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No dia 13 de setembro de 1987, o Brasil ganhava mais um título indesejável: o de local onde ocorreu o maior acidente radiológico do mundo ocorrido fora de unidades nucleares. Dois catadores encontraram uma máquina de tratamento de câncer abandonada, a desmontaram e venderam para um ferro-velho. O dono ficou encantado com o brilho azulado emitido pela peça e assim se iniciou toda a tragédia...
Assombrados, desde quando fiz o especial Chernobyl que muita gente me pede para falar do acidente do Césio-137 ocorrido em Goiânia no ano de 1987. Pois chegou a hora de falarmos sobre esse acidente, considerado o maior acidente radiológico em área urbana do mundo. Faz 30 anos que aconteceu a a tragédia, que atualmente é desconhecida, infelizmente, para muitos dos brasileiros. Vamos saber mais do assunto...
E pensando em desastres nucleares criamos a camiseta com a estampa Chernobyl. Nesta estampa exclusiva, você pode visualizar a usina, as ruínas da cidade de Prypiat, a famosa Roda Gigante (que nunca chegou a ser inaugurada...), árvores e carros na rua. Uma nuvem tóxica se eleva sobre a cidade, além de ter um aviso de radioatividade. Tanto a nuvem quanto o símbolo brilham no escuro! É sucesso essa estampa :) Temos tamanhos comuns e baby look. Clique aqui para comprar a sua!
A Descoberta da Peça
Na cidade de Goiânia-GO existia o Instituto Goiano de Radioterapia (IGR). Era um instituto privado, localizado na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas algumas salas — inclusive aquela em que se localizava o aparelho — foram mantidas em ruínas.
No dia 13 de setembro de 1987, dois catadores de lixo adentraram nessas ruínas e encontraram o aparelho. Vendo que se tratava de mais de uma centena de quilo de chumbo, decidiram desmontar essa parte da máquina e levar a peça para vender para um ferro velho e assim conseguir algum dinheiro.
Após conseguirem separa a parte onde estava o chumbo, a levaram para a casa da mãe de um deles e lá continuaram a tentar desmontá-la, mas era difícil. Em um momento, conseguiram acessar o compartimento onde ficava o pó de Césio-137 e acabaram se contaminando. A peça ficou na casa por 5 dias. até o dia 18 de setembro de 1987, quando resolvem vender para um ferro velho.
A Venda para o Ferro Velho
O ferro velho de um homem chamado Devair Ferreira foi quem comprou a peça. Devair então ordenou que dois de seus funcionários desmontassem a peça, o que eles conseguiram depois de muitas e muitas marretadas.
A noite, Devair reparou um brilho azulado no meio das tranqueiras do ferro velho e foi ver. Ele logo foi ver e viu que era uma das partes da peça que havia comprado e ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para sua esposa Maria Gabriela Ferreira, que também ficou encantada.
A partir desse momento o comportamento de Devair mudou, porque ele simplesmente não largava mais a peça que emitia o brilho azulado e fazia questão de mostrar para todos que o visitavam.
Mas aquele pó que emitia o brilho azulado era Césio-137, uma material radiativo que pode matar, e logo Devair, sua esposa e os funcionários que abriram a cápsula começaram a sentir os sintomas da intoxicação por radiação. Eles tiveram náuseas, seguidas de tonturas, com vômitos e diarreias.
Todos os envolvidos eram pessoas extremamente humildes, que não conheciam nada sobre os perigos da radiação. Logo, Devair atribuía esse mal estar a uma feijoada que havia comido no domingo anterior. Mas sua esposa começou a desconfiar que a causa de tudo poderia estar ligada ao pó-azulado.
Mostrando para os Irmãos
Alguns dias depois um dos irmão de Devair, um rapaz chamado Odesson, foi visitá-lo no ferro velho. Devair logo disse para ele que tinha um pó mágico, que emitia um brilho incrível. Odesson pegou um pouco do pó com a ponta dos dedos e esfregou na palma da mão.
Já outro irmão de Devair, um rapaz Ivo Ferreira, ficou encantado também com o pó e levou um pouco de césio para sua filha, Leide Das Neves. A menina ficou radiante com o que via. Era um brilho azulado sensacional, e ficou brincando com o pó.
Na hora da janta, Leide, um criança como tantas outras, não lavou a mão e pegou um ovo cozido para comer. Ela ingeriu as partículas do césio junto com o ovo cozido. Outro irmão de Devair também teve contato direto com a substância.
No dia seguinte, a menina começou a passar muito mal, e seu pai rodou a cidade de Goiânia atrás de uma farmácia aberta atrás de remédio.
A esposa de Deviar, Maria Gabriela, que só piorava, começava a ser pressionada por uma vizinha a levar aquela capsula para a Vigilância Sanitária para saber o que era aquilo.
Enquanto isso, Devair, se divertia com o pó azulado. Só que ele estava cada vez mais doente, com a sua pele ficando cada vez mais escura e seus cabelos começando a cair.
A Descoberta do Caso
Maria Gabriela e um funcionário do ferro velho pegaram a peça e entraram num ônibus, repleto de gente, para ir até a Vigilância Sanitária, que não ficava muito longe do local.
Chegando lá, explicaram a situação, dizendo que estavam doentes e que havia mais gente doente, e que acreditavam que a causadora era aquela peça que levaram.
Os funcionários não entenderam nada, e disseram para ela que era para deixar o objeto com eles que iriam estudar e depois entrariam em contato dizendo o que era.
A peça fica em uma cadeira por dois dias, expondo os profissionais a radiação, até que finalmente identificaram como sendo uma peça de uma máquina de tratamento de cancer e que o pó dentro dela era Césio-137, um material muito radiativo e que poderia levar a morte.
Operação de Guerra
As principais autoridades da cidade de Goiânia se reuniram e viram que estavam diante de algo muito grande e que medidas urgentes precisavam ser tomadas. Só que na época ocorreria o GP Internacional de Motovelocidade no Autódromo Internacional Ayrton Senna. Para não gerar pânico na população da cidade nem nos estrangeiros que cobriam o evento, o governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população, dizendo que havia ocorrido um vazamento de gás.
No dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta. Primeiro, foram até o ferro velho e levaram de lá, em um ônibus, todos os envolvidos, para o Estádio Olímpico Pedro Ludovico. Lá foi feita uma seleção dos casos mais graves, dependendo do nível de radiação presente no corpo das pessoas.
As vítimas mais graves, como a menina Leide, Maria Gabriela, Ivo, Devair e os dois funcionários do ferro velho que abriram a cápsula foram levadas para tratamento no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. Mais de 112 mil pessoas foram até o estádio fazer a verificação se estavam contaminadas. A população de Goiânia começou a isolar as pessoas contaminadas com medo dessas pessoas transmitirem para elas radiação, que é algo que nosso olho não consegue ver.
No total 1000 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo.
As Primeiras Mortes
No hospital do Rio de Janeiro, as pessoas tomavam vários banhos com sabão de cocô por dia, além de serem esfregadas para sair as partículas. Mas infelizmente, no dia 23 de outubro de 1987 duas pessoas morreram: Leide das Neves Ferreira - que se tornou símbolo da tragédia - e a esposa de Devair, Maria Gabriela Ferreira.
Leide foi enterrada em um cemitério comum em Goiânia, em um caixão especial de fibra de vidro revestida com chumbo para evitar a propagação da radiação. Apesar destas medidas, ainda houve um início de tumulto no cemitério, onde mais de 2 000 pessoas, temendo que seu cadáver envenenasse toda a área, tentou impedir seu enterro usando pedras e tijolos para bloquear a rua do cemitério. Depois de dias de impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado, erguido por um guindaste, devido às altas taxas de radiação.
No dia 27 de outubro morreu o primeiro dos empregados que abriram a cápsula, Israel Baptista dos Santos, de 22 anos e no dia seguinte morre o outro funcionário, Admilson Alves de Souza, de 18 anos
Maria Gabriela e esses dois funcionários também foram enterrados no cemitério de Goiânia em caixões de chumbo.
Operação Para Recolher o Lixo Radiativo
Para acabar com a contaminação, muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito.
Os imóveis mais afetadas foram demolidos, como as casas de Ivo e o ferro velho do Devair. O preço dos imóveis despencou na região.
Cerca de 13 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material com suspeita de contaminação foi levado para a unidade de do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capita, onde somente no ano de 1997, 10 anos após o acidente, foi enterrado.
Passadas mais de duas décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo menos 275 anos.
Até hoje todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.
As Mortes de Ivo e Devair
Devair, o dono do ferro velho que ficou encantado com o brilho do pó, e que levava o aparelho para cima e para baixo com ele, conseguiu sobreviver. Ele ficou vários meses internado e quando voltou para Goiânia era uma pessoal com aparência totalmente diferente. Ela pela ficou bem escura e ele perdeu os pelos do corpo.
Entrevistado na época, disse não se sentir culpado pelo que aconteceu, pois tinha total ignorância sobre o assunto. Logo a depressão tomou conta dele e se entregou ao alcoolismo, morrendo de cirrose 7 anos depois.
Outra a sobreviver ao desastre, mas que caiu em depressão foi Ivo, irmão de Deviar que levou o pó brilhante para mostrar para a filha Leide, de 6 anos, que acabou morrendo. Ele começou a fumar 6 maços de cigarro por dia! 120 cigarros! Morreu de enfisema pulmonar 6 anos depois da tragédia.
Consequências
Em 1996, os médicos Orlando Teixeira, Criseide de Castro e Carlos Bezerril, responsáveis pela clínica abandonada onde o aparelho de radioterapia foi achado, e o físico hospitalar Flamarion Goulart, foram condenados por homicídio culposo – três anos de prisão em regime semi-aberto. As penas foram trocadas por serviços comunitários.
O programa Fantástico fez uma matéria sobre os 30 anos do aniversário da tragédia, e nela o médico Flamarion Goulart, um dos condenados, fez uma revelação chocante: disse que a cápsula contendo césio-137 havia sido retirada do aparelho e levada para um hospital da cidade, mas misteriosamente alguém levou o objeto novamente para as ruínas da antiga clínica. Os outros envolvidos disseram desconhecer essa versão.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), que deveria fiscalizar o césio na clínica, foi condenada a prestar assistência médica às vítimas e a seus parentes. O governo do estado de Goiás e a Cnen foram obrigados a pagar indenizações.
Foi criada a Associação das Vítimas do Césio 137, presidida por Odesson, irmão de Devair. A Associação afirma que até o ano de 2012, quando o acidente completou 25 anos, cerca de 104 pessoas morreram nos anos seguintes pela contaminação, decorrente de câncer e outros problemas, e cerca de 1 600 tenham sido afetadas diretamente. Os resultados para as 46 pessoas com maior nível de contaminação estão mostrados no gráfico de barras abaixo. Várias pessoas sobreviveram, apesar das altas doses de radiação. Isto pode ter acontecido, em alguns casos, porque receberam doses fracionadas. Com o tempo, os mecanismos de reparo do corpo poderão reverter o dano celular causado pela radiação.
Após trinta anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo.
Para evitar que aconteça algo parecido novamente, desde o acidente, a tecnologia melhorou. “Aquelas bombas de cobalto e cobre foram substituídas por aceleradores. Àquela época, existia o elemento radioativo emitindo constantemente a radiação. Agora, há um gerador de raio X confiável, que para de emitir quando desligado. O tratamento ficou mais eficaz. E foi o acidente com o césio que acelerou essa mudança”, explica o físico da Universidade de Brasília, em Ceilândia, Araken dos Santos Werneck Rodrigues.
Filme Césio 137: O Pesadelo de Goiânia
Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia é um filme escrito e dirigido por Roberto Pires. O Roteiro foi baseado em depoimentos das próprias vítimas do acidente ocorrido em Goiânia em setembro de 1987 com uma cápsula de césio 137 encontrada por dois catadores de sucata em um centro médico desativado. Foi lançado no ano de 1990 e tem duração de 115 minutos.
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Fontes (acessadas em 08/09/2017):
- Linha Direta Justiça: Acidente do Césio-137
- Fantástico: Reportagem dos 30 anos da Tragédia
- Wikipedia: Acidente radiológico de Goiânia
- G1: Veja fotos da época do acidente com o césio-137 em Goiânia
- G1: Maior acidente radiológico do mundo, césio-137 completa 26 anos
- Filme Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia
- Memoria Globo: ACIDENTE RADIOATIVO EM GOIÂNIA – CÉSIO 137
- Wikipedia.pt: Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia
- DefesaNet: Césio 137: O legado de uma tragédia
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No dia 13 de setembro de 1987, o Brasil ganhava mais um título indesejável: o de local onde ocorreu o maior acidente radiológico do mundo ocorrido fora de unidades nucleares. Dois catadores encontraram uma máquina de tratamento de câncer abandonada, a desmontaram e venderam para um ferro-velho. O dono ficou encantado com o brilho azulado emitido pela peça e assim se iniciou toda a tragédia...
Assombrados, desde quando fiz o especial Chernobyl que muita gente me pede para falar do acidente do Césio-137 ocorrido em Goiânia no ano de 1987. Pois chegou a hora de falarmos sobre esse acidente, considerado o maior acidente radiológico em área urbana do mundo. Faz 30 anos que aconteceu a a tragédia, que atualmente é desconhecida, infelizmente, para muitos dos brasileiros. Vamos saber mais do assunto...
E pensando em desastres nucleares criamos a camiseta com a estampa Chernobyl. Nesta estampa exclusiva, você pode visualizar a usina, as ruínas da cidade de Prypiat, a famosa Roda Gigante (que nunca chegou a ser inaugurada...), árvores e carros na rua. Uma nuvem tóxica se eleva sobre a cidade, além de ter um aviso de radioatividade. Tanto a nuvem quanto o símbolo brilham no escuro! É sucesso essa estampa :) Temos tamanhos comuns e baby look. Clique aqui para comprar a sua!
A Descoberta da Peça
Na cidade de Goiânia-GO existia o Instituto Goiano de Radioterapia (IGR). Era um instituto privado, localizado na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas algumas salas — inclusive aquela em que se localizava o aparelho — foram mantidas em ruínas.
No dia 13 de setembro de 1987, dois catadores de lixo adentraram nessas ruínas e encontraram o aparelho. Vendo que se tratava de mais de uma centena de quilo de chumbo, decidiram desmontar essa parte da máquina e levar a peça para vender para um ferro velho e assim conseguir algum dinheiro.
Após conseguirem separa a parte onde estava o chumbo, a levaram para a casa da mãe de um deles e lá continuaram a tentar desmontá-la, mas era difícil. Em um momento, conseguiram acessar o compartimento onde ficava o pó de Césio-137 e acabaram se contaminando. A peça ficou na casa por 5 dias. até o dia 18 de setembro de 1987, quando resolvem vender para um ferro velho.
A Venda para o Ferro Velho
O ferro velho de um homem chamado Devair Ferreira foi quem comprou a peça. Devair então ordenou que dois de seus funcionários desmontassem a peça, o que eles conseguiram depois de muitas e muitas marretadas.
A noite, Devair reparou um brilho azulado no meio das tranqueiras do ferro velho e foi ver. Ele logo foi ver e viu que era uma das partes da peça que havia comprado e ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para sua esposa Maria Gabriela Ferreira, que também ficou encantada.
A partir desse momento o comportamento de Devair mudou, porque ele simplesmente não largava mais a peça que emitia o brilho azulado e fazia questão de mostrar para todos que o visitavam.
Mas aquele pó que emitia o brilho azulado era Césio-137, uma material radiativo que pode matar, e logo Devair, sua esposa e os funcionários que abriram a cápsula começaram a sentir os sintomas da intoxicação por radiação. Eles tiveram náuseas, seguidas de tonturas, com vômitos e diarreias.
Todos os envolvidos eram pessoas extremamente humildes, que não conheciam nada sobre os perigos da radiação. Logo, Devair atribuía esse mal estar a uma feijoada que havia comido no domingo anterior. Mas sua esposa começou a desconfiar que a causa de tudo poderia estar ligada ao pó-azulado.
Mostrando para os Irmãos
Alguns dias depois um dos irmão de Devair, um rapaz chamado Odesson, foi visitá-lo no ferro velho. Devair logo disse para ele que tinha um pó mágico, que emitia um brilho incrível. Odesson pegou um pouco do pó com a ponta dos dedos e esfregou na palma da mão.
Já outro irmão de Devair, um rapaz Ivo Ferreira, ficou encantado também com o pó e levou um pouco de césio para sua filha, Leide Das Neves. A menina ficou radiante com o que via. Era um brilho azulado sensacional, e ficou brincando com o pó.
Na hora da janta, Leide, um criança como tantas outras, não lavou a mão e pegou um ovo cozido para comer. Ela ingeriu as partículas do césio junto com o ovo cozido. Outro irmão de Devair também teve contato direto com a substância.
No dia seguinte, a menina começou a passar muito mal, e seu pai rodou a cidade de Goiânia atrás de uma farmácia aberta atrás de remédio.
A esposa de Deviar, Maria Gabriela, que só piorava, começava a ser pressionada por uma vizinha a levar aquela capsula para a Vigilância Sanitária para saber o que era aquilo.
Enquanto isso, Devair, se divertia com o pó azulado. Só que ele estava cada vez mais doente, com a sua pele ficando cada vez mais escura e seus cabelos começando a cair.
A Descoberta do Caso
Maria Gabriela e um funcionário do ferro velho pegaram a peça e entraram num ônibus, repleto de gente, para ir até a Vigilância Sanitária, que não ficava muito longe do local.
Chegando lá, explicaram a situação, dizendo que estavam doentes e que havia mais gente doente, e que acreditavam que a causadora era aquela peça que levaram.
Os funcionários não entenderam nada, e disseram para ela que era para deixar o objeto com eles que iriam estudar e depois entrariam em contato dizendo o que era.
A peça fica em uma cadeira por dois dias, expondo os profissionais a radiação, até que finalmente identificaram como sendo uma peça de uma máquina de tratamento de cancer e que o pó dentro dela era Césio-137, um material muito radiativo e que poderia levar a morte.
Operação de Guerra
As principais autoridades da cidade de Goiânia se reuniram e viram que estavam diante de algo muito grande e que medidas urgentes precisavam ser tomadas. Só que na época ocorreria o GP Internacional de Motovelocidade no Autódromo Internacional Ayrton Senna. Para não gerar pânico na população da cidade nem nos estrangeiros que cobriam o evento, o governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população, dizendo que havia ocorrido um vazamento de gás.
No dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta. Primeiro, foram até o ferro velho e levaram de lá, em um ônibus, todos os envolvidos, para o Estádio Olímpico Pedro Ludovico. Lá foi feita uma seleção dos casos mais graves, dependendo do nível de radiação presente no corpo das pessoas.
As vítimas mais graves, como a menina Leide, Maria Gabriela, Ivo, Devair e os dois funcionários do ferro velho que abriram a cápsula foram levadas para tratamento no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. Mais de 112 mil pessoas foram até o estádio fazer a verificação se estavam contaminadas. A população de Goiânia começou a isolar as pessoas contaminadas com medo dessas pessoas transmitirem para elas radiação, que é algo que nosso olho não consegue ver.
No total 1000 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo.
As Primeiras Mortes
No hospital do Rio de Janeiro, as pessoas tomavam vários banhos com sabão de cocô por dia, além de serem esfregadas para sair as partículas. Mas infelizmente, no dia 23 de outubro de 1987 duas pessoas morreram: Leide das Neves Ferreira - que se tornou símbolo da tragédia - e a esposa de Devair, Maria Gabriela Ferreira.
Leide foi enterrada em um cemitério comum em Goiânia, em um caixão especial de fibra de vidro revestida com chumbo para evitar a propagação da radiação. Apesar destas medidas, ainda houve um início de tumulto no cemitério, onde mais de 2 000 pessoas, temendo que seu cadáver envenenasse toda a área, tentou impedir seu enterro usando pedras e tijolos para bloquear a rua do cemitério. Depois de dias de impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado, erguido por um guindaste, devido às altas taxas de radiação.
No dia 27 de outubro morreu o primeiro dos empregados que abriram a cápsula, Israel Baptista dos Santos, de 22 anos e no dia seguinte morre o outro funcionário, Admilson Alves de Souza, de 18 anos
Maria Gabriela e esses dois funcionários também foram enterrados no cemitério de Goiânia em caixões de chumbo.
Operação Para Recolher o Lixo Radiativo
Para acabar com a contaminação, muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito.
Os imóveis mais afetadas foram demolidos, como as casas de Ivo e o ferro velho do Devair. O preço dos imóveis despencou na região.
Cerca de 13 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material com suspeita de contaminação foi levado para a unidade de do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capita, onde somente no ano de 1997, 10 anos após o acidente, foi enterrado.
Passadas mais de duas décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo menos 275 anos.
Até hoje todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.
As Mortes de Ivo e Devair
Devair, o dono do ferro velho que ficou encantado com o brilho do pó, e que levava o aparelho para cima e para baixo com ele, conseguiu sobreviver. Ele ficou vários meses internado e quando voltou para Goiânia era uma pessoal com aparência totalmente diferente. Ela pela ficou bem escura e ele perdeu os pelos do corpo.
Entrevistado na época, disse não se sentir culpado pelo que aconteceu, pois tinha total ignorância sobre o assunto. Logo a depressão tomou conta dele e se entregou ao alcoolismo, morrendo de cirrose 7 anos depois.
Outra a sobreviver ao desastre, mas que caiu em depressão foi Ivo, irmão de Deviar que levou o pó brilhante para mostrar para a filha Leide, de 6 anos, que acabou morrendo. Ele começou a fumar 6 maços de cigarro por dia! 120 cigarros! Morreu de enfisema pulmonar 6 anos depois da tragédia.
Consequências
Em 1996, os médicos Orlando Teixeira, Criseide de Castro e Carlos Bezerril, responsáveis pela clínica abandonada onde o aparelho de radioterapia foi achado, e o físico hospitalar Flamarion Goulart, foram condenados por homicídio culposo – três anos de prisão em regime semi-aberto. As penas foram trocadas por serviços comunitários.
O programa Fantástico fez uma matéria sobre os 30 anos do aniversário da tragédia, e nela o médico Flamarion Goulart, um dos condenados, fez uma revelação chocante: disse que a cápsula contendo césio-137 havia sido retirada do aparelho e levada para um hospital da cidade, mas misteriosamente alguém levou o objeto novamente para as ruínas da antiga clínica. Os outros envolvidos disseram desconhecer essa versão.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), que deveria fiscalizar o césio na clínica, foi condenada a prestar assistência médica às vítimas e a seus parentes. O governo do estado de Goiás e a Cnen foram obrigados a pagar indenizações.
Foi criada a Associação das Vítimas do Césio 137, presidida por Odesson, irmão de Devair. A Associação afirma que até o ano de 2012, quando o acidente completou 25 anos, cerca de 104 pessoas morreram nos anos seguintes pela contaminação, decorrente de câncer e outros problemas, e cerca de 1 600 tenham sido afetadas diretamente. Os resultados para as 46 pessoas com maior nível de contaminação estão mostrados no gráfico de barras abaixo. Várias pessoas sobreviveram, apesar das altas doses de radiação. Isto pode ter acontecido, em alguns casos, porque receberam doses fracionadas. Com o tempo, os mecanismos de reparo do corpo poderão reverter o dano celular causado pela radiação.
Após trinta anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo.
Para evitar que aconteça algo parecido novamente, desde o acidente, a tecnologia melhorou. “Aquelas bombas de cobalto e cobre foram substituídas por aceleradores. Àquela época, existia o elemento radioativo emitindo constantemente a radiação. Agora, há um gerador de raio X confiável, que para de emitir quando desligado. O tratamento ficou mais eficaz. E foi o acidente com o césio que acelerou essa mudança”, explica o físico da Universidade de Brasília, em Ceilândia, Araken dos Santos Werneck Rodrigues.
Filme Césio 137: O Pesadelo de Goiânia
Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia é um filme escrito e dirigido por Roberto Pires. O Roteiro foi baseado em depoimentos das próprias vítimas do acidente ocorrido em Goiânia em setembro de 1987 com uma cápsula de césio 137 encontrada por dois catadores de sucata em um centro médico desativado. Foi lançado no ano de 1990 e tem duração de 115 minutos.
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Fontes (acessadas em 08/09/2017):
- Linha Direta Justiça: Acidente do Césio-137
- Fantástico: Reportagem dos 30 anos da Tragédia
- Wikipedia: Acidente radiológico de Goiânia
- G1: Veja fotos da época do acidente com o césio-137 em Goiânia
- G1: Maior acidente radiológico do mundo, césio-137 completa 26 anos
- Filme Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia
- Memoria Globo: ACIDENTE RADIOATIVO EM GOIÂNIA – CÉSIO 137
- Wikipedia.pt: Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia
- DefesaNet: Césio 137: O legado de uma tragédia