de polícia Sarvajeet Yadav. A menina, que estava no Hospital do Distrito de Bahraich, foi transferida ontem para o Hospital Nirvan de Lucknow, destinado a pessoas com transtornos mentais. Pouco tempo depois, Rita Bahuguna Joshi, responsável pelo "Comitê do Bem-Estar da Criança" (CWC), a visitou.

menina, que estava no Hospital do Distrito de Bahraich, foi transferida ontem para o Hospital Nirvan de Lucknow, destinado a pessoas com transtornos mentais. Pouco tempo depois, Rita Bahuguna Joshi, responsável pelo "Comitê do Bem-Estar da Criança" (CWC), a visitou
Parte de uma equipe de patrulha de três policiais, da delegacia de polícia de Motipur, Yadav e seus colegas receberam uma chamada no anoitecer do dia 24 de janeiro sobre essa menina.

"Alguém da cidade de Mihinpurwa, que passava por aqui, a viu sentada à beira da estrada. Chegamos por volta das 18h30. Havia nevoeiro por toda parte", disse Sarvajeet Yadav ao apontar o local onde a encontraram.

"Ele se rastejava com o quadril. Estava usando apenas um vestido e uma calcinha. Estava muito fraca e tentou se afastar ao nos ver... Não havia macacos. Ela não estava nua, e não estava usando as mãos para andar. Não como sei essas histórias se espalharam", continuou.

"Acreditamos que ela foi abandonada por seus pais, que não puderam cuidar dela por causa de sua condição mental", acrescentou, apontando que não há moradores no local em um raio de 10 km. A equipe de patrulha a levou para delegacia de polícia de Motipur.  

Parte de uma equipe de patrulha de três policiais, da delegacia de polícia de Motipur, Yadav e seus colegas receberam uma chamada no anoitecer do dia 24 de janeiro sobre essa menina
Já um outro oficial, chamado Ram Avtar Yadav, disse que eles tinham 100% de certeza de que a menina não estava na estrada há mais de 24 horas.

Vale lembrar nesse ponto, que no começo, conforme havíamos mencionado a mídia indiana alegou que ela estava "vivendo com macacos na selva Katerniaghat há meses" e estava nua quando foi resgatada. Além disso,"os policiais teriam dito que tiveram que lutar contra macacos ao redor dela". Posteriormente, a polícia e o hospital resolveram se apressar em desmentir o que aparentemente eles ou a mídia criaram em torno dessa história, e que estavam sendo amplamente pressionados por isso.

Os colegas de Yadav, na delegacia de polícia de Motipur, disseram que a menina, com uma idade estimada de 11 anos, estava muito fraca para ficar de pé e, portanto, se arrastava usando os quadris. Mais tarde, o subinspetor Dhanraj Yadav disse que a menina foi entregue à delegacia de polícia de Mahila, no Distrito de Bahraich, porque não tinham "celas para mulheres" em Motipur.

Posteriormente, a polícia e o hospital resolveram se apressar em desmentir o que aparentemente eles ou a mídia criaram em torno dessa história, e que estavam sendo amplamente pressionados por isso
Um posto avançado do Departamento Florestal está localizado a apenas 30 metros de onde a menina foi encontrada, e os oficiais também disseram que nunca a viram (como se não fosse possível ver uma menina a sentada no chão a uma distância de 30 metros).

"Eu questionei todos os oficiais da patrulha de Motipur. É improvável que ela estivesse vivendo na floresta e não tivesse sido vista por ninguém", disse G.P. Singh, um policial florestal de Katerniaghat.

O Dr. D.K. Singh, diretor do Hospital do Distrito de Bahraich, culpou um jornal em idioma hindi de ter sido o primeiro a referir a menina como uma "criança selvagem". Ele e o hospital receberam inúmeras ligarações desde então. Porém, não foi mencionado o nome de desse jornal. Quando uma outra reportagem (novamente não foi mencionada qual foi essa reportagem) passou a chamar a menina de de "van-devi" ("deusa de floresta", em tradução livre para o português), o fluxo de visitantes de multiplicou.

Um posto avançado do Departamento Florestal está localizado a apenas 30 metros de onde a menina foi encontrada, e os oficiais também disseram que nunca a viram (como se não fosse possível ver uma menina a sentada no chão a uma distância de 30 metros)
"As pessoas começaram a vir com as famílias. Algumas até doaram dinheiro e tocaram seus pés. Havia tanta gente vindo que eu tive que colocar um guarda", disse D.K. Singh, que acusou um subinspetor de polícia de ter propagado a história sobre uma "criança selvagem", assim como que ela comia alimentos do chão ou que chutava pessoas que se aproximavam dela, mas não entrou em detalhes sobre o nome desse subinspetor. Um médico, desse mesmo hospital, apontou que as crianças com transtornos mentais também apresentam esse comportamento. D.K. Singh também apontou, que após cerca de um mês, ela estava "completamente bem de saúde", e eles começaram a procurar um lar para a menina, mas nenhuma ONG respondeu.

O Dr. Alok Chantia, antropólogo da Universidade de Lucknow, que assistiu aos vídeos da menina e conversou com médicos sobre ela, disse que ela não apresentava nenhuma característica de viver com macacos, incluindo palmas inchadas por andar ou se pendurar.

"Ela caminha ereta. Se ela estivesse vivendo com macacos desde o nascimento, ela não seria capaz de fazê-lo. Seus joelhos também não são torcidos como o dos macacos", disse o Dr. Alok Chantia.

Madhu Bhalla, assistente de enfermagem, disse que a menina começou a beber leite de uma garrafa e comer após dois ou três dias depois de ter dado entrada no hospital, e tentou falar quando via os faxineiros, que cuidavam dela.

Imagens da recepção da menina no Hospital Nirvan de Lucknow
"Ela comia biscoitos, arroz etc. Em cerca de 20 dias, ela ganhou força e começou a andar", disse Madhu Bhalla, afastando os rumores de que a menina estava comendo suas próprias fezes. Madhu Bhalla tinha sua própria teoria sobre como a alegação de seu crescimento juntamente com macacos havia se espalhado.

"Temos um macaco que muitas vezes entra na cozinha do hospital. Um dia ele entrou na ala geral onde esta menina estava, e algumas pessoas passaram a dizer, que ele tinha vindo encontrá-la", disse Madhu Bhalla.

"Suas habilidades adaptativas estão intactas. Ela é capaz de aprender", disse Mohit Chandra, a psicóloga clínica do hospital, acrescentando que a menina estava desorientada no início, mas logo começou a responder a gestos não-verbais. Vocês também podem conferir a condição atual da menina, em um vídeo publicado pelo canal do TOI, no YouTube:



S.S. Dhapola, o presidente da ONG que administra o hospital de Lucknow, onde a menina foi transferida no sábado (8), disse que o ministro Joshi havia prometido ajudá-los e levar o assunto ao conhecimento do ministro-chefe Yogi Adityanath. Ele acrescentou que havia passado a chamar a criança de "Ehsaas".

"Sua religião não é conhecida, e não é apropriado chamá-la de 'van-devi' ou 'criança selvagem'", disse S.S. Dhapola. Ele também alegou que, pouco tempo após chegar, a menina tinha pronunciado duas palavras: "chalo" e "garmi".

Entretanto, Dhapola "não tem dúvida de que tudo isso tenha referência aos macacos". Ele levou a garota para seu escritório, e apontou como ela se esquivou quando interagiu com ela, sentando-se no chão depois de tocar em alguns objetos de sua mesa. Dhapola continuou mostrando sua palma para ela, pedindo que ela a tocasse. Depois de alguns segundos, ela começou a esfregar sua palma sobre a dele. "Veja, é assim que os macacos esfregam as mãos", disse Dhapola.

Sinceramente, chega a ser revoltante todo esse jogo de "empurra-empurra" da mídia indiana, das autoridades policiais, e até mesmo do hospital que, conforme vocês vão poder ler em meus comentários, não é um local de reputação ilibada. Apesar do site "The Indian Express" ter desmentido mais uma vez toda essa história, algo que eu já havia feito ontem (8), é assustador ver que, mesmo diante de todas as retificações feitas, opiniões de outros especialistas, o S.S Dhapola ainda acredite que a menina estava em meio aos macacos. É simplesmente surreal. Isso se contar que a menina tinha sido transferida de uma delegacia para a outra, porque eles não tinham uma cela para mulheres. Como é que é? O ato natural de qualquer ser humano decente teria sido, no mínimo, encaminhar a menina para um hospital, verificar se ela havia sofrido algum tipo de abuso, inclusive de ordem sexual e investigar o caso. Somente após algum momento da linha do tempo, que eles perceberam que eles precisavam levar a menina para um hospital. Realmente não tenho mais condições de falar sobre isso sem dizer um palavrão como força de expressão, portanto acho que já ficou bem claro desde ontem, que essa história era fantasiosa e fabricada. Enfim, fiquem agora com os meus comentários finais, algo que espero que sirva de reflexão.

Comentários Finais


Peço encarecidamente, que vocês façam um exercício de realidade comigo. Vocês acham mesmo que essa menina estava morando feliz com macacos e foi criada por eles? Acham mesmo que ela sobreviveria semanas, meses e anos em uma reserva ambiental repleta de cobras venenosas, tigres, leopardos e gaviais? Acham mesmo que os macacos, gentis e caridosos, deram frutinhas em sua boca como se fosse um desenho animado de Hollywood? Bem, se vocês realmente acreditam nisso, está na hora de acordarem para a vida. Para vocês terem uma ideia, no fim do mês de março desse ano, o governo de Uttar Pradesh, mediante intervenção da Comissão Nacional de Direitos Humanos, confirmou as denúncias relatadas, que uma criança de 10 meses de idade morreu devido a indiferança e negligência de médicos e enfermeiras do Hospital do Distrito de Bahraich, em 9 de agosto do ano passado. Essa criança, que nem tinha sequer 1 ano de idade, foi levada ao hospital com um quadro de febre alta. Primeiramente, uma enfermeira pediu dinheiro para colocar a documentação da criança em ordem, depois um outro funcionário cobrou por um leito e na manhã seguinte um médico pediu dinheiro para aplicar uma injeção, justamente aquela que podia salvar a vida da criança. O problema é que o hospital é do governo, e não cobra por isso. Depois de uma longa e demorada discussão resolveram aplicar a injeção na criança, porém era tarde demais. Nisso, pouco tempo depois, no início de abril, esse mesmo hospital aparece na mídia indiana e internacional, dizendo que acolheu uma pobre e machucada menina em janeiro, e estava prestando o melhor atendimento possível para ela. Vamos considerar por um momento, que isso seja verdade. Porém, não é estranho isso aparecer somente agora, justamente depois daquela outra história vir à tona?

A questão é que a realidade na Índia, principalmente em relação as mulheres é bem diferente do que se imagina ou do que apareceu em uma determinada novela do passado. É muito provável que aquela menina já estivesse sofrendo de maus-tratos ou até mesmo abusos devido a sua condição de saúde, por parte dos próprios familiares. Não duvido que ela estivesse sendo tratada, quem sabe desde o seu nascimento ou a partir do momento que apresentou algum transtorno mental, da forma mais degradante possível e, quem sabe, conseguido fugir e acabar sendo encontrada por cortadores de lenha. Isso, no entanto, ninguém comenta. Afinal de contas, um país que pode ter matado 12 milhões de meninas e abandonado milhões de outras ao longo de meros de 30 anos, em que há relatos que algumas mães tiveram a coragem de estrangular seus próprios bebês por serem meninas, jamais alguém poderia imaginar que o mesmo sádico, triste e lamentável destino se aplicasse a pequena "Puja", não é mesmo? Quem vai imaginar que um país onde homens se aglomeram com seus celulares para filmar a menina selvagem, que colocam o microfone quase dentro de sua boca e que sorriem e acham engraçado como se estivessem diante de um animal, e que pudessem abandoná-la no meio de uma estrada, não é mesmo? Então, a melhor explicação é que os macacos bondosos criaram a menina, porque ela é uma espécie de deusa, que precisa ser reverenciada. Só podem estar de brincandeira.

Sinceramente, a única pessoa que estava se comportando feito um "ser humano normal" era a própria menina, até mesmo porque, caso ela tivesse sido maltratada durante meses ou anos, ela tem todo o direito de não querer ser tocada por mãos que sequer querem curá-la, querem exibí-la como se fosse um circo de horrores. E assim, boa parte do mundo fez, imitando o mesmo comportamento daqueles indianos ao compartilhar os vídeos, que a exibiam sem nenhum pudor, rindo do que acharam grotesco. Será que é necessário lembrar que "Puja"é apenas uma menina que sofreu na Índia simplesmente por ser menina? Será que ninguém entende que muito provavelmente não aparecerá nenhum parente, porque simplesmente a descartaram como se fosse algo semelhante a um saco de lixo? Chegou ao cúmulo de aparecer uma multidão para apreciar a "criança selvagem", a grande atração da Índia moderna. Só faltaram colocá-la em uma jaula, e não duvido muito que isso aconteceria há algumas décadas. Na Índia, nascer mulher, na absoluta maioria das vezes, é uma sentença de morte. Não entender isso, não faz você ser parte da plateia que assiste o espetáculo, faz de você o palhaço do circo dos horrores.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://hindi.oneindia.com/news/uttar-pradesh/girl-found-forest-bahraich-living-with-monkeys-403316.html
http://indianexpress.com/article/india/real-life-mowgli-8-year-old-girl-raised-by-monkeys-rescued-from-up-forest/
http://indiatoday.intoday.in/story/girl-found-in-up-katarniaghat-forest-mowgli/1/921789.html
http://inextlive.jagran.com/mowgli-girl-lives-with-swamp-of-monkeys-found-in-this-forest-of-the-up-201704060008
http://timesofindia.indiatimes.com/city/lucknow/bahraichs-jungle-girl-tobe-sent-to-shelter-home/articleshow/58074233.cms
http://timesofindia.indiatimes.com/city/lucknow/jungle-girl-gets-media-attention-but-not-of-ngos/articleshow/58058440.cms
http://timesofindia.indiatimes.com/india/eight-year-old-girl-found-living-with-monkeys/articleshow/58037884.cms
http://www.abrete.org.br/sindrome_rett.php
http://www.amarujala.com/uttar-pradesh/bahraich/teenager-mentally-disabled
http://www.brasileiraspelomundo.com/india-onde-estao-nossas-meninas-111835935
http://www.dnaindia.com/india/report-real-life-mowgli-8-year-old-girl-found-in-katarniaghat-forests-with-habits-similar-to-animals-2383463
http://www.india.com/news/india/female-mowgli-girl-found-in-up-forest-behaves-like-animals-say-reports-1999158/
http://www.jagran.com/uttar-pradesh/bahraich-monkeys-gave-life-to-girl-child-in-katarniyaghat-forest-and-became-mogli-girl-15808893.html
http://www.khaskhabar.com/local/uttar-pradesh/bahraich-news/news-mowgli-girl-found-in-the-wilderness-of-bahraich-behaves-like-monkeys-news-hindi-1-194886-KKN.html?ModPagespeed=noscript
http://www.nayaindia.com/up-news/mowgli-girl-center-of-curiosity-katarniya-ghat-bahraich-615821.html
http://www.newindianexpress.com/nation/2017/apr/06/the-jungle-book-redux-in-uttar-pradeshs-bahraich-1590649.html
http://www.newindianexpress.com/nation/2017/apr/07/mowgli-girl-adopted-by-a-lucknow-based-ngo-drishti-samajik-sansthan-1591123.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Amala_and_Kamala
https://en.wikipedia.org/wiki/Serge_Aroles
https://scroll.in/latest/833852/uttar-pradesh-8-year-old-girl-found-living-with-a-troop-of-monkeys-in-forest
https://www.facebook.com/pg/oneindiahindi/videos/

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