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A História Completa da Tábua Ouija: Apenas um Mero Brinquedo ou um Poderoso Instrumento de Comunicação com os Mortos?

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Por Marco Faustino

No fim do mês de novembro do ano passado, o YouTube brasileiro ganhou uma nova polêmica relacionada ao mundo "paranormal", no mínimo inusitada, quando uma jovem resolveu fazer uma transmissão ao vivo (uma live) jogando a tábua Ouija sozinha em seu quarto. Ela estava cumprindo uma espécie de "desafio" supostamente solicitado por seus seguidores, quando algo "inesperado" aconteceu diante da câmera, resultando em cortes na sua perna (na altura do tornozelo), que teriam sido feitos por um suposto espírito ou uma suposta entidade que ela teria entrado em contato durante a sessão. Em diversos momentos do vídeo é possível ver a adolescente, de apenas 17 anos, um pouco alterada, sendo que seu comportamento começa a se tornar bem instável após uma hora de transmissão. Alguns dias depois, ela passou a reclamar das pessoas que achavam que tudo que ela fazia era falso, e gravou um outro vídeo para tentar rebater as críticas que vinha recebendo. Na matéria que fizemos sobre esse assunto, apontamos que toda essa história tinha um viés de ser uma farsa em potencial, ainda mais diante do histórico de vídeos realizados pela jovem (saiba mais sobre esse assunto, clicando aqui). Após todas as polêmicas e controvérsias que o caso ganhou, aparentemente o "objetivo" dessa YouTuber foi atingido ao angariar cerca de 100.000 inscritos em apenas duas semanas.

Não posso ser injusto nesse ponto, visto que alguns YouTubers, primordialmente aqueles não possuem nenhum retrospecto nesse campo, acabam usando o chamado "mundo sobrenatural ou paranormal" como uma espécie de "chamariz" ou "impulso" em seus canais. Contudo, costumam se limitar a pouquíssimos vídeos sobre o tema devido a polêmica, a repercussão e a atração de um público volátil, que não tem nada a perder, podendo gerar uma verdadeira onda de "dislikes" e uma fuga em massa de inscritos. Por outro lado, a verdade é que cada um faz o que quer, e a pessoa que deve julgar se vale a pena ou não assistir a um vídeo no YouTube, não importa de quem seja, é você. O YouTube, assim como outras mídias digitais, sempre teve uma certa premissa velada de tentar "substituir" a TV como forma de entretenimento doméstico, porém acaba obedecendo a principal regra do jogo: aquilo que não dá audiência, é descontinuado, ou seja, se não tiver uma boa repercussão, um quadro ou determinado conteúdo geralmente é cortado. Todo o processo de produção de conteúdo dá trabalho: escrever dá trabalho, gravar dá trabalho, editar dá trabalho, e quando não se tem um retorno positivo das pessoas (feedback positivo, likes e visualizações), sempre se procura outro assunto para apresentar ao público. Eventualmente, no meio desse processo de trazer "algo novo" surgem vídeos de cunho paranormal ou sobrenatural.

De qualquer forma, vamos começar a contar para vocês a história da tábua Ouija, e tentar mostrar a realidade diante do que algumas pessoas andam dizendo por aí. Apesar de extenso, não considero um tema complicado para ser abordado, muito pelo contrário. Afinal, quando se realiza uma boa pesquisa, atrelada a responsabilidade sobre o que se publica e divulga, não há com o que se preocupar. Agora, quando alguém lê superficialmente sobre um assunto e se considera um especialista na área ou um estudioso em algum campo da paranormalidade, bem, geralmente você acaba sendo enganado por essa pessoa. Portanto, é extremamente interessante que você acompanhe conosco cada detalhe da história da tábua Ouija, para que você tenha a exata noção de sua origem, sua utilidade e interpretação do que realmente acontece quando ela é utilizada. Provavelmente, você irá se surpreender ao conhecer um pouco mais sobre ela, e que muitos não fazem a menor questão de contar. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Uma Breve Reflexão Inicial


Como vocês podem perceber, a tábua Ouija ou o tabuleiro Ouija voltou a estar em alta, principalmente no YouTube, porém não podemos ser levianos e dizer que isso é um fenômeno recente, muito pelo contrário. Sempre existiram vídeos de pessoas usando a tábua Ouija ao longo do tempo. A questão é que essa tábua ganha, mais ou menos popularidade, de acordo com diversos fatores, entre eles, por exemplo, o lançamento de filmes em que a mesma passa a ser utilizada pelos personagens ou se torna o centro das atenções.

Um exemplo recente disso é o filme "Ouija: Origem do Mal" onde é contada a história de Doris, uma garotinha solitária e pouco popular na escola (praticamente um clichê e uma realidade para muitas crianças e adolescentes ao mesmo tempo). Sua mãe é especialista em aplicar golpes em clientes, fingindo se comunicar com espíritos (algo que muita gente costuma praticar diariamente). Porém, quando Doris usa uma tábua Ouija para se comunicar com o falecido pai, ela acaba liberando uma série de seres malignos que se apoderam de seu corpo e ameaçam todos ao redor (novamente um clichê em termos de filme de terror). Enfim, como vocês puderam perceber, esse é mais um daqueles filmes de terror voltado principalmente para adolescentes. O filme foi lançado aqui no Brasil no dia 20 de outubro do ano passado, um dia antes dos Estados Unidos.

A questão é que a tábua ganha, mais ou menos popularidade, de acordo com diversos fatores, entre eles, por exemplo, o lançamento de filmes em que a mesma passa a ser utilizada pelos personagens ou se torna o centro das atenções. Um exemplo recente disso é o filme "Ouija: Origem do Mal".
Entretanto, o que é a tábua Ouija? Bem, essa pergunta é bem simples de responder. Na prática, a tábua Ouija é qualquer superfície plana com letras, números, palavras ou outros símbolos em que se utiliza um indicador móvel (podendo ser desde uma tampa de garrafa até um copo, ou seja, não é necessário nada místico, mágico ou especial). Os participantes colocam os dedos sobre esse indicador, que então se move pela tábua para responder perguntas e receber mensagens de "supostos espíritos".

Na prática, a tábua Ouija é qualquer superfície plana com letras, números, palavras ou outros símbolos em que se utiliza um indicador móvel (podendo ser desde uma tampa de garrafa até um copo)
No Brasil, por exemplo, há variantes conhecidas como a "Brincadeira do Copo", "Jogo do Copo" ou até mesmo a "Brincadeira do Compasso". Hoje em dia, essas "brincadeiras" não são tão comuns entre os adolescentes, visto que estamos em uma era digital onde o celular e as redes sociais predominam. 

No Brasil, por exemplo, há variantes conhecidas como a "Brincadeira do Copo", "Jogo do Copo"
ou até mesmo a "Brincadeira do Compasso"
Agora, se você perguntar a origem da tábua Ouija, bem, aí vamos precisar voltar um pouco no tempo.

O Começo da Era Espiritualista: As Irmãs Fox


Atualmente, é difícil imaginar a popularidade que um movimento chamado "Espiritualismo" tinha no século XIX, quando sessões de comunicação com os espíritos, transes de médiuns, batidas em mesas, e outras formas de entrar em contato com o "outro lado" eram praticados por um número estimado de 10% da população norte-americana.

Tudo teria começado em 1848, quando as irmãs adolescentes Kate e Margaret Fox introduziram as "batidas espirituais", em Hydesville, um vilarejo no estado de Nova Iorque, que atualmente não existe mais. Por mais que cada período e cultura tenham tido seus próprios modos para lidar com o "mundo do mortos", o Espiritualismo parecia promover uma real comunicação com o além. Em alguns anos, pessoas de todas as classes sociais passaram a levar a sério a alegação de que se podia mesmo falar com os mortos. Porém, os livros nem sempre contam a realidade por trás desse começo.

As irmãs Fox eram três irmãs que desempenharam um papel muito importante no surgimento do Espiritualismo: Leah Fox (1831-1890), Margaret (também chamada Maggie) Fox (1833-1893) e Kate (também chamada Catherine) Fox (1837-1892). As duas irmãs mais novas usavam "batidas" para convencer a irmã mais velha e outras pessoas que elas estavam se comunicando com espíritos. Leah acabou assumindo o gerenciamento da carreiras de suas irmãs por algum tempo, e todas desfrutaram do sucesso como médiuns durante muitos anos.

As irmãs Fox eram três irmãs que desempenharam um papel muito importante no surgimento do Espiritualismo: Leah Fox (1831-1890), Margaret (também chamada Maggie) Fox (1833-1893) e Kate (também chamada Catherine) Fox (1837-1892)
As irmãs Fox e seus respectivos pais
Em 1888, Margaret e Kate acabaram confessando que suas batidas tinham sido uma fraude e demonstraram publicamente o método que utilizavam. No ano seguinte, Margaret tentou se retratar do que havia dito, mas já era tarde demais. A reputação das duas estava completamente destruída, e menos de cinco anos depois, elas acabariam morrendo na miséria. A ironia é que o movimento do "Espiritualismo" continua existindo até hoje, como se as irmãs não tivessem dito, que tudo não passava de uma farsa.

Os Eventos em Hydesville


Como dissemos anteriormente, em 1848, as duas irmãs mais novas - Kate (12 anos) e Margaret (15 anos) - estavam morando na casa de seus pais em Hydesville, Nova York. Hydesville não existe mais, mas era um vilarejo que fazia parte do município de Arcadia, no Condado de Nova York, nos arredores de Newark. A casa tinha uma certa reputação de ser mal-assombrada, mas foi somente a partir do final do mês de março daquele ano, que a família começou a ser assustada por sons inexplicáveis, que às vezes soava como batidas, sendo que outras vezes soava como se móveis estivessem sendo arrastados.
Em 1888, Margaret contou sua história a respeito da origem das batidas misteriosas:

"Quando nós íamos para a cama à noite, costumávamos amarrar uma maçã a uma corda e movê-la para cima e para baixo, fazendo com que a maçã batesse no chão, ou então simplesmente deixávamos a maçã cair, fazendo um som estranho toda vez que isso acontecia. Nossa mãe escutou isso durante um tempo. Ela não conseguia entender e não suspeitava que fosse algum truque da nossa parte por sermos muito novas", disse Margaret.
A casa tinha uma certa reputação de ser mal-assombrada, mas foi somente a partir do final do mês de março daquele ano, que a família começou a ser assustada por sons inexplicáveis, que às vezes soava como batidas, sendo que outras vezes soava como se móveis fossem arrastados.
Durante a noite de 31 de março de 1848, Kate desafiou quem quer que fosse, que estivesse fazendo os tais sons, presumindo ser um "espírito", para repetir as batidas em seus próprios dedos. Algo que aconteceu. O "espírito" foi questionado a respeito da idade das meninas. Algo que foi respondido com precisão. Os vizinhos também foram chamados para presenciar o "fenômeno". Nos dias seguintes, um código foi desenvolvido onde as batidas poderiam significar sim ou não, em resposta a uma pergunta, ou então ser utilizado para indicar uma letra do alfabeto.

As meninas passaram a chamar o espírito de "Sr. Splitfoot", que seria um apelido para "Diabo" naquela época. Mais tarde, a suposta "entidade" que estaria provocando os tais sons alegou ser o espírito de um vendedor ambulante, um mascate chamado Charles B. Rosna, que teria sido assassinado cinco anos antes e enterrado no porão da casa onde estavam morando.

Em 1848, as duas irmãs mais novas - Kate (12 anos) e Margaret (15 anos) - estavam morando na casa de seus pais em Hydesville, Nova York. Hydesville não existe mais, mas era um vilarejo que fazia parte do município de Arcadia, no Condado de Nova York, nos arredores de Newark


Em seus textos sobre as irmãs Fox, Sir Arthur Conan Doyle (escritor e médico britânico, nascido na Escócia, mundialmente famoso por suas histórias sobre o detetive Sherlock Holmes) afirmou que os vizinhos escavaram o porão e encontraram alguns pedaços de ossos, mas foi em 1904 que uma ossada teria sido encontrada, enterrada na parede do porão. No entanto, nenhuma pessoa desaparecida chamada Charles B. Rosna foi identificada. Fiquem calmos, ainda vamos explicar melhor nessa parte.
Margaret Fox em seus últimos anos fez a seguinte observação:

"Os vizinhos estavam convencidos de que alguém tinha sido assassinado na casa, eles perguntaram aos espíritos, através de nós, sobre isso. Fizemos uma batida para dizer sim. Eles chegaram a conclusão que o assassinato tinha sido cometido dentro da casa. Eles percorreram o país inteiro tentando obter os nomes de pessoas que haviam morado anteriormente na casa. Finalmente encontraram um homem com o nome de Bell, e disseram que este pobre inocente tinha cometido um assassinato na casa, e que os ruídos tinham vindo do espírito da pessoa assassinada. Pobre Bell, ficou mal falado e foi considerado por toda a comunidade como um assassino."

Kate e Margaret Fox se Tornam Médiuns


Kate e Margaret foram morar perto de Rochester. Kate foi para a casa de sua irmã Leah, e Margaret foi morar com seu irmão, o David, porém as batidas as acompanharam. Certo dia, Amy e Isaac Post, um fervoroso casal de quakers (nome dado a membros de um grupo religioso de tradição protestante, chamado "Sociedade Religiosa dos Amigos") e amigos de longa data da família Fox, convidaram as meninas para irem a casa deles, também em Rochester. Imediatamente convencidos da autenticidade dos fenômenos, eles ajudaram a espalhar a palavra entre seus amigos quakers radicais, que se tornaram o núcleo inicial dos espiritualistas. Dessa forma surgiu a associação entre o Espiritualismo e causas políticas consideradas até então "radicais", como a abolição da escravatura, a temperança e a igualdade de direitos para as mulheres.

Em 14 de novembro de 1849, as irmãs Fox demonstraram as "batidas espirituais" no Salão Corinthian, em Rochester. Essa foi a primeira demonstração do espiritualismo realizada diante de um público pagante, e inaugurou uma longa história de eventos públicos realizados por médiuns e líderes espiritualistas nos Estados Unidos e em outros países.

Em 14 de novembro de 1849, as irmãs Fox demonstraram as "batidas espirituais" no Salão Corinthian, em Rochester. Essa foi a primeira demonstração do espiritualismo realizada diante de um público pagante.
Com o passar do tempo, as irmãs Fox se tornaram famosas. Suas sessões públicas em Nova York, em 1850, atraíram um público notável, tal como William Cullen Bryant, George Bancroft, James Fenimore Cooper, Nathaniel Parker Willis, Horace Greeley, Sojourner Truth e William Lloyd Garrison, todos muito influentes na sociedade norte-americana e nova-iorquina. Elas também atraíram imitadores, visto que durante os anos seguintes, centenas de pessoas também passaram a reivindicar a capacidade de se comunicar com espíritos.

Tudo teria começado em 1848, quando as irmãs adolescentes Kate e Margaret Fox introduziram as "batidas espirituais", em Hydesville, um vilarejo no estado de Nova Iorque, que atualmente não existe mais
Kate e Margaret se tornaram médiuns conhecidas, realizando sessões para centenas de pessoas. Muitas dessas primeiras sessões eram inteiramente frívolas, onde as pessoas procuravam saber questões de ordem financeira ou amorosa, mas a conotação religiosa da comunicação com os mortos, logo se tornou aparente. Horace Greeley, um proeminente editor e político, se tornou uma espécie de agente protetor para elas, permitindo a circulação das mesmas nos círculos sociais mais elevados.

Os Questionamentos Sobre as Irmãs Fox: Tudo Seria Tão Somente uma Farsa?


Entretanto, a popularidade de ambas veio com um preço igualmente elevado de se pagar, visto que começaram a surgir teorias de cientistas e dos mais céticos para explicar as batidas. O médico E.P. Longworthy investigou as irmãs, e observou que os toques ou batidas sempre vinham debaixo dos seus pés ou quando seus vestidos estavam em contato com a mesa. Ele concluiu que Margaret e Kate eram as responsáveis por gerar os tais sons. John W. Hurn, que publicou artigos no jornal New York Tribune, também chegou a uma conclusão semelhante de fraude. Alguns anos mais tarde, o reverendo John M. Austin alegou que os sons eram produzidos por craqueamento das articulações do pé (mais conhecido por estalar de dedos).

Em 1851, o reverendo C. Chauncey Burr escreveu no New York Tribune que, ao "estalar" as articulações dos pés, os sons eram tão altos que podiam ser ouvidos num grande salão. No mesmo ano, três investigadores: Austin Flint, Charles E. Lee e C. B. Coventry, da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, examinaram as batidas produzidas pelas irmãs e concluíram que elas tinham sido produzidas pelo craqueamento de suas articulações ósseas, tais como dedos dos pés, joelhos, tornozelos ou quadris. C. B. Coventry teria notado que as batidas não ocorriam se as irmãs fossem colocadas em um sofá com almofadas embaixo de seus pés.

Em 1851, o reverendo C. Chauncey Burr escreveu no New York Tribune que,
ao "estalar" as articulações dos pés, os sons eram tão altos que podiam ser ouvidos num grande salão.
Em 1853, um homem chamado Charles Grafton Page investigou as irmãs Fox. Como examinador e advogado de patentes, Charles Page tinha desenvolvido um olhar muito atento para detectar alegações fraudulentas sobre a ciência. Ele aplicou essas habilidades em expor algumas das farsas empregadas pelas irmãs Fox durante as duas sessões que ele participou. Em seu livro chamado "Psychomancy", de 1853, Charles Page observou que os sons de batida vinham debaixo dos longos vestidos das meninas. Ele disse que as mulheres tinham "meios de se esconder de um exame corporal que com certeza iria expor a fraude", visto que seria um ato impensável de um homem levantar o vestido de uma dama naquela época, algo que além de grosseiro seria totalmente condenável.

Em 1857, o jornal Boston Courier criou um prêmio de US$ 500 (um bom dinheiro naquela época) para qualquer médium que pudesse demonstrar habilidade paranormal para um comitê criado pelo jornal. As irmãs Fox tentaram ganhar o prêmio e foram investigadas por três professores de Harvard. Elas falharam no teste, visto que o comitê concluiu que as batidas tinham sido produzidas por movimentos ósseos e dos pés.

Já um relatório da Comissão Seybert, em 1887, afirmou que após investigar diversos médiuns, incluindo Margaret, o fenômeno poderia ser facilmente produzido por métodos fraudulentos. O relatório observou que as batidas eram ouvidas bem próximas de Margaret. Um participante de uma dessas sessões, um homem chamado Horace Howard Furness (1833 - 1912), professor e especialista em obras de Shakespeare, teria sentido certas pulsações nos pés de Margaret.

Horace Howard Furness em sua biblioteca em "Lindenshade", sua casa,
anteriormente localizada em Wallingford, Pensilvânia, nos Estados Unidos
Vamos explicar melhor esse ponto para vocês, porque provavelmente vão surgir dúvidas. A Comissão Seybert foi criada exclusivamente para a investigação do Espiritualismo, como um último pedido de Henry Seybert, um espiritualista da Filadélfia, que em seu testamento deixou US$ 60.000 para a Universidade da Pensilvânia para ser destinado a "manutenção de uma cadeira" na referida universidade a ser conhecida como "Adam Seybert, Presidente da Filosofia Moral e Intelectual". Tudo isso sob a condição, que o titular da referida cadeira individualmente ou em conjunto com uma comissão criada pela universidade, fizesse uma investigação completa e imparcial de todos os sistemas de moral, religião ou filosofia que assumissem representar a verdade, e particularmente em relação ao Espiritualismo Moderno.

As irmãs Fox foram apenas algumas das inúmeras pessoas que foram investigadas. Durante as sessões que o professor Horace Howard Furness acompanhou, o mesmo teria mencionado a Margaret que era possível sentir claramente que o som vinha de seus pés, que apesar não apresentarem quaisquer movimentos, tinham uma "pulsação incomum". 

Depois de duas sessões os experimentos foram abandonados, já que a médium expressava dúvidas de que, devido ao seu frágil estado de saúde, uma terceira sessão não mostraria resultados mais notáveis. Segundo a comissão, esta investigação não foi suficientemente extensa para justificar conclusões positivas. O relatório, no entanto, apontou que "sons de intensidade variável podiam ser produzidos em quase qualquer parte do corpo humano por ação muscular voluntária. Determinar a localização exata dessa atividade muscular, algumas vezes seria apenas uma questão de delicadeza".

O relatório, no entanto, apontou que "sons de intensidade variável podem ser produzidos em quase qualquer parte do corpo humano por ação muscular voluntária. Determinar a localização exata dessa atividade muscular, algumas vezes é uma questão de delicadeza"

Kate foi uma das médiuns examinadas por William Crookes, um proeminente físico, entre 1871 e 1874, que concluiu, ao contrário do que se dizia, que as batidas eram autênticas. No entanto, William foi descrito como uma pessoa ingênua, e os médiuns que ele investigou posteriormente foram flagrados se valendo de truques.

Agora vamos voltar na parte em que uma ossada teria sido encontrada no porão da casa onde Kate e Margaret viviam. Lembram dessa história? Pois bem, em 1904, a ossada associada a um homem supostamente chamado "Charles B. Rosna" teria sido encontrada, quando uma parede falsa do porão desabou.

O jornal "Boston Journal" publicou a história sobre essa descoberta em 22 de novembro de 1904. Uma espécie de caixa metálica, supostamente pertencente ao "Charles Rosna" (apesar de não haver nenhuma identificação que pudesse relacioná-la a qualquer homem com esse nome), também teria sido encontrada no porão e atualmente se encontra no Museu de Lily Dale (uma comunidade norte-americana, que vamos comentar daqui a pouco).

Em 1904, a ossada associada a um homem supostamente chamado "Charles B. Rosna" teria sido encontrada no porão
da antiga casa das irmãs Fox, quando uma parede falsa desabou

Uma espécie de caixa metálica supostamente pertencente ao "Charles Rosna"
também teria sido encontrada no porão, e atualmente se encontra no Museu de Lily Dale
O pesquisador cético Joe Nickell concluiu, após pesquisar sobre a caixa e as fontes preliminares dos ossos, que os mesmos eram fraudulentos. Os ossos eram, pelo menos em grande parte, de animais. Nunca houve sequer a confirmação que tal pessoa chamada "Charles B. Rosna" um dia tenha existido. Além disso, a suposta parede falsa aparentava ser uma espécie de "dilatação" proposital da fundação, não um esconderijo para um túmulo secreto.

As Irmãs Fox se Separaram Temporariamente


Leah Fox, com a morte de seu primeiro marido, se casou com um banqueiro bem sucedido de Wall Street. Margaret se envolveu com Elisha Kane, um explorador norte-americano, em 1852. Kane estava convencido de que Margaret e Kate estavam envolvidas em uma fraude, sob a comando de sua irmã Leah, e ele tentou separar Margaret do restante das irmãs. Kane acabou se casando com Margaret e conseguiu convertê-la para a religião católica apostólica romana. Quando Kane morreu, em 1857, Margaret voltou as suas atividades como médium. Em 1876, ela se juntou novamente a sua irmã Kate, que estava morando na Inglaterra.

Kate tinha viajado para a Inglaterra em 1871, em uma viagem paga por um rico banqueiro de Nova York, de modo que ela não ficou constrangida em aceitar o pagamento por seus serviços como médium. A viagem era aparentemente considerada como trabalho missionário, porém Kate atendia somente pessoas proeminentes, que deixariam seus nomes serem publicados como testemunhas em uma sessão. Em 1872, Kate se casou com H.D. Jencken, um advogado e um entusiasta do Espiritualismo. Jencken morreu em 1881, deixando Kate com dois filhos.

A Confissão das Irmãs Fox


Em 1851, a Sra. Norman Culver, uma conhecida bem próxima da família Fox admitiu, em uma declaração assinada, que ela tinha ajudado as irmãs Fox durante as sessões ao tocá-las para indicar quando as batidas deveriam ser feitas. Ela também alegou que Kate e Margaret tinham revelado o método de produzir as batidas ao estalar os dedos dos pés, com a ajuda dos joelhos e tornozelos.

Notícia publicada pelo jornal
"The Evening News"
em 29 de outubro de 1888
Para piorar a situação, ao longo dos anos, as irmãs Kate e Margaret desenvolveram sérios problemas de alcoolismo. Por volta de 1888, elas começaram uma briga com a irmã mais velha, a Leah, e outros espiritualistas importantes, visto que eles estavam preocupados que Kate estava bebendo demais, e não teria mais capacidade de cuidar adequadamente de seus filhos. Leah, inclusive, teria conseguido a guarda dos filhos da irmã, para o desespero de Kate.

Ao mesmo tempo, Margaret, que estava inclinada a voltar para a religião católica, começou a acreditar que seus poderes eram diabólicos. Uma verdadeira panela de pressão estava prestes a estourar e ambas estavam cansadas de Leah, ou seja, as duas queriam vingança.

Então, as duas irmãs viajaram para a cidade de Nova York, onde um repórter ofereceu cerca de US$ 1.500 se elas revelassem seus métodos, e lhe desse exclusividade sobre a história. Margaret e Kate apareceram publicamente na Academia de Música de Nova York, em 21 de outubro de 1888 e, perante um público de 2.000 pessoas, Margaret demonstrou como ela podia produzir, por mera liberalidade, batidas audíveis em todo o teatro. Alguns médicos que estavam na plateia se aproximaram do palco para verificar se o estalar dos dedos era realmente a fonte do som.

Margaret contou sua versão sobre a história das origens das misteriosas batidas, em uma confissão assinada dada à imprensa e publicada no jornal "New York World", em 21 de outubro de 1888, incluindo os eventos em Hydesville. Era o começo do fim de todo um reinado, que as irmãs Fox tinham construído por todo os Estados Unidos, e ganhando inclusive notoriedade mundial.

Margaret começou sua carreira de médium após sair de casa, e iniciar suas viagens espiritualistas juntamente com sua irmã mais velha, a Leah Fox Undehill (nome de casada da Leah Fox):

"A Sra. Underhill, minha irmã mais velha, levou Katie e eu para Rochester.  Foi lá que descobrimos uma nova maneira de fazer as batidas. Minha irmã Katie foi a primeira a observar que, ao estalar os dedos, ela podia produzir certos barulhos com as articulações, e o mesmo efeito poderia ser gerado com os pés. Ao descobrir que poderíamos fazer as batidas com nossos pés - primeiro com um pé e depois com ambos - praticamos até que pudéssemos fazer isso mais facilmente enquanto o quarto estava escuro. Assim como acontece quando a maioria das coisas, que nos deixam perplexos, são reveladas, é surpreendente o quão facilmente isso é feito. As batidas são simplesmente o controle perfeito dos músculos da perna, logo abaixo do joelho, que comandam os tendões do pé e permite a ação dos ossos dos dedos dos pés e tornozelos, que não são comumente conhecidos. Tal controle perfeito só é possível quando se ensina cuidadosamente e continuamente uma criança desde cedo, visto que os músculos se tornam mais rígidos com o passar do tempo... Então, esta é a simples explicação de todo o método dos toques e das batidas."

  Diante de um público de 2.000 pessoas, Margaret demonstrou como podia produzir batidas audíveis em todo o teatro. Alguns médicos que estavam na plateria se aproximaram do palco para verificar se o estalar dos dedos era realmente a fonte do som
Margaret também escreveu:

"Muitas pessoas quando ouvem o barulho, imaginam de imediato que são os espíritos que estão entrando em contato com elas e as tocando. É uma ilusão muito comum. Algumas pessoas muito ricas vieram me visitar anos atrás, quando eu morava na rua 48, e eu fiz algumas batidas para elas. Eu fiz uma batida espiritual em uma cadeira e uma senhora gritou: 'Sinto o espírito batendo no meu ombro'. Naturalmente, era pura imaginação."

Harry Houdini, o mágico que dedicou grande parte de sua vida a desmistificar as alegações geradas pelo Espiritualismo, forneceu uma interessante visão nesse sentido.

"Quanto à ilusão do som, as ondas sonoras são desviadas da mesma forma que as ondas de luz são refletidas pela intervenção de um meio apropriado e, sob certas condições, é difícil localizar sua fonte. Stuart Cumberland me contou sobre um teste interessante para provar a incapacidade de uma pessoa com os olhos vendados em traçar o som em relação a sua fonte. É extremamente simples: basta bater duas moedas entre si um pouco acima da cabeça da pessoa vendada."

Esta foto clássica mostra Harry Houdini, um ano antes de morrer, revelando truques usados por espiritualistas oportunistas a uma assembleia de clérigos de Nova York (observe abaixo da mesa que o ilusionista toca um sino com os dedos).
Pressionada pelo movimento Espiritualista e suas próprias condições financeiras, Margaret tentou se retratar do que havia mencionado anteriormente, ou seja, voltou atrás, em novembro de 1889, cerca de um ano após sua exibição em Nova York, dizendo que havia dito aquilo apenas por dinheiro, e que ela nunca tinha duvidado do Espiritualismo.

Enfim, ela tentou retornar às apresentações espiritualistas, mas nunca mais atraiu a atenção do público ou teve a mesma clientela pagante de anos anteriores. Após alguns anos, ambas as irmãs morreram na pobreza, sem o apoio daqueles que um dia estiveram ao lado delas, e enterradas em túmulos sem nenhum destaque para o que um dia representaram. Todas as três irmãs estão enterradas em cemitérios no Brooklyn, em Nova York (Margaret e Kate estão no cemitério Cypress Hills, enquanto Leah está no cemitério Green-Wood).

Rejeição ao Espiritualismo


Margaret e Kate também deram declarações muito fortes contra Espiritualismo:

"A maioria de vocês sabe, sem sombras de dúvida, que eu tenho sido o principal instrumento em perpretar a farsa do Espiritualismo para um público demasiadamente confiante. A maior tristeza da minha vida é saber disso, e embora seja tarde para dizer, estou preparada para dizer a verdade, toda a verdade, e nada mais do que a verdade, então, ajude-me Deus(...) Estou aqui, nesta noite, como uma das fundadoras do Espiritualismo para denunciá-lo como uma absoluta farsa do começo ao fim, como sendo a mais fraca das superstições, a mais perversa blasfêmia conhecida do mundo (...)", disse Margaretta Fox Kane (páginas 75 e 76 do livro "The Death-Blow to Spiritualism" de Rueben Briggs Davenport, publicado originalmente em 1888).

Também é possível encontrar tal declaração acima nas edições do New York World, de 21 de outubro de 1888 e do New York Herald / New York Daily Tribune, de 22 de outubro de 1888.

Páginas 75 e 76 do livro "The Death-Blow to Spiritualism" de Rueben Briggs Davenport,
publicado originalmente em 1888
"Considero o espiritualismo como uma das maiores maldições que o mundo já conheceu", disse Katie Fox Jencken, para o jornal New York Herald, na edição do dia 9 de outubro de 1888.

O Legado Distorcido das Irmãs Fox e o Hydesville Memorial Park


As irmãs Fox têm sido amplamente citadas na literatura parapsicológica e espiritualista. De acordo com os psicólogos Leonard Zusne (1924 - 2003) e Warren Jones, "muitas histórias sobre as irmãs Fox deixam de lado sua confissão de fraude e apresentam as batidas como manifestações autênticas do mundo espiritual". Charles Edward Mark Hansel (1917 - 2011), um proeminente psicólogo britânico, que ficou mais conhecido devido a sua crítica relacionada a estudos parapsicológicos, certa vez disse que as irmãs Fox continuavam sendo mencionadas na literatura parapsicológica sem qualquer menção sobre as trapaças que fizeram.

Particularmente, em minhas pesquisas para compor esse especial, me deparei com uma mesa que atualmente pertence ao acervo da Sociedade Histórica de Rochester. Essa mesa, que você poderá conferir nas imagens abaixo, foi criada especificamente para produzir sons de batidas (ou seja, permitir que farsantes ganhassem dinheiro com as "batidas espirituais"). Dentro da mesa encontra-se uma mola conectada a uma longa haste de metal. Quando empurrada, a haste bate na madeira, que então produz a batida.

A Sociedade Histórica de Rochester diz que essa mesa era utilizada pelas irmãs Fox em suas sessões na cidade de Rochester, porém outros pesquisadores acreditam que a mesa possa ter sido criada (talvez por Hiram Pack, um respeitável fabricante de móveis, que morava em Nova York, mas que acabou admitindo criar "mesas de médiuns" para tais práticas) para qualquer espiritualista que praticasse fraudes ou então até mesmo para um mágico ilusionista.

Em minhas pesquisas para compor esse especial, me deparei com uma mesa que atualmente pertence ao acervo da Sociedade Histórica de Rochester. Essa mesa foi criada especificamente para produzir sons de batidas, sendo creditada as irmãs Fox
A Sociedade Histórica de Rochester diz que essa mesa era utilizada pelas irmãs Fox em suas sessões na cidade de Rochester, porém outros pesquisadores acreditam que a mesa possa ter sido criada para qualquer espiritualista que praticasse fraudes ou então até mesmo para um mágico ilusionista.


Enfim, apesar da reputação das mulheres como líderes espirituais ter sido arruinada pela confissão, de alguma forma o conceito do Espiritualismo e a capacidade dos médiuns em interagir com os mortos continuaram a prosperar. Um ponto bem interessante sobre a história das irmãs Fox, é que, assim que a admissão foi tornada pública, inúmeras pessoas em todo o país e outras partes do mundo começaram a experimentar a sua própria capacidade de interagir com a vida após a morte.

As igrejas espiritualistas continuaram sendo criadas e até comunidades inteiras, a exemplo de Lily Dale, no oeste de Nova York, tornaram-se refúgios seguros para os médiuns e espiritualistas abraçarem o causa do Espiritualismo.

As igrejas espiritualistas continuaram sendo criadas e até comunidades inteiras, a exemplo de Lily Dale, no oeste de Nova York, tornaram-se refúgios seguros para os médiuns e espiritualistas abraçarem o causa do Espiritualismo.
Outro ponto é interessante mencionar que Lily Dale foi fundada em 1879, como Associação Livre do Lago Cassadaga, uma espécie de acampamento e local de encontro para espiritualistas e pensadores de mente aberta. O nome foi mudado para Cidade da Luz, em 1903, e finalmente se tornou Assembleia Lily Dale, em 1906. O propósito de Lily Dale era e continua sendo promover a "ciência", a filosofia, e o espiritualismo. Atualmente, a localidade é uma comunidade da cidade de Pomfret, no lado leste do Lago Cassadaga, próxima a Vila de Cassadaga.

O propósito de Lily Dale era e continua sendo promover a "ciência", a filosofia, e o espiritualismo. Atualmente, a localidade é uma comunidade da cidade de Pomfret, no lado leste do Lago Cassadaga, próxima a Vila de Cassadaga

Mapa da comunidade de Lily Dale

Foto da casa onde abriga o Museu de Lily Dale, e o local onde encontra-se um vasto material
relacionado as irmãs Fox
Depois que a família Fox se mudou de Hydesville, a casa ficou abandonada por anos. Em 1915, Benjamin Bartlett, um membro da comunidade de Lily Dale, a comprou e a moveu para a própria Lily Dale, a sede da Associação Nacional das Igrejas Espiritualistas.

Infelizmente e misteriosamente, a casa pegou fogo em 1955. O fogo foi implacável e destruiu a casa inteira. Apenas a base de pedra da casa original, em Hydesville, permaneceu como a única lembrança do local onde as irmãs Fox moraram e onde aconteceram os primeiros e supostos fenômenos paranormais.

Depois que a família Fox se mudou de Hydesville, a casa ficou abandonada por anos. Em 1915, Benjamin Bartlett, um membro da comunidade de Lily Dale, a comprou e a moveu para a própria Lily Dale
A antiga casa das irmãs Fox, que tinha sido movida para Lily Dale, ardeu em chamas as 4h da manhã do dia 21 de setembro de 1955.
Demorou apenas poucos minutos para que a mesma se tornasse apenas memória (essa imagem é meramente ilustrativa)

Foto do antigo local onde ficava localizada a antiga casa das irmãs Fox, em Lily Dale, nos Estados Unidos
Em 1998, a Associação Nacional das Igrejas Espiritualistas comprou o terreno onde a casa das irmãs Fox tinha sido originalmente construída. Atualmente, o local é uma espécie de parque memorial, que é mantido por voluntários locais, chamado Hydesville Memorial Park, que inclusive conta com um grupo no Facebook, que compartilha muitos textos e diversas imagens relacionadas as irmãs Fox, assim como da própria propriedade.

Confira algumas fotos do Hydesville Memorial Park, localizado na estrada Hydesville (Rota CR 221):
Panfleto de 2005 do Hydesville Memorial Park

Foto da fachada da principal construção, que protege a base de pedra da antiga casa das irmãs Fox

Foto mostrando a base de pedra, na qual tinha sido erguida a antiga casa das irmãs Fox


Mais uma foto mostrando a base de pedra por outro ângulo
Foto mostrando a suposta parede falsa em que uma ossada foi descoberta em 1904 (canto superior esquerdo). O local ainda é um ponto de devoção e homenagens feitos por aqueles que ainda acreditam que alguém tenha sido enterrado naquele lugar


Foto destacando o local onde uma ossada foi encontrada em 1904


Como vocês podem perceber, o Espiritualismo praticamente nasceu diante de uma fraude. Porém, nem todos concordam com isso. Os defensores da vida após a morte dizem que as irmãs Fox foram coagidas a dizer o que a imprensa queria em troca de dinheiro, e ossada encontrada em 1904 provaria a mediunidade que Margaret e Kate possuíam. De qualquer forma, acho que ficou bem claro a realidade por trás do que normalmente é contado para vocês, não é mesmo?

É importante ressaltar que não iremos comentar sobre Espiritismo nessa postagem. No entanto, vale destacar que, em 1854, Allan Kardec tomou conhecimento das "mesas girantes e falantes", e começou a assistir as reuniões sem dar muito crédito, porém no decorrer das pesquisas, Kardec definiu o Espiritismo como uma nova ciência na qual, pelo método experimental, chegou à conclusão de que estas manifestações provavam a existência da alma e de sua sobrevivência ao transe da morte. Ele também havia percebido que cada espírito possuía um grau de conhecimento e moralidade. Posteriormente, em 1858, ele publicou "O Livro dos Espíritos", considerado como o marco de fundação do Espiritismo, e fundou, nesse mesmo ano, a primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Se o que ele pesquisou reflete uma realidade compatível ou não diante de tantas fraudes, bem,  isso ficará para uma outra ocasião, visto que esse assunto literalmente pegaria fogo.

Por outro lado, não podemos nos esquecer de uma matéria muito interessante, que já publicamos aqui no blog AssombradO.com.br sobre o "Experimento Bradford", lembram dessa matéria? Nela contamos a história de Thomas Lynn Bradford, um espiritualista que estava disposto a provar definitivamente que existia a "vida após a morte", e para isso ele teve uma ideia infalível: simplesmente se matar para entrar em contato a partir do "outro lado".

Na matéria relacionada ao "Experimento Bradford" contamos a história de Thomas Lynn Bradford, um espiritualista que estava disposto a provar definitivamente que existia a "vida após a morte" e para isso ele teve uma ideia infalível: simplesmente se matar para entrar em contato a partir do "mundo dos mortos"
Essa é uma história fascinante, e que vocês também podem conferir em vídeo no canal AssombradO, no YouTube: O Experimento Bradford: Se Matou Para Provar que Existe o Outro Lado. Apesar de todas as alegações das pessoas envolvidas e da morte do homem, tudo soou apenas uma grande encenação para tentar fingir que Thomas havia entrado em contato de alguma forma. A grande verdade é que Thomas Lynn Bradford nunca conseguiu voltar para contar se realmente existe um outro lado ou não.

O Espiritualismo e o Presidente Norte-Americano Abraham Lincoln


Para muitos, o Espiritualismo parecia estender a esperança de se aproximar de entes queridos já falecidos, e aliviar a dor de perder um filho para alguma doença da época em que viviam. O fascínio da imortalidade ou de sentir-se muito além da realidade cotidiana atraía as pessoas. Para outros, os conselhos espirituais tornaram-se uma maneira de lidar com a ansiedade sobre o futuro, fornecendo conselhos de outro mundo sobre questões de saúde, amor ou dinheiro.

Até mesmo o ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln teria organizado uma espécie de "sessão mediúnica" na Casa Branca, embora fosse mais como um jogo bem-humorado do que um interrogatório espiritual para ser levado a sério. Ainda assim, espiritualistas conseguiram acesso aos aposentos, um tanto quanto reservados da Casa Branca, na tentativa de aconselhar o presidente dos Estados Unidos e a primeira-dama, logo após o início da Guerra Civil. Essa é justamente nossa próxima etapa para chegarmos até o surgimento da tábua Ouija. Vamos conhecer rapidamente um pouco dessa história.

De acordo com relatos de jornais da época, o presidente Abraham Lincoln organizou uma "sessão mediúnica" na Casa Branca, embora fosse mais como um jogo bem-humorado do que um interrogatório espiritual sério
"Não posso ficar calado em uma gaiola de ferro e ser vigiado", disse Abraham Lincoln, irritado, quando seu amigo Leonard Swett preocupou-se com a segurança inadequada que o chefe do executivo estava recebendo. Segundo Abraham Lincoln, um presidente deveria ir até as pessoas.

"A vida de um homem é tão querida quanto a de outro, e se um homem tirar minha vida, ele pode estar razoavelmente certo de que perderá a sua própria", disse Lincoln a um outro amigo, o deputado Cornelius Cole, da Califórnia. O presidente acreditava que pudesse ser assassinado, mas não acreditava que fosse seu destino morrer dessa forma.

Abraham Lincoln foi o 16º presidente dos Estados Unidos, mais conhecido por manter a integridade da União durante a Guerra Civil, e por assinar a Proclamação da Emancipação, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1863, abolindo a escravidão em todo o território confederado ainda em Guerra Civil.
Os amigos de Lincoln continuavam preocupados. Quando a Guerra Civil entrou em seus últimos meses, a Confederação estava se debatendo como um tubarão preso em um arpão, planejando roubar bancos do Norte, invadir campos de prisioneiros, destruir trens e enviar roupas infectadas com doenças para a capital do país, Washington. Certa noite, os rebeldes tentaram incendiar 19 hotéis e outros edifícios públicos em Nova York. O Sul estava desesperado, e talvez cogitasse matar o próprio presidente do país.

Charles J. Colchester também avisou Lincoln. Ele não era um amigo solícito ou tão preocupado quanto Swett ou Cole. Na verdade, Lincoln mal conhecia Colchester. Porém, ele era importante para Mary Todd Lincoln, a esposa do presidente, e tinha se tornado um visitante regular da Casa Branca. Curiosamente, esse personagem estranho, um espiritualista e um médium, era a única pessoa que Lincoln deveria ter ouvido. Colchester não precisava de nenhum de seus poderes proféticos para perceber que o presidente estava em perigo. Sua informação provavelmente veio das melhores fontes terrenas, seu amigo John Wilkes Booth.

Colchester não precisava de nenhum de seus poderes proféticos para perceber que o presidente estava em perigo. Sua informação provavelmente veio das melhores fontes terrenas, seu amigo John Wilkes Booth (acima)
A história de Lincoln, Booth e Colchester, que tem sido esquecida em relação a literatura sobre o assassinato do presidente norte-americano, começou, de certa forma, na tarde de 20 de fevereiro de 1862. Por volta das 17 horas daquele dia, Willie, um dos filhos de Lincoln, morreu aos 11 anos de idade, aparentemente de febre tifoide. Willie tinha um temperamento doce, era o mais inteligente, o mais bonito dos quatro meninos de Lincoln, e o mais parecido com o pai em termos de personalidade. Ambos os pais o idolatravam. Tendo perdido seu filho Eddie, 12 anos antes, quando tinha apenas 3 anos, eles foram devastados ao serem revisitados por uma nova tragédia.

Na tarde de 20 de fevereiro de 1862, por volta das 17 horas, Willie, o terceiro filho de Lincoln,
morreu aos 11 anos de idade, aparentemente de febre tifoide
"Sua morte foi a aflição mais esmagadora que o senhor Lincoln jamais havia imaginado passar", lembrou o artista Francis Carpenter, que viveu na Casa Branca por seis meses, enquanto ele pintava o famoso retrato do presidente e de seu gabinete na primeira leitura da Proclamação de Emancipação.

Willie morreu numa quinta-feira. Na quinta-feira seguinte, Lincoln trancou-se na sala verde para sofrer sozinho pela morte do filho e, posteriormente, começou uma rotina de se trancar naquela mesma sala a cada quinta-feira. Mary e sua irmã mais velha, Elizabeth Todd Edwards, ficaram alarmadas com seu estado de espírito, então fizeram um acordo para que o reverendo Francis Vinton, da Igreja da Trindade, em Nova York, visitasse o presidente. Soberbo e perspicaz, Vinton, um advogado e soldado por educação, disse a Lincoln que ele estava lutando com Deus ao sofrer daquela maneira.

O reverendo Francis Vinton,
da Igreja da Trindade, em Nova York
Lincoln ouviu Vinton como se estivesse em estado de letargia, até que o reverendo disse: "Seu filho está vivo". A frase ecoou como uma fagulha se aproximando de um barril de pólvora. "Vivo? Vivo?", repetiu Lincoln saltando de um sofá e completando: "Certamente, você zomba de mim".

"Meu caro senhor...", respondeu Vinton enquanto colocava um braço ao redor do presidente. "Não busque seu filho entre os mortos. Ele não está lá. Ele vive hoje no Paraíso". Apesar das palavras esperançosas de Vinton, o frio consolo do fatalismo vivido pelo presidente era seu principal consolo. As incansáveis exigências da guerra em relação à atenção de Lincoln o afastaram gradualmente do desespero. Ele colocou uma faixa larga e preta em torno de seu chapéu, em memória de Willie, e seguiu em frente. A fita ainda estava lá, quando ele foi assassinado três anos depois.

Mary Lincoln, mais convencionalmente religiosa do que seu marido, foi, no entanto, incapaz de aceitar o ensino de sua fé presbiteriana de que Willie tinha ido ao reino de Deus para repousar em paz. Ela não queria se separar de Willie. Então, amigos disseram que talvez ela não precisasse realmente se separar dele. Eles disseram a ela, que Willie ainda estava aqui, ansioso por vê-la, de fato, e simplesmente aguardava do outro lado de um véu que poderia ser levantado por aqueles com o dom apropriado.

As boas notícias vindas do Espiritualismo, que os entes queridos falecidos estavam sempre presentes para oferecer conforto e conselhos aos vivos, foram poderosamente atraentes no século XIX, e a influência do movimento disparou com o sofrimento produzido pela guerra. Os jornais espiritualistas proclamavam a fé, e círculos de crentes se estabeleceram nas principais cidades. O círculo de Washington contava entre seus membros, inúmeros oficiais do governo. Warren Chase, um conferencista itinerante para o movimento, acreditava que o interesse mostrado no Espiritualismo era maior na capital do país do que em qualquer outro lugar.

Mary Lincoln foi visitada por sucessivos "ministros espirituais" após a morte de Willie. Seu impacto era palpável. Uma noite ela bateu na porta do quarto do Príncipe de Gales, onde sua meia-irmã, Emilie Helm estava hospedada, para falar sobre Willie. "Ele vive", disse Mary, com a voz trêmula. "Ele vem a mim todas as noites e fica em pé, nos pés da minha cama, com o mesmo sorriso doce e adorável que sempre teve", completou. Mary disse que algumas vezes, ele trazia consigo outros membros da família que já tinham morrido, assim como o seu irmão Eddie. Mary então declarou: "Você não faz ideia do conforto que isso me dá". Os olhos de Mary pareciam maiores, mais vívidos e brilhantes quando falava sobre isso, e Emilie ficou preocupada: "Isso não é natural e anormal. Isso me assusta", escreveu em seu diário.

Amigos disseram a Mary Lincoln (na foto), que Willie ainda estava aqui, ansioso por vê-la, de fato, e simplesmente aguardava do outro lado de um véu que poderia ser levantado por aqueles com o dom apropriado.
Pouco tempo depois, era a vez de Lincoln se preocupar. Marido atencioso que era, o presidente compareceu algumas vezes em suas sessões com espiritualistas. Certa vez, eles foram visitar Margaret Laurie e sua filha Belle Miller, as chamadas bruxas de Georgetown. Parecia aconselhável ficar de olho no que acontecia nessas ocasiões, e considerando que Miller "tinha o poder de levitar os pianos", eles também poderiam meio que se entreter com isso. Contudo, o presidente nunca foi um crente, referindo-se caprichosamente ao mundo espiritual como o "país superior". Lincoln acreditou durante a maior parte de sua vida, que a alma perdia sua identidade após a morte.

Certa vez, eles foram visitar Margaret Laurie e sua filha Belle Miller, as chamadas bruxas de Georgetown. Parecia aconselhável ficar de olho no que acontecia nessas ocasiões e, considerando que Miller "tinha o poder de levitar os pianos", eles também poderiam meio que se entreter com isso
Entre os médiuns que atendiam Mary, estava o proeminente Charles Colchester, um inglês de rosto avermelhado, olhos azuis e um grande bigode. Alegado ser o filho ilegítimo de um duque, este vidente professava poderes notáveis: podia ler cartas seladas, gritar os nomes dos amigos falecidos dos visitantes, fazer aparecer fantasmas e produzir palavras em seu antebraço em letras vermelho-sangue.

Um dos poucos registros sobre Chales Colchester
que se tem até hoje, visto que não há fotos do mesmo
"Colchester é considerado o líder do Espiritualismo na América e, como consequência, seus devotos, crentes e visitantes somam centenas de pessoas", estampava um jornal de Cincinnati. Para os fiéis, ele era um intermediário extraordinariamente dotado com o outro lado. Para os céticos, ele era um vigarista que usava truques, hipnose e mágicas secundárias em salas escuras para encher os bolsos às custas dos perturbados e daqueles de coração partido. Interessante notar nesse ponto que, no outono de 1865, ele foi condenado em Nova York por praticar "prestidigitação", ou truque de mãos, sem a devida licença e morreu em Iowa alguns anos depois.

Colchester estabeleceu uma loja em Washington, em meio a guerra e, em pouco tempo, estava trabalhando sua feitiçaria na Casa Branca e na Casa dos Soldados (uma casa presidencial de verão, que ficava localizada em uma colina ao norte do centro da cidade). Lá, em sessões particulares, o jovem adivinho começou a enganar o presidente e sua esposa.

Lincoln estava particularmente intrigado com a estranha capacidade de Colchester de invocar sons em diferentes partes de uma sala. Como qualquer pessoa racional, o presidente queria entender o que estava acontecendo, então ele pediu ao Colchester para se submeter a um exame por Joseph Henry, o então Secretário do Instituto Smithsonian. O médium concordou e, Henry muito a contragosto, disse ao presidente que não tinha nenhuma explicação imediata para o fenômeno. (Henry acabou descobrindo algum tempo depois, que Colchester usava um "criador de sons" elétrico, especialmente projetado e atado ao seu bíceps. A descoberta veio completamente por acaso, depois que Henry iniciou uma conversa com um desconhecido em um trem, que por coincidência era justamente o homem que tinha criado o dispositivo e o vendido para Colchester).

Colchester teria admitido a Warren Chase, que "muitas vezes enganou os tolos, assim como ele poderia facilmente fazê-lo". Uma vez que ele era tão receptivo aos espíritos destilados quanto aos etéreros, a maior parte do dinheiro que ele recebeu de suas sessões foi direto para o uísque. Quando amigos o convidavam para beber, o festivo inglês respondia que deveria consultar primeiramente os espíritos em busca de uma orientação.

C.J.S. Colchester provavelmente era o nome de Charles Jackson Sealby Colchester que chegou sozinho a Nova York, aos 13 anos de idade, a bordo do navio S.S Africa, em 4 de novembro de 1852, vindo de Cumberland, na Inglaterra
Com um olhar sério, ele batia a mão no poste mais próximo, como se soasse extremamente familiar, e depois anunciava que o outro mundo havia autorizado uma ocasional bebedeira. Obviamente, ele gastava muito e raramente havia dinheiro sobrando, logo ele era altamente ganancioso e enganador, ou seja, um problema.

Uma vez que ele frequentava o círculo social de Washington, Colchester conheceu John Wilkes Booth. Booth estava morando em Washington naquela época, planejando sequestrar Lincoln e torná-lo um refém para o Sul, enquanto, é claro, ainda não fantasiava assassiná-lo.

O interesse de Booth no Espiritualismo começou em 1863, quando sua cunhada Molly morreu. Inerentemente supersticioso, ele participou de várias sessões com seu irmão viúvo, Edwin. Posteriormente, Booth cresceu fortemente ligado aos notáveis Irmãos Ira e William Davenport, mágicos que se diziam médiuns espirituais.

Quando os irmãos ficavam firmemente presos dentro de uma caixa selada com instrumentos musicais, as pessoas do lado de fora da caixa podiam ouvir músicas provenientes de dentro dela. No entanto, quando a caixa era aberta e os irmãos eram mostrados como se ainda estivessem amarrados em suas posições originais, parecia que eles tinham convocado uma orquestra fantasmagórica para tocar. "Provavelmente, eram os maiores médiuns de sua espécie que o mundo já viu", escreveu Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes e um notável espiritualista. Booth adorava os Davenport e fazia sessões particulares com eles sempre que podia.

Posteriormente, Booth cresceu fortemente ligado aos notáveis Irmãos Ira e William Davenport,
mágicos que se diziam médiuns espirituais
Nas semanas antes do assassinato de Lincoln, Booth acomodou-se no Hotel Nacional na Avenida Pensilvânia, a apenas seis quarteirões do Capitólio e ainda mais perto do Teatro Ford. Colchester o visitava muitas vezes. Além de sua capacidade de entrar em contato com os mortos, Colchester também podia dizer o futuro, uma habilidade útil para Booth, que estava começando a pensar o impensável.

"A dupla passava uma quantidade considerável de tempo juntos", disse George W. Bunker, funcionário do Hotel Nacional, sendo que muitas vezes saíam juntos. Bunker observou que Colchester não era apenas amigo de Booth, era "mais do que isso". Colchester era o "associado" de Booth.

Enquanto isso, Colchester fazia suas falcatruas na Casa Branca. Tendo conquistado a confiança de Mary, ele exigiu que ela conseguisse um passe livre de trem do Departamento de Guerra. Colchester deixou claro que ela teria que fazer isso ou ele tornaria público alguns fatos muito embaraçosos que ele tinha descoberto durante suas sessões. Desesperada, Mary revelou a tentativa de chantagem a Noah Brooks, um membro do círculo interno do presidente.

Desesperada, Mary revelou a tentativa de chantagem
a Noah Brooks, um membro do círculo interno do presidente
Brooks decidiu enfrentar o canalha. Ele assistiu a uma sessão de Colchester, onde todos se sentaram de mãos dadas em torno de uma mesa na qual um tambor, um banjo e um sino tinham sido colocados. Quando as luzes foram apagadas, uma música começou a tocar dos instrumentos. Soltando as mãos, Brooks rapidamente se aproximou em direção do som, e bateu sua cabeça em algo duro. Ele o agarrou firmemente com suas mãos. Quando um amigo acendeu um fósforo, foi revelada a mão de Colchester segurando um sino e um tambor, a mesma que havia deixado um corte na cabeça de Brooks, e justamente a mesma que Brooks lutou para segurar. Colchester havia sido desmoralizado.

Colchester deixou a sala e se recusou a voltar, dizendo que estava "muito indignado com tamanho insulto". Porém, Brooks o encontrou na Casa Branca cerca de um ou dois dias depois e disse: "Você sabe que eu sei que você é um vigarista e um farsante". Colchester simplesmente fugiu.

No início de abril de 1865, Booth abandonou seu plano de sequestrar Lincoln para se concentrar em assassiná-lo. Diante de um grupo de amigos de confiança em Washington, ele ameaçou matar o presidente, sendo que um dos seus amigos perguntou sobre o que Colchester sabia em relação aos seus planos. Os registros históricos, no entanto, nunca mostraram a resposta para essa pergunta.

No entanto, a parte em que o espiritualista advertiu Lincoln ficou clara alguns dias depois. Quando alguém exortou o presidente a ser mais consciente a respeito de sua segurança, ele respondeu: "Colchester tem me dito isso". Enquanto aconselhar Lincoln era apenas uma questão de negócios para os médiuns, havia um místico em uma posição de saber o que estava falando. Apesar de todos os seus pecados, Colchester era mestre apenas de cometer pequenos delitos. Ele não tinha o instinto de assassino em seu coração.

"Lincoln era muito inteligente para não saber que estava em perigo. Porém, ele tinha uma mente tão sã e um coração tão gentil, mesmo em relação aos seus inimigos, que era difícil para ele acreditar em um ódio político tão mortal ao ponto de culminar em um assassinato", escreveu, por vezes, os seus secretários John G. Nicolay e John Hay. "Ele rotineiramente desconsiderava tais avisos", lembrou Nettie Colburn, outra médium charlatã, que visitou a Casa Branca.

Quando Booth atirou em Lincoln, em dia 14 de abril de 1865, no Teatro Ford, a busca pelo assassino e seus cúmplices começou imediatamente. O coronel Henry H. Wells, um militar do alto escalão, foi ao Hotel Nacional procurar informações sobre o autor. Bunker, o funcionário do hotel, contou-lhe sobre a associação de Booth com Colchester, e disse que o médium estava hospedado no hotel Washington House.

Quando Booth atirou em Lincoln no dia 14 de abril de 1865, no Teatro Ford,
a busca pelo assassino e seus cúmplices começou imediatamente
Contudo, Wells não conseguiu encontrar Colchester no Washington House, e nem em qualquer outro lugar da cidade. Assim como os espíritos que invocava, Colchester tinha desaparecido. Charles Colchester, ou qualquer que fosse seu nome original, teria morrido em 5 de maio de 1867, vítima de "congestão pulmonar", aos 27 anos de idade, na cidade de Keokuk, no estado norte-americano do Iowa.

Bem, acredito que vocês podem ter uma dimensão do que o Espiritualismo representava naquela época, chegando ao ponto de espiritualistas frequentarem o centro de poder dos Estados Unidos, a Casa Branca, algo que é impensável atualmente. Da mesma forma que crescia o interesse da população sobre o tema, e o número de supostos médiuns, também crescia o número de pessoas dispostas a revelar as fraudes, assim como dos empresários em levar o Espiritualismo para dentro da casa de cada um dos norte-americanos. A questão é, e se qualquer pessoa pudesse ser paranormal?

Os Primórdios da Tábua Ouija


Nessa atmosfera de batidas fantasmagóricas e alegações convictas sobre forças ocultas, os ocultistas do século XIX começaram a procurar maneiras mais fáceis de se comunicar com o além. E fizeram isso no melhor estilo norte-americano, o tão conhecido "Do It Yourself" ("DIY", sigla em inglês ou "Faça você mesmo", em português).

Os esforços em entrar em contato com o mundo espiritual levaram a algo que chamamos de tábua Ouija, mas não até que diversos outros métodos tivessem sido empregados antes. Um desses métodos, por exemplo, envolvia "batidas" em uma mesa. Simplesmente, os participantes pediam que os espíritos batessem na mesa quando letras eram mencionadas até formar uma palavra. Isso era, no entanto, um exercício tedioso e demorado.

Um meio mais rápido era a "escrita automática", na qual os "seres espirituais" podiam se comunicar através de um lápis em um indicador. Entretanto, muitos reclamavam que isso gerava diversas páginas de textos vagos e sem nenhum sentido aparente. Por outro lado, uma invenção prefigurou diretamente o ponteiro em forma de coração, aquele se move pela tábua Ouija: a planchette, um termo em francês para "pequena tábua ou prancheta". Essa prancheta possuía três pés de apoio móveis com um furo na parte superior para a inserção de um lápis.

A prancheta possuía três pés de apoio móveis com um furo na parte superior para a inserção de um lápis
Muitos reclamavam que que a "Planchette" gerava diversas páginas de textos vagos e sem nenhum sentido aparente, porém a mesma prefigurou diretamente o ponteiro em forma de coração, aquele se move pela tábua Ouija

Caixa de papelão de uma antiga "tábua falante" vendida na Inglaterra, durante o século XIX
Ela foi projetada para que uma ou mais pessoas colocassem os dedos sobre a mesma, de modo que deslizasse através de um papel, escrevendo assim uma "mensagem espiritual". Esse dispositivo se originou na Europa no começo da década de 1850 e, em 1860, as pranchetas começaram a ser fabricadas e comercializadas nos Estados Unidos.

Esse dispositivo se originou na Europa no começo da década de 1850 e, em 1860, as pranchetas começaram a ser fabricadas e comercializadas nos Estados Unidos
Dois outros itens da década de 1850 estão diretamente relacionados com o que a Ouija viria a ser um dia: as chamadas "placas de discagem" e as "tábuas com letras do alfabeto". Em 1853, um espiritualista chamado Isaac T. Pease, de Connecticut, nos Estados Unidos, inventou o "Spiritual Telegraph Dial" (algo como "Telégrafo espiritual", em português) um disco semelhante a uma roleta com letras e números ao redor de sua circunferência.

Em 1853, um espiritualista chamado Isaac T. Pease, de Connecticut, nos Estados Unidos, inventou o "Spiritual Telegraph Dial" (algo como "Telégrafo espiritual", em português) um disco semelhante a uma roleta com letras e números ao redor de sua circunferência
Placas de discagem surgiram nos mais diversos formatos, sendo que muitas vezes, possuíam versões bem mais complexas. Algumas eram utilizadas ao longo de mesas para responder as "inclinações do espírito", enquanto outras eram presumivelmente guiadas, tal como uma  planchette, pelas mãos dos participantes.

Tábuas contendo letras do alfabeto acabaram simplificaram tudo isso. Em uso desde 1852, essa tábuas permitiam que os participantes apontassem para uma letra, provocando ou não a batida de um espírito na mesa, formando mais rapidamente as palavras do que se as letras fossem soletradas. Talvez esse fosse o método mais rápido daquela época.

Tábuas contendo letras do alfabeto acabaram simplificaram tudo isso. Em uso desde 1852, essa tábuas permitiam que os participantes apontassem para uma letra, provocando ou não a batida de um espírito na mesa, formando mais rapidamente as palavras do que se as letras fossem soletradas
Era apenas uma questão de tempo até que os inventores e os empresários começassem a ver as implicações lucrativas que isso poderia ter, sendo que foi justamente nesse contexo que nasceu a tábua Ouija. Recomendo fortemente que assistam a um vídeo do canal "Morbid Anatomy Museum Presents", no YouTube, onde o mesmo apresenta os "instrumentos" e os "métodos", que já foram utilizados na tentativa de se comunicar com os espíritos e ilustra bem o que dissemos acima (em inglês):



No vídeo, é explorada a coleção de "planchettes" de Brandon Hodge e outros dispositivos usados para se comunicar com o mundo espiritual. Seu museu, que na verdade é sua própria casa, possui uma das maiores coleções de "planchettes" do mundo. Mesmo que você não saiba inglês, vale a pena conferir as imagens para ter uma melhor noção de quais foram os métodos, e como eles eram utilizados antes da tábua Ouija.

A Criação de um Método de "Comunicação Espiritual" Chamado Tábua Ouija


Até esse momento vocês conhecem a história completa sobre as irmãs Fox, a influência do Espiritualismo no centro de poder dos Estados Unidos, e os primórdios da tábua Ouija, onde pudemos observar a forma como o Espiritualismo ganhou força entre os norte-americanos, principalmente em decorrência da Guerra Civil. Essa guerra foi travada entre 1861 e 1865 nos Estados Unidos, depois de vários estados escravagistas do sul declararem sua secessão e formarem os Estados Confederados da América, conhecidos como "Confederação" ou "Sul". Os estados que não se rebelaram ficaram conhecidos como "União" ou simplesmente "Norte". O conflito teve sua origem na controversa questão da escravidão, especialmente nos territórios ocidentais. Oficialmente, um total de 558.052 soldados morreram durante a Guerra Civil Americana, mas se formos considerar os soldados desaparecidos, o total sobe para aproximadamente 620 mil. Aproximadamente, 360 mil soldados da União e 198 mil da Confederação morreram. Esses números fizeram da Guerra Civil Americana a mais sangrenta de toda a história dos Estados Unidos. Evidentemente, vocês podem imaginar a dor de dezenas de milhares de famílias que perderam seus entes queridos durante a guerra, e viram no Espiritualismo uma forma de amenizar todo esse sofrimento que estavam sentindo. Opções, é claro, não faltavam naquela época, porém os métodos utilizados: batidas em mesas, as mesas girantes ou falantes, advinhações ou quaisquer outras tentativas de contato espiritual eram desmascaradas como farsas perpretadas por aqueles, que se aproveitavam da fragilidade e dor de pessoas ingênuas.

Como culpar o cidadão comum, que pagava seus impostos e lutava para viver diariamente, se o principal governante dos Estados Unidos, Abraham Lincoln aceitava que espiritualistas frequentassem a Casa Branca? Como dizer para as pessoas, que elas não deveriam acreditar em outras que se diziam médiuns ou paranormais, quando a primeira-dama, Mary Lincoln, estava totalmente influenciada pela crença que podia se comunicar com Willie e demais entes queridos já falecidos? O Espiritualismo tinha invadido as ruas, as casas, e até mesmo se infiltrado no círculo social mais poderoso da capital do país. O grande problema, é claro, é que as irmãs Fox acabaram maculando a imagem dos espiritualistas, que lucravam e muito com suas sessões. Eles trataram rapidamente de mudar a conotação das frases de Margaret Fox para dizer que a imprensa era a grande vilã da história. Na verdade, o movimento claramente apoiava ou não fazia a menor questão de separar as pessoas, que eventualmente queriam se aprofundar seriamente sobre o assunto, daquelas que viam no movimento uma oportunidade única de fazer dinheiro. Alguns podem até mencionar um ou outro caso daquela época que seja inconclusivo, porém é uma questão de perspectiva. É necessário compreender quem são as pessoas que investigam sobre um determinado assunto, ou seja, a índole, o caráter, o senso de imparcialidade, as faculdades mentais, a capacidade técnica e literária, e toda uma série de aspectos que permitam gerar uma certa credibilidade. Se em termos científicos, um estudo para começar a ser levado a sério, precisa no mínimo ser revisado por pares, porque o Espiritualismo deveria ficar isento disso? Faltava interesse, o conhecimento era subjetivo e o fator financeiro falava mais alto.

Se em termos científicos, um estudo para começar a ser levado a sério, precisa no mínimo ser revisado por pares, porque o Espiritualismo deveria ficar isento disso? Faltava interesse, o conhecimento era subjetivo e o fator financeiro falava mais alto
Simplificar o método de contato espiritual talvez fosse a real necessidade, diante de tantos charlatães sendo desmascarados diariamente perante a mídia norte-americana. Isso sem contar, é claro, que invenções como o telégrafo elétrico, o telefone e até mesmo a eletricidade ajudaram a estimular a mente da sociedade daquela época. Afinal, se era possível se comunicar com pessoas que estavam a algumas dezenas ou centenas de quilômetros de distância, porque não seria possível, quem sabe, se comunicar com aqueles que tinham falecido? Será que os inventores, aprimorando as novas formas de comunicação, não poderiam se valer dessas novas tecnologias para que as pessoas pudessem entrar em contato com os mortos? Para vocês terem uma ideia, algumas pessoas acreditavam que a madeira utilizada nos primeiros mecanismos destinados ao contato espiritual, poderia absorver uma energia mística ou até mesmo eletricidade para permitir essa comunicação. Era uma espécie de vale tudo para saber sobre qualquer coisa: sobre o amor, sobre o futuro financeiro, para saber o que deveriam ou não fazer de suas vidas, e obviamente saber se seus parentes já falecidos estavam bem, mesmo que fosse no além. A partir de agora vocês vão conhecer a fundo um "instrumento de comunicação espiritual" chamado tábua Ouija, e se a mesma é realmente um mero brinquedo ou um poderoso instrumento de comunicação com os mortos.

A Discussão Sobre Quem Teria Inventado a Tábua Ouija


Curiosamente, mesmo após mais de 150 anos do alvorecer do Espiritualismo, até hoje existe uma certa discórdia a respeito de que inventou a tábua Ouija. A história convencional da fabricação de brinquedos norte-americana credita a invenção a um empresário de Baltimore, chamado William Fuld. Assim sendo, conta-se que Fuld teria "inventado" a tábua Ouija por volta de 1890. Isso é exaustivamente repetido na internet, em livros, em palavras cruzadas e até mesmo em sites e vídeos que prometem contar toda a verdade sobre a tábua Ouija para vocês.

Por muitas décadas, o próprio fabricante, primeiramente a companhia de Fuld, e posteriormente a gigante dos brinquedos chamada Parker Brothers, inseriu o termo "William Fuld Talking Board Set" na parte superior de cada tábua. A história convencional, no entanto, está errada.

Por muitas décadas, o próprio fabricante, primeiramente a companhia de Fuld, e posteriormente a gigante dos brinquedos chamada Parker Brothers (na foto), inseriu o termo "William Fuld Talking Board Set" na parte superior de cada tábua.
A história convencional, no entanto, está errada
Foi solicitada uma patente para uma "tábua Ouija" ou "tabuleiro da sorte egípicio", em 28 de maio de 1890, por um morador e advogado de patentes de Baltimore, chamado Elijah H. Bond, atribuindo os direitos a dois empresários da cidade: Charles W. Kennard e William H.A. Maupin. A patente foi concedida em 10 de fevereiro de 1891, e assim nasceu a tábua Ouija.

A primeira patente revelava uma tábua retangular, com o alfabeto disposto em duas linhas na parte superior, e os números em uma única linha ao longo da parte inferior. Havia um Sol e uma Lua, respectivamente marcados pelas palavras "Yes" (Sim) e "No" (Não), nos cantos direito e esquerdo, enquanto a palavra "Good Bye" (Adeus) aparecia na parte inferior.
A primeira patente revelava uma tábua retangular, com o alfabeto disposto em duas linhas na parte superior, e os números em uma única linha ao longo da parte inferior. Havia um sol e uma lua, respectivamente marcados pelas palavras "Yes" (Sim) e "No" (Não), nos cantos direito e esquerdo, enquanto a palavra "Good Bye" (Adeus) aparecia na parte inferior.
O Escritório de Patentes mostra que o escritório exigia que a placa fosse testada
antes que uma patente fosse concedida
As instruções e ilustrações que a acompanhavam descreviam uma experiência expressamente social e até mesmo "sedutora": dois participantes, de preferência um homem e uma mulher, precisavam equilibrar a tábua entre os joelhos, e colocar os dedos levemente sobre o indicador.

Era possível ler na caixa: "Isso aproxima as duas pessoas que a usem, de modo a ficarem mais íntimos, e tece sobre eles uma sensação misteriosa de isolamento". Considerando uma época extremamente moralista, essa era uma brincadeira casual um tanto quanto tentadora, se é que me entendem.

Réplica da primeira versão da tábua Ouija, cuja patente foi solicitada por Elijah H. Bond


As instruções e ilustrações que a acompanhavam descreviam uma experiência expressamente social e até mesmo "sedutora": dois participantes, de preferência um homem e uma mulher, precisavam equilibrar a tábua entre os joelhos, e colocar os dedos levemente sobre o indicador.
Considerando uma época extremamente moralista, essa era uma brincadeira casual um tanto quanto tentadora
A "Kennard Novelty Company", também de Baltimore, empregava um adolescente que trabalhava com a aplicação de vernizes, que ajudava muito a companhia, cujo nome era... Adivinhem? William Fuld! Em 1892, no entanto, os sócios de Charles W. Kennard o despediram da companhia em meio a disputas financeiras e, uma nova patente (dessa vez para um indicador mais aprimorado ou uma nova tábua) foi solicitada pelo jovem William Fuld, que tinha apenas 19 anos naquela época. Seria o próprio Fuld, que ao longo dos anos seguintes, acabaria assumindo a companhia e colocaria seu nome em cada tábua.

Elijah H. Bond, advogado de patentes de Baltimore (à esquerda), e Charles W. Kennard (à direita)
da "Kennard Novelty Company", também da cidade de Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos
Entretanto, baseando-se em um relato publicado em um artigo de uma revista de 1920 (a New York’s World Magazine), o crédito da invenção seria de um homem chamado E.C. Reichie, cuja profissão mencionada variava desde um marceneiro de Maryland até um fabricante de caixões. Essa teoria foi popularizada por um antiga publicação voltada para o ramo empresarial chamada Warfield's, de 1990, que contava de maneira totalmente fantasiosa a história da tábua Ouija. O artigo começava errando o nome do próprio homem, o chamando de E.C. "Reiche", como se ele fosse o inventor da tábua Ouija. O artigo dizia que E.C. Reichie era um fabricante de caixões, que tinha interesse na vida após a morte (um nome e uma alegação que de vez em quando ainda são mencionados por algumas pessoas).

Um relato publicado na "The Literary Digest" dizia que
um dos primeiros investidores da tábua Ouija contou
para um juiz, que E.C. Reichie havia inventado a tábua Ouija
O nome E.C. Reichie surgiu durante um período de litígio de patentes, cerca de trinta anos após a criação da tábua Ouija.

O relato de 1920, da New York’s World Magazine, foi divulgado naquele mesmo ano na influente e popular revista semanal chamada "The Literary Digest". O mesmo dizia que um dos primeiros investidores da tábua contou para um juiz, que E.C. Reichie havia inventado a tábua Ouija. Porém, nenhuma referência a um tal de E.C. Reichie, fosse ele um marceneiro ou um fabricante de caixões, aparecia na transcrição do que foi mencionado em juízo.

Em uma última análise, o papel de Reichie (se houve mesmo alguém chamado Reichie) pode ser questionável, ao menos em termos da invenção da tábua Ouija, visto que diversas tábuas feitas em casa eram muito populares entre os espiritualistas em meados da década de 1880.

Um homem chamado Eugene Orlando, cronista e colecionador de tábuas Ouija,  responsável pelo site "Museum of Talking Boards" certa vez mencionou em seu próprio site, sobre um artigo do jornal New York Daily, de 1886 (posteriormente republicado naquele mesmo ano, em um periódico mensal espiritualista chamado "The Carrier Dove"), que descrevia as fortes emoções a respeito de uma "nova tábua de comunicação contendo letras do alfabeto", e um "novo indicador de mensagens".

"Conheço comunidades inteiras, que estão enloquecidas por essa 'tábua de comunicação'", dizia o homem em seu artigo. Vale lembrar que isso foi publicado quatro anos antes da primeira patente da tábua Ouija ser solicitada. Obviamente, considerando toda essa história, Bond, Kennard e seus associados estavam capitalizando uma invenção, não idealizando uma. Resumindo, eles poderiam ter sido apenas os primeiros a patentearem um modelo de tábua que receberia o nome de Ouija.

A Origem do Nome "Ouija"


Uma pergunta rápida: Vocês já se perguntaram de onde viria o nome Ouija? Bem, talvez sua origem nunca seja de fato conhecida. Em certo momento, Charles W. Kennard alegou que essa era uma palavra em egípicio para "boa sorte" (porém, sabemos que não é). Fuld posteriormente mencionou que era a simples junção de duas palavras, uma francesa e uma alemã, para "sim" ("oui" em francês e "ja" em alemão).

Já um dos primeiros investidores da tábua Ouija chegou a mencionar que o nome da tábua simplesmente "falava por si mesmo". Assim como outros aspectos sobre a história da tábua Ouija, a mesma parece sempre querer dificultar a vida de quem tenta revelar seus segredos.

A Morte de William Fuld e os Novos Rumos da Tábua Ouija


Após William Fuld ter assumido a fabricação da tábua Ouija nos Estados Unidos, o negócio era vibrante, mas não era tão feliz assim. Fuld rapidamente formou uma infrutífera parceria com seu irmão Isaac, que rendeu quase 20 anos de disputas judiciais entre os dois. Issac ainda tentou criar uma tábua concorrente, chamada Oriole, após ter sido forçado a se retirar dos negócios da família, em 1901, mas não deu certo. Ambos nunca mais se falariam novamente depois disso. A tábua Ouija, ou qualquer coisa que se parecesse diretamente com isso, estava firmemente nas mãos de William Fuld.

Tábua Oriole de Isaac Fuld / Southern Toy Company, de 1904 a 1921
Em 1920, a tábua Ouija era tão conhecida, que um artista plástico chamado Norman Rockwell desenhou um casal usando a tábua Ouija (a mulher sonhadora e crédula, e o homem que a observava com um largo sorriso) para a capa da revista "Saturday Evening Post", muito popular na época.
Em 1920, a tábua Ouija era tão conhecida, que um artista plástico chamado Norman Rockwell desenhou um casal usando a tábua Ouija (a mulher sonhadora e crédula, e o homem que a observava com um largo sorriso) para a capa da revista "Saturday Evening Post"
Para William Fuld, tudo era estritamente comercial: "Se eu acredito na tábua Ouija? Eu deveria dizer que não. Não sou espiritualista. Sou presbiteriano", disse William Fuld, certa vez para um repórter.

Ainda em 1920, o jornal "Baltimore Sun" divulgou que Fuld, de acordo com sua própria "estimativa conservadora", teria embolsado cerca de US$ 1 milhão com as vendas da tábua Ouija, um número impressionante para a época.

Em 1920, o jornal "Baltimore Sun" divulgou que William Fuld (na foto), de acordo com sua própria "estimativa conservadora", tinha embolsado cerca de US$ 1 milhão com as vendas da tábua Ouija, um número impressionante para a época
Entretanto, seja qual fosse a satisfação ou regalias que Fuld possa ter conseguido com as vendas da tábua Ouija, logo tudo foi perdido. Em 26 de fevereiro de 1927, ele caiu do teto de sua fábrica em Baltimore e acabou morrendo. Fuld estava com 54 anos e estava supervisionando a substituição de um mastro de uma bandeira, quando uma barra de ferro que ele estava segurando se partiu, e ele caiu de uma altura de três andares. 

Os filhos de Fuld assumiram o negócio, e acabaram prosperando. Em meio a quedas e aumentos nas vendas, também foram surgindo tábuas concorrentes, mas somente a marca Ouija permaneceu firme no mercado. Na década de 1940, no entanto, a tábua Ouija vivenciou uma nova onda de popularidade.

Foto mostrando os filhos de William Fuld: William A. Fuld (à direita) e sua irmã, Katherine Fuld (à esquerda).
Foto publicada no jornal "Baltimore Sun" em 22 de dezembro de 1939.
Foto de William A. Fuld, filho de William Fuld, em seu escritório.
Foto publicada no jornal "Baltimore Sun" em 22 de dezembro de 1939.

Historicamente, "sessões mediúnicas" e os outros métodos espiritualistas proliferaram durante os tempos de guerra. O Espiritualismo tinha visto sua última grande explosão de interesse durante o período da Primeira Guerra Mundial, quando os pais desejavam contatar seus filhos perdidos na carnificina do campo de batalha. Na Segunda Guerra Mundial, muitas famílias também voltaram-se para a tábua Ouija, em uma esperança meramente subjetiva. Em um artigo de 1944, intitulado "The Ouija Comes Back", o jornal New York Times relatava que uma loja de departamentos da cidade de Nova York vendeu, sozinha, cerca de 50.000 tábuas Ouija em um período de cinco meses.

Os fabricantes de brinquedos norte-americanos estavam de olho nesse mercado. Alguns tentaram emplacar produtos semelhantes, mas a companhia "Parker Brothers" tinham planos maiores sobre isso. Em uma jogada que levaria a transição do Espiritualismo para salões de jogos por todo os Estados Unidos, a gigante dos brinquedos comprou os direitos sobre a tábua Ouija, por uma quantia não revelada, em 1966. A família Fuld tinha saído de cena, e a Ouija estava prestes a entrar definitivamente para a história e ter um sucesso jamais imaginado antes. No ano seguinte, a companhia "Parker Brothers" teria vendido mais de duas milhões de tábuas Ouija, superando as vendas do seu jogo de tabuleiro mais popular, o Monopólio.

Vale ressaltar nesse ponto, que um verdadeiro "boom" ocultista começou no fim da década de 1960, enquanto os astrólogos adornavam a capa da revista Time, e a "bruxaria" crescia a passos largos ao ser alimentada pelas vendas da tábua Ouija ao longo do tempo. Estima-se que a empresa tenha vendido ao longo das décadas, mais de de 10 milhões de tábuas Ouija.

No ano seguinte, em 1967, a companhia "Parker Brothers" teria vendido mais de duas milhões de tábuas Ouija, superando as vendas do seu jogo de tabuleiro mais popular, o Monopólio
 As décadas de 60 e 70 também viram o surgimento da tábua Ouija como um produto da cultura juvenil. A tábua Ouija começou a aparecer em dormitórios das universidades, e a mesma emergiu como uma moda entre os adolescentes, no qual seu ritual de mensagens secretas e comunicações íntimas, se tornou uma forma de rebeldia. Essa tal "rebeldia" tinha quase o mesmo peso sobre o risco e o perigo em usar drogas ou furtar bebidas em lojas de conveniência. Na época, os sociólogos diziam que as sessões de Ouija eram uma maneira para os jovens exteriorizarem e trabalharem seus próprios medos, ou seja, uma utilização praticamente terapêutica.

A Tábua Ouija Disfarçada no Brasil: Um Jogo Chamado "Converse com o seu Anjo"


Não pensem que o nosso país escapou da febre comercial da tábua Ouija, mas aqui as coisas foram um pouquinho diferentes. Certa vez, entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000, a empresa Estrela lançou um jogo chamado "Converse com o seu Anjo", promovido pela escritora brasileira Mônica Buonfiglio, que fez muito sucesso no passado com seus livros relacionados aos chamados "Anjos da Guarda".

Um livreto acompanhava o jogo e continha os nomes dos anjos que as crianças poderiam invocar, e aparentemente conversar. Apesar de ter sido uma febre, principalmente entre pré-adolescentes, algum tempo depois o jogo saiu de circulação. A questão é que o brinquedo é claramente uma inspiração na tábua Ouija. Notem as semelhantes:

Reparem nas semelhanças entre o brinquedo "Converse com o seu Anjo" (à esquerda)
e a tábua Ouija tradicional (à direita)

Certa vez, entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000, a empresa Estrela lançou um jogo chamado "Converse com o seu Anjo", promovido pela escritora brasileira Mônica Buonfiglio, que fez muito sucesso no passado com seus livros relacionados aos chamados "Anjos da Guarda"

Um livreto acompanhava o jogo e continha os nomes dos anjos que as crianças poderiam invocar, e aparentemente conversar. Apesar de ter sido uma febre, principalmente entre pré-adolescentes, algum tempo depois o jogo saiu de circulação

O jogo "Converse com o seu Anjo" não era recomendável para menores de 3 anos
Não é difícil imaginar que uma empresa como Estrela não se aproveitaria da popularidade que temas espiritualistas tinham antigamente. Lembro que casos de fantasmas, imagens de santas que choravam, e casos paranormais ou parapsicológicos ocupavam longas horas nos programas dominicais de TV. Lançar um jogo de comunicação espíritual com certeza seria um sucesso.

Entretanto, diante da religiosidade da nossa população, predominantemente católica e evangélica, e dos preceitos morais que ainda tentam reger a sociedade, lançar um jogo que é até hoje considerado algo "amaldiçoado" não faria nada bem para as ações da empresa. Logo, nada melhor do que se aproveitar do mecanismo de funcionamento da tábua Ouija tradicional (vamos comentar sobre isso mais a frente) e lançar um jogo adaptado para comunicação angelical. Afinal, quem não gosta da imagem de anjinhos fofinhos, com olhares meigos e cachinhos dourados? Ninguém melhor para promovê-la do que uma "especialista" no assunto. Curiosamente, não lembro de casos de "possessão" relacionados a esse jogo. Será que uma caixa com cores claras e um indicador de anjinho fariam mesmo tanta diferença?

A Tábua Ouija Atualmente


No início de 1999, a Parker Brothers parou de fabricar a clássica tábua Ouija de Fuld, e começou a produzir uma versão menor, que brilhava no escuro. O material também teve uma mudança drástica visto que a madeira e todo um estilo próprio que ela continha, assim como o nome de William Fuld, desapareceram. Apesar de tudo, o slogan da Parker Brothers nos faz lembrar a intenção pela qual a tábua sofreu tais modificações: "É apenas um jogo, não é?"

No início de 1999, a Parker Brothers parou de fabricar a clássica tábua Ouija de Fuld,
e começou a produzir uma versão menor, que brilhava no escuro

O material também teve uma mudança drástica visto que a madeira e todo um estilo próprio que ela continha, assim como o nome de William Fuld, desapareceram. Apesar de tudo, o slogan da Parker Brothers nos faz lembrar a intenção pela qual a tábua sofreu tais modificações: "É apenas um jogo, não é?"
Atualmente, a Parker Brothers pertence a gigante dos brinquedos, a norte-americana Hasbro, que lançou uma polêmica versão da tábua Ouija em 2008, na cor rosa, destinada a meninas adolescentes. Então, em 2013, eles surpreenderam a todos, quebrando completamente a tradição, com um tabuleiro Ouija redesenhado, muito mais sombrio, equipado com um indicador com pilhas, no qual automaticamente iluminava as letras ou mensagens ocultas na tábua. Ainda que seja uma pequena mudança em relação a tradicional tábua Ouija, isso mostra que a imaginação não está completamente morta na Hasbro.

  A gigante dos brinquedos, a norte-americana Hasbro, lançou uma polêmica versão da tábua Ouija em 2008,
na cor rosa, destinada a meninas adolescentes

Então, em 2013, eles surpreenderam a todos, quebrando completamente a tradição, com um tabuleiro Ouija redesenhado, muito mais sombrio, equipado com um indicador com pilhas, no qual automaticamente iluminava as letras ou mensagens ocultas na tábua
Isso sem contar, é claro, com inúmeros fabricantes e artistas contemporâneos que criam as mais diversas versões da tábua Ouija, compartilham suas experiências, técnicas e materiais em fóruns de discussão, e vendem suas verdadeiras obras de arte pela internet. Dificilmente a tábua Ouija cairá em desuso, visto que ela sempre renasce de alguma forma e sua popularidade aumenta ou diminui diante de alguma situação. Afinal, ela só depende de uma única coisa para funcionar: da crença das pessoas.

A Tábua Ouija Inspirou a Criação de Obras Literárias ou Musicais?


Entre as primeiras coisas que se nota ao pensar sobre a tábua Ouija é a sua vasta gama de histórias, muitas vezes assustadoras. Existem dezenas de relatos de usuários que experimentaram a presença de entidades malignas durante sessões de Ouija, às vezes até mesmo sendo fisicamente acossados por forças invisíveis. Um enredo típico envolve uma comunicação que é inicialmente reconfortante e até mesmo útil, mas que eventualmente dá lugar a mensagens ameaçadoras ou aterrorizantes. Hugh Lynn Cayce, filho do eminente sensitivo norte-americano Edgar Cayce, certa vez alertou, que suas pesquisas tinham descoberto que as tábuas Ouija estavam entre "as portas mais perigosas para o inconsciente".

Muitos entusiastas de tábua Ouija, no entanto, dizem que ensinamentos como o inspirador "Material de Seth", divulgado por Jane Roberts, surgiram pela primeira vez através de uma tábua Ouija. Outros textos, tal como uma série de romances e poemas históricos do início do século XX, de uma entidade chamada "Patience Worth", assim como um "romance" póstumo de Mark Twain também teriam sido obtidos através da tábua Ouija. Por outro lado, poetas como Sylvia Plath e Ted Hughes escreveram passagens assustadoras e obscuras sobre suas experiências com a mesma. Bem divergente, não é mesmo?

Em 1976, por exemplo, o poeta norte-americano James Merrill publicou, e ganhou o Prêmio Pulitzer por um poema épico que relatou sua experiência, juntamente com seu parceiro, David Jackson, ao usar uma tábua Ouija entre 1955 e 1974. Seu trabalho denominado "The Book of Ephraim" foi posteriormente combinado com outros dois outros poemas inspirados pela tábua Ouija, sendo publicado em 1982 com o título de "The Changing Light at Sandover".

Seu trabalho denominado "The Book of Ephraim" foi posteriormente combinado com outros dois outros poemas inspirados pela tábua Ouija, sendo publicado em 1982 com o título de "The Changing Light at Sandover"
Merrill e Jackson teriam encontrado um mundo de "patronos espirituais", que lhes contaram um profundo e envolvente mito sobre a criação, além de oferecer teorias sobre reencarnação, conselhos mundanos e reflexões dolorosamente pungentes sobre a vida. Na verdade, não é difícil argumentar que, em termos literários, o livro "The Changing Light at Sandover" seja uma obra-prima (talvez "a" obra-prima) da experimentação oculta. Em alguns aspectos, é como uma resposta não intencional ao Frankenstein de Mary Shelley, no qual não apenas um homem escrevendo sozinho, mas dois escrevendo e pensando juntos, conseguem perfurar o véu dos mistérios interiores e cósmicos da vida, e vivem não somente para contar, mas para ensinar aos demais.

Naturalmente, o caso de James Merrill levanta a questão se a tábua Ouija canaliza algo do além ou meramente reflete as ideias encontradas em um subconsciente. Afinal, como poderia uma mera tábua produzir obras primas, e ao mesmo tempo fazer com que pessoas se deparassem com entidades malignas, que tentam atacá-las durante sua utilização? Diante desse questionamento, em um livro de 1970 sobre fenômenos psíquicos chamado "ESP, Seers & Psychics", um pesquisador cético chamado Milbourne Christopher revelou que se você efetivamente vendasse os olhos de um participante, e reorganizasse a ordem das letras na tábua Ouija, a comunicação era interrompida. Interessante, não? Porém, essa não tinha sido a primeira vez que alguém havia comentado sobre isso.

Diante desse questionamento, em um livro de 1970 sobre fenômenos psíquicos chamado "ESP, Seers & Psychics", um pesquisador cético chamado Milbourne Christopher revelou que se você efetivamente vendasse os olhos de um participante, e reorganizasse a ordem das letras na tábua Ouija, a comunicação era interrompida
Voltando no tempo, em 1915, um especialista em psicologia anormal propôs o mesmo teste a uma entidade chamada "Patience Worth" que, por intermédio de uma dona de casa de St. Louis chamada Pearl Curran, produziu uma série impressionante de romances, peças e poemas (alguns deles extremamente interessantes, visto que estavam escrito em um dialeto inglês tipicamente medieval), em que Curran (que não tinha terminado sequer o Ensino Médio) teoricamente não tinha meios de saber.

A entidade chamada "Patience Worth" que, por intermédio de uma dona de casa de St. Louis chamada Pearl Curran (na foto), produziu uma série impressionante de romances, peças e poemas - alguns deles extremamente interessantes, visto que estavam escrito num dialeto inglês tipicamente medieval
Conforme relatado no estudo de Irving Litvag, chamado "Singer in the Shadows", a entidade "Patience Worth" teria respondido ao pedido para que Curran fosse vendada usando o mesmo inglês medieval,  dizendo: "I be aset athin the throb o’ her. Aye, and doth thee to take then the lute awhither that she see not, think ye then she may to set up musics for the hear o’ thee?" Em outras palavras, "Como você pode remover o instrumento e esperar que haja música?" Aparentemente, a entidade era incapaz de "escrever" se os olhos de sua intermediária fossem vendados. Vamos comentar mais sobre isso daqui a pouco, fiquem calmos.

Algumas autoridades em pesquisa psíquica sustentam que a tábua Ouija é tão somente uma ferramenta do nosso subconsciente. Conforme relatado no estudo de Irving Litvag, de várias maneiras, a própria natureza da escrita automática e a tábua Ouija se tornam particularmente sujeitas a má interpretação. Uma vez que essas comunicações seriam inconscientes, a pessoa não tem a sensação de seu próprio envolvimento. Pelo contrário, faz parecer que alguém de fora é o responsável. É possivelmente devido a isso, que o material obtido geralmente é moldado como se fosse proveniente de outra inteligência.

Isso não impediu, é claro, que pessoas ao longo do tempo alegassem que a tábua Ouija teria ajudado a escrever livros ou até mesmo compor músicas. Confira uma pequena lista abaixo:
  • A escritora Sylvia Plath escreveu um livro chamado "Dialogue over a Ouija Board", em 1957. Como vocês devem imaginar, o livro seria o resultado de uma sessão com a tábua Ouija. Ela também escreveu um poema sobre o fenômeno;
  • Depois que o voo 401 da Eastern Air Lines caiu nos Everglades, na Flórida, em 1972, John G. Fuller escreveu um livro sobre isso chamado "The Ghosts of Flight 401". Os funcionários da Eastern Air Lines relataram ter visto os fantasmas do piloto e co-piloto, Bob Loft e Don Repo, circulando pela empresa, sendo que os 10 comissários de bordo que faleceram passaram a ser vistos em outro avião. A teoria, pelo menos naquela época, era que as peças do avião do voo 401 tinham sido recuperadas e utilizadas em outro avião Lockheed L-1011, que a companhia tinha adquirido. De qualquer forma, Fuller teria utilizado a tábua Ouija, assim como contado com um médium para entrar em contato com os espíritos e escrever seu livro;
  • Alice Cooper uma vez alegou que ele obteve seu nome artístico ao usar a tábua Ouija. Vincent Furnier consultou a tábua, que disse que ele era a reencarnação da uma bruxa do século 17 chamada Alice Cooper. Ele acabou adotando esse nome. Verdade ou não, é uma boa história;
  • Bill Wilson pode ter evitado um vício para cair em outro quando largou o álcool, e começou a usar a tábua Ouija. Para quem não sabe, Bill Wilson é co-fundador do AA (Alcoólicos Anônimos). Ele tinha uma espécie de "sala fantasma" em sua casa, onde supostamente entrava em contato com espíritos, que o ajudaram com seu problema relacionado ao alcoolismo. Segundo ele, um dos espíritos era de um monge do século XV chamado Bonifácio. Ele até mesmo reconheceu em sua autobiografia que ele usou a tábua Ouija para criar os famosos 12 passos do programa para o tratamento do alcoolismo;
  • Você provavelmente não veria a maioria dos políticos admitindo que eles usaram uma tábua Ouija, mas é exatamente isso que o ex-primeiro-ministro italiano Romano Prodi fez quando lhe foi perguntado, sob juramento, como ele sabia onde o primeiro-ministro anterior Aldo Moro estava em poder das Brigadas Vermelhas. Qual foi espírito que lhe contou essa informação? Giorgio La Pira, o ex-prefeito de Florença que havia morrido no ano anterior. A maioria das pessoas, no entanto, acredita que foi simplesmente Prodi tentando evitar revelar sua verdadeira fonte;
  • A banda norte-americana "The Mars Volta" certa vez disse que eles escreveram um álbum inteiro através da tábua Ouija. Uma sessão com a tábua deu-lhes uma história que acabaram usando em todo o processo criativo. Porém, coisas estranhas começaram a acontecer: um estúdio foi inundado, um de seus engenheiros teve um colapso nervoso, e seu vocalista machucou o pé. Então, eles resolveram queimar e enterrar a tábua Ouija;
  • Talvez uma das mais famosas utilizações da tábua Ouija tenha acontecido em 1917, quando um escritora do estado norte-americano do Missouri, chamada Emily Grant Hutchings publicou um livro intitulado "Jap Herron", no qual ela alegava que o texto teria sido ditado para ela, através da tábua Ouija, por ninguém menos que Mark Twain. Os céticos disseram que o livro era uma porcaria, visto que não havia como Mark Twain escrever uma coisa daquelas, estivesse ele morto ou não;
  • O poeta irlandês William Butler Yeats entra correndo por fora nessa lista, porque não usou exatamente a tábua Ouija, mas tirou proveito das habilidades de canalização de sua esposa (ela era uma suposta médium) para escrever um livro chamado "A Vision". O livro foi escrito através da "escrita automática", na qual envolvia um suposto espírito escrevendo através da mão do médium e rabiscando notas, em vez de soletrar mensagens enigmáticas em uma tábua com letras e números.
Com o tempo, as fantásticas alegações sobre a tábua Ouija ultrapassaram a própria época na qual foi criada. Alguns pesquisadores, por falta de pesquisa ou simplesmente na intenção de vender livros, passaram a dizer que a tábua Ouija não era algo moderno, mas que ela tinha sido usada na Antiguidade. É exatamente isso que vocês conferem a seguir.

A "Tábua Ouija" Era Usada na Antiguidade?


Uma alegação frequentemente repetida ao quatro ventos, porém enganosa, é que a tábua Ouija ou as tábuas de comunicação como um todo, possuem raízes antigas. Por exemplo, no "Dicionário de Misticismo", de Frank Gaynor, de 1953, é afirmado que tábuas antigas de diferentes formatos e tamanhos "foram usadas no século VI antes de Cristo". Em diversos livros e artigos, todos, desde Pitágoras, passando pelos Mongóis até chegar ao Antigo Egito, teriam usado "dispositivos de possessão" semelhantes a tábua Ouija. Contudo, as alegações raramente resistem a uma pesquisa mais aprofundada.

Eugene Orlando, responsável pelo site "Museum of Talking Boards", apontou que a primeira referência sobre a existência da tábua Ouija no mundo pré-moderno aparecia em uma passagem da "Enciclopédia do Ocultismo", de Lewis Spence, de 1920, que é repetida na popular "Enciclopédia de Ciência Psíquica", de Nandor Fodor, de 1934. Nessa última é possível ler a seguinte passagem: "Como invenção, ela é muito antiga. Estava em uso na época de Pitágoras, cerca de 540 a.C. De acordo com um relato histórico francês sobre a vida do filósofo, sua escola filosófica realizava sessões frequentes ou círculos em que 'uma mesa mística, movendo-se sobre rodas, se movia em direção a sinais, em que o filósofo e seu discípulo Philolaus, interpretavam para o público...'"

Eugene Orlando, responsável pelo site "Museum of Talking Boards", apontou que a primeira referência sobre a existência da tábua Ouija no mundo pré-moderno aparece em uma passagem da "Enciclopédia do Ocultismo", de Lewis Spence, de 1920, que é repetida na popular "Enciclopédia de Ciência Psíquica", de Nandor Fodor, de 1934 (na foto)
Eugene apontou que essa citação é encontrada em quase todos os artigos acadêmicos sobre a tábua Ouija, mas essa história possui dois problemas: ninguém nunca conseguiu identificar que relato histórico francês é esse, e o "discípulo pitagórico" Philolaus não viveu na mesma época que Pitágoras, mas no século seguinte. Vale a pena ressaltar, no entanto, que atualmente sabemos muito pouco sobre Pitágoras e sua escola. Nenhum dos textos de Pitágoras sobreviveu ao tempo, e o registro histórico depende de trabalhos posteriores, alguns dos quais foram escritos séculos após a sua morte. Assim sendo, as pessoas que tentam abordar tópicos ocultos acabam sempre caindo na tentação de projetar todos os tipos de práticas arcanas, tábua Ouija e numerologia moderna sobre aquela época.

Outros escritores, quando não estão repetindo as mesmas alegações como a anterior, tendem a interpretar incorretamente os relatos históricos e confundem outras ferramentas divinatórias com a tábua Ouija. Os oráculos, por exemplo, eram ricos e variados dependendo da cultura, desde as runas germânicas aos ritos gregos délficos. Porém, a literatura sobre tradições envolvendo oráculos não apoiam ou sugerem que tábuas de comunicação, tal como a conhecemos, eram usadas antes da era Espiritualista. Qualquer alegação nesse sentido, atualmente, é tão somente mera especulação ou falta de conhecimento.

Quando a Tábua Ouija se Tornou "Maligna"?


A princípio, toda a história que contamos até agora sobre a origem da tábua Ouija soa ser inofensiva, e até mesmo inspiradora para escritores de livros e músicos. Contudo, como ela passou de suposto instrumento de comunicação espiritual, posteriormente convertido para um mero brinquedo, passando por um item inovador e terapêutico para diversas gerações, para então ser associada ao Diabo e aos demônios? Bem, embora a utilização da tábua Ouija sempre tenha sido criticada por cientistas e algumas autoridades religiosas, a maioria dos relatos de "terror" ou experiências "malignas" relacionadas a tábua Ouija surgiram na década de 1970. Isso tudo depois que um certo romance foi publicado, e que virou um filme de grande sucesso dois anos depois. Vocês conseguem imaginar que filme foi esse? Vamos dar algumas dicas.

A história era sobre uma adolescente, que dizia para sua mãe, que estava falando com uma pessoa chamada "Capitão Howdy" através da tábua Ouija. Algum tempo depois, essa menina acaba ficando possuída pelo "diabo", fazendo com que seu corpo comece a se contorcer, vomitar verde, e sua cabeça girar 360º (entre outros eventos extraordinários). Este filme de que estamos falando é o... Acertou quem disse: "O Exorcista", um dos principais responsáveis pela percepção da cultura popular atual sobre a "possessão demoníaca". Aliás, o que Hollywood não consegue fazer com a cabeça das pessoas, não é mesmo?

A história era sobre uma adolescente, que dizia para sua mãe, que estava falando com uma pessoa chamada "Capitão Howdy" através da tábua Ouija. Algum tempo depois, essa menina acaba ficando possuída pelo "diabo", fazendo com que seu corpo comece a se contorcer, vomitar verde, e sua cabeça girar 360º (entre outros eventos extraordinários)
"O Exorcista" está baseado em uma "história verdadeira", de um menino de 14 anos, que esteve "possuído por algo", que acabou exigindo "três ritos de exorcismos diferentes". Conta-se também, que esses rituais sagrados teriam sido de diferentes denominações cristãs: Episcopaliana, Luterana e Católica Romana. Esse caso aconteceu 1949, e o menino teria "admitido" para seus pais, que tinha "brincado" com a tábua Ouija (por gentileza, notem as aspas).

Em 20 de agosto de 1949, o 'The Washington Post' publicou um enorme relato do caso (à esquerda), os nomes dos padres envolvidos no exorcismo. Segundo eles, durante o ritual, o menino gritava como "um carneiro sendo abatido" e só falava em latim. Foi esse artigo que inspirou o escritor William Petter Blatty a escrever o romance "O Exorcista", que deu base para o longa metragem.
A questão primordial é que os grupos católicos já costumavam se declarar contra a tábua Ouija quando essa alegação veio à tona. Uma vez que a ideia de que tal tábua pudesse ser um "mecanismo" para entrar em contato com os mortos teria implicações religiosas bem difícies para se lidar, não seria de se estranhar a razão pela qual, a Igreja Católica, talvez estivesse mais inclinada a concluir que aquela fosse a mais pura realidade por trás da suposta possessão. "Coincidentemente", após 1973 (o ano em que o filme foi lançado) as alegações correlacionando tábuas Ouija a demônios dispararam a surgir ao redor do mundo. No mínimo suspeito, não acham?

Não foi apenas o filme que gerou isso, é claro, visto que a maioria das denominações cristãs veem a comunicação espiritual como um produto do mal ou do trabalho do Diabo. Em algumas denominações, não há muita opção: um espírito vai para o Céu ou vai para o Inferno. Já em outras, os fantasmas são demônios que se passam por entes queridos, para conquistar a confiança deles, de modo a entrar em seus corpos. De qualquer forma, o filme acabou potencializando e alimentando a propagação de tais crenças, tornando assim a tábua Ouija definitivamente demoníaca.

Enfim, quem sabe uma hora eu não faça uma postagem completa investigando realmente a fundo essa história na qual o filme "O Exorcista" foi baseado? Com certeza o resultado será bem interessante!

Quem Realmente Move o Indicador da Tábua Ouija? A Tábua Ouija Não Pega Fogo?


Segundo a ciência, embora o indicador realmente se mova, o mesmo não está sendo movido por demônios ou espíritos, mas pelos próprios participantes. A resposta está no "efeito ideomotor", termo cunhado pelo naturalista britânico William B. Carpenter, em 1852. Com o poder da sugestão ou expectativa, somado com os sutis movimentos inconscientes feitos pelas mãos, pode parecer que algo sobrenatural esteja ocorrendo, assim como o indicador aparenta estar se movendo por conta própria. William Carpenter também observou que os movimentos musculares podem ser realizados pelo cérebro independentemente das emoções.

Primeira página do artigo "On the influence of suggestion in modifying and directing muscular movement, independently of volition" publicado pelo naturalista britânico William B. Carpenter em 12 de março de 1852, no periódico Proceedings of the Royal Institution of Great Britain. Você pode conferir todo o artigo, em inglês, clicando aqui.
O físico britânico Michael Faraday também realizou experimentos, que comprovaram que os movimentos das "mesas girantes ou falantes", geralmente atribuídos a fontes ocultas, eram realizados inconscientemente pelos próprios participantes dos experimentos. Resumindo, não temos a plena consciência, que somos nós os verdadeiros responsáveis por fazer com que o indicador se mova. Enfim, esse mesmo princípio se aplicaria ao uso de pêndulos e varas de radiestesia. Assunto polêmico, não é mesmo?

Salão parisiense com pessoas ao redor de uma "mesa falante". Imagem publicada na revista francesa chamada "l'Illustration", de 1853, para ilustrar um artigo chamado "Histoire de la semaine"
Outra coisa comum nas histórias sobre tábuas Ouija é que algumas pessoas tentam queimar a tábua para se livrar do "mal", mas surpreendentemente a tábua não seria afetada pelas chamas. Alguns relatos mencionam o cheiro de carne queimada quando a tábua é jogada em uma fogueira ou até mesmo que uma tábua aparentemente "começa a gritar" em meio as chamas.

Entretanto, algo em comum em muitos casos, é que as pessoas relatam que a tábua Ouija, pelo menos a que era tradicionalmente fabricada, ou seja, em madeira, não pegaria fogo. Será que isso deriva da crença de que a tábua Ouija estaria intimamente ligada com os demônios e ao Diabo, e a crença de que o fogo estaria associado ao Inferno?

Segundo a ciência, embora o indicador realmente se mova, o mesmo não está sendo movido por demônios ou espíritos, mas pelos próprios participantes. A resposta está no "efeito ideomotor", termo cunhado pelo naturalista britânico William B. Carpenter, em 1852
Em um artigo publicado por Bobby Nelson, no site da James Randi Educational Foundation, o investigador de assuntos paranormais entrou em contato com James Randi, há alguns anos, para conversar com ele sobre essas alegações a respeito da tábua Ouija. Aliás, o próprio James Randi também teria repetido o controverso experimento, que consiste em vendar os participantes, cujo resultado produziu respostas absurdas e desconexas.

De acordo com Randi, a explicação lógica é que tudo é feito subconscientemente pelo participante. Quando o(a) participante não consegue ver a tábua, ele(a) não consegue gerar resultados que façam algum sentido. Sobre a questão das tábuas não pegarem fogo, Randi teria mencionado que qualquer pessoa poderia comprar uma tábua Ouija de madeira e atear fogo nela. Caso não ardesse em chamas, então ele pagaria US$ 1 milhão. Não é preciso dizer que ninguém nunca conseguiu ganhar esse prêmio, não é mesmo?

James Randi Randi teria mencionado que qualquer pessoa poderia comprar uma tábua Ouija de madeira, e atear fogo nela.
Caso a tábua não ardesse em chamas, então ele pagaria US$ 1 milhão.
Vale lembrar nesse ponto, que o canal de TV da National Geographic também reproduziu esse experimento relacionado a utilização da tábua Ouija, com os participantes vendados, durante um episódio da série "Brain Games". Os resultados também mostraram que os participantes só conseguiram produzir resultados positivos quando não estavam vendados. Confira um trecho desse episódio, que foi publicado no próprio canal do National Geographic, no YouTube, em 5 de fevereiro de 2015 (em inglês):



Enfim, para muitos a tábua Ouija sempre foi um jogo de tabuleiro comum, ou seja, um mero brinquedo. Nunca foi, e sob nenhum hipótese, seria uma espécie um portal para o Inferno. Nem mesmo sequer permitiria que entidades de qualquer espécie viessem para nosso mundo através de um portal invisível. Além disso, a tábua Ouija não conjuraria demônios e nem mesmo o Diabo.

Quais são as Regras da Tábua Ouija?


Todo jogo tem suas regras, não é mesmo? A partir do momento que a tábua Ouija foi colocada em uma caixa, foi necessário criar algumas instruções que permitissem que os participantes soubessem o que eles tinham que fazer. Vocês têm curiosidade para saber as instruções da tábua Ouija de William Fuld, do início do século XX? Vocês vão se surpreender!

1º - Coloque o tabuleiro sobre os joelhos de duas pessoas, de preferência uma dama e um cavalheiro, com a pequena tábua sobre o tabuleiro. Coloque os dedos levemente, mas firmemente, sem pressionar, deixando-a livre. Entre um e cinco minutos a pequena tábua irá começar a ser movimentar, no começo bem devagar, então ficará mais rápida e, então, será capaz de falar ou responder perguntas, nas quais serão respondidas tocando as palavras ou letras impressas que são necessárias para formar palavras e frases com a parte mais proeminente ou ponteiro.

2º - Deve-se tomar cuidado para que somente uma pessoa pergunte de cada vez, para evitar confusão, e as as perguntas devem ser feitas de forma clara e precisa

3º - Para obter os melhores resultados, é importante que as pessoas presentes concentrem suas mentes no assunto em questão e evitem outros tópicos. Evite ter na mesa pessoas que não levem a sério ou então que não tenham respeito. Se você usá-la em estado frívolo de espírito, fazendo perguntas ridículas, rindo sobre a mesma, você naturalmente terá influências desconhecidas ao seu redor.

As seis regras que originalmente acompanhavam a tábua Ouija de William Fuld, no início do século XX
4º - A Ouija é um grande mistério, e não pretendemos dar orientações exatas para a sua utilização, nem afirmamos que em todos os momentos ou em todas as circunstâncias ela irá funcionar igualmente bem. Porém, nós afirmamos e garantimos que, com uma paciência razoável e bom senso, ela irá mais do que satisfazer a maior de suas expectativas

5º - De forma a usar a pequena tábua junto ao tabuleiro, umedeça a ponta dos pés de apoio e encaixe-os firmemente na pequena tábua.

6º - O tabuleiro deve ser mantida limpo e livre de poeira e umidade, uma vez que tudo depende que os pés da tábua deslizem com facilidade sobre a superfície do tabuleiro. É aconselhável esfregar com um lenço de seda seco imediatamente antes do uso."

WM. FULD
INVENTOR AND MANUFACTURER
GAMES - PARLOR POOL TABLES - COLLAPSIBLE KITES
THE MYSTIFYING "ORACLE" TALKING BOARD, Etc
Factory and Show Rooms, 1226-1228-1306 N. Central Avenue
BALTIMORE, MD., U.S.A.

Foto da tábua Ouija lançada por William Fuld entre 1902 e 1910

Foto da chamada "pequena tábua", na qual hoje em dia denominamos de indicador,
mostrando que a mesma possuía pequeno pés de apoio que eram encaixados.

Foto da parte superior da "pequena tábua", na qual sequer havia um vidro,
que supostamente permitiria ver o "espírito" no qual se está conversando.



O que aprendemos com isso? Algo bem simples, as tais "regras da tábua Ouija", as famosas "25 regras" não existiam quando William Fuld lançou a tábua Ouija. Essas "25 regras" nada mais são do que superstições que foram inventadas pelas pessoas ao longo do tempo, e acabaram sendo adotadas por algumas empresas que vendem versões mais obscuras da tábua Ouija. O motivo? Simplesmente colocar medo nas pessoas.

Conheça essas tais "superstições":

1. Nunca jogue sozinho!;
2. Nunca deixe que os espíritos movimentem o ponteiro através dos números e do alfabeto de forma regressiva, uma vez que eles podem escapar do tabuleiro;
3. Se o indicador for para os quatro cantos do tabuleiro, isso significa que você entrou em contato com um espírito maligno;
4. Se o indicador cair de um tabuleiro Ouija, um espirito será perdido;
5. Se o indicador fizer a figura de um de 8 repetidamente, isso significa que um espírito maligno está no controle do tabuleiro;

6. Se você quiser entrar em contato com um espírito maligno, vire rapidamente o indicador de cabeça para baixo e continue usando dessa forma;
7. O tabuleiro deve ser "fechado" corretamente ou os maus espíritos irão assombrar o participante;
8. Nunca use a Ouija enquanto estiver doente ou em uma condição debilitante, pois isso o tornará vulnerável a possessão;
9. O espírito do tabuleiro Ouija cria "uma sensação de vitória" para o participante, fazendo com que ele se torne cada vez mais dependente do tabuleiro, tornando um vício. Isso é chamado de "aprisionamento progressivo";
10. Os espíritos maus que entram em contato através do tabuleiro Ouija tentarão ganhar sua confiança com falsos interesses e mentiras;

Algumas "regras" da tábua Ouija aparecem no filme "Ouija: Origem do Mal"
11. Seja sempre respeitoso e nunca perturbe os espíritos;
12. Nunca use a Ouija em um cemitério ou lugar onde uma morte terrível ocorreu ou você atrairá entidades malignas;

13. Tabuleiros de Bruxas são assim chamados porque as bruxas os utilizam para invocar demônios;
14.  As primeiras tábuas Ouija foram feitas a partir da madeira de caixões. Um prego do caixão no centro da janela do indicador servia como o ponteiro;
15. Algumas vezes, um espírito maligno pode pemanentemente "habitar" um tabuleiro. Quando isso acontece, nenhum outro espírito será capaz de usá-lo;
16. Ao usar um vidro como um indicador de mensagem, você deve sempre limpá-lo primeiro segurando-o sobre uma vela acesa;
17. Tabuleiros Ouija que são eliminados de forma imprópria, voltam para assombrar o proprietário;
18.  O tabuleiro Ouija irá gritar se você tentar queimá-lo. As pessoas que ouvem o grito têm menos de 36 horas de vida. Existe apenas uma maneira adequada de eliminá-lo: quebre o tabuleiro em sete pedaços, jogue água benta e enterre-o;
19. Se você precisar usar um tabuleiro Ouija, faça o seu próprio tabuleiro. Organize as letras e os números, em um círculo. Assim, o que quer que esteja dentro desse círculo não poderá escapar;
20. Se você colocar uma moeda de prata pura no tabuleiro, nenhum espírito maligno será capaz de entrar em contato;

A atriz Doris Zander interpretando o papel de "Lulu" em "Ouija: Origem do Mal"
21. Nunca deixe o indicador solto no tabuleiro, se você não estiver utilizando-o;
22. Espíritos libertinosos do tabuleiro Ouija às vezes pedem para que as jovens mulheres façam... coisas estranhas. Ignore-os e lembre-se sempre que seu parceiro de Ouija (por exemplo, um namorado) não tem nada a ver com isso;
23. Nunca pergunte sobre Deus;
24. Nunca pergunte quando você vai morrer;
25. Nunca pergunte onde ouro possa estar enterrado;

Curiosamente, mesmo sendo apenas superstições e não regras, algumas empresas se aproveitam dessas superstições e as transformam em verdadeira regras, assim como essas que vocês podem conferir abaixo:

1. Nunca jogue sozinho. São necessários no mínimo dois jogadores;
2. Nunca permita que os espíritos levem o ponteiro para as extremidades do tabuleiro de forma que possam sair dele dessa forma. É assim que ocorre a possessão;
3. Se o ponteiro se mover para os quatro cantos do tabuleiro significa que o espírito contatado é mau;
4. Caso se esteja jogando em uma mesa ou local aonde o tabuleiro fique elevado: se o ponteiro cair no chão, o espírito será perdido;
5. Se o ponteiro apontar o número oito repetidamente, um espírito mau está no controle do tabuleiro;
6. Se desejar contatar um mau espírito, vire o tabuleiro com as letras na posição invertida e utilize-a assim;
7. O tabuleiro deve ser fechado corretamente após a sessão, ou o espírito pode revoltar-se e assombrar os utilizadores;
8. Nunca use o tabuleiro Ouija quando estiver doente, enfraquecido ou sobre o efeito de álcool ou drogas, tendo em vista que estas situações o mantém vulnerável à possessão;
9. Não faça do uso do tabuleiro Ouija uma rotina. Os espíritos às vezes cativam o jogador ao ponto de que o contato se torne um vício;
10. Os espíritos contatados através do tabuleiro tentarão ganhar a sua confiança através de mentiras. Por exemplo: um mau espírito pode alegar ser bom, ganhando assim a sua confiança e trazendo-lhe mal posteriormente;


Curiosamente, mesmo sendo apenas superstições e não regras, algumas empresas se aproveitam
dessas superstições e as transformam em verdadeira regras
11. Procure manter contato sempre de forma respeitosa e só convide para proceder as sessões pessoas confiáveis, seguras e que o farão seriamente. Nunca irrite o espírito ou lhe faça perguntas com ironia;
12. Antes de sair ou mesmo de entrar em uma sessão, peça a permissão do espírito. Caso contrário, está sujeito à possessão pelo mesmo;
13. Nunca use o tabuleiro Ouija em cemitérios ou locais aonde houveram mortes brutais. Isto pode trazer maus espíritos para o tabuleiro;
14. Às vezes, um mau espírito pode habitar permanentemente um tabuleiro. Quando isso ocorrer, não se poderá manter contato com outros espíritos além dele até que ele decida sair;
15. Se seu ponteiro for de vidro, você deve limpá-lo antes e depois de cada sessão, de forma que nenhum espírito possa entrar ali. Para isso, passe-o sobre uma vela acesa;
16. Tabuleiros Ouija que são jogados fora, incorretamente, libertam diversos espíritos que voltarão para assombrar seu dono;
17. Nunca empreste seu tabuleiro a ninguém. Use-o com exclusividade. Se necessário, faça seu próprio e recomende aos colegas que pedem emprestado, que eles façam o mesmo;
18. Há apenas uma forma correta de se desfazer de um tabuleiro Ouija. Primeiro quebre-o em sete pedaços. Depois, jogue sobre ele água benta e finalmente o queime;
19. Se você colocar junto do tabuleiro uma moeda de prata pura, espíritos maus serão incapazes de manter contato;


Existem cerca de 25 superstições relacionadas a tábua Ouija, que são consideradas como regras por alguns fabricantes, que ocasionalmente diminuem esse número ou então acrescentam maiores detalhes que não existiam previamente
20. Nunca deixe o ponteiro sozinho sobre a tábua se não estiver a utilizando. Se o espírito levá-lo para fora do tabuleiro, estará liberto;
21. Às vezes maus espíritos pedirão aos participantes femininos para fazerem gestos ou executarem ações obscenas. Ignore-os. Os demais participantes jamais devem rir ou irritar-se nestas situações;
22. Evite perguntar sobre assuntos que se referem a sua religião e não faça perguntas a respeito do futuro.


Perceberam como a conotação muda e tudo fica muito mais obscuro, sombrio e perigoso? Para piorar a situação, é possível notar que as "regras", que geralmente são impressas em um papel de aparência envelhecida por algumas empresas. possuem erros de tradução em relação as "superstições", que podem facilmente ser encontradas em sites que abordam o tema, em língua inglesa. Resumindo? Fica claro que as "regras da tábua Ouija" não passam de crendices populares, que ganharam distorções e novas ações "proibidas" no decorrer do tempo.

Existe Mesmo um "Demônio da Tábua Ouija" Chamado Zozo?


Muitos entusiastas de demonologia, que basicamente seria o estudo sistemático dos demônios, tentam responder a questão sobre a existência ou não de um demônio chamado "Zozo". Se você buscar informações sobre "Zozo" na internet ou até mesmo no YouTube irá se deparar com uma informação extremamente vaga, geralmente contada por pessoas que sabem mais copiar histórias de terror de fontes internacionais do que necessariamente pesquisar sobre o que pretende apresentar ao público. Na penúltima parte dessa postagem, no entanto, tentaremos nos aprofundar sobre o mesmo.

Em cada encontro relatado com uma "entidade" conhecida como Zozo, há um único tópico em comum: escuridão. Costuma-se dizer que se comunicar com Zozo, através de um tabuleiro Ouija, é trazer uma força demoníaca implacável para sua vida. Contudo, quem é Zozo e por qual razão ele tem aterrorizado milhares de pessoas ao redor do mundo? Bem, essa não é uma pergunta fácil de responder. Afinal de contas, Zozo é uma "entidade" complicada ou pelo menos aparenta ser.

Em cada encontro relatado com uma "entidade" conhecida como Zozo, há um único tópico em comum: escuridão. Costuma-se dizer que se comunicar com Zozo através de um tabuleiro Ouija é trazer uma força demoníaca implacável para sua vida
Na maioria das histórias que você encontra na internet, Zozo inicialmente é amigável, e de vez em quando "ele" utiliza um nome diferente. Sim, exatamente isso que você leu, nem sempre as pessoas relatam que essa "entidade" aparece como Zozo, mas também apareceria com os nomes de Zam, Zetoh, Zaza, Zoso, Zono, e até mesmo Mama. Algumas pessoas chegam a interpretar o nome Zozo como se fosse apenas Oz. E como vocês já devem imaginar, é bem complicado dizer quais histórias sobre Zozo são autênticas (se é que existe alguma realmente autêntica) e quais são meras lendas urbanas, que as pessoas adoram contar. Algumas histórias mencionam assassinatos e suicídios, enquanto outras envolvem possessão, dor física, abuso, maldições e outros fenômenos comumente associados com forças demoníacas. Alguns até mesmo dizem que Zozo estaria ligado a eles ou suas famílias como se fosse um "demônio parasita".

Assim como o autor Jan Harold Brunvand discute em seu livro "The Choking Doberman", a transmissão oral, ou seja, de "boca em boca" de histórias ouvidas "do amigo de um amigo"é uma poderosa forma de espalhar ideias. A internet, é claro, tornou isso muito mais simples. Algumas dessas histórias são modernas, se formos considerar a menção a carros e outros elementos contemporâneos. Porém, somente algumas lendas urbanas, a exemplo do "Slender Man", é que sabemos exatamente quando e onde a história começou.

E como vocês já devem imaginar, é bem complicado dizer quais histórias sobre Zozo são autênticas (se é que existe alguma realmente autêntica) e quais são meras lendas urbanas, que as pessoas adoram contar.
Aparentemente, a primeira menção a Zozo foi no livro "Dictionnaire Infernal" ("Dicionário Infernal", em português), do autor francês Jacques Auguste Simon Collin de Plancy, e publicado em 1818. É justamente nesse ponto que precisamos fazer uma pequena curva para explicar um pouco sobre esse livro, e a forma pela qual Zozo é citado nele.

Esse livro tem tantas histórias e estranhezas associadas a ele, que praticamente daria para escrever um outro livro sobre ele. A primeira estranheza desse livro é um sistema de valorização bem original de suas edições. Amadores e aficionados por leitura sabem que a primeira edição de qualquer livro é a mais valorizada. As edições subsequentes normalmente diminuem de valor. O livro "Dictionnaire Infernal"é um dos poucos que não seguem essa regra. A sexta edição, impressa por Henry Plon em 1863, é a edição mais cobiçada de "Dictionnaire Infernal", porque é a única edição que contém ilustrações famosas.

A sexta edição, impressa por Henry Plon em 1863, é a edição mais cobiçada de "Dictionnaire Infernal",
porque é a única edição que contém ilustrações famosas
Quando Jacques de Plancy escreveu esse livro e o publicou em 1818 ele era um ateu. Ele acreditava que a Igreja usava desenhos de demônios e monstros parecidos entre si para assustar as pessoas em sua fé. Menos de 15 anos depois, no entanto, ele mudou de ideia. Ele se tornou católico e contratou um artista chamado Luis Breton, que preparou 550 ilustrações (exatamente esse número), para a 6ª edição do livro. No livro, se você prestar bem a atenção, é possível ver que as imagens são assinadas por diversos ilustradores, apesar de constar apenas o nome de Breton no livro. A explicação mais óbvia é que as assinaturas de A.J., CH. Jacque, Didiot e Jarrault, por exemplo, são de pessoas que simplesmente trabalhavam no estúdio de Luis Breton, que era muito renomado naquela época.

Curiosamente, em 1999, a Trident Books publicou seu famoso livro chamado "Demonographia", que possui 69 dessas ilustrações de demônios, e muita gente faz confusão até hoje acreditando que "Dictionnaire Infernal" e "Demonographia" são os mesmos livros, o que não é verdade. Felizmente, graças a Bibliothèque Nationale de France ("Biblioteca Nacional da França"), a 6ª edição do livro "Dictionnaire Infernal" foi escaneada, transformada em arquivo .PDF e está disponível para ser acessado pela internet, basta clicar aqui. Interessante, não é mesmo?

Felizmente, graças a Bibliothèque Nationale de France ("Biblioteca Nacional da França"), a 6ª edição do livro "Dictionnaire Infernal" foi escaneada, transformada em arquivo .PDF e está disponível para ser acessado pela internet, basta clicar aqui.
Nesse ponto você parar e pensar: e o que está escrito sobre Zozo na sexta edição desse livro? Bem, a resposta é bem decepcionante. Na página 722, praticamente no final do livro, Zozo é mencionado como um demônio, que na companhia de Mimi e de Crapoulet (dois outros supostos demônios), teria possuído uma jovem menina num vilarejo chamado Teilly, em Picardie, na França, uma região ao norte do país, em 1816. Isso geralmente é o máximo de informação histórica que você encontra sobre Zozo na internet, mas não aqui no blog AssombradO.com.br, porque fiz questão de me aprofundar um pouco sobre essa história.

Na página 722, praticamente no final do livro, Zozo é mencionado como um demônio, que na companhia de Mimi e de Crapoulet (dois outros supostos demônios), teria possuído uma jovem menina num vilarejo chamado Teilly, em Picardie, na França, uma região ao norte do país, em 1816
Zozo também é mencionado na página 552 dessa mesma edição, e conta com o seguinte texto: "O vilarejo de Teilly, a 15 km de Amiens, em 1816 assistiu a um espetáculo de uma menina que fingiu estar possuída. Ela estava, segundo ela, em poder de três demônios: Mimi, Zozo, e Crapoulet. Uma autoridade eclesiática avisou as autoridades, que reconheceram que a menina estava doente. Ela foi levada a um hospital, mas não foi mencionado nada sobre possessão..."
Zozo também é mencionado na página 552 dessa mesma edição do livro "Dictionnaire Infernal"
Diga-se de passagem a edição desse livro não informa o nome dessa jovem, não fornece mais detalhes sobre o teria realmente acontecido ou sequer detalha quem seria Mimi ou Crapoulet, citando-os apenas como demônios. Contudo, pesquisando mais um pouco sobre esse livro, descobri que na segunda edição do "Dictionnaire Infernal" existem mais detalhes do que teria acontecido, e acreditem, tudo realmente não teria passado de uma farsa.

Confira o que é mencionado nas páginas 307 e 308 da segunda edição do livro "Dictionnaire Infernal":

"No vilarejo de Teilly, a 15 km de Amiens, uma jovem ficou grávida, e para encobrir esse incidente, ela começou a dizer que estava possuída por três diabinhos, que se chamavam Mimi, Zozo e Crapoulet. Quanto a este último, ele poderia ser muito bem o culpado, porque é considerado um mulherengo. De qualquer forma, a menina aparecia andando nas ruas, algumas vezes de quatro, algumas vezes andando de frente e outras vezes andando de costas; algumas vezes ela andava com o apoio das mãos, e jogava os pés para o ar. Mimi, ela disse, a empurrava para frente; Zozo, a arrastava para trás; e o maligno Crapoulet se divertia em manter suas pernas para o alto.
Páginas 307 e 308 da segunda edição do livro "Dictionnaire Infernal"
Um senhor de idade de Loyola (um vilarejo basco da Espanha), à procura por aventuras, reconheceu o trabalho do Diabo e levou a menina possuída para exorcizá-la. Mimi partiu em silêncio; Zozo foi mais persistente e quebrou uma janela da igreja quando tentou escapar pelo telhado. Quanto a Crapoulet, ele foi perseguido em vão, mesmo com a ferramenta abençoada, ele não conseguiu ser removido e, eventualmente, se posicionou na genitália da menina, deixando apenas a critério do exorcista. Havia fofocas e rumores por toda Amiens devido a esses eventos, assim sendo as autoridades decidiram colocar um fim ao escândalo. Um homem honesto de Teilly ficou sabendo que a menina possuída, na verdade, estava grávida e a levou para um hospital."

História estranha, não é mesmo? Jacques Auguste Simon Collin de Plancy é geralmente apresentado como um ocultista francês, demonologista, escritor, sendo que publicou diversos trabalhos sobre ocultismo e demonologia. No entanto, devemos levar tudo o que ele escreveu a sério? Para tentar responder a essa questão, temos que lembrar que Jacques, ao menos inicialmente, era ateu e não acreditava em muitas superstições. Ironicamente, no entanto, estampado na capa da segunda edição de seu "dicionário infernal", podemos ler o seguinte: "Dicionário Infernal ou uma Biblioteca Universal sobre os seres, os personagens, os livros, dos fatos e das coisas que dizem respeito às manifestações, a magia, o comércio do Inferno, as adivinhações, as ciências ocultas, os grimórios, os fenômenos extraordinários, os erros, os preconceitos, as tradições, as lendas, as diversas superstições e, em geral, toda a espécie de crenças surpreendentes, misteriosas e sobrenaturais."

Jacques Auguste Simon Collin de Plancy é geralmente apresentado como um ocultista francês, demonologista, escritor, sendo que publicou diversos trabalhos sobre ocultismo e demonologia
Além disso, Jacques ficou conhecido sobre suas inúmeras publicações sobre lendas e por escrever anedotas (histórias curtas com finais geralmente engraçados, porém que podem ser ou não verdadeiras, e quando são geralmente possuem exageros na narrativa, que é contada de maneira informal e imprecisa) no século XIX. Isso sem contar as chamadas "aventuras singulares", "citações", "compilações" e "peças curiosas", para serem utilizadas como registro da história dos costumes e da mentalidade do século em que viviam, em comparação com séculos passados. Ele também escrevia pequenos romances, contos estranhos, e histórias prodigiosas sobre as "aventuras de demônios". Não estou querendo desacreditar o que Jacques relatou sobre Zozo, mas vocês devem levar tudo isso em consideração na avaliação de vocês, ou seja, se o texto dele merece ou não alguma credibilidade. De qualquer forma, nesse caso, o nome Zozo está associado a uma mentira, isso ficou bem claro?

Uma das ligações mais concretas ao nome Zozo e a ideia de magia e demônios pode ser atribuída à peça francesa de 1835 chamada "Zazezizozu", que foi uma adaptação de uma história do livro árabe chamado "Mil Noites e uma Noite". O conto original aparece no Livro Suplementar III de Sir Richard Francis Burton, sendo que o Príncipe Ahmad e a Fada Pero-Banu também foram recitados pelo escritor Jean Pio, no livro "Contes Populaires Grecs", de 1879, como "Το χρυσό κουτάκι" ("A Caixa de Ouro", em português).

Uma das ligações mais concretas ao nome Zozo e a ideia de magia e demônios pode ser atribuída à peça francesa de 1835 chamada "Zazezizozu" que foi uma adaptação de uma história do livro árabe chamado "Mil Noites e uma Noite"
Na peça "Zazezizozu", três príncipes conspiram pelo trono de seu pai, e pela mão da irmã deles, a princesa. Os príncipes são chamados Zizi, Zozo e Zuzu (nomes que poderiam ser traduzidos como "Infantil", "Um Tolo", mas Zuzu não é possível traduzir). Cada príncipe entra em uma terra mágica (uma das cartas, uma dos dominós e uma dos dados) para competir por um prêmio e ganhar a princesa. O vencedor acaba trazendo rosas da terra das cartas. Em 1836, Edward "Fitzball" usou a peça francesa como base para uma peça cômica que ele escreveu chamada "Zazezizozu" também conhecida como "Cards, Dominoes and Dice". A história rapidamente ganhou popularidade e fez turnês na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Durante a década de 1880, uma ópera popular foi intitulada "Zozo the Magic Queen". A história acontece a partir de um naufrágio, passando pela "Terra das Fadas" e por uma "caverna demoníaca". A mesma termina em uma ilha encantada e um grande espetáculo de balé. Como resumo, podemos dizer que, quando um navio norte-americano naufraga na costa da Terra das Fadas, o capitão e a tripulação são levados até terra firme. Zozo (a rainha da Terra das Fadas) e sua comitiva encontram os homens, que são os primeiros mortais que elas já tinham visto. O capitão apaixona-se por Zozo e, eventualmente, conquista seu coração.

Durante a década de 1880, uma ópera popular foi intitulada "Zozo the Magic Queen".
A história acontece a partir de um naufrágio, passando pela "Terra das Fadas" e por uma "caverna demoníaca"
Porém, parte da história também envolve a invasão da Terra das Fadas por um grupo de homens maus que também encontram o local. Assim como muitas óperas da época, o peça era parcialmente cômica, parcialmente burlesca e, em parte, um elaborado balé. A ópera viajou pelos Estados Unidos de 1884 até pelo menos 1895.

Um outro ponto interessante é que desde a menção sobre Zozo, em 1818, mesmo diante do nascimento do Espiritualismo e todos os mais diversos métodos de supostos contatos com o mundo espiritual, nenhum médium sequer mencionou Zozo.

Algumas pessoas, no entanto, dizem que Zozo teria sido citado em uma espécie de "guia de viagens", em francês, de 1906, no qual o citaria como uma "abreviação" para Pazuzu, que na mitologia suméria era o "rei dos demônios do vento", filho do deus Hanbi. Esse tal "guia de viagens" seria o livro "L'Antiquité: L'Orient, la Grèce, Rome", do autor Albert Malet.

Algumas pessoas dizem que Zozo teria sido citado em uma espécie de "guia de viagens", em francês, de 1906, no qual o citaria como uma "abreviação" para Pazuzu, que na mitologia suméria era o "rei dos demônios do vento", filho do deus Hanbi. Esse tal "guia de viagens" seria o livro "L'Antiquité: L'Orient, la Grèce, Rome", do autor Albert Malet
Ao consultarmos a edição desse mesmo livro, de 1902, e que está disponível para consulta pública na Biblioteca Nacional da França, existe uma ilustração de uma estátua relacionada a "Le Vent du Sud-Est", que estaria localizada no museu do Louvre, porém não há nenhuma referência aos nomes Pazuzu ou Zozo nesse livro:

Ao consultarmos a edição desse mesmo livro, de 1902, e que está disponível para consulta pública na Biblioteca Nacional da França, existe uma ilustração de uma estátua relacionada a "Le Vent du Sud-Est", que estaria localizada no museu do Louvre, porém não há nenhuma referência aos nomes Pazuzu ou Zozo nessa edição do livro
Assim sendo, fomos verificar a referência mencionada em relação a edição de 1906. Afinal, esse livro poderia ter sido atualizado de forma significativa, não é mesmo? Confira a imagem abaixo:

Edição de 1906 do livro "L'Antiquité: L'Orient, la Grèce, Rome"
Novamente, não há qualquer menção aos nomes "Pazuzu" ou "Zozo" nesse livro.

Será que vocês conseguem adivinhar quando Pazuzu apareceu como um demônio que possuía pessoas? Vou dar uma dica: essa suposta "característica" de possessão começou a ser contada apenas a partir de 1971. Então, já sabem? Bem, acertou quem disse o livro "O Exorcista" do escritor e cineasta norte-americano Peter Blatty. Na verdade, o início do livro prepara o terreno para os acontecimentos diante de uma escavação em um templo que revela uma estátua Pazuzu. Embora o papel de Pazuzu seja bem pequeno no filme "O Exorcista", o mesmo ganhou um destaque maior em "O Exorcista II - O Herege", de 1977.

Considerando as supostas fontes históricas comumente referidas a Zozo, e o significado francês da palavra, ou seja, "bobo, tolo ou idiota", é bem possível que toda essa história de um demônio específico do tabuleiro Ouija tenha começado tão somente como uma piada.

Confira alguns outros significados para Zozo:
  • Em basco, a palavra significa "melro-preto" ou "estorninho" (ambos pássaros);
  • Em francês, significa "bobo", "tolo" ou "idiota";
  • No crioulo haitiano, o termo é uma palavra vulgar para "pênis";
  • No "crioulo francês da Louisiana", a palavra significa "melro-preto" ou "corvo";
  • Em zulu, a palavra "uzozo" significa "uma ferida que nunca cicatriza".
Será que vocês conseguem adivinhar quando Pazuzu apareceu como um demônio que possuía pessoas?
Bem, acertou quem disse o livro "O Exorcista" do escritor e cineasta norte-americano Peter Blatty
Na busca por maiores informações que pudessem fornecer mais detalhes sobre Zozo, me deparei com um artigo muito interessante publicado pelo um site chamado livescifi.tv. Porém, Celina Summers, responsável pelo texto, aproveitando-se tão somente de um perfil linguístico limitado, cita os colonizadores europeus e a vinda de escravos da África como uma espécie de tentativa de explicar, que a miscigenação cultural e social entre os valores judaico-cristãos e as crenças africanas poderiam ter dado, de alguma forma, origem ao Zozo. Além disso, é citado um pesquisador paranormal chamado "Darren Evans" com uma história muito pecular. Aparentemente, uma pessoa teria encontrada uma tábua Ouija enterrada no porão de uma antiga casa, em 1982, próximo a Sand Springs, Oklahoma. De um lado era uma tábua Ouija normal, de William Fuld, da década 30, mas o outro lado estaria pintado de preto, sendo que o desenho de asas de corvo em volta do nome Zozo estaria gravado nesse lado escuro da tábua.

Darren Evans,
pesquisador paranormal
Após um "exame mais aprofundado" do local onde a tábua havia sido encontrada, Evans descobriu que jarros de "melros-pretos" mortos, e bem-preservados tinham sido enterrados em cada um dos quatro cantos da tábua Ouija. Sobre os frascos havia uma substância branca, parecendo calcário. Isso, é claro, é a história que ele conta.

Celina então aproveita para dizer que em muitas culturas antigas, o calcário branco ou cal era usado como forma de purificação antes das batalhas ou como parte de um ritual mágico importante, tanto na Europa quanto na África. No entanto, isso continua não provando absolutamente nada sobre as origens históricas de Zozo.

A grande verdade é que a absoluta maioria dos relatos sobre Zozo surgiram a partir de meados da década de 1980 e começaram a ganhar um volume ainda maior com a expansão internet e acessibilidade de mais pessoas ao mundo digital, uma vez que um maior conteúdo sobre os mais diversos assuntos, inclusive a tábua Ouija, começaram a ser disponibilizados.

Para vocês terem uma ideia, John Zaffis, considerado um dos principais demonólogos do mundo, acredita que Zozo não é um demônio, mas um Dietie. Um Dietie seria uma espécie de um deus do pagão que teria sido adorado muito antes que as religiões fossem formadas. Em outras palavras, ele acredita que Zozo não seja um demônio, mas um espírito que foi adorado como um deus pagão em seu tempo.

Entretanto, para Paul Dale Roberts, que pertence a um grupo paranormal chamado "Haunted and Paranormal Investigations" (H.P.I.), que por sua vez é considerado dos principais grupos paranormais da Costa Oeste dos Estados Unidos, o fenômeno Zozo pode ser tão somente uma farsa. Paul seria considerado um especialista paranormal muito respeitado em seu meio e, de acordo com ele, Zozo provavelmente seria um "personagem fictício que se tornou real na mente de muitas pessoas", principalmente entre aquelas que procuram por maiores informações sobre a tábua Ouija, tal como aconteceu, por exemplo, com Slender Man, mesmo nos dias atuais.

Entretanto, para Paul Dale Roberts, que pertence a um grupo paranormal chamado "Haunted and Paranormal Investigations" (H.P.I.), que por sua vez é considerado dos principais grupos paranormais da Costa Oeste dos Estados Unidos, o fenômeno Zozo pode ser tão somente uma farsa.
Resumindo? De tanto que se fala sobre Zozo, se publica sobre Zozo, se grava vídeo falando sobre Zozo, os jogadores de tábua Ouija acabam ficando sugestionados, e através do "efeito ideomotor", acabam repetindo o mesmo comportamento anteriormente lido, ouvido ou assistido de alguma forma. Curiosamente, ainda é possível encontrar teorias na internet que Zozo seria a extensão de uma tulpa (criado pela pura disciplina mental) ou assim como aconteceu no "Experimento Philip" (onde parapsicólogos canadenses teriam inventado um "fantasma" e uma atividade paranormal teria acontecido).

Para finalizar assista também um dos vídeo mais populares sobre um "possível encontro com Zozo", publicado pelo canal OuijaWarning, no YouTube, em setembro de 2010 (lembrando, é claro, que popular não significa necessariamente realidade):



Enfim, acho que diante de toda essa pesquisa aprofundada que fizemos para vocês, ficou bem claro que, diante do que conhecemos sobre o fenômeno Zozo, ele não passa de uma farsa introduzida em algum momento da linha do tempo. Seria como se Zozo tivesse o mesmo peso ou relevância do Slender Man, que não passa de um personagem sobrenatural ficcional, ou seja, ele não existe. Tudo vai depender é claro da influência que tais histórias têm sobre você e a forma com que isso lhe afeta ou aos seus amigos(as) no cotidiano ou simplesmente ao jogar a tábua Ouija. De qualquer forma, mais uma vez repito, até hoje nada indica que Zozo seja um demônio, tão pouco que exista em qualquer mundo que você queira acreditar.

A Tábua Ouija é Recomendada Para Crianças e Pré-Adolescentes?


Apesar da tábua Ouija ser considerada por muitos como um brinquedo, isso não quer dizer, no entanto, que sua utilização por crianças ou pré-adolescentes seja recomendável. A questão não está relacionada se a tábua poderia gerar uma possessão demoníaca, ou se a mesma é permitida ou não por determinada religião, mas potencialmente por gerar um fenômeno chamado "histeria coletiva" (também conhecido como doença psicogênica de massa). Esse termo é basicamente utilizado para explicar casos, nos quais muitas pessoas começam a apresentar os mesmos sintomas ao mesmo tempo.

Um dos casos de histeria coletiva mais famosos da história seria dos julgamentos de Salém, em Massachussetts,
nos Estados Unidos, que ocorreram entre 1692 e 1693 (imagem meramente ilustrativa).
Geralmente, em casos de "histerias coletivas", as mulheres são mais susceptíveis de serem afetadas do que os homens. Muitas vezes começa simplesmente com uma única menina. As pessoas pertencentes ao grupo, geralmente fechado, assim como uma roda de amigas em um quarto, são mais afetadas se a primeira pessoa a desmaiar for alguém que elas conheçam bem, ainda mais se a menina possuir uma grande relevância ou elevada admiração pelo grupo. Além disso, as escolas são particularmente mais vulneráveis, justamente por conterem um alto número de estudantes, de uma mesma faixa etária, o que agrava a situação.

Geralmente, em casos de "histerias coletivas", as mulheres são mais susceptíveis de serem afetadas do que os homens.
Muitas vezes começa com uma única menina.
Vamos dar um exemplo bem simples. Quando alguém começa a gritar, uma outra pessoa que esteja em um estado semelhante de medo ou tensão, pode começar a gritar junto com ela. E antes que você perceba, um grupo inteiro ou uma sala de aula inteira começaria a gritar em segundos. A primeira pessoa a desencadear isso, normalmente é aquela que apresenta a reação de forma mais violenta.

Resumindo, após a demonstração dos sintomas por uma determinada pessoa, outras pessoas começam a manifestar sintomas semelhantes, geralmente náuseas, fraqueza muscular, convulsões ou dores de cabeça. Vale lembrar que os "ataques de gritos" também podem ser acompanhados de desmaios ou de pessoas se contorcendo no chão. Na visão de muitos, tal comportamento é interpretado como "possessão demoníaca", mas na verdade não é, e cada caso deve ser tratado individualmente e fora do ambiente que gerou essa histeria coletiva por psicólogos capacitados. Isso não se resolve com oração e trabalhos espirituais.

As pessoas pertencentes ao grupo, geralmente fechado, assim como uma roda de amigas em um quarto, são mais afetadas se o primeira a desmaiar seja alguém que elas conheçam bem, ainda mais se a menina possuir uma grande relevância ou elevada admiração pelo grupo (foto meramente ilustrativa)
Já publicamos notícias e matérias bem interessantes sobre casos de supostas "possessões demoníacas", "histeria coletiva", e até mesmo alguns casos supostamente relacionados a tábua Ouija. Entre essas postagens ressaltaríamos as seguintes notícias:
Evidentemente, estamos mostrando um lado muito mais amplo, e que você provavelmente não sabia sobre a tábua Ouija. Cada um acredita, é claro, no que quer e de acordo com sua eventual religião e suas convicções pessoais. Fica a seu critério acreditar ou não na suposta paranormalidade da tábua Ouija, mas nada indica que ela seja realmente um meio de comunicação espiritual, e sim tão somente um jogo. Aliás, esse é justamente o tema dos meus comentários finais.

Comentários Finais


Sinceramente? Espero que você tenha chegado a esse ponto, tão satisfeito quanto fiquei ao elaborar o especial sobre a história da tábua Ouija. Sei que alguns esperavam que houvesse algo mais misterioso e obscuro sobre a mesma, mas não tenho coragem de vir e aqui e apenas contar uma historinha de terror para vocês, no escuro, e segurando uma vela acesa na mão. Não sou esse tipo de pessoa, e nunca pretendo ser. Quando resolvo fazer um especial, vocês podem ter certeza que demorei um alguns dias ou algumas semanas para coletar todo o material, ler cada parágrafo, checar a veracidade de cada informação, para então traduzir e criar o melhor roteiro possível para vocês acompanharem até o final. São noites em claro, mas recompensadas pela certeza de um trabalho que será bem feito. Sei o quão importante é a leitura na vida de uma pessoa, sendo justamente por isso que ainda faço questão de escrever o máximo de informação possível e complementar sobre um determinado assunto, nem que seja tão somente uma notícia. O importante, como sempre digo, é que você saia muito bem informado e possa repassar esse conhecimento para outras pessoas. Apesar de estarmos em uma era predominantemente audiovisual, com o YouTube sendo uma das maiores ferramentas para os produtores de conteúdo, ler ainda é fundamental, porque é através da leitura que exploramos novas formas de comunicação, de contato com outras pessoas, e também de conquistar a confiança de cada um de vocês. Hoje em dia, não é mais possível acreditar somente no que é mencionado em documentários, em emissoras de TV, em jornais, revistas ou até mesmo em certos canais no YouTube, que muitas vezes contam mentiras, e tentam fingir que tudo é verdade.

Em relação a tábua Ouija, infelizmente não tenho como dizer que ela é uma ferramenta de contato espiritual, visto que ela nasceu diante de época que produziu uma quantidade absurda e incomensurável de fraudes. As irmãs Fox tiveram suas respectivas reputações completamente destruídas, mas suas ações acabaram dando esperança a almas desoladas, não de espíritos, mas dos vivos que buscavam consolo e entender o porquê tinham que enterrar filhos e sofrer diante da perda para doenças até então inexplicáveis. Assim como a arte de enganar as pessoas evoluiu, a ciência também evoluiu. Diante do questionamento público de médiuns, nada melhor do que tornar a comunicação espiritual, uma crença individual, ao criar algo simples e acessível para toda a população. Duas meras peças de madeira se tornaram capazes de proporcionar experiências incríveis diante de olhos, que não sabiam explicar o que viam. A sensação de bem-estar, de ter suas perguntas, medos e anseios respondidos deveria ser extremamente mágica naquela época. A sociedade estava evoluindo mais rápido do que a mente da maioria das pessoas podia absorver. Telefone, eletricidade, máquinas, carros, um mundo completamente novo de possibilidades jamais imaginadas. Por que não acreditar que também não era possível se comunicar com os mortos? Bastava aquelas duas meras peças de madeira, algo tão primitivo perante a modernidade que batia a porta de cada um, mas ao mesmo tempo tão fascinante. Duas peças de madeira que se friccionadas iluminavam o rosto daqueles que as manuseavam, geravam luz e, com ela, aparentemente um mundo de trevas simplesmente se tornava mais alentador. Nossos ancentrais devem ter pensando exatamente o mesmo quando descobriram algo bem mais mundano: o fogo.

Entretanto, aquilo que servia para explicar o que a maioria das religiões tentava negar, se tornou um imenso problema para aqueles, que mesmo acreditando na existência do espírito, dizia que somente existia dois caminhos a seguir, para cima ou para baixo, e ambos incomunicáveis. Com certeza era uma batalha diária para convencer as pessoas, que não havia formas possíveis de estabelecer esse contato, e que o mesmo deveria ser feito por intermédio e perante imagens religiosas de porcelana ou de barro, algo muito mais seguro e financeiramente mais rentável para aqueles que recomendavam. A reviravolta veio a partir de Hollywood, responsável pela criação de tantas outras farsas e fantasias, que expôs para o mundo inteiro uma história baseada em um livro, que por sua vez foi inspirada em uma história que até hoje é muito mal contada e pesquisada. É possível imaginar o caos ainda maior que isso deve ter gerado naquela época. Desde então, a mesma passou a ser alvo daqueles que estavam esperando o momento certo para agir e provar todo o suposto mal que ela causava, que a fricção de duas meras peças de madeira não era a luz do criador, mas o fogo do Inferno, que em algumas culturas é tão somente uma imensidão gelada. E assim, da noite para o dia, iluminada apenas pelos letreiros dos cinemas de rua, uma suposta tábua que promovia uma certa união entre as pessoas, que se transformou em brinquedo, e serviu de uma possível inspiração para livros e músicas, foi transformada em instrumento de forças ocultas. Não acredito no poder de comunicação espiritual da tábua Ouija, mas jamais impedirei que as pessoas continuem friccionando duas meras peças de madeira, uma vez que não tem nada pior do que ficar no escuro, e sem saber para onde ir.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://occultcenter.com/2010/12/1863-dictionnaire-infernal-pdf-full-illustrations/
http://retrobaltimore.tumblr.com/post/117205597029/remembering-baltimores-days-as-the-ouija-capital
http://skeptophilia.blogspot.com.br/2014/08/the-creation-of-zozo.html
http://web.archive.org/web/20090103110845/http://www.mitchhorowitz.com/ouija.html
http://web.randi.org/swift/yes-no-goodbye-the-ouija-board-used-for-spirit-communication
http://williamfuld.com
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-234748/
http://www.ecreiche.com/
http://www.hasbro.com/common/instruct/Ouija_Board_(2001).pdf
http://www.imdb.com/title/tt4361050/releaseinfo?ref_=tt_ov_inf
http://www.lastgasps.com/page11.html
http://www.museumoftalkingboards.com/
http://www.paranormal360.co.uk/zozo-the-ouija-board-demon-the-real-deal-or-just-a-hoax/
http://www.sgipt.org/medppp/psymot/carp1852.htm
http://www.strangerdimensions.com/2014/08/19/zozo-ouija-board-phenomenon/
http://www.washingtonpost.com/wp-srv/style/longterm/movies/features/dcmovies/exorcism1949.htm
http://zozotheouijaspirit.blogspot.com.br/
https://shortoncontent.wordpress.com/2014/11/22/zozo

http://ehbritten.blogspot.com.br/2016/05/strangers-n-y-city-directory-charles.html
http://exploringupstate.com/hydesville-memorial-park-and-the-fox-sisters-newark-ny/
http://gotsc.org/HydesvilleMemorialPark.htm
http://mysteriousplanchette.blogspot.com
http://web.archive.org/web/20090103110845/http://www.mitchhorowitz.com/ouija.html
http://www.atlasobscura.com/places/the-fox-sisters
http://www.encyclopedia.com/science/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/seybert-commission
http://www.smithsonianmag.com/history/the-fox-sisters-and-the-rap-on-spiritualism-99663697/
https://en.wikipedia.org/wiki/Fox_sisters
https://en.wikipedia.org/wiki/Lily_Dale,_New_York
https://www.facebook.com/groups/foxmemorial/
https://www.nsac.org/

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Jornal Assombrado #13: Homúnculos Fundidos | OVNI Avião FAB | Alvorada Assombrado | Caso Berry Barney Hill

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Jornal Assombrado #14: Fantasmas em Hospitais | Horripilante Foto de Fantasma | Foto do Homem Mariposa

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Jornal Assombrado #16: A Maior Tábua Ouija | Adolescentes Possuídos Nicaragua | Primórdios da Ouija

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Homem Assassina Esposa Grávida Por Acreditar que Ela Fosse um "Ser Humano Híbrido", em Jackson Township, nos Estados Unidos

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Por Marco Faustino

Lembro que no ano passado, mais precisamente no dia 14 de novembro, fiz uma matéria extremamente completa sobre um cidadão norte-americano chamado Jeffrey Alan Lash, que havia sido encontrado morto em seu próprio carro, em estado avançado de decomposição, em Los Angeles, nos Estados Unidos, no ano anterior. O Departamento de Polícia de Los Angeles, no entanto, se surpreendeu ao se deparar com cerca de 1.200 armas de fogo, que incluíam rifles, escopetas e pistolas, aproximadamente 6,5 toneladas de munições, arcos, flechas, facas e, aproximadamente cerca de US$ 230.000 em dinheiro vivo. Muitas dessas armas ainda se encontravam em suas respectivas caixas, com as etiquetas dos preço, além de diversos veículos, alguns modificados para serem utilizados nos mais diversos tipos de terrenos, e todos em nome desse homem. A situação ficaria ainda mais estranha, quando o advogado de uma mulher chamada Catherine Nebron, teria declarado que Jeffrey, que na época possuía 60 anos, afirmava ser um "humano-alienígena", uma espécie "híbrida", que trabalhava como agente secreto para diversas agências governamentais dos Estados Unidos. Curiosamente, Catherine alegava que estava ao lado de Jeffrey ao longo dos últimos 17 anos, mas o homem não tinha renda mensal compatível, que pudesse justificar o patrimônio bélico que tinha sido encontrado.

O problema é que Catherine Nebron não era o único "amor" de Jeffrey Alan Lash, e ao longo das investigações outras mulheres apareceram, e aparentemente todas sustentavam os caprichos e manias desse homem. Jeffrey chegou a dizer que era um super-espião, e que estava lutando para salvar o mundo. Ele teria confidenciado isso a poucas pessoas. Disse que trabalhava para uma agência secreta, uma que lidava com alienígenas. E, então, ao longo da postagem podemos perceber que Jeffrey não colecionava apenas armas e carros, mas dezenas de milhares de DVD's, CD's e livros, entre outras milhares de bugigangas, sendo que muitas ainda estavam em suas respectivas caixas, intactas. Além disso, ele fez com que sua suposta última companheira, a Catherine Nebron, vivesse praticamente em cativeiro dentro de sua própria casa, dormindo em péssimas condições em um pequeno banheiro, ao seguir fielmente as instruções dadas por Jeffrey. Assim sendo, tentei coletar a maior quantidade possível de informações para tentar traçar um perfil desse homem, e responder como ele conseguiu fazer tudo isso sem praticamente ser notado por nenhuma autoridade norte-americana, e sem que suas "vítimas" conseguissem escapar do envolvimento emocional, que tiveram por ele. Portanto, vale muito a pena ler todo aquele material, que foi feito, escrito e pesquisado com muito carinho para vocês (leia mais: O Caso Jeffrey Alan Lash: Um Híbrido Reptiliano, um Agente Secreto Norte-Americano ou um Estelionatário de Mulheres?).

Apesar de toda a estranheza relacionada ao caso do Jeffrey Alan Lash, aparentemente não houve uma única morte sequer atribuída ao mesmo, exceto sua própria morte. Agora, imaginem se a crença em uma "raça híbrida de seres humanos" levasse alguém a matar. Seria algo assustador, não é mesmo? Agora, imaginem alguém carregando essa crença consigo e de repente passasse a ver sua própria esposa como um "ser híbrido", e que deveria matá-la para salvar a humanidade. Surreal, não? Agora, imagine apenas mais uma coisa: essa esposa grávida de 24 semanas (aproximadamente 6 meses), e o filho do casal de apenas 2 anos de idade, que estava dentro da casa quando tudo aconteceu. É, eu consigo imaginar como isso soa triste, absurdo e inacreditável na cabeça de vocês. Sinceramente, não tenho prazer em trazer casos assim ao conhecimento de vocês, porém acho importante que tenham ciência dos mesmos, visto que algumas vezes isso é apenas uma desculpa para ocultar o verdadeiro motivo de um crime. Porém, de vez em quando, ainda mais com a crescente onda de notícias falsas e teorias conspiratórias cada vez mais infundadas sendo propagadas aos quatro ventos, a crença exacerbada em algo pode levar a situações impensáveis. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Como Tudo Começou: A Morte de Diana Ziegler no Mês de Janeiro Desse Ano, em Jackson Township, no Estado Norte-Americano da Pensilvânia


No dia 27 de janeiro desse ano, o site do jornal "York Daily Record" noticiou algo assustador. De acordo com a Polícia Regional do Condado de Northern York, uma mulher havia sido morta naquela mesma tarde, depois que seu marido a agrediu dentro da casa onde moravam, na pequena cidade de Jackson Township, no estado norte-americano da Pensilvânia. É interessante mencionar que, de acordo com o último censo realizado em 2010, essa cidade possui pouco mais de 7.400 habitantes, em uma área de apenas 59 km².

De acordo com a Polícia Regional do Condado de Northern York, uma mulher havia sido morta naquela mesma tarde, depois que seu marido a agrediu dentro da casa onde moravam, na pequena cidade de Jackson Township, no estado norte-americano da Pensilvânia
Foi o próprio marido dessa mulher, John D. Ziegler III, de 31 anos, que ligou para o 911 (o mais famoso número do serviço de emergências dos Estados Unidos), por volta das 16h15, e relatou que havia golpeado sua esposa com uma espada do "estilo cimitarra", matando-a em seguida. O nome da mulher era Diana Ziegler, 25 anos, que estava grávida. O bebê que ela estava esperando também veio a óbito.

Foi o próprio marido dessa mulher, John D. Ziegler III, de 31 anos, que ligou para o 911 (o mais famoso número do serviço de emergências dos Estados Unidos), por volta das 16h15, e relatou que havia golpeado sua esposa com uma espada do "estilo cimitarra", matando-a em seguida
Vale ressaltar nesse ponto que as espadas "cimitarra" possuem uma lâmina curva mais larga na extremidade livre, com gume no lado convexo, utilizada por certos povos orientais, tais como árabes, turcos e persas, especialmente pelos guerreiros muçulmanos. É a espada mais típica do Oriente Médio e da Índia muçulmana, porém existem algumas variações.

As espadas "cimitarra" possuem uma lâmina curva mais larga na extremidade livre, com gume no lado convexo, utilizada por certos povos orientais, tais como árabes, turcos e persas, especialmente pelos guerreiros muçulmanos. A imagem acima é meramente ilustrativa.
A polícia disse que Diana foi encontrada em uma varanda, na parte de trás da casa, e de acordo com o Escritório do Médico-Legista do Condado de York, ela possuía "múltiplas" lesões fatais. Ainda segundo a polícia, John Ziegler morava na casa, que ficava bem no final de uma rua sem saída, do bloco 1100 da Ledge Drive (o casal morava na Ledge Drive nº 1157), na comunidade de Jackson Heights.

Imagem do Google Maps mostrando a localização da pequena Jackson Township
em relação a outras cidades norte-americanas

Imagem do Google Street View mostrando o local a visão que uma pessoa teria ao estar no final da Ledge Drive.
A casa onde tudo aconteceu é uma das que estão à direita da imagem.
De acordo com o tenente David Lash (qualquer semelhença com o outro Lash é mera coincidência), só havia mais uma pessoa dentro da casa: uma criança de apenas 2 anos de idade. A criança não estava ferida e, ao menos naquela época, ficou sob custódia do Serviço de Proteção à Criança, ao Adolescente e Família do Condado de York.

"O que o levou a fazer isso, e o que ocorreu durante esse período ainda está sob investigação", disse David Lash, sobre a morte de Diana Ziegler. Vocês também podem conferir as declarações desse tenente, através de um vídeo publicado em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês):



Aliás, quando John Ziegler ligou para o 911, ele disse que estava esperando que a polícia chegasse, juntamente com seu filho de 2 anos. De qualquer forma, John Ziegler foi encaminhado para a Central de Polícia de Condado de York, e acabou sendo acusado formalmente de homicídio doloso de sua esposa, e do bebê que ela estava esperando. O crime, como era de se esperar, chocou a comunidade local.

Uma moradora chamada Chrystal Bixler, que mora na mesma rua que o casal morava, disse que estava voltando do trabalho quando viu diversos carros da polícia indo em direção à casa.

De acordo com o tenente David Lash (qualquer semelhença com o outro Lash é mera coincidência),
só havia mais uma pessoa dentro da casa: uma criança de apenas 2 anos de idade
"A única coisa que sei depois disso é que vi a fita de isolamento da polícia sendo colocada. Isso definitivamente não era algo bom", disse Chrystal Bixler. Ela disse que conseguiu ver a polícia levando um homem sob custódia e segurando uma criança, que estava do lado de fora. O tenente David Lash disse que o homem "se rendeu ao primeiro oficial que chegou".

Chrystal Bixler, no entanto, assim como diversos outros moradores, descreveram a vizinhança como sendo bem pacata. O Parque Stone Ledge fica do outro lado da rua sem saída, onde a agressão aconteceu. Há um parque infantil, uma quadra de basquete, um pista para caminhar e correr, e um pavilhão.

Documento público divulgado pelo Escritório do Médico-Legista do Condado de York a respeito desse incidente,
que possui praticamente as mesmas informações que vocês terão em nossa postagem
Segundo uma outra moradora chamada Cheryl Brunner, durante o verão os vizinhos lotam o parque e são muito amigáveis uns com os outros. Aliás, ela morava apenas a três ou quatro casas de distância da Ledge Drive.

"Algo assim acontecendo, é bem chocante", disse Cheryl Brunner, acrescentando que não estava em casa no momento da agressão, mas ao voltar para casa notou a presença dos carros de polícia e diversas ruas fechadas. A polícia tinha colocado a fita de isolamento desde o final da rua sem saída até a frente da casa onde tudo aconteceu.

Oficiais de polícia juntamente com o Escritório do Médico-Legistra do Condado de York entravam e saíam da casa. Em determinado momento, um homem removeu o assento de um carro estacionado próximo a residência. Por volta das 18h, oficiais entraram na parte de trás de uma ambulância estacionada na Ledge Drive.

Oficiais de polícia juntamente com o Escritório do Médico-Legistra do Condado de York entravam e saíam da casa. Em determinado momento, um homem removeu o assento de um carro estacionado próximo a residência (na foto).
Um homem carregava uma criança, que estava enrolada em um cobertor, e a afastou do local do crime. De acordo com Cheryl Brunner, era possível notar que ele estava conversando calmamente com a criança. Cheryl, assim como um outro vizinho chamado Antonio Solis, disse que as pessoas que moravam na casa tinham se mudado há apenas dois meses.

A família Ziegler, o pequeno J.D. de apenas dois anos (à esquerda), John Ziegler III (no centro) e Diana Ziegler (à direita)
Diana Ziegler (à esquerda) e John Ziegler III (à direita)
No dia seguinte (28), no entanto, mais detalhes sobre a morte de Diana Ziegler começaram a ser revelados. Novamente as informações vieram do site do jornal "York Daily Record", que divulgou que Diana Ziegler estava grávida de 24 semanas, e estava esperando uma menina. O marido e acusado de ter a assassinado, John D. Ziegler III, permanecia preso na Prisão do Condado de York, sem direito a fiança.

Na queixa criminal relativa ao caso, o detetive Mark E. Baker declarou que o corpo de Diana Ziegler foi encontrado nos fundos da residência. Juntamente com ela havia uma "espada negra, de aproximadamente 10 cm de largura, que estava coberta de sangue." Ele relatou que sangue e fragmentos de crânio foram encontrados no local. Mark também escreveu que Diana "aparentava ter sofrido diversos golpes em sua cabeça e pescoço" resultando assim em sua morte.

John Ziegler III dando entrada na Prisão do Condado de York
O detetive chegou a interrogar John Ziegler por volta das 21h do dia 27 de janeiro, e ele admitiu ter golpeado sua esposa cerca de três vezes com a espada, que conforme dissemos anteriormente seria de estilo "cimitarra". Na queixa criminal, no entanto, não constava a motivação do crime, ou seja, não foi divulgada a razão pela qual John matou sua esposa. Apesar de uma autópsia ter sido agendada para a segunda-feira seguinte (30), o resultado (que acabou não acrescentando nada ao que já sabíamos) ficou em segundo plano em relação ao que aconteceria ao anoitecer de domingo (29).

A Vigília em Memória de Diana Ziegler por Parte de Colegas de Trabalho, Amigas e da Comunidade Local


No dia 29 de janeiro, um domingo, vizinhos, amigos e colegas de trabalho reuniram-se em frente ao local onde Diana Ziegler tinha sido golpeada até a morte com uma espada pelo seu próprio marido, John Ziegler. Uma das emissoras de TV que cobriram essa homenagem foi a WPMT, emissora afiliada da FOX (FOX43), que inclusive realizou uma matéria bem interessante sobre o assunto, e que vocês podem conferir logo abaixo, em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês, mas iremos comentar sobre ela a seguir):



"Quando descobrimos o que aconteceu foi como um sonho ruim, mas você continua acordando e percebendo que não é apenas um sonho ruim. É real", disse Deb Mayer, 62 anos, diretora de enfermagem do Centro de Enfermagem de Dallastown, e colega de trabalho da Diana. Aliás, os próprios colegas mencionaram que na sexta-feira (27), por volta de 2h da tarde, tinha sido agendado um ultrassom, e que Diana estava muito animada, porque seu marido levaria o filho deles na consulta, ou seja, para ver sua irmãzinha, que ela estava esperando.

"Ela era jovem. Ela estava esperando seu segundo filho, que ela iria chamar de Charley. E o seu filho era tudo para ela", continuou. Os moradores da comunidade se reuniram no parque do outro lado da rua para lembrarem de Diana.

"Quando descobrimos o que aconteceu foi como um sonho ruim, mas você continua acordando e percebendo que não é apenas um sonho ruim. É real", disse Deb Mayer, 62 anos, diretora do setor de enfermagem do Centro de Enfermagem de Dallastown
"Ela era uma enfermeira maravilhosa. Ela era uma mãe fabulosa. Ela perderia o sono para cuidar de seu filho. Quando ela deveria estar dormindo ela estava meio que passando um tempo com ele. Ele gravava vídeos curtos e nos mostrava todas as noites", acrescentou.

Amigos disseram que o filho de apenas 2 anos de idade já estava na casa de parentes da Diana. Na vigília, uma de suas amigas, Jessica Nupponen, moradora da cidade de Harrisburg, cantou uma canção que Diana certa vez cantou em um acampamento de música e artes. Porém, nem todos que foram homenagear a vida de Diana a conheciam. Alguns eram apenas vizinhos, que nunca sequer a conheceram.

Na vigília, uma de suas amigas, Jessica Nupponen, moradora da cidade de Harrisburg, cantou uma canção
que Diana certa vez cantou em um acampamento de música e artes
"Se há algo bom que pode sair de uma tragédia como essa, é ouvir as pessoas dizendo que precisamos nos conhecer melhor. Precisamos nos apoiar mutuamente, quero que saibam que tiverem algo que precisem conversar, que vocês podem vir falar comigo. Acredito que se a Diana visse isso, e acredito que irá, é como um pequeno legado que talvez ela tenha deixado para trás", disse Jessica Nupponen.

Os vizinhos disseram que queriam ter encontros como aquele, com mais frequência na comunidade, para dar as pessoas a oportunidade de conhecer uns aos outros e discutir quaisquer problemas que possam ter. Eles querem ajudar a garantir que tragédias como aquela não voltassem a acontecer.

Chrystal Bixler (à direita) discursando durante a vigília em memória de Diana Ziegler

A adolescente Lexey Eckles, 17 anos, moradora de Jackson Heights distribuindo cartões de condolências
para que as pessoas que participaram da vigília pudessem assinar
Quem contou mais detalhes sobre essa vigília foi o site do jornal "York Daily Record", que também esteve no local para registrar imagens e entrevistar as pessoas que compareceram a pequena homenagem, e que talvez rendesse frutos para tentar evitar que algo assim acontecesse novamente.

De acordo com o "York Daily Record", a comunidade de Jackson Heights era considerada uma localidade bem tranquila da pequena Jackson Township, uma espécie de lugar onde era esperado que todo mundo se conhecesse, e onde crianças poderiam ser vistas brincando livremente, todas juntas, no parque local. Um cenário onde ninguém imaginaria que nada pudesse dar errado.

Apesar disso, poucas pessoas na comunidade conheciam Diana Ziegler ou sua família. Isso era algo que um grupo de mais de 50 pessoas, que compareceram a homenagem realizada para ela, sentiam um profundo arrependimento.

De acordo com o York Daily Record, a comunidade de Jackson Heights era considerada uma localidade bem tranquila da pequena Jackson Township, uma espécie de lugar onde era esperado que todo mundo se conhecesse, e onde crianças poderiam ser vistas brincando livremente, todas juntas, no parque local. Um cenário onde ninguém imaginaria que nada pudesse dar errado

Apesar disso, poucas pessoas na comunidade conheciam Diana Ziegler ou sua família. Isso era algo que um grupo de mais de 50 pessoas, que compareceram a homenagem realizada para ela, sentiam um profundo arrependimento

Leeila Inkrote, de apenas 3 anos de idade, segurando uma vela
juntamente com sua mãe, Amanda, na vigília em homanagem a Diana Ziegler
"Gostaria de ter podido conhecê-la. Diana parecia ser uma ótima pessoa", disse Ivy Leach, uma moradora local.

E foi assim, que em um domingo gelado no estado da Pensilvânia, as pessoas permaneceram por cerca de uma hora, em uma vigília para tentar conhecer alguém que infelizmente nunca mais verão. A vigília foi uma oportunidade para os amigos de Diana compartilharem histórias sobre a jovem mãe, e uma oportunidade para a comunidade em luto conhecer mais sobre quem era Diana.

"Nós a amamos e sentimos sua falta. Ela superou muitos obstáculos e não desistiu quando as coisas se tornaram mais difícies", disse Deb Mayer, acrescentando que Diana era uma enfermeira de turno de noite no Centro de Enfermagem de Dallastown, nos últimos dois anos. Ela e outros colegas ficaram sabendo da triste notícia ainda na sexta-feira (27), quando Diana não apareceu para seu turno.

Alguns presentes, tais como ursinhos de pelúcia foram deixados no local onde a vigília foi realizada
em memória da menininha que Diana Ziegler estava esperando

E foi assim, que em um domingo gelado no estado da Pensilvânia, as pessoas permaneceram por cerca de uma hora, em uma vigília para tentar conhecer alguém que infelizmente nunca mais verão
"Sabíamos que algo estava acontecendo. Ela sempre foi pontual. Parece um pesadelo no qual você não consegue acordar", continuou, dizendo que Diana era uma enfermeira muito alegre e tinha uma ótima relação com os pacientes. De acordo com uma outra colega de trabalho, além de ser enfermeira, Diana tentava ganhar uma renda extra ao tricotar cobertores para seus colegas de trabalho e para ela mesma, uma vez que ela sempre estava com frio no trabalho.

"Nas horas livres ela usava o tempo que tinha para cuidar do filho de apenas 2 anos, o J.D., e isso talvez explique o porquê os vizinhos não a conheciam", completou. Entre seus amigos, Diana foi lembrada como uma cantora apaixonada pelos musicais da Broadway.

"Tenho certeza que o J.D ouviu um monte de canções quando estava com sua mamãe", disse Jessica Nipponen, que era diretora de um acampamento de música e artes na cidade de Milroy, no qual Diana compareceu por anos. Jessica estava acompanhada de Sara Behm, moradora de Spring Grove, que participou do acampamento entre 2008 e 2010, juntamente com Diana. Ambas lembraram de sua amiga como uma mulher brincalhona, que era cheia de amor.

Diana era uma enfermeira de turno de noite no Centro de Enfermagem de Dallastown, nos últimos dois anos. Ela e outros colegas ficaram sabendo da triste notícia ainda na sexta-feira (27), quando Diana não apareceu para seu turno.
"Ela adorava as brincadeiras que fazíamos. Ficávamos até as primeiras horas da madrugada contando histórias que não faziam sentido algum", disse Jessica Nipponen.

"Ela nunca teve medo de ser ela mesma", acrescentou Sara Behm.

Acima de tudo, o amor de Diana por seus filhos - J.D. e sua filha, Charley, que logo nasceria - brilhavam como as velas na vigília. Deb Mayer voltou a dizer que o filho era a vida de Diana, e que ela sempre mostrava fotos dele para os colegas de trabalho. Aqueles da comunidade de Jackson Heights, que falaram na vigília expressaram pesar e tristeza, lutaram para não derramar lágrimas e desejaram que pudessem ter feito mais por Diana.

Da esquerda para direita, as moradoras Lexey Eckles, Chrystal Bixler e filha de Chrystal, Gracie, durante a vigília

Acima de tudo, o amor de Diana por seus filhos - J.D. e sua filha, Charley,
que logo nasceria - brilhavam como as velas na vigília
"Se alguém precisar de qualquer coisa, estarei sempre aqui para qualquer pessoa. Lamento que não tenha podido conhecê-la melhor", disse Chrystal Bixler segurando as lágrimas em seus olhos.

Uma das pessoas da multidão que se formou, deixou para os demais uma simples mensagem, que deveria sevir não apenas para Jackson Township, mas para as pessoas do mundo inteiro: "Fale mais. Compartilhe mais. Ame mais."

A Motivação do Assassinato de Diana Ziegler: Marido Diz Acreditar que a Esposa Pertencia a uma "Raça de Seres Humanos Híbridos", que Queriam Controlar o Mundo


Na sexta-feira passada (17), o site do jornal "York Daily Record" publicou uma revelação surreal, que teria sido proferida por John Ziegler III, o homem acusado de assassinar sua esposa grávida de 24 semana com uma espada, em Jackson Township. John teria mencionado acreditar que havia uma conspiração global envolvendo "seres humanos híbridos", e que ele precisava matá-la para salvar o mundo. Sim, isso mesmo que você leu.

Quando a polícia regional do Condado de Northern York interrogou John Ziegler III, ele disse que estava se sentindo "indisposto" e até mesmo "fora de si" nos últimos 3 meses. Ele também expressou uma crença, que ele podia mudar o tempo com suas emoções.

"Ele não conseguiu nos explicar sobre isso", disse o detetive Mark Baker, o principal investigador do caso, acrescentando que Ziegler estava muito chateado e afirmou que sua esposa "não merecia" o que aconteceu. Ele pensou que sua esposa fosse a "abelha rainha", e acreditava que tudo aquilo mudaria - sendo que isso não era uma declaração política - com a eleição do Donald Trump.

O detetive Mark Baker (à esquerda e à frente de terno cinza) é o principal investigador do caso
Após menos de 30 minutos de depoimento, o Juiz Distrital Thomas Reilly ordenou que John Ziegler fosse julgado diante das acusações de homicídio doloso da esposa e do bebê que ela estava esperando. Os promotores chamaram três testemunhas durante a audiência preliminar de Ziegler, incluindo Michael Johnson, especialista em patologia forense que realizou a autópsia. Ele testemunhou que a causa da morte foi devido a "múltiplos traumas por objeto perfurocortante".

Posteriormente, o detetive regional Robert Ryman disse se lembrar de John Ziegler perguntando à polícia se ele "tinha feito a coisa certa". Ele não expressou nenhuma raiva em relação a esposa. Robert disse que John foi muito cooperativo, e agiu de forma absolutamente normal.

Fora da sala do tribunal, o procurador-adjunto Chuck Murphy disse que as provas saíram "como esperado" na audiência. Agora, ele disse que a comunidade começará a se preparar para o julgamento. Já Jay Abom, advogado de defesa de Ziegler, recusou a dar quaisquer entrevistas. Espera-se que Ziegler seja julgado no dia 21 de abril, e continuará preso na Prisão do Condado de York, sem direito a fiança.

A audiência preliminar foi realizada no Centro Judiaciário do Condado de York
Evidentemente, a motivação é tão surreal, que tive que procurar por maiores informações, e para isso encontrei um site de um jornal local chamado "York Dispatch". Tentarei não ser repetitivo e ao mesmo tempo acrescentar mais informações do que foi mencionado pelo "York Daily Record".

Em declaração para o "York Dispatch", o detetive Mark Baker disse que John precisava "destruir a esposa, para salvar o mundo", acrescentando que ele acreditava estar fazendo a coisa certa. Esse site também mencionou, que a filha que Diana estava esperando, se chamaria Charlotte (provavelmente, Charley fosse uma espécie de apelido).

"Ele acreditava que o mundo estava sendo controlado por seres humanos híbridos, e que sua esposa precisava ser morta, porque era a 'abelha rainha' desses híbridos", disse Mark Baker, ressaltando que por diversas vezes John disse que sua esposa não merecia aquilo, embora ele acreditasse, ou pelo menos estava tentando acreditar, que tivesse feito a coisa certa.

Em declaração para o "York Dispatch", o detetive Mark Baker disse que John precisava "destruir a esposa, para salvar o mundo", acrescentando que ele acreditava estar fazendo a coisa certa
Ainda de acordo com o detetive, John acreditava que podia mudar o tempo de acordo com suas emoções. Ele chegou a dizer que observou flocos de neve começando a cair e, em seguida, parou de cair, conforme suas emoções oscilavam.

"O interrogatório dele comigo foi bem confuso", continuou Mark, porém acrescentou que o acusado não teve quaisquer problemas para se lembrar do que ele tinha feito, e foi capaz de responder as perguntas de uma forma coerente.

"Ele acreditava que tudo era uma grande conspiração, e que tudo mudaria com a eleição do Donald Trump", completou. Ele não aparentava ter raiva alguma da Diana, e continuava repetindo "não acredito no que fiz" e "ela não merecia isso". Após a audiência preliminar, o advogado de defesa de John se recusou a dizer se iria alegar alguma doença mental no julgamento que, conforme o "York Daily Record" mencionou, deve ser realizado no fim do mês de abril.

Comentários Finais


Quando acessei as redes sociais de Diana Ziegler, e diante das poucas fotos disponíveis publicamente, tudo o que vi foi uma família feliz. E nisso fiquei pensando: como algo assim simplesmente desmorona da noite para o dia? Talvez essa também seja a sua primeira impressão antes de sugerir, que John estivesse "louco". O caso é tão bárbaro, cruel e chocante, que pode nos fazer esquecer de questionar como era o relacionamento desse casal, que desde janeiro nenhum veículo de imprensa local fez questão de mencionar. Não há nenhuma declaração sobre John, seu relacionamento com Diana e com o filho J.D., e nenhum veículo de imprensa foi atrás para saber onde eles moravam anteriormente. Seria interessante entrevistar antigos vizinhos, puxar o histórico de John, saber o que ele fazia para ganhar dinheiro, assim como suas respectivas amizades. Aliás, não há nenhuma notícia mencionando que tentaram sequer falar com os familiares, nem de Diana ou de John, nem mesmo para dizer que eles não estavam dispostos a dar entrevistas. A polícia local não cita os familiares ou depoimentos de amigas ou colegas de trabalho. Para piorar a situação, apesar da fábula contada por John Ziegler, que achava que podia controlar o tempo conforme se sentia, e que o planeta era controlado por uma raça de seres híbridos, essa mesma polícia alegou que John foi muito cooperativo e agiu de forma "coerente" e "normal" sobre o que aconteceu no dia 27 de janeiro de 2017. O problema é que também não sabemos o que aconteceu nas horas que antecederam a tragédia, visto que não foi divulgado. São dezenas de lacunas, não mencionadas ou terrivelmente investigadas, sendo que a suposta motivação divulgada é basicamente a mais improvável e surreal de acreditar.

Infelizmente, para saber mais sobre Diana, foi necessário recorrer a obituários. Em um deles, que foi publicado no site de notícias "Lancaster Online", começava com a seguinte frase: "Diana Meredith Ziegler, 25 anos, morreu inesperadamente na sexta-feira, 27 de janeiro de 2017. Nascida em Lancaster, na Pensilvânia, ela era filha de Gerald Heilner II e da falecida Karen Heilner." Na época da escola, Diana gostava de participar de atividades musicais, cantar e tocar violoncelo para muitas produções escolares, e era membro de uma congregação protestante chamada Igreja Unida de Cristo. Ela chegou a cantar no coral quando era jovem, gostava muito de crianças e era uma mãe devotada. Diana morava com o marido, John Ziegler, e o filho, o J.D. (mencionado como John Daniel Ziegler IV), sendo que o pai de Diana, o Gerald, é casado com uma nova mulher chamada Lisa, e aparentemente Diana ainda contava com a presença de seus avós. Acredito que você já saibam o que mais me chamou a atenção em toda essa história, não é mesmo? Aquele "inesperadamente". Será que era realmente inesperado? Era realmente um casal feliz e sem problemas graves? Ninguém nunca ouviu ou ficou sabendo de absolutamente nada? Será que todas aquelas pessoas que compareceram a vigília têm realmente a consciência pesada por não terem sido capazes de evitar uma tragédia, porque não se importavam com quem morava a sua volta ou porque ignoravam um possível relacionamento abusivo, ainda que psicologicamente falando, e achavam isso "coisa de casal"? Assim como vocês devem estar tentando entender esse caso, também estou fazendo a mesma coisa.

Outro ponto a se considerar, mesmo sendo improvável, é nos questionar se crescente disseminação dos mais variados tipos de conteúdos absurdos pela internet, a massificação detuparda de teorias conspiratórias grotescas, e sem qualquer tipo de fundamentação ou teor científico, possa ter colaborado para a morte de Diana. Será que o envolvimento e a crença exacerbada em algo totalmente ilusório poderia ter funcionado como um gatilho, e ter sido a gota d'água que faltava para transbordar o copo de uma mente que já estava sendo comprometida ao longo do tempo? Chega a ser tentador querer atribuir uma culpa, porém esse não é um caso que vemos com frequência na mídia. Soa apenas algo pontual e isolado, não a ponta de um iceberg. Se bem que essa não seria a primeira vez que alguém morre de maneira brutal e torpe devido ao que é postado indevidamente na internet. Alguém se lembra daquela mulher que foi espancada até a morte no Guarujá, litoral de São Paulo, em 2014, depois que boatos circularam que ela sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra? Pois é, no começo desse ano, três acusados foram condenados a 40 anos de prisão, e outro a 26 anos de reclusão. Enfim, de qualquer forma só nos resta esperar por 21 de abril, justamente daqui um mês, feriado aqui no Brasil, para ver se maiores detalhes surgem sobre esse caso, que até então vem se mostrando uma incógnita. A única coisa que sei, é que boa parte da população cada vez mais acredita e compartilha assuntos cada vez mais estúpidos e grotescos, oriundos de sites sem um pingo de credibilidade, aceitam cada vez mais "teorias" em que não há uma prova sequer do que é mencionado, e pensam cada vez menos. Parafraseando uma moradora local durante a vigília: "Converse mais pessoalmente. Compartilhe menos idiotice. Abrace Mais. Ame mais." Hoje, a tragédia é em Jackson Township, amanhã pode acontecer em nosso vizinho. E se tem algo mais contagioso que um conteúdo viral, com certeza é o amor.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://abc27.com/2017/01/30/coroner-releases-autopsy-findings-in-sword-death-of-woman-unborn-child/
http://fox43.com/2017/01/27/man-allegedly-kills-his-pregnant-wife-with-a-sword-waits-with-toddler-son-for-police-to-arrive/
http://fox43.com/2017/01/29/community-honors-york-co-woman-reportedly-stabbed-to-death-by-husband/
http://nycrpd.org/?p=11265
http://www.inquisitr.com/3931194/pennsylvania-husband-john-ziegler-iii-allegedly-murders-24-week-pregnant-wife-with-sword/
http://www.pennlive.com/news/2017/01/coroner_releases_name_of_pregn.html
http://www.pennlive.com/news/2017/01/man_charged_with_2_counts_of_h.html
http://www.ydr.com/story/news/2017/01/28/murdered-woman-24-weeks-pregnant/97184392/
http://www.ydr.com/story/news/2017/01/29/joyful-loving-mother-remembered-jackson-township/97198806/
http://www.ydr.com/story/news/crime/2017/01/27/coroner-called-jackson-township-home/97155508/
http://www.ydr.com/story/news/crime/2017/03/17/man-accused-of-murdering-his-pregnant-wife-in-jackson-township-believed-he-needed-to-kill-her-to-save-the-world-police-testify/99162072/
http://www.yorkdispatch.com/story/news/2017/03/17/police-jackson-homicide-wife-pregnant-ziegler/99301154/
http://www.yorkdispatch.com/story/news/local/2017/01/29/neighbors-hold-vigil-slain-jackson-twp-mother/97230252/

Conheça 7 Crenças e Lendas da Cidade de São José: A Quarta Cidade Mais Antiga de Santa Catarina, que Ainda Reserva Seus Mistérios!

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Por Marco Faustino

No ano passado, mais precisamente no dia 3 de junho, publiquei um material sobre as lendas da cidade de São João del-Rei, no Estado de Minas Gerais, assim como de uma cidade vizinha. O motivo foi até mesmo bem curioso. Em meados do mês anterior, enquanto eu procurava por casos interessantes na internet, me deparei com uma matéria do site "Uai Noticia", que basicamente é um site de notícias cuja cobertura se estende pela mesorregião do Campo das Vertentes, no Estado de Minas Gerais. Essa matéria contava sobre as lendas e assombrações que semeavam o medo no interior mineiro, e isso me chamou muita atenção. Apesar de não estar acostumado a fazer postagens relacionadas a lendas, visto que tenho preferência por um conteúdo que tenha mais profundidade, e que seja possível verificar realmente os fatos, achei importante que aquele material pudesse ser mais amplamente divulgado.

Assim sendo, resolvi fazer aquela postagem especial para contar a vocês sobre as lendas enraizadas nas ruas das cidades de São João del-Rei e de São Tiago. Além disso, também apresentamos a vocês um espetáculo chamado "Lendas São Joanenses", que promove um trabalho belíssimo para manter a riqueza cultural "assombrosa" da cidade de São João del Rei viva dentro dos corações dos turistas e dos novos moradores locais, ainda que muitos deles sejam apenas temporários, visto que é uma cidade com grande fluxo de universitários. Vale a pena conferir (leia mais: Conheça as Lendas de São João del-Rei e Região: Os Contos e as Assombrações nas Ruas do Interior de Minas Gerais).

Dessa vez, repetindo o processo de procurar por assuntos interessantes para contar para vocês, uma vez que estamos em uma espécie de entressafra de boas notícias sobre o mundo "paranormal" ou "sobrenatural", encontrei um material bem interessante que foi publicado no site do jornal "Hora de Santa Catarina" pela repórter Caroline Stinghen. Na verdade, esse material é um especial em homenagem ao aniversário de 267 anos da cidade, que foi comemorado no último domingo (19). Então com o objetivo de não deixar esse conteúdo ficar restrito apenas aos moradores locais, resolvi trazê-lo para vocês, através dessa postagem, para que possam conhecer um pouco mais sobre essa cidade de Santa Catarina, assim como suas crenças e lendas. Quem sabe vocês não se identifiquem ou conheçam alguma bem parecida que contam na cidade de vocês? Vamos saber mais sobre esse assunto?

Um Pouco Sobre a Cidade de São José, no Estado de Santa Catarina


São José é município do Estado de Santa Catarina, e faz parte da região metropolitana de Florianópolis, litoral do estado, conurbando-se com a capital catarinense, a uma distância de apenas 6 km. De acordo com a última estimativa realizada pelo IBGE em 2013, São José teria pouco mais de 228 mil habitantes e um índice de desenvolvimento humano (IDH) considerado muito alto (cerca de 0,809). Nos últimos anos, a cidade vem sofrendo uma espécie de "boom" imobiliário sendo considerada, portanto, a nona cidade mais verticalizada do país.

Imagem do Google Maps mostrando a localização da cidade de São José, em relação a capital do estado, Florianópolis

De acordo com a última estimativa realizada pelo IBGE em 2013, São José teria pouco mais de 228 mil habitantes e um índice de desenvolvimento humano (IDH) considerado muito alto (cerca de 0,809)
É interessante mencionar, que antes da chegada dos colonizadores europeus, no século XVI, todo o atual litoral do estado de Santa Catarina era habitado pelos índios carijós. Porém, com a chegada dos colonizadores, toda essa situação evidemente mudou. Além disso, com o passar do tempo, a vantajosa posição geográfica da ilha de Santa Catarina, o excelente porto de Laguna, que era muito frequentado pelos navios que iam da Europa para o rio da Prata e o oceano Pacífico, entre outras razões políticas, fizeram com que D. João V, em 1738, formasse com a ilha e terra continental adjacente, uma capitania ou governo separado, independente da Capitania de São Paulo, a qual havia pertencido até àquela época.

Havia uma grande necessidade de se formar uma nova unidade administrativa para garantir a guarda e posse dessas terras. Assim sendo, foi criada a Capitania de Santa Catarina, em 11 de agosto de 1738, sendo que o governo foi instalado em 7 de março de 1739, com a vinda do brigadeiro José da Silva Pais, como seu primeiro governador. O território compreendia os atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul até a emancipação deste último como capitania do Rio Grande de São Pedrom em 1760. Os interesses portugueses no sul do Brasil aconselhavam a manutenção e o fortalecimento dos povoados litorâneos. Com tal objetivo, Laguna foi elevada em 1774 à categoria de vila, passando a exercer o papel de posto avançado para a conquista do Rio Grande do Sul. Dali partiram expedições que atingiram a colônia do Sacramento e Montevidéu e, de passagem, arrebanhavam gado e aprisionavam indígenas. A cidade de Desterro, que é a atual Florianópolis, apesar de pequena e pacata continuou como sua capital.

A "Carta do Paraguai", basicamente um mapa criado por um cartógrafo francês, em 1771, mostrando o Brasil meridional
Contudo, um eventual natural adicionaria um "tempero" a mais em termos de colonização. As ilhas do arquipélago dos Açores, em Portugal, sofrendo abalos sísmicos terrestres ou submarinos, estimularam a saída de parte de sua população. Aliado a este fator estaria o precário desenvolvimento econômico da região, o desejo de lançar-se ao mar, mas principalmente o excesso populacional que provocava a escassez de alimentos em determinadas épocas. De 1748 até 1756, em sucessivas levas, chegaram cerca de cinco mil açorianos na Capitania de Santa Catarina, sendo que a maior parte permaneceu no litoral. Os novos colonos receberam doações de terras na ilha e no continente.

As ilhas do arquipélago dos Açores, em Portugal, sofrendo abalos sísmicos terrestres ou submarinos, estimularam a saída de parte de sua população. De 1748 até 1756, em sucessivas levas, chegaram cerca de cinco mil açorianos na Capitania de Santa Catarina, sendo que a maior parte permaneceu no litoral
Foi justamente nesse ritmo que, em 1750, cerca de 182 casais açorianos fundaram a chamada São José da Terra Firme, a atual São José. Em 1755, já existia uma pequena capela, sendo que, atualmente no local, se encontra a Igreja Matriz. O título de freguesia chegou seis anos após a fundação do povoado, em 1756. Em 1833, São José passou de freguesia a vila. Finalmente, em 3 de maio de 1856, São José tornou-se, município. Quantas datas e números, não é mesmo?

Foto antiga de uma praça de São José no ano de 1910

Foto daquela mesma praça acima, porém urbanizada, em 1920
O lado curioso de toda essa história reside justamente na data em que é comemorado o aniversário da cidade. Oficialmente, o aniversário de São José é comemorado no dia 19 de março, a mesma data dedicada ao santo homônimo, e conta-se desde 1750. Contudo, a localidade foi colonizada em 26 de outubro de 1750, por 182 casais açorianos, oriundos das Ilhas do Pico, Terceira, São Jorge, Faial, Graciosa e São Miguel. Resumindo? Muitos acreditam que o aniversário deveria ser comemorado no dia 26 de outubro, mas oficialmente não é isso que acontece.

Em termos econômicos, de acordo com site da prefeitura, a base de sustentação josefense está fundamentada no comércio, indústria e atividade de prestação de serviços, mantendo ainda a pesca artesanal, maricultura, produção de cerâmica utilitária e agropecuária como atividades geradoras de renda. A cidade possui mais de 1.200 indústrias, cerca de 6.300 estabelecimentos comerciais, 4.800 empresas prestadoras de serviços e 5.300 autônomos. Vocês podem conferir algumas imagens áreas de São José, através de um vídeo publicado no canal do Tiago Meurer, no YouTube:



A cidade de São José ainda apresenta um enorme potencial turístico, histórico, cultural e arquitetônico, tendo como destaque o complexo histórico-arquitetônico do Centro Histórico com casarios de origem luso-brasileira dos séculos XVIII, XIX e XX, e de construções isoladas associadas a inúmeras belezas naturais-paisagísticas e aos centros gastronômicos. Enfim, se você gosta de história e for visitar Florianópolis, vale a pena conhecer São José!

As Lendas e Crenças da Cidade de São José, no Estado de Santa Catarina


Agora que vocês conhecem um pouco mais sobre a cidade de São José, assim como um pedaço de sua história, chegou o momento de entrarmos na parte "sobrenatural" da nossa postagem. Lembram que a história da colonização de São José da Terra Firme conta que 182 casais açorianos deram início ao processo do que atualmente conhecemos como São José? Pois bem, eles acabaram trazando uma espécie de "bagagem cultural" extremamente rica em crendices populares e lendas. Assim sendo, juntamente aos contos indígenas, começaram a surgir belas histórias, porém outras tantas assustadoras, que foram transmitidas de pais para filhos, e assim por diante, tomando as ruas, rodas de conversas, mesas de bar e posteriormente foi parar nas páginas dos livros.

Enquanto na Ilha de Santa Catarina brotavam histórias de bruxas, lobisomens e até mesmo do boitatá, em São José também foram propagadas lendas, a partir de pessoas muito religiosas, que viam assombrações. Nesse sentido, o historiador e mestre Vilson Francisco de Farias, atualmente morador de São José, fundou e coordenou o Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que tinha como objetivo difundir a cultura açoriana no Estado, frente à força cultural alemã, que até então, liderava as heranças históricas em Santa Catarina.

O historiador e mestre Vilson Francisco de Farias (de camiseta azul na foto), atualmente morador de São José, fundou e coordenou o Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Vilson Francisco pesquisou e ouviu relatos de pessoas desde Garuva, no Norte, a Sombrio, no Sul. Contudo, ele focou suas pesquisas históricas em São José, lançou livros e afirmou: cidade com referência cultural mais forte, não há. Para suas pesquisas, ele escutou moradores e professores de comunidades da cidade, que lhe contaram um pouco mais sobre os costumes e crenças dos antigos moradores. Muitas delas, inclusive, foram vividas por ele mesmo. Interessante, não?

"Temos dois lados importantes em termos de imaginário e memória de São José. A parte da religiosidade, que é a essência da cultura do Litoral de Santa Catarina, e o viés dos mitos", disse Vilson.

A Coberta d'Alma: Uma Estranha, Porém Bonita, Tradição


Essa seria uma das manifestações mais antigas trazidas pelos açorianos. A princípio a coberta d'alma pode até parecer esquisita para quem não acredita na mesma, mas o objetivo final tem um significado bem singelo. De acordo Vilson, em poucos lugares do Brasil a manifestação, extremamente católica, foi e continua sendo praticada.

Vamos explicar para vocês como isso funciona. Na missa de sétimo de dia de um falecido, seus familiares convidavam um amigo próximo, uma pessoa querida, para usar as roupas de quem morreu. Sim, exatamente isso que você leu. Essa pessoa em questão geralmente se sentava no primeiro banco da igreja, juntamente com os familiares de quem havia morrido. A família se despedia do morto através deste amigo.

Entenderam a dinâmica? Para maiores detalhes, confiram também um interessante documentário chamado "A Coberta d’Alma, um Ritual para os Mortos de Osório", em português, justamente sobre essa tradição, que está disponível para ser assistido no YouTube, em duas partes. É interessante observar que esse documentário foi o vencedor do 1º prêmio DOCTV, e foi realizado entre dezembro de 2003 e março de 2004 sendo apresentado, em rede nacional, na faixa DOCTV da TV Cultura no mês de agosto de 2004. Desde a sua realização, o documentário já foi reprisado inúmeras vezes:





Alternativamente, vocês podem conferir uma resenha desse documentário, feita por Cristian LeandroMetz, da Universidade FEEVALE, clicando aqui.

"Havia uma liberação espiritual. O morto seguiria seu caminho encomendado, e a família seguiria a vida dela. O açoriano era um povo extremamente sofrido. Morria-se muito cedo. As famílias tinham que se recompor para sobreviver. Uma mulher não podia ser viúva, e um homem não podia ser viúvo. Havia um ritual de passagem da morte para poder liberar as pessoas para novos compromissos, e esta era a coberta d'alma", disse Vilson.

A princípio a coberta d'alma pode até parecer esquisita para quem não acredita na mesma, mas o objetivo final tem um significado bem singelo. De acordo Vilson, em poucos lugares do Brasil a manifestação, extremamente católica, foi e continua sendo praticada
"É possível que o ritual ainda seja praticado por famílias mais antigas e religiosas de São José, suspeita Vilson, mas é um ato que não é falado ou comentado por aí. É uma crença é discreta, mas fundamental na vida de muitas pessoas", continuou.

"Estes tempos encontrei um conhecido que não via há muito tempo. E ele disse que éramos irmãos. E eu: Opa, como assim? Ele me lembrou que ele foi a coberta d'alma de um irmão que tive, que morreu aos sete anos, muito tempo atrás. O ato cria um laço", completou.

A Sexta-Feira Santa: Dia de Não Fazer Absolutamente Nada?


De acorco com o historiador, a religião católica é o principal laço das antigas manifestações culturais do Litoral de Santa Catarina. O período de quaresma, neste contexto, ganhava extrema importância na vida dos imigrantes açorianos. Segundo Vilson, um dos rituais mais comuns era não comer carne "verde" ou fresca.

Outro ritual que chama a atenção seria o de "não fazer absolutamente nada" na Sexta-Feira Santa. Muita gente dizia que trabalhar neste dia poderia dar azar. Não poderia varrer, plantar, limpar.

Outro ritual que chama a atenção seria o de "não fazer absolutamente nada" na Sexta-Feira Santa. Muita gente dizia que trabalhar neste dia poderia dar azar. Não poderia varrer, plantar, limpar.


"Se cavasse a terra, por exemplo, sairia sangue", disse Vilson. Aliás, seu próprio pai contou para ele um "causo" que teria ocorrido em terras josefenses há muito, muito tempo atrás.

"Ele falou de um cara que não acreditava nisso de não poder fazer nada. E esse homem, na Sexta-Feira Santa, foi para o mato retirar lenha. A madeira que ele queria estava na beira de um peral. Ele acabou cortando o cipó que dava sustentação para ele. O homem ficou pendurado no vazio, desesperado e pedindo a Deus para que ajudasse. Ele conseguiu se resolver, mas daquela data em diante, nunca mais fez nada na Sexta-Feira Santa. Foi interpretado como castigo, disse Vilson.

A Procissão das Almas: O Presente dos Mortos


Essa é uma história que ganhou o imaginário popular do Brasil inteiro. Há relatos da chamada "Procissão das Almas", em Minas Gerais, no Nordeste, e no Norte do país. A cidade de São José também tem a sua versão. "Há histórias muito parecidas, mas cada uma ganha referências conforme suas regiões", disse Vilson.

Conta-se que a temida "Procissão das Almas" ocorria à meia-noite, na madrugada do Dia de Finados. Ela percorria as ruas ao redor do cemitério da região onde hoje fica o Centro Histórico de São José. Como em quase todas as lendas regionais, ver a procissão não era uma coisa muito boa. A razão disso? Bem, ninguém conseguia confirmar quem realmente eram aquelas pessoas que participavam do cortejo, ou seja, nem todas as pessoas que participam poderiam estar realmente vivas. Em histórias relatadas ao redor do país, os participantes usavam túnicas brancas. O problema maior, no entanto, era se alguma dessas pessoas resolvesse falar com você.

Conta-se que a temida "Procissão das Almas" ocorria à meia-noite, na madrugada do Dia de Finados. Ela percorria as ruas ao redor do cemitério da região onde hoje fica o Centro Histórico de São José. Como em quase todas as lendas regionais, ver a procissão não era uma coisa muito boa

"A pessoa que visse a procissão e recebesse um presente, tinha que abrir e ver o que era. Conta-se que em São José uma senhora, que costumava ficar em sua janela, viu a procissão e recebeu um 'presente'. No dia seguinte ela abriu e era um pedaço de osso de uma canela humana. Quando se recebe este 'presente', era um sinal que a pessoa morreria até o ano seguinte e, então, participava de procissão das almas. Quem ouviu, jura que é autêntico", disse Vilson.

Querendo ou não essa história me lembrou uma outra história que contam em São João del-Rei sobre uma senhora chamada Gertrudes, mais conhecida como "Tia Tude". Ela benzia contra o quebranto, ensinava remédios, fazia companhia a enfermos e, não raro, exercia o papel de alcoviteira.

Tita Tude benzia contra o quebranto, ensinava remédios, fazia companhia a enfermos e, não raro, exercia o papel de alcoviteira
Uma noite, como de costume, estava em seu posto de bisbilhoteira, quando alguém, que ela não tinha visto aproximar-se, bateu a sua porta. Tia Tude abaixou-se, deslizou como uma gata para os fundos, sem fazer o mínimo ruído, e de lá voltou pisando forte, para fazer crer que não estava ali atrás da persiana. Tia Tude, generosa como sempre atendeu. Alguém a entregou uma mera tocha. A velha não deixou de ficar intrigada com o caso. O relógio bateu horas e ela, depois de fechar a porta com sua chave, deitou-se.

No dia seguinte, logo cedo, a primeira coisa que fez foi correr os olhos pelo objeto que lhe entregara o desconhecido, e que ela colocara cuidadosamente em um canto da sala. Seu espanto foi tremendo. No lugar de uma tocha, ali estava, ainda sujo de terra fresca, nada menos que o fêmur de um defunto!

No dia seguinte, logo cedo, a primeira coisa que fez foi correr os olhos pelo objeto que lhe entregara o desconhecido, e que ela colocara cuidadosamente em um canto da sala. Seu espanto foi tremendo. No lugar de uma tocha, ali estava, ainda sujo de terra fresca, nada menos que o fêmur de um defunto!
Tia Tude, transida de pavor, viu nisso um aviso celeste. Contam que nunca mais a sua boca se abriu para falar da vida alheia depois disso. As situações são diferentes, mas me chamou a atenção o papel de um "osso" em ambas as histórias.

A Criança Embruxada: Mulheres Consideradas Bruxas Apanhavam de Rabo de Tatu!


O litoral de Santa Catarina está repleto de histórias de bruxas. Elas cavalgavam nos cavalos durante a noite e faziam nós em seus rabos, ou surrupiavam barcos de pescadores durante a madrugada para fazer suas maldades. O perfil era o mesmo: mulheres chamadas de feias, geralmente as que viviam criticando as pessoas, aquelas consideradas invejosas. Porém, magia que mais pegava era contra crianças. Quando um bebê ou criança pequena ficava doente, e ninguém sabia o que era, a comunidade já tratava de dizer que era coisa de bruxa. Assim sendo, as benzedeiras tinham papel fundamental para quebrar o "fado", o nome que se dá ao "encanto bruxólico".

A médium espírita Laurete Nobre da Silva, muito conhecida e chamada erroneamente, segundo ela, é claro, de benzedeira, contou, timidamente, que antigamente algumas famílias a procuravam para tratar de crianças "embruxadas", em São José. Contudo, ela confessou que tudo não passava de um problema de saúde, que era resolvido com suas receitas e também com seu dom de curar.

O litoral de Santa Catarina está repleto de histórias de bruxas. Elas cavalgavam nos cavalos durante a noite e faziam nós em seus rabos, ou surrupiavam barcos de pescadores durante a madrugada para fazer suas maldades
"A gente sabe que muitas crianças ficavam doentes por causa da higiene, e isso era atribuído à bruxaria", explicou Vilson.

Na época, existia o chamado "mal de sete dias", que acometia os recém-nascidos. Acreditava-se que alguma bruxa, travestida de comadre ou amiga da família, teria visitado a criança para embruxá-la. Para descobrir quem era a bruxa, as famílias josefenses viravam uma vassoura de cabeça para baixo, e colocavam atrás da porta. Curiosamente, essa também é uma antiga superstição para afastar visitas indesejáveis.

"A mulher que começasse a se sentir muito desconfortável, quase desesperada com a vassoura de cabeça para baixo, e tivesse que sair correndo da casa, era a bruxa", disse Vilson.

"A mulher que começasse a se sentir muito desconfortável, quase desesperada com a vassoura de cabeça para baixo, e tivesse que sair correndo da casa, era a bruxa", disse Vilson.


Um pesquisador da cultura açoriana chamado Franklin Cascaes, falecido em 1983, relatou em seus contos que, quando bruxas eram descobertas na região, elas apanhavam de rabo de tatu para aprender a não fazerem mais maldades com crianças. Tenso, não é mesmo? 

Quando se quebrava o "fado", as famílias também costumavam pagar promessas depois que as crianças melhoravam de saúde. Uma das mais populares era reunir ao redor de uma mesa sete inocentes, ou seja, sete crianças puras e sem maldade, para comerem doces muito saborosos.

"Eram sete crianças, como menos de sete anos, ao redor de uma mesa de doces. Eu participei inclusive", contou Vilson.

Um pesquisador da cultura açoriana chamado Franklin Cascaes (à esquerda), falecido em 1983, relatou em seus contos que, quando bruxas eram descobertas na região, elas apanhavam de rabo de tatu para aprender a não fazerem mais maldades com crianças
As lendas também contam sobre dois tipos de bruxas: a terráquea, bruxa por opção própria, e a espiritual – predestinada, devido ao fato de ser a primeira ou a sétima filha de um casal sem varões. De acordo com a tradição, para se evitar essa maldição, a irmã mais velha deve batizar a mais nova.

Aliás assista também a esse interessante vídeo publicado pelo "Hora de Santa Catarina", que mostra Vilson contando um pouco sobre essas histórias, tais como a coberta d'alma, relatos fantasiosos que as mulheres contavam para explicar a razão de estarem grávidas, além de bruxas e lobisomens. Vale muito a pena assistir, acreditem!



Por falar em lobisomem, será que existe um que ronda o bairro Potecas, em São José?

O Lobisomem do Bairro Potecas: Será que Ele Ainda Existe?


Uma das histórias mais comentadas sobre lobisomem por moradores antigos da cidade de São José, e que foi relatada no livro "São José: 250 anos", do próprio Vilson Farias, é de um "causo" que foi ouvido pelas bandas de Potecas:
"Um rapaz foi atacado pelo lobisomem. O rapaz cortou o lobisomem com um canivete, quebrando o encanto. O homem (lobisomem) foi descoberto e fingiu felicidade por se livrar do feitiço. Agradeceu o rapaz e disse que o esperasse, que iria buscar um agrado para compensá-lo. O rapaz desconfiou, tirou a capa e o chapéu que estava usando, colocando-os num pau fincado no meio da estrada. O ex-lobisomem voltou com uma espingarda e atirou na capa, imaginando ser o rapaz (que observava escondido na mata). O rapaz fugiu e contou aos amigos quem era o lobisomem, que acabou indo embora"
Marilene Silva Domingues, 73 anos, filha da "benzedeira" Laurete, também ouviu histórias sobre o lobo amaldiçoado. Ela e a mãe nunca viram o bicho, mas garantem que hoje em dia não existe mais essas coisas, embora há quem acredita na existência do lobisomem.

Uma das histórias mais comentadas sobre lobisomem por moradores antigos da cidade de São José, e que foi relatada no livro "São José: 250 anos", do próprio Vilson Farias, é de um "causo" que foi ouvido pelas bandas de Potecas


"Um pescador da região disse que quando ia pescar, tinha um cachorrão perto da Ponte Debaixo. Ele disse que ia pegar e dar uma surra no lobisomem, para ver quem era. Foi lá e deu uma paulada no bicho. No outro dia, apareceu um homem que estava machucado, e descobriram quem era o lobisomem. Porém, não posso falar quem era", disse a aposentada.

O Fantasma do Engenho: Um Causo AssombrosO


A cidade São José, assim como outras cidades de Santa Catarina, possuía uma quantidade grande de engenhos de farinha, principalmente espalhados no interior da cidade, em bairros como Potecas, Forquilhas, e Serraria.

Atualmente, além do engenho que está exposto no Museu Histórico de São José, os historiadores não têm conhecimento de nenhuma outra estrutura dessas, que ainda exista na cidade. De qualquer forma, um dos engenhos localizados no bairro Forquilhinhas foi palco de uma outra história de assombração ouvida por Vilson, e relatada em seu livro:
"Foi visto um vulto saindo do engenho com uma vela acesa na mão, o mesmo vulto largou-a no chão e sumiu."
Atualmente, além do engenho que está exposto no Museu Histórico de São José (na foto), os historiadores não têm conhecimento de nenhuma outra estrutura dessas, que ainda exista na cidade
O historiador destacou, que apesar de história de fantasma no engenho, o espaço era conhecido por ter muitas histórias felizes.

"Homens e mulheres trabalhavam no espaço durante o período da farinhada. Através das cantorias do engenho, surgiram muitos namoricos. Muitos se conheceram ali e até casaram-se", disse o historiador.

A Casa de Câmara e Cadeia: Um Fantasma Ainda Assombra o Local?


Outro lugar repleto de mistério é a "Casa de Câmara e Cadeia", que hoje se encontra revitalizada e abriga a Casa da Cultura de São José. No período colonial, era justamente nesse local onde eram tomadas as decisões, e no seu subterrâneo, ficavam as celas. O casa fica no Centro Histórico da cidade, e foi construída em 1859. Obviamente, em local com mais de 150 anos há muita história para se contar.

Outro lugar repleto de mistério é a "Casa de Câmara e Cadeia", que hoje se encontra revitalizada e abriga a Casa da Cultura de São José. No período colonial, era justamente nesse local onde eram tomadas as decisões, e no seu subterrâneo, ficavam as celas
O relato a seguir é do historiador Osni Machado, mais conhecido na cidade como "Seu Nini". Da Praça Hercílio Luz, ele apontou a janelinha onde era a cela dos presos e lembrou de um fato descrito no livro "Sinfonia Poética e Prosa", da Academia São José de Letras:
"O caso de mais notoriedade foi o que se deu em 10 de agosto de 1921. Estava cumprindo pena em uma das celas, a primeira ao lado esquerdo, o famoso condenado Domingos Brocato. Fora protagonista, em Lages, no ano de 1902, de um crime, talvez o mais famoso de Santa Catarina. (...) Brocato assassinou Ernesto Canozzi e Olinto Pinto Centeno, duas pessoas muito conhecidas e queridas na sociedade lageana. Esse acontecimento ficou conhecido como 'A Tragédia do Caveiras'. Após ser preso, veio cumprir pena na penitenciária estadual em Florianópolis. Posteriormente foi transferido para a cadeia de São José, onde desentendeu-se com outro prisioneiro, conhecido por João Ruivo, sendo que esse o matou a pauladas enquanto dormia."
O historiador complementou e disse que Ruivo teria arrancado um dos pés da cama para matar Brocato. A história, além de curiosa, dá calafrios em muita gente. Também há quem garanta que a alma da vítima continua presente no lugar.

Enfim, AssombradOs, essas foram as sete crenças e lendas que são contadas na cidade de São José, a quarta cidade mais antiga de Santa Catarina, e que ainda reserva seus mistérios. Como recomendação, caso queiram saber mais detalhes sobre a cidade e sua respectiva história, recomendamos os seguintes livros: "São José: 250 anos" (do autor Vilson Farias), "Sinfonia Poética e Prosa" (de autoria da Academia de Letras de São José), "São José da Terra Firme" (do autor Gilberto Gerlach) e o "Fantástico na Ilha de Santa Catarina" (do autor Franklin Cascaes). Por fim, gostaríamos de agradecer a todos vocês que leram até o fim, e especialmente a Betina Humeres e Caroline Stinghen, por divulgarem um material tão interessante quanto esse.

Até a próxima, AssombradOs!

Criação/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2017/03/especial-de-aniversario-sao-jose-uma-cidade-de-lendas-e-crencas-9750867.html
http://nea.ufsc.br/
http://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/viewFile/57442/34497
http://www.saojose.sc.gov.br
https://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_de_Santa_Catarina
https://pt.wikipedia.org/wiki/São_José_(Santa_Catarina)
https://www.canalicara.com/cotidiano/alem-da-lenda-a-coberta-dalma-8356.html

OVNIs Estão Sendo Avistados em Manaus e Aterrorizando Parte da População

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Assombrados, estamos recebendo diversos e-mails de pessoas dizendo que desde o dia 15 de março de 2017 diversas pessoas estão avistando sobre a cidade de Manaus-AM diversos OVNIs. Eles nas imagens gravadas aparentam ser brancos e são vários, chegando inclusive 3 serem registrados de uma vez. Esses OVNIs podem ser vistos durante o dia e até a noite.

O leitor Carlos Eduardo nos enviou 3 fotos tiradas por eles dos supostos OVNIS tiradas no dia 15 de Março de 2017. Ele disse "Já vi balões meteorológicos passando por aqui e eles se movimentam muito por causa do vento. Esses objetos ficam fixos no céu como estrelas e o mais estranho é que ao invés de acompanharem o movimento de rotação da Terra indo para oeste, eles se movimentavam para leste e ainda se aproximavam, coisa que estrelas não tem como fazer em 40 minutos. "





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Muitos vídeos foram postados em redes sociais como Facebook, o que torna muito difícil rastrearmos. O site Portal do Holanda publicou algumas filmagens postadas no Youtube em sua página. Selecionei o vídeo abaixo que da metade para frente, dá um zoom onde podemos ver o OVNI.

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No dia 23/03/2017 o canal Sertanejo Diogo publicou outro vídeo. O Interessante é notas que todas as fotos e vídeos mostram provavelmente o mesmo objeto, pois são muito parecidos.


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O usuário Filipe Aquino comentou em um vídeo sobre os OVNIs de Manaus que eram balões, e ele inclusive monitorou através do site FlightRadar24 postando uma imagem.

Imagem postada por Filipe Aquino


Então fui checar o site do FlighRadar24 e existem alguns balões na região de Manaus, balões identificados como sendo do Google! O interessante é que como os balões ficam na estratosfera, eles mudam constantemente sua posição. Clicando sobre os balões é possível rastrear a rota que fizeram. Esta imagem eu tirei do site no dia 24/03/2017 as 11 horas da manhã.



Então algumas pessoas começaram a dar uma explicação. Balões do Google! Sim, o Google tem programa que visa levar internet a lugares remotos através de balões chamado Projeto Loon. Esse projeto é um projeto de pesquisa e desenvolvimento que está sendo desenvolvido pelo Google com a missão de fornecer acesso à Internet para áreas rurais e remotas. O projeto usa balões de alta altitude colocados na estratosfera, a uma altitude de cerca de 20 km para criar uma rede sem fio com velocidade semelhante a de 3G das redes de telefonia móvel. Por causa dos objetivos da missão aparentemente bizarros do projeto, o Google apelidou de "Projeto Loon", como um trocadilho loon de baloon.

Os balões são manobrados ajustando a sua altitude para flutuar em uma camada de vento depois de identificar a camada de vento com a velocidade e direção desejada usando dados de ventos da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Os usuários do serviço se conectam à rede de balões usando uma antena especial de Internet ligada à sua residencia. Veja o vídeo do projeto.



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Portanto assombrados, muito provavelmente todos os OVNIs que estão sendo vistos sobre Manaus são na verdade balões do Google do Projeto Loon.

Grande Abraço!

Os Mistérios e Maldições do Hotel Yara: Um Gigante em Estado de Abandono e com Fama de Mal-Assombrado, em Bandeirantes/PR!

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Por Marco Faustino

Se você gosta do chamado mundo "paranormal" ou "sobrenatural", provavelmente você tem na ponta da língua o nome de algum hotel com fama de mal-assombrado, não é mesmo? Geralmente, estamos acostumados a divulgar casos internacionais envolvendo hotéis considerados assombrados e, inclusive, relatos de hóspedes dizendo que viram fantasmas vagando pelos corredores. Em janeiro desse ano, por exemplo, chegamos a comentar sobre o Grand Midway Hotel, que por sua vez fica localizado em uma espécie de cidadezinha chamada Windber, no condado de Somerset, e a cerca de 13 km ao sul da cidade de Johnstown, no estado norte-americano da Pensilvânia. Os proprietários garantem que esse hotel é mal-assombrado, sendo que o fantasma mais famoso seria de uma jovem chamada Martha Cerwinsky, que foi morta em 4 de julho de 1911 enquanto assistia a queima de fogos em comemoração ao dia da Independência dos Estados Unidos, em uma varanda do hotel. Supostamente, um rojão teria sido disparado de forma errada, e acabou atingindo o seu pescoço. Martha acabou não resistindo e teria morrido no local. Aparentemente, o Corpo de Bombeiros da cidade havia abafado o caso naquela época com medo de ser responsabilizado pela morte de Martha em razão da falta de fiscalização em relação aos fogos de artifício. De qualquer forma, alguns moradores locais dizem ainda era possível ver sua imagem em uma das janelas do segundo andar, e que sua presença ainda podia ser sentida no hotel (leia mais: A Maior Tábua Ouija do Mundo! Proprietário de Hotel Considerado "Mal-Assombrado" Recebe Certificação do Livro dos Recordes!).

Provavelmente, vocês também devem conhecer algum prédio ou casa abandonada e considerada mal-assombrada na sua cidade, mas saberiam dizer o nome de algum hotel abandonado, nem que fosse no seu próprio Estado, e com fama de mal-assombrado? Essa é uma pergunta é bem complicada de ser respondida, visto que não é comum termos empreendimentos desse porte, que basicamente pertencem a iniciativa privada, parados por muito tempo. Normalmente, os empresários rapidamente arrumam um novo destino para a propriedade, visto que ninguém gosta de perder dinheiro, ainda mais no Brasil. Assim sendo, recentemente me deparei com uma interessante matéria realizada pelo "Estúdio C", que é um programa de entretenimento da RPC, emissora de TV afiliada da Rede Globo, no Paraná, sobre o Hotel Yara (também conhecido por Termas Yara). Apesar de possuir proprietários, esse hotel se encontra em estado de abandono há décadas, e seus planos de revitalização infelizmente nunca saíram do papel devido a imbróglios judiciais.

Construído na década de 1950, esse hotel era um símbolo de riqueza e prosperidade do norte do Paraná, mas que no decorrer do tempo uma sucessão de tragédias envolvendo a morte de diversos proprietários, acabaram selando seu destino e o mesmo foi abandonado. No entanto, o que mas chama a atenção é que antigos hópedes e ex-funcionários desse hotel contam que o mesmo era mal-assombrado. Era possível escutar o som de passos no corredor quando não havia ninguém, janelas e portas batiam mesmo sem nenhuma corrente de vento, pessoas eram empurradas nos corredores, viam vultos e torneiras de banheiros abriam sozinhas durante a noite. Além disso, começaram a surgir rumores que o primeiro proprietário do hotel, um homem chamado Domingos Regalmuto, teria feito uma espécie de "pacto com o Diabo" para que o empreendimento prosperasse e, após algum tempo o Diabo teria voltado para cobrir a dívida, despedaçando seu corpo e levando embora a sua alma. Será que isso é mesmo verdade? Será que esse hotel era e continua sendo mal-assombrado? Vamos saber mais sobre esse assunto?

Um Pouco Sobre a Cidade de Bandeirantes, no Estado do Paraná


Bandeirantes é um município brasileiro, que pertence ao estado do Paraná, na região Sul do Brasil, que segundo dados do IBGE, tem uma estimativa populacional atual de pouco mais de 32.500 habitantes. Na prática, a cidade fica a aproximadamente 410 km de distância a noroeste da capital do estado, Curitiba (aproximadamente 5h30 de carro). A base da economia no município é o cultivo de uva fina de mesa, pimentão, pepino, cana-de-açúcar e, principalmente, soja e milho.

Imagem do Google Maps mostando a distância entre a cidade de Bandeirantes e Curitiba, a capital do Paraná
Visão aérea de uma parte da cidade de Bandeirantes, no Paraná
Até 1920, o território atualmente ocupado pelo município era habitado pelos índios caingangues. A partir de então, foram criadas fazendas na região. Em 1929, foi criado o distrito de Invernada, pertencente ao município de Jacarezinho. No mês de julho do ano seguinte, a Empresa Ferroviária São Paulo-Paraná inaugurou uma estação ferroviária a três quilômetros do patrimônio de Invernada, estação ess que passou a denominar-se Bandeirantes, devido aos pioneiros da localidade, surgindo, então, um povoado nas proximidades.

Em 27 de setembro de 1931, deu-se início a um trabalho de coligação em favor do progresso da estação. Um ano depois, no final de 1932, os dois povoados (Invernada e Bandeirantes) foram unificados. O município foi criado através da Lei Estadual nº 2.396, de 14 de novembro de 1934, data essa considerada como o aniversário da cidade.

Santuário Santa Terezinha do Menino Jesus, na cidade de Bandeirantes, no Paraná
Como curiosidade, no município de Bandeirantes, foi inaugurado em 2012, o terceiro maior santuário de São Miguel Arcanjo no mundo, com a maior estátua do planeta dedicada ao anjo São Miguel. Anualmente também acontece uma festa típica de regiões interioranas, a conhecida e amplamente comentada "Festa do Milho Verde".

Como curiosidade, no município de Bandeirantes, foi inaugurado em 2012, o terceiro maior santuário de São Miguel Arcanjo no mundo, com a maior estátua do planeta dedicada ao anjo São Miguel
Foto mostrando mais detalhes da estátua do anjo São Miguel
Caso queiram conhecer mais detalhes sobre a cidade, recomendo fortemente que leiam um informativo (em formato .PDF) disponibilizado no próprio site da prefeitura de Bandeirantes, que possui um material bem completo nesse sentido (clique aqui para baixá-lo).

A Localização e um Resumo Sobre a História do Hotel Yara: Um Gigante em Estado de Abandono e com Fama de Mal-Assombrado, em Bandeirantes, no Paraná!


Conhecido popularmente como Hotel Yara, o empreendimento está localizado a cerca de 10 a 11 km do centro da cidade de Bandeirantes, na zona rural do município, mais precisamente no km 10 da Rodovia PR-519, mais conhecida como Rodovia Tsuneto Matsubara. Construído na década de 1950, o local na verdade era um complexo de lazer que abrigava um luxuoso e grande hotel, com capacidade para 200 hóspedes, uma piscina de água termal, um cassino, e até mesmo uma pista de pouso para aeronaves de pequeno porte.

O hotel possui uma arquitetura imponente, porém vem sofrendo com a ação do tempo, sendo que até mesmo um incêndio, que até hoje não se sabe se foi criminoso ou não, ocorreu em 2011, em um dos prédios desse complexo. De qualquer forma, para contar um pouco mais sobre a história do Hotel Yara, também é necessário voltar um pouco mais no tempo.

Imagem do Google Maps mostrando a distância entre a cidade de Bandeirantes e o Hotel Yara
Imagem de Satélite do Google Maps mostrando o o complexo pertencente ao Hotel Yara
Tudo começou na década de 1930, quando um homem chamado Domingos Regalmuto, italiano naturalizado brasileiro, ficou rico com serrarias em São Paulo. Com um olhar empresarial apurado, Domingos visitou a região em busca de madeira de lei, gostou do que viu, e acabou comprando cerca de 500 alqueires (aproximadamente 1.200 hectares ou 12.000.000 m²) de terras.

Tudo começou na década de 1930, quando um homem chamado Domingos Regalmuto (na foto), italiano naturalizado brasileiro, ficou rico com serrarias em São Paulo
Foto de uma das serrarias de Domingos Regalmuto
Certo dia, andando pela fazenda, Domingos encontrou uma área alagada, uma espécie de brejo com água limpa e que exalava um aroma diferente. Evidentemente, desconfiado, ele coletou uma amostra no dia 23 de julho de 1942 para análise no Laboratório Geral do Departamento de Saúde do Estado do Paraná . Mesmo sem saber do que se tratava, essa seria uma decisão que mudaria a vida dele e da própria cidade de Bandeirantes. Assim sendo, o laboratório confirmou que se tratava de água mineral e com propriedades medicinais e terapêuticas.

Certo dia, andando pela fazenda, Domingos encontrou uma área alagada, uma espécie de brejo com água limpa e que exalava um aroma diferente. Evidentemente, desconfiado, ele coletou uma amostra no dia 23 de julho de 1942 para análise no Laboratório Geral do Departamento de Saúde do Estado do Paraná
Mesmo sem saber do que se tratava, essa seria uma decisão que mudaria a vida dele e da própria cidade de Bandeirantes. Assim sendo, o laboratório confirmou que se tratava de água mineral e com propriedades medicinais e terapêuticas
Domingos Regalmuto não perdeu tempo e mandou construir um poço de mais de 100 metros de profundidade, de onde começou a jorrar água pura e naturalmente aquecida a cerca 32ºC. Posteriormente, ele abriu uma empresa para engarrafar a água, que foi batizada de "Água Mineral Yara - A Deusa das Águas", com o seguinte slogan: "Beba Água Yara, Beba Saúde". Boa parte da produção, no entanto, era destinada ao Estado de São Paulo.

Domingos Regalmuto não perdeu tempo e mandou construir um poço de mais de 100 metros de profundidade, de onde começou a jorrar água pura e naturalmente aquecida a cerca 32ºC
Posteriormente, Domingos abriu uma empresa para engarrafar a água, que foi batizada de "Água Mineral Yara - A Deusa das Águas", com o seguinte slogan: "Beba Água Yara, Beba Saúde"
Boa parte da produção, no entanto, era destinada ao Estado de São Paulo
Entusiasmado com o local, Domingos Regalmuto contratou uma empresa para dar andamento a dois projetos na fazenda. Primeiramente, ele dividiu parte do terreno em lotes, com o simples objetivo de criar uma verdadeira cidade, a "Cidade Yara". Quem quisesse e tivesse dinheiro, é claro, poderia adquirir lotes e desenvolver o local.

Entusiasmado com o local, Domingos Regalmuto contratou uma empresa para dar andamento a dois projetos na fazenda. Primeiramente, ele dividiu parte do terreno em lotes, com o simples objetivo de criar uma verdadeira cidade, a "Cidade Yara"
Até mesmo uma igreja foi construída, e foi completamente integrada à população local. A Capela São Domingos, que foi inaugurada em 1º de setembro de 1954, data registrada em concreto, no alto de sua torre. Contudo, esse projeto de cidade acabou não tendo o resultado esperado.

Você pode conferir mais detalhes sobre a Capela São Domingos ao assistir um vídeo publicado pelo usuário Luiz Henrique Jacobucci, em sua conta no YouTube, que mostra algumas imagens da mesma:



Já o segundo, que era construir um complexo de águas termais, foi um sucesso. Domingos Regalmuto conseguiu criar um grande hotel, que conforme dissemos anteriormente, tinha capacidade para 200 hóspedes, com quartos confortáveis, e uma imensa piscina de água morna e mineral, que vinha diretamente da fonte.

No meses mais quentes do ano, o hotel ficava completamente lotado, e pessoas de todas as partes do país se dirigiam até Bandeirantes para se hospedar e passar ao menos um fim de semana, na jóia rara localizada no norte do Paraná.

Já o segundo projeto, que era construir um complexo de águas termais, foi um sucesso. Domingos Regalmuto conseguiu criar um grande hotel, que conforme dissemos anteriormente, tinha capacidade para 200 hóspedes, com quartos confortáveis...
... e uma imensa piscina de água morna e mineral, que vinha diretamente da fonte
Jogadores de futebol e cantores famosos chegavam a se hospedar no Hotel Yara. Os menos abastados, no entanto, acampavam ou dormiam nos carros para poder usufruir dos poderes das águas e da lama do lago próximo à piscina, à qual muitos também atribuíam o poder de curar doenças.

Os menos abastados, no entanto, acampavam ou dormiam nos carros para poder usufruir dos poderes das águas e da lama do lago próximo à piscina, à qual muitos também atribuíam o poder de curar doenças
Para atender a todos da forma mais luxuosa possível, o hotel mantinha salões muito bem decorados e adornados, um belo restaurante e, inclusive, um cassino onde pessoas com melhor condição financeira acabaram perdendo e ganhando muito dinheiro, verdadeiras fortunas, nas mesas de pôker. Curiosamente, muitas apostas não valiam exatamente dinheiro, mas bois, uma forte moeda de troca e de alto valor naquela época.

Em um fim de semana, algumas pessoas chegavam a perder 100 a 150 bois, o que era uma quantia bem razoável naqueles tempos. No campo de pouso construído por Domingos Regalmuto dentro da propriedade, desciam os aviões da Real Aerovias, os Douglas DC-3, que faziam a rota "São Paulo-Maringá".

No meses mais quentes do ano, o hotel ficava completamente lotado, e pessoas de todas as partes do país se dirigiam até Bandeirantes para se hospedar e passar ao menos um fim de semana, na jóia rara localizada no norte do Paraná
No campo de pouso construído por Domingos Regalmuto dentro da propriedade, desciam os aviões da Real Aerovias, os Douglas DC-3, que faziam a rota "São Paulo-Maringá"
Os anos de glória do hotel, no entanto, foram interrompidos devido a um problema de saúde de Domingos Regalmuto. Com mais de 80 anos de idade, ele sofreu uma trombose e infelizmente precisou amputar as duas pernas. Isso foi algo aterrorizador e que afetou consideravelmente o cotidiano de um homem de negócios e de uma vida muito agitada. Visivelmente deprimido, Domingos acabou cometendo suicídio.

Antiga foto de turistas norte-americanos que passaram pelo Hotel Yara
Mais uma foto desses mesmos turistas norte-americanos
O único herdeiro, Paulo Regalmuto, não conseguiu manter o empreedimento com a mesma energia e tino comercial de Domingos, apesar de haver divergências nesse sentido. De qualquer forma, Paulo morreu em um acidente de carro, cerca de dois anos depois da morte do pai, em uma estrada rumo a São Paulo, na altura da cidade de Cambará, quando bateu com o carro de frente com um caminhão que vinha em sentido contrário.

Paulo Regalmuto (à direita) juntamente com sua esposa (à esquerda). Paulo morreu em um acidente de carro, cerca de dois anos depois da morte do pai, em uma estrada rumo a São Paulo, na altura da cidade de Cambará, quando bateu com o carro de frente com um caminhão que vinha em sentido contrário
No início da década de 1970, a mãe de Paulo, a Sra. Katerine Erdely, herdou tudo, mas vendeu o lugar para um grande comerciante do ramo imobiliário chamado Paschoal D'Andrea. Ele regularizou os cerca de 660 lotes que formavam a "Cidade Yara" e os vendeu, porém pouquíssimos proprietários tomaram posse e, aos poucos, a área acabou adquirindo características de lotes rurais.

Foto antiga mostrando a piscina de água termal do Hotel Yara
Antiga visão da piscina do Hotel Yara, a partir da varanda do segundo andar do mesmo
Quando começou o trabalho para se levar asfalto até o "Hotel Yara", ou seja, para finalmente tornar a PR-519 uma realidade, ele adoeceu e acabou morrendo. Os filhos de D'Andrea permutaram a área com a família Matsubara por uma outra fazenda na cidade de Cornélio Procópio. Começava o declínio e o abandono do Yara.

Em meados da década de 1980, o movimento começou a cair até o ponto que o mesmo foi obrigado a fechar as suas portas. Sem público e muito menos investimento, o hotel foi abandonado, e acabou virando ruína, uma espécie de monumento perdido em meio ao nada. Aparentemente, a piscina é a única que verdadeiramente resistiu a ação do tempo, que ainda é alimentada pelo chafariz original.

A Notícia da Reabertura da Piscina do Hotel Yara, que Foi Publicada Pelo Jornal "A Folha de Londrina", em 2001


Em 15 de novembro de 2001, em uma matéria especial escrita por Marcos André Brito, e publicada pelo jornal "A Folha de Londrina", foi ressaltado que se dependesse do empresário Sueo Matsubara, todo o complexo Yara estaria como antes, aguardando as definições que poderiam transformar o local em um ponto de turístico, de referência internacional. A pedido de amigos, o grupo Matsubara, teria decidido recuperar a piscina e parte do lago existente no local. A ideia era atrair milhares de pessoas de toda a região naquele verão para desfrutar das maravilhas que o local tinha para oferecer.

O empresário teria afirmado naquela época, que não estava disposto a vender o Hotel Yara, porque pretendia implantar um complexo turístico, que teria participação e capital estrangeiro. De acordo com o empresário Sueo Matsubara, os contratos estavam sendo encaminhados através de representantes do grupo em São Paulo e no exterior. Disposto a não comentar totalmente o projeto que pretendia desenvolver na propriedade, Matsubara tinha adiantado que tudo seria divulgado no momento certo, para não criar expectativas negativas ou frustação na população.

Foto mais atual da piscina do Hotel Yara. Sueo Matsubara afirmou em 2001, que não estava disposto a vender o Hotel Yara, porque pretendia implantar um complexo turístico, que teria participação e capital estrangeiro
Disposto a não comentar totalmente o projeto que pretendia desenvolver na propriedade, Matsubara tinha adiantado que tudo seria divulgado no momento certo, para não criar expectativas negativas ou frustação na população
''Hoje, qualquer investimento requer um profundo estudo de viabilidade e principalmente de capital'', disse naquela época, Sueo Matsubara. Depois de conversar com a família, ele autorizou a recuperação da piscina, dos banheiros, das instalações do bar e da lanchonete, e parte do lago localizado ao lado da piscina, permitindo a prática de alguns esportes náuticos e pesca. Os banhistas que pretendessem desfrutar das piscinas pagariam cerca de R$ 3,00 (mulheres) e cerca de R$ 5,00 (homens).

Também teria sido melhorada toda a área localizada às margens da piscina e churrasqueiras, sendo que o mato também tinha sido aparado. Já o Hotel Yara, que foi um dos mais modernos do interior do País nos anos 50, 60 e 70, continuava sendo destruído pela ação do tempo. Todo o aspecto caótico do hotel acabou chamando a atenção dos visitantes que, nos primeiros dias de abertura da piscina, lotaram o local. O empresário Pedro Agra, morador da cidade de Bandeirantes, e que na época possuía uma estância particular próxima da Yara, classificou o estado de abandono como lamentável.

Todo o aspecto caótico do hotel acabou chamando a atenção dos visitantes que,
nos primeiros dias de abertura da piscina, lotaram o local
O empresário Pedro Agra, morador da cidade de Bandeirantes, e que na época possuía uma estância particular próxima da Yara, classificou o estado de abandono como lamentável
''Isso aqui é um patrimônio histórico que está se deteriorando, para a nossa tristeza e de toda a população de Bandeirantes. Existem poucos locais como este em todo o mundo. A água aqui encontrada é rara, e tem uma importante composição química que permite a cura de inúmeras doenças e enfermidades da pele'', disse Pedro Agra.

Outro empresário que também lamentou a situação foi Celso Silva. Ele defendeu ações mais concretas para reverter o quadro e transformar o local numa estância moderna e que possibilitasse o acesso de turistas brasileiros e estrangeiros. Segundo o empresário, a responsabilidade não podia ser apenas atribuída à família Matsubara, mas de todos os segmentos organizados da sociedade de Bandeirantes.

Desde a década de 1980, o o Hotel Yara permanece em estado de abandono,
principalmente devido a imbróglios judiciais
Em 2001, um empresário chamado Celso Silva disse que a responsabilidade não podia ser apenas atribuída à família Matsubara, mas de todos os segmentos organizados da sociedade de Bandeirantes.
''É necessário criar uma consciência comunitária de que aquela estância é importante, não só para o desenvolvimento de Bandeirantes e da região, como também de uma opção importante no turismo saúde, hoje muito propagado em todo o mundo e no lazer de nossa população'', disse Celso Silva. Ele também destacou a composição da água, que diariamente jorra a partir do centro da piscina, e segue para rios da região, como uma das mais importantes e completas do mundo.

''Só há uma estância que pode ser comparada à Yara em todo o planeta e ela está a milhares de quilômetros daqui, em Kalsbad, na República Tcheca, na Europa. Será que apenas este referencial não é suficiente para despertar a atenção, não só a família Matsubara, mas como também as autoridades estaduais e federais?'', completou.

A Venda do Hotel Yara, no ano de 2002, para o Casal Rafaela e Cláudio Delgado: A Briga Judicial, a Invasão do MAST e de Caçadores, e o Uso da Piscina para Criar Peixes


Aparentemente, a ideia de implantar um complexo turístico, que teria participação e capital estrangeiro por parte de Sueo Matsubara não prosperou, e boa parte da propriedade (48 dos 98 alqueires) teria sido vendida para o casal Rafaela e Cláudio Delgado no ano de 2002. Porém, isso acabou ganhando destaque apenas em março em 2010, quando o jornal "A Folha de Londrina" publicou uma grande matéria em seu site a respeito de um imbróglio jurídico que estava impedindo o casal de regularizar a escritura e colocar em prática o plano de transformar a fazenda em um complexo empreendimento turístico.

A história de Cláudio Delgado, narrada por ele mesmo, despertava interesse. Filho de um boia-fria, ele relatou que ajudou o pai a catar algodão nas fazendas de Sueo Matsubara, ainda menino. Aos 18 anos, partiu para São Paulo levando na bagagem apenas o que havia aprendido no extinto Movimento Brasileiro de Alfebetização (Mobral). Já na capital paulista, arranjou vaga como contínuo de um empresário que deu-lhe estudo. Virou corretor da Bolsa de Valores de São Paulo, investiu bem e, desfazendo-se de sua carteira de ações da Ambev, pagou R$ 1,8 milhão na parte da Fazenda Yara que abriga o lago, a fonte de água termal, o hotel e a capela.

Aparentemente, a ideia de implantar um complexo turístico, que teria participação e capital estrangeiro por parte de Sueo Matsubara não prosperou, e boa parte da propriedade (48 dos 98 alqueires) teria sido vendida para o casal Rafaela e Cláudio Delgado no ano de 2002
A história de Cláudio Delgado, narrada por ele mesmo, despertava interesse. Filho de um boia-fria, ele relatou que ajudou o pai a catar algodão nas fazendas de Sueo Matsubara, ainda menino
''Cresci em Bandeirantes, vendo aquele tesouro todo que é o Yara. É uma sensação estranha. Sonhei com aquele diamante e hoje ele é meu. Porém, quero lapidá-lo e não posso. Hoje, cuido das ações de um grupo alemão que tem R$ 35 milhões para investir no projeto de restauração e transformação em complexo turístico. Já tenho, inclusive, o plano diretor pronto. Só falta a questão jurídica'', lamentou naquela época, o ex-catador de algodão.

Entretanto, na cidade de Bandeirantes, havia quem não acreditasse que Cláudio Delgado tivesse prosperado tanto quanto ele afirmava. Os fatos, por outro lado, mostravam que ele e a esposa não estavam de brincadeira. Para planejar o futuro do empreendimento, eles teriam contratado um casal de arquitetos suíços radicados no interior de São Paulo, e para resolver a parte jurídica, um advogado associado de um dos mais tradicionais escritórios de advocacia de Londrina.

Para planejar o futuro do empreendimento, eles teriam contratado um casal de arquitetos suíços radicados no interior de São Paulo, e para resolver a parte jurídica, um advogado associado de um dos mais tradicionais escritórios de advocacia de Londrina
''O meu cliente não é um 'laranja', como já chegaram a dizer. Ele tinha condições financeiras sim para comprar a área. Temos inclusive o comprovante de que o dinheiro saiu da Bolsa de Valores de São Paulo'', disse, na época, o advogado Frederico Vidotti de Rezende. O advogado explicou que Cláudio Delgado fez a compra dos 48 alqueires por meio de um instrumento particular, um ''contrato de gaveta'', direto com Sueo Matsubara.

''O Cláudio fez tudo certo, dentro da lei. Mas quando ele comprou já havia uma pendência jurídica em cima da propriedade, por isso, ele não a registrou. A fazenda toda, com seus 98 alqueires, teria sido arrematada no final da década de 1980 pelo Banestado, por conta de dívidas dos proprietários da época. Então, o senhor Serafim Meneghel teria comprado a dívida em créditos da família Matsubara e conseguiu fazer um acordo com o banco, ficando com parte das terras. Houve um embargo de arrematação por parte da defesa da família Matsubara, que ainda não foi julgado por causa do sumiço de uma carta precatória que foi enviada para a Justiça de Bandeirantes. Ninguém sabe onde esse documento foi parar'', continuou o advogado. Com isso 36 alqueires da fazenda, pelo menos naquela época, ainda pertenciam a Meneghel.

Foto mostrando o estado das paredes e o aspecto geral de uma das partes internas do Hotel Yara
Foto mostrando o estado do piso, de madeira, que vem cedendo ao longo do tempo
Naquele meio tempo começaram a aparecer os processos trabalhistas de ex-funcionários de Matsubara. A Justiça do Trabalho mandou as terras da Yara para leilão, mas excluiu os 48 alqueires de Cláudio Delgado do pregão. No dia 12 de março de 2010, os 50 alqueires restantes foram leiloados e arrematados por Rafaela, a esposa de Cláudio, por cerca R$ 700 mil.

Entretanto, Sueo Matsubara recorreu e cancelou o arremate. Antes disso, o casal já havia recorrido aos serviços de advocacia de Rezende, em um embate com a Mitra Diocesana de Jacarezinho, que queria ficar com a capela São Domingos, e para se livrar da invasão de membros do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (MAST), que chegaram a agredir o casal, e a retirar objetos da sede da fazenda. Doze pessoas foram presas acusados de roubo. Quanta confusão!

Foto mostrando detalhes do teto de um dos trechos do Hotel Yara
O advogado disse que não pensava em litígio contra Matsubara e Meneghel, que por sua vez estariam sendo corretos. Ele aguardava apenas que a tal carta precatória aparecesse ou houvesse "boa vontade" por parte de ambos. Enquanto isso, o casal passou usar piscina de água termal com poderes medicinais para criar tilápias. Sim, exatamente isso que você leu.

''Elas engordam muito mais rápido por causa da temperatura. Ah! e não esqueça de escrever que sofremos com os caçadores, que entram aqui atrás de capivaras e pássaros'', disse Rafaela Delgado.

A Entrevista Realizada com Sueo Matsubara, Divulgada pela "Folha de Londrina", em 2010


Na terceira parte da matéria publicada pelo site da "Folha de Londrina", em 28 março de 2010, constava uma interessante, porém curta entrevista, realizada com Sueo Matsubara. O texto começou dizendo que a família Matsubara era "emblemática" no Norte do Paraná. A partir do patriarca Takeo, o clã fez fortuna na lavoura.

Posteriormente, os ''japoneses'' profissionalizaram um time de futebol de uma das fazendas, e chegaram até mesmo a disputar a primeira divisão do futebol paranaense. Sueo, um dos filhos de Takeo, presidia a equipe e sempre esteve à frente da maioria dos negócios da família. Ousado, em 1995 chegou a contratar o jogador Neto, ex-jogador do Corinthians, para jogar no seu time, que trocara Cambará (Norte Pioneiro) por Londrina.

Sueo Matsubara, filho de Takeo Matsubara, uma família "emblemática" no Norte do Paraná
Entretanto, o maior investimento da família Matsubara sempre foi em terras. Chegaram a ter uma dúzia de fazendas no Paraná, e milhares de hectares no Sul do Estado do Pará. Em uma matéria publicada na revista ''Veja'', em 1995, Sueo teria declarado que uma dívida de R$ 2,2 milhões junto ao Banco do Brasil, algo que representava apenas 20% do patrimônio da família. Assim sendo, a "Fazenda Yara" foi apenas um dos bens administrados por Sueo. Simpático e de bom humor, ele concedeu uma entrevista, por telefone, para a Folha de Londrina naquela época. Por estar fora do escritório, ele disse que não tinha muitos dados, mas confirmou o imbróglio jurídico. Confira a entrevista, logo abaixo:

P1: Por que o Yara chegou a essa situação?
R1: Quando eu comprei, já estava funcionando de forma muito precária. Era preciso muito dinheiro para reformar tudo. Depois eu fiz uma venda para o Serafim Meneghel e ele assumiu o negócio com o Banestado, pagando a dívida. Depois eu o paguei, e ele me devolveu uma parte da Yara. Mais terde vendi para o Cláudio.

P2: O que o senhor sabe sobre a carta precatória, que teria sumido?
R2: Não sei nada dessa história.

P3: Por que o senhor vendeu a Yara?
R3: Nunca gostei de terra. Meu pai e meus irmãos é que gostavam mais. Eu gosto é do comércio, de negociar. Terra não é comigo. Hoje, além do time, que atualmente só tem juniores e juvenis, tenho um loteamento em Bandeirantes e vou mexendo com outras coisinhas. Já estou com 70 anos. Tô bem de saúde, mas não adianta morrer de trabalhar. Tenho que aproveitar o restinho da vida. A água lá da Yara é muito boa, mas precisa de um investimento grande, do contrário, não compensa.

P4: O senhor já foi chamado de ''Rei do Algodão''. Parou de plantar?
R4: Deus me livre! Não quero mais saber de lavoura.

O Documentário Sobre os Mistérios do Hotel Yara Realizado Por Estudantes da UNOPAR: Domingos Regalmuto Teria Feito um Pacto com o Demônio?


Em 30 de outubro de 2013, foi publicado no YouTube, um documentário realizado por estudantes do 4º ano de Artes Visuais da UNOPAR (Universidade Norte do Paraná) sobre os mistérios do Hotel Yara. Aliás, esse mesmo documentário possui uma página no Facebook, que inclusive conta com o "Making Of", e maiores detalhes sobre o mesmo. Você pode conferí-lo, logo abaixo:



Boa parte do documentário, pelo menos a parte inicial, é destinado a contar uma parte da história do Hotel Yara. Contudo, a situação começa a ficar mais interessante por volta de 5:20 de vídeo, quando é mencionado uma espécie de lenda ou "rumor local" que, para alcançar a fama que o hotel alcançou, Domingos Regalmuto teria feito um "pacto com um demônio", vendendo sua alma em troca de atrair milhares de turistas.

Ainda de acordo com essa lenda, quando o hotel atingiu ao seu auge, esse demônio teria vindo para cobrar a dívida e levar a alma de Domingos para o Inferno. Então, Domingos teria recusado e implorado por sua vida. Por sua vez, o demônio teria feito uma última proposta, que Domingos teria que correr até a piscina sob certas condições, e que o pacto seria esquecido. Porém em um gesto de crueldade, enquanto Domingos corria, o demônio teria começado a arrancar partes de seu corpo: primeiramente as pernas, depois os braços e a cabeça, que teria rolado até a beira da piscina. De qualquer forma, oficialmente não é bem isso que se conta, visto que Domingos teria sofrido uma trombose, que lhe custou as duas pernas e posteriormente, em depressão, cometido suicídio.

A situação começa a ficar mais interessante por volta de 5:20 de vídeo, quando é mencionado uma espécie de lenda ou "rumor local" que, para alcançar a fama que o hotel alcançou, Domingos teria feito um "pacto com um demônio", vendendo sua alma em troca de atrair milhares de turistas.
O documentário também menciona que moradores locais contam relatos estranhos sobre o local. Alguns dizem ver uma noiva de branco, em frente a igreja (a Capela São Domingos), caminhando lentamente até a porta, em direção ao altar. Muitos contam que seria uma noiva que foi assassinada na região, na década de 1950, e sua alma continua presa no lugar. Outras pessoas dizem ouvir passos, janelas e portas batendo do nada e vozes que, aparentemente, viriam de todas as partes, além da sensação de alguém sempre estar vigiando quem visita o lugar.

Alguns dizem ver uma noiva de branco, em frente a igreja (a Capela São Domingos), caminhando lentamente até a porta, em direção ao altar. Muitos contam que seria uma noiva que foi assassinada na região, na década de 1950, e sua alma continua presa no lugar
De qualquer forma, isso são apenas rumores ou lendas locais, e o documentário não apresenta quaisquer provas ou imagens que possam corroborar com que é mencionado em vídeo. Já a partir de 6:40, é mencionado sobre a chamada "hora morta", sendo que o grupo de estudantes resolveu entrar no Hotel Yara, supostamente às 3h da manhã, para investigar e ver se o local era realmente assombrado ou não. Apesar dos esforços e das boas imagens, nada foi detectado diante de câmeras convencionais.

Na parte final do vídeo é exibida uma série de fotografias e reportagens antigas de jornais sobre o Hotel Yara, além de um vídeo mostrando um incêndio que aconteceu em 23 de janeiro de 2011, que teria destruído boa parte do hotel. Vocês podem conferir esse vídeo, que foi publicado em um canal de terceiros, no YouTube logo abaixo:



Apesar de ser especulativo e abordar lendas e rumores locais, esse documentário foi bem feito, e com certeza é um material válido de ser assistido por quem tiver interesse pelo Hotel Yara.

A Reportagem Realizada pelo Programa "Meu Paraná", e os Fantasmas que Aterrorizavam os Antigos Hóspedes


Em 22 de fevereiro de 2014, o programa "Meu Paraná", que vai ao ar aos sábados, sempre ao meio-dia, pela RPC, e apresentado por Ana Carolina Oleksy, apresentou uma interessante matéria sobre o Hotel Yara que, ao menos naquela época, continuava nas mãos de Cláudio Delgado. Confira as duas partes dessa interessante reportagem, em um canal de terceiros, no YouTube. A primeira basicamente retrata a história que vocês já leram anteriormente:



Já a segunda parte apresenta os relatos de fantasmas do Hotel Yara. Porém, iremos comentar sobre isso daqui a pouco, além dos planos que Cláudio Delgado tinha para o local:



Vale ressaltar nesse ponto, que o "Meu Paraná" apresenta o estado para os próprios moradores da região. São apresentadas reportagens especiais que mostram as belezas naturais do Paraná e recantos ainda pouco explorados pela indústria do turismo. É um espaço que fala das manifestações culturais mais autênticas da região, do legado deixado pelos diversos povos que formaram o mosaico de culturas que caracteriza o estado do Paraná e também da História, resgatando episódios e destacando personalidades que marcaram a construção da sociedade paranaense.

A segunda metade da segunda parte da reportagem sobre o Hotel Yara é basicamente reservado ao Cláudio Delgado, a quem a matéria citava como "homem que se apresentava como atual proprietário do hotel", e que tinha planos para revitalizar o lugar. Ele planejava construir um hotel menor e mais charmoso, com SPA, academia, um espaço dedicado a venda de artesanato local e até mesmo um mini zoológico.

Cláudio Delgado, a quem a matéria citava como "homem que se apresentava como atual proprietário do hotel",
tinha planos para revitalizar o lugar
Ele planejava construir um hotel menor e mais charmoso, com SPA, academia, um espaço dedicado
a venda de artesanato local e até mesmo um mini zoológico
Enquanto isso não acontecia, o hotel atraía a atenção de curiosos, e suas dependências e arredores tinham virado cenário para filmes, fotos de casamento e catálogos de moda.

Enquanto isso não acontecia, o hotel atraía a atenção de curiosos, e suas dependências e arredores tinham virado cenário para filmes, fotos de casamento e catálogos de moda
Também é mencionado que a família de Cláudio, ao menos no passado distante, era grande e a renda não dava para sustentar a todos. Ele levava uma marmita na mochila, mesmo que quase sempre estivesse vazia, devido a vergonha que sentia perante os amigos. Muitas vezes um alimento catado na própria lavoura era a única refeição após um dia inteiro de trabalho pesado. Teriam sido anos de sofrimento, até que posteriormente o Claúdio, com a ajuda de amigos, teria conseguido estudar. Ele teria feito um curso técnico de corretor, e conseguido emprego na Bolsa de Valores de São Paulo.

"Era fácil ganhar dinheiro, todo papel que você comprava tinha boa liquidez. E nessa liquidez você ia acumulando, e geralmente quem mexe com ações nunca tem dinheiro no bolso, você tem em ações. Eu fui juntando e vendi", disse Cláudio. Ao visitar a terra natal, teria surgido a ideia de comprar o Hotel Yara.

Também é mencionado que a família de Cláudio, ao menos no passado distante, era grande e a renda não dava para sustentar a todos. Ele levava uma marmita na mochila, mesmo que quase sempre estivesse vazia, devido a vergonha que sentia perante os amigos
"Era fácil ganhar dinheiro, todo papel que você comprava tinha boa liquidez. E nessa liquidez você ia acumulando, e geralmente quem mexe com ações nunca tem dinheiro no bolso, você tem em ações. Eu fui juntando e vendi", disse Cláudio. Ao visitar a terra natal, teria surgido a ideia de comprar o Hotel Yara
"Você pegar e comprar a Yara é o mesmo que bater o pênalti da Copa, é como você acertar a bola, é como você ir a Lua. Ela é a joia da coroa de Bandeirantes", completou.

A primeira metade da segunda parte, no entanto, tratou do aspecto "sobrenatural" do Hotel Yara. Inicialmente, foi mencionado que muitos hóspedes e ex-funcionários juravam ter visto ou escutado coisas estranhas nas dependências do hotel, tais como passos nos corredores e portas rangendo. Nesse sentido, apareceu a Dona Regina, uma ex-camareira do hotel, que contou uma história de arrepiar sobre pedras que surgiam do nada e eram arremessadas contra as paredes do hotel, assim como contra as pessoas.

Ela disse que as pedras teriam atingido o dono da época em que trabalhou e hóspedes, porém ninguém sabia de onde vinham e não perceberam a presença de ninguém, até mesmo porque a noite estava bem iluminada devido ao luar.

Dona Regina, uma ex-camareira do hotel, que contou uma história de arrepiar sobre pedras que surgiam do nada e eram arremessadas contra as paredes do hotel, assim como contra as pessoas
Já um homem chamado Nivaldo, que foi garçom do Hotel Yara disse que cansou de socorrer pessoas de olhos arregalados devido a "barulhos sinistros", principalmente de madrugada. Simpático e sorridente, Nivaldo disse que explicava aos hóspedes que era apenas uma janela que batia ou uma porta, mas que não havia nada demais no local.

Nivaldo, que foi garçom do Hotel Yara disse que cansou de socorrer pessoas de olhos arregalados devido a "barulhos sinistros", principalmente de madrugada
Aliás, isso não assustava Rafaela, esposa do Cláudio Delgado, que não estava preocupada com fantasmas de outro mundo, visto que seu maior fantasma era o da incerteza. Devido a problemas judiciais não era possível colocar em prática o projeto que ela e o marido estavam imaginando desde que compraram, ao menos boa parte da fazenda Yara, em 2002. Agora, será que depois de tanto tempo, temos alguma novidade sobre esse hotel? É o que vocês vão descobrir a seguir.

A Recente Reportagem Realizada Pelo Programa "Estúdio C" da RPC, e a Atual Situação do Hotel Yara


Eis que chegamos na parte final dessa postagem para comentarmos a respeito de uma reportagem que foi realizada pelo programa "Estúdio C", apresentado por Daiane Fardin, que foi ao ar no sábado passado (18), pela RPC, que conforme vocês já sabem, é afiliada da Rede Globo, no Paraná. Vocês podem conferir o primeiro bloco do programa, que foi publicado em um canal de terceiros, no Daily Motion (fiquem tranquilos que iremos detalhar os principais pontos a seguir):



A reportagem começa efetivamente aos 2:27 de vídeo, visto que antes disso temos apenas uma espécie de teaser sobre a mesma e a chamada para alguns outros assuntos do programa. No começo da matéria é mostrado o depoimento de alguns moradores locais, que dizem que o local é mal-assombrado, sendo que algumas pessoas teriam visto vultos e até mesmo que o fantasma de um homem teria aparecido em uma foto.

Logo em seguida, inicia-se a conversa com o Walter de Oliveira, que foi muito amigo do primeiro proprietário do Hotel Yara, o Sr. Domingos Regalmuto, e que morou cerca de 7 anos no hotel, na época que o mesmo funcionava a todo vapor. Ele lembrou que em feriados prolongados vinha gente de diversas partes do país, de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, além do próprio Estado do Paraná. O Hotel Yara era uma opção única na região, ou seja, em um raio de 100 km, não havia nada melhor do que ele.

Walter lembrou que em feriados prolongados vinha gente de diversas partes do país, de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, do próprio Estado do Paraná. O Hotel Yara era uma opção única na região.
Walter lembrou que o local também era muito procurado por homens que costumavam levar suas amantes. Aliás, Paulo Regalmuto, filho de Domingos, teria sido fruto de um relacionamento extraconjugal com uma húngara (a Sra. Katerine Erdely). Nas imagens, também é possível notar o estado de abandono do hotel, principalmente em relação ao piso, o teto e as paredes nitidamente vandalizadas.

Novamente apareceu o Nivaldo, que conforme já sabemos, tinha sido garçom do hotel. A novidade é que foi informado que ele trabalhou para o terceiro proprietário do hotel, e seu pai tinha sido administrador do primeiro dono. Nivaldo lembrou dos velhos tempos e disse ter saudades da época de ouro do Hotel Yara.

Novamente apareceu o Nivaldo, que conforme já sabemos tinha sido garçom do hotel. A novidade é que foi informado que ele trabalhou para o terceiro proprietário do hotel, e seu pai tinha sido administrador do primeiro dono
Então, por volta de 11:20 de vídeo, Walter de Oliveira é questionado sobre uma certa maldição relacionada ao Hotel Yara, e foi perguntado se ele achava que os primeiros donos teriam sido amaldiçoados. Walter explicou que após o Domingos Regalmuto ter amputado as duas pernas, havia a perspectiva de ter que amputar também os dois braços, e que por isso ele teria posto um fim em sua própria vida. Já seu filho, o Paulo, morreu de forma prematura em um acidente de carro quando tinha menos de 24 anos. Curiosamente, o terceiro proprietário, Paschoal D'Andrea, também acabou morrendo, vítima de câncer.

Então, por volta de 11:20 de vídeo, Walter de Oliveira é questionado sobre uma certa maldição relacionada ao Hotel Yara, e foi perguntado se ele achava que os primeiros donos teriam sido amaldiçoados
Assim sendo, devido a sucessão de três mortes consecutivas de proprietários, foi alimentada uma antiga crença que havia sido feito um "pacto com o Diabo", porém isso não passaria de folclore local.

Na parte final da postagem, é mostrado o casal Rafaela e Cláudio Delgado. Rafaela disse que no começo as pessoas perguntavam sobre os estranhos eventos que aconteciam no local, e que ela não acreditava, até achava engraçado. Porém, depois de um tempo, ela disse que coisas estranhas começaram acontecer, assim como vozes que chamavam o seu nome, mas quando ela se dirigia até a frente do hotel, não havia ninguém.

Já Cláudio disse que mesmo sem nenhum tipo de vento, as portas ficavam batendo (inclusive isso chegou a acontecer enquanto ocorria a gravação). Ele acreditava que havia algo no local, que não dava para explicar. Pouco tempo depois podemos notar novamente a Dona Regina, ao lado de uma amiga, que também trabalhava na lavanderia do hotel, na década de 1960.

Dona Regina disse os mais antigos contavam que uma bolinha de pingue-pongue, na época da Quaresma, simplesmente se movia sozinha pela mesa do salão de jogos, como se duas pessoas estivessem jogando, mesmo sem a presença física de ninguém. Aliás, ela também teria presenciado esse estranho fenômeno. De qualquer forma, sua amiga disse ficava um pouco cismada, visto que nunca teria visto nada.

Dona Regina (à direita) disse os mais antigos contavam que a bolinha de pingue-pongue, na época da Quaresma, simplesmente se movia sozinha pela mesa do salão de jogos, como se duas pessoas estivessem jogando, mesmo sem a presença de ninguém
Na reportagem também aparece uma outra senhora, que teria trabalhado como faxineira do Hotel Yara. Essa outra senhora contou que, certa vez, uma hóspede mencionou que a torneira do banheiro do quarto onde a mesma estava hospedada, abriu sozinha durante a noite, e a mesma ficou desesperada.

Na reportagem aparece uma outra senhora, que teria trabalhado como faxineira do Hotel Yara. Essa outra senhora contou que certa vez uma hóspede mencionou que a torneira do banheiro do quarto onde a mesma estava hospedada, teria aberto sozinha durante a noite
Na reportagem exibida pelo programa "Estúdio C" também é contada bem resumidamente a história de vida de Cláudio Delgado, que permanece juntamente com a esposa como proprietário do Hotel Yara desde 2002, ou seja, há 15 anos, e que ele teria comprado, o que ele chamou apenas de "Yara", por cerca de US$ 1 milhão da família Matsubara. Em seguida, próximo de terminar, aparecem novas imagens do projeto de revitalização do local, e que dessa vez contaria com uma cervejaria artesanal e auditórios, porém não foi informado quando isso sairá do papel.

De qualquer forma, diante do vimos, será mesmo que podemos dizer que o hotel é mal-assombrado? Será que algum dia o Hotel Yara voltará a ser como era antes? Isso tudo é assunto para os meus comentários finais.

Comentários Finais


Coincidentemente, essa foi a minha segunda postagem consecutiva envolvendo algum caso relacionado a região Sul do Brasil, visto que a anterior tinha sido sobre as crenças e lendas da cidade de São José, em Santa Catarina. A outra coincidência, no entanto, é um pouco mais estranha. Pouco tempo depois que acessei o site da "Folha de Londrina", as páginas relacionadas especificamente ao Hotel Yara, que usei como base para compor uma parte dessa postagem, simplesmente foram apagadas, e até esse momento, na manhã de sábado (25), nenhuma tinha voltado ao ar. Isso não interferiu em meu trabalho, mas é algo bem inusitado e que raramente vejo acontecer. Aparentemente, cheguei a tempo de evitar que essa parte da história sobre o Hotel Yara fosse estranhamente retirada do ar. Será que realmente existe uma maldição e que afetaria até mesmo o que é publicado na internet sobre o hotel? Será que essa postagem também sairá do ar, assim como também já aconteceu com uma outra que eu havia publicado no passado? Bem, estranhezas a parte, é muito complicado tentar induzir as pessoas que Domingos Regalmuto tenha feito um "pacto com um demônio" diante de tanta história de trabalho duro, pesado e árduo para construir tudo aquilo que vemos em ruínas hoje em dia. Tudo indica que Domingos tenha erguido uma joia rara no Norte do Paraná devido aos seus próprios esforços, não do sobrenatural. Ao sofrer um problema de saúde, e precisar amputar suas pernas, o peso de toda uma vida caiu em seus ombros, e o mesmo decidiu não investir mais em si mesmo, uma vez que a perspectiva era a pior possível.

Tragicamente, seu filho Paulo morreu em um acidente enquanto dirigia em direção a São Paulo, e o terceiro proprietário efetivo do local, acabou morrendo de câncer. Porém, aqui mora um detalhe interessante. Após a morte de Paschoal D'Andrea, o local teve pelo menos mais quatro donos. Um homem chamado Serafim Meneghel, Sueo Matsubara e o casal Rafaela e Cláudio Delgado, isso sem considerar as mãos temporárias pelas quais a propriedade passou. Até onde pude pesquisar há mais de 15 anos, desde que tiveram alguma relação com a propriedade, todos eles continuam bem vivos. Aliás, aparentemente, Rafaela e Cláudio Delgado moram, desde 2002, em algum local da propriedade que adquiriram. Resumindo, fica claro que a sequência de mortes tenha sido apenas fatalidade. Outra coisa que chama a atenção é o comportamento das pessoas em apontar essa lenda. Será que ninguém que tivesse dinheiro e se dedicasse firmemente ao trabalho não poderia fazer o que Domingos proporcionou? Será que um ex-boia-fria não pode mudar de vida, comprar as ruínas de um hotel que via apenas de longe, e ter planos para revitalizar o lugar? Se você procurar no Google irá encontrar diversos exemplos que isso é plenamente possível e não precisa de demônio algum para isso. Quanto aos relatos de fantasmas, isso é subjetivo, uma vez que as pessoas contam o que acreditam que viram, o que outras pessoas mencionaram e assim por diante. O mesmo vale para portas e janelas batendo, visto que seria necessária uma análise mais aprofundada e técnica sobre o assunto. De qualquer forma, com certeza, mesmo em ruínas, é um local extremamente interessante, que exala história e que sem dúvida alguma eu gostaria de conhecer pessoalmente.

Agora, será que algum dia o Hotel Yara irá reviver seus dias de glória? Bem, isso só o tempo nos dirá. É difícil estimar uma data, porque essa história vem se arrastando há 15 anos, e ninguém chega a um acordo sobre o que fazer com o lugar, e nem mesmo sobre a exploração consciente da fonte. Aliás, um dos maiores pecados é saber que uma água, que já considerada praticamente milagrosa e de propriedade terapêutica, tenha sido desperdiçada na criação de peixes, sendo que boa parte acaba escoando para os rios locais, e sequer pode ser aproveitada em benefício da população local. Um bem tão precioso quanto a água, o ouro branco que se tornou turvo, diante de um gigante em estado de abandono e a mercê da boa vontade dos homens. Existe tanto em jogo, tantas possibilidades interessantes, tantos empregos a serem gerados e novas oportunidades para a pequena cidade de Bandeirantes, mas aparentemente ninguém chega a um acordo. E assim, o gigante e a Yara, a deusa das águas esperam pacientemente para voltar a seduzir os homens e arrebatá-los, especialmente em uma noite de luar.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://gshow.globo.com/RPC/Estudio-C/noticia/2017/03/estudio-c-desvendou-os-misterios-do-hotel-yara-reveja-o-programa.html
http://redeglobo.globo.com/rpctv/meuparana/noticia/2014/02/meu-parana-falou-sobre-o-passado-e-o-futuro-do-hotel-yara.html
http://sabordahistoriacafe.blogspot.com.br/2014/02/hotel-yara.html
http://www.folhadelondrina.com.br/cadernos-especiais/agua-medicinal-para-criar-tilapias-710414.html
http://www.folhadelondrina.com.br/norte-pioneiro/piscina-das-termas-yara-e-reaberta-369305.html
http://www.lugaresesquecidos.com.br/2015/05/hotel-thermas-yara.html
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1360741
https://www.facebook.com/FazendaYara/
https://www.facebook.com/omisteriodohotelyara/
https://www.flickr.com/photos/jpcorreacarvalho/sets/72157615950396832

A Teoria da Terra Plana

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Será que a Terra é plana? Essa estranha teoria vem crescendo com o tempo e ganhando força. Neste especial vamos conhecer em detalhes a teoria, as provas, os argumentos, experiências para você fazer e decidir depois se faz sentido mesmo dizer que a Terra é Plana...

Hoje vamos falar de uma teoria que tem ganhado diversos adeptos ao longo dos anos, a Teoria da Terra Plana, que prega que nosso planeta tem o formato plano, de uma pizza, com um grande domo sobre nossas cabeças e o gelo do continente Antártico nas bordas contendo a água. Para provar essa teoria, diversos "provas" são apresentadas.
O Modelo Atual

Como a ciência ensina para as crianças na escola como funciona o nosso mundo?

Ela diz que nosso planetinha Terra é só mais um pontinho no vasto Universo, e que giramos ao redor do Sol e em torno de nós mesmo, numa dança cósmica. Somo uma esfera um pouco achatada no pólos, inclinada em 23º com um diâmetro de 12.742 km e uma circunferência máxima de 40 mil quilômetros. Também temos uma companheira, a Lua, que gira ao nosso redor e entre outras coisas, causa as marés no Oceano. Aprendemos que o Sol é uma imensa bola de energia, distante 150 milhões de quilômetros da Terra e que seu tamanho é imenso, tão grande que caberiam 1 milhão e 300 mil planetas Terra dentro dele!

Só que nem sempre foi assim, durante muito, muito tempo, aproximadamente 1.500 anos, nós nos achávamos o centro do Universo e que tudo girava ao nosso redor. Não é um pesamento errado, afinal temos a claro impressão ao olhar para o céu que o Sol, a lua e tudo gira ao nosso redor. Esse é o modelo defendido pelo grego Aristóteles que foi modelado por Ptolomeu chamado de Geocentrismo. Também existia o pensamento de algumas pessoas na época de que a Terra era plana, afinal, não para onde olharmos no horizonte vamos ver uma linha reta. Não era o pensamento padrão, já que desde a antiguidade Eratóstenes, no Egito 200 anos antes de Cristo, havia mostrado que a Terra era redonda e calculado sua circunferência com presição incrível para a época.

Apesar de ser um modelo muito bom, algumas coisas não se encaixavam no geocentrismo. E  foi Nicolau Copérnico (1473-1543), que desenvolveu um modelo matemático sobre o sistema heliocêntrico. O seu modelo dizia que a Terra girava ao redor do Sol assim como todos os demais planetas. Só que tinha um erro. Ele dizia que as órbitas eram circunferências. Mais tarde, Johannes Kepler reestruturou o trabalho de Copérnico e comprovou que as órbitas dos planetas são elípticas. Depois veio Galileu Galilei com seu telescópio e confirmou tudo, enfurecendo a Igreja, que o julgou e o condenou a prisão para sempre. Mas já era tarde, o modelo do Heliocentrismo, com tudo girando ao redor do Sol ficou e assim começamos a cada vez mais ficar insignificantes perante o Universo. Nesse modelo o Sol é o centro do Universo, mas com o tempo, formos descobrindo que existiam outras estrelas, galáxias e que o Universo é muito, muito grande e cheio de mundo.

Só que agora, a Teoria da Terra Plana voltou e diversas páginas na internet e canais no Youtube estão propagando a teoria. Vamos conhecê-la.

Modelo Geocentrico de Ptolomeu que predominou por mais de 1500 anos, com a Terra estacionada no centro e o Sol, Lua, Planetas e Estrelas girando ao nosso redor.


Diagrama feito por Copérnico em 1543 mostra os planetas girando em torno do Sol.


Modelo Heliocentrico
A Teoria da Terra Plana

Faz sentido sim nós acharmos que a Terra possa ser plana, afinal para onde eu olhe só vejo uma linha reta, nada de curvatura no horizonte. Se eu deitar, eu vou ter a nítida impressão do céu se curvar. Portanto temos as base para a teoria: a Terra é plana e existe um domo sobre nosso planeta, domo esse intransponível. Acima dele teríamos água. Na Terra Plana o pólo norte seria o centro e a Antártida a borda, com uma camada de 3 km de altura que segura a água do planeta.

Eles acreditam basicamente, que há uma conspiração mundial envolvendo cientistas e agências espaciais para que todos acreditem que a Terra é esférica. É dito que estamos em um disco circular, plano, imóvel, e não em um globo. O Pólo Norte fica no meio do mapa e a Antártida em toda a borda, sendo um local proibido de ir explorar. Existe um grande domo envolvendo o planeta e o Sol e a Lua estão na parte interna deste domo. As estrelas estão presas nele. A gravidade não existe e tudo se move pelo magnetismo do polo norte. A Terra está parada e é o centro de tudo.

Símbolo da ONU mostra a Terra plana e evidência
que somos enganados pelo sistema.
Existe diversos grupos, quase como religiosos, que divulgam a teoria e sempre vão a incrementando mais. Eles divergem entre si em alguns pontos.

Algumas personalidades conhecidas mundialmente se posicionaram a favor da teoria, como recentemente o ex-jogador de basquete americano Shaquille O'Neal.

Os defensores da teoria inclusive apresentam um mapa da Terra Plana, cientificamente comprovado e registrado e afirmam que vivemos em uma grande conspiração que nos esconde a verdade e isso é mostrado no símbolo da ONU, que é uma Terra plana!

Para muitas pessoas, a maioria dos defensores da teoria tem consciência da loucura dela e a divulgam por piada.

Uma das imagens divulgadas pelos defensores da terra plana de como seria realmente nosso planeta.


10 Provas de que a Terra é Plana!

Os terra planistas costumam apresentar fotos e vídeos que para eles mostrar que a teoria da Terra Plana está correta. Vamos listar alguns abaixo:

10. Horizonte Retos Visto do Espaço: Imagens a mais de 30km de altura mostram o horizonte plano. Todos os vídeos mostram ele plano. As filmagens que mostram a curvatura da Terra é por causa da lente olho de peixe usadas na câmera Go Pro e semelhante.

09. Chicago visto do Estado do Michigan: Chicago visto a mais de 96 km, de distancia seria impossível na terra esférica sendo que a pouco mais de 2 km a curvatura já encobriria a cidade.

08. Nível da água sempre é reto: Nível da água sempre mostra um plano reto mesmo em grandes distancias, ex.: espelho d`água do maior lago de sal do mundo - Salar de Uyuni - Bolivia. Ele não deveria mostrar uma distorção da curvatura?

07. Não Estamos nos Movendo! Segundo a teoria atual, estamos no momento a velocidades incríveis pelo espaço. Na verdade, estamos girando no movimento de rotação do planeta a 1.666 km/h. Mas você está sentindo algo? É porque na verdade estamos parados!

06. O Voo dos Aviões: Se a Terra girasse sobre seu eixo - movimento de rotação - um avião deveria chegar mais rápido se fosse contra esse movimento, mas não é isso que acontece. Se o avião for a favor ou contra a rotação chega no mesmo tempo praticamente. Assim, a Terra é plana!

05. Estrelas não se Movem: Se a Terra estivesse girando sobre si mesmo ou orbitando o Sol, a estrela Polaris não ficaria fixa no céu do hemisfério norte. Da mesma forma, as estrelas e constelações a milhares de anos estão no céu no mesmo local. Como pode se nós estamos nos movendo? Na verdade as estrelas estão presas no domo e a Polaris está no centro do domo.

04. Mentiras da Nasa: Manipulação gráfica das imagens da terra e dos planetas, uso de Cromaqui nas imagens da ISS e fora dela, passeios espaciais gravados em piscinas de treinamento.

03. Tamanho e Distância do Sol: Foco do sol em um ponto especifico das nuvens, mostrando que na verdade está muito perto da Terra. Os raios solares, que deveriam ser paralelo, não são, como você pode ver em diversas imagens. E mais, o Sol tem o mesmo tamanho da Lua, mostrando que estão muito mais perto do que querem que acreditemos.

02. Diferença dos Pólos e Estações do Ano: Diferenças entre as temperaturas, flora e fauna do polo Norte e Sul. A terra esférica não consegue explicar isso, já que eles deveriam receber a mesma quantidade de energia solar.

01. Estrelas no Meio Aquático:  Para os defensores, as estrelas e os planetas são muito diferentes das mostradas pela NASA. Na verdade elas são luminárias que mudam de forma e cor. Você pode ver com seus olhos. Basta ter uma boa câmera com Zoom, como por exemplo a Nikon P900 (com maior zoom no mercado). Você vai ver estrelas como se estivessem em meio a água, o que corroboraria com a teoria da água sobre o Domo.
Veja os raios solares, eles não estão paralelos! Isso mostra que o Sol está muito mais perto do que nos contam...


Refutando Algumas Provas da que à Terra é Plana

Eu convidei Sérgio Sacani, editor do blog e canal Space Today para me ajudar a mostrar que a terra é uma esfera e ele listou cinco provas

- O Segredo da Escala! Um dos grande problemas que não conseguimos entender é a escala de tempo e espaço. Não conseguimos entender como é realmente 1 milhão de anos, 50 milhões, 1 bilhão de anos. Assim também não conseguimos compreender distâncias colossais, como anos-luz ou mesmo o tamanho do nosso planeta Terra, com uma circunferência máxima de 40.000 km. É muito grande! Para podermos ver a curvatura do nosso planeta, temos que ir bem alto no céu. É por isso que não a vemos do solo.

- Os barcos somem sim no horizonte! Isso acontece por causa da curvatura da Terra. Você vai vendo o navio sumir aos poucos, primeiro a parte inferior e depois a ponta.

- Sismologia: A triangulação das ondas de terremoto para saber o local exato só é possível porque a terra é esférica.

- O Sol e Lua nunca Desapareceriam no Horizonte! No modelo apresentado pelos terraplanistas o Sol ilumina uma região e enquanto a outra fica no escuro. Assim, nós nunca veríamos o pôr do sol nem nascer. O Sol só ficaria bem pequeno e uma hora sairia do nosso campo de visão, mas com uma luneta ou telescópio teríamos que vê-lo.

- Estrela Polaris: A estrela Polaris, que fica no pólo celeste norte, que só pode ser vista do hemisfério Norte. Aqui no hemisfério sul não há vemos e isso evidencia uma esfera.

- As Estrelas não se Movem: Aqui temos uma questão de escala. Estamos sim nos movendo a velocidades incríveis pelo Universo, mas as estrelas estão tão, tão longe, que isso faz a um diferença ínfima. Aliás, é claro que as estrelas mudam de posição no céu. Só que por causa das distâncias astronômicas elas demoram. O céu que vemos hoje é um pouco diferente do de milênios atrás. E mais, quem está no hemisfério Norte vê as constelações e a Lua na forma inversa de quem vê no hemisfério sul do globo terrestres.

- GPS: Só é possível por causa dos satélite que temos em órbita.

- Diferença dos Pólos e Estações do Ano: A terra é inclinada em 23º e é isso que possibilita as estações do ano. Além disso, não existe terra firme no Pólo Norte, o que existe são águas congeladas próximo a ele. Já no pólo sul existe um continente imenso, quase do tamanho da América do Sul, com chão, em um local muito, muito mais hostil do que onde estão as partes congeladas do Polo Norte. Ah, na Antártida tem vida sim, como por pinguins, aves, baleias, focas, peixes e crustáceos. Milhões de animais vivem nessa região, no extremo sul do planeta, e não estão nem aí com o frio de rachar – são menos de 80 ºC negativos no inverno! A explicação para uma fauna tão rica, mesmo nessas condições adversas, é a abundância de comida, principalmente do krill, um pequeno crustáceo que é a principal “iguaria” da Antártida. Além disso, boa parte das espécies, principalmente aves e mamíferos marinhos, não passa o ano todo no continente. Durante o inverno, quando a região congela, muitos animais migram para o norte e só voltam no final da estação.

- A Velocidade dos Aviões: Na animação mostrada pelos terraplanistas existe erros de escala e velocidade, favorecendo o ponto de vista deles. Na verdade, o voo dos aviões não sofre interferência pela rotação do planeta, pois a atmosfera gira junto com a Terra. Se eu caminhar dentro de um ônibus em movimento de ponta a ponta, da traseira pra dianteira, ou vice versa, o tempo que vou levar pra chegar de um ponto ao outro será o mesmo nos dois casos, o principio é o mesmo para os aviões.

- Formação dos Planetas: Homem nós temos imagens de nuvens planetárias que mostram que todos os proto-planetas são em formato esférico.

- O Mapa Científico e Registrado da Terra Plana: Não é porque está patenteado e escrito cientificamente que torna o negócio automaticamente verdade absoluto! O mapa é patenteado em 1892 - qualquer um pode patentear o que quiser! A patente é uma forma de você garantir seus direitos. E mais, está escrito "Uma Projeção de J. S. Christopher" isso significa que é uma representação plano de algo que é uma esfera. É uma projeção azimutal que tem como referência o Pólo Norte do globo terrestre. Portanto é um mapa feito de um globo! Saiba mais aqui!

Para finalizar, mostre o Monte Everest! É o ponto mais alto do planeta, com quase 9 quilômetros de altura. Você pode não ver com seus olhos, mas pegue um telescópio e aponte para lá. Faça uma filmagem e prove que a Terra é plana!

Ah! A questão de Chicago visto de 96 quilômetros é mentira. Eles manipularam o número. A 15 quilômetros não se vê nem o prédio mais alto da cidade...

Fotografia A Bolinha Azul obtida durante a missão Apollo 17, em 1972


Terraplanistas Refutando às Provas de que a Terra é um Globo

- Se os planetas são esféricos, por que a Terra seria diferente? Os planetas são esféricos porque não apresentam as mesmas características que a Terra, como água em abundância, diversidade de vida, máquina e inventos, edificações surpreendentes. Isso nos destaca dos outros planetas.

Bem assombrados, isso não a menor diferença para um planeta ser redondo ou plano. Nadinha! O que determina que os corpos fiquem redondos é a sua massa!

- Gravidade? Isso não existe! Para os terraplanistsa, a gravidade não existe porque ainda existe muitas dúvidas sobre essa força fundamental da natureza. Não sabemos muito sobre ela, então podemos sim duvidar que ela existe. Para eles existe a Densidade Relativa e ela é a responsável por estarmos presos na superfície do planeta.

Mas só porque a dúvidas não significa que ela não existe! Ela está ai para todo mundo ver.

Do ponto de vista prático, a atração gravitacional da Terra confere peso aos objetos e faz com que caiam ao chão quando são soltos (como a atração é mútua, a Terra também se move em direção aos objetos, mas apenas por uma ínfima fração).

Do ponto de vista cosmológico, a gravidade faz com que a matéria dispersa se aglutine, e que essa matéria aglutinada se mantenha intacta, permitindo dessa forma a existência de planetas, estrelas, galáxias e a maior parte dos objetos macroscópicos no universo. A gravidade é ainda responsável por manter a Terra e os demais planetas e satélites em suas respectivas órbitas, pela formação das marés pela convecção natural, por aquecer o interior de estrelas e planetas em formação e por vários outros fenômenos na Terra e no universo.

- Triângulos: Bem, aqui  eles reconhecem que só podem fazer um triângulo com ângulos retos em uma superfície esférica. Mas para eles isso é um insulto, porque isso só funciona se os lados do triângulo forem um 1/4 do tamanho da esfera. E então eles dizem que não é possível realizar um experimento porque na superfície da Terra não locais com 10 mil km de largura e comprimento!

Vai de avião! Isso não é desculpa :) 

- Volta ao Mundo: Como existe uma muralha de gelo envolvendo o planeta, é impossível dar a volta ao mundo. Claro que não. Para os terraplanistas é possível sim da a volta ao mundo. Não do jeito que imaginamos, saindo de um ponto e circulando o globo terrestre, mas sim navegando por entre as águas do mar da Terra plana, assim evitaríamos de bater na borda.

Dessa forma não demos a volta ao mundo. O máximo que fizemos foi contornar alguns continentes da terra Plana. Se você

- Sombra da Terra Projetada no Eclipse: Se a Terra ficar fixa e a Lua se mover, vai projetas as sombras provando que a Terra é plana. Para provar eles dizem que se ao invés da Terra a Lua estiver fixa, nosso planeta teria que se afastar e aproximar par apresentar o resultado mostrado nas projeções.

Primeiro, nem a Terra nem a Lua estão parados na espaço. Tudo está movendo. Outra coisa é que a sombra projetada se fosse plano o planeta seria uma linha grossa.

- Navios Desaparecendo no Horizonte:  Efeito lupa da atmosfera encobre a parte inferior do objeto. E mais, ele desaparece pelo ponto de fuga. Nosso olho chega um momento não consegue mais ver.

Simples, pegue uma luneta, um telescópio bom, que você vai ver o navio sumir...


Imagem tirada do vídeo "A Terra é Plana - Detonando o Canal Área 51"




Prove Você Mesmo que a Terra é uma Esfera!

- Vá para a Rússia, e procure uma empresa que faz voôs com os caças MIG.

- Reserve seu lugar com a empresa SpaceX e viaje para o espaço! Estamos começando o turismo espacial assombrados. Ano que vem a empresa vai enviar duas pessoas ao espaço.

- Dê a volta ao mundo de navio e comprove que não tem muralha de gelo! Eu me lembro de quando saiu uma reportagem no jornal daqui falando desse lindo passeio. Confira aqui

- Não tem dinheiro, não tem problema! Faça o experimento de Erastóteles. Você vai precisar de vareta, trena e dois locais distantes. O Carl Sagan explica para você como fazer:


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10 Coisas que Você precisa Fazer para Acreditar na Terra Plana

Apesar de todas as provas que listei acima, mostrando que a Terra é sim Esférica, você continuar acreditando que a Terra é plana, tenha em mente que para isso você vai ter de pelo menos acreditar nos 10 itens listados abaixo:

01. Que opiniões pessoais e achismos, sem embasamento científico, é maior que centenas de anos de desenvolvimento, estudos científicos e experiencias. Todos temos nossas opiniões, mas opinião não é fato!

02. Que alguns conceitos de nossa física são inventados, como a gravidade! Você vai ter de dizer que uma das quatro forças da natureza não existe.

03. Que a Lua e o Sol como o conhecemos são uma mentira!

04. Os planetas, como Mercúrio, Vênus, Marte,  Júpiter, Saturno, Urano, Netuno na verdade não existem.

05. Que existe um domo sobre sua cabeça e que nada passa esse domo, nada e que existe logo acima do domo um oceano (Pensa na força que tem de ter o domo para suportar tanta água).

06. Que as imagens da NASA são todas mentiras manipuladas. Na verdade a NASA é uma imensa Pixar, Disney, que vive desenhando planetas e semeando mentiras. O programa espacial, a ida do homem a Lua, as imagens enviadas por sondas... tudo mentira!

07. Que os Satélites não Existem! Todos esse milhares de satélites, que permitem você ver sua TV, locomover por GPS, é mentira!

08. Que o continente da Antártida circunda nosso planeta e ele é a barreira para a água dos oceanos não caírem na borda do planeta.

09. A Terra é o centro de tudo e tudo gira ao seu redor, enquanto ela fica parada, modelo parecido com o de Ptolomeu e o geocentrismo.

10.  Que opinião de algumas pessoa, que dizem que conseguiram sair da Matrix e se libertar dos Iluminnatis que regem o mundo, é maior do que a de centenas de anos de estudos científicos? Vale a pena acreditar nessas pessoas e desacreditar em tudo que mostrei acima?

Vale a pena acreditar na Terra plana e desacreditar tantas outras coisas?


Conclusão

É lógico que minha opinião pessoal é de que a Terra é Esférica, um globo. Apesar de realmente não enxergar a curvatura no horizonte do nível do solo, não significa que por causa disse tem de ser plana. É tudo questão de escala e perspectiva.

Para os terraplanistas que divulgam o tema em canais do Youtube, página no Facebook ou até em livros, não importa o que eu disser, sempre vão continuar acreditando.

O meu objetivo aqui é abrir os olhos das pessoas que estão buscando mais informações sobre o assunto e ela então decidir, pesando os dois lados na balança, o que faz mais sentido: Terra plana ou Terra esférica.

Fontes (acessadas em 25/03/2017):
- Cosmo Carl Sagan - Ep. 01: Os Limites do Oceano Cósmico
- Cosmo Carl Sagan - Ep. 03: A Harmonia dos Mundos
- Canal Sem Hipocrisia: TERRA PLANA - DETONANDO O AREA51CANAL
- Canal Terra Plana Traduções - TERRA PLANA | 21 PERGUNTAS
Canal Das trevas para a LUZ - TERRA PLANA_ ÁGUA PLANA 100% 7 a 50km! (experimentos provam que não há curvatura)
- Wikipedia.pt: Gravidade
- Wikipedia.pt: Eratóstenes
- Wikipedia.pt: Terra redonda
- Wikipedia.pt: Terra
- Wikipedia.pt: Terra plana
- Infoescola: Heliocentrismo
- UOL: A Terra é plana? Acredite ou não, essa é "A" teoria de conspiração do ano
- Canal Tech: Entendendo a loucura de quem acredita que a Terra é plana
- Air Space Magazine: First Photo From Space
- Wikipedia.pt: Flat Earth Society
- Mundo Estranho: Que bichos vivem na Antártida?
Canal Verdadeoculta: A Terra Plana em menos de 10 minutos
- Canal Área 51: Desmistificando a Teoria da Terra Plana (Part. Dr. Mistério)
Canal Primata Falante: A Terra é Mesmo Redonda? | Primata Falante
- Canal RogeroxTube: Prova IRREFUTÁVEL: O mapa da Terra plana REFUTA a Terra plana - ACABOU A PARTIDA!
- Canal Sem Hipocrisia: TERRA PLANA - ENTENDA O CONCEITO DE FORMA SIMPLES (para iniciantes)
- Terra Plana
Canal Poligonautas: Desmentindo a Teoria da Terra Plana | PoligoPocket

Os Horrores de Semipalatinsk: Os Soviéticos Esconderam um Desastre Nuclear no Cazaquistão Cerca de 4 Vezes Pior que Chernobyl?

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Por Marco Faustino

Em 26 de abril do ano passado, o mundo recordou os 30 anos da catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, que é considerado por muitos como o pior acidente em relação a uma usina nuclear da história, cujo número de vítimas continua sendo um mistério. Por volta de 1h23 da madrugada de 26 de abril de 1986, o reator nuclear nº 4 da usina explodiu durante um "teste de segurança". Durante 10 dias, o combustível nuclear ardeu, liberando na atmosfera nuvens tóxicas que contaminaram com radiação até três quartos do território europeu. As nuvens tóxicas atingiram especialmente a Ucrânia e os países vizinhos, Bielorrússia e a Rússia. Moscou tentou esconder o acidente ocorrido na ex-república soviética e as autoridades esperaram até o dia seguinte para evacuar os 48 mil habitantes da localidade de Pripyat, situada a apenas 3 km da usina. O primeiro sinal de alerta, no entanto, foi divulgado pela Suécia, no dia 28 de abril, quando as autoridades detectaram quantidades anormais de radiação, mas o líder soviético Mikhail Gorbachev não falou publicamente sobre o incidente até 14 de maio daquele ano. Depois que as autoridades reconheceram o acidente, cerca de 116 mil pessoas precisaram deixar seus lares situados na zona de exclusão, para a qual até hoje em dia seguem sem poder voltar. Nos anos seguintes, outras 230 mil pessoas tiveram o mesmo destino.

Em quatro anos, 600 mil pessoas, principalmente militares, policiais, bombeiros e funcionários, trabalharam como "liquidadores" para conter o incêndio nuclear e criar uma barreira de concreto para isolar o reator. Os agentes mobilizados chegaram ao local quase sem proteção ou com um equipamento inadequado para enfrentar a nuvem tóxica. Além de conter o incêndio, precisaram limpar as zonas adjacentes e construir um "sarcófago" para conter a radiação. Com o passar dos anos, a estrutura criada imediatamente depois do acidente, de maneira apressada, ameaçava começar a vazar para o ar 200 toneladas de "magma radioativo", razão pela qual a comunidade internacional se comprometeu a construir uma nova camada de concreto mais segura. Assim sendo, a Ucrânia inaugurou no dia 29 de novembro do ano passado uma cúpula de metal construída sobre o reator acidentado da central nuclear de Chernobyl para garantir a segurança das instalações durante os próximos 100 anos. A estrutura metálica, em forma de arco, pesa 25 mil toneladas (36 mil quando estiver totalmente equipada) e mede 108 metros de altura por 162 metros de comprimento. De qualquer forma o saldo da tragédia é difícil de esconder debaixo de um domo. Algumas fontes dizem que o então governo soviético admitiu 15 mil mortes, mas, pelas contas de organizações não governamentais foram pelo menos 80 mil vítimas. Além disso, de acordo com números oficiais mais de 2 milhões de ucranianos, incluindo aproximadamente 400 mil crianças, até hoje estariam sofrendo de problemas de saúde relacionados com o acidente.

Agora, será que Moscou teria escondido do mundo um desastre nuclear cerca de quatro vezes pior do que Chernobyl? De acordo com uma recente notícia publicada no site da revista New Scientist, teria havido um desastre nuclear bem pior do que Chernobyl em termos de síndrome aguda de radiação (SRA), mas a cumplicidade de Moscou em relação aos efeitos sobre a saúde das pessoas teria permanecido em segredo até hoje. Vale lembrar que essa síndrome, também conhecida simplesmente por "envenenamento radioativo", é uma série de efeitos para a saúde, que aparecem no prazo de 24 horas após a exposição a grandes quantidades de radiação ionizante. O termo "aguda" refere-se a um problema médico grave que ocorre rapidamente. O início e o tipo dos sintomas dependem da exposição à radiação. Doses relativamente menores resultam em efeitos gastrointestinais, tais como náuseas e vômitos, além de sintomas relacionados à queda dos hemogramas, e predisposição a infecções e hemorragias. Doses relativamente maiores podem resultar em efeitos neurológicos e morte rápida. Enfim, a New Scientist teria tido acesso a um relatório secreto, que foi encontrado nos arquivos do Instituto de Radiologia Médica e Ecologia (IRME), da cidade de Semey, no Cazaquistão, onde mostraria, pela primeira vez, o quanto os cientistas soviéticos sabiam na época, sobre o desastre, e em relação aos impactos a saúde humana e a extensão do encobrimento. Quando, onde, as razões e os efeitos desse desastre é o que vocês vão descobrir nessa matéria. Vamos saber mais sobre esse assunto?

O Prefácio de uma Tragédia


Não adianta comentar sobre a recente divulgação de um relatório secreto de um desastre nuclear sem explicar como foi esse desastre nuclear e o que sabe até hoje sobre o mesmo, principalmente devido aos estudos anteriormente realizados. Minha base será um relatório publicado pelo Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais (NUPI), no ano de 2014, que foi especialmente preparado pela a Segunda Conferência Sobre o Impacto Humanitário das Armas Nucleares, que foi realizado na cidade de Nayarit, no México, nos dias 13 e 14 de fevereiro daquele ano. Apesar do relatório ser relativamente simples de ser lido, irei simplificar ainda mais o conteúdo e tentar sintetizá-lo, uma vez que são 40 páginas e ficaria extremamente longo e cansativo para vocês lerem, combinado?

Foto de uma parte do Campo de Testes Nucleares de Semipalatinsk (SNTS),
também conhecido como "O Polígono", no Cazaquistão
A União Soviética conduziu mais de 450 testes nucleares até que o campo fosse desativado em 1991. Entre eles, cerca de 111 testes nucleares foram aqueles considerados atmosféricos, assim como aqueles realizados na superfície da terra.
Inicialmente, é importante vocês saberem que durante a Guerra Fria, havia preocupações generalizadas e bem fundamentadas sobre as consequências humanitárias das armas nucleares, assim como uma considerável informação pública sobre o assunto. Os arsenais nucleares ao redor do mundo ainda são gigantescos, porém, atualmente, muitas pessoas parecem esquecer o potencial impacto dessas armas. Em alguns lugares, no entanto, o legado das detonações nucleares é uma parte real do cotidiano das pessoas.

Um desses lugares é a região ao redor do Campo de Testes Nucleares de Semipalatinsk (SNTS), também conhecido como "O Polígono", no Cazaquistão, onde a União Soviética conduziu mais de 450 testes nucleares até que o campo fosse desativado em 1991. Entre eles, cerca de 111 testes nucleares foram aqueles considerados atmosféricos, assim como aqueles realizados na superfície da terra.

Estrutura apelidade de "ganso" que servia para medir o impacto das bombas nucleares detonadas no SNTS
Como legado, mais de 1 milhão de pessoas foram reconhecidas pelo governo do Cazaquistão por ter sofrido (em um amplo sentido) os efeitos do SNTS, uma vez que os testes nucleares tiveram graves consequências negativas para a saúde da população local. A situação relativa à contaminação radioativa no local, e ao redor do antigo campo de testes, não é uniforme, com riscos variáveis de exposição a radiação. Grande parte do local, no entanto, não apresenta perigo, mas algumas partes precisam ser protegidas indefinidamente. O legado dos testes nucleares é evidente mais de 20 anos após a desativação do campo de testes, e mais de 50 anos após a última detonação em superfície. Assim sendo, inegavelmente, o SNTS ainda é testemunha do terrível impacto das armas nucleares.

A História de Semipalatinsk


O mundo descobriu sobre o poder horrendo das armas nucleares, quando os Estados Unidos lançaram uma bomba de urânio sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e uma bomba de plutônio sobre Nagasaki cerca de três dias depois. Para Stalin, a conclusão era clara: a nova arma tinha mudado completamente o equilíbrio de poder no mundo, e a União Soviética não tinha escolha senão desenvolver suas próprias armas nucleares. Stalin nomeou Lavrentiy Beria, o ex-chefe impiedoso do NKVD, predecessor da KGB, para supervisionar o projeto da bomba nuclear soviética.

O físico Igor Kurchatov foi escolhido para coordenar o programa e liderar o trabalho dos melhores cientistas da URSS, incluindo Andrey Sakharov, que posteriormente seria considerado um dissidente e ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Um montanha de dinheiro foi investida no programa nuclear. Assim sendo, em 1950, cerca de 700.000 pessoas estavam envolvidas no programa, sendo que mais da metade dessas pessoas eram simplesmente prisioneiros.

Foto histórica mostrando Lavrentiy Beria, o ex-chefe impiedoso do NKVD, predecessor da KGB, com a filha de Stalin,  Svetlana, no colo. Na foto também aparece o próprio Stalin sentado ao fundo.
Para testar as armas atômicas planejadas, um local de testes foi necessário ser designado. Portanto, uma área foi estabelecida na região nordeste da República Socialista Soviética Cazaque (KSSR). Nasceu assim o Campo de Testes Nucleares de Semipalatinsk (SNTS), ocupando um território de 18.300 km², que ficava localizado a cerca de 150 km a oeste da cidade de Semipalatinsk (essa cidade foi rebatizada, e tornou-se a cidade de "Semey", em 2007).

Foi em Semipalatinsk que os esforços soviéticos para criar uma bomba foram coroados com sucesso em 29 de agosto de 1949, com a detonação de uma bomba de plutônio, que era quase uma cópia exata da bomba americana que caiu em Nagasaki, no Japão, cerca de quatro anos antes. Também foi no SNTS que a URSS lançou a primeira bomba atômica a partir de um avião, em 1951, tal como fizeram a primeira detonação termonuclear, em 1953.

Foi em Semipalatinsk (indicado por uma seta, na foto) que os esforços soviéticos para criar uma bomba foram coroados com sucesso em 29 de agosto de 1949, com a detonação de uma bomba de plutônio, que era quase uma cópia exata da bomba americana que caiu em Nagasaki, no Japão, cerca de quatro anos antes
De um total de 715 testes nucleares soviéticos, 456 foram realizados em Semipalatinsk. Estima-se que 111 testes foram realizados na superfície da terra (cerca de 25 testes) e no ar (cerca de 86 testes) entre 1949 e 1962, até que o Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares de 1963 proibisse tais testes. Foram justamente esses testes atmosféricos que causaram a maior contaminação do meio ambiente e exposição à radiação para a população (estimada em até 95% da dose total).

Após 1962, todos os testes no SNTS foram conduzidos de forma subterrânea em túneis e poços, e a contaminação ficou limitada ao próprio local de teste, com algumas exceções, é claro. O último teste foi realizado em 19 de outubro de 1989. O saldo total (a quantidade de energia explosiva produzida) dos testes atmosféricos realizados no SNTS é estimado em aproximadamente 6.4 Mt, ou seja, algo equivalente a mais de 400 bombas de Hiroshima. É surreal pensar nesses números.

Algumas das bombas detonadas naquela época dentro do Museu de Armas Atômicas da Rússia
Foto da bomba RDS-1, apelidada pelos norte-americanos de Joe-1, que foi detonada em 29 de agosto de 1949 no SNTS. Essa foto representa simplesmente o primeiro teste nuclear realizado pela Rússia no SNTS.
Fotos da explosão da primeira bomba termonuclear da Rússia no SNTS
Quando ocorreu a Perestroika, uma das políticas introduzidas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por Mikhail Gorbachev, em 1986, surgiu uma oportunidade para diversos "movimentos de protesto" manifestarem suas insatisfações. Entre eles estava o movimento "Semipalatinsk - Nevada", que aconteceu no Cazaquistão, e que defendia o encerramento das atividades do SNTS.

Então, o primeiro secretário do Partido Comunista do Cazaquistão e, após a independência, presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, tomou a decisão de encerrar definitivamente as atividades em  1991. Confira um antigo e raro vídeo mostrando algumas dessas detonações, que foi publicado em um canal de terceiros, no YouTube, que mostra a formação do "lago atômico de Chagan":



Confira também esse outro vídeo publicado pela NTI (Nuclear Threat Initiative), sobre o STNS, em sua própria conta, no YouTube, em 2014 (em inglês, mas vale a pena ver):



Uma das razões - pelo menos não para fins secretos - para a escolha inicial de Semipalatinsk como campo de testes nucleares era a vastidão e o quão remoto era o local em relação as estepes do Cazaquistão. Porém, as bombas atômicas não restringem o impacto somente ao local onde são detonadas, e um grande número de pessoas poderia ser potencialmente afetado.

Embora não fosse permitido que as pessoas vivessem dentro do território do SNTS, havia aproximadamente 1 milhão de pessoas morando em um raio de 160 km do local de testes e diversos vilarejos próximos as fronteiras do local do SNTS. As consequências nucleares dos testes se espalharam muito além disso, chegando até a região vizinha de Altai, que hoje pertence a Federação Russa.

Embora não fosse permitido que as pessoas vivessem dentro do território do SNTS, havia aproximadamente 1 milhão de pessoas morando em um raio de 160 km do local de testes e diversos vilarejos próximos as fronteiras do local do SNTS
Então, o primeiro secretário do Partido Comunista do Cazaquistão e, após a independência, presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev (na foto), tomou a decisão de encerrar definitivamente as atividades em  1991
Por mais que o mundo venha evitando o uso de armas nucleares em guerras desde 1945, isso não significa que as armas não fizeram vítimas desde então. Durante a Guerra Fria centenas de milhares de americanos e cidadãos soviéticos sofreram exposição a níveis perigosos de radiação, assim como seus respectivos governos produziram e testaram armas nucleares que poderiam ser utilizadas se as tensões internacionais se transformassem numa "Guerra Quente".

O Instituto de Radiologia Médica e Ecologia de Semey estimou, que nos arredores do Campo de Testes Nucleares de Semipalatinsk, entre 500.000 e 1.000.000 de pessoas foram expostas a doses de radiação substanciais entre os anos de 1949 e 1962, ocasião essa quando ocorreu a última detonação acima do solo.

Uma das razões - pelo menos não para fins secretos - para a escolha inicial de Semipalatinsk como campo de testes nucleares era a vastidão e o quão remoto era o local em relação as estepes do Cazaquistão
Porém, as bombas atômicas não restringem o impacto somente ao local onde são detonadas,
e um grande número de pessoas poderia ser potencialmente afetado
Não há respostas simples quanto ao grau de impacto dos testes nucleares em seres humanos. Tanto o número de vítimas, quanto as formas pelas quais as pessoas foram afetadas ainda são motivo de discussão. Porém, que os testes de armas nucleares no SNTS afetaram a saúde de um grande número de pessoas, assim como de seus filhos, é inegável.

Como se isso não bastasse, a contaminação radioativa do próprio local de testes, e de algumas áreas adjacentes continuam apresentando potenciais riscos para a população, embora alguns especialistas afirmem que esses riscos são frequentemente "exagerados". Além do impacto real sobre a saúde e os perigos observáveis no ambiente, a população local continua vivendo na incerteza, uma vez que a radioatividade é invisível e difícil para que pessoas leigas compreendam o perigo que ela representa.

O Impacto Sobre a Saúde da População


Enquanto a explosão e o calor de uma explosão nuclear pode destruir grandes cidades, foi a exposição à radiação proveniente da precipitação nuclear, que foi a maior a ameaça diante dos testes nucleares em Semipalatinsk. Uma estimativa é de que apenas quatro testes (o primeiro teste em 29 de agosto de 1949, outro ocorrido em 24 de setembro de 1951, o primeiro teste termonuclear em 12 de agosto de 1953 e mais um em 24 de agosto de 1956) em Semipalatinsk contribuíram com mais de 95% da dose coletiva em relação a população próxima ao campo de testes.

Parece haver um consenso entre os cientistas de que, em grande parte, "os efeitos sobre a saúde atualmente observados resultam da exposição durante o período de testes, não uma consequência da exposição à radioatividade residual."

Enquanto a explosão e o calor de uma explosão nuclear pode destruir grandes cidades, foi a exposição à radiação proveniente da precipitação nuclear, que foi a maior a ameaça diante dos testes nucleares em Semipalatinsk.
As consequências das explosões nucleares em Semipalatinsk foram completamente desastrosas para a população local
Uma estimativa é de que apenas quatro testes (o primeiro teste em 29 de agosto de 1949, outro ocorrido em 24 de setembro de 1951, o primeiro teste termonuclear em 12 de agosto de 1953 e mais um em 24 de agosto de 1956) em Semipalatinsk contribuíram com mais de 95% da dose coletiva em relação a população próxima ao campo de testes
Na época da publicação do relatório pelo Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais (NUPI), no ano de 2014, foi mencionado que durante a época soviética, os testes nucleares e suas conseqüências para a saúde humana foram mantidos em total sigilo. Até 1956, aparentemente, o governo soviético não teria conduzido estudos sobre o efeito dos testes nucleares sobre a população que morava próximo do local de testes. Não havia estatísticas claras disponíveis sobre os efeitos agudos dos mesmos. Recentemente, no entanto, tivemos algumas novidades nesse aspecto, mas comentaremos apenas na parte final dessa postagem.

Inicialmente, a União Soviética deu pouca importância aos impactos dos testes nucleares sobre a população local. Apenas uma vez, antes da detonação termonuclear mais poderosa, em agosto de 1953 (de 480 kT, ou seja, cerca de 30 vezes mais potente do que a bomba de Hiroshima), que os moradores de alguns assentamentos próximos foram evacuados de seus vilarejos por um período de quase duas semanas. Mesmo assim, durante todo o período, as pessoas evacuadas permaneceram em áreas com precipitação nuclear do teste realizado. Confira também um matéria sobre o legado deixado por Semipalatinsk realizada pela Euro News. e publicado em seu próprio canal, no YouTube, em abril de 2010 (em inglês, mas vale a pena conferir):



O ímpeto imediato para os estudos sobre o impacto sobre a saúde da população aconteceu posteriormente, em conexão com uma situação de emergência causada por uma detonação nuclear superficial em 16 de março de 1956, cuja nuvem radioativa atingiu a cidade de Ust-Kamenogorsk, a 400 km do epicentro da explosão.

A população da cidade foi exposta a precipitação nuclear com doses de radiação tão altas, que causaram intoxicação por radiação aguda. Em resposta, a liderança soviética estabeleceu uma instituição médica especial e hospitalizou 638 pessoas, que sofriam de intoxicação por radiação. No entanto, não há nenhuma informação sobre o destino dessas pessoas até hoje.

O ímpeto imediato para os estudos sobre o impacto sobre a saúde da população aconteceu posteriormente, em conexão com uma situação de emergência causada por uma detonação nuclear superficial em 16 de março de 1956, cuja nuvem radioativa atingiu a cidade de Ust-Kamenogorsk, a 400 km do epicentro da explosão
Trajetória da precipitação nuclear das maiores detonações atmosféricas do SNTS
Em 1957, foi criado um instituto de pesquisa permanente em Semipalatinsk para realizar pesquisas sobre o impacto da atividade no SNTS sobre a saúde da população. O mesmo foi chamado de "Dispensário nº 4" para não chamar a atenção para sua real atividade. Com o desmembramento da União Soviética, este "dispensário" foi sucedido pelo Instituto de Radiologia Médica e Ecologia (IRME). O IRME atualmente pertence ao Ministério da Saúde do Cazaquistão, sendo responsável pelo estudo das consequências para a saúde em relação aos testes nucleares.

É difícil estabelecer o tamanho da população afetada pelos testes nucleares no SNTS. Em 1949, a população total das regiões de Semipalatinsk, Pavlodar, Karaganda e Cazaquistão Oriental era de 1,2 milhão de pessoas. Em 1962, esse número havia aumentado para 1,7 milhão, devido à migração causada pelas reformas agrícolas soviéticas no Cazaquistão.

Com base na habitalidade em zonas próximas do SNTS, as autoridades do Cazaquistão reconheceram 1,2 milhão de pessoas como vítimas do SNTS. Uma estimativa frequentemente citada coloca o número de pessoas expostas em cerca de 500.000, mas alguns especialistas do Cazaquistão consideram que o número total de pessoas expostas à radiação é de cerca de 1 milhão. Além disso, também devemos considerar que os moradores da região de Altai, na Federação Russa, também foram afetados.

Com base na habitalidade em zonas próximas do SNTS,
as autoridades do Cazaquistão reconheceram 1,2 milhão de pessoas como vítimas do SNTS
Uma estimativa frequentemente citada coloca o número de pessoas expostas em cerca de 500.000, mas alguns especialistas do Cazaquistão consideram que o número total de pessoas expostas à radiação é de cerca de 1 milhão
É difícil estabelecer o tamanho da população afetada pelos testes nucleares no SNTS. Em 1949, a população total das regiões de Semipalatinsk, Pavlodar, Karaganda e Cazaquistão Oriental era de 1,2 milhão de pessoas. Em 1962, esse número havia aumentado para 1,7 milhão, devido à migração causada pelas reformas agrícolas soviéticas no Cazaquistão
A seguir, vamos apresentar a vocês os dados fornecidos pelo IRME sobre os diversos indicadores de saúde relacionados aos grupos populacionais expostos no Cazaquistão em comparação com grupos de controle. Os dados são baseados em pesquisas conduzidas pelo IRME, incluindo estudos da era soviética, que eram estritamente secretos até a separação da URSS. A base de dados e os registos da IRME são a principal fonte de informação para os pesquisadores, que estudam o impacto do SNTS na saúde, tendo o instituto, desde o início da década de 1990, desenvolvido inúmeros projetos de cooperação com pesquisadores do Japão, da Europa e dos Estados Unidos.

Os dados do IRME são ordenados em três períodos: efeitos agudos e precoces (entre 1 e 10 anos a partir do início da radiação); efeitos precoces a longo prazo (entre 10 e 20 anos a partir do início da radiação); efeitos tardios a longo prazo (20 anos ou mais).

Efeitos Agudos e Precoces da Irradiação (1950 - 1960)

  • Uma vez que os estudos dos impactos sobre a saúde ao redor do local dos testes começaram tardiamente, os efeitos agudos não foram investigados imediatamente após os primeiros testes iniciados em 1949. No entanto, é possível traçar alguns indicadores de efeitos agudos precoces, com base em comparações descritivas. Um desses efeitos é a elevada mortalidade infantil. Os números foram 3,4 a 4 vezes mais elevados do que o grupo de controle e da República Socialista Soviética Cazaque (KSSR) como um todo. A maior taxa de mortalidade infantil (entre 100 e 110 casos a cada 1.000 nascimentos) foi relatada a partir dos assentamentos que foram mais expostos à radiação;
  • As malformações congênitas em crianças nos grupos expostos foram significativamente mais frequentes do que no grupo controle. Os tipos predominantes incluíram malformações congênitas do sistema nervoso e malformações faciais;
  • A principal causa de morte entre as crianças foi a leucemia (câncer do sangue ou medula óssea), que dobrou em comparação com os anos de 1945 a 1948.

Efeitos Precoces a Longo Prazo (1960 - 1985) 

  • Durante esse período, a mortalidade infantil diminuiu para os níveis encontrados antes dos testes nucleares iniciados em 1949 - um indicativo da relação entre a exposição à radiação, e a alta mortalidade infantil durante o período discutido acima;
  • No início da década de 1970, houve um aumento dramático na mortalidade por câncer. As comparações descritivas do IRME mostram taxas de mortalidade por câncer em grupos expostos de até 3,5 vezes maiores do que nos grupos de controle e na KSSR como um todo. Os tipos predominantes incluíram câncer de esôfago, câncer de estômago e câncer do intestino delgado. No fim da década de 1980, o nível de mortalidade por câncer diminuiu significativamente, mas permaneceu maior do que no período anterior ao início dos testes nucleares;
  • Estudos citogenéticos realizados entre 1962 e 1975 mostraram que, entre 420 pessoas examinadas (com idades entre 10 e 60 anos, e com doses superiores a 250 mSv), a frequência de aberrações cromossômicas excedeu substancialmente as taxas do grupo de controle;
  • As doenças cardiovasculares foram relatadas mais frequentemente em comparação com o grupo de controle e a KSSR como um todo. O nível de doenças cardiovasculares entre 40 - 49 anos na população exposta à radiação, correspondeu ao nível encontrado entre os 50 - 59 anos no grupo controle. De qualquer forma, a associação entre a exposição à radiação e doenças cardiovasculares em Semipalatinsk necessita de mais estudo, e não pode ser considerada como definitiva;
  • Entre as mulheres em idade reprodutiva, que foram expostas à radiação na sua infância, foram notificadas mais frequentemente malformações entre os seus filhos (entre 10 a 12 casos por 1.000 nascimentos) do que nos grupos de controle (3 a 5 casos por 1.000 nascimentos). Após 1985, a frequência de malformação entre crianças diminuiu significativamente, muito provavelmente porque a nova geração de mulheres dando à luz não foram expostas à radiação de testes nucleares em sua infância. Desde 1985, a população exposta não diferiu dos grupos de controle nesse indicador.

Efeitos Tardios a Longo Prazo (1985 - 2010)

  • Os estudos descritivos do IRME mostram que. no final da década de 1980. houve um segundo aumento acentuado na incidência de câncer entre a população exposta, até três vezes maior que o nível no grupo controle e no Cazaquistão como um todo (entre 420 a 430 casos por 100.000 pessoas em comparação com 140 a 145 casos no grupo de controle);
  • Entre as causas de mortalidade por câncer, o câncer de esôfago, câncer de estômago e câncer intestinal diminuiu acentuadamente em relação ao período anterior. Simultaneamente, a proporção de mortes por câncer pulmonar e bronco-pulmonar, assim como câncer de mama aumentou. Essa tendência ainda continua;
  • Foi realizado um estudo sobre o envelhecimento precoce ("efeitos gerontológicos") entre 2000 e 2005. De acordo com pesquisadores locais, a idade média para o diagnóstico de câncer de esôfago, câncer de estômago, câncer de mama e câncer de pulmão e bronco-pulmonar foi entre 6 e 9 anos inferior entre as pessoas que foram expostas à radiação e residentes em áreas próximas ao SNTS, do que entre o grupo de controle, ou seja, o diagnóstico era bem mais precoce nas pessoas expostas à radição e residentes em áreas próximas ao SNTS. A expectativa de vida entre o grupo exposto também foi bem inferior do que no grupo de controle;
  • Uma importante linha de pesquisa atual é analisar os efeitos sobre a saúde diante do grande número de descendentes de pessoas, que estavam expostas diretamente à radiação, e que continuam morando na região até hoje.

O Impacto Sobre o Meio-Ambiente e a Situação Atual


Após o encerramento da atividades no SNTS, em 1989, e a subsequente separação da União Soviética, o local foi oficialmente dissolvido pelo Ministério da Defesa da Rússia, em dezembro de 1993. O Cazaquistão estava em crise econômica e, segundo os especialistas entrevistados para estudo publicado pelo NUPI, ainda não era capaz de exercer controle sobre o vasto território do local de teste, para garantir a segurança em relação a radiação e restringir o acesso a objetos perigosos.

A principal "atração" do antigo campo de testes que está localizado em um sítio denominado "Balapan". O lago foi formado como resultado  ogiva termonuclear de 140 kT, em 1965. O mesmo possui 500 metros de diâmetro, e uma profundidade de 80 metros.
Foto do rio Chagan dentro do território do antigo campo de testes SNTS
Isso representou um problema sério, por duas razões básicas. Primeiramente, houve um alto nível de atividade econômica ilegal em meio a população local. Os metais roubados da infraestrutura do campo de testes nucleares, assim como outros materiais foram vendidos como sucata. Sabe-se que muitos dos envolvidos nessa atividade moravam nos locais onde os metais foram coletados. Eles beberam a água que saíam dos túneis e, presumivelmente, receberam doses substanciais de radiação. O registro e o controle em termos de saúde dessas pessoas foram, por razões óbvias, não conduzidos.

Em segundo lugar, o que restou do local dos testes nucleares era potencialmente perigoso não somente para os "catadores", e aqueles que compraram os metais radioativos. Havia túneis e poços com resíduos de plutônio, que era suficiente, se totalmente recuperado, para terroristas ou um até mesmo um país construir dezenas de bombas nucleares. Muito trabalho nesse sentido tem sido realizado, particularmente em cooperação com os Estados Unidos e a Rússia.

Cratera gerada por uma das explosões nucleares no SNTS
De acordo com o Instituto de Proteção Radiológica e Ecologia (IRSE), que faz parte do Centro Nuclear Nacional (NNC) da República do Cazaquistão, a área de testes não representa atualmente perigo para a população, exceto que sejam realizadas atividades "imprudentes" nas regiões mais contaminadas. Vale ressaltar nesse ponto que o IRSE é o instituto responsável pela administração, estudo e segurança do SNTS. Por mais que o IRSE espere que grande parte do território seja devolvido à comunidade, algumas das áreas mais contaminadas devem terminantemente fechadas e melhor protegidas.

O IRSE chegou a mencionar que as fronterias do SNTS foram determinadas pelos generais soviéticos na década de 1940, e não refletem as realidade atuais. Grande parte do território que pertence formalmente ao local de testes pode ser considerada "aceitável para utilização normal", porém algumas regiões localizadas fora da região de testes precisavam ser fechadas ao público e cuidadosamente monitoradas. De qualquer forma, havia planos para ajustar as fronteiras dos locais de teste para corresponder à situação real de radiação. As demais áreas devem ser protegidas e monitoradas, indefinidamente.

Curiosamente, animais conseguiram sobreviver aos efeitos do SNTS, porém o custo, sem dúvida alguma, foi muito alto
Uma fazenda experimental de gado funciona dentro do território do antigo campo de testes
De acordo com a IRSE, uma explicação da não-uniformidade da situação radioecológica na região é que diferentes tipos de radionuclídeos (plutônio, trítio, urânio, etc.) possuem características migratórias diferentes. Isso também torna importante distinguir entre diferentes tipos de riscos de exposição à radiação de diferentes elementos radioativos.

Existiam inúmeras áreas onde o acesso para animais de pasto e população precisavam ser restritos. Tratavam-se das zonas epicentrais dos campos de testes estudados, vestígios de precipitação radioativa e emissões resultantes de acidentes, áreas locais de contaminação por agentes de guerra radiológica (bombas "sujas" contendo misturas radioativas), a área do chamado "Lago Atômico", o rio Shagan, entre outras localidadades. Para vocês terem uma ideia, as pessoas que visitam o local frequentemente expressam surpresa pela falta de sinais de alerta e barreiras físicas aos locais altamente contaminados.

As Experiências Vivenciadas pela População Local: As Percepções dos Impactos dos Testes Nucleares


Uma vez que médicos tentam estabelecer os impactos sobre a saúde devido aos testes nucleares realizados no SNTS, e os cientistas nucleares tentam mapear o estado atual de contaminação radiológica, e tentam prever futuros desdobramentos, existe um outro aspecto importante das consequências humanitárias dos testes nucleares, que tende a ser ignorado: a própria experiência das pessoas, assim como a percepção sobre como aquilo afeta suas vidas e as vidas de seus entes queridos que foram afetados pelo SNTS. O bem-estar psicológico é uma parte importante da saúde de uma pessoa, e os sentimentos por ser uma vítima - independentemente da causa desse sentimento - são prejudiciais à qualidade de vida e à saúde.

O bem-estar psicológico é uma parte importante da saúde de uma pessoa, e os sentimentos por ser uma vítima - independentemente da causa desse sentimento - são prejudiciais à qualidade de vida e à saúde
Os pesquisadores já tentaram mapear as experiências de quem viveu perto do SNTS, no momento dos testes (em particular os testes atmosféricos realizados até 1962). Como exemplo, uma equipe japonesa de pesquisadores , ue já tinham estudado anteriormente essas questões em Hiroshima e Nagasaki conduziu uma série de questionamentos em dez vilarejos próximos do local de testes entre os anos de 2002 e 2004. O questionário continha perguntas sobre percepções sanitárias, efeito dos testes nucleares, assim como uma pergunta onde os entrevistados podiam descrever livremente suas próprias experiências dos testes nucleares, ou seja, as memórias do que os testes representaram em suas vidas.

Os resultados podem ser resumidos da seguinte forma:
  • Cerca de 93% dos entrevistados "de alguma forma experimentaram diretamente os testes nucleares", também em "vilarejos distantes a 200 km do hipocentro", algo que os pesquisadores japoneses atribuíram ao poder das bombas detonadas no SNTS;
  • Cerca de 90% dos entrevistados relataram ter visto um clarão, 70% sentiram a onda de choque produzida por uma bomba, 18% sentiram calor, 28% viram uma nuvem em formato de cogumelo, 16% mencionaram um "rugido ensurdecedor" e 7% se referiram a animais que perderam o pelo, uma típica lesão sub-aguda de radiação.
Os moradores deixaram muito claro que não tinham sido informados sobre a natureza dos testes, e nem mesmo dos riscos relacionados aos mesmos. Outros estudos também corroboram com esse quadro. Dois pesquisadores norte-americanos realizaram entrevistas na região:
Todos os moradores que estavam vivos durante os testes possuem memórias vívidas dos militares que apareceram nos vilarejos, desembarcando de helicóptero, na véspera de um teste para avisá-los de "exercícios militares" nas redondezas... As explosões nunca foram descritas como "testes nucleares" ou "bombas atômicas"... Muitos moradores disseram que, quando eram jovens, eles achavam que os testes eram divertidos e empolgantes, e eles raramente ouviam as instruções, tal como se deitar no chão, e evitar de olhar para as nuvens brilhantes no céu (Werner e Purvis-Roberts, 2005)
É importante notar que, quando testemunhas de testes nucleares contaram sobre suas experiências, eles estavam predominantemente preocupados com o impacto contínuo sobre seu corpo e sua saúde. Pesquisadores japoneses relataram, que 33% dos moradores sentiam que tinham uma saúde ruim ou muito ruim, e, significativamente, que 70% dos moradores reconheceram fortemente uma relação causal entre suas más condições de saúde e os testes nucleares. Os testemunhos de moradores locais contêm relatos de partir o coração em relação as vidas arruindas devido aos testes nucleares.

Pesquisadores japoneses relataram, que 33% dos moradores sentiam que tinham uma saúde ruim ou muito ruim, e, significativamente, que 70% dos moradores reconheceram fortemente uma relação causal entre suas más condições de saúde e os testes nucleares
Além disso, para melhor compreender as dificuldades suportadas pela população, que morava e ainda mora perto do SNTS, as suas experiências também devem ser entendidas no contexto de uma situação socioeconômica mais ampla. Após a dissolução da União Soviética, a economia do Cazaquistão quase desmoronou: a inflação atingiu valores de quatro dígitos, o desemprego era alto e o futuro não parecia nada promissor. Para a população nas regiões próximas do local de testes, as revelações no final da década de 1980, e início da década de 1990 sobre os testes nucleares, e seu impacto potencial sobre a sua saúde, acrescentou maior complexidade a uma situação já naturalmente desafiadora.

A questão que permanece é: Como pessoas humildes podem lutar contra algo que ninguém vê? Muitos moradores atribuem qualquer problema de saúde que tenham ao SNTS, mesmo que muitos médicos e cientistas digam que não tem nenhuma relação com os testes nucleares. Ainda que não tenha, o efeito pisicológico dos testes nucleares permanece vivo e ativo mesmo após décadas.

O Sistema Estatal de Apoio as Vítimas dos Testes Nucleares


O reconhecimento das consequências humanitárias dos testes nucleares em Semipalatinsk também foi institucionalizado: existe um sistema estatal para o reconhecimento da vitimização, e compensações e benefícios para aqueles definidos como afetados. Introduzido em 1992, esse esquema de apoio estatal exigia critérios elaborados para definir quem seria e quem não se qualificaria como uma "vítima" de testes nucleares.

O reconhecimento das consequências humanitárias dos testes nucleares em Semipalatinsk também foi institucionalizado: existe um sistema estatal para o reconhecimento da vitimização, e compensações e benefícios para aqueles definidos como afetados
O governo reconheceu oficialmente 1.323.000 pessoas como sendo negativamente afetadas pelos testes nucleares. Desse número, cerca de 1.057.000 pessoas receberam "passaportes radiológicos" (denominados como "poligonnoe udostoverenie"), que confirmaram oficialmente suas respectivas condições. Esse número, no entanto, não reflete necessariamente o número de pessoas afetadas pelos testes nucleares, uma vez que o principal princípio para o reconhecimento da vitimização, assim como o direito à indenização se limitava inicialmente as áreas próximas do local de testes.
"Assim como em casos semelhantes de desastres ambientais, houve discussões se as vítimas deveriam ser limitadas àquelas que desenvolveram certas condições médicas associadas à exposição à radiação ou se as vítimas deveriam ser definidas por residência permanente próxima do local dos testes, onde os níveis de exposição eram significativos. O governo do Cazaquistão decidiu seguir essa essa última opção e dividiu as "vítimas" em quatro subcategorias: risco mínimo; risco acima do mínimo; risco máximo; e risco extraordinário (Werner e Purvis-Roberts, 2007, página 474)"
Além dessas quatro categorias de área, alguns benefícios foram admitidos aos moradores do chamado "território de status socioeconômico privilegiado especial", definido por lei como uma área adjacente à área mínima de risco com uma dose baixa de radiação (medido ao longo de todo o período de testes nucleares), algo que, por outro lado, adicionava sérias tensões psicoemocionais negativas as pessoas que viviam nessas áreas. Até 1995, a residência era a única base para a compensação. Desde 1995, no entanto, a indenização pode ser concedida através de uma compensação adicional às pessoas com base em suas condições individuais de saúde.

Além dessas quatro categorias de área, alguns benefícios foram admitidos aos moradores do chamado "território de status socioeconômico privilegiado especial", definido por lei como uma área adjacente à área mínima de risco com uma dose baixa de radiação (medido ao longo de todo o período de testes nucleares)
Até 1995, a residência era a única base para a compensação. Desde 1995, no entanto, a indenização pode ser concedida através de uma compensação adicional às pessoas com base em suas condições individuais de saúde
Devido à situação econômica no Cazaquistão na década de 1990, o governo foi parcialmente incapaz de cumprir as suas obrigações e muitos tiveram de esperar anos antes de receberem a compensação a que tinham direito. Deve-se notar que, embora o programa de apoio estatal aparenta ser abrangente, também houve críticas em relação aos valores que foram pagos.

Os principais mecanismos oficiais para lidar com as consequências do SNTS baseiam-se na lei n.º 1787-Х11. A lei prevê as principais medidas destinadas a proporcionar benefícios sociais e proteção às pessoas que sofreram e ainda sofrem em decorrência das atividades do SNTS. Os artigos 10 e 11 definem as condições das pessoas submetidas aos testes nucleares e estabelecem critérios para a emissão de "passaportes radiológicos", indicando a qual das quatro categorias pertencem.
  • Compensão financeira em parcela única;
  • Uma pensão mais alta (em áreas de risco extraordinário e máximo de radiação);
  • Férias adicionais pagas , cuja extensão é definida pela "categoria de risco": área de risco extraordinário de radiação (14 dias); área de risco máximo de radiação (12 dias); área acima do risco mínimo de radiação (10 dias); área de risco mínimo de radiação (7 dias); território de status socioeconômico privilegiado especial (5 dias). A lei de 1992 continua especificando os distritos que pertencem a essas cinco áreas;
  • As mulheres que vivem em áreas expostas à radiação têm direito a uma licença de maternidade de até 170 dias (quando o parto não possui maiores complicações) e 184 dias (em caso de partos que exigem maiores cuidados ou múltiplos);
  • As crianças menores de 18 anos, que vivem em áreas expostas à radiação, têm direito a tratamento gratuito nos centros de saúde.
De qualquer forma, estão sendo discutidas mudanças no "sistema de compensação", uma vez que não se leva em consideração as pessoas que se deslocaram para áreas contaminadas depois de 1991.

A Recente Notícia Divulgada Pelo Site da Revista "New Scientist": A União Soviética Encobriu um Desastre Nuclear Muito Pior do que Chernobyl?


Agora que vocês conhecem um pouco mais sobre o que foi o Campo de Testes Nucleares de Semipalatinsk (SNTS), também conhecido como "O Polígono", chegou o momento de saber o que o site da revista "New Scientist" pode ter trazido ou não de novidade sobre esse assunto. Nós já sabemos que, em março de 1956, as consequências de um teste soviético de armas nucleares em Semipalatinsk, no Cazaquistão, envolveram a cidade industrial de Ust-Kamenogorsk, cuja população da cidade foi exposta a precipitação nuclear com doses de radiação tão altas, que causaram intoxicação por radiação aguda. Em resposta, a liderança soviética estabeleceu uma instituição médica especial e hospitalizou 638 pessoas, que sofreram de intoxicação por radiação.

Aparentemente, no entanto, a revista New Scientist teve acesso a um relatório recém-descoberto sobre uma "expedição científica" realizada por Moscou sobre a contaminação radioativa e todas as enfermidades correlaciondas a radiação nas estepes do Cazaquistão. O relatório de cientistas do Instituto de Biofísica de Moscou foi encontrado nos arquivos do Instituto de Radiologia Médica e Ecologia (IRME), da cidade de Semey, no Cazaquistão.

"Durante muitos anos isso foi mantido em segredo", disse Kazbek Apsalikov, diretor do instituto, que encontrou o relatório e repassou para a "New Scientist".

"Durante muitos anos isso foi mantido em segredo", disse Kazbek Apsalikov (na foto), diretor do instituto, que encontrou o relatório e repassou para a "New Scientist"
O relatório recentemente revelado, que descreve "os resultados de um estudo radiológico da região de Semipalatinsk", sendo marcado como "top secret", mostra pela primeira vez o quanto os cientistas soviéticos sabiam na época sobre o desastre em relação a saúde humana e a extensão do encobrimento. O mesmo detalha como os pesquisadores de Moscou, em três expedições a Ust-Kamenogorsk, se depararam com a contaminação radioativa difundida e persistente do solo, e também nos alimentos, além de cidades e vilarejos do Cazaquistão Oriental.

Um mês após a precipitação radioativa atingir Ust-Kamenogorsk, a radioatividade ainda era de 1,6 milirems por hora, cerca de 100 vezes o que o relatório considera como "taxa permitida", e o que é recomendado como "seguro" pela Comissão Internacional de Proteção Radiológica.

No mês seguinte, a expedição passou por divesos vilarejos. "Próximo de Znamenka, as substâncias radioativas que afetaram as pessoas e o meio ambiente caíram repetidamente por anos", diz o relatório. As consequências foram "perigosas para a saúde" e "mais graves e perigosas do que no distrito de Ust-Kamenogorsk".

Capa do relatório recém-descoberto, cujo conteúdo completo ainda não foi divulgado publicamente
As descobertas coincidem com os relatórios anteriores do "caminho percorrido" das nuvens de precipitação. Em 2002, Konstantin Gordeev, do Instituto de Biofísica de Moscou, publicou um mapa mostrando que em 24 de agosto de 1956 uma nuvem percorreu diretamente Znamenka e Ust-Kamenogorsk. Anteriormente, um teste realizado em 12 de agosto de 1953 gerou e enviou uma nuvem até Karaul, cuja expedição de 1956 relatou ter conseqüências, que eram ainda "perigosas à saúde" três anos depois.

Um dos resultados das expedições científicas foi o estabelecimento de uma instituição médica especial conhecida como um "Dispensário", sob o controle de Moscou, que era encarregada de rastrear a radiação e seus efeitos em relação a saúde da população. Eventualmente, houve um registro de cerca de 100.000 pessoas expostas aos testes nucleares e seus filhos.

"A instalação ficou conhecida por muito tempo como o 'Dispensário Anti-Brucelose nº4'. O nome foi escolhido com o objetivo não chamar a atenção sobre sua real atividade, que foi classificada como sendo sigilosa até 1991", disse Kazbek Apsalikov.

Em alguns locais houve uma temperatura e uma pressão tão alta,
que estruturas de concreto simplesmente derreteram
Quando a União Soviética entrou em colapso em 1991, o "Dispensário" transformou-se  no IRME. Contudo, de acordo com seu atual chefe, Boris Gusev, que chegou a trabalhar no "Dispensário nº4" em 1962, muitos dos relatórios mantidos nos arquivos foram levados para Moscou ou destruídos antes da entrega. Ele disse que um dos relatórios registrou que 638 pessoas foram "hospitalizadas com intoxicação por radiação", na cidade, após o teste de 1956. Isso teria sido cerca de quatro vezes mais do que os 134 casos diagnosticados após o acidente de Chernobyl. Ninguém sabe até hoje quantas pessoas morreram.

Memorial erguido em homenagem às vitimas do STNS
O relatório recentemente revelado das expedições em 1956 e 1957 foi um dos poucos a escapar dos censores soviéticos, que destruíram ou transferiram outros relatórios do país. O mesmo encontrou "considerável contaminação radioativa do solo, cobertura vegetal e alimentos", na região leste do Cazaquistão. As amostras de fezes coletadas das pessoas de uma fazenda ao sul de Ust-Kamenogorsk continham altos níveis de radioatividade, que não eram mais detectáveis entre dois e cinco dias após pararem de comer alimentos locais e trocar para alimentos importados.

Por outro lado, o relatório também minimizou os perigos, dizendo que diversas mudanças no sistema nervoso das pessoas e do sangue registrado pelos médicos, "não poderiam ter surgido apenas devido ao impacto da radiação ionizante". Em vez disso, o mesmo culpava o saneamento deficiente, uma "dieta pobre" e diversas doenças, como brucelose e tuberculose.

Especialistas do IRSE dizem que o a água do "lago atômico" de Chagan está limpa, e que até mesmo peixes podem ser encontrados no local, porém as margens do lago possuem níveis alarmantes de radiação, cerca de 114 vezes maiores do que o normal
"Apesar dos testes atmosféricos terem cessado em 1962, e muitas das áreas serem seguras para se morar, algumas outras jamais retornarão à natureza. Em outras a situação é incerta e potencialmente perigosa", disse Kazbek Apsalikov.

Roman Vakulchuk, pertencente ao Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais brindou a nova divulgação do Cazaquistão sobre essa questão. Segundo ele, o relatório é o primeiro registro contemporâneo de pesquisa sobre os efeitos dos testes em populações locais, visto que até 1956, o governo soviético não havia conduzido estudos.

"Grande parte da região não apresenta perigo, mas algumas partes precisam ser protegidas indefinidamente", disse Roman Vakulchuk, acrescentando que ainda há incerteza sobre a extensão da contaminação contínua e os impactos sobre a saúde das pessoas.

Comentários Finais


Enfim, AssombradOs, apesar de termos bons estudos sobre os impactos das detonações de bombas nucleares no Campo de Testes Nucleares de Semipalatinsk (SNTS) continua sendo muito difícil saber a real dimensão do que aconteceu, principalmente durante a época dos testes nucleares considerados atmosféricos. Os documentos oficiais referentes ao SNTS foram praticamente destruídos por aqueles que com certeza sabiam o que estavam fazendo e que, além de não dar a mínima para a população, provavelmente usaram as pessoas como cobaias, para ver de perto o efeito que aquilo poderia causar na região, assim como em suas vidas. Quem sabe o mais recente relatório consiga trazer mais respostas se, e quando, for liberado ao público.

Igualmente é difícil comparar tragédias humanas e dizer se essa ou aquela é quatro, dez ou cem vezes pior do que outra. Vidas foram perdidas, registros de pessoas desapareceram, sequelas permaneceram para sempre na memória e no corpo de pessoas inocentes, e dinheiro nenhum do mundo pode ressarcir essas pessoas. O cálculo feito pela "New Scientist"é extremamente simplório, baseado apenas em um pequeno grupo de pessoas. A tragédia é bem maior do que isso, afetou um território imenso, prejudicou a vida de 2 milhões ou mais de pessoas, sendo que isso é pouco mencionado. Chernobyl ganhou fama internacional, provavelmente porque estava perto demais da Europa. Já o SNTS e as quase 500 bombas atômicas ou termonucleares passaram desapercebidas. Um silêncio que calou vozes, mas que nunca será esquecido.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://io9.gizmodo.com/5988266/the-tragic-story-of-the-semipalatinsk-nuclear-test-site
http://large.stanford.edu/courses/2014/ph241/powell2/docs/vakulchuk.pdf
http://nuclearweaponarchive.org/Russia/Sovwpnprog.html
http://www.businessinsider.com/photos-of-secret-soviet-sites-where-radiation-was-tested-on-unsuspecting-russians-2014-9
http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-4346408/Russia-covered-nuclear-disaster-worse-Chernobyl.html
http://www.edouphoto.com/index.php?/project/under-a-nuclear-cloud/
http://www.voxpopuli.kz/main/484-cemipalatinskiy-poligon-20-let-spustya.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Semipalatinsk_Test_Site
https://link.springer.com/article/10.1007/s00411-009-0235-y
https://www.newscientist.com/article/2125202-exposed-soviet-cover-up-of-nuclear-fallout-worse-than-chernobyl/
https://www.researchgate.net/publication/11358033_Fallout_from_nuclear_tests_Dosimetry_in_Kazakhstan

Conheça a "Operação ID": Um Triste Legado Deixado Por Aqueles que Morreram ao Cruzar a Fronteira dos Estados Unidos com o México

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Por Marco Faustino

Provavelmente, vocês devem estar acostumados a ouvir sobre a crise humanitária envolvendo refugiados na Europa, quase que diariamente, nos noticiários ou sites de notícias, não é mesmo? No entanto, alguns pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, consideram que também esteja havendo uma crise humanitária na fronteira com o México. Pode até parecer irrelevante perante o que vem acontecendo na Europa, mas particularmente considero que cada vida importa, e encontrei informações muito interessantes nesse aspecto. Aliás, vocês já pararam para pensar o que acontece com os corpos das pessoas que morrem e não conseguem efetivamente alcançar o chamado "sonho americano"? É importante ressaltar que nem todos conseguem sobreviver a travessia, principalmente na mão inescrupulosa dos coiotes, e no calor escaldante e sufocante do deserto. São dezenas e centenas de pessoas de pessoas que muitas vezes são encontradas apenas com objetos básicos de higiene, uma imagem de seu santo protetor e uma oração escrita a mão em uma folha de papel amarelada. Vidas são decompostas diariamente em troca do sonho de uma vida melhor.

Em 1994, a Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos (USBP) adotou a política "Prevenção por Dissuasão" como a estratégia operacional para garantir a integridade da fronteira dos Estados Unidos com o México. Essa estratégia desencorajou os cruzamentos migratórios em áreas populosas, que eram relativamente seguras e, em vez disso, forçaram os imigrantes a atravessar áreas mais remotas e perigosas. Como resultado, foi criado um efeito de funil, que levou a um aumento nas apreensões e mortes de imigrantes. Em 2000, como resultado da "Prevenção por Dissuasão", as taxas de mortalidade dos imigrantes começaram a aumentar. Entre 1990 e 1999, 129 mortes ocorreram ao longo da fronteira entre o estado norte-americano do Arizona e o México, em contraste com as 802 mortes que ocorreriam nos cinco anos seguintes. Embora as estratégias de USBP tenham historicamente o objetivo de parar os imigrantes antes de entrarem nos Estados Unidos, ainda persiste o problema de que a imigração e a morte continuam, criando uma crise humanitária na fronteira entre os dois países. Até 2012, a maioria das mortes de imigrantes ilegais ocorria no Arizona, apesar da fronteira entre o Texas e o México abranger cerca de 2.000 km de um total de quase 3.000 km de fronteira terrestre. No entanto, em 2012 o Texas ultrapassou o Arizona em número de mortes, com a maioria ocorrendo no Vale do Rio Grande, e mais especificamente no Condado de Brooks.

É interessante ressaltar nesse ponto que o Condado de Brooks possui o maior número de mortes de imigrantes não documentadas a cada ano (80 em 2011, 129 em 2012 e 87 em 2013), sendo que essas essas mortes ficam sob a jurisdição da "Justiça de Paz". Quando qualquer indivíduo morre e as circunstâncias em torno de sua morte são desconhecidas, o Código de Procedimentos Penais  do Texas exige um exame forense, a coleta de amostras de DNA e o envio da papelada para um banco de dados de pessoas não identificadas ou desaparecidas. No entanto, devido ao alto volume de mortes e falta de recursos do condado, o mesmo começou a enterrar imigrantes sem documentação, sendo que a maioria sem análises adequadas ou sem coletar amostras de DNA. Resumindo? Deixando poucas chances de que esses indivíduos retornassem as suas famílias, que por sua vez ficariam sem saber o que aconteceu com um filho, uma filha, uma mãe, um pai, um irmão ou uma irmã. Assim sendo, surgiu um grande movimento reunido algumas universidades para exumar esses corpos, preparar seus restos mortais para análises e finalmente tentar identificá-los. Um processo longo, demorado mas que vem gerando resultados positivos. As pessoas algumas vezes têm dificuldade em entender a razão pelas quais as famílias daqueles morrem em desastres investem tanto na recuperação de seus corpos. É justamente quando os restos mortais de seus entes queridos são devolvidos as famílias, que a experiência mais intensa em relação a morte começa. Vamos saber mais sobre esse assunto?

OBS: Essa matéria possui imagens que podem ser um pouco pesadas, principalmente em relação as pessoas mais sensíveis. Nem todas as imagens disponíveis foram publicadas, porém outras eram praticamente inevitáveis e inerentes ao tema abordado.

Entenda a Situação: A Origem da "Operação ID"


Não há muito para ser deixado para trás: um pente, artigos básicos de higiene, uma faca de bolso, um par de meias, dois aneis, um crucifixo e um santinho. Tudo isso foi encontrado em uma mochila desbotada, enterrada em meio sujeira. Porém, em meio a essa escassa coleção de bens pessoais, pode haver alguma pista que ajude a dar nome a um corpo que foi encontrado. Por enquanto, ele ou ela é simplesmente o caso nº 0435, apenas um dos 226 casos que estão sendo investigados no Centro de Investigação de Antropologia Forense no Estado do Texas (FACT), como parte da "Operação ID", um esforço forense quase homérico para identificar os corpos de supostos imigrantes.

Não há muito para ser deixado para trás: um pente, artigos básicos de higiene, uma faca de bolso, um par de meias, dois aneis, um crucifixo e um santinho. Por enquanto ele ou ela é simplesmente o caso nº 0435, apenas um dos 226 casos que estão sendo investigados no Centro de Antropologia Forense no Estado do Texas (FACT), como parte da "Operação ID"
Os corpos são meramente as "baixas" dos traficantes de seres humanos, também conhecidos como coiotes, que são pessoas cruéis, contrabandistas que pegaram o dinheiro dessas pessoas diante da promessa de ajudá-los a escapar da Patrulha da Fronteira, com o objetivo de entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Então, eles deixam para trás os corpos dos imigrantes quando os mesmos morrem ao caminharem no calor fustigante do deserto.

A "Operação ID" está sendo conduzida pelo laboratório FACT, na cidade de San Marcos, no Texas, e uma correspondente do tabloide britânico DailyMail (no qual chamarei apenas de DM no decorrer dessa postagem) teve acesso ao que vem sendo feito em relação a esse triste legado deixado por aqueles que não conseguiram efetivamente cruzar a fronteira dos Estados Unidos com o México.

Na parte externa do laboratório, no entanto, existe um outro lado do trabalho da FACT: uma instalação "macabra" conhecida como "fazenda de corpos", onde os antropólogos forenses na vanguarda da pesquisa disciplinar tentam descobrir o que o corpo de uma pessoa pode revelar sobre a mesma, e como e quando essas pessoas morreram.

Estudantes na FACT ("Forensic Anthropology Research Facility" ou "Centro de Investigação de Antropologia Forense"), na cidade de San Marcos, no Texas, limpando os ossos de um esqueleto. Vale lembrar que o FACT é parte da "Operação ID", um esforço surpreendente para identificar os corpos de supostos imigrantes ilegais
Os corpos são meramente as "baixas" dos traficantes de seres humanos, também conhecidos como coiotes, que são pessoas crueis, contrabandistas que pegaram o dinheiro dessas pessoas diante da promessa de ajudá-los a escapar da Patrulha da Fronteira, com o objetivo de entrar ilegalmente nos Estados Unidos
O projeto para identificar os imigrantes começou devido à grande quantidade de pessoas que estavam morrendo ao tentar atravessar ilegalmente a fronteira. Muitos imigrantes morrem no Condado de Brooks, que é conhecido localmente como "Vale da Morte", uma vez que a segurança reforçada no corredor Sudoeste e a fronteira com o estado do Arizona tem feito com que os imigrantes se desloquem para a região Sul do Texas.

Imagem do Google Maps mostrando a localização do Condado de Brooks, no estado norte-americano do Texas
Os oficiais pertencentes a Patrulha da Fronteira constantemente buscam por imigrantes ilegais,
sendo que muitas vezes encontram os corpos que acabam parando nas mãos da "Operação ID"
A tentação de atravessar a fronteira 110 quilômetros ao sul do FACT, que é demarcada pelo Rio Grande,
é principalmente devido a vastidão do território, praticamente vazio, mas que ao mesmo tempo traz seus próprios riscos
Em entrevista ao DM, Urbino "Benny" Martinez, 60 anos, xerife do Condado de Brooks revelou que seu escritório recuperou cerca de 454 corpos de pessoas que tentaram atravessar a fronteira desde 2009. Somente nesse ano, ele já encontraram 17 corpos. O próprio xerife se deparou com um crânio humano, ainda com resquícios de cabelo, em meio ao deserto, e procurou por demais restos mortais nas áreas adjacentes.

"Isso faz você pensar ao encontrar uma coisa como essa. Chamo isso de 'morrer sem esperança'. Essas pessoas sabem que estão morrendo, e não há ninguém lá fora. É apenas uma questão de quando elas irão dar o último suspiro. Acho que chega um momento em que elas desistem", disse Benny Martinez.

Em entrevista ao DM, Urbino "Benny" Martinez, 60 anos, xerife do Condado de Brooks revelou que seu escritório recuperou cerca de 454 corpos de pessoas que tentaram atravessar a fronteira desde 2009. Somente nesse ano, ele já encontraram 17 corpos.
A "Operação ID" foi criada para identificar os corpos de supostos imigrantes recuperados em uma série de exumações, a maioria realizada no Cemitério do Sagrado Coração, na cidade de Falfurrias, sede do Condado de Brooks, no Texas. Antes do xerife Martinez assumir o cargo, os corpos de imigrantes ilegais estavam sendo enterrados nesse mesmo cemitério sem que fossem realizados exames de DNA, assim como toda a documentação exigida por lei. Dessa forma, era impossível descobrir quem eram essas pessoas.

"Em 2009, tive um caso em que dois países diferentes estavam tentando reivindicar um corpo. Descobri que eles estavam se baseando apenas por fotos. Nenhum DNA tinha sido coletado", continuou. O xerife Martinez logo descobriu que aquela não era um caso isolado, mas, infelizmente, uma prática generalizada.

"O que está errado, está errado. Depois de 37 anos na aplicação da lei, você não foge de um erro. Você se depara com ele e tenta consertar a situação", completou.

A "Operação ID" foi criada para identificar os corpos de supostos imigrantes recuperados em uma série de exumações, a maioria realizada no Cemitério do Sagrado Coração, na cidade de Falfurrias, sede do Condado de Brooks, no Texas
Assim sendo, o xerife Martinez reuniu pesquisadores de Baylor, Indianápolis e universidades estaduais do Texas para fazer exatamente isso. As exumações começaram em 2013 e reveleram como as partes dos corpos de diferentes pessoas foram simplesmente jogadas em caixões bem simples, diversos corpos foram "empilhados" em túmulos solitários, e alguns até mesmo foram enterrados apenas em sacos plásticos.

De qualquer forma, isso foi apenas o começo para os antropólogos forenses.

Os Procedimentos Adotados na "Operação ID"


Primeiramente, são retiradas as roupas dos corpos e posteriormente os resquícios de carne dos mesmos. É um procedimento inicial um pouco sombrio, mas necessário, no qual os corpos são colocados em grandes caldeirões de aço e literalmente fervidos na água. Então, os estudantes meticulosamente limpam e rotulam cada osso. Por mais estranho que possa parecer, as verdadeiras pistas sobre a identidade de uma pessoa não estão em sua carne decomposta, mas na estrutura esquelética abaixo da mesma.

Pode demorar até duas semanas para limpar um único esqueleto para deixá-lo pronto para a análise forense que, em seguida, realiza procedimentos para determinar a idade, sexo, as condições de saúde e sua respectiva ancestralidade, ou seja, de onde eles eram.

Primeiramente, são retiradas as roupas dos corpos e posteriormente os resquícios de carne dos mesmos. É um procedimento inicial um pouco sombrio, mas necessário, no qual os corpos são colocados em grandes caldeirões de aço e literalmente fervidos na água
Então, os estudantes meticulosamente limpam e rotulam cada osso. Por mais estranho que possa parecer, as verdadeiras pistas sobre a identidade de uma pessoa não estão em sua carne decomposta, mas na estrutura esquelética abaixo da mesma
O Dr. Timothy Gocha, 32 anos, responsável pela "Operação ID", e que trabalha sobre a direção da Dra. Kate Spradley, descreveu a situação como uma crise humanitária que escondem da população. Quando ele e seus pesquisadores retornaram ao cemitério do Sagrado Coração em janeiro, ele pensou que seria sua última vez. Eles planejavam exumar apenas sete corpos. Eles voltaram com cerca de 27 corpos, e com a certeza de que sua missão em Falfurrias, estava longe de terminar.

As caixas de ossos: Uma vez que cada osso é rotulado, os restos mortais são colocados em uma caixa de papelão,
e armazenados em uma espécie de grande banco de dados de esqueletos
"Embora nosso foco esteja na identificação desses indivíduos, quanto mais estudamos, mais começamos a acumular um branco de dados e tendências de indivíduos hispânicos versus brancos ou negros. Historicamente, tem havido pouquíssima pesquisa sobre a população hispânica", disse o Dr. Timothy Gocha.

Confira também um vídeo publicado em um canal de terceiros, no YouTube, mostrando o Dr. Timothy Gocha explicando todos esses procedimentos (em inglês):



As características individuais e o estudo dentário são anotados, sendo que os detalhes são inseridos no Sistema Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Identificadas (NamUs), e cruzados com relatórios de recuperação dos corpos, que já estão em posse da equipe. Os resultados de DNA, que podem levar até 10 meses para ficarem prontos, devido ao repasse ínfimo de recursos financeiros provenientes do governo estadual e federal ao laboratório, são inseridos no CODIS (acrônimo em inglês para "Combined DNA Index System", que por sua vez contém DNA de famílias e restos mortais não identificados). Informações circunstanciais, vestimentas e bens pessoas, ajudam a estreitar a lista de possíveis correspondências.

O Dr. Timothy Gocha no depósito onde são guardadas as caixas de papelão contendo os ossos dos supostos imigrantes ilegais. As caixas plásticas, no entanto, guardam os pertences que foram encontrados juntamente com os corpos
O Dr. Timothy Gocha a morte dos imigrantes ilegais,
que tentam cruzar a fronteira com os Estados Unidos como uma "crise humanitária"
O Dr. Timothy Gocha segurando o crânio da vítima mais jovem que possuem, e que sua equipe vem tentando identificar. Os restos mortais pertencem a uma criança com idade entre 12 e 14 anos, tornando-a muito jovem para saber com exatidão qual era seu sexo.
Até agora, o Dr. Timothy Gocha e sua a equipe identificaram apenas 21 imigrantes. Uma mulher foi identificada pelo desenho feito por uma criança, e uma oração escrita à mão que ela carregava com ela no momento de sua morte. Todos foram ou serão repatriados para o seu país de origem.

Um técnico de laboratório é designado para examinar os pertences de cada suposto imigrante ilegal,
ajudando assim a determinar o país de origem dessa pessoa
Os imigrantes ilegais que tentavam atravessar a fronteira com os Estados Unidos levavam seus pertences mais preciosos,
incluindo uma representação da Virgem Maria
Uma oração escrita a mão dedicada a São Miguel Arcanjo foi encontrada entre os pertences de uma pessoa. No texto é possível ler: "São Miguel Arcanjo, defende-nos na batalha. Seja nossa proteção contra a maldade e nas armadilhas do Diabo. Que Deus o repreenda, humildemente oramos. E tu, ó Príncipe da Hoste Celestial, pelo poder de Deus, enviou Satanás para o inferno e todos os outros espíritos malignos que buscam pela perdição das almas. Arcanjo, proteja o Equador e sua Igreja. Proteja o Papa para que possamos ver o glorioso triunfo do coração imaculado de Maria"
"Não acho que seja difícil ter empatia com esses casos. Existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas que diz que todos têm o direito de serem reconhecidos como uma pessoa perante a lei e, em suma, porque são supostos imigrantes, o fato é que, historicamente, eles não vinham recebendo o mesmo tratamento. Eles não estavam sendo investigados cientificamente, as amostras de DNA não estavam sendo coletadas, e eles estavam sendo enterrados sem chance alguma de serem identificados. Na prática, a condição humana, e quem eles eram, estava sendo apagada", continuou.

"Quando analisamos, procuramos por sinais de trauma. Se alguém tivesse sido baleado ou atingido na cabeça com um objeto pontiagudo ou esfaqueado, veríamos evidências disso no tecido esquelético. Porém, em mais de 100 de casos que dei uma olhada no ano passado, não vi qualquer evidência de trauma. Provavelmente, esses indivíduos morreram devido a exposição ao calor e por desidratação. Eles tentam caminhar pelo deserto e acabam sucumbindo", completou.

A busca pela verdadeira identidade dos imigrantes, no entanto, é apenas parte da missão do FACT.

A "Fazenda de Corpos" Pertencente ao FACT: O Destino Final e Voluntário para Dezenas de Pessoas


Existe apenas um pequeno refrigerador no laboratório da "Operação ID" e, dessa forma, em um lembrete visual do que poderia ser, caso fossem deixados do lado de fora para apodrecer, os corpos de seis ou mais supostos imigrantes aguardam serem processados em sacos plásticos dentro de uma gaiola de arame do Racho Freeman, na parte externa da instalação de pesquisa, também conhecida como "fazenda de corpos".

Essa é apenas uma das seis instalações semelhantes nos Estados Unidos, e a maior do mundo, com cerca de aproximadamente 60 corpos espalhados, escondidos e enterrados em 21 acres (cerca de 85.000 m²) de um total de 4.200 acres (cerca de 17.000.000 de m²) do rancho. Duas outras receberam autorização para funcionar, uma no estado norte-americano do Michigan e mais uma na Flórida. O FACT em si, atualmente, está em processo de expansão do próprio laboratório, saindo de um espaço de 300 m² para um total planejado de 1.200 m².

Existe apenas um pequeno refrigerador no laboratório da "Operação ID" e, dessa forma, em um lembrete visual do que poderia ser, caso fossem deixados do lado de fora para apodrecer, os corpos de seis ou mais supostos imigrantes aguardam serem processados em sacos plásticos dentro de uma gaiola de arame do Racho Freeman
E, embora seja um fim de viagem trágico para os supostos imigrantes, os doadores, cujos corpos se decompõe em torno deles, escolheram aquele local como seu lugar de descanso final. É muito importante ressaltar nesse ponto, que os corpos de imigrantes apenas aguardam serem processados na parte externa do laboratório. Eles não são deixados indefinidamente na "fazenda de corpos".

"Aceitamos dois tipos de doadores. Doadores vivos que fazem pré-inscrição conosco e doações de parentes próximos. A única condição é que eles não sejam parentes distantes da pessoa", disse o Dr. Daniel Wescott, 52 anos, diretor do FACT desde 2011.

"O objetivo da Operação ID é identificar e repatriar, nosso objetivo é puramente investigativo. Armazenamos os corpos associados à Operação ID, mas não os estudamos", continuou.

"Aceitamos dois tipos de doadores. Doadores vivos que fazem pré-inscrição conosco e doações de parentes próximos. A única condição é que eles não sejam parentes distantes da pessoa", disse o Dr. Daniel Wescott, 52 anos, diretor do FACT desde 2011
Assim sendo, enquanto os supostos imigrantes encontram-se em sacos plásticos, todos os corpos ao redor deles são cuidadosamente colocados de acordo com o protocolo do estudo particular que fazem parte. Alguns estão nus, porém outros estão vestidos. Alguns são protegidos por gaiolas, mas outros são deliberadamente deixados à mercê dos abutres que simplesmente devoram seus restos mortais.

A poucos metros da entrada, que possui uma segurança reforçada, um corpo - ou o que resta dele - jaz com pernas esticadas, e a carne dilacerada, uma situação muito além de qualquer tentativa de reconhecimento. A pele se parece mais com um resquício de lona molhada, que acabou escorregando a partir do objeto que encobria o corpo, do que algo humano. É possível notar um braço alguns metros do tronco. Também é possível ver um crânio um pouco depois disso. O corpo se encontra no local desde novembro, como parte de um estudo de abutres.

"Estava vestido quando o colocamos aqui. Os abutres fizeram tudo isso", disse o Dr. Daniel Wescott, acrescentando que alguns doadores pedem para serem devorados pelos abutres.

A poucos metros da entrada, que possui uma segurança reforçada, um corpo - ou o que resta dele - haz com pernas esticadas, e carne dilacerada, uma situação muito além de qualquer tentativa de reconhecimento
Estava vestido quando o colocamos aqui. Os abutres fizeram tudo isso", disse o Dr. Daniel Wescott, acrescentando que alguns doadores pedem para serem devorados pelos abutres.
"Alguns pedem para não serem enterrados. Temos um homem que queria estar com seus cachorros. Assim sendo, quando seus cães morreram sua esposa os trouxe para nós. Outro queria estar com seu celular. Tanto quanto possível, tentamos honrar os desejos de uma pessoa", continuou.

A riqueza de informações coletadas a partir do trabalho realizado no FACT e seu impacto sobre os mecanismos de aplicação da lei não podem ser subestimadas. A instalação realiza ao menos 15 workshops por ano nesse sentido, assim como realiza o treinamento de cães especializados no farejamento de corpos. Em um exercício prático, os oficiais são desafiados a encontrar onde os corpos foram enterrados. Aliás, uma vegetação exuberante cresce no local onde os corpos permanecem, em constraste com a vegetação que os cerca.

"Quando o corpo se decompõe, passa por várias etapas básicas: inchaço, purgação e, em seguida, entra em um avançado processo de decomposição, quando perde massa. Quando o corpo expurga os fluidos, inicialmente mata toda a vegetação, eles possuem uma alta concentração de nitrogênio e ácidos. Porém, após algum tempo, eles agem como fertilizantes", explicou o Dr. Daniel Wescott.

"Quando o corpo se decompõe, passa por várias etapas básicas: inchaço, purgação e, em seguida, entra em um avançado processo de decomposição, quando perde massa. Quando o corpo expurga os fluidos, inicialmente mata toda a vegetação, eles possuem uma alta concentração de nitrogênio e ácidos. Porém, após algum tempo, eles agem como fertilizantes", explicou o Dr. Daniel Wescott
O Dr. Daniel Wescott também apontou para uma fileira de corpos que se encontra em diversos estágios de decomposição debaixo das gaiolas. Alguns estão cercados pelo que ele diz que é conhecido como o "donut" de vegetação exuberante. Já outros, que foram mais recentemente colocados, encontram-se numa ilha de terra queimada, conhecida como "ilha de decomposição de cadáveres". Em uma outra parte alguns túmulos foram cavados, um do lado do outro, com um corpo colocado em cada um dos túmulos, e posteriormente preenchidos com terra. O resultado é um miscelânea exuberante de vegetação, revelando exatamente onde os corpos foram enterrados.

Confira também um vídeo publicado em um canal de terceiros, no YouTube, mostrando o Dr. Daniel Wescott apresentando algumas áreas da "Fazenda de Corpos" (em inglês, mas vale muito a pena ver para vocês terem uma noção mais real do ambiente):



"Isso acontece boa parte das vezes, quando se procura por um corpo desaparecido. Se o mesmo tiver sido enterrado, essa pode ser a única pista", continuou.

Pesquisadores de todas as partes do mundo vão até a "Fazenda de Corpos" para estudar. Atualmente, um desses pesquisadores está observando o impacto gerado quando um corpo é ocultado. Em cinco cenários possíveis, o corpo é colocado debaixo de um colchão, de alguns "pallets", papelão, pneus e escovas.

Pesquisadores de todas as partes do mundo vão até a "Fazenda de Corpos" para estudar. Atualmente, um desses pesquisadores está observando o impacto gerado quando um corpo é ocultado
Em cinco cenários possíveis, o corpo é colocado debaixo de um colchão, de alguns "pallets", papelão, pneus e escovas.
A riqueza de informações coletadas a partir do trabalho realizado no FACT e seu impacto sobre os mecanismos de aplicação da lei não podem ser subestimadas. A instalação realiza ao menos 15 workshops por ano nesse sentido, assim como realiza o treinamento de cães especializados no farejamento de corpos
A ausência de qualquer cheiro pungente de morte em toda a fazenda é tão surpreendente quanto notável. É detectável apenas a partir de um corpo inchado e infestado de moscas sob uma pilha de pneus, justamente um dos mais recentes corpos adicionados a fazenda. Alguns dos corpos, diga-se de passagem, estão no local há alguns meses, já outros estão há alguns anos. Bandeiras vermelhas marcam as posições de todos os restos mortais, incluindo um dos primeiros doadores da instalação, que foi enterrado por lá em 2008.

Todos são eventualmente removidos, uma vez que o estudo de seus corpos, do solo ao redor dos mesmos ou a vida insetívora que os colonizaram cesse ou se torne infrutífera. Então, assim como acontece com os supostos imigrantes, o esqueleto é limpo, cada osso é rotulado, os restos mortais são colocados em uma caixa de papelão e armazenados em uma espécie de grande banco de dados de esqueletos.

A ausência de qualquer cheiro pungente de morte em toda a fazenda é tão surpreendente quanto notável.
É detectável apenas a partir de um corpo inchado e infestado de moscas.
Caixas de papelão no depósito do FACT contendo os restos mortais dos doadores.
Os ossos são devidamente armazenados após serem removidos da "Fazenda de Corpos"
O esqueleto mais novo na coleção do Dr. Daniel Wescott é de um feto de apenas 27 semanas. Já o mais velho é de um doador de 102 anos de idade. Ele explicou que existem certos aspectos de um esqueleto, que eles descobriram ser tão únicos quanto uma impressão digital. De acordo com o Dr. Wescott, quando ele começou seus estudos, a maior parte do seu trabalho estava em identificar um corpo através do estudo de seu esqueleto. As rupturas do osso, a artrite, as junções fundidas, as diferentes formas referentes aos impactos do peso de uma pessoa no desgaste, e até mesmo no desenvolvimento do osso, servem como base para construir a imagem de uma pessoa. Equipamentos de alta tecnologia ajudam no reconstrução do crânio e até mesmo facial.

"Atualmente, a maioria das pessoas é identificada através do DNA. No entanto, na maioria dos casos forenses, já identifiquei a pessoa muito antes dos resultados dos testes de DNA ficarem prontos", disse o Dr. Daniel Wescott.

Uma parte da "Fazenda de Corpos" abriga um projeto sueco sobre antigas práticas funerárias.
Nesse local, no interior da gaiola, foi colocado um corpo em uma posição fetal em uma cova a céu aberto
Enfim, para terminar, é interessante dizer que para o Dr. Timothy Gocha e a equipe da "Operação ID", tudo isso se resume a dar de volta a identidade, o nome, e a condição humana aos imigrantes, reconstruindo suas vidas a partir de seus ossos, e entregando-os para suas famílias. E, enquanto o xerife Martinez luta para conter a implacável onda de imigrantes ilegais nesse verdadeiro epicentro da morte, o Dr. Timothy Gocha e sua pequena equipe tentam trazer algum desfecho às centenas de famílias, cujos entes queridos partiram em uma viagem, na qual nunca mais voltariam.

Comentários Finais


Falar sobre fronteiras é sempre uma questão polêmica, afinal de contas os países possuem autonomia para decidirem quem entra e as condições ou critérios para esse ingresso. Para isso servem os acordos diplomáticos, as embaixadas que atuam como se fosse um pequeno território estrangeiro dentro de cada país etc. Tudo isso, é claro, na base da cordialidade, visto que muitos países lucram com o turismo, que por sua vez fomenta e aquece mercados locais, entre outros fatores que eu ficaria aqui horas falando para vocês. A grande verdade é que existe todo um ciclo de benefícios muito além do que uma simples visita individual, seja a trabalho, estudos ou lazer. O grande problema começa quando essa imigração começa a afetar o mercado de trabalho local, desvalorizando a mão de obra e prejudicando pessoas que já estavam no mercado de trabalho há anos ou que tentam entrar novamente em um mercado de trabalho desaquecido. Além disso, precisamos ponderar que, no caso de uma imigração desenfreada, desordenada e ilegal, entram no país pessoas que não passaram por nenhum tipo de avaliação, nenhum critério ou identificação, ou seja, podem ser criminosos, estupradores, traficantes de drogas ou terroristas. Se uma pessoa espera por semanas até fazer uma entrevista, consegue passar por ela, recebe um visto, ainda que de turismo, até finalmente poder fazer a viagem dos sonhos, por que uma pessoa que paga valores exorbitantes, mais de 50 mil reais para entrar ilegalmente em um país, deve ser considerada especial ou receber condições melhores daquelas que se esforçam, estudam, se dedicam e geram renda nos países que decidiram adotar como novo lar? Por que temos que vê-las como vítimas se usaram uma grande quantia, que poderiam usar no estudo e quem sabe conseguir uma bolsa ou uma pós-graduação em uma universidade no exterior?

Por outro lado, quanto vale uma vida? Podemos realmente colocar um preço? Infelizmente, o drama que acontece diariamente na fronteira dos Estados Unidos com o México é real, e muitas vezes passa desapercebido diante da crise humanitária que está acontecendo na Europa. Um muro nunca resolveu e nunca vai resolver absolutamente nada. O foco deveria ser mais humano, em entender quem são essas pessoas que tentam atravessar, suas condições de vida, suas motivações, expectativas, entender o desespero que aflige cada uma dessas pessoas, de maneira individual, não em uma cruzada. Se as pessoas querem uma oportunidade, por que os governos não trabalham nisso? Por que o próprio Estados Unidos, um gigante cuja base é formada por imigrantes e pelo massacre que de seus moradores originais, não provê oportunidades para que os mesmos se qualifiquem, gerem renda, aumentem o valor da mão de obra local e se equiparem profissionalmente para que todos possam sair ganhando e as cidades próximas da fronteira prosperem? O deserto nunca foi e nunca será um impedimento, basta olhar para Las Vegas e todas as cidades repletas de brancos cor de leite, cujos nomes são latinos. Porém, em vez de jorrar água e esperança no deserto, vemos apenas um banho de sangue e desespero de corpos sendo jogados em covas coletivas.

Não acho correto entrar ilegalmente em um país, mas vejo que seria plenamente possível, respirando profundamente na páginas amareladas da história de um país, coordenar, organizar e liderar todo um movimento de preservação da própria indústria e comércio, e atrelar positivamente um movimento migratório, que sabemos que não irá parar. Pelo contrário, isso tem tendência a aumentar devido a incompetência, violência e corrupção de muitos governos da América Central e Latina. O próprio departamento de Antropologia da Universidade do Texas citou, em sua página oficial, que a quantidade de corpos recuperados em 2012 era equivalente a de um desastre aéreo envolvendo um Boeing 737. Aliás, vocês acham mesmo que os voluntários concordam com a imigração ilegal? Evidentemente que não, e para piorar a situação, nem há a certeza que todos os corpos sejam realmente de imigrantes ilegais. Porém, acima de tudo é necessário dignidade e respeito a condição humana, a existência e, se possível, ao longo desse caminho dar respostas, ainda que sejam tristes, aos familiares das vítimas. Está acima do direito, do necessário e do voluntário. É apenas e tão somente uma questão de bom senso e entender, mesmo que sem respostas exatas, o quão valiosa podia ou poderia ter sido uma única vida. Muitas vezes procuramos por vida ao olhar para o céu, sendo que a resposta, a mais verdadeira delas, está bem diante dos nossos olhos.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://www.dailymail.co.uk/news/article-4309404/Inside-operation-ID-illegal-border-crossers.html
http://www.txstate.edu/anthropology/people/faculty/spradley/Identifying-Migrant-Deaths-in-South-Texas.html
https://www.ncjrs.gov/pdffiles1/nij/grants/244194.pdf

As Mulheres São Mais Facilmente Possuídas? Os Medos e as Ameaças Contra Mulheres Responsáveis Por Crematórios, na Índia!

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Por Marco Faustino

Para muitas pessoas e sociedades ao redor do mundo, a morte continua sendo uma espécie de tabu. Lembro que em agosto do ano passado fiz um "Minuto AssombradO" sobre as águas da piscina de um centro esportivo da cidade de Redditch, que fica a cerca de 185 km a nordeste de Londres, capital da Inglaterra, que eram aquecidas por um crematório local. Em 2011, o governo local tentou aprovar a construção de uma piscina pública, integrada a um novo centro esportivo, que passaria a ser aquecida pelo calor de um forno crematório, vizinho do local. A ideia era simplesmente transportar o calor gerado pela incineração, que atinge uma temperatura de 800ºC, através de canos, ao invés de simplesmente ser liberado na atmosfera por uma chaminé. Na época, essa proposta surgiu tendo como objetivo economizar o equivalente a R$ 38.000 por ano com energia elétrica. Isso representava cerca de 40% do valor gasto pelo centro esportivo. Nem todo mundo, é claro, gostou dessa proposta. Simon Thomas, de uma funerária local chamada "Thomas Brothers Funeral", chegou a classificar o projeto de estranho, assustador e doentio. Ele não se sentia confortável em economizar dinheiro em benefício da morte de algum membro da família ou amigos. Aliás, para ele toda essa história seria um fracasso, e a piscina seria rejeitada pela população. Após muita discussão o projeto saiu do papel em 2013, e desde então tem gerado uma economia e um benefício significativo para a população local.

Naquela época, ou seja, em agosto do ano passado, o caso foi relembrado pela dramaturga Camila Appel, do blog "A Morte Sem Tabu", do site do jornal "Folha de S. Paulo", que tinha entrevistado Richard Boyd, do Conselho da Cidade de Redditch. Ele disse que a ideia de usar o calor de crematórios para aquecer prédios no Reino Unido era bem popular, porém ele afirmou ser o primeiro centro esportivo a colocá-la em prática. Ele também usava outras formas de economia de energia, como luz de baixo gasto energético e painéis solares. A iniciativa recebeu o prêmio nacional de meio ambiente "Green Apple Environment Award", em maio de 2013, uma premiação que se propõe a valorizar práticas de impacto positivo. Segundo Camila Appel, esse pensamento poderia ser expandido, porque não são apenas piscinas que podem se beneficiar do calor de crematórios. Em Oslo, por exemplo, a dona de um crematório chamado "Alfaset", teria oferecido usar o calor de seus fornos para alimentar o sistema de aquecimento público da cidade e esquentar casas. Com o argumento de empecilhos éticos e práticos, sua oferta acabou sendo recusada. Enfim, apesar do tema ainda ser um tabu para muitos, ele nos leva a uma profunda reflexão para compreendermos melhor a morte. Será que dentro das águas aquecidas pelo calor daqueles que já se foram, não poderia nascer a esperança de um dia melhor para alguém? É um caso a se pensar, não é mesmo?

Entretanto, na Índia existe uma situação muito peculiar, visto que os crematórios são predominantemente administrados por homens. Vocês podem até pensar que não haja nenhum interesse de mulheres nesse trabalho ou que por exigir um esforço físico maior nessa profissão, por assim dizer, não tenha muita preferência entre as mulheres. A questão é muito além disso, visto que as mulheres não são, digamos, "bem-vindas" dentro dos crematórios. A razão para isso? Bem, a absoluta maioria das pessoas, principalmente homens, dizem que as mulheres são mais facilmente possuídas por espíritos dos mortos, que vagam por até 10 dias em nosso plano, do que homens. Muitos acreditam que os espíritos mais pertubados possuem uma maior atração por mulheres do que pelos homens, porque simplesmente as mulheres menstruam. Imagino que isso deve estar soando quase surreal para vocês, mas a história não para por aí. Em 2013, duas mulheres - Esther Shanthi e Praveena Solomon - assumiram a administração de um crematório de 120 anos, em Chennai, na Índia. Desde então, ambas vêm sofrendo uma rotina de ameaças e ofensas verbais, mas também conquistando cada vez mais espaço em uma área dominada pelos homens. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Entenda a Situação: As Primeiras Informações Sobre o Trabalho de Esther Shanthi e Praveena Solomon


Foi através de um pequeno texto publicado no site do jornal "Deccan Chronicle", em setembro de 2014, que o mundo começou a conhecer o trabalho de Esther Shanthi e Praveena Solomon que, ao contrário de outras mulheres da cidade de Chennai, capital do estado de Tamil Nadu, na Índia, tinham a tarefa de gerenciar uma longa fila de corpos e supervisionar as cremações. Ambas trabalhavam como administradoras do crematório Velankadu, que possui cerca de 120 anos de idade, em Anna Nagar, um movimentado bairro da cidade de Chennai. Aliás, o cemitério e crematório ocupam uma área de aproximadamente 18.000 m².

O Crematório Velankadu possui cerca de 120 anos de idade, e está localizado em Anna Nagar, um movimentado bairro da cidade de Chennai. Aliás, o cemitério e crematório ocupam uma área de aproximadamente 18.000 m²
Imagem do Google Maps mostrando a localização do Crematório Velankadu em relação a cidade de Chennai
É interessante ressaltar nesse ponto, que a cidade de Chennai, anteriormente conhecida como "Madras", é um dos maiores centros culturais, econômicos e educacionais na região Sul da Índia. De acordo com o último censo realizado em 2011, a cidade contava com pouco mais de 7 milhões de habitantes, que a tornavam a quarta aglomeração urbana mais populosa da Índia, com um território que lhe atribuía o título de sexta maior cidade do país.

Além disso, uma pesquisa sobre qualidade de vida divulgada no ano passado, colocou a cidade como sendo a mais segura para se morar na Índia, porém, em termos globais, ela ocupou apenas 113ª posição. Por outro lado, não podemos nos esquecer, é claro, que as tradições, religiões e crenças ainda falam muito alto na Índia, assim como você verá no decorrer dessa postagem.

Imagem do Google Maps mostrando a localização de Chennai em relação a Índia
e alguns países do Sudeste Asiático
Chennai, anteriormente conhecida como "Madras", é um dos maiores centros culturais, econômicos e educacionais na região Sul da Índia. De acordo com o último censo realizado em 2011, a cidade contava com pouco mais de 7 milhões de habitantes, que a tornavam a quarta aglomeração urbana mais populosa da Índia, com um território que lhe atribuía o título de sexta maior cidade do país
Shanthi e Praveena trabalham para uma ONG, a ICWO ("Indian Community Welfare Organization" ou "Organização em Prol do Bem-Estar da Comunidade Indiana", em português), que mantém o centro funerário em parceria com a Cooporação Chennai, uma das mais antigas instituições municipais da Índia, criada em 29 de setembro de 1688. No texto é mencionado, que seis meses antes, em março de 2014, as duas tinham assumido o cargo sabendo muito bem que iriam se deparar com dezenas de problemas a cada semana, mas permaneceram firmes diante da decisão de quebrar um estigma social.

No começo, Shanthi disse que até mesmo uma pequena vibração na janela fazia seu coração disparar, mas a determinação da dupla em permanecer no trabalho fez com que elas mesmas cavassem manualmente a terra para enterrar um corpo.

"Três meses depois que passamos a administrar o local, os homens, que costumavam cavar a terra para a realização dos enterros, foram transferidos e ficamos sozinhas quando o corpo de uma criança chegou para ser enterrado", disse Esther Shanthi. O momento foi crítico, mas as duas não recusaram o corpo.

Shanthi (à direita) e Praveena (à esquerda) estavam trabalhando para uma ONG, a ICWO ("Indian Community Welfare Organization" ou "Organização em Prol do Bem-Estar da Comunidade Indiana", em português), que mantém o centro funerário em parceria com a Cooporação Chennai, uma das mais antigas instituições municipais da Índia
"Em vez disso, pegamos a pá e fomos cavar. Desenterramos partes de crânios e ossos, enquanto cavávamos, mas finalizamos o enterro com sucesso. Isso aumentou nossa confiança em permanecer nesse trabalho", continuou.

Voltando ao mês de setembro de 2014, foi mencionado que essa fase tinha passado e elas já contavam com 10 pessoas para ajudá-las. Esther Shanthi e Praveena Solomon passaram a coordernar pelo menos sete cremações diárias e a supervisionar todo o processo. A jornada de Praveena em se tornar supervisora de um crematório foi surpreendentemente fácil, uma vez que sua família estava contente diante do seu trabalho. O mesmo não se podia dizer sobre Shanthi, que teve que esconder no que estava envolvida para o seu marido, cerca de um mês após estar trabalhando no crematório. Confira também um vídeo sobre o trabalho dessas duas mulheres, que foi publicado no canal "Tamil The Hindu", no YouTube, em março de 2015 (em hindi, mas vale a pena acompanhar alguns trechos):



"Entretanto, temos mais problemas para resolver do que nossos próprios problemas ou das nossas famílias. Nós lidamos com pessoas que chegam embriagadas para a cremação, e outras que se reúnem em grupos aqui para consumir álcool", disse Praveena, que saía do trabalho por volta das 20h. Depois desse horário ela e sua amiga se transformavam em mães carinhosas para com seus filhos.

O Aumento do Interesse Por Parte da Mídia Indiana e Internacional


Muito pouco se falou sobre ambas naquele ano e no ano seguinte. Porém, no ano passado, o trabalho de Esther Shanthi e Praveena Solomon ganhou novamente destaque na mídia indiana e internacional. Em julho do ano passado, o site do jornal Hidustian Times, publicou que, quando Praveena Solomon decidiu gerenciar o crematório de Velankadu, dois anos antes, a resposta pública não tinha sido nada agradável.

"Os moradores locais eram hostis a ideia de uma mulher ser a responsável por um enterro. Assim sendo, o local parecia um depósito de lixo. O cheiro de urina no portão de entrada era insuportável. Particularmente difícil, foram os seis primeiros meses. Pensava constantemente que deveria voltar para casa", disse Praveena Solomon.

Em julho do ano passado, o site do jornal Hidustian Times, publicou que, quando Praveena Solomon (à direita) decidiu gerenciar o crematório de Velankadu, dois anos antes, a resposta pública não tinha sido nada agradável
Aliás, o texto informava que Praveena tinha dois filhos, era formada em Literatura Inglesa pela Universidade de Madras, e já trabalhava com a ICWO há cerca de 15 anos. Antes de assumir a administração do crematório Velankadu, Praveena trabalhava para educar crianças carentes e, posteriormente, "profissionais do sexo". Ela tinha sido introduzida ao trabalho social por sua mãe, que trabalhou juntamente com Sarojini Varadappan, uma conhecida assistente social na Índia, mas que faleceu em outubro de 2013, com 92 anos de idade.

"Decidi trabalhar com essa ONG, porque eu vi um artigo sobre seu trabalho. Eu queria ajudar. Vivenciei um monte de coisas novas, graças a isso", continuou. Tudo isso mudou justamente em março de 2014, quando a ICWO foi nomeada para administrar um dos 38 cemitérios da Coorporação Chennai, na cidade. Essa mudança, no entanto, deixou um certo ressentimento por parte de alguns antigos funcionários.

Praveena Solomon (à direita), ao lado de sua assistente, Divya Raju (à esquerda)
"Alguns deles chegaram a nos ameaçar, dizendo que iriam jogar ácido no meu rosto. Não tínhamos o apoio da população local. As pessoas ficavam indignadas ao ver uma mulher cuidando dessas questões", acrescentou. Eventualmente, ela conseguiu conquistar o coração das pessoas, uma combinação do apoio da polícia e de seus próprios esforços. Praveena trabalhou incansavelmente para mudar a aparência do crematório, que era considerado extremamente feio e sombrio.

"Agora, as pessoas dizem que se parece com um parque", seguiu dizendo.

Na época, o crematório Velankadu tinha uma nova infraestrutura, incluindo um forno crematório com elevador e instalações sanitárias. Curiosamente, o texto informava que cerimônias funerárias eram realizadas gratuitamente, sendo que a equipe de Praveena recebia cerca de 750 rúpias indianas (cerca de R$ 35 pela cotação atual) por cada corpo, dinheiro esse proveniente da Coorporação Chenai, assim como doações dos moradores locais. Além disso, as enchentes em Chennai, nos meses de novembro e dezembro de 2015, tornaram o local bem movimentado durante um tempo.

A equipe de Praveena recebia cerca de 750 rúpias indianas (cerca de R$ 35 pela cotação atual) por cada corpo, dinheiro esse proveniente da Coorporação Chenai, assim como doações dos moradores locais
"Muitos corpos começaram a ser transferidos para Velankadu, porque nós tínhamos um dos poucos fornos que estavam em operação, Tínhamos uma média de 5 a 7 corpos por dia, e cremamos cerca de 246 corpos no mês de novembro de 2015", completou.

Praveena Solomon havia se tornado uma figura de destaque, porque ela era a primeira mulher a gerenciar um centro funerário no estado de Tamil Nadu que, assim como na maior parte do país, a administração de um crematório era tradicionalmente exercido por homens. Sua audaciosa escolha também inspirou outras mulheres, visto que ela possuía um jovem e alegre assistente chamada Divya Raju, 25 anos, que estava trabalhando com ela nos últimos seis meses, por vontade própria. Por fim, Praveena disse que ninguém sabe a hora que irá morrer, sendo que seu dever era ajudar as pessoas que ficaram a superar a perda de seus entes queridos.

Quem parecia ter gostado da história foi a BBC, que através de uma correspondente chamada Geeta Pandey, foi conhecer de perto o trabalho das duas, e o resultado foi publicado em agosto do ano passado. Aliás, Geeta acompanhou uma procissão funerarária relacionada a cremação do corpo de um senhor de 88 anos. De acordo com ela, levava cerca de 2 horas para que um corpo fosse totalmente incinerado, por assim dizer. Nesse meio tempo, Praveena Solomon dividia sua tarefa entre observar os ritos funerários, conversar com a família e preparar toda a papelada.

"Tamil Nadu tem uma alta taxa de alfabetização, 90% das mulheres aqui são alfabetizadas, mas ainda há muitas limitações e barreiras em relação a elas", disse Praveena Solomon.

Praveena Solomon havia se tornado uma figura de destaque, porque ela era a primeira mulher a gerenciar um centro funerário no estado de Tamil Nadu que, assim como na maior parte do país, a administração de um crematório era tradicionalmente exercido por homens
Segundo Geeta, um crematório não era um lugar de felicidade e, embora as mulheres não fossem expressamente proibidas de participar, elas sempre foram desencorajados de estarem presentes. Muitas vezes a explicação que vinha sendo utilizada, é que essa "medida" seria em prol do próprio bem-estar das mulheres, uma vez que as mesmas são "mais delicadas e frágeis", e poderiam ficar traumatizadas pelos rituais funerários.

A matéria da BBC mencionou, que o centenário centro funerário Valankadu estava sendo negligenciado há anos, o local havia se tornado um depósito de lixo e diversas pessoas usavam o local para beber. Na época, o responsável pela ICWO, A.J. Hariharan, acreditava que eles poderiam fazer do local, um lugar seguro para mulheres e jovens que decidissem ir até Valankadu para se despedir de seus entes queridos. Eles queriam criar um lugar calmo e de cura.  Assim sendo, eles perguntaram a todas as mulheres mais experientes da ICWO, sobre quem gostaria de assumir aquele desafio. As duas únicas que aceitaram foram Esther Shanthi e Praveena Solomon.

Na época, o responsável pela ICWO, A.J. Hariharan (ao fundo, próximo da porta, de camisa roxa), acreditava que eles poderiam fazer do local, um lugar seguro para mulheres e jovens que decidissem ir até Valankadu para se despedir de seus entes queridos. Na foto também é possível ver Esther Shanthi (em primeiro plano, de verde)
"Foi uma reação muito impactante. Toda vez que havia uma cremação, eu também chorava com os familiares. Levei muito tempo para superar isso, para não chorar quando via outras pessoas chorando", disse Praveena Solomon, acrescentando que em seu primeiro dia de trabalho ela teve que supervisionar cerca de sete cremações.

Na época, a BBC destacou que ao longo do tempo o lugar havia ganhado câmeras de segurança, banheiros limpos, bancos de cores vívidas, dezenas de árvores e plantas, além de uma boa iluminação durante a noite. Tudo isso com o objetivo de tornar o lugar mais atraente.

"Quando eu contei ao meu marido, a primeira pergunta dele foi: 'Você consegue fazer isso?' Ele disse que gerenciar um crematório não era fácil, era um espaço dominado pelos homens. Disse a ele que iria tentar e caso não conseguisse, voltaria o meu olhar para o plano B", continuou, porém sem entrar em detalhes de qual seria esse "plano B".

Na época, a BBC destacou que ao longo do tempo o lugar havia ganhado câmeras de segurança, banheiros limpos, bancos de cores vívidas, dezenas de árvores e plantas, além de uma boa iluminação durante a noite. Tudo isso com o objetivo de tornar o lugar mais atraente
A BBC, inclusive, fez questão de publicar a declaração de um sacerdote chamado Irushankar Narayanan, uma vez que ele mencionou que estava "muito orgulhoso" de Praveena Solomon.

"Ela está fazendo um trabalho maravilhoso. Antes de sua chegada, os banheiros estavam sujos, mas agora, eles são tão limpos, que você pode fazer uma refeição lá dentro", disse Irushankar Narayanan.

"Ela está fazendo um trabalho maravilhoso. Antes de sua chegada, os banheiros estavam sujos, mas agora, eles são tão limpos, que você pode fazer uma refeição lá dentro", disse Irushankar Narayanan (na foto).
Ao terminar a entrevista, Geeta Pandey perguntou a Praveena Solomon o que ela pensava a respeito da morte. Essa foi a sua resposta, que serve até mesmo como lição de vida: "Pelo que entendo, não há nada após a morte. Então seja feliz, aprecie o que esteja fazendo, e faça algo de bom enquanto estiver vivo."

No fim do mês de novembro do ano passado, o site do jornal "Times of India" divulgou que em pouco tempo o crematório Velangadu iria habilitar uma rede de Wi-Fi, para que familiares e amigos daqueles que se foram pudessem acompanhar virtualmente todos os ritos funerários, de qualquer parte do mundo.

No fim do mês de novembro do ano passado, o site do jornal "Times of India" divulgou que em pouco tempo o crematório Velangadu iria habilitar uma rede de Wi-Fi, para que familiares e amigos daqueles que se foram pudessem acompanhar virtualmente todos os ritos funerários, de qualquer parte do mundo
"No dia do funeral, os membros das famílias daqueles que já se foram serão capazes de localizar as coordenadas do crematório. Uma conexão Wi-Fi rápida e gratuita os ajudará a compartilhar facilmente essas coordenadas e, possivelmente, transmitir ao vivo os procedimentos para os entes queridos que não puderam comparecer", disse A.J, Hariharan, acrescentando que, se o feedback fosse positivo, a ICWO poderia estender essa facilidade para outros crematórios que eles passaram a administrar, em localidades como Otteri, Balakrishnapuram e Colônia Kannan, em Alandur. A ICWO também esperava que a iniciativa, que o Rotary Clube de Meenambakkam iria patrocinar por cerca de um ano, também quebrasse os estereótipos.

A.J. Hariharan destacou que no crematório de Valankadu trabalhavam cerca de 11 pessoas, entre elas, 4 mulheres. Além disso, eles teriam mantido uma média de 6 cremações por dia ou mais de 150 cremações por mês. Desde a matéria da BBC, no entanto, era possível notar que Esther Shanthi não era mais citada nos textos. Para vocês terem uma ideia, nesse último caso, o "Times of India" citou que Valankadu era gerenciado por duas mulheres: Praveena Solomon e Divya Raju, a antiga assistente de Praveena.

A.J. Hariharan destacou que no crematório de Valankadu trabalhavam cerca de 11 pessoas, entre elas, 4 mulheres
Desde a matéria da BBC, no entanto, era possível notar que Esther Shanthi não era mais citada nos textos. Para vocês terem uma ideia, nesse último caso, o "Times of India" citou que Valankadu era gerenciado por duas mulheres: Praveena Solomon (à direita) e Divya Raju (à esquerda), a antiga assistente de Praveena
O mistério em torno do destino de Esther Shanthi terminou com uma matéria publicada pelo site do jornal "The New Indian Express", em janeiro desse ano, onde apontou que Esther estava gerenciando o crematório de Otteri, uma espécie de área residencial, na região central de Chennai.

Entretanto, a situação por lá estava sendo igualmente difícil e semelhante aquela que enfrentou no começo, em Valankadu. Muitos homens que trabalhavam no local abandonaram o emprego com a chegada de Esther. Ela explicou que muitos deles vinham de famílias, cujos membros faziam isso há gerações, e a viam como uma ameaça ao emprego deles, uma vez que as cremações era gratuitas e isso acabava "devorando" a renda que possuíam. No texto é informado que Esther era formada em Comércio (algo bem equivalente ao curso de Administração), e era associada da ICWO há 15 anos.

Praveena Solomon ao lado de uma imensa pilha de galhos e troncos de árvores
Praveena Solomon (à esquerda) ao lado de Divya Raju (à direita)
"Não foi fácil... Ainda não é. Contudo, sei que lentamente posso trazer uma mudança", disse Esther, se recordando das manhãs em que se deparava com homens bêbados dormindo em cima dos túmulos. Ela acrescentou que diversos funcionários, após verem o trabalho que ela desempenhava como mulher, da limpeza até a gerência, começaram a entender que ela não era inferior a eles. Embora ela tivesse empregado homens para ajudá-la, algumas vezes ela lidava sozinha com as cremações.

"Por mais que eu tenha aceitado o fato de que a morte seja inevitável, ver mortes prematuras devido a acidentes, suicídios e outras razões... é difícil ver os corpos das pessoas se transformando em cinzas. Porém, tentamos dar o nosso melhor para dar apoio às famílias que vêm aqui", completou.

Será Mulheres São Mais Facilmente Possuídas? Conheça um Pouco do Lado "Sobrenatural" Por Ser Mulher e Trabalhar em um Crematório, na Índia


Até esse momento, vimos todo o aspecto social e cultural em relação a administração de crematórios e o repúdio a presença de mulheres durante os rituais funerários na Índia. Porém, ainda não tínhamos visto nada de "sobrenatural", que pudesse justificar de alguma forma todo esse aparelhamento. O que vimos era realmente o temor dos homens de perderem os ganhos financeiros que tinham, em locais que não cuidavam e não se importavam nem um pouco com as demais pessoas.

Ironicamente, esses mesmos homens se demitiam com medo de perder o emprego, ou seja, não fazia sentido algum. Será que havia algo, alguma uma crença que pudesse nos dar uma pista sobre todo esse temor? Talvez tivéssemos alguma resposta diante de um interessante artigo escrito recentemente pela repórter Gayathri Vaidyanathan, para o site Atlas Obscura, e que você confere a partir de agora.

Divya Raju ao lado do principal forno do Crematório Velankadu
No texto é mencionado, que nos primeiros meses, Praveena Solomon acreditava que podia ouvir fantasmas nas dependências do crematório. Certa vez, ela escutou um som de alguém correndo no pátio vazio, no lado de fora do seu escritório que, após uma inspeção, foi percebido que eram apenas algumas folhas secas e o vento. Em uma outra ocasião, um pequeno armário fixado na parede acabou caindo, fazendo um barulho aterrador.

"Está escrito na Bíblia que os fantasmas existem, mas eu não sei se devo acreditar. Nunca vi um", disse Praveena Solomon.

Aceitando o cargo de gerência do crematório, Praveena Solomon acabou se juntando a um grupo de mulheres indianas, que estão entrando em espaços de onde tradicionalmente foram excluídas. Segundo Gayathri Vaidyanathan, a nova onda de feminismo na Índia ganhou força após o estupro coletivo de uma jovem, no ano de 2012, que horrorizou e gerou uma grande comoção no país. No ano passado, mulheres muçulmanas entraram na Mesquita Thazhathangady Juma, em Kerala, que por cerca de 1.000 anos proibiu a entrada de mulheres; mulheres hindus entraram em templos antigos que as tinham condenadas ao ostracismo, ou seja, as mulheres passaram a recuperar espaços públicos e vagaram indiferentes no olhar masculino.

Funcionários do crematório posando em frente de um saco de gás metano inflamável coletado de um digestor de biogás em Velankadu. O metano é usado para fornecer energia as luminárias durante a noite para manter afastados as pessoas que buscam confusão e até mesmo aquelas que mexem com magia negra.
Entretanto, um cemitério é diferente de um templo, uma mesquita ou um ponto de ônibus. Até mesmo os homens tentam evitar os crematórios hindus, que são considerados uma morada para almas pertubadas, no caminho para suas próximas vidas. Quase todos os hindus - exceto crianças e os "iluminados" - são cremados para que a alma possa abandonar seu apego ao corpo e seguir em frente. As mulheres, no entanto, são consideradas particularmente suscetíveis à possessão por espíritos errantes.

O cemitério e crematório Valankadu é discretamente afastado da rodovia, e marcado por avisos funerários colados no portão. Um caminho cimentado leva visitantes para dentro, após passaram por murais de um leopardo decapitado, um esqueleto acelerando em uma moto, e um par de asas de anjo. À direita estava um antigo pátio funerário coberto de vegetação; À esquerda, um cemitério para crianças e três fornos abandonados, cobertos de fuligem, onde corpos um dia foram manualmente cremados. No prédio principal fica localizado o escritório de Praveena Solomon.

Um cemitério em desuso está sendo nivelado e transformado em um parque
Ao fundo está a antiga câmara de cremação, onde os corpos eram queimados em piras de madeira.
Um caminho cimentado leva visitantes para dentro, após passaram por murais de um leopardo decapitado, um esqueleto acelerando em uma moto, e um par de asas de anjo. Na foto podemos ver um trabalho voluntário de pintura realizado em um dos muros do crematório, em 2015
Praveena também contou um pouco do seu passado, que como sabemos, ela trabalhava na educação sexual de "profissionais do sexo", porém o artigo de Gayathri Vaidyanathan, nos forneceu maiores detalhes para entendermos sua personalidade. Foi mencionado que Praveena visitava pontos de ônibus ou locais de grande movimentação de viajantes e motoristas de caminhão à procura de mulheres que ganhavam a vida se prostituindo.

Ela conversava com as mulheres e as conduzia até um motel próximo, onde ela tirava de sua bolsa um "modelo anatômico de um membro masculino" e camisinhas, para ajudar as mulheres a se habituarem a utilizá-la, como forma de previnir a AIDS. Certa vez, a polícia invadiu o motel durante uma dessas sessões. Depois que Praveena convenceu o chefe de polícia de que não era uma "profissional do sexo", ele indagou com uma voz compadecida: "Que tipo de trabalho é esse, senhora?"

Foi mencionado que Praveena visitava pontos de ônibus ou locais de grande movimentação de viajantes e motoristas de caminhão à procura de mulheres que ganhavam a vida se prostituindo
Segundo A.J. Hariharan, fundador da ICWO, antes de 2014, os crematórios governamentais em Chennai eram mal administrados. Um oficial do Departamento de Saúde de Chennai decidiu implantar uma restruturação, e pediu para a ICWO assumir a gestão de Velankadu como parte de um projeto piloto. De acordo com antigas escrituras hindus, uma pessoa que organiza funerais ganha tanto mérito para a vida após a morte quanto um rei ancestral realizando um sacrifício ritualístico aos deuses. Assim sendo, Hariharan viu uma maneira de ganhar mérito nesta vida e provocar uma mudança social por ter uma mulher à frente dessa restruturação.

O artigo também informa que antigamente, cerca de uma década atrás, os corpos eram cremados manualmente, em um pilha de madeira que ardia por 24h até que o processo fosse completado. Devido a severidade da profissão, muitos homens (conhecidos como "vettiyans", ou simplesmente "coveiros") se voltaram ao álcool. Em público, esses homens são geralmente evitados e sequer cumprimentados pelas pessoas, devido a má fama que possuem e também por estarem próximos demais dos mortos, ou seja, podendo ser possuídos pelos espíritos deles. Aliás, Praveena disse que as cremações deveriam ser gratuitas, mas que uma parte desses homens passaram a cobrar dinheiro das pessoas para fazer o serviço.

Praveena disse que as cremações deveriam ser gratuitas, mas que uma parte desses homens passaram a cobrar dinheiro das pessoas para fazer o serviço
Praveena Solomon estabeleceu regras básicas para esses homens: Eles poderiam cobrar para organizar um funeral, mas não pela cremação, algo que ela mesma iria gerenciar. Os homens concordaram com os termos, uma vez que perceberam que ela não iria interferir com seus negócios.

Diga-se de passagem, os "vettiyans" são altamente qualificados em organizar funerais. Eles colocam o corpo em uma posição sentada ou inclinada, conforme o costume, decoram os corpos com flores e os transportam para o crematório em uma maca de bambu e cana-de-açúcar, acompanhado de tambotes e antigas canções fúnebres. Conta-se que a melodia e a letra pode ser capaz de fazer qualquer pessoa chorar. Os filhos do falecido(a) executam os ritos finais antes que o corpo seja conduzido até o forno crematório. Praveena Solomon supervisiona essa etapa final.

Diga-se de passagem, os "vettiyans" são altamente qualificados em organizar funerais. Eles colocam o corpo em uma posição sentada ou inclinada, conforme o costume, decoram os corpos com flores e os transportam para o crematório em uma maca de bambu e cana-de-açúcar, acompanhado de tambotes e antigas canções fúnebres
"Fazemos todos os rituais, mas só quem tem instrução pode preencher a papelada, sendo que esse é o trabalho que ela está desempenhando. Não há nenhum problema por ser ela", diz Rajesh K., um "vettiyan".

Praveena Solomon achava que lidar com o sofrimento dos vivos era a parte mais difícil de seu trabalho. Ela não conseguia esquecer facilmente casos envolvendo uma morte inesperada. No Ano Novo, ela cremou uma jovem mãe e seu recém-nascido. Ela também se lembra de um jovem que morreu em um acidente de trem. Parecia que todo seu vilarejo tinha ido até Velankadu naquele dia para o funeral. Sua esposa grávida e outras 200 mulheres batiam no peito e choravam.

Todos os apetrechos utilizados nos rituais. As flores, a maca onde o corpo é conduzido, o excesso de roupas e oferendas
são retirados antes que o copo entre no forno crematório.
Três semanas depois, Praveena Solomon sofreu um acidente de mobilete, e deu entrada em um hospital devido a uma lesão na cabeça. Durante sua ausência de apenas 15 dias, Velankadu começou a se tornar sombrio novamente. Havia um rato morto no meio do caminho que ninguém recolheu e, além disso, nem mesmo as árvores estavam sendo regadas adequadamente. De qualquer forma, a situação a se normalizar após a volta de Praveena.

No texto ainda é mencionado que um homem de meia-idade estava esperando para receber as cinzas de um parente falecido. Ele observava Divya Raju preenchendo uma papelada para Praveena, e acabou dizendo que as mulheres não era permitidas nos crematórios por "boas razões". Segundo esse homem, de acordo com o costume hindu, a alma, privada do corpo, permanece na Terra por 10 dias após a morte. Os espíritos mais pertubados são mais atraídos pelas mulheres do que pelos homens, porque as mulheres menstruam.

Um homem de meia-idade estava esperando para receber as cinzas de um parente falecido. Ele observava Divya Raju preenchendo uma papelada para Praveena, e acabou dizendo que as mulheres não era permitidas nos crematórios por "boas razões"
"Esses são lugares onde os fantasmas vagam. Eu sei, porque eu os vejo", disse o homem, acrescentando que, quando era criança, sua irmã tinha sido brevemente possuída e sofreu um exorcismo. Um sacerdote a colocou sentada no meio de um corredor em sua casa, e recitou encantamentos. Ela balançou e bateu a cabeça contra uma parede até que sua testa sangrou. Então, ela passou a mancar quando o fantasma a deixou.

"Crianças hoje em dia não acreditam, mas os fantasmas são reais. Eu os vejo. Você não deveria estar aqui", disse o homem para Divya Raju, que por sua vez apenas sorriu, acenou com a cabeça, e voltou para seu escritório.

Comentários Finais



Essa é oitava postagem que faço sobre a Índia desde 2015. Se não me falha a memória, a primeira matéria que fiz sobre a Índia foi sobre a moderna caça às bruxas e a superstição assassina, que todos os anos mata ou mutila fisicamente ou psicologiamente centenas ou milhares de mulheres inocentes. Apesar da minha escrita e nível de pesquisa estar bem abaixo do que possuo atualmente, foi um texto duro, emocionante e sinceramente não vejo como uma pessoa não se sensibilizar com aquele assunto. Desde então, sempre tento trazer conteúdos que valorizem e foquem mais o aspecto humano de uma determinada situação. Tragédias vemos todos os dias, mas conhecer culturalmente uma parte do mundo e entender a complexidade de uma situação, é algo que não nos deparamos sempre. Esse é o caso, por exemplo, dessa postagem, onde podemos conferir como as mulheres são vistas e tratadas, simplesmente porque tentam administrar e ingressar em um espaço, predominantemente dominado por homens. É importante destacar que essa história não se resume a feminismo ou machismo, visto que está muito além disso.

Essa história reflete gerações de homens acostumados a tratar sem nenhum respeito a vida humana de modo geral, seja a vida de uma criança, de um homem, de uma mulher grávida ou um idoso. São homens que extorquiam e continuando extoquindo outros homens em diversos vilarejos espalhados em meio a uma população de mais de 1 bilhão de pessoas. Por outro lado, são homens que nunca tiveram apoio psicológico, que precisam lidar com o choro, com o cheiro da morte diariamente, em uma espécie de casta destinada a fazer o serviço que ninguém quer. Esses homens não enriqueceram e foram esquecidos pelo Estado, ou seja, o único refúgio, aparentemente, foi o álcool. Homens que julgam ter o direito de cobrar por algo gratuito, que há 10 anos demorava um dia inteiro para ser executado. Obviamente, isso não justifica de maneira alguma, a atitude de alguém dizer para outra pessoa, não importando que seja homem ou mulher, que irá atirar ácido em seu rosto. Porém, é isso que o medo atrelado a um grau de instrução muito baixo, condições de vida precárias e um estigma social que faz com que sejam praticamente invisíveis gera. Caso algo aconteça com aquelas mulheres, não é apenas culpa daqueles homens, mas do Estado que não fez absolutamente nada, exceto terceirizar a responsabilidade de arrumar algo, que há milênios nunca conseguiram corrigir.

Para piorar a situação, ainda temos a questão religiosa e as crendices populares em dizer que a menstruação de uma mulher poderia atrair espíritos errantes, e as mesmas acabarem sendo possuídas. Uma justificativa torpe e talvez o único ponto, que poderia diferenciar um homem de uma mulher, ou seja, suas características biológicas. Podem até dizer, e com razão, que a maioria dos casos noticiados de supostas "possessões espirituais ou demoníacas" envolvem mulheres. Porém, conforme expliquei em postagens anteriores, existe uma série de fatores mundanos e psicológicos que favorecem casos de estresse intenso e acabam desencadeando comportamentos, que muitas vezes são interpretados como se fossem sinais de possessão. De qualquer forma, o mais importante a se destacar é que essas mulheres estão desempenhando um bom trabalho e dando dignidade a vida humana, muito melhor do que qualquer pessoa no passado. Isso é digno de respeito e admiração. Evidentemente, um cemitério ou um crematório não é um local onde a felicidade reina, mas não é por isso que devemos jogá-la ao vento ou mantê-la para sempre a sete palmos de terra.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://epaperbeta.timesofindia.com/Article.aspx?eid=31807&articlexml=Tech-to-the-future-City-crematory-will-beam-22112016001028
http://www.atlasobscura.com/articles/women-crematorium-chennai-india
http://www.bbc.com/news/world-asia-india-36955823
http://www.deccanchronicle.com/140903/nation-current-affairs/article/two-women-oversee-burial-ground-work
http://www.hindustantimes.com/india-news/how-praveena-solomon-an-english-graduate-gave-a-chennai-crematorium-a-new-life/story-5FCL2Ks83XGtlKH0JmSQVI.html
http://www.newindianexpress.com/cities/chennai/2017/jan/25/women-who-burn-cultural-norms-1563529--1.html

Os Segredos de Fátima: As Aparições, os 3 Segredos e suas Interpretações

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Em 1917 três pequenos pastores tiveram uma visão da Virgem Maria que lhes revelou três segredos, que só poderiam ser revelados com a sua permissão. O fenômeno se repetiu ao longo de vários meses e cada vez mais pessoas presenciavam as crianças falando com a Virgem Maria. No clímax das aparições, em 13 de outubro de 1917 acontece o Milagre do Sol, onde o Sol dançou no céu na presença de quase 100 mil pessoas. Os segredos permaneceram guardados por séculos, sendo que o último só foi relevado no ano 2000 e revelou algo que decepcionou muitas pessoas...

Esse ano faz 100 anos de uma das aparições mais famosas do mundo, quando a Virgem Maria apareceu para três crianças perto de Fátima, Portugal, e revelou três segredos, além de realizar um grande milagre testemunhado por mais de 70 mil pessoas. Esses segredos foram guardados por décadas, sendo que o último só foi revelado no ano 2000. Vamos conhecer toda a história dos Segredos de Fátima.

O Mundo em 1917

- Perseguição da Igreja em Portugal: Em 1910 Portugal deixou de ser uma monarquia para se tornar uma República. E o novo governo começou a perseguir a igreja, pois essa era associada a monarquia, e instalou o estado laico logo após a implantação da República. Os bens e propriedade da igreja são arrolados e incorporados no estado. O juramento religioso e outros previstos nos estatutos da Universidade de Coimbra são abolidos, e as matrículas no primeiro ano da Faculdade de Teologia são anuladas, sendo também extintas as cadeiras de direito canônico e suprimido o ensino da doutrina cristã. Os feriados religiosos passam a ser dias de trabalho, mantendo-se no entanto o domingo como dia de descanso, por razões laborais. Além disso, as forças armadas são proibidas de participar em solenidades religiosas. Foram, ainda, aprovadas leis do divórcio e da família que consideravam o casamento como um "contrato puramente civil". Alguns bispos foram perseguidos, expulsos ou suspensos das suas atividades no decurso da laicização. O ministro da Justiça, Afonso Costa  previra a erradicação do Catolicismo no espaço de três gerações.

- 1ª Guerra Mundial: O Mundo estava em guerra. Se desenrolava a Primeira Guerra Mundial, bastante centrada na Europa. Ela começou em 28 de julho de 1914 e durou até 11 de novembro de 1918. O conflito envolveu as grandes potências de todo o mundo, que organizaram-se em duas alianças opostas: os aliados e os Impérios Centrais. Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos, em grande parte por causa de avanços tecnológicos que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas, mas sem melhorias correspondentes em proteção ou mobilidade. Foi o sexto conflito mais mortal na história da humanidade e que posteriormente abriu caminho para várias mudanças políticas, como revoluções em muitas das nações envolvidas.

- Revolução Russa:  A Revolução Russa de 1917 foi um período de conflitos, iniciado em 1917, que derrubou a autocracia russa e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin. Recém-industrializada e sofrendo com a Primeira Guerra Mundial, a Rússia tinha uma grande massa de operários e camponeses trabalhando muito e ganhando pouco. Além disso, o governo absolutista do czar Nicolau II desagradava o povo que queria uma liderança menos opressiva e mais democrática. A soma dos fatores levou a manifestações populares que fizeram o monarca renunciar e, no fim do processo, deram origem à União Soviética, o primeiro país socialista do mundo, que durou até 1991. O socialismo rejeita a religião e a igreja começou a ser perseguida.

Em 1917 o Governo Português era antireligião, o mundo estava em plena 1ª Guerra Mundial e estava ocorrendo a Revolução Russa, que levou a Rússia a ser União Soviética e aplicar o regime comunista. Eram tempos conturbados.


As Aparições de Fátima

No ano de 1917 na localidade de Fátima, em Portugal, existiam 3 crianças: Lúcia dos Santos (10 anos), Francisco Marto (9 anos) e Jacinta Marto (7 anos). Não sabiam nem ler ou escrever e viviam sua vida no campo, alheias a 1ª Guerra Mundial que acontecia naquele momento ou a Revolução Russa, que derrubou a autocracia russa e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin. O que essas crianças faziam era brincar e cuidar dos animais.

- 1ª Aparição (13 de maio de 1917): Só que tudo mudou no dia 13 de maio de 1917 quando elas afirmaram terem visto "...uma senhora mais brilhante do que o Sol" sobre uma azinheira de um metro ou pouco mais de altura, quando apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, próximo da aldeia de Aljustrel. Lúcia via, ouvia e falava com a aparição, Jacinta via e ouvia e Francisco apenas via-a, mas não a ouvia.

Nossa Senhora: - Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.
Lúcia: - Donde é Vossemecê?
Nossa Senhora:- Sou do Céu (e Nossa Senhora ergueu as mãos apontando o Céu).
Lúcia: - E que é que Vossemecê me quer?
Nossa Senhora: - Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez
Lúcia: - E eu também vou para o Céu?
Nossa Senhora: - Sim, vais.
Lúcia: - E a Jacinta?
Nossa Senhora: - Também.
Lúcia: -  - E o Francisco?
Nossa Senhora: - Também, mas tem que rezar muitos terços.
Lúcia: - A Maria das Neves já está no Céu? (Lúcia referia-se a uma mulher que tinha morrido recentemente)
Nossa Senhora: - Sim, está.
Lúcia: - E a Amélia?
Nossa Senhora: - Estará no Purgatório até ao fim do mundo.
Nossa Senhora: Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
Lúcia: - Sim, queremos.
Nossa Senhora:- Ides pois ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.
As crianças caem de joelhos e rezam
Nossa Senhora: - Rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra (na altura desenrolava-se a Primeira Guerra Mundial).

Lúcia, a mais velha, ordenou para Jacinta e Francisco para manterem segredo, mas Jacinta não aguentou e contou para sua mãe, que ficou pensativa. Já a mãe de Lúcia não acreditou e disse para a filha parar de contar mentira. Ficou realmente brava. A notícia se espalhou na aldeia onde viviam, e havia um misto de pessoas que acreditavam e outras que zombavam. O fato é que as crianças esperaram ansiosamente o dia 13 de junho para ver se aquela mulher apareceria novamente como havia dito.

- 2ª Aparição (13 de Junho de 1917): Na segunda aparição, no dia 13 de abril de 1917, cerca de 50 pessoas de pessoas estranhas acompanharam as crianças. Os seus pais não a acompanharam, sendo que 5 primos foram juntos para garantir a segurança delas. A Virgem apareceu, e só as crianças que a viram, e desta vez disse que Jacinta e Francisco estariam logo ao lado dela, enquanto Lúcia viveria bastante.

Lúcia: - Vossemecê que me quer?
Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois, direi o que quero.
Lúcia pediu a cura de um doente. - Se se converter, curar-se-á durante o ano
Lúcia:  - Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
Nossa Senhora: - Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono.
Lúcia: - Fico cá sozinha?
Nossa Senhora: - Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

O Padre do local interroga Lúcia e diz que ela diz a verdade, mas que pode ser um truque do diabo. Lúcia fica aterrorizada e com medo de voltar ao local no dia 13 de Julho, mas ela volta. Uma multidão maior de pessoas estava lá esperando.

- 3ª Aparição (13 de Julho de 1917): Foi neste dia que a Virgem Maria lhe revelou os três segredos. Lúcia pediu para ela realizar um milagre para que todos acreditem nela. Nossa Senhora respondeu.Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou, o que quero e farei um milagre que todos hão-de ver para acreditarem.  Após a revelação dos segredos, Nossa Senhora disse: - Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco sim, podeis dizê-lo. 

As crianças então disseram que viram uma visão do inferno - as crianças ficaram com tanto medo da visão do inferno que começaram a pegar penitência para salvar a almas das pessoas e evitar que fossem para aquele lugar! - e depois a Virgem lhes disse que a Grande Guerra iria terminar, mas que como haviam pessoas que não temiam a Deus, outra aconteceria durante o papado de Pio XI. Um grande clarão no céu seria o sinal de que a Guerra começou.

Outro segredo tinha relação com a Rússia. Que ela se converteria e que antes da conversão espalharia muitos erros pelo e que nações seriam destruídas como parte do processo.

Os cultos pensaram: A Rússia? Não, muito pobre, muito difícil se tornar um protagonista mundial. É importante lembrar que a segunda parte da revolução Russa ocorrida, com a tomada do poder pelo partido Bolchevique, não havia acontecido e que ela ainda estava com a Igreja Ortodoxa, era um país bastante religioso, um dos mais religioso do mundo. Como que a Rússia poderia ser convertida? Como que essas três crianças, no meio rural de Portugal, que não sabiam nem ler e escrever, sabiam algo sobre a Rússia?

As crianças ficaram com tanto medo da visão do inferno que começaram a pegar penitência para salvar a almas das pessoas e evitar que fossem para aquele lugar!

- 4ª Aparição (19 de Agosto de 1917): A Virgem apareceu nesse dia porque no dia 13 de Agosto as crianças estavam raptadas pelo então administrador do concelho de Vila Nova de Ourém, Artur de Oliveira Santos, um republicano anticlerical que queria arrancar-lhes o segredo a força. Elas chegaram a ser presas em uma cela comum. Imagina a cena, bandidos e as três crianças, incluindo uma menina de 7 anos, presas na mesma cela! Apesar das várias ameaças físicas de que foram alvo, permaneceram inabaláveis e nada revelaram. Neste dia 13, uma multidão esperava as crianças na Cova da Iria. Na manhã do dia 15 de agosto e a seguir a um interrogatório final, foram então libertadas e regressaram a Fátima.

Então ela aparece no dia 19 de  agosto em lugar chamado Valinhos, uma propriedade de um dos seus tios e que dista uns 500 metros de Aljustrel. Nossa Senhora diz que é para construir uma capela para ela, para continuarem rezando o terço todos os dias e reforçou que no último mês da aparição farei o milagre para que todos acreditem.

A igreja não acreditava no que acontecia e dizia que era invenção das crianças ou que viam algo do diabo para destruir a igreja.

- 5ª Aparição (13 de Setembro de 1917): Desta vez, mais de 20 mil pessoas foram até a Cova da Iria presenciar o fenômeno, que como sempre começava com fenômenos atmosféricos. Nossa Senhora apareceu e disse para Lúcia:

Continuem a rezar o terço para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro, virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus, para abençoarem o Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia.

- 6ª Aparição (13 de Outubro de 1917): Neste dia, mais de 70 mil pessoas estavam na Cova da Iria. A mulher que aparecia para os 3 pastores revelou se a Virgem Maria. Ela disse: - Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. 

Lúcia então no final da conversa diz para a multidão olhar para o Sol e todos presenciaram algo espetacular que ficou conhecido como O Milagre do Sol.

Lúcia (no meio, aos dez anos de idade) e seus dois primos: Francisco (nove anos) e Jacinta Marto (sete anos) segurando seus rosários (fotografia tirada na altura das aparições).


O Milagre do Sol

Lembra que a Virgem Maria disse que faria um milagre para as pessoas acreditarem nas palavras dos pastorinhos? Pois ele aconteceu na última aparição da Virgem, em 13 de Outubro de 1917

Choveu muito no dia, muito mesmo e havia lama por toda parte na Cova da Iria. Mesmo assim, mais de 70 mil pessoas foram presenciar mais uma aparição Mariana. E eles observaram o que ficou conhecido como Milagre do Sol.

Após uma chuva torrencial, as nuvens dissiparam-se no firmamento e o Sol apareceu como um disco opaco, girando no céu. Algumas afirmaram que não se tratava do Sol, mas de um disco em proporções solares, semelhante à Lua. Disse-se ser observável significativamente menos brilhante do que o normal, acompanhado de luzes multicoloridas, que se refletiam na paisagem, nas pessoas e nas nuvens circunvizinhas. Foi relatado que o pretenso Sol se teria movido com um padrão de zigue-zagues, assustando muitos daqueles que o presenciaram, que pensaram ser o fim do mundo. Muitas testemunhas relataram que a terra e as roupas previamente molhadas ficaram completamente secas num curto intervalo de tempo e, também relataram curas inexplicáveis de paralíticos e cegos, e outras doenças não explícitas, em vários casos comprovadas também por testemunhos de médicos.

De acordo com relatórios das testemunhas, o Milagre do Sol durou aproximadamente dez minutos. As três crianças relataram terem observado Jesus, Nossa Senhora da Conceição e São José abençoando a multidão no firmamento.

Pessoas a mais de 40 km da Cova da Iria observaram o Milagre do Sol.

O evento foi oficialmente aceito como um milagre pela Igreja Católica em 13 de outubro de 1930. Em 13 de outubro de 1951, o cardeal Tedeschini afirma que, em 30 de outubro, 31 de outubro e 1 de novembro e 8 de novembro, o Papa Pio XII presenciou um milagre semelhante nos jardins do Vaticano.

O que aconteceu na verdade? É claro que o Sol não saiu do lugar, senão haveria consequencias desastrosas para o nosso Sistema Solar. Alucinação em Massa? Será mesmo que 70 mil pessoas ficaram alucinadas?

Parte da multidão presente na Cova da Iria em 13 de outubro de 1917

Página de Ilustração Portuguesa, 29 de outubro de 1917, mostrando as pessoas a observar o milagre



O que Aconteceu nos Anos Seguintes?

As visões sessaram no dia 13 de Outubro, com o clímax do Milagre do Sol, as a vida continuou para todo mundo.

- Em 7 de novembro de 1917 os Bolchevistas derrubaram o Governo Provisório apoiado pelos partidos socialistas moderados e impuseram o governo socialista soviético, um governo ateu que repelia a igreja. A profecia estava se cumprindo.

- Conforme previsto pela Virgem Maria na segunda visita, Francisco e Jacinta morreram, em 1919 e 1920 respectivamente, e se juntaram a ela no céu.

- Lúcia, aos 14 anos, entrou na escola Dorotéia de Irmãs na cidade do Porto, seguindo conselho dos pais e do Bispo. Depois como Irmã Lúcia do Coração Imaculado ela entra num convento enclausurado.

- A Virgem também apareceu mais algumas vezes para Irmã Lúcia, conforme disse quando apareceu em 1917. Ela voltaria para falar sobre dois pedidos:

1. Que a Santa Comunhão fosse recebida no primeiro sábado de 5 meses sucessivos e oferecida como reparação. Em 10 de dezembro de 1925 isso aconteceu.
2. O sacramento da Rússia pelo Papa em cerimônia com todos os Bispos do planeta.

- Em 1932, após 15 anos de investigação Eclesiástica, o Milagre de Fátima é declarado como uma mensagem digna de crença. A Fé ressurge com força em Portugal.

-  Em 25 de janeiro de 1938 uma luz desconhecida ilumina os céus de diversos países do mundo. Era mais uma profecia de Fátima se realizando, pois ela disse que antes de começar uma outra grande guerra, o céu ficaria colorido. No final da guerra, dois super poderes surgiram: EUA e Rússia, Democracia x Comunismo. O mundo viveu a Guerra Fria. Se o comunismo vencesse essa guerra ideológica era o fim da igreja. Muitos países se tornaram socialistas, como China e Cuba.

A Revelação dos Dois Primeiros Segredos

Os segredos eram conhecidos em partes e havia muita especulação, com artigos dizendo que os segredos diziam isso, outros diziam que dizia aquilo e por ai vai, cada um criava seus segredos e publicada. Algo precisava ser feito.

Assim, em 1935 Lúcia escreveu a pedido do Bispo de Leiria. Lúcia escreve o texto sobre a vida de Jacinta e que fica conhecido como a "Primeira Memória da Irmã Lúcia"

O Cônego Galamba percebeu que não escreveu tudo e ordenou novos escritos, o que ela fez em novembro de 1937, com o nome de  "Segunda Memória da Irmã Lúcia". Ela revela pela primeira vez as visões do Anjo..

Então em 31 de Agosto de 1941 - Atendendo ao pedido feito pelo Bispo de Leiria, Lúcia redige novos fatos sobre Jacinta e revela a Primeira e a Segunda parte do Segredo, deixando claro que existiria ainda uma Terceira parte por divulgar. Este manuscrito é posteriormente publicado, ficando conhecido como "Terceira Memória da Irmã Lúcia".

As duas folhas escritas pela Irmã Lúcia revelando o 1º e º Segredos de Fátima. Estas imagens eu tirei do próprio site do Vaticano.


Transcrição da carta que revelou o 1ºe 2º segredos revelados por Nossa Senhora:

Terei para isso que falar algo do segredo e responder ao primeiro ponto de interrogação. 

O que é o segredo? 

Parece-me que o posso dizer, pois que do Céu tenho já a licença. Os representantes de Deus na terra, têm-me autorizado a isso várias vezes, e em várias cartas, uma das quais, julgo que conserva V. Ex.cia Rev.ma do Senhor Padre José Bernardo Gonçalves, na em que me manda escrever ao Santo Padre. Um dos pontos que me indica é a revelação do segredo. Algo disse, mas para não alongar mais esse escrito que devia ser breve, limitei-me ao indispensável, deixando a Deus a oportunidade d'um momento mais favorável. 

Expus já no segundo escrito a dúvida que de 13 de Junho a 13 de Julho me atormentou e que n'essa aparição tudo se desvaneceu. 

Bem o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar.  

A primeira foi pois a vista do inferno! 

Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fôgo que parcia estar debaixo da terra. Mergulhados em êsse fôgo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronziadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que d'elas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faulhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dôr e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios destinguiam-se por formas horríveis e ascrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa bôa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promeça de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. 

Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: 

— Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer establecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra peor. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sufrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será consedido ao mundo algum tempo de paz.

Portanto assombrados, o 1º segredo é uma visão do Inferno e da perda das almas durante a Primeira Guerra Mundial. Já o 2º segredo é sobre a 2ª Guerra Mundial e a Rússia. Ele dizia que, se os homens não se emendassem, viria um grande castigo sobre as nações na forma de uma Segunda Guerra Mundial, e que a Rússia espalharia seus erros -- erros no plural -- pelo mundo, e que várias nações seriam aniquiladas. Ambos os segredos já foram selados e cumpridos.

Em 1942 o Papa Pio XII através de uma mensagem rádio a Portugal, faz a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria. Mas ele não fez conforme as instruções e a guerra continuou e a Rússia seguiu estendendo a outros países o ateísmo. Em 1952 o mesmo papa consagrou o povo russo ao Imaculado Coração de Maria, mas nada feito, porque não tinha reunido todos os bispos. Em 1982 ele fez novamente a Consagração, mas ainda não era como deveria ser. Finalmente em 25 de Março de 1984 - O Papa João Paulo II, em união com os bispos do mundo inteiro, faz na Praça de S. Pedro, no Vaticano, a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, diante da imagem da Virgem de Fátima, que propositadamente viajou desde a Capelinha das Aparições. Mais tarde, a Irmã Lúcia confirma, numa carta de 8 de Novembro de 1989 para o Santo Padre, que este acto solene e universal de consagração, corresponderia ao que Nossa Senhora queria.

Em 1989 caiu o mundo de Berlim e com ele acabou a Guerra Fria e os países puderam se libertar das garras do comunismo. A Rússia voltou a ter religião e muitas propriedades foram devolvidas a igreja nos anos seguintes.

Agora vamos ao que desperta bastante discussão até hoje...

O Primeiro Segredo é uma visão do Inferno e da perda das almas durante a Primeira Guerra Mundial.

Já o Segundo Segredo é sobre a 2ª Guerra Mundial e a Rússia, que espalharia o ateismo pelo mundo.


- A Relevação do Terceiro Segredo

Depois de ficar por décadas secreto, em 3 de Janeiro de 1944 a  Ir. Lúcia dos Santo redigiu o último segredo, por ordem do Bispo de Leiria.

Esse segredo foi selado em um carta e deixado no Arquivos do Vaticano por muitos anos. Só em 1959 ela foi aberta pelo Papa João XXIII que decidiu manter em segredos. Os Papas seguintes receberam a carta e eles resolveram deixar a mesma guardada.

Em 26 de Junho de 2000 - O Vaticano publica o texto integral do Terceiro Segredo, acompanhado por um comentário teológico da autoria do então Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Em 2014 o Vaticano autorizou o santuário a expor ao público pela primeira vez a carta manuscrita de Lúcia em que ela revela a terceira parte do Segredo de Fátima. O documento foi apresentado na área de Reconciliação da Basílica da Santíssima Trindade como a peça principal da exposição intitulada Segredo e Revelação, que propôs uma reflexão sobre a terceira parte do Segredo versando sobre a sua interpretação teológica feita pelo então cardeal Ratzinger.

« J.M.J.   

A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na Cova da Iria-Fátima. 

Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe. 

Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos n'uma luz emensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'êles recolhiam o sangue dos Martires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus. 

Tuy-3-1-1944 ». 

Vamos ver como a igreja interpretou esse segredo...

As quatro folhas escritas pela Irmã Lúcia revelando o 3º Segredo de Fátima. Estas imagens eu tirei do próprio site do Vaticano<


Interpretação do Vaticano do 3º Segredo

Em 13 de maior de 2000 o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado de sua Santidade, pronunciou em português, no final da solene Concelebração Eucarística presidida por João Paulo II em Fátima, um texto que falava sobre os segredos. Sobre a interpretação do 3º Segredo ele disse:

Segundo a interpretação dos pastorinhos, interpretação confirmada ainda recentemente pela Irmã Lúcia, o « Bispo vestido de branco » que reza por todos os fiéis é o Papa. Também Ele, caminhando penosamente para a Cruz por entre os cadáveres dos martirizados (bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares), cai por terra como morto sob os tiros de uma arma de fogo. 
Depois do atentado de 13 de Maio de 1981, pareceu claramente a Sua Santidade que foi « uma mão materna a guiar a trajectória da bala », permitindo que o « Papa agonizante » se detivesse « no limiar da morte » [João Paulo II, Meditação com os Bispos Italianos, a partir da Policlínica Gemelli, em:  Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVII-1 (Città del Vaticano 1994), 1061]. Certa ocasião em que o Bispo de Leiria-Fátima de então passara por Roma, o Papa decidiu entregar-lhe a bala que tinha ficado no jeep depois do atentado, para ser guardada no Santuário. Por iniciativa do Bispo, essa bala foi depois encastoada na coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima. 

Nessa ocasião, o Cardeal Sodano, Secretário de Estado, ousou afirmar, contra toda a evidência, que a visão tinha relação com o atentado de morte que o papa sofrera em 1981.

Ora, a visão publicada mostrava uma procissão de Cardeais, Bispos, Padres religiosos, e povo que era seguida por um Papa com passo vacilante e hesitante, numa cidade arruinada. A procissão se encaminhou para uma montanha sobre a qual havia uma cruz (símbolo claro do Calvário, portanto, da Missa). Lá, o Papa era fuzilado e flechado, e, em seguida os Cardeais, Bispos e povo eram mortos também.

Assim, para a igreja o segredo consistia apenas numa visão e que a visão tinha relação com o atentado de morte que o papa sofrera em 1981.

O Papa Emérito Bento XVI, na época era o Cardeal Joseph Ratzinger, e foi ele quem fez um Comentário Teológico sobre os Três Segredos. Este comentário está completo no site do Vaticano,

O segredo não foi revelado antes porque se divulgassem que era a morte de um Papa, várias pessoas no mundo iriam querer matar realmente o Papa para cumprir a profecia, dizem.

Philip Kosloski publicou um artigo no site Aleteia onde ele analisou os comentário feito pelo então Cardel  Joseph Ratzinger sobre o 3º Segredo e listou 5 revelações surpreendentes do “terceiro segredo” de Fátima

1. Penitência, penitência, penitência: A mensagem central de Nossa Senhora de Fátima era “penitência”. Ela quis recordar ao mundo a necessidade de afastar-se do mal e reparar os danos provocados pelos nossos pecados. Esta é a “chave” para compreender o resto do “segredo”. Tudo gira ao redor da necessidade de penitência.

2. Nós preparamos a espada de fogo: Esta parte da aparição tende a ser a mais angustiante. Parece que Deus pode destruir todos com uma “espada de fogo”. Mas o cardeal Ratzinger, no entanto, sublinha que a “espada de fogo” seria algo criado por nós mesmos (como a bomba atômica), e não um fogo que desce do céu. A boa notícia é que a visão afirma que a espada de fogo é extinta no contato com o esplendor da Virgem, em conexão com o convite à penitência. Maria tem a última palavra e seu esplendor pode deter qualquer cataclismo.

3. O futuro não está gravado em pedra: Ao contrário da convicção popular, as intensas visões oferecidas por Nossa Senhora de Fátima não são uma previsão do futuro, do que vai acontecer. São uma previsão do que poderia acontecer se não respondermos ao convite à penitência e à conversão do coração, que Ela faz. Ainda temos nosso livre arbítrio, e somos convidados a usá-lo pelo bem de toda a humanidade.

4. O sangue dos mártires é semente da Igreja: É verdade que a visão contém muito sofrimento, mas não é em vão. A Igreja pode ter de sofrer muito nos anos vindouros, e isso pode não ser uma surpresa. A Igreja viveu a perseguição desde a crucificação de Jesus, e nosso sofrimento na época atual produzirá efeitos positivos no futuro.

5. Tende confiança! Eu venci o mundo: Para concluir, o “segredo” de Fátima nos dá esperança neste mundo lacerado pelo ódio, pelo egoísmo e pela guerra. Satanás não triunfará, e seus planos malignos serão impedidos pelo Coração Imaculado de Maria. Poderá haver sofrimento no futuro próximo, mas, se nos afiançarmos em Jesus e sua Mãe, sairemos vitoriosos.

Muita gente não concorda com a interpretação do Papa Emérito Bento XVI e propõem outras interpretações desse segredo. Eles dizem que no atentado de Agca contra João Paulo II ninguém morreu. Nem o Papa que foi baleado por Agca.

Inclusive é dito que o próprio Papa Emérito Bento XVI reconheceu recentemente que o 3º Segredo não havia acontecido ainda...


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O Santuário de Fátima

Nossa Senhora em conversa com as crianças pediu para se construir uma capela em sua honra. Assim, trago para você um pequeno resumo da construção do local hoje conhecido como Santuário de Fátima.

José Ferreira Thedim e a primeira
Imagem de Nossa Senhora Aparecida
Entre 28 de abril e 15 de junho de 1919 foi construída a Capelinha das Aparições, que desde então constitui parte essencial do santuário. Ela foi construída no local exato onde estava a pequena azinheira sobre a qual a Santíssima Virgem Maria apareceu aos três pastorinhos de Fátima a 13 de Maio, de Junho, de Julho, de Setembro e de Outubro de 1917.

Uma estátua de Nossa Senhora de Fátima foi confeccionada no início de 1920 por José Ferreira Thedim, e oferecida por Gilberto Fernandes dos Santos. Foi benzida em 13 de maio de 1920 na Igreja Paroquial de Fátima, tendo sido entronizada na Capelinha das Aparições a 13 de junho do mesmo ano

Em 6 de março de 1922, a capela da Cova da Iria foi dinamitada por desconhecidos e parcialmente destruída. Embora tenham sido colocados explosivos em cada canto da pequena ermida, nem todas as cargas detonaram, contribuindo para a ideia popular de que o local estaria protegido por alguém ou algo sobrenatural. A capela foi reconstruída ainda durante esse ano, e protegida por um muro em torno do recinto.

O primeiro projeto urbanístico foi executado apenas parcialmente, sendo as primeiras edificações mais tarde alteradas ou substituídas, e a expansão do local desenvolvia-se de maneira muito desorganizada

Em 13 de maio de 1928 é lançada a primeira pedra para a construção da Basílica de Nossa Senhora do Rosário.

1. A Capelinha das Aparições em 1922. 2. Peregrinação de mais de 50 mil crentes na Cova da Iria, 13 de outubro de 1926; ao fundo, vista do alpendre construído para proteger a Capelinha das Aparições. 3. A Capelinha das Aparições já coberta pelo seu primeiro alpendre e com a sua envolvência toda pavimentada. À esquerda percebe-se parte da rotunda com colunata que cercava e cobria a fonte, 1937.

Em 1945, na tentativa de se corrigir erros e ordenar a constante ampliação do complexo, o Conselho das Obras Públicas aprovou um Anteplano de Urbanização de Fátima. Assim como os outros projetos anteriores, também este não foi implementado completamente, permanecendo o problema básico de desorganização urbanística, que persistiria ainda por muitos anos. Enquanto o santuário crescia, formava-se uma vila nas redondezas, atraindo pessoas que de alguma forma estavam envolvidas com suas atividades ou se ocupavam num comércio de bens e artigos voltados principalmente para os peregrinos.

Em 1950, por ocasião da celebração do Ano Santo, o santuário passou por uma importante remodelação.

Em 13 de março de 1951 os restos mortais de Jacinta Marto são trasladados do cemitério de Fátima para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e, a 13 de março do ano seguinte, são trasladados para esse mesmo local os restos mortais do seu irmão, Francisco Marto.

Em 1953 é concluída a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (ou, de modo abreviado, "Basílica do Rosário") é um dos edifícios mais icônicos do santuário. Foi erguida no local onde os três pastorinhos brincavam quando, no dia 13 de maio de 1917, viram o clarão que antecedeu a primeira aparição da Virgem Maria. O início da construção da basílica data de 1928, tendo a sagração ocorrido a 7 de outubro de 1953.

1. No local onde aconteceu a primeira aparição da Virgem aos 3 pastorinhos foi construída a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (ou, de modo abreviado, "Basílica do Rosário"). É um dos edifícios mais icônicos do santuário. 2. Basílica de Nossa Senhora do Rosário em 2008.


A fama do local como centro de devoção trazia um crescente número de peregrinos, exigindo a adaptação das instalações, ocorrendo a partir da década de 1960 o alargamento e regularização do recinto, a construção da colunata, de arruamentos e da praça de Santo António, a remodelação do hospital, a ligação às redes de distribuição de água e eletricidade, entre outras obras. Foi também criada uma secretaria permanente, uma assessoria de imprensa, um serviço de atendmento a turistas e estrangeiros e iniciou-se a formação de coleções arquivísticas, bibliográficas e museológicas.

Desde a década de 70 diversas melhorias foram sendo realizadas no complexo.  A Capelinha das Aparições e o Presbitério do recinto de oração foram renovados, os hospitais e casas de retiros de Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora das Dores foram remodelados ou receberam novos usos e deu-se início à construção do Centro Pastoral Paulo VI. Foram construídos a Basílica da Santíssima Trindade, o alpendre que protege a Capelinha das Aparições e o monumento que hoje integra um módulo do Muro de Berlim

Em 2007, por ocasião do 90.º aniversário das Aparições de Fátima, foi inaugurada aBasílica da Santíssima Trindade, uma enorme basílica dedicada à Santíssima Trindade, dispondo de 8 633 lugares sentados e 40 000 m² de área. Desde 1973 que estavam planejando contruí-la.

O principal dia de celebrações foi escolhido como sendo o 13 de maio de cada ano. Está agendada para esse ano a visita do Papa Francisco em comemoração aos 100 anos da aparição.

A Basílica da Santíssima Trindade é a mais recente construção do complexo do santuário, sendo dedicada ao culto da Santíssima Trindade. Conta com um total de 8 633 lugares sentados e 40 000 m² de área, sendo considerada o quarto maior templo católico do mundo em capacidade.


1. Vista panorâmica parcial do recinto em direção a nascente, podendo-se observar a Capelinha das Aparições, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, a Colunata, o monumento ao Coração de Jesus e as casas de retiros de Nossa Senhora das Dores (à esquerda) e de Nossa Senhora do Carmo (à direita). 2. Vista panorâmica do recinto em direção a poente, podendo-se observar, ao fundo, a Basílica da Santíssima Trindade.


  - Conclusão

A Conclusão é que ouve milagre reconhecido pela Igreja, então não tem o que discutir. Ao incrível aconteceu em 1917 na Cova da Iria e um milagre do sol dançante foi testemunhado por 70 mil pessoas.

Os segredos expostos por Irmã Lúcia em seus escritos falam sobre a primeira Guerra e sobre uma Rússia protagonista mundial. Como que Lúcia, Jacinta e Francisco sabiam disso? Ele viviam em um vilarejo rural, eram crianças e analfabetas!

Existe uma possibilidade da Irmã Lúcia ter incluído coisas que não viu em suas memórias, visto que elas foram escritas muitos e muitos anos depois? É sim, mas é bastante improvável.

Sobre os dois primeiros segredos, existe um consenso sobre eles, que foram interpretados corretamente e já se cumpriram.

Já o terceiro segredo existe uma discussão. Para a Igreja foi a visão do Atentado ao Papa em 13 de maio de 1981 na praça de São Pedro, no Vaticano. Para outros, é um segredo que ainda não aconteceu e tem haver com a destruição da igreja...

Fontes (acessadas dia 01/04/2017):
- Documentário Fátima - Paris Filmes
- Documentário Os Segredos de Fátima - History Channel
- Documentário As Profecias de Nostradamus: A Profecia Perdida de Fátima - History Channel
Vaticano: O « SEGREDO » DE FÁTIMA 
Wikipedia.pt: Aparições de Fátima
Wikipedia.pt: Segredo de Fátima
- Wikipedia.fr: Miracle du soleil
- Wikipedia.pt: Milagre do Sol
- Aleteia: 5 revelações surpreendentes do “terceiro segredo” de Fátima
- MontFort: Os três segredos de Fátima
- Google Maps: Santuário de Fátima
- Wikipedia.pt: Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria
- Wikipedia.pt: Santuário de Fátima
- Nossa Senhora de Fátima: Imagens de Nossa Senhora de Fátima

Será Verdade que os Ingleses Mutilavam e Queimavam os Corpos dos Mortos Para Evitar que Ocorresse um "Apocalipse Zumbi"?

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Por Marco Faustino

Sempre que vejo uma notícia fantástica sobre "zumbis" e "vampiros" me lembro daquele texto publicado por uma estagiária da revista Superinteressante, a respeito de um "apocalipse zumbi", que teria ocorrido na Rússia, entre julho ou agosto do ano passado. Vocês lembram daquela história? Por incrível que pareça não havia nenhuma imagem sobre o incidente na Sibéria, sendo que havia apenas uma foto de "zumbis". Além disso, estava escrito que a área do incidente havia sido isolada e toda a população, humana ou animal, que saiu da região estava em quarentena. Ainda segundo o texto, a orientação dos pesquisadores russos era típica dos apocalipses zumbis da ficção: "alerta constante e monitoramento de cemitérios onde vítimas da doença tivessem sido enterradas". Ao menos para mim, que costumava comprar a revista na minha infância e adolescência foi algo no mínimo decepcionante. Então, naquela mesma época fiz uma matéria bem completa mostrando todos os detalhes, e tudo o que vocês precisavam saber sobre aquele assunto. A realidade era um pouco preocupante, mas não era nem um pouco semelhante a ficção, pelo contrário (leia mais: Será Verdade que a Rússia Estaria Enfrentando um "Apocalipse Zumbi" Devido a uma Superbactéria na Sibéria?). Resumindo? Aquilo acabou sendo apenas um prefácio do que estamos acompanhando hoje, ou seja, jornais e revistas dizendo o quão importante é verificar os fatos, e investindo em uma área cuja sondagem e confirmações deveriam ser uma prática habitual. Talvez uma tentativa desesperada de conter um verdadeiro monstro de alienação e sensacionalismo que eles criaram no passado.

Recentemente, também tivemos uma notícia fantástica relacionada ao que ficou conhecido como "Necromante dos Urais", onde uma boa parte da impresa internacional começou a dizer que um homem chamado Arsen Bayrambekova (Арсена Байрамбекова), um ex-policial do Daguestão, teria matado quatro pessoas - todos moradores de rua - durante rituais ocultistas em uma floresta da Rússia com o objetivo de ressuscitá-los e formar um "exército zumbi". Montar o quebra-cabeças daquela história não foi fácil devido a escassez de informações na mídia russa, assim como algumas informações e datas divergentes. Porém, consegui trazer para vocês um conteúdo bem completo, devidamente verificado ao realizar o cruzamento de dados disponíveis, e posteriormente atualizando os desdobramentos em relação ao seu respectivo julgamento. Ao longo do texto, descobrimos que motivação de Arsen não era criar zumbis, mas realizar sacrifícios humanos ao acreditar que seria recompensado financeiramente, ou seja, que os deuses eslavos o tornariam rico. De acordo com as investigações, Arsen Bayrambekova teria encontrado um "professor de ocultismo" na internet, que o ensinou sobre deuses eslavos, e que para se aproximar deles era necessário fazer sacrifícios. Arsen teria dito aos investigadores, que durante as orações para esses deuses, os mesmos pediram por oferendas (leia mais: O "Necromante dos Urais": Homem Matou Moradores de Rua Para Tentar Ressuscitá-los como um "Exército de Zumbis", na Rússia?).

Agora, a mídia britânica está em polvorosa com a publicação de um estudo ontem (3), no periódico Journal of Archaeological Science: Reports, realizado por arqueólogos, que teria revelado que determinadas pessoas da região de Yorkshire, um condado histórico do Norte da Inglaterra e o maior do Reino Unido, teriam tanto medo dos mortos que desmembraram, quebraram e queimaram corpos de pessoas mortas para terem absoluta certeza que elas não voltariam à vida, durante a Idade Média. Esse estudo promovido pela "Historic England" (um órgão executivo público não-departamental do governo britânico subsidiado pelo Departamento de Cultura, Mídia e Desportos) e pela Universidade de Southampton talvez pudesse representar a primeira evidência científica na Inglaterra, em relação a eventuais tentativas de impedir os mortos caminharem novamente, e prejudicar os vivos. Aliás, essa prática seria vista como "algo muito comum" no folclore em diversas partes do mundo. Interessante, não é mesmo? No entanto, será que isso é mesmo verdade? Vamos saber mais sobre esse assunto?

Entenda o Caso: Como Esse Assunto Está Sendo Divulgado Pela Mídia Britânica?


Para vocês terem uma ideia, vem acontecendo um festival de títulos um tanto quanto apelativos em relação a esse assunto. O britânico "Daily Telegraph", por exemplo, destacou a seguinte manchete: "Zombie invasion fears in medieval Yorkshire: Villagers mutilated bones to stop rise of the living dead" ("Medo de invasão zumbi no Yorkshire medieval: Aldeões mutilavam os ossos para evitar a ascenção dos mortos-vivos", em português).

Já o site do jornal Gazette & Herald adotou um tom "mais ameno", porém não menos chamativo em relação a imagem de capa: "How medieval villagers in Wharram Percy in Ryedale fought the walking dead" ("Como os aldeões medievais em Wharram Percy, no distrito de Ryedale, combatiam os mortos-vivos", em português).

O britânico "Daily Telegraph", por exemplo, destacou a seguinte manchete: "Zombie invasion fears in medieval Yorkshire: Villagers mutilated bones to stop rise of the living dead" ("Medo de invasão zumbi no Yorkshire medieval: Aldeões mutilavam os ossos para evitar a ascenção dos mortos-vivos", em português)
Já o site do jornal Gazette & Herald adotou um tom "mais ameno", porém não menos chamativo em relação a imagem de capa: "How medieval villagers in Wharram Percy in Ryedale fought the walking dead" ("Como os aldeões medievais em Wharram Percy, no distrito de Ryedale combatiam os morto-vivos", em português)
E não pense que o Brasil escapou disso, o popularesco site do jornal "Extra" mencionou: "Povo medieval mutilava os mortos para evitar o apocalipse zumbi". Uma vez que muitos de vocês gostam (erroneamente, diga-se de passagem), de se informarem através de sites mais populares, que apresentam os textos mais curtos possíveis e praticamente uma réplica sem qualquer filtro ou verificação do que é publicado, adotei um tom semelhante, porém questionador para não fazer o mesmo que eles. Afinal de contas, não é porque alguém toma a atitude de apelar e enganar os outros, que devo fazer a mesma coisa com vocês, não é mesmo?

Um dos maiores textos e mais ilustrativos sobre o assunto curiosamente foi do britânico "Daily Mail" (DM), que também não escapou da tendência dos títulos chamativos, dizendo: "Archaeologists discover medieval villagers in Yorkshire hacked up dead bodies to prevent them returning as ZOMBIES" ("Arqueólogos descobriram que aldeões medievais em Yorkshire desmembravam cadáveres para impedir que eles voltassem como ZUMBIS", em português). Contudo, por mais incrível que pareça foi um dos poucos lugares que não usaram cenas de zumbis ou do seriado norte-americano "The Walking Dead" para atrair, ainda que de forma questionável, a atenção dos leitores.

De acordo com o texto, os escritores britânicos do século XI em diante teriam começado a mencionar sobre "cadáveres inquietos" ou "revenants" (termo em inglês usado para designar as pessoas que retornariam após a morte ou após uma longa ausência), cujos atos infames durante suas vidas eram indícios que ficariam inquietos ou agitados em seus túmulos. Assim sendo, isso significava que seus corpos voltariam à vida, fosse devido as suas naturezas malignas, fosse devido ao próprio Satanás.

De acordo com o texto, os escritores britânicos do século XI em diante teriam começado a mencionar sobre "cadáveres inquietos" ou "revenants" (termo para designar as pessoas que retornariam após a morte ou após uma longa ausência), cujos atos infames durante suas vidas eram indícios que ficariam inquietos ou agitados em seus túmulos
Qualquer que fosse a explicação, temia-se que eles rastejassem para fora de seus túmulos, espalhassem doenças e atacassem os vivos. Portanto, decapitá-los, quebrar os ossos dos seus corpos ou simplesmente queimá-los eram vistos como uma forma de evitar que eles voltassem a caminhar entre os vivos. Contudo, até hoje ninguém tinha encontrado restos mortais de seres humanos, que pudessem ter sido "descartados" dessa maneira. No entanto, uma equipe da "Historic England" e da Universidade de Southampton, acreditam que encontraram uma boa "evidência arqueológica dessa prática", no Reino Unido.

"A ideia de que os ossos encontrados no antigo vilarejo de Wharram Percy são os restos mortais de cadáveres queimados e desmembrados para impedí-los de caminhar para fora de suas sepulturas, parece ajustar-se melhor às evidências", disse Simon Mays, pertencente a "Historic England".

O Dr. Simon Mays, biólogo especializado em sistema esquelético da "Historic England"
"Se estivermos certos, então essa é a primeira boa evidência arqueológica que temos dessa prática. Ela nos mostra um lado negro das crenças medievais e fornece um lembrete gráfico de como a visão medieval do mundo era diferente da nossa", completou.

Um total de 137 fragmentos de ossos representando os restos mortais de pelo menos dez indivíduos foram enterrados em uma vala no assentamento do sítio arqueológico. Eles datam principalmente entre os séculos XI e XIV d.C (muito embora haja uma diferença considerável).

Imagem mostrando a localização do antigo vilarejo medieval de Wharram Percy em relação a Londres, capital da Inglaterra. Na prática são aproximadamente 350 km de distância (cerca de 4h30 de carro)
Wharram Percy é o mais famoso exemplo de antigo vilarejo medieval que existe na Inglaterra
Os ossos foram escavados no sítio arqueológico nº 12, em Wharram Percy,
relativamente próximo da ruínas de uma igreja local e do cemitério
Os resultados foram publicados ontem, em um artigo da equipe liderada pelo próprio Simon Mays, biólogo especializado em sistema esquelético da "Historic England" , o periódico "Journal of Archaeological Science: Reports". O Dr. Simon Mays disse que a descoberta estava sendo considerada como "única" na Europa Ocidental.

Os únicos restos mortais equivalentes seriam aqueles relacionados a "funerais de vampiros" na Europa Oriental. Por lá, os corpos tinham sido enterrados com estacas no coração ou então com outras precauções, como uma espécie de "foice" colocada em volta do pescoço para impedí-los de retornar como "vampiros".

Imagem aérea do antigo vilarejo medieval de Wharram Percy
As ruínas da Igreja de São Martinho, que fica localizada no antigo vilarejo medieval de Wharram Percy
O Dr. Simon Mays ainda mencionou que não ficou assustado em lidar com os restos mortais, uma vez que ele não acredita no sobrenatural.

"Isso mostra que os povos medievais não eram apenas como os povos modernos usando roupas ou vestidos engraçados. Eles eram diferentes em suas perspectivas, muito estranhas para nós. O mundo era um lugar ameaçador para os povos medievais. Não tendo uma compreensão científica, eles lutaram para chegar a um acordo sobre muitas coisas que temos conhecimento", acrescentou.

Confira também uma espécie de passeio realizado por um usuária do YouTube chamada Rachybop até o antigo vilarejo de Wharram Percy, no Condado de Yorkshire, na Inglaterra (em inglês, sendo que o passeio no local começa a partir de 3:52). Vale a pena conferir mais de perto:



Ele disse que era intrigante que esqueletos de crianças e mulheres tivessem sido encontrados na fossa, uma vez que os textos sobre "revenants" só mencionavam cadáveres masculinos voltando à vida. Ele ainda mencionou que, diante das decapitações e dos atos de queimar os corpos que ocorreram ao longo de centenas de anos, "era estranho que não tivessem encontrado algo assim em qualquer outro lugar"

Parietal direito de um crânio adulto mostrando descoloração térmica que aumenta de intensidade em direção ao vértice,
com alguma exfoliação da lâmina externa
A análise dos dentes - através da medição de isótopos radioativos - apontou que os cadáveres se originaram na própria região, sendo semelhantes aos dos moradores enterrados em um cemitério próximo. De acordo com os autores do estudo, aquelas não eram pessoas desconhecidas ou que morreram em batalhas. Os corpos tinham entre 4 e 50 anos de idade e, além disso, as evidências de queimaduras, marcas de cortes e fraturas "indicavam que eram um produto de mais de um evento, do que necessariamente um único episódio".

"Isótopos de estrôncio em dentes refletem a geologia de que um indivíduo possuía os dentes formados durante a infância", explicou Alistair Pike, professor de Ciências Arqueológicas da Universidade de Southampton, que conduziu a análise isotópica.

Marcas de faca na superfície de um fragmento de costela
Mais marcas de faca na superfície de um fragmento de costela
"Uma combinação entre os isótopos nos dentes, e a geologia em torno de Wharram Percy sugeriu que eles cresceram em uma área próxima de onde foram enterrados, possivelmente no vilarejo. Isso foi uma surpresa para nós, uma vez que primeiramente nos questionamos se esse 'tratamento incomum' dado aos corpos poderia estar relacionado a um distanciamento dessas pessoas ao invés de serem moradores locais", completou.

Existem três marcas de faca quase transversais na superfície do osso (setas pretas),
e sinais de queimaduras (seta brancas)
Vista lateral da parte distal de uma tíbia, mostrando uma fratura em espiral através da diáfise
Para explicar como as pessoas da Idade Média acreditavam na reanimação de corpos, os autores disseram que havia uma crença diante uma "força de vida persistente em indivíduos que cometeram atos malignos, diabólicos, e que projetavam uma forte hostilidade durante a vida ou tiveram uma morte súbita deixando a energia sem ser devidamente utilizada." O autor medieval William de Newburgh chegou a escrever sobre um jovem morto após ter cometido adultério vagando por um vilarejo, que "encheu todas as casas de doenças e morte devido a sua respiração pestilenta."

Um fragmento do eixo do fêmur longitudinalmente dividido.
Foi nesse sentido que o britânico "Independent" mencionou sobre William de Newburgh, o citando como um clérigo de Yorkshire, do século XII, que teria escrito que esse homem teria sido perseguido por cães, enquanto perambulava por vielas e casas, ao mesmo tempo que a população apavorada tentava trancar suas portas. Até que finalmente as pessoas decidiram acabar com a ameaça escavando sua sepultura, mutilando e queimando seus restos mortais. No relato, ao mutilarem os restos mortos desse homem teria jorrado um fluxo de sangue, que até mesmo poderia ser originado de algumas de suas possíveis vítimas. Apesar do medo dos "revenants" (incluindo os que sugam o sangue - que conhecemos atualmente como "vampiros" - e aqueles que atacavam sexualmente as mulheres em seus quartos à noite) ser algo muito comum nos romances populares da mitologia medieval, assim como do Gótico Vitoriano, o mesmo impôs desafios para as autoridades religiosas e civis, que tiveram que lutar politicamente, teologicamente e culturalmente para lidar e conter esses medos voláteis.

Outra possibilidade que os autores exploraram foi se os cadáveres tinham sido desmembrados em um ato de canibalismo durante um período de escassez de alimentos, mediante a extração de tutano dos ossos da coxa e a ingestão de cérebro humano. Porém, segundo o DM, assim como a absoluta maioria dos sites de notícias britânicos, a equipe não teria achado que isso se encaixava diante das evidências. Aliás, muitos sites chegaram a dizer que a hipótese de canibalismo teria sido descartada pelos pesquisadores. No canibalismo, marcas de faca no osso tendem a ser encontradas em torno de grandes ligações musculares ou grandes articulações. Em Wharram Percy, as marcas de faca não estavam nesses locais, mas principalmente na área da cabeça e pescoço.

Escavando um Pouco Mais a Fundo: Será que Estamos Mesmo Diante de Uma Incrível Evidência Sobre o Temor Relacionado aos Mortos-Vivos, na Inglaterra, na Idade Média?


O ponto interessante é que a maioiria dos sites de notícias britânicos passaram a replicar essa mesma informação acima, ou seja, tudo apontava para o temor das pessoas da Idade Média de que os mortos saíssem de seus túmulos e atacassem os vivos, sendo excluída a possibilidade de canibalismo. Porém, será que essa história é exatamente da forma como vem sendo contada? A primeira questão que estranhei foi a publicação e a divulgação desse estudo justamente um dia após o último episódio da sétima temporada do seriado norte-americano "The Walking Dead". Teria sido coincidência? Era hora de escavar um pouco mais a fundo para saber a realidade por trás dessa história.

O site do jornal "The Guardian" chegou a divulgar que somente uma igreja em ruínas, algumas casas rurais e série ondulações no terreno permanecem em Wharram Percy, como uma espécie de lembrança do que um dia foi um próspero vilarejo. O local teria sido amplamente escavado durante o século XX, sendo um dos vilarejos mais bem documentos em relação aos milhares de vilarejos que foram eventualmente abandonados devido à peste, ao despovoamento ou alguma mudança na prática agrícola.

O historiador Maurice Beresford, o arqueólogo John Hurst, estudantes e a família Milner, que morava em uma das casas em Wharram Percy na década de 1950. Beresford e Hurst conduziram um programa altamente influente e inovador de pesquisa e da escavação em Wharram Percy por mais de 50 anos
Arqueólogos escavando o interior da Igreja de São Martinho em 1974. Escavações realizadas na década de 1960 e início da década de 1970 recuperaran mais de 600 esqueletos, revelando muitos detalhes sobre a vida no vilarejo medieval
Os ossos seriam de pelo menos 10 indivíduos com idades entre 2 e 50 anos, incluindo sete adultos, dois deles sendo mulheres e três crianças muito jovens. Esses ossos teriam sido escavados na década de 1960 (no estudo é mencionado entre 1963 e 1964), quando arqueólogos estavam investigando as fundações de uma casa, mas esses mesmos ossos não tinham sido estudados em detalhes até hoje.

Os ossos tinham sido enterrados em três fossas sobrepostas, entre as casas, a certa distância da igreja e do cemitério. Quando os ossos foram encontrados, os arqueólogos acreditavam que provavelmente eram mais antigos do que o vilarejo, e pertenciam aos primeiros colonos romano-britânicos, cujos restos mortais foram profanados e enterrados novamente pelos aldeões.

Concepção artística sobre como era o vilarejo medieval de Wharram Percy
Evidentemente, desconfiado, fui atrás do estudo publicado no periódico "Journal of Archaeological Science: Reports" para saber exatamente o que estava sendo mencionado, e forma com que os pesquisadores chegaram a essa conclusão. No sumário do mesmo, é possível ler o seguinte texto:

"Esse trabalho é um estudo de uma coletânea de restos esqueletais humanos desarticulados de uma fossa na região da vila medieval de Wharram Percy, na Inglaterra. Os restos mortais apresentam evidências de fratura perimortem (no momento da morte ou no período próximo da morte), queimaduras e marcas de uso de ferramentas. O objetivo do estudo é tentar esclarecer a atividade humana que poderia ter produzido essa coletânea. Os restos mortais foram sujeitos a datação por radiocarbono, análise de isótopos de estrôncio, exame osteológico, e microscópico. A coletânea possui 137 ossos que representam os restos mortais substancialmente incompletos de um mínimo de dez indivíduos, variando entre 2 a 4 anos e mais 50 anos de idade, na ocasião de suas mortes. Ambos os sexos estão representados

Dezessete ossos mostram um total de 76 marcas de força aguda perimortem (principalmente marcas de faca). Essas marcas estão confinadas às partes superiores do corpo. Pelo menos 17 ossos mostram evidência de queimaduras de baixa temperatura, e cerca 6 ossos longos apresentam fratura perimortem. As datações do radiocarbono concentram-se entre os séculos XI e XIII d.C. e representam mais de um evento. As análises isotópicas de estrôncio do esmalte dental são consistentes com uma origem local. Possíveis comportamentos que podem ter produzido a coletânea incluem canibalismo devido a fome e esforços para manter os cadávares em seus túmulos."
 
Mais uma concepção artística para tentar retratar a aparência do vilarejo medieval de Wharram Percy
O estudo é bem longo e seria inviável traduzí-lo na íntegra para vocês devido a uma grande complexidade de termos e análises. Portanto, vou focar apenas na conclusão gerada por esse estudo, combinado? Agora, acompanhe o que é mencionado pelos pesquisadores:

"Existem dificuldades consideráveis na interpretação dos restos mortais do complexo de valas em Wharram Percy. A história deposicional (de sedimentação) dos restos mortais é desconhecida. A presença de cerâmica de diferentes datas dentro da vala, sugere que os conteúdos foram redepositados de outro lugar, mas não está claro a razão pela qual os restos mortais acabaram juntos nessa vala em particular, especialmente levando em consideração suas diferentes datas. Os restos mortais são substancialmente menores do que seria esperado de um mínimo de 10 indivíduos; pode ser que os restos mortais desses indivíduos tenham sido eliminados de forma a não deixar qualquer vestígio arqueológico ou então tivessem sido enterrados em alguma parte não escavada do local.

Apesar dessas dificuldades, dois cenários principais podem ser considerados para explicar os restos mortais: o canibalismo e as tentativas de combater a ameaça de cadáveres, que pudessem voltar à vida. O caso do canibalismo é suportado devido a fratura dos ossos longos, o que seria consistente com a extração de tutano, embora, alternativamente, isso poderia representar parte de um espectro de ações destinadas a combater um cadáver que pudesse voltar à vida. O tratamento dado aos restos mortais difere do que foi concedido a animais de tamanho médio utilizados como alimento, em Wharram Percy, algo que pode pesar contra um cenário de canibalismo. As queimaduras observadas podem ser consistentes com a destruição da carne, no caso de tratamento contra 'revenants' ou de cozimento em casos de canibalismo. O padrão relacionado as marcas de facas parecem ser mais consistentes com decapitação e desmembramento, assim como documentado como uma forma de lidar com casos de cadáveres reanimados, mas a relação de equilíbrio entre as idades e o sexo é conflitante com relatos textuais de cadáveres reanimados. A evidência não permite que os argumentos sejam considerados de forma decisiva em favor de um ou outro cenário, mas pode ser mais consistente com tentativas de conter cadáveres reanimados do que canabilismo devido a estagnação de alimentos."

Uma das antigas casas construídas em Wharram Percy, que ainda se encontram no local
Conforme vocês puderam notar, está bem claro na conclusão do estudo, que a evidência não permite que os argumentos sejam considerados de forma decisiva em favor de um ou outro cenário. Aliás, apenas pode (no sentido explícito de "talvez") existir um viés de que o estado dos ossos teria alguma relação com a crença de que os mortos pudessem voltar à vida. Portanto, não podemos dizer que o estudo descartou a hipótese de canibalismo, assim como seria bem prematuro afirmar qualquer outra coisa nesse sentido. Entenderam bem essa questão?

Apesar de existir até mesmo um comunicado de imprensa da Universidade de Southampton usando as mesmas palavras replicadas pela mídia britânica, e uma parte do conteúdo ter saído da agência de notícias "Press Association", as declarações de Simon Mays aparentemente são unilaterais e não condizem totalmente com a conclusão do estudo. Existe muita dificuldade em interpretar corretamente o que estamos vendo, ainda que sejam utilizadas inúmeras referências, fontes e análises para embasar o estudo.

Por falar nesse estudo, o mesmo foi recebido em 30 de novembro do ano passado, revisado em 13 de fevereiro desse ano, aceito no dia 20 do mesmo mês e disponibilizado online no dia 2 de abril, justamente um dia após o episódio final da sétima temporada de "The Walking Dead". Acredito, que isso possa ter sido coincidência, mas em um mundo cada vez mais viral, infelizmente isso acaba soando como um espirro. De qualquer forma, esperamos, é claro, que outros estudos sejam feitos nesse sentido, e que possam esclarecer melhor essa questão, para que casos assim possam ser divulgados da maneira mais correta possível.

Até a próxima, AssombradOs!

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://www.bbc.co.uk/news/uk-england-york-north-yorkshire-39477005
http://www.dailymail.co.uk/news/article-4373608/Medieval-villagers-dismembered-corpses-prevent-Zombies.html
http://www.gazetteherald.co.uk/news/15199317.How_medieval_residents_in_Ryedale_fought_the_walking_dead/

http://www.independent.co.uk/news/science/archaeology/archaeology-scientists-find-medieval-remains-english-vampires-yorkshire-wharram-percy-a7663121.html
http://www.inquisitr.com/4114265/medieval-zombie-threat-and-what-villagers-did-about-it/
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352409X1630791X
http://www.telegraph.co.uk/science/2017/04/02/zombie-invasion-fears-medieval-yorkshire-villagers-mutilated/
https://www.eurekalert.org/pub_releases/2017-04/uos-nae040317.php
https://www.journals.elsevier.com/journal-of-archaeological-science-reports/recent-articles
https://www.theguardian.com/science/2017/apr/03/medieval-villagers-mutilated-the-dead-to-stop-them-rising-study-finds

O Polêmico "Experimento Milgram": Até que Ponto Você Seria Obediente e Teria Coragem de Machucar ou Matar uma Outra Pessoa?

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Por Marco Faustino

Não costumo escrever matérias sobre "experimentos", acredito que a única vez que escrevi sobre isso tenha sido sobre o "Experimento Bradford". Naquela ocasião, mencionei sobre um morador da cidade de Detroit, no Estado do Michigan, nos Estados Unidos, chamado Thomas Lynn Bradford, visto que ele era uma pessoa bem peculiar. Ele alegava ser um ex-engenheiro elétrico, e dizia que já tinha sido ator e até mesmo atleta profissional. Porém, quase no fim de sua vida, Bradford voltou sua atenção para algumas "explorações mais profundas". Após algum tempo ele passou a se autoproclamar como um "médium", e também realizou inúmeras palestras sobre o ocultismo. Apesar de suas palestras não serem particularmente populares, ele ainda produziu numerosos (e principalmente não publicados) ensaios sobre diferentes temas sobrenaturais. Pouco antes de sua morte, Bradford escreveu que "todos os fenômenos estão fora do reino do sobrenatural", e que a ciência acabaria por provar a existência da alma, e sua sobrevivência após a morte. Tudo isso levou ao que seria o "experimento científico" mais extremo, que até então alguém já tivesse tentado. Thomas Lynn Bradford acabou cometendo suicídio em uma madrugada de domingo, no dia 6 de fevereiro de 1921. Pouco tempo depois, a cidade de Detroit e o mundo saberiam sua real motivação. Ele simplesmente se matou para tentar se comunicar a partir do "outro lado", e provar definitivamente a existência da "vida após a morte". Apesar das inúmeras discussões que isso gerou, nunca ficou provado que ele realmente tivesse entrado em contato.

Recentemente, no entanto, me deparei com uma notícia onde mencionava que psicólogos sociais da Universidade de Ciências Sociais e Humanas da Polônia (SWPS), uma das instituições de ensino superior mais importantes e respeitadas na Polônia, reproduziram uma versão moderna de um experimento chamado "Milgram", e teriam se deparado com resultados semelhantes aos estudos realizados há mais de 50 anos. Para aqueles que não estão familiarizados com o "Experimento Milgram" (assim como eu mesmo não estava), aparentemente, ele testou a tolerância das pessoas em aplicar choques elétricos em uma outra pessoa, quando incentivado por um "experimentador". Aliás, o mesmo experimento teria sido replicado por diversas vezes ao longo do tempo, em diversos países e culturas diferentes, e praticamente teria obtido os mesmos resultados. Além disso, esses experimentos demonstraram que, sob certas condições de pressão perante uma determinada autoridade, as pessoas permanecem dispostas a executar comandos mesmo quando elas têm ciência que isso pode machucar ou até mesmo matar uma outra pessoa. Assim sendo, achei esse experimento bem interessante, fui atrás de maiores informações sobre como ele foi originalmente realizado, assim como sua repercussão e a mais recente aplicação do mesmo na Polônia. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Uma Introdução ao Experimento que Chocou a Sociedade Norte-Americana na Década de 1960


Em 1961, Stanley Milgram, professor de psicologia da Universidade de Yale, no estado de Connecticut, no Estados Unidos, colocou um anúncio no jornal "New Haven Register". O texto continha as seguintes informações: "Pagaremos 500 homens, moradores da cidade de New Haven, para nos ajudar a completar um estudo científico sobre memória e aprendizado. O estudo será conduzido na Univesidade de Yale. Cada pessoa que participar receberá US$ 4,00 (acrescidos de US$ 0,50 de vale-transporte) por aproximadamente 1h do seu tempo. Precisamos de você apenas por uma hora: não há obrigações posteriores. Você pode escolher o horário que desejar comparecer (durante o período da noite, dias de semana ou fins de semana)"

Em 1961, Stanley Milgram, professor de psicologia da Universidade de Yale, no estado de Connecticut, no Estados Unidos, colocou um anúncio no jornal "New Haven Register" (na foto)
O anúncio também dizia que não era necessário nenhuma espécie de experiência, treinamento e não importava o grau de instrução das pessoas. Stanley Milgram estava interessado em operários, funcionários municipais, barbeiros, clérigos, empresários, telefonistas, representantes comerciais, entre outros diversos grupos de trabalhadores. Não importava nem mesmo que a pessoa tivessse o Ensino Médio ou Superior. A única condição é que os homens deveriam ter entre 20 e 50 anos de idade.

Os interessados deveriam preencher um pequeno formulário no anúncio, recortá-lo e enviá-lo aos cuidados do professor Stanley Milgram, no Departamento de Psicologia da Universidade Yale, na cidade de New Haven. Aliás, o dinheiro prometido seria pago no momento da chegada do participante no laboratório.

Os interessados deveriam preencher um pequeno formulário no anúncio, recortá-lo e enviá-lo aos cuidados do professor Stanley Milgram, no Departamento de Psicologia da Universidade Yale, na cidade de New Haven
Apenas parte disso era verdade. Nos dois anos seguintes, centenas de pessoas apareceram no laboratório de Milgram para um estudo de aprendizagem e memória, que rapidamente se transformou em algo completamente diferente. Sob a vigilância do experimentador, o voluntário - apelidado de "professor" - lia uma sequência de palavras para "o aprendiz", que por sua vez estava ligado a uma máquina de choque elétrico em uma sala ao lado. Cada vez que o aluno cometesse um erro ao errar a sequência de palavras, o professor deveria aplicar um choque de intensidade crescente, começando em 15 volts (chamado de "Choque Leve", na máquina), e indo até 450 volts ("Perigo: Choque Severo").

Algumas pessoas, horrorizadas com o que estavam sendo convidadas a fazer, tentaram interromper rapidamente o experimento, desafiando o desejo de seu supervisor - apelidado de experimentador - de prosseguir. Outros, no entanto, continuaram até 450 volts, mesmo quando o aprendiz clamava por misericórdia, gritando sobre sua condição cardíaca, até ficar em completo silêncio, denotando que poderia ter morrido.

Como curiosidade, o simulador de choque original, o mesmo que foi realizado no "Experimento Milgram" e o gravador de sons atualmente se encontra nos "Arquivos da História da Psicologia Americana", na Universidade de Akron, no estado norte-americano de Ohio
Em um dos mais famosos experimentos psicológicos de todos os tempos, que ficou conhecido como "Experimento Milgram", cerca de 65% dos participantes aplicaram o choque de 450 volts, potencialmente fatal após uma longa jornada de choques elétricos, algo que chocou a sociedade norte-americana. Porém, para começarmos a entender essa história, é necessário voltar no tempo e saber quem era Stanley Milgram e o que o levou a fazer isso. É justamente isso que vocês vão conhecer a partir de agora.

Conheça um Pouco Sobre Stanley Milgram, Ex-Psicológo Social da Universidade de Yale, nos Estados Unidos


Stanley Milgram nasceu na cidade Nova York, em 15 de agosto de 1933, o segundo de três filhos. Seus pais, Adele e Samuel Milgram, ambos judeus, tinham saído da Europa (da Romênia e da Hungria, respectivamente) em busca de melhores condições de vida, devido a Primeira Guerra Mundial. Seu pai era um confeiteiro experiente, e sua mãe trabalhava junto com ele em uma padaria. Samuel Milgram proporcionou uma renda modesta para sua família até sua morte em 1953, sendo que após esse período, sua esposa, Adele, assumiu a responsabilidade sobre a padaria.

Stanley Milgram nasceu na cidade Nova York,
em 15 de agosto de 1933, o segundo de três filhos
O melhor amigo e colega de classe de Milgram foi Bernard Fried, que se tornou um parasitologista mundialmente famoso. Fried disse que Milgram "era excepcional em todos os assuntos. Ninguém poderia prever precocimente o que ele proporcionaria ao mundo, porque ele era tão bom nas artes quantos nas ciências".

Na escola de Ensino Médio James Monroe, na cidade de Nova York, Milgram era membro do "Arista", uma sociedade de honra, e tornou-se editor do "Science Observer", um jornal da escola. Ele também trabalhou na elaboração de roteiros para produções teatrais da escola - uma experiência que ele mais tarde usaria como inspiração em seus experimentos de obediência com a inserção de elementos dramáticos, que os tornavam experimentos emocionantes e realistas para seus respectivos participantes.

Depois de se formar em Ciência Política na Faculdade do Queens, em Nova York, Milgram se candidatou ao programa de PhD, no Departamento de Relações Sociais, da Universidade de Harvard. Porém, ele acabou sendo rejeitado pela instituição visto que não havia cursado nenhum único curso de Psicologia no Queens. No entanto, ele foi incentivado a se inscrever novamente, e acabou sendo aceito, como um "estudante especial", no outono de 1954. Para compensar suas deficiências em cursos de psicologia, ele fez nada menos do que seis cursos de graduação durante o verão em três faculdades da região de Nova York. Seu desempenho no primeiro ano em Havard foi tão bom, que no ano seguinte sua condição foi alterada pra "estudante regular".

Stanley Milgram (à direita) juntamente com outros estudantes na Universidade de Yale, nos Estados Unidos
A pessoa com quem Stanley Milgram conversava a respeito de sua admissão em Harvard era Gordon Allport, o responsável pelos programas de pós-graduação do departamento de Relações Sociais. Gordon foi um dos mais eminentes psicólogos do século XX, e acabou sendo a pessoa mais importante da vida acadêmica de Milgram. A troca inicial de cartas deu o tom para um relacionamento como estudante e mentor. Aliás, Gordon seria uma fonte constante de encorajamento para Milgram, e ele tinha uma assombrosa admiração pela persistência diante dos obstáculos que Milgram possuía.

Entretanto, quando era necessário, Gordon sabia como pressioná-lo sem provocar sua resistência. Por sua vez, Milgram sempre foi respeitoso com Gordon para seguir seu próprio caminho sem parecer demasiadamente agressivo. Quando chegou o momento de fazer sua dissertação, Milgram pediu para Gordon fosse mentor justamente devido ao seu estilo de mente mais aberta. Em vez de esperar que seus estudantes de doutorado dissertassem sobre um dos seus projetos de pesquisa, Gordon deixava que fossem livres para ir atrás de seus próprios interesses.

A pessoa com quem Stanley Milgram conversava a respeito de sua admissão em Harvard era Gordon Allport, o responsável pelos programas de pós-graduação do departamento de Relações Sociais. Gordon morreu em 9 de outubro de 1967.
A dissertação de Milgram foi uma comparação intercultural da conformidade realizada na Noruega e na França entre 1957 e 1959. Ele usou uma adaptação de uma técnica inventada pelo psicólogo social Solomon Asch. Em 1955, Asch tinha ido até Harvard como um conferencista visitante, e Milgram foi designado para ser seu assistente de estudo e pesquisas. Milgram ficou intimamente familiarizado com os experimentos sobre conformidade de Asch.

Nesses experimentos, um indivíduo, sentado no meio de sete outros, precisava indicar qual das três linhas era igual em comprimento a uma quarta linha. Os outros sete, no entanto, sabiam o que estava acontecendo e seguiam as orientações de Asch. Assim sendo, intencionalmente, eles davam respostas incorretas durante alguns dos ensaios. Solomon Asch descobriu que um indivíduo ingênuo cedia à vontade da maioria, claramente incorreta, cerca de 1/3 das vezes.

Solomon Eliot Asch (à esquerda) ao lado de sua esposa Florence Asch (à direita).
Solomon morreu em 20 de fevereiro de 1996.
Nesses experimentos, um indivíduo, sentado no meio de sete outros, precisava indicar qual das três linhas era igual em comprimento a uma quarta linha. Os outros sete, no entanto, sabiam o que estava acontecendo e seguiam as orientações de Asch
Milgram modificou o procedimento de Asch, usando estímulos sonoros e não visuais: em cada ensaio, os indivíduos tinham que indicar qual dos dois tons era mais alto. Além disso, Milgram usou uma maioria simulada para criar pressão de pares - antes de dar uma resposta, um indivíduo ingênuo ouvia as respostas gravadas de outros cinco indivíduos (eles não estavam fisicamente presentes no laboratório, embora a pessoa acreditasse que estivessem).

Em sua dissertação, Milgram explicou ironicamente as vantagens deste procedimento: "O grupo está sempre disposto a trabalhar no laboratório à conveniência do experimentador, e as personalidades gravadas em fita não exigem o pagamento de royalties para repetirem o experimento." Foi um estudo ambicioso, envolvendo quase 400 indivíduos. No geral, Milgram considerou os noruegueses mais conformados do que os participantes franceses.

Entre 1959 e 1960, Milgram trabalhou para Asch no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, em Nova Jersey, ajudando-o a editar um livro sobre conformidade. Durante seu tempo livre, Milgram escreveu sua dissertação. Diante de sua associação nesse instituto e ao mesmo tempo em Harvard, Milgram considerou Asch para ser sua influência científica mais importante.

Entre 1959 e 1960, Milgram trabalhou para Asch no Instituto de Estudos Avançados de Princeton (na foto), em Nova Jersey, ajudando-o a editar um livro sobre conformidade. Durante seu tempo livre, Milgram escreveu sua dissertação
Em junho de 1960, Milgram recebeu seu PhD. e, naquele outono, ele começou em Yale como um professor assistente no Departamento de Psicologia. No primeiro semestre, ele realizou estudos-piloto sobre a obediência com seus alunos, e iniciou a série formal de experimentos no verão de 1961, com o apoio da Fundação Nacional da Ciência (uma agência governamental dos Estados Unidos independente que promove a pesquisa e educação fundamental em todos os campos da ciência e engenharia). Indo além da pesquisa de conformidade de Asch, Milgram se questionou se seria possível demonstrar o poder da influência social com algo que gerasse maiores consequências do que simples julgamentos lineares.

No primeiro semestre, Stanley Milgram realizou estudos-piloto sobre a obediência com seus alunos, e iniciou a série formal de experimento no verão de 1961, com o apoio da Fundação Nacional da Ciência
Indo além da pesquisa de conformidade de Asch, Milgram se questionou se seria possível demonstrar o poder da influência social com algo que gerasse maiores consequências do que simples julgamentos lineares
Não foi apenas o trabalho de Asch que influenciou Milgram. O interesse de Milgram no estudo da obediência também emergiu de uma identificação contínua com o sofrimento dos companheiros judeus nas mãos dos nazistas, e uma tentativa de entender como o Holocausto podia ter acontecido. Uma ilustração pungente disso pode ser encontrada em uma carta que Milgram escreveu da França a seu colega de escola, John Shaffer, no outono de 1958:
"Minha verdadeira casa espiritual é a Europa Central, não a França, os países mediterrâneos, a Inglaterra, a Escandinávia ou o norte da Alemanha, mas a área que é limitada pelas cidades de Munique, Viena e Praga... Eu deveria ter nascido falando alemão na comunidade judaica de Praga, em 1922, e morrido em uma câmara de gás cerca de 20 anos depois. Como eu nasci no Hospital do Bronx, nunca vou entender"
Durante um período de um ano, Milgram conduziu mais de 20 variações do experimento básico para ver como os aspectos variáveis da situação experimental poderiam alterar a vontade dos indivíduos em obedecer. Quatro dias depois que o último participante de Milgram foi estudado, o governo israelense, após um longo julgamento, enforcou Adolf Eichmann pelo seu papel no assassinato de 6 milhões de judeus. A ação parecia antecipar o importante papel que os experimentos de Milgram viriam a desempenhar nos debates sobre como explicar o comportamento dos perpetradores nazistas.

Quatro dias depois que o último participante de Milgram foi estudado, o governo israelense, após um longo julgamento, enforcou Adolf Eichmann (na foto, dentro de uma cabine envidraçada) pelo sua participação no assassinato de 6 milhões de judeus
Ao todo, Milgram passou três anos na Universidade de Yale. Em janeiro de 1961, ele conheceu Alexandra "Sasha" Menkin em uma festa em Manhattan. Depois de um ano de namoro, eles se casaram.

No outono de 1963, quando os resultados do seu experimento foram tornados públicos, Milgram foi convidado de volta ao departamento de Relações Sociais de Harvard como professor assistente. Porém, ele nunca chegou a exercer tal função em Harvard. Parte da oposição a Milgram veio de colegas, que se sentiam desconfortáveis com ele, atribuindo-lhe certas propriedades negativas a respeito do experimento de obediência.

Ao todo, Milgram passou três anos na Universidade de Yale. Em janeiro de 1961, ele conheceu Alexandra "Sasha" Menkin em uma festa em Manhattan. Depois de um ano de namoro, eles se casaram
No outono de 1963, quando os resultados do seu experimento foram tornados públicos, Milgram foi convidado de volta ao departamento de Relações Sociais de Harvard como professor assistente. Porém, ele nunca chegou a exercer tal função em Harvard
Em 1967, ele acabou aceitando uma oferta para coordenar o programa de Psicologia Social no Centro de Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY) como professor, sem passar pelo nível de professor associado, e permaneceu por lá até o último dia de sua vida. Stanley Milgram morreu no dia 20 de dezembro de 1984, aos 51 anos de idade, vítima de seu quinto ataque cardíaco. Na época ele tinha deixado a esposa, Alexandra "Sasha" Menkin, uma filha chamada Michelle Sara e um filho chamado Marc Daniel.

Vale ressaltar nesse ponto, que após os experimentos de obediência, Milgram continuou sendo um pioneiro em termos de pesquisa inventiva. Como exemplo, podemos citar que, em Harvard, ele inventou um método para estudar um efeito chamado de "mundo pequeno" (também conhecido como "seis graus de separação"), algo que não abordaremos nessa postagem. Milgram publicou o primeiro artigo sobre essas descobertas, na primeira edição da revista "Psychology Today", em maio de 1967. Milgram também conduziu um estudo sobre os efeitos da TV sobre o comportamento anti-social, e ajudou a lançar um estudo psicológico sobre a vida urbana com a publicação de seu artigo chamado "The Experience of Living in Cities" ("A Experiência de Viver em Cidades", em português), na revista Science.

Os Procedimentos do "Experimento Milgram": Até que Ponto Você Seria Obediente e Teria Coragem de Machucar ou Matar uma Outra Pessoa?


Fiquem calmos, porque a dinâmica do "Experimento Milgram"é bem simples de ser entendida. O experimento envolvia basicamente três pessoas. A primeira pessoa era apelidada de "experimentador", ou seja, a responsável por supervisionar e estimular que o participante continuasse aplicando choques em outra pessoa. A segunda era o chamado "professor", que era o próprio participante que havia aceitado participar do experimento. Já a terceira era chamado de "aprendiz", que era a pessoa que tomava o choque na sala ao lado.

Apenas o experimentador (E) e o professor (P) ficavam na mesma sala, sendo que o aprendiz (A) ficava nessa sala ao lado completamente isolado e amarrado a uma "cadeira elétrica". O experimentador dizia aos professores, que isso era para garantir que o aprendiz não escapasse conforme fosse aumentada a intensidade dos choques. É muito importante ressaltar que o professor e o aprendiz podiam se comunicar verbalmente, porém não havia nenhum contato visual entre ambos.

A primeira pessoa era apelidada de "experimentador" (E), ou seja, a responsável por supervisionar e estimular que o participante continuasse aplicando choques em outra pessoa. A segunda era o chamado "professor" (P), que era o próprio participante que havia aceitado do experimento. Já a terceira era chamado de "aprendiz" (A), que era a pessoa que tomava o choque na sala ao lado
O experimento era algo bem fácil de entender e de ser praticado. O aprendiz tomava ciência de uma lista de pares de palavras, digamos: "cachorro e ovo", "casa e elefante" etc. Após esse ensinamento básico, o professor (o participante) dizia a primeira palavra e pedia para que o aprendiz falasse qual era a palavra correspondente ao par mediante uma lista de quatro escolhas possíveis, para isso o aprendiz apertava um botão de 1 a 4 indicando qual era sua resposta.

Digamos que a primeira palavra fosse "cachorro", então eram lidas quatro palavras: pilha (1), árvore (2), mulher (3) e ovo (4). O aprendiz então apertava o botão correspondente a palavra correta, que ele se lembrasse, é claro, e que formava par com "cachorro". Entenderam? A cada resposta errada o professor tinha que aplicar um choque em uma máquina de choques na sua frente, sendo que começava com cerca de 15 volts até perigosos 450 volts. Cada erro o choque ficava mais forte, sendo que 30 voltagens eram possíveis de serem aplicadas contra o aprendiz.

Apenas o experimentador (E) e o professor (P) ficavam na mesma sala, sendo que o aprendiz (A) ficava nessa sala ao lado completamente isolado e amarrado a uma "cadeira elétrica" (na foto). O experimentador dizia aos professores, que isso era para garantir que o aprendiz não escapasse conforme fosse aumentada a intensidade dos choques
É muito importante ressaltar que o professor e o aprendiz podiam se comunicar verbalmente,
porém não havia nenhum contato visual entre ambos
Deu nervoso? Pois bem, não fiquem tão agoniados assim. Apesar dos participantes acreditarem que estivessem aplicando choques de verdade, na realidade não havia choque algum. Além disso, tanto o experimentador quanto o aprendiz eram atores contratados pelo próprio Stanley Milgram. Havia um um aparelho de som acoplado com a máquina de choques, no qual reproduzia sons previamente gravados. Além disso, quando o professor se recusava a aplicar um choque, o experimentador dava uma série de "incentivos" para garantir que os participantes continuassem. Havia quatro "incentivos" possíveis. Caso o primeiro não funcionasse, o experimentador recorria ao seguinte e assim por diante:

1.Por favor, continue.
2.O experimento requer que você continue.
3.É absolutamente essencial que você continue.
4.Você não tem outra escolha, você deve continuar.

Se o indivíduo ainda insistisse em parar após os quatro incentivos verbais, o experimento era interrompido. Caso contrário, era interrompido tão somente após o indivíduo ter dado o choque máximo de 450 volts, por cerca de 3 vezes consecutivas. O experimentador também tinha frases especiais caso o professor fizesse comentários específicos. Se o professor perguntasse se o aprendiz poderia sofrer danos físicos permanentes, o experimentador respondia: "Embora os choques possam ser dolorosos, não há danos permanentes nos tecidos, por isso, continue." Se o professor perguntasse claramente para o aprendiz, se ele desejava que parasse, o experimentador respondia: "Se o aprendiz gosta ou não, você deve continuar até que ele tenha aprendido todos os pares de palavras corretamente, então por favor continue."

Se o indivíduo ainda insistisse em parar após os quatro incentivos verbais, o experimento era interrompido. Caso contrário, era interrompido tão somente após o indivíduo ter dado o choque máximo de 450 volts, por cerca de 3 vezes consecutivas.
Vocês podem ter uma noção disso, na prática, em um vídeo publicado pelo canal DenkProducties, no YouTube onde mostra um trecho da participação de um "professor" chamado Jeroen Busscher (em inglês, mas vale a pena conferir):



Confira também esse outro vídeo, publicado pelo canal BigHistoryNL, onde mostra o comportamento adotado por um outro participante (em inglês, com legendas em alemão, mas vale a pena conferir):



Após sucessivos aumentos de intensidade dos choques aplicados, o aprendiz (lembrando mais uma vez que era tão somente um ator contratado) começava a bater na parede que o separava do participante. Depois de várias vezes batendo na parede, e reclamando sobre sua condição cardíaca, todas as respostas do aprendiz cessavam, ou seja, não havia mais nenhuma resposta. Nesse ponto, muitas pessoas indicaram seu desejo de interromper o experimento e verificar a condição de saúde do aprendiz.

Alguns participantes pararam em 135 volts, e começaram a questionar o propósito do experimento. A maioria continuou após ter certeza, que eles não seriam responsabilizados. Alguns indivíduos começaram a rir de nervoso ou exibir outros sinais de estresse extremo, uma vez que podiam ouvir os gritos de dor provenientes do aprendiz.

Os Resultados do "Experimento Milgram"


Antes de conduzir o experimento, Milgram entrevistou cerca de 14 estudantes do último ano de Psicologia da Universidade de Yale para que pudesse prever o comportamento de 100 hipotéticos "professores". Todos os entrevistados acreditavam que apenas uma fração muito pequena de "professores" (entre 0 a 3 pessoas de um total de 100, perfazendo uma média de 1,2) estaria preparada para aplicar a voltagem máxima de 450 volts.

Milgram também consultou informalmente seus colegas e soube que eles também acreditavam que pouquíssimos participantes iriam continuar além de um choque muito forte. Ele também quis saber a opinião de Chaim Homnick, um renomado professor de Harvard, que observou que esse experimento não seria uma evidência concreta sobre a "inocência dos nazistas", devido ao fato de que "as pessoas pobres têm maior probabilidade de cooperar".

Stanley Milgram também quis saber a opinião de Chaim Homnick, um renomado professor de Harvard, que observou que esse experimento não seria uma evidência concreta sobre a "inocência dos nazistas", devido ao fato de que "as pessoas pobres têm maior probabilidade de cooperar".
Milgram também entrevistou cerca de 40 psiquiatras de uma escola de medicina, e eles acreditavam que no décimo choque, quando a vítima pedia para ser solta, a maioria dos participantes iria interromper o experimento. Eles previram que, diante do choque de 300 volts, quando a vítima se recusava a responder, apenas 3,73% dos participantes continuariam, e acreditavam que "apenas pouco mais de um 0,1% dos indivíduos administrariam o choque mais alto, aquele de 450 volts."

Entretanto, o resultado do experimento, tão logo foi divulgado, chocou a população norte-americana. Na primeira versão do "Experimento de Milgram", 65% (26 de 40) dos participantes tiveram coragem de aplicar o perigoso choque de 450 volts, embora muitos estivessem bem desconfortáveis ao fazê-lo. Em certos momentos, alguns participantes fizeram uma pausa e questionaram o experimento. Alguns também chegaram a dizer que iriam devolver o dinheiro pago para que participassem do experimento.

Tabela mostrando a relação de idade com as ocupações dos participantes da primeira versão do "Experimento Milgram"
Tabela mostrando, que na primeira versão do "Experimento Milgram", o choque mínimo dado pelos participantes
foi de 300 volts, considerado um choque intenso. Cerca de 26 pessoas chegaram a aplicar o choque considerado
"fatal" em seus aprendizes
Ao longo do experimento, os indivíduos apresentaram graus variados de tensão e estresse. Alguns transpiravam, tremiam, gaguejavam, mordiam os lábios, gemiam, cravavam as unhas na pele, e alguns até davam gargalhadas de nervoso ou embargadas. Milgram resumiu o experimento em seu artigo publicado em 1974, chamado "The Perils of Obedience" ("Os Perigos da Obediência", em português), escrevendo:
"Os aspectos legais e filosóficos da obediência são de enorme importância, mas dizem muito pouco sobre como a maioria das pessoas se comporta em situações concretas. Eu realizei um experimento simples na Universidade de Yale para testar quanta dor um cidadão comum iria infligir a outra pessoa simplesmente porque foi pedido por um cientista experimental. A autoridade de Stark era confrontada com os mais fortes imperativos morais dos indivíduos (participantes) de não ferir os outros e, com os gritos das vítimas ressoando nos ouvidos dos indivíduos, a autoridade ganhava com mais frequência. A disposição extrema dos adultos para seguir quase todas as extensões de comando de uma autoridade constitui a principal descoberta do estudo, e o fato que demanda mais urgentemente uma explicação.

Pessoas comuns, simplesmente fazendo seu trabalho, e sem qualquer hostilidade particular de sua parte, podem se tornar agentes em um terrível processo destrutivo. Além disso, mesmo quando os efeitos destrutivos de seu trabalho se tornam manifestamente claros, e eles são solicitados a realizar ações incompatíveis com padrões fundamentais de moralidade, relativamente poucas pessoas têm os recursos necessários para resistir à autoridade."
Em 1974 que Stanley Milgram tentou explicou o comportamento
de seus participantes, sugerindo que, na verdade, as pessoas têm
dois estados de comportamento em uma situação social
Aliás, também foi em 1974 que Stanley Milgram tentou explicou o comportamento de seus participantes, sugerindo que, na verdade, as pessoas têm dois estados de comportamento quando estão em uma situação social, algo que ficou como a "Teoria da Agência de Milgram":
  • O Estado Autônomo: as pessoas conduzem suas próprias ações, e assumem a responsabilidade pelos resultados dessas ações.
  • O Estado "Agêntico": as pessoas permitem que outras pessoas conduzam suas ações e, em seguida, transferem a responsabilidade pelas consequências para a pessoa que lhe dá as ordens. Em outras palavras, eles agem como agentes diante da vontade de outra pessoa.
Milgram sugeriu que dois fatores deveriam estar presentes para que uma pessoa entrasse no chamado estado "agêntico":
  1. A pessoa que lhe dá as ordens é notada como sendo qualificada para conduzir o comportamento de outras pessoas, ou seja, eles são vistos como legítimos;
  2. É necessário que a pessoa que está sendo comandada seja capaz de acreditar que a autoridade vai aceitar a responsabilidade pelo que acontecer.
A teoria da agência diz que as pessoas obedecerão a uma autoridade, quando acreditarem que a autoridade assumirá a responsabilidade pelas consequências de suas ações. Isso é apoiado por alguns aspectos da evidência de Milgram. Por exemplo, quando os participantes foram lembrados de que tinham responsabilidade por suas próprias ações, quase nenhum deles estava preparado para obedecer. Em contrapartida, muitos participantes, que se recusavam a continuar, o fizeram quando o experimentador disse que assumiria a responsabilidade.

A teoria da agência diz que as pessoas obedecerão a uma autoridade, quando acreditarem que a autoridade assumirá a responsabilidade pelas consequências de suas ações. Isso é apoiado por alguns aspectos da evidência de Milgram
Stanley Milgram acabou criando um documentário intitulado "Obediência" mostrando o experimento e seus resultados. Ele também produziu uma série de cinco filmes de psicologia social, alguns dos quais tratavam de seus experimentos. Vocês podem conferir esse documentário, na íntegra, em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês, mas se tiver interesse, vale a pena conferir):



Como curiosidade, o simulador de choque original, o mesmo que foi realizado no "Experimento Milgram" e o gravador de sons atualmente se encontra nos "Arquivos da História da Psicologia Americana", na Universidade de Akron, no estado norte-americano de Ohio.

Alguns Arquivos de Áudio Gravados Durante o Experimento Milgram


Abaixo, você pode ouvir alguns dos trechos de áudio que foram extraídos do vídeo que foi feito sobre o  "Experimento Milgram". Você pode apertar o botão "play" diretamente a partir dessa postagem, ou alternativamente fazer o download desses trechos e escutar em seu próprio computador.

Primeiro Trecho: Esse é um trecho relativamente mais longo do terceiro participante aplicando choques no aprendiz a ser divulgado, onde é possível ouvir as instruções do experimentador para que ele continuasse. Alternativamente, você pode fazer o download do áudio, clicando aqui.



Segundo Trecho: Um trecho curto onde o aprendiz se recusa a continuar com o experimento. Alternativamente, você pode fazer o download do áudio, clicando aqui.



Terceiro Trecho: O aprendiz começar a reclamar de problemas cardíacos. Alternativamente, você pode fazer o download do áudio, clicando aqui.



Quarto Trecho: É possível ouvir o aprendiz levando um choque e dizendo: "Deixe-me sair daqui. Deixe-me sair, deixe-me sair, deixe-me sair." E assim por diante. Alternativamente, você pode fazer o download do áudio, clicando aqui.



Quinto Trecho: O pesquisador diz que o participante que eles precisam continuar. Alternativamente, você pode fazer o download do áudio, clicando aqui.



As Variações do "Experimento Milgram" Realizadas Pelo Próprio Stanley Milgram, e por Outros Psicólogos ao Redor do Mundo


Posteriormente, Stanley Milgram e outros psicólogos realizaram variações do experimento em diversas partes do mundo, e tiveram resultados bem interessantes. Ao fazer isso, Milgram podia identificar quais fatores afetaram a obediência. No total, 636 participantes foram testados em 24 diferentes variações pelo próprio Stanley Milgram (em seu artigo publicado no Journal of Abnormal Psychology, em 1963). Assim sendo, conheça algumas dessas variações:
  • Uniforme: Na linha original de estudo, o experimentador usava um jaleco de laboratório na cor cinza como um símbolo de sua autoridade (uma espécie de uniforme). Milgram realizou uma variação em que o experimentador precisou se ausentar devido a um telefonema bem no início do procedimento. Então, o papel do experimentador foi assumido por um "membro comum do público" (um outro ator) usando roupas do dia a dia, em vez de um jaleco. O nível de obediência caiu para 20%.
  • Mudança de Localização: O experimento foi transferido para um conjunto de escritórios em estado de abandono, em vez da imponente Universidade de Yale. A obediência caiu para 47,5%. Isso sugeria que a localização afetava a obediência.
  • A Condição de Dois Professores: Quando os participantes podiam instruir um assistente (um outro ator) para pressionar os interruptores, 92.5% das pessoas chegaram até o choque máximo de 450 volts. Quando há menos responsabilidade pessoal aumenta a obediência. Isso se relacionava com a Teoria da Agência de Milgram.
  • A Proximidade do Toque: Em uma variação do experimento, o professor tinha que forçar a mão do aluno para baixo em uma placa de choque, quando se recusam a participar após 150 volts. A obediência caiu para 30%. Nesse caso, o participante não era mais impedido ou protegido de ver as consequências de suas ações.
  • A Condição de Suporte Social: Dois outros participantes (mais dois outros atores) também eram professores, mas se recusavam a obedecer. O primeiro parava em 150 volts, e o segundo parava em 210 volts. A presença de outros que são vistos desobedecendo uma autoridade fez com que o nível de obediência caísse a 10%.
  • A Condição do Experimentador Ausente: É mais fácil resistir às ordens de uma autoridade se elas não estiverem próximas. Quando o experimentador instruía e conduzia o professor por telefone, a partir de uma outra sala, a obediência caiu para 20,5%. Muitos participantes trapacearam não aplicando os choques ou deram choques bem mais leves do que o experimentador pedia.
Em uma variação do experimento, o professor tinha que forçar a mão do aluno para baixo em uma placa de choque, quando se recusam a participar após 150 volts. A obediência caiu para 30%. Nesse caso, o participante não era mais impedido ou protegido de ver as consequências de suas ações.
É interessante notar que Stanley Milgram publicou um livro em 1974 chamado "Obedience to Authority: An Experimental View" ("Obediência à Autoridade: Uma Visão Experimental", em português), justamente explicando seu experimento. Infelizmente, é possível encontrar esse livro traduzido para o português apenas em sebos ou em sites de compra e venda de produtos. Além disso, no livro constam os relatos de apenas 18 variações do experimento.

Capa do livro "Obedience to Authority: An Experimental View" (à esquerda),
em contraste com a versão brasileira "Obediência à Autoridade" (à direita)
Na época do lançamento desse livro, uma versão do experimento foi conduzida na Universidade de La Trobe, na Austrália. Conforme relatado pela psicóloga e escritora Gina Perry, em seu livro de "Behind the Shock Machine" ("Por trás da Máquina de Choque", em português), publicado em 2012, alguns dos cerca de 200 participantes experimentaram efeitos psicológicos duradouros, possivelmente devido à falta de informação suficientemente adequada por parte do experimentador.

Conforme relatado pela psicóloga e escritora Gina Perry, em seu livro de "Behind the Shock Machine" ("Por trás da Máquina de Choque", em português), publicado em 2012, alguns dos cerca de 200 participantes experimentaram efeitos psicológicos duradouros, possivelmente devido à falta de informação suficientemente adequada por parte do experimentador.
Em 2002, o artista britânico Rod Dickinson criou o "The Milgram Re-enactment", uma reconstrução exata de partes do experimento original, incluindo uniformes, iluminação e salas utilizadas. Um plateia assistiu a realização desse experimento por 3h40 através de janelas de vidro com películas espelhadas unidirecionais, ou seja, o público não era visto pelos participantes. O vídeo desse experimento foi exibido pela primeira vez na Galeria CCA, em Glasgow, na Escócia, em 2002.

Em 2002, o artista britânico Rod Dickinson criou o "The Milgram Re-enactment", uma reconstrução exata de partes do experimento original, incluindo uniformes, iluminação e salas utilizadas
Um plateia assistiu a realização desse experimento por 3h40 através de janelas de vidro com películas espelhadas unidirecionais, ou seja, o público não era visto pelos participantes
Vocês também podem conferir um trecho da participação de um indivíduo do "The Milgram Re-enactment", em um vídeo publicado em um canal de terceiros, no Vimeo (em inglês):



Uma replicação parcial do experimento foi encenada pelo ilusionista britânico Derren Brown e transmitido no Canal 4, do Reino Unido, em uma série chamada "The Heist". Vocês podem conferir essa replicação parcial em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês):



Outra replicação parcial do experimento foi conduzida por Jerry M. Burger em 2006, e transmitida pelo canal Primetime, na série "Basic Instincts". Jerry observou, que "os padrões atuais para o tratamento ético dos participantes claramente colocam os estudos de Milgram fora dos limites." Em 2009, Jerry recebeu aprovação do conselho de revisão institucional, modificando vários dos protocolos experimentais.

Jerry encontrou índices de obediência praticamente idênticos aos relatados por Milgram entre 1961 e 1962, mesmo ao cumprir as atuais regras éticas de informar adequadamente os participantes. Vocês pode conferir como foi essa outra replicação parcial do experimento, através de um canal de terceiros, no YouTube (em inglês):



Além disso, metade dos participantes dessa variação eram do sexo feminino, e a taxa de obediência era praticamente idêntica à dos participantes do sexo masculino. Jerry também incluiu uma condição na qual os participantes viram pela primeira vez um outro participante se recusando a continuar. Contudo, os participantes dessa condição obedeciam à mesma taxa que os participantes na condição base.

Em documentário francês chamado "Le Jeu de la Mort", lançado em 2010, os pesquisadores recriaram o "Experimento Milgram" com uma crítica adicional da realidade televisiva, apresentando o cenário como sendo o piloto de um programa (um game show).

Em documentário francês chamado "Le Jeu de la Mort", lançado em 2010, os pesquisadores recriaram o "Experimento Milgram" com uma crítica adicional da realidade televisiva, apresentando o cenário como sendo o piloto de um programa (um game show)
Os voluntários receberam cerca 40 € (aproximadamente R$ 130 pela cotação atual), e foi informado que ninguém receberia dinheiro do programa, uma vez que era apenas um piloto. Apenas 16 dos 80 "concorrentes" (que poderíamos chamar de professores) optaram por terminar o programa antes de aplicar o choque mais intenso. Vocês podem conferir esse documentário completo através de um canal de terceiros, no YouTube (em francês):



O experimento foi realizado no programa "Dateline" da emissora norte-americana NBC, em um episódio transmitido em 25 de abril de 2010.

O Discovery Channel exibiu um segmento chamado "Curiosity: How Evil Are You" ("Curiosidade:  O quão você é malvado?", em português), em 30 de outubro de 2011. O episódio foi apresentado por Eli Roth, que produziu resultados semelhantes ao experimento original de Milgram, embora a voltagem mais alta utilizada fosse de 165 volts, ao invés de 450 volts. Vocês podem conferir um trecho desse segmento através de um canal de terceiros, no YouTube:



Devido ao conhecimento cada vez mais difundido do experimento, as replicações precisam garantir que os participantes não estejam previamente cientes do mesmo.

Os Problemas Éticos do "Experimento Milgram": Os Participantes Não Foram Informados Adequadamente Sobre o Real Propósito do Experimento?


O "Experimento Milgram" levantou questões sobre a ética da pesquisa de experimentação científica por causa do estresse emocional extremo e introspecção sofrida pelos participantes. Em sua defesa, Milgram divulgou uma pesquisa onde 84% dos ex-participantes pesquisados posteriormente disseram, que estavam "contentes" ou "muito felizes" por terem participado. Cerca de 15% escolheram respostas neutras, sendo que 92% de todos os ex-participantes responderam a pesquisa. Posteriomente, muitos escreveram para ele, expressando agradecimentos. Milgram recebeu repetidamente ofertas de assistência e pedidos para se juntar ao seu pessoal de ex-participantes. Seis anos depois (no auge da Guerra do Vietnã), um dos participantes do experimento enviou uma carta para Milgram, explicando o porquê ele estava feliz por ter participado, apesar do estresse que sofreu:
"Por mais que eu tenha sido um participante em 1964, e embora eu acreditasse que estivesse machucando alguém, estava totalmente inconsciente do porquê eu estava fazendo isso. Poucas pessoas percebem quando estão agindo de acordo com suas próprias crenças, e quando estão submissamente submetendo-se à autoridade...  Permitir-me ser mostrado com a compreensão de que estou submetendo-me à exigência da autoridade de fazer algo muito errado me assustou. Estou totalmente preparado para ir para a prisão, se não me for concedido o status de "Conscientious Objector" ("um indivíduo que reivindica o direito de se recusar a prestar serviço militar"). Na verdade, essa é a única maneira pela qual eu poderia ser fiel ao que acredito. Minha única esperança é que os membros do meu conselho possam agir igualmente de acordo com a consciência deles..."
Milgram argumentou em seu livro que a crítica ética provocada por seus experimentos foi porque suas descobertas foram perturbadoras e revelaram verdades não desejadas sobre a natureza humana. Outros argumentaram que o debate ético desviou a atenção de problemas mais sérios com a metodologia do experimento. A psicóloga australiana Gina Perry chegou a encontrar um artigo não publicado nos arquivos de Milgram, que mostra a própria preocupação de Milgram com o quão verdadeiro o experimento foi para os indivíduos envolvidos (comentaremos sobre isso daqui a pouco).

A psicóloga australiana Gina Perry chegou a encontrar um artigo não publicado nos arquivos de Milgram, que mostra a própria preocupação de Milgram com o quão verdadeiro o experimento foi para os indivíduos envolvidos
Gina Perry também conduziu entrevistas com os ex-participantes, que lançaram dúvidas sobre as alegações de Milgram. Stanley Milgram disse que deu informações completas para garantir aos participantes, que eles não tinham machucado os atores. Porém, segundo Gina Perry, cerca de 3/4 dos ex-participantes, que ela entrevistou, achavam que realmente tinham dado choques no ator, e que as informações oficiais fornecidas estavam apenas no nível mínimo exigido na época, ou seja, isso "não envolvia dizer aos participantes o real propósito do experimento ou entrevistá-los para saber suas reações".

Aplicabilidade ao Holocausto


Milgram desencadeou uma resposta crítica direta na comunidade científica ao afirmar que "um processo psicológico comum estava envolvido no centro de ambos (seus experimentos laboratoriais e eventos da Alemanha nazista)". James Waller, responsável pelos "Estudos do Genocídio e do Holocausto" na Faculdade Estadual do Keene, no estado norte-americano de New Hampshire, expressou a opinião de que os experimentos de Milgram não correspondiam de forma adequada aos eventos do Holocausto:
  • De acordo com James Waller, os participantes dos experimentos de Milgram foram assegurados antecipadamente que nenhum dano físico permanente resultaria de suas ações. No entanto, os perpetradores do Holocausto estavam plenamente conscientes sobre seus papéis na matança e mutilação das vítimas; 
  • Os próprios participantes não conheciam as vítimas e não eram motivados pelo racismo. Por outro lado, os autores do Holocausto exibiram uma intensa desvalorização das vítimas durante toda uma vida de desenvolvimento pessoal;
  • Aqueles que aplicavam os choques não eram sádicos, nem propagavam o ódio, e muitas vezes exibiam grande angústia e conflito durante o experimento, ao contrário daqueles que planejaram e executaram a chamada "Solução Final";
  • O experimento durou uma hora, sem tempo para os participantes contemplarem as implicações de seu comportamento. Enquanto isso, o Holocausto durou anos com muito tempo disponível para uma avaliação moral de todos os participantes e organizações envolvidas.
James Waller, responsável pelos "Estudos do Genocídio e do Holocausto" na Faculdade Estadual do Keene, no estado norte-americano de New Hampshire, expressou a opinião de que os experimentos de Milgram não correspondiam de forma adequada aos eventos do Holocausto
De acordo com James Waller, os participantes dos experimentos de Milgram foram assegurados antecipadamente que nenhum dano físico permanente resultaria de suas ações. No entanto, os perpetradores do Holocausto estavam plenamente conscientes sobre seus papéis na matança e mutilação das vítimas
Na opinião de de Thomas Blass, autor de uma monografia acadêmica sobre o experimento ("The Man Who Shocked The World" ou "O Homem que Chocou o Mundo", em português), publicada em 2004, as evidências históricas relativas às ações dos autores do Holocausto falam bem mais alto do que palavras:
"Minha opinião é que a abordagem de Milgram não forneceu uma explicação totalmente adequada do Holocausto. Embora possa muito bem explicar a destruição obediente do burocrata desapaixonado, que pode ter enviado judeus para Auschwitz com o mesmo grau de rotina que as batatas de Bremerhaven. Fica aquém quando se tenta aplicá-lo as atrocidades mais fervorosas, inventivas e motivadas por ódio, que também caracterizaram o Holocausto."

As Acusações de Manipulação de Dados


Após uma investigação do teste, a psicóloga australiana Gina Perry reavaliou os dados de Milgram e declarou que ele manipulou seus resultados. Segundo ela, "no geral, mais de metade desobedeceu". Ela descobriu, ao contrário da versão popular, que existe uma "incômoda incompatibilidade entre as descrições (publicadas) do experimento e evidências do que realmente aconteceu". Ela concluiu que muitos participantes não acreditaram na realidade dos experimentos, que "em algum nível, eles pensaram que poderia ser um truque", e que "é mais verdadeiro dizer que apenas metade das pessoas que participaram do experimento acreditava que o mesmo tivesse sido real. Aliás, 2/3 dessas pessoas, ou seja, cerca de 17% de total, teriam desobedecido ao experimentador.

Sobre a conexão com o Holocausto, Gina Perry escreveu: "Você tem essa nítida analogia (com o Holocausto). Porém, sem esse quadro retórico, os experimentos de Milgram não passam de uma realidade televisiva, vestida de ciência e, uma vez vestida de ciência, você pode vendê-los como sendo algo científico. O quadro retórico é crucial para a sobrevivência dos estudos de obediência."

Após uma investigação do teste, a psicóloga australiana Gina Perry reavaliou os dados de Milgram e declarou que Milgram manipulou seus resultados. Segundo ela, "no geral, mais de metade desobedeceu"
"Na verdade, esse foi um resultado inesperado para mim. Eu considerava Stanley Milgram como um gênio incompreendido, que tinha sido penalizado de alguma forma por revelar algo preocupante e profundo sobre a natureza humana. Ao final da minha pesquisa, tive uma visão muito diferente do homem e da pesquisa... Acho que deixa a psicologia social em uma situação difícil... é uma experiência tão icônica. Na verdade, acho que isso é o que realmente nos leva a continuar refletindo e acreditar nos resultados de Milgram. Acho que a razão pela qual o experimento de Milgram ainda é tão famoso hoje em dia é porque, de certa forma, é como uma poderosa parábola.  É tão amplamente conhecido, e tantas vezes citado que criou uma uma vida própria... Essa experiência e essa história sobre nós mesmos desempenha algum papel sobre nós, mesmo 50 anos depois", disse Gina Perry em entrevista para o site da Rádio Pública Nacional (NPR), dos Estados Unidos, em 2013.

É importante destacar nesse ponto que, em 1968, os psicólogos Martin Orne e Charles Holland já tinham acusado o estudo de Milgram por falta de "realismo experimental", isso é, os participantes podiam não ter acreditado no cenário experimental em que se encontravam, e que sabiam que o aprendiz não estava recebendo os choques elétricos. Segundo eles, a amostragem de Milgram era tendenciosa:
  • Os participantes no estudo de Milgram eram todos do sexo masculino. Os resultados também seriam aplicáveis em relação as mulheres?
  • O estudo de Milgram não pode ser visto como algo representativo da população americana, uma vez que sua amostragem foi auto-selecionada. Isso ocorre porque eles se tornaram participantes apenas por responder a um anúncio de jornal (selecionando-se). Eles também podem ter uma típica "personalidade voluntária", visto que nem todos os leitores do jornal responderam.
  • No entanto, um total de 636 participantes foram testados em 24 experimentos separados por toda a região de New Haven, que foi visto como sendo razoavelmente representativo de uma típica cidade americana.
É importante destacar nesse ponto que, em 1968, os psicólogos Martin Orne (à esquerda e falecido em 2000) e Charles Holland (à direita) já tinham acusado o estudo de Milgram por falta de "realismo experimental", isso é, os participantes podiam não ter acreditado no cenário experimental em que se encontravam, e que sabiam que o aprendiz não estava recebendo os choques elétricos
Apesar do "Experimento Milgram" ter sido replicado em diversos países, conforme mencionamos anteriormente, a maioria chegou as mesmas conclusões que o estudo original de Milgram, sendo que em alguns casos, a taxa de obediência chegou a ser superior.

Em um artigo publicado por Peter Smith e Rod Bond, em 1998, ambos apontaram que, com exceção da Jordânia (Shanab & Yahya, 1978), a maioria desses estudos tem sido conduzida em culturas ocidentais industrializadas, e que devemos ser cautelosos antes de concluirmos que exista um traço universal de comportamento social.

Interpretações Alternativas do "Experimento Milgram"


Robert Shiller, professor de Economia da Universidade de Yale, argumentou em seu livro chamado "Irrational Exuberance" ("Exuberância Irracional", em português), que outros fatores podem ser capazes de explicar parcialmente os "Experimentos Milgram":
"Pessoas aprenderam quem, quando especialistas dizem que algo está correto, provavelmente está correto, mesmo que não pareça (na verdade, vale a pena notar que, nesse caso, o experimentador estava realmente correto: era certo continuar dando os 'choques', mesmo que a maioria dos participantes não suspeitassem da razão)."
Robert Shiller, professor de Economia da Universidade de Yale, argumentou em seu livro chamado "Irrational Exuberance" ("Exuberância Irracional", em português), que outros fatores podem ser capazes de explicar parcialmente os "Experimentos Milgram"
Em um experimento realizado em 2006, um avatar computadorizado foi usado no lugar do aprendiz, e passou a receber os choques elétricos. Embora os participantes que aplicavam os choques estivessem cientes de que o aprendiz era irreal, os pesquisadores relataram que os participantes responderam fisiologicamente à situação "como se fosse real".

Assista a um trecho desse experimento, em um canal de terceiros, no YouTube:



Outra explicação dos resultados de Milgram invoca a perseverança como a causa subjacente. O que "as pessoas não podem fazer é perceber que uma autoridade aparentemente benevolente é de fato malévola, mesmo quando eles são confrontados com uma evidência esmagadora, que sugira que essa autoridade é, de fato, malévola. Portanto, a causa subjacente para a conduta surpreendente dos participantes poderia muito bem ser conceitual, e não a suposta capacidade do homem de abandonar sua humanidade... uma vez que ele mescla sua personalidade única em em estruturas institucionais maiores."

Esta última explicação recebe um certo apoio de um episódio de 2009, da série da BBC chamada "Horizon", que envolveu a reprodução do "Experimento Milgram". Dos doze participantes, apenas três se recusaram a continuar até o final do experimento. Durante o episódio, o psicólogo social Clifford Stott discutiu a influência que o idealismo da investigação científica tinha sobre os voluntários.

"A influência é ideológica. É sobre o que eles acreditam que a ciência seja, que a ciência seja um produto positivo, que produz resultados benéficos e conhecimentos para a sociedade, que são úteis para a sociedade. Então há essa sensação que a ciência está fornecendo algum tipo de sistema para o bem", destacou Clifford Stott.

Durante o episódio, o psicólogo social Clifford Stott discutiu a influência que o idealismo
da investigação científica tinha sobre os voluntários
Baseando-se na importância do idealismo, alguns pesquisadores sugeriam a perspectiva do "seguimento engajado". Com base em um exame dos arquivos de Milgram, em um estudo recente, os psicólogos sociais Alex Haslam, Stephen Reicher e Megan Birney, da Universidade de Queensland, na Austrália, descobriram que as pessoas são menos propensas a seguir os incentivos de um líder experimental quando esses incentivos se assemelham a uma ordem.

No entanto, quando o incentivo enfatiza a importância do experimento para a ciência (isto é, "O experimento requer que você continue"), as pessoas têm maior probabilidade de obedecer. Diante disso, os pesquisadores sugeriram que a perspectiva do "seguimento engajado" representa que as pessoas não estão simplesmente obedecendo às ordens de um líder, mas estão dispostas a continuar o experimento por causa do seu desejo de apoiar os objetivos científicos do líder, e por causa da falta de identificação com o aprendiz.

A Mais Recente Variação do "Experimento Milgram" Realizado em uma das Mais Importantes Universidades da Polônia


Recentemente, mais uma versão do "Experimento Milgram" foi colocada em prática. Aliás, o título do estudo é bem direto nesse sentido: "Would you deliver an electric shock in 2015?" ("Você aplicaria um choque elétrico em 2015?", em português). De acordo com os resultados desse estudo, que replicou o experimento, a resposta é sim. Psicólogos sociais da Universidade de Ciências Sociais e Humanas da Polônia (SWPS), uma das instituições de ensino superior mais importantes e respeitadas na Polônia, reproduziram uma versão moderna do "Experimento Milgram", e encontraram resultados semelhantes aos estudos realizados há mais de 50 anos.

"Nosso objetivo era analisar o quão alto seria o nível de obediência que encontraríamos entre os moradores da Polônia. Deve-se enfatizar que os testes no paradigma de Milgram nunca foram realizados na Europa Central. A história única dos países da região fez com que a questão da obediência à autoridade parecesse excepcionalmente interessante para nós", escreveram os autores.

Psicólogos sociais da Universidade de Ciências Sociais e Humanas da Polônia (SWPS), uma das instituições de ensino superior mais importantes e respeitadas na Polônia, reproduziram uma versão moderna do "Experimento Milgram", e encontraram resultados semelhantes aos estudos realizados 50 anos atrás
"Ao tomarem conhecimento sobre os experimentos de Milgram, a grande maioria das pessoas afirmam que nunca se comportariam dessa maneira. Nosso estudo, mais uma vez, ilustrou o tremendo poder da situação, com os participantes são confrontados, e com que facilidade eles podem concordar com coisas que acham desagradáveis", disse Tomasz Grzyb, um psicólogo social envolvido no estudo.

Por mais que considerações éticas tenham impedido uma replicação completa dos experimentos, os pesquisadores criaram uma configuração similar com níveis mais leves de "choques" para testar o nível de obediência dos participantes. Os pesquisadores recrutaram 80 participantes (40 homens e 40 mulheres), com uma faixa etária de 18 a 69 anos, para o estudo, sendo eles tinham até 10 botões para pressionar, ao contrário dos 30 interruptores do experimento original. De qualquer forma, os resultados mostraram que o nível de obediência dos participantes em relação às instruções é similarmente alto em relação aos estudos originais de Milgram.

"Você precisa saber que na Polônia existe uma longa tradição de pensar que os poloneses são os 'primeiros a lutar', 'resistentes' e 'imunes à persuasão'. Descobrimos que somos exatamente os mesmos", continuou Tomasz Grzyb.

"Você precisa saber que na Polônia existe uma longa tradição de pensar que os poloneses são os 'primeiros a lutar', 'resistentes' e 'imunes à persuasão'. Descobrimos que somos exatamente os mesmos", continuou Tomasz Grzyb
"Até onde sabemos, pela primeira vez na história colocamos uma mulher como sendo a aprendiz. Queríamos verificar se essa nova situação influenciava de alguma forma o comportamento das pessoas. Acontece que não mudou nada", acrescentou.

Eles descobriram que 90% das pessoas estavam dispostas a ir para o nível mais alto do experimento. Segundo os autores, vale a pena destacar que, em termos de diferenças entre os povos e a questão entre homens e mulheres, embora o número de pessoas que se recusaram a realizar os comandos do experimentador fosse 3 vezes maior quando a aprendiz era mulher, o pequeno número de participantes não permitia que eles chegassem a quaisquer conclusões nesse sentido.

"O que mostramos em nosso estudo é um papel excepcional de situação e autoridade. Quase todos os participantes declararam um enorme desconforto durante o estudo. Eles queriam recusar, mas simplesmente não conseguiram", destacou.

"Até onde sabemos, pela primeira vez na história colocamos uma mulher como sendo a aprendiz. Queríamos verificar se essa nova situação influenciava de alguma forma o comportamento das pessoas. Acontece que não muda nada", disse Tomasz Grzyb
"Os estudos de Milgram foram reproduzidos em muitas culturas: individualistas, coletivistas, orientadas por um ideal, ocidentais, árabes e assim por diante. Em todas essas culturas, o nível de obediência foi terrivelmente alto", continuou.

"O que nosso estudo realmente mostra é que, em algumas circunstâncias, todos nós somos capazes de ferir pessoas inocentes. Isso nos ensina algo: que somos responsáveis por criar mecanismos e regras que não permitam que tais circunstâncias aconteçam", completou.

Tomasz Grzyb ressaltou que apesar da sociedade ter mudado, mais meio século depois do estudo original de Milgram sobre a obediência à autoridade, uma impressionante maioria dos participantes ainda estão dispostos a "eletrocutar um indivíduo desamparado". O estudo foi publicado no periódico "Social Psychological and Personality Science".

Comentários Finais


É difícil não se impressionar com o "Experimento Milgram" mesmo após mais de 50 anos da realização do experimento original e suas respectivas variações. Conscientes ou não do que estavam fazendo, se acreditavam ou não que os choques estivessem realmente sendo aplicados, ele mostra que as pessoas continuavam a aplicar choques acima de 300 volts em uma outra pessoa, que gritava de dor, pedia para parar e até mesmo alegava supostos problemas cardíacos. E ainda assim, ouvindo o desespero e, inclusive, o silêncio absoluto do outro lado, muitos aplicaram cerca de 3 vezes o choque de 450 volts em um corpo que, talvez, já estivesse morto. Evidentemente, era uma simulação, mas se fosse de verdade, 26 pessoas teriam assassinado 26 outras em um mero experimento de laboratório, dentro da respeitada e renomada Universidade de Yale, simplesmente diante do comando de uma pessoa que nunca viram, que usava apenas um jaleco cinza proferindo apenas algumas frases previamente definidas. E se fosse uma autoridade com maior expressividade? E se fosse alguém com uma capacidade muito mais ampla de convencimento e manipulação? E se essa pessoa virasse e falasse que isso era para o seu próprio bem e de suas respectivas famílias? E se oferecessem uma quantia maior do que meros US$ 4,00 mais um trocado para a condução? Apesar desse dinheiro ter mais valor naquela época, esse teria sido o preço de uma vida humana.

Por mais que até hoje exista uma ferrenha discussão sobre o "Experimento Milgram", sua metodologia, seus resultados e toda uma questão ética inerente ao mesmo, é inegável que tantas outras reproduções tenham se deparado com resultados muito semelhantes ou até mesmo superiores em termos de obediência. Apesar de ser necessário analisar caso a caso, ter muita cautela antes de dizermos que o ser humano possui esse padrão mórbido de comportamento, não importando qual seja sua cultura, o panorama é assustador. Não dá para dizer que qualquer pessoa que passa ao nosso lado diariamente nas ruas é um torturador em potencial. Por outro lado, essa é uma sombria possibilidade diante de certas condições de pressão e sugestão. Já em relação a aplicabilidade do "Experimento Milgram" para tentar explicar a ocorrência do Holocausto, vale ressaltar que as raízes deste último são muito mais profundas do que isso. Não dá pra explicar a matança deliberada de milhões de judeus simplesmente diante de uma máquina de choques. Não deixa de ser uma tentativa válida, mas o Holocausto é muito mais complexo e profundo do que isso.

Sinceramente, mesmo após todo esse longo texto detalhando diversos pontos e contrapontos importantes do "Experimento Milgram" fico sem saber exatamente o que pensar. Será que você, que se dispôs a ler tudo isso que pesquisei, escrevi e traduzi seria capaz de prosseguir até o choque de 450 volts? Aliás, você seria capaz de dar um choque, mesmo que leve, de forma deliberada, mesmo com uma outra pessoa gritando de dor do outro lado da sala? E se essa pessoa fosse uma mulher? Quem sabe uma criança ou um idoso? No meio de tantos casos estúpidos e sensacionalistas sobre criaturas fantasiosas, fantasmas e lobisomens, e diante de tantas outras pessoas que insistem em ganhar dinheiro com a desgraça alheia, conhecer esse experimento me fez refletir um pouco mais sobre a vida, e me fez lembrar da parte final do filme "A Menina Que Roubava Livros", onde dizia: "Mas, no fim, não houve palavras. Somente paz. A única verdade que realmente sei é que os seres humanos me assombram."

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
Milgram, S. (1963). Behavioral study of obedience. Journal of Abnormal and Social Psychology, 67, 371-378.
Milgram, S. (1965). Some conditions of obedience and disobedience to authority. Human relations, 18(1), 57-76.
Milgram, S. (1974). Obedience to authority: An experimental view. Harpercollins.
Orne, M. T., & Holland, C. H. (1968). On the ecological validity of laboratory deceptions. International Journal of Psychiatry, 6(4), 282-293.
Shanab, M. E., & Yahya, K. A. (1978). A cross-cultural study of obedience. Bulletin of the Psychonomic Society.
Smith, P. B., & Bond, M. H. (1998). Social psychology across cultures (2ª edição). Prentice Hall.
http://abcnews.go.com/Primetime/story?id=2765416&page=1
http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1948550617693060
http://newsstore.smh.com.au/apps/viewDocument.ac;jsessionid=6F7A8999B1F18DFBCBE929A700007932?sy=afr&pb=all_ffx&dt=selectRange&dr=1month&so=relevance&sf=text&sf=headline&rc=10&rm=200&sp=brs&cls=356&clsPage=1&docID=SMH1204261F69150R286
http://www.discovery.com/tv-shows/curiosity/videos/how-evil-are-you.htm
http://www.independent.co.uk/news/science/milgram-poland-experiment-recreated-authority-obedience-research-social-psychology-a7628981.html
http://www.nature.com/news/modern-milgram-experiment-sheds-light-on-power-of-authority-1.19408
http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=124838091
http://www.roddickinson.net/pages/milgram/project-synopsis.php
http://www.sciencealert.com/50-years-on-one-of-the-most-controversial-psych-experiments-has-been-repeated-with-the-same-creepy-results
http://www.spsp.org/news-center/press-releases/milgram-poland-obey
https://en.wikipedia.org/wiki/Milgram_experiment
https://explorable.com/stanley-milgram-experiment
https://nature.berkeley.edu/ucce50/ag-labor/7article/article35.htm
https://www.psychologytoday.com/articles/200203/the-man-who-shocked-the-world
https://www.scientificamerican.com/article/what-milgrams-shock-experiments-really-mean/
https://www.seeker.com/milgrams-electric-shock-obedience-experiment-recreated-in-poland-2314074854.html
https://www.simplypsychology.org/milgram.html
https://www.theatlantic.com/health/archive/2015/01/rethinking-one-of-psychologys-most-infamous-experiments/384913/

Uma Garotinha de Apenas 8 Anos Foi Encontrada Vivendo e Agindo como Macacos em uma Reserva Florestal, na Índia? (Atualizado 09/04)

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Por Marco Faustino

Parece até premonição, mas esse é mais um caso sobre a dura e triste realidade da situação da mulher na Índia. Recentemente, mais precisamente no dia 1º de abril, eu havia publicado uma matéria sobre a situação de duas mulheres que tinham assumido a administração de um crematório na cidade de Chennai, no estado de Tamil Nadu, que já foi considerada uma das cidades mais seguras para se morar. Muito provavelmente, esse ranqueamento não levou em consideração a realidade vivida por elas e por tantas outras mulheres. Naquela matéria em questão, eu contei a história de Esther Shanthi e Praveena Solomon, e a fúria que elas enfrentaram dos homens ao assumir um crematório, no início de 2014. Ambas sofreram com o preconceito e a constante ameaça de ser jogado ácido em seus rostos por parte de muitos homens, simplesmente por serem mulheres.

Como se isso não bastasse, na última parte da matéria mostrei o lado considerado "sobrenatural" da história, visto que, para piorar, havia a crença que as mulheres são mais facilmente possuídas por espíritos dos mortos, que vagam por até 10 dias em nosso plano, do que homens. Muitos acreditam que os espíritos mais pertubados possuem uma maior atração por mulheres do que pelos homens, porque simplesmente as mulheres menstruam. Vale ressaltar que Chennai, anteriormente conhecida como "Madras", é um dos maiores centros culturais, econômicos e educacionais na região Sul da Índia. De acordo com o último censo realizado em 2011, a cidade contava com pouco mais de 7 milhões de habitantes, que a tornavam a quarta aglomeração urbana mais populosa da Índia, com um território que lhe atribuía o título de sexta maior cidade do país. Mesmo assim, a realidade em terra firme é bem diferente do que imaginamos diante dos números e informações apresentadas (leia mais: "As Mulheres São Mais Facilmente Possuídas? Os Medos e as Ameaças Contra Mulheres Responsáveis Por Crematórios, na Índia!").

Agora, poucos dias atrás, a mídia internacional começou a propagar uma história de partir o coração, mas que boa parte da mesma a transformou em algo grotesco. Afinal de contas, infelizmente, o grotesco e o bizarro geralmente dão muito mais audiência, ou seja, acessos e com eles toda a publicidade que os sites de notícias carregam em suas páginas. Provavelmente, em quase todos os lugares você encontrará títulos como: "'Menina Mogli'é encontrada em floresta vivendo com macacos", "'Garota Mogli'é encontrada vivendo com os macacos em floresta na Índia" ou então "Menina Mogli de 8 anos foi resgatada da selva na Índia". Sim, é exatamente dessa forma que isso vem sendo propagado pela maioria dos sites internacionais e brasileiros. Como defesa, muitos podem até alegar que isso se assemelha ao conto sobre "Mogli - O Menino Lobo", criado por Rudyard Kipling, sobre a história de um bebê perdido em meio a selva indiana, e que foi criado por lobos, ou seja, teria nascido como uma espécie de "criança feral" (também chamado de "criança selvagem"). Aliás, histórias assim aparecem de tempos em tempos. O problema é que na Índia, encontrar uma menina abandonada ou morta geralmente tem uma conotação bem diferente. Assim sendo, vamos mostrar os detalhes dessa história, que geralmente não são replicados nos poucos parágrafos que já escreveram sobre o caso. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Como Tudo Isso Começou? Uma Menina Teria Sido Criada Por Macacos?


Para começarmos a entender essa história, é necessário buscar informações na mídia indiana, visto que uma parte dela possui jornais relativamente decentes e mais sérios, em inglês, uma herança praticamente britânica. Isso, é claro, facilita a pesquisa, mas nem sempre quer indicar que seja o melhor conteúdo disponível sobre um determinado caso. Assim sendo, vamos começar com o que foi publicado no site do jornal "The Times of India" (TOI), no dia 6 de abril.

Segundo o "TOI", policiais em Uttar Pradesh encontraram uma menina que não sabia falar e "nem se comportar como seres humanos normais". A menina de 8 anos de idade (idade estimada, uma vez que não há nenhuma confirmação nesse sentido) teria sido resgatada pela polícia nos arredores da cidade de Bahraich, em um distrito de mesmo nome, no estado indiano de Utta Pradesh. Segundo as primeiras informações, ela estava em meio a um bando de macacos.

Segundo o "TOI", policiais em Uttar Pradesh encontraram uma menina que não sabia falar
e "nem se comportar como seres humanos normais"
A menina de 8 anos de idade (idade estimada, uma vez que não há nenhuma confirmação nesse sentido) teria sido resgatada pela polícia nos arredores da cidade de Bahraich, em um distrito de mesmo nome, no estado indiano de Utta Pradesh. Segundo as primeiras informações, ela estava em meio a um bando de macacos.
Para vocês terem uma noção, a cidade de Bahraich possui pouco mais de 186.000 habitantes (de acordo com o último censo realizado em 2011), em uma área de 34 km². Um fator que torna essa cidade importante para a Índia, é que ela fica bem próxima da fronteira com o país vizinho, o Nepal.

Além disso, no distrito de Bahraich, se encontra o Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat, que é o lar para uma série de espécies ameaçadas de extinção, tais como: o gavial (uma espécie de crocodilo), o cervo-do-pântano, tigres, rinocerontes, diversas espécie de cobras (sendo muitas delas venenosas), entre outros animais. Vale destacar que o santuário nada mais é do que reserva ambiental protegida pelo governo, criada em 1975, e que possui uma área de 400 km².

Além disso, no distrito de Bahraich, se encontra o Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat, que é o lar para uma série de espécies ameaçadas de extinção, tais como: o gavial (uma espécie de crocodilo), o cervo-do-pântano, tigres, rinocerontes, diversas espécie de cobras (sendo muitas delas venenosas), entre outros animais
Placa encontrada no Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat,
em manifestação para a preservação dos tigres no local
Dezenas de tigres e gaviais habitam o Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat
Teria sido justamente em uma patrulha de rotina nesse santuário, que o subinspetor Suresh Yadav teria avistado a garotinha. Quando ele tentou resgatar a garota, que parecia estar confortável com os macacos, eles guincharam para ele, assim como a menina. No entanto, mediante muitos esforços, a polícia conseguiu resgatar a menina, e ela deu entrada no hospital do distrito de Bahraich.

Teria sido justamente em uma patrulha de rotina nesse santuário, que o subinspetor Suresh Yadav teria avistado a garotinha. Quando ele tentou resgatar a garota, que parecia estar confortável com os macacos, eles guincharam para ele, assim como a menina
No entanto, mediante muitos esforços, a polícia conseguiu resgatar a menina,
e ela deu entrada no hospital do distrito de Bahraich
Ainda segundo o TOI, a menina não conseguia falar e nem entender qualquer idioma, ficando "assustada diante dos seres humanos". Os médicos que estavam tratando dela, disseram que muitas vezes ela apresentava um comportamento violento. A menina teria apresentado uma melhora após o tratamento, mas em um ritmo bem lento. Foi mencionado também que ela ainda comia diretamente com a boca. Além disso, por mais que ela tivesse sido "treinada para andar sobre duas pernas, às vezes ela caminhava assim como animais, usando as mãos e as pernas juntas, ou seja, de quatro."

Vale ressaltar nesse ponto, que a maioria dos sites indianos usaram como base um texto publicado pela "Asian News International" (ANI), uma agência de notícias indiana, sediada em Nova Délhi, que fornece um conteúdo multimídia para para 50 escritórios na Índia e na maior parte do sul da Ásia. O detalhe é que o pequeno texto publicado pela agência é ligeiramente diferente.

Os médicos que estavam tratando dela, disseram que muitas vezes ela apresentava um comportamento violento. A menina teria apresentado uma melhora após o tratamento, mas em um ritmo bem lento.
Na notícia publicada no site da ANI, foi informado que os médicos, que vinham tratando de uma garotinha de 10 anos de idade (algo que reforça que ninguém sabia exatamente sua idade), disseram anteontem (6), que "a menina e seu estado de saúde estavam começando a apresentar melhoras". Ao menos essas teriam sido as palavras de D.K. Singh, diretor do hospital onde ela se encontrava. O detalhe é que a menina teria sido encontrada há dois meses, e que teria sido vista no meio de animais. Ao descrever a menina, o diretor disse que a mesma já teria comido e andado como animais, acrescentando que ela poderia ter vivido com esses animais por algum tempo, porém não estimou quanto tempo.

"A menina tinha marcas em sua pele, parecia que ela tinha vivido com animais por algum tempo", disse D.K. Singh.

O site de notícias "India.com" chegou a mencionar que a NDTV, uma das principais emissoras de TV da Índia, teria divulgado que a menina comia alimentos como macacos, e jogava a comida servida no chão para depois comer, muito embora não seja isso que vemos nas imagens, visto que é possível ver a menina segurando até mesmo um copo plástico de água.

A menina teria sido encontrada há dois meses, e que teria sido vista no meio de animais. Ao descrever a menina, o diretor disse que a mesma já teria comido e andado como animais, acrescentando que ela poderia ter vivido com esses animais por algum tempo, porém não estimou quanto tempo
O site de notícias "India.com" chegou a mencionar que a NDTV, uma das principais emissoras de TV da Índia, teria divulgado que a menina comia alimentos como macacos, e jogava a comida servida no chão para depois comer, muito embora não seja isso que vemos nas imagens, visto que é possível ver a menina segurando até mesmo um copo plástico de água
Já o site do jornal "The New Indian Express" publicou algumas declarações bem peculiares do subinspetor de polícia e do diretor do hospital, os principais personagens dessa história, e também alguns outros detalhes pertinentes sobre o caso.

"Nós a vimos brincando entre macacos. Assim que tentamos nos aproximar da menina, os macacos a cercaram e alguns deles pularam sobre nós", teria dito o subinspetor Suresh Yadav, acrescentando que a menina não possuía roupa alguma, ou seja, estava nua, no momento do resgate. Também não havia nenhuma pista de parentes ou familiares da menina, uma vez que ela não conseguia se comunicar.

"Nós a vimos brincando entre macacos. Assim que tentamos nos aproximar da menina, os macacos a cercaram e alguns deles pularam sobre nós", teria dito o subinspetor Suresh Yadav
"Quando ela foi levada para o hospital, ela tinha hematomas por todo o corpo. Suas unhas estavam compridas e os cabelos estavam despenteados como macacos. Diante do seu comportamento, parece que ela estava com os macacos desde o nascimento. Eu a visito pessoalmente de vez em quando", disse Dinesh Tripathi, superintendente de polícia.

"Ela se comporta como um macaco e grita alto, caso os médicos tentem se aproximar dela. Às vezes ela anda normal e, de repente, passa a andar de quatro", disse D.K. Singh, novamente citado como diretor do Hospital do Distrito de Bahraich. A presença da menina no hospital distrital provocou curiosidade entre os habitantes locais. Confira também a sequência abaixo relacionada a três vídeos que foram publicados na página do portal de notícias "Oneindia", no Facebook, onde mostra rapidamente o comportamento dessa menina em questão:







"Caso ela veja alguém olhando para ela, ainda que de longe, ela começa a rosnar", disse Shiraz, que era "um entre os curiosos que visitam a estranha paciente no hospital distrital regularmente".

"Ela usa a boca para pegar os alimentos", disse uma enfermeira do hospital, acrescentando que ela espalha o alimento na cama e não usava as mãos para pegá-los.

"O tratamento está sendo uma tarefa difícil para os médicos, uma vez que ela não entende nada, e faz barulhos e caras como macacos, atacando os médicos quando eles se aproximam dela", disse um outro médico do hospital.

Cavando um Pouco Mais a Fundo: Polícia Nega que Menina Estivesse Entre Macacos e a Negligência das ONGs


Uma vez que praticamente todos os sites de notícias estavam querendo dizer a mesma coisa, como se uma menina tivesse nascido e passado 8 a 10 anos juntamente com macacos em uma reserva ambiental na Índia, cujas temperaturas alcançam 45ºC durante o verão, e caem para até 3ºC durante o inverno, além de possuir cobras venenosas, crocodilos e até mesmo tigres, talvez outros sites no idioma hindi pudessem ajudar a dar mais pistas sobre esse caso.

O site do jornal "Naya India" informou que o resgate da menina tinha acontecido no dia 25 de janeiro, ou seja, quase três meses atrás, não apenas dois. Já o site de notícias "Khas khabar" mencionou que antes dessa data, alguns moradores locais já tinham avistado essa menina entre os macacos, que tentaram resgatá-la, mas que um bando de macacos teriam atacado eles.

Assim sendo, os moradores ligaram para a polícia, que estava há alguns dias em busca da menina. Confira também algumas outras reportagens realizadas pela imprensa indiana sobre o assunto e que foram publicadas nos canais "Live Hindustan" e "Hindustan Times", no YouTube (em hindi):





Assim como as imagens divulgadas pela agência de notícias Ruptly, em seu próprio canal no YouTube (praticamente sem falas, e contando com uma entrevista em hindi):



Entretanto, houve uma reviravolta em toda essa história. O site do jornal "New Indian Express" mencionou ontem (7), que após terem surgido relatos que uma menina de oito anos de idade teria sido encontrada vivendo em uma floresta com um bando de macacos, autoridades policiais e florestais negaram que tal incidente tivesse ocorrido. Segundo eles, a garota foi encontrada à beira de uma estrada em Bahraich, por um inspetor da polícia, no início de janeiro. A menina apresentava problemas mentais e permanecia internada no hospital distrital desde então.

Quem também publicou sobre isso foi o site do jornal "Times of India". O TOI mencionou que, de acordo com a polícia, a menina de Bahraich foi provavelmente abandonada pela família. Na quarta-feira (5), a mídia local havia relatado sobre uma menina que deu entrada no hospital distrital de Bahraich, no dia 25 de janeiro, como tendo sido resgatada de um bando de macacos. Na quinta-feira (6), no entanto, a polícia local disse que não havia evidências sobre isso.

Para piorar a situação, a menor não identificada, e que até o momento nenhum parente ou familiar apareceu, foi rejeitada por ONGs que trabalham para os direitos da criança por causa de seu comportamento selvagem e andar estranho.

O TOI mencionou que, de acordo com a polícia, a menina de Bahraich foi provavelmente abandonada pela família
"Escrevi para a Childline pela terceira vez em busca de ajuda e espero que respondam dessa vez", disse o Dr. D.K. Singh, acrescentando que a menina, que provavelmente tinha uns 10 anos de idade, era saudável, mas apresentava transtornos mentais. Vale ressaltar nesse ponto, que a Childline é uma ONG que lida com crianças vítimas de abuso, bullying, que possuem doenças mentais, entre outras condições médicas e sociais.

Enquanto isso, uma mulher chamada Rina, que trabalha como faxineira no hospital estava desempenhando o papel de uma verdadeira mãe para a menina. Atualmente, a mesma estava sendo mantida em um quarto particular, mas o hospital vinha achando difícil tomar conta dela.

"A garota foi encontrada primeiramente por cortadores de lenha na rodovia Bahraich-Lakhimpur, nas florestas de Motipur, no Santuário da Vida Selvagem de Katarniaghat, e avisaram a polícia. Não há registro que ela tenha sido resgatada de macacos", disse o oficial de polícia Ramavtar Yadav.

O Dr. D.K. Singh, acrescentando que a menina, que provavelmente tinha uns 10 anos de idade, era saudável,
mas apresentava transtornos mentais
Para piorar a situação, a menor não identificada, e que até o momento nenhum parente ou familiar apareceu, foi rejeitada por ONGs que trabalham para os direitos da criança por causa de seu comportamento selvagem e andar estranho
Quando a menina foi conduzida até a delegacia de polícia de Motipur, ela apresentava hematomas, e estava andando com o apoio dos pés e das mãos, como um quadrúpede. De acordo com a polícia, a menina tinha uma perna bem machucada, algo que poderia ter feito com que andasse daquela forma.

Ainda ontem (7), o TOI publicou que a menina de Bahraich, que por sua vez passou a ser chamada de "Puja", teria um novo lar a partir de hoje (8). A menina seria levada até Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh, para um abrigo para crianças carentes e com transtornos mentais. Quem declarou isso foi o "Comitê do Bem-Estar da Criança" (CWC) que teria aprovado essa transferência após uma "pressão" da mídia em dizer que ninguém estava fazendo nada por ela.

Enquanto isso, havia uma multidão de pessoas querendo entrar no hospital para ver a menina, tanto que os portões tiveram que ser fechados para contê-las. O Dr. D.K. Singh explicou que eles tinham poucos funcionários e estava ficando difícil controlar toda aquela situação. Aliás, não é difícil de imaginar isso, visto que até repórteres entravam no hospital para gravar matérias. No vídeo abaixo podemos ver um deles se aproximando da menina, que estava no chão, enquanto tentavam segura-lá pelo braço para que não fugisse e pudesse ser filmada (diga-se de passagem, um atitude deplorável):



O chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade Médica de King George (KGMU), de Lucknow, o professor P. K. Dalal também visitou a menina para "examiná-la". Havia a suspeita que a menina fosse "surda e muda" (por mais que esses termos não sejam politicamente corretos) desde o nascimento. Quando questionado sobre isso, ele disse que poderia aparentar, mas que eles a tinham visto "murmurar" por água no hospital.

Apesar do site ressaltar que autoridades policiais e do próprio hospital terem negado que a menina tivesse sido encontrada em meio a macacos, um funcionário do hospital, cujo nome não foi revelado, disse que certa vez alguns macacos, ainda que não estivessem em bando, entraram no hospital e chamaram mais a atenção do que o normal.

"Pacientes e visitantes começaram a dizer que eles (os macacos) tinham vindo para ver se a menina estava feliz e segura", teria dito esse funcionário. Curiosamente, houve até que levasse oferenda para a menina acreditando que ela fosse uma espécie de "deusa". Vale lembrar nesse ponto, que crianças com deficiência na Índia são adorados como deuses, portanto não há nenhuma honra real em toda essa história.

Havia a suspeita que a menina fosse "surda e muda" (por mais que esses termos não sejam politicamente corretos) desde o nascimento. Quando questionado sobre isso, ele disse que poderia aparentar, mas que eles a tinham visto "murmurar" por água no hospital.
Para completar um dos poucos sites de notícias que não fizeram dessa notícia uma espiral fantasiosa sobre uma "menina criada por macacos" na floresta, foi o site "Amarujala.com", que publicou que a menina estava sofrendo de algum transtorno mental, e que talvez nem mesmo tivesse origem indiana. Foi mencionado que os pediatras que estavam tratando dela acreditavam que ela podia ter origem nepalesa.

Além disso, o site publicou as declarações do Dr. Jitendra Chaturvedi, chefe executivo da Associação em Prol do Desenvolvimento Humano, uma ONG que se esforça para restaurar os direitos das crianças que são abandondas ou enfrentam algum tipo de deficiência, na Índia. De acordo com ele, a região florestal onde a menina foi encontrada é muito pequena, e que ele já tinha trabalhado ao longo de 15 anos juntamente com os moradores locais. Assim sendo, não havia um único local que não houvesse a interferência humana. Era ridículo de se pensar que uma criança pudesse sobreviver em meio de tigres e leopardos, que circulam livremente durante o dia, muito menos que pudesse estar há muito tempo no local, visto que a sua presença já teria sido notada antes.

O site "Amarujala.com" ainda publicou que o "Comitê do Bem-Estar da Criança" admitiu ter recebido diversas cartas do hospital informando a condição da menina, porém eles sempre questionaram o hospital para esclarecer melhor a situação, algo que não tinha acontecido até o momento. De qualquer forma, ficou claro que somente após a exposição na mídia é que algo começou a ser realmente feito, quer dizer, isso é o que esperamos, é claro.

A Menina de Bahraich Pode Estar Sofrendo da Síndrome de Rett?


Talvez, ainda que seja altamente especulativo tentar apontar algo nesse sentido, uma possível condição médica para explicar o comportamento do menina de Bahraich poderia ser a chamada "Síndrome de Rett", algo que muito provavelmente a absoluta maioria população desconhece ou nunca ouviu falar. Pois bem, a Síndrome de Rett é definida como uma desordem do desenvolvimento neurológico relativamente rara, tendo sido reconhecida pelo mundo no início da década de 1980. Desde então, diversos estudos já apontaram que pode ocorrer em qualquer grupo étnico, com aproximadamente a mesma incidência. A particularidade é que a prevalência da Síndrome de Rett é de uma em cada 10.000 a 20.000 pessoas do sexo feminino.

A Síndrome de Rett é definida como uma desordem do desenvolvimento neurológico relativamente rara, tendo sido reconhecida pelo mundo no início da década de 1980
Desde que foi identificada, sempre foi vislumbrada a natureza genética dessa desordem, primeiro por afetar predominantemente o sexo feminino, e também pelos raros casos familiares, embora se trate de síndrome de ocorrência esporádica em 95,5% dos casos, e o risco de casos familiares seja inferior a 0,5%. Desde 1999, já se sabe que a grande maioria das meninas e mulheres, que preenchem os critérios para a Síndrome de Rett, apresenta mutações no gene MECP2.

Durante os últimos 25 anos, os conhecimentos sobre as características clínicas e a história natural da Síndrome de Rett evoluíram de maneira surpreendente. Entretanto, ainda se trata de condição muito desconhecida para segmentos sociais e científicos importantes: ainda há muitos médicos, terapeutas e educadores que não fazem ideia do que seja a Síndrome de Rett, e muitos dos que já ouviram falar sobre ela permanecem relativamente desinformados sobre os avanços no conhecimento clínico e terapêutico adquiridos especialmente nesta última década.

Durante os últimos 25 anos, os conhecimentos sobre as características clínicas e a história natural da Síndrome de Rett evoluíram de maneira surpreendente. Entretanto, ainda se trata de condição muito desconhecida para segmentos sociais e científicos importantes
A análise da origem parental (dos pais) nos casos esporádicos revelou que, na maioria deles, as mutações ocorreram de novo no alelo de origem paterna. Isso explicaria a predominância de Síndrome de Rett clássica em meninas, já que os meninos não herdam o cromossomo X paterno, mas sim o materno.

Por outro lado, nos raros casos familiais (somente 0,5%), o alelo mutado é proveniente da mãe, que não apresenta o quadro clínico de Síndrome de Rett. Esses casos poderiam ser explicados: pela inativação favorável do cromossomo X da mãe que tem a mutação ou pela ocorrência de mosaicismo gonadal, quando o alelo mutado é encontrado apenas nas células da linhagem germinativa materna.

A análise da origem parental (dos pais) nos casos esporádicos revelou que, na maioria deles, as mutações ocorreram de novo no alelo de origem paterna. Isso explicaria a predominância de Síndrome de Rett clássica em meninas, já que os meninos não herdam o cromossomo X paterno, mas sim o materno
Geralmente, a Síndrome de Rett se manifesta clinicamente por volta dos 2 a 4 anos de idade, embora os prejuízos ao desenvolvimento neurológico já estejam provavelmente presentes entre 6 e 18 meses de idade, ou até mesmo antes. Os bebês nascem geralmente sem quaisquer intercorrências, e parecem se desenvolver dentro dos parâmetros normais na primeira infância. Normalmente, apresentam padrões adequados de desenvolvimento motor no que se refere ao sentar-se e ao andar. Todavia, são raros os relatos de crianças que vieram a receber o diagnóstico de Síndrome de Rett, que tenham engatinhado em qualquer fase da infância.

Os primeiros sinais da manifestação clínica da Síndrome de Rett incluem:
  • Irritabilidade geralmente crescente ao longo de um período determinado, representada por crises de choro inconsolável;
  • Estabilização (interrupção) na aquisição de habilidades motoras (incluindo a fala);
  • Perda óbvia das habilidades motoras finas, representadas pela falta de uso prático das mãos para, por exemplo, manipular brinquedos e quaisquer outros objetos;
  • Nesse período, as meninas também podem apresentar menos interesse pelo ambiente que a rodeia e pela socialização e interação com os outros. Em alguns casos, elas podem interagir de uma forma "autista", motivo pelo qual muitas recebem esse diagnóstico, erroneamente, no início da manifestação da doença;
  • Outros elementos comunicativos também são perdidos nessa fase, e há muitas meninas que parecem não estar escutando o que é dito, mesmo quando apresentam audição normal e preservada confirmada por avaliações pertinentes;
  • No período que segue após a perda das habilidades motoras e as alterações nos processos de comunicação e socialização, surgem os movimentos estereotipados das mãos, "marca registrada" da forma clássica da doença. Esses movimentos se manifestam de forma diferente em cada menina, mas, geralmente, são movimentos como: lavar ou torcer as mãos, bater as mãos uma na outra, apertar ou bater as mãos ou uma delas em alguma outra parte do corpo (geralmente a boca), levar às mãos à boca, ou levar parte da roupa à boca e ficar mordiscando. Esses movimentos estereotipados ocorrem geralmente, mas não obrigatoriamente, na linha média do corpo. Em muitos casos, esses movimentos não ocorrem com as mãos juntas. Cada menina desenvolve o seu repertório próprio de movimentos estereotipados que, ao longo do tempo, mostram um padrão evolucionário na mesma menina. Esses movimentos estereotipados das mãos só ocorrem nos períodos em que a pessoa está acordada, mas são, no geral, movimentos incessantes. Esses movimentos tendem a exacerbar (ou ficar mais intensos e repetitivos) em situações de estresse ou excitação. Quando se restringem as mãos, é usual observar movimentos similares realizados com os pés, ou mesmo movimentos estereotipados envolvendo a musculatura orofacial;
  • Cerca de 80% das meninas com Síndrome de Rett chegam a aprender a andar, mas sua marcha se torna dispráxica (ou sem função, sem destino intencional), uma vez que o caráter funcional e voluntário da marcha diminui a princípio para, depois, ser definitivamente perdido em parte importante dos casos. Em última estância, quando preservada, a marcha é realizada com base alargada e sem qualquer função. A marcha também pode ser ocasionalmente caracterizada por "andar nas pontas dos pés", "dar o primeiro passo para trás", ou "transferir o peso de um pé para o outro repetidamente";
  • Todas as meninas com a Síndrome de Rett apresentam deficiência mental severa a profunda. Estudos nacionais e internacionais reportam que o desenvolvimento intelectual dessas meninas atinge, no máximo, o equivalente ao desenvolvimento intelectual de uma criança de 24 meses com desenvolvimento normal. Tendo em vista todas as dificuldades motoras presentes na Síndrome de Rett, é bastante difícil avaliar o desenvolvimento intelectual com os testes disponíveis (que requerem, minimamente, o uso prático das mãos ou linguagem preservada).
Critérios para diagnóstico de formas variantes da Síndrome de Rett:
  • Preencher pelo menos 3 dos 6 critérios maiores;
  • Preencher pelo menos 5 dos 11 critérios menores.
Critérios maiores
  • Ausência ou redução das habilidades manuais práxicas;
  • Redução ou perda da fala em balbucios;
  • Redução ou perda das habilidades comunicativas;
  • Desaceleração do crescimento cefálico nos primeiros anos de vida;
  • Padrão monótono de estereotipias manuais;
  • Perfil da desordem Rett: Estágio de regressão seguido de recuperação da interação social contrastando com regressão neuromotora lenta.
Critérios menores
  • Irregularidades respiratórias;
  • Distensão abdominal / Aerofagia;
  • Bruxismo;
  • Locomoção anormal;
  • Escoliose / cifose;
  • Amiotrofia dos membros inferiores;
  • Contato visual intenso;
  • Resposta diminuída para dor;
  • Episódios de risadas / gritos;
  • Hipotermia, pés arroxeados, crescimento (usualmente) comprometido;
  • Distúrbios de sono, incluindo episódios de terrores noturnos.
No estágio inicial da doença, a Síndrome de Rett pode ter seu diagnóstico clínico dificultado, principalmente considerando que muitos médicos ainda não estão suficientemente familiarizados com essa condição. Estima-se que, em cerca de 50% das meninas brasileiras afetadas pela Síndrome de Rett, o diagnóstico clínico seja equivocado. Confira um vídeo, em português, sobre essa síndrome, que foi realizado pela TV Brasil em março de 2015:



Confira também esse outro vídeo realizado pelo canal "Academia Play", no YouTube, que resume basicamente tudo já explicamos para vocês de forma bem didática e ilustrada (em espanhol):



Grande parte das pacientes com Síndrome de Rett vivem até a quinta ou sexta década de vida, e geralmente com deficiências bastante graves. As taxas de sobrevida podem declinar em pacientes com Síndrome de Rett com mais de 10 anos de idade, embora 70% delas atinjam os 35 anos de idade (uma sobrevida muito maior do que em outros pacientes com deficiência mental profunda, dos quais apenas 27% atingem os 35 anos de idade).

Vale ressaltar que todas as informações acima foram extraídas do site da Abre-te, a Associação Brasileira de Síndrome de Rett de São Paulo, que visa promover a saúde, a aprendizagem e exercício de cidadania para meninas, adolescentes e adultas com a Síndrome de Rett em todo o território nacional, para que possam ser incluídas na sociedade com o respeito que suas diferenças merecem, subsidiando suas famílias com acolhimento e divulgação de conhecimentos sociais e científicos. Portanto, caso você tenha alguma dúvida ou até mesmo suspeita que sua filha tenha essa condição médica, entre em contato com eles através do email abrete@abrete.org.br ou pelo telefone (11) 5083-0292.

O Caso Envolvendo as Meninas Chamadas de "Amala e Kamala", no Início do Século XX: Uma das Maiores Farsas Envolvendo "Crianças Selvagens"


Provavelmente, vocês devem estar se questionando sobre a razão pela qual mencionei a Síndrome de Rett, não é mesmo? Bem, vocês podem não saber, mas certo dia surgiram duas menininhas chamadas "Amala e Kamala", também conhecidas como as meninas lobo, foram consideradas como duas "crianças selvagens" encontradas na Índia, em 1920. Acreditava-se que Amala tinha cerca de 1 ano e meio e faleceu um ano mais tarde. Kamala, no entanto, diziam que tinha oito anos de idade, e viveu até 1929. Contava-se que elas agiam como lobos. As meninas não falavam, não sorriam, andavam de quatro e uivavam para a Lua.

Bem, vocês podem não saber, mas certo dia surgiram duas menininhas chamadas "Amala e Kamala", também conhecidas como as meninas lobo, foram consideradas como duas "crianças selvagens" encontradas na Índia, em 1920
Contava-se que elas agiam como lobos. As meninas não falavam, não sorriam, andavam de quatro e uivavam para a Lua
Em 1926, Joseph Amrito Lal Singh, reitor de um orfanato local, o mesmo onde as meninas eram mantidas, publicou um relato no jornal indiano "The Statesman", dizendo que as duas garotas foram entregues a ele por um homem que morava na floresta, próximo do vilarejo de Godamuri, no distrito de Midnapore, a oeste de Calcutá. As meninas, quando ele as viu pela primeira vez, viviam em uma espécie de gaiola próxima da casa. Porém, posteriormente, ele afirmou que ele próprio resgatou as meninas do covil dos lobos, em 9 de outubro de 1920.

Joseph Amrito Lal Singh (no centro, de preto), reitor de um orfanato local,
juntamente com crianças e funcionários
Devido a muitas versões dessa história e nenhuma embasada por nenhuma testemunha, exceto o próprio Singh, muitas pessoas até pouco tempo atrás desconfiavam dessa história. Vale lembrar que o "mito" de ser criado por lobos é uma antiga concepção indo-europeia para explicar o comportamento animalesco de crianças abandonadas com doenças congênitas.

Entretanto, de acordo com o cirurgião francês Serge Aroles, autor do livro "L'Enigme des enfants-loup" ("O Enigma das Crianças Lobos", em português), publicado em 2007, esse caso é uma das mais escandolosas fraudes em termos de "crianças ferais". Ele chegou as seguintes conclusões:
  • O diário original que Singh afirmou ter escrito "dia após dia durante a vida das duas meninas-lobo"é falso. Foi escrito na Índia, após 1935, seis anos após a morte de Kamala. (o manuscrito original é mantido na divisão de manuscritos da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, na capital, Washington);
  • As fotos mostrando as duas meninas-lobo andando de quatro, comendo carne crua, entre outras atitudes, foram tiradas em 1937, após a morte de ambas. Na verdade, as fotos mostram duas meninas de Midnapore posando a pedido de Singh;
  • De acordo com o médico encarregado do orfanato, Kamala não tinha nenhuma das anomalias inventadas por Singh, tais como dentes muito afiados e longos, locomoção usando os quatro membros, visão noturna com emissão de um intenso brilho azul a partir dos seus olhos etc.;
  • De acordo com vários depoimentos confiáveis ​​coletados entre 1951 e 1952, Singh costumava bater em Kamala para fazê-la agir conforme havia descrito, na frente dos visitantes;
  • Serge Aroles disse que teve acesso as cartas entres Singh e um professor chamado Robert M. Zingg, no qual Zingg expressava sua opinião sobre o valor financeiro da história, e que pedia sua colaboração para publicá-la. Após a publicação do diário de Singh, Zingg enviou um pagamento de royalties de US$ 500 para Singh, que precisava desesperadamente de dinheiro para manter o orfanato aberto;
  • Zingg simplesmente acreditou na palavra Singh. O livro que ele publicou em parceria com Singh, chamado "Wolf-Children and Feral Man", atraiu muitas críticas de antropólogos. Zingg pagou caro por sua falha em verificar de forma independente a autenticidade do relato de Singh, e as consequências dessas controvérsias resultaram na demissão do Dr. Zingg de seu posto acadêmico na Universidade de Denver, em 1942. Ele nunca mais lecionou novamente após o escândalo;
  • Kamala sofria com uma desordem do desenvolvimento neurológico, a Síndrome de Rett.
Vale ressaltar aqui que o livro Serge Aroles não trata apenas desse caso, mas de todos os casos conhecidos de "crianças selvagens" entre 1304 e 1954, um trabalho que envolveu cerca de 4 anos de pesquisas. Segundo ele, de todos os casos somente um era autêntico: a de Marie-Angélique Memmie Le Blanc, conhecida como a "Garota Selvagem de Champagne, um caso que ocorreu no século 18.

Segundo Serge Aroles, de todos os casos somente um era autêntico: a de Marie-Angélique Memmie Le Blanc, conhecida como a "Garota Selvagem de Champagne, um caso que ocorreu no século 18
Ainda de acordo com Serge, todos os outros casos ou são mal-documentados, simplesmente mal compreendidos, fraudes deliberadas ou então fraudes com objetivo financeiro. Resumindo, não importa o caso que você tenha ouvido antes, é muito provável que tenha sido uma farsa. Assim sendo, ou o caso da menina de Bahraich é muito raro e o segundo autêntico desde 1304 ou então a menina realmente foi abandonada de forma deliberada pelos pais por alguma condição médica ou simplesmente deixa a mercê da própria sorte por ser mulher.

Apontar a Síndrome de Rett é emblemático devido a dificuldade locomotora da menina, os gestos repetidos das mãos, contato visual intenso, redução da capacidade de falar ou de se comunicar, entre uma série de outros detalhes. Será que ela é mais nova do que andam dizendo? Se fosse a Síndrome de Rett, assim como no caso de Kamala, será que ainda está em um estágio muito inicial? É difícil saber, e conforme disse anteriormente, é totalmente especulativo, visto que não tenho conhecimento médico e cientifíco para dar esse diagnóstico, muito menos a distância.

O Tratamento Dado as Mulheres na Índia: O Direito Negado de Simplesmente Nascer Mulher


Antes de prosseguirmos, é bom deixar claro que o texto abaixo não visa generalizar o comportamento dos indianos, visto que, com certeza absoluta, há muitos pais que sonham em ter uma menina ou até mesmo não teriam coragem de cometer quaisquer crimes devido ao nascimento de uma menina. Porém, o mesmo reflete basicamente o que acontece na maioria dos casos, principalmente em regiões do interior do país, que conta com mais de 1 bilhão e 200 milhões de habitantes. Evidentemente, não é possível tomar conta de tanta gente ao mesmo tempo, o que acaba facilitando que a tradição, muitas vezes torpe e desumana, acabe resultando na morte de dezenas ou centenas de milhares de meninas (na melhor das hipóteses) todos os anos. Aliás, quando alguém procura notícias sobre a Índia, não é difícil encontrar textos dizendo que "Morte de menina após jejum religioso de 68 dias provoca polêmica na Índia" ou "Aborto seletivo pode explicar déficit de 8 milhões de meninas na Índia". Afinal de contas, a China e a Índia são dois países no topo da lista mundial do infanticídio feminino.

Evidentemente, não é possível tomar conta de tanta gente ao mesmo tempo, o que acaba facilitando que a tradição, muitas vezes torpe e desumana, acabe resultando na morte de dezenas ou centenas de milhares de meninas (na melhor das hipóteses) todos os anos
No caso da Índia, após o nascimento de um menino é feita uma celebração, e dependendo da região são dias de festa regadas a muita comida e bebida. Todos ficam felizes e dançam. A esposa ganha inúmeros presentes, principalmente se for o primeiro filho. Pela tradição indiana, apenas o filho homem pode acender o fogo sagrado quando o pai morre. É o filho que vai perpetuar o nome da família, administrar os negócios, cuidar dos pais na velhice e herdar a fortuna etc. Quando nasce uma menina não tem festa, é uma decepção na forma como pensam, pelo menos diante do que as tradições impõem. A menina geralmente é vista como uma despesa, porque de acordo com a tradição, a família da menina terá que pagar o casamento e o "dote" que, mesmo sendo proibido, é o que a tradição manda. Vale lembrar que o "dote"é o valor pago em dinheiro e presentes para a família do noivo. Ao casar, a mulher passa a pertencer à família do marido. Então, para os indianos, "ter uma filha não é um bom negócio".

O aborto é permitido na Índia em casos específicos como: quando a mulher é portadora de alguma doença grave e a gravidez pode colocar sua vida em risco; quando o feto corre o risco de nascer com anomalias físicas ou mentais; caso ela tenha gerado filhos com anomalias congênitas anteriormente, e outros casos específicos, porém apenas é permitido até as primeiras 12 semanas de gravidez. A ironia da história é que o sexo do feto só pode ser determinado por ultrassom após a 14ª ou 15ª semana. Desde 1994, uma lei proíbe e criminaliza o aborto feito por identificação do sexo feminino, sendo que é proibido que o médico revele o sexo do bebê no ultrassom, visto que se as famílias descobrirem que é uma menina, elas podem cometer um aborto, e consequentemente um crime. Na Índia, existem cerca de 40 mil clínicas de ultrassom registradas e muitas mais sem registro. Isso sem contar as inúmeras ofertas de aborto no momento do exame de ultrassom, tudo de maneira ilícita. A Suprema Corte da Índia também proibiu os sites de busca de oferecerem nomes de laboratórios ou clínicas que ofereçam revelar o sexo do bebê. Porém, isso é muito pouco perante um verdadeiro genocídio velado.

Desde 1994, uma lei proíbe e criminaliza o aborto feito por identificação do sexo feminino, sendo que é proibido que o médico revele o sexo do bebê no ultrassom, visto que se as famílias descobrirem que é uma menina, elas podem cometer um aborto, e consequentemente um crime
Além disso, os abortos não só acontecem em famílias mais humildes. A classe média e pessoas com ótimas condições financeiras, a elite social, por assim dizer, são as que mais realizam os abortos, uma vez que possuem condições financeiras de pagar por tudo e o peso da tradição é maior, principalmente se já tiverem uma menina na família. Já as famílias pobres não possuem dinheiro para realizar o aborto seguro e fazem clandestinamente; muitas vezes nem a mãe, nem o bebê sobrevivem. Outras tomam remédios, não se alimentam direito, e muitas crianças já nascem com sérios problemas de saúde, morrendo logo em seguida ao parto. Quando não realizam o exame de ultrassom, porque não têm dinheiro, depois do nascimento, muitas mães matam as meninas no nascimento; elas são jogadas em poços, enterradas vivas, e abandonadas à própria sorte, principalmente se as meninas tiverem algum tipo de deficiência.

Recentemente, diversos sites de notícias internacionais reportaram que uma recém-nascida foi encontrada enterrada viva. Repararam no que eu disse? "Uma recém-nascida", ou seja, um bebê do sexo feminino. Segundo a polícia, a motivação do crime "devia" ser o sexo da criança, algo que chamava mais uma vez a atenção para o "problema" do infanticídio feminino na Índia. No entanto, também havia a suspeita de que a mãe fosse solteira, situação que costuma isolar mulheres na sociedade indiana. De qualquer forma, o pai da criança foi preso pouco tempo depois.

As famílias pobres não possuem dinheiro para realizar o aborto seguro e fazem clandestinamente; muitas vezes nem a mãe, nem o bebê sobrevivem. Outras tomam remédios, não se alimentam direito, e muitas crianças já nascem com sérios problemas de saúde, morrendo logo em seguida ao parto
Vale lembrar que somente no início do mês passado, a polícia indiana recuperou 19 fetos femininos de um esgoto no estado de Maharashtra, e acusou um médico de abortá-los ilegalmente para pais desesperados por um menino. Além disso, segundo um estudo publicado em 2011, pelo periódico médico britânico "The Lancet", estima-se que cerca de 12 milhões de meninas foram abortadas ao longo das últimas três décadas. Isso sem contar o que acontecia antes, o que ainda acontece, e os casos em que meninas são abandondas ou completamente marginalizadas. Para vocês terem uma dimensão disso, é como se toda a população da cidade de São Paulo simplesmente desaparecesse ao longo de 30 anos. A pior parte é que esses números, na prática, podem ser ainda maiores.

Atualização #1 - 09/04 às 13h: O Jogo de "Empurra-Empurra" da Imprensa e das Autoridades Indianas: Quem Realmente Inventou Essa História? 


Hoje pela manhã (9), o site do jornal "The Indian Express" voltou a publicar sobre a menina de Bahraich, dizendo que ela não foi encontrada nua, não estava se movendo de quatro, e que não havia a presença de macacos. Pelo menos essas eram a informações do chefe de polícia Sarvajeet Yadav. A menina, que estava no Hospital do Distrito de Bahraich, foi transferida ontem para o Hospital Nirvan de Lucknow, destinado a pessoas com transtornos mentais. Pouco tempo depois, Rita Bahuguna Joshi, responsável pelo "Comitê do Bem-Estar da Criança" (CWC), a visitou.

menina, que estava no Hospital do Distrito de Bahraich, foi transferida ontem para o Hospital Nirvan de Lucknow, destinado a pessoas com transtornos mentais. Pouco tempo depois, Rita Bahuguna Joshi, responsável pelo "Comitê do Bem-Estar da Criança" (CWC), a visitou
Parte de uma equipe de patrulha de três policiais, da delegacia de polícia de Motipur, Yadav e seus colegas receberam uma chamada no anoitecer do dia 24 de janeiro sobre essa menina.

"Alguém da cidade de Mihinpurwa, que passava por aqui, a viu sentada à beira da estrada. Chegamos por volta das 18h30. Havia nevoeiro por toda parte", disse Sarvajeet Yadav ao apontar o local onde a encontraram.

"Ele se rastejava com o quadril. Estava usando apenas um vestido e uma calcinha. Estava muito fraca e tentou se afastar ao nos ver... Não havia macacos. Ela não estava nua, e não estava usando as mãos para andar. Não como sei essas histórias se espalharam", continuou.

"Acreditamos que ela foi abandonada por seus pais, que não puderam cuidar dela por causa de sua condição mental", acrescentou, apontando que não há moradores no local em um raio de 10 km. A equipe de patrulha a levou para delegacia de polícia de Motipur.  

Parte de uma equipe de patrulha de três policiais, da delegacia de polícia de Motipur, Yadav e seus colegas receberam uma chamada no anoitecer do dia 24 de janeiro sobre essa menina
Já um outro oficial, chamado Ram Avtar Yadav, disse que eles tinham 100% de certeza de que a menina não estava na estrada há mais de 24 horas.

Vale lembrar nesse ponto, que no começo, conforme havíamos mencionado a mídia indiana alegou que ela estava "vivendo com macacos na selva Katerniaghat há meses" e estava nua quando foi resgatada. Além disso,"os policiais teriam dito que tiveram que lutar contra macacos ao redor dela". Posteriormente, a polícia e o hospital resolveram se apressar em desmentir o que aparentemente eles ou a mídia criaram em torno dessa história, e que estavam sendo amplamente pressionados por isso.

Os colegas de Yadav, na delegacia de polícia de Motipur, disseram que a menina, com uma idade estimada de 11 anos, estava muito fraca para ficar de pé e, portanto, se arrastava usando os quadris. Mais tarde, o subinspetor Dhanraj Yadav disse que a menina foi entregue à delegacia de polícia de Mahila, no Distrito de Bahraich, porque não tinham "celas para mulheres" em Motipur.

Posteriormente, a polícia e o hospital resolveram se apressar em desmentir o que aparentemente eles ou a mídia criaram em torno dessa história, e que estavam sendo amplamente pressionados por isso
Um posto avançado do Departamento Florestal está localizado a apenas 30 metros de onde a menina foi encontrada, e os oficiais também disseram que nunca a viram (como se não fosse possível ver uma menina a sentada no chão a uma distância de 30 metros).

"Eu questionei todos os oficiais da patrulha de Motipur. É improvável que ela estivesse vivendo na floresta e não tivesse sido vista por ninguém", disse G.P. Singh, um policial florestal de Katerniaghat.

O Dr. D.K. Singh, diretor do Hospital do Distrito de Bahraich, culpou um jornal em idioma hindi de ter sido o primeiro a referir a menina como uma "criança selvagem". Ele e o hospital receberam inúmeras ligarações desde então. Porém, não foi mencionado o nome de desse jornal. Quando uma outra reportagem (novamente não foi mencionada qual foi essa reportagem) passou a chamar a menina de de "van-devi" ("deusa de floresta", em tradução livre para o português), o fluxo de visitantes de multiplicou.

Um posto avançado do Departamento Florestal está localizado a apenas 30 metros de onde a menina foi encontrada, e os oficiais também disseram que nunca a viram (como se não fosse possível ver uma menina a sentada no chão a uma distância de 30 metros)
"As pessoas começaram a vir com as famílias. Algumas até doaram dinheiro e tocaram seus pés. Havia tanta gente vindo que eu tive que colocar um guarda", disse D.K. Singh, que acusou um subinspetor de polícia de ter propagado a história sobre uma "criança selvagem", assim como que ela comia alimentos do chão ou que chutava pessoas que se aproximavam dela, mas não entrou em detalhes sobre o nome desse subinspetor. Um médico, desse mesmo hospital, apontou que as crianças com transtornos mentais também apresentam esse comportamento. D.K. Singh também apontou, que após cerca de um mês, ela estava "completamente bem de saúde", e eles começaram a procurar um lar para a menina, mas nenhuma ONG respondeu.

O Dr. Alok Chantia, antropólogo da Universidade de Lucknow, que assistiu aos vídeos da menina e conversou com médicos sobre ela, disse que ela não apresentava nenhuma característica de viver com macacos, incluindo palmas inchadas por andar ou se pendurar.

"Ela caminha ereta. Se ela estivesse vivendo com macacos desde o nascimento, ela não seria capaz de fazê-lo. Seus joelhos também não são torcidos como o dos macacos", disse o Dr. Alok Chantia.

Madhu Bhalla, assistente de enfermagem, disse que a menina começou a beber leite de uma garrafa e comer após dois ou três dias depois de ter dado entrada no hospital, e tentou falar quando via os faxineiros, que cuidavam dela.

Imagens da recepção da menina no Hospital Nirvan de Lucknow
"Ela comia biscoitos, arroz etc. Em cerca de 20 dias, ela ganhou força e começou a andar", disse Madhu Bhalla, afastando os rumores de que a menina estava comendo suas próprias fezes. Madhu Bhalla tinha sua própria teoria sobre como a alegação de seu crescimento juntamente com macacos havia se espalhado.

"Temos um macaco que muitas vezes entra na cozinha do hospital. Um dia ele entrou na ala geral onde esta menina estava, e algumas pessoas passaram a dizer, que ele tinha vindo encontrá-la", disse Madhu Bhalla.

"Suas habilidades adaptativas estão intactas. Ela é capaz de aprender", disse Mohit Chandra, a psicóloga clínica do hospital, acrescentando que a menina estava desorientada no início, mas logo começou a responder a gestos não-verbais. Vocês também podem conferir a condição atual da menina, em um vídeo publicado pelo canal do TOI, no YouTube:



S.S. Dhapola, o presidente da ONG que administra o hospital de Lucknow, onde a menina foi transferida no sábado (8), disse que o ministro Joshi havia prometido ajudá-los e levar o assunto ao conhecimento do ministro-chefe Yogi Adityanath. Ele acrescentou que havia passado a chamar a criança de "Ehsaas".

"Sua religião não é conhecida, e não é apropriado chamá-la de 'van-devi' ou 'criança selvagem'", disse S.S. Dhapola. Ele também alegou que, pouco tempo após chegar, a menina tinha pronunciado duas palavras: "chalo" e "garmi".

Entretanto, Dhapola "não tem dúvida de que tudo isso tenha referência aos macacos". Ele levou a garota para seu escritório, e apontou como ela se esquivou quando interagiu com ela, sentando-se no chão depois de tocar em alguns objetos de sua mesa. Dhapola continuou mostrando sua palma para ela, pedindo que ela a tocasse. Depois de alguns segundos, ela começou a esfregar sua palma sobre a dele. "Veja, é assim que os macacos esfregam as mãos", disse Dhapola.

Sinceramente, chega a ser revoltante todo esse jogo de "empurra-empurra" da mídia indiana, das autoridades policiais, e até mesmo do hospital que, conforme vocês vão poder ler em meus comentários, não é um local de reputação ilibada. Apesar do site "The Indian Express" ter desmentido mais uma vez toda essa história, algo que eu já havia feito ontem (8), é assustador ver que, mesmo diante de todas as retificações feitas, opiniões de outros especialistas, o S.S Dhapola ainda acredite que a menina estava em meio aos macacos. É simplesmente surreal. Isso se contar que a menina tinha sido transferida de uma delegacia para a outra, porque eles não tinham uma cela para mulheres. Como é que é? O ato natural de qualquer ser humano decente teria sido, no mínimo, encaminhar a menina para um hospital, verificar se ela havia sofrido algum tipo de abuso, inclusive de ordem sexual e investigar o caso. Somente após algum momento da linha do tempo, que eles perceberam que eles precisavam levar a menina para um hospital. Realmente não tenho mais condições de falar sobre isso sem dizer um palavrão como força de expressão, portanto acho que já ficou bem claro desde ontem, que essa história era fantasiosa e fabricada. Enfim, fiquem agora com os meus comentários finais, algo que espero que sirva de reflexão.

Comentários Finais


Peço encarecidamente, que vocês façam um exercício de realidade comigo. Vocês acham mesmo que essa menina estava morando feliz com macacos e foi criada por eles? Acham mesmo que ela sobreviveria semanas, meses e anos em uma reserva ambiental repleta de cobras venenosas, tigres, leopardos e gaviais? Acham mesmo que os macacos, gentis e caridosos, deram frutinhas em sua boca como se fosse um desenho animado de Hollywood? Bem, se vocês realmente acreditam nisso, está na hora de acordarem para a vida. Para vocês terem uma ideia, no fim do mês de março desse ano, o governo de Uttar Pradesh, mediante intervenção da Comissão Nacional de Direitos Humanos, confirmou as denúncias relatadas, que uma criança de 10 meses de idade morreu devido a indiferança e negligência de médicos e enfermeiras do Hospital do Distrito de Bahraich, em 9 de agosto do ano passado. Essa criança, que nem tinha sequer 1 ano de idade, foi levada ao hospital com um quadro de febre alta. Primeiramente, uma enfermeira pediu dinheiro para colocar a documentação da criança em ordem, depois um outro funcionário cobrou por um leito e na manhã seguinte um médico pediu dinheiro para aplicar uma injeção, justamente aquela que podia salvar a vida da criança. O problema é que o hospital é do governo, e não cobra por isso. Depois de uma longa e demorada discussão resolveram aplicar a injeção na criança, porém era tarde demais. Nisso, pouco tempo depois, no início de abril, esse mesmo hospital aparece na mídia indiana e internacional, dizendo que acolheu uma pobre e machucada menina em janeiro, e estava prestando o melhor atendimento possível para ela. Vamos considerar por um momento, que isso seja verdade. Porém, não é estranho isso aparecer somente agora, justamente depois daquela outra história vir à tona?

A questão é que a realidade na Índia, principalmente em relação as mulheres é bem diferente do que se imagina ou do que apareceu em uma determinada novela do passado. É muito provável que aquela menina já estivesse sofrendo de maus-tratos ou até mesmo abusos devido a sua condição de saúde, por parte dos próprios familiares. Não duvido que ela estivesse sendo tratada, quem sabe desde o seu nascimento ou a partir do momento que apresentou algum transtorno mental, da forma mais degradante possível e, quem sabe, conseguido fugir e acabar sendo encontrada por cortadores de lenha. Isso, no entanto, ninguém comenta. Afinal de contas, um país que pode ter matado 12 milhões de meninas e abandonado milhões de outras ao longo de meros de 30 anos, em que há relatos que algumas mães tiveram a coragem de estrangular seus próprios bebês por serem meninas, jamais alguém poderia imaginar que o mesmo sádico, triste e lamentável destino se aplicasse a pequena "Puja", não é mesmo? Quem vai imaginar que um país onde homens se aglomeram com seus celulares para filmar a menina selvagem, que colocam o microfone quase dentro de sua boca e que sorriem e acham engraçado como se estivessem diante de um animal, e que pudessem abandoná-la no meio de uma estrada, não é mesmo? Então, a melhor explicação é que os macacos bondosos criaram a menina, porque ela é uma espécie de deusa, que precisa ser reverenciada. Só podem estar de brincandeira.

Sinceramente, a única pessoa que estava se comportando feito um "ser humano normal" era a própria menina, até mesmo porque, caso ela tivesse sido maltratada durante meses ou anos, ela tem todo o direito de não querer ser tocada por mãos que sequer querem curá-la, querem exibí-la como se fosse um circo de horrores. E assim, boa parte do mundo fez, imitando o mesmo comportamento daqueles indianos ao compartilhar os vídeos, que a exibiam sem nenhum pudor, rindo do que acharam grotesco. Será que é necessário lembrar que "Puja"é apenas uma menina que sofreu na Índia simplesmente por ser menina? Será que ninguém entende que muito provavelmente não aparecerá nenhum parente, porque simplesmente a descartaram como se fosse algo semelhante a um saco de lixo? Chegou ao cúmulo de aparecer uma multidão para apreciar a "criança selvagem", a grande atração da Índia moderna. Só faltaram colocá-la em uma jaula, e não duvido muito que isso aconteceria há algumas décadas. Na Índia, nascer mulher, na absoluta maioria das vezes, é uma sentença de morte. Não entender isso, não faz você ser parte da plateia que assiste o espetáculo, faz de você o palhaço do circo dos horrores.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://hindi.oneindia.com/news/uttar-pradesh/girl-found-forest-bahraich-living-with-monkeys-403316.html
http://indianexpress.com/article/india/real-life-mowgli-8-year-old-girl-raised-by-monkeys-rescued-from-up-forest/
http://indiatoday.intoday.in/story/girl-found-in-up-katarniaghat-forest-mowgli/1/921789.html
http://inextlive.jagran.com/mowgli-girl-lives-with-swamp-of-monkeys-found-in-this-forest-of-the-up-201704060008
http://timesofindia.indiatimes.com/city/lucknow/bahraichs-jungle-girl-tobe-sent-to-shelter-home/articleshow/58074233.cms
http://timesofindia.indiatimes.com/city/lucknow/jungle-girl-gets-media-attention-but-not-of-ngos/articleshow/58058440.cms
http://timesofindia.indiatimes.com/india/eight-year-old-girl-found-living-with-monkeys/articleshow/58037884.cms
http://www.abrete.org.br/sindrome_rett.php
http://www.amarujala.com/uttar-pradesh/bahraich/teenager-mentally-disabled
http://www.brasileiraspelomundo.com/india-onde-estao-nossas-meninas-111835935
http://www.dnaindia.com/india/report-real-life-mowgli-8-year-old-girl-found-in-katarniaghat-forests-with-habits-similar-to-animals-2383463
http://www.india.com/news/india/female-mowgli-girl-found-in-up-forest-behaves-like-animals-say-reports-1999158/
http://www.jagran.com/uttar-pradesh/bahraich-monkeys-gave-life-to-girl-child-in-katarniyaghat-forest-and-became-mogli-girl-15808893.html
http://www.khaskhabar.com/local/uttar-pradesh/bahraich-news/news-mowgli-girl-found-in-the-wilderness-of-bahraich-behaves-like-monkeys-news-hindi-1-194886-KKN.html?ModPagespeed=noscript
http://www.nayaindia.com/up-news/mowgli-girl-center-of-curiosity-katarniya-ghat-bahraich-615821.html
http://www.newindianexpress.com/nation/2017/apr/06/the-jungle-book-redux-in-uttar-pradeshs-bahraich-1590649.html
http://www.newindianexpress.com/nation/2017/apr/07/mowgli-girl-adopted-by-a-lucknow-based-ngo-drishti-samajik-sansthan-1591123.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Amala_and_Kamala
https://en.wikipedia.org/wiki/Serge_Aroles
https://scroll.in/latest/833852/uttar-pradesh-8-year-old-girl-found-living-with-a-troop-of-monkeys-in-forest
https://www.facebook.com/pg/oneindiahindi/videos/

O Mistério de Coral Castle: Como um só Homem Conseguiu Erguer 1.100 Toneladas de Rochas?

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Hoje vamos conhecer a única estrutura megalítica moderna, construída por um pequenino homem sozinho, usando ferramentas simples, como correntes e roldanas. Com isso ele moveu pedras de até 30 toneladas! Como ele fez isso? Levitação? Localizada na Flórida, Coral Castle foi uma construção feita para seu grande amor, que o deixou um dia antes do casamento, e que nunca foi, apesar dos muitos convites, conhecer o local....

Assombrados, uma vamos saber mais sobre uma estrutura que me impressionou muito, o Castelo de Coral. O mais interessante é que é considerada a única estrutura megalítica moderna, e a grande maioria das pessoas nunca ouviu falar. Como que Edward Leedskalnin, um homem franzino com o coração apaixonado, conseguiu empilhar toneladas de rochas de coral? Ele dizia que descobriu o segredo dos egípcios. Vamos conhecer sua história, seu castelo e como ele poderia feito a estrutura. 

Edward Leedskalnin

Edward Leedskalnin nasceu em Riga, na Letônia em 10 de agosto de 1887. Ele recebeu apenas uma educação formal estudando até a quarta série. Com 26 anos, tornou-se noivo do seu único e verdadeiro amor: Agnes Scuffs. Agnes era dez anos mais nova que Ed e ele se referia carinhosamente a ela como "Sweet Sixteen". Só que algo terrível aconteceu: Agnes cancelou o casamento um dia antes da cerimônia, dizendo que Ed era velho e pobre para casar com ela!

Desolado e profundamente entristecido por essa perda trágica, Ed resolveu partir e se dedicar a provar que poderia fazer algo marcante, um monumento a seu amor perdido, um local que ele originalmente chamou de Rock Gate Park e hoje é conhecido como o Coral Castle. Sem assistência externa ou grandes máquinas, Ed construiu tudo sozinho, a noite, usando luz de lampião. esculpindo mais de 1.100 toneladas de rochas sedimentar (pedra calcária oolita), tudo em homenagem a seu grande amor perdido, Agnes.

O que torna o trabalho de Ed notável é o fato de que ele tinha pouco mais de 1,5 metros de altura e pesava apenas apenas 45 quilos, ou seja, um homem franzino. Como ele foi capaz de construir aquilo sozinho, ainda mais com os blocos de coral que ele usou na obra pesando toneladas? Incrivelmente, ele cortou e moveu enormes blocos de coral usando apenas ferramentas manuais. Pelo menos ele tinha alguma experiência no assunto, só que adquiriu algumas habilidades trabalhando em acampamentos de madeira e veio de uma família de pedreiros na Letônia.

Inicialmente, ele seu mudou para da Letônia para o Canadá, e depois para os estados americanos da Califórnia e Texas. Resolveu se mudar para o estado da Flórida, em uma cidade chamada Florida City, em 1918 depois que pegou tuberculose, pois um clima mais quente ajudaria na recuperação. Em 1923 ele começou a fazer Coral Castle.

Edward Leedskalnin foi abandonado pela noiva um dia antes de se casar. Resolveu então começar uma nova vida nos EUA e mostrar para sua amada que ele era um homem que valia a pena...


O Castelo de Coral

Edward construiu um castelo usando em sua grande maioria rocha calcária coral, encontradas ao longo da costa da Flórida, uma rocha bastante maleável. Edward retirou elas de sua própria propriedade para fazer sua obra de arte em dedicação a sua esposa.

Ele construiu tudo durante a noite e sozinho, usando ferramentas primitivas. Ele moveu grandes blocos de pedra usando alavancas, rodas, eixos, polias, rampas e cunhas sem qualquer equipamento avançado!

A estrutura compreende várias rochas (principalmente de calcário formados a partir de coral ), cada um pesando várias toneladas. Não foi usada argamassa para uni-las e nem uma folha passa por elas. No local havia sua casa e um jardim, onde colocou diversas mesas, cadeiras, camas e até um relógio solar; tudo de rocha. Outras estruturas são:

- Mesa em Forma de Coração:pesa mais de 2 toneladas com cadeiras ao redor.
- Escultura em Formato de Lua:22 toneladas
- O Obelisco:22 toneladas e 12 metros de altura
- Telescópio: 30 toneladas, 7 metros de altura e alinhado com a estrela do norte
- Poço da Lua:composto de 3 rochas de 18 toneladas cada e que representa as fases da lua
- A Porta Giratória:Uma imensa rocha de 9 toneladas que foi tão magistralmente instalada que uma criança abria com um dedo! Essa rocha tem 2,3 metros de altura, 2 metros de largura e 50 cm de espessura. Ele precisou de reparos em 1986 e 2005, e ninguém conseguiu recriar o equilíbrio que Ed. conseguiu. Hoje essa estrutura está fechada ao público.
- A Torre: Essa era a casa de Ed, um sobrado onde foi utilizado 283 toneladas de rocha coral. Ele não deixava ninguém entrar e lá ficavam suas ferramentas primitivas e alguns móveis. Um das coisas que existem lá é algo que muitos acreditam que seja um gerador de corrente alternada ou um manipulador de campo magnético, que especulam que era usado para mover as rochas.
- Sala do Trono: Uma estrutura na parede onde estão rochas as rochas em formato da lua e do planeta Saturno

Na verdade, Coral Castle é a casa que ele construiu para quando sua ex-noiva Agnes voltasse e eles tivessem filhos. Lá havia até um cantinho do arrependimento para as crianças pensarem nos seus atos.

Só que assombrados, em 1936 Edward ficou sabendo que iria ser construído um conjunto habitacional perto de sua propriedade. Ele então não teve dúvidas. Decidiu mudar e levar Coral Castle para um local mais isolado!

Estrutura conhecida como "Sala do Trono", onde estão apoiados em cima do muro pedras em formato da lua e de planetas


Estrutura conhecida como "Torre" era onde Edward morava. Ninguém entrava lá, somente ele. Repare na escada no lado direito.

Mesa em formato de coração, pesando 2 toneladas


Porta giratória de 9 toneladas que uma criança usando um dedo conseguia girar!


Poço da Lua, com 3 rochas de 18 toneladas cada


Esquerda: "Telescópio", pesa 30 toneladas e 7 metros de altura; fica alinhada com a estrela do norte. Centro: "Obelisco" com 22 toneladas e 12 metros de altura. Direita: local onde os visitantes depositar os 10 centavos para entrar em Coral Castle.


Pedra do Sol: o número do voltas numeradas representa as horas e as voltas sem número cada meia-hora.


A Mudança para Homestead

Ed era uma pessoa muito reservada e quando ouviu falar de uma subdivisão planejada sendo construída perto dele decidiu se mudar para Homestead e em 1936 comprou 10 acres de terra lá. Ed passou os próximos três anos movendo as estruturas de Coral Castle que ele já tinha começado a construir de Florida City para Homestead, uma distância de 40 quilômetros.

Como ele moveu as rochas que pesavam milhares de toneladas? Com a ajuda de um caminhão. Esse caminhão estacionava e o motorista ia embora. Durante a noite ele carregava os pesados blocos de rocha sobre o caminhão que levava então para o novo local. Novamente, o caminhão era estacionado, o motorista ia embora e durante a noite ele descarregava o veículo.

Muitas pessoas viram as esculturas de corais sendo movidas ao longo da Dixie Highway, mas ninguém realmente viu Ed carregando ou descarregando o trailer. E assim fez durante 3 anos, até conseguir transportar tudo.

Para ajudar a proteger sua privacidade, ele construiu numerosos "vigias" ao longo das muralhas do castelo, colocando sinos que tocavam se alguém fosse lá espioná-lo.

Em 1940, depois que as esculturas estavam no lugar, ele fez as paredes ao redor do local, compostas de rochas com mais de 2 metros e 40 centímetros de altura e 3 metros de espessura, ela pesava mais de 58 toneladas. Ele instalou a porta giratória de 9 toneladas para entrar em Coral Castle.

No final, sem usar maquinário pesado, estimasse que Ed entalhou, esculpiu e moveu 1.100 toneladas de rocha coral!

Mapa de Coral Castle, indicando as principais estruturas como o portão de 9 toneladas, a mesa em formato de coração, a torre, o obelisco, o telescópio e a Fonte da Lua.

Os Anos Finais

Panfletos escritos por Edward
Edward ganhava dinheiro cobrando 10 centavos de dólar para visitantes de Coral Castle em Florida City e depois subiu para 25 centavos em Homestead. Só que quando chegava visitantes ele parava de trabalhar, para evitar que descobrissem como ele fazia a estrutura.

Ed vivia uma vida simples. Não tinha carro e andava 10 quilômetros de bicicleta para comprar seus mantimentos.

Os únicos registros escritos que Edward deixou escritos são cinco panfletos que ele escreveu:

- A Book in Every Home (Um livro em cada casa) que contém pensamentos de Ed sobre 3 temas: "Sweet Sixteen" e pontos de vista nacionais e políticos.
- Magnetic Current (Corrente Magnética)
- Magnetic Base (Base Magnética)
- Cosmic Force (Força Cósmica)
- Mineral, Vegetable, & Animal Life ("Vida Mineral, Vegetal e Animal") contém suas crenças sobre o ciclo da vida. Você pode comprar esses folhetos no site Coral Castle (só entrega nos EUA).

Em dezembro de 1951 Ed ficou doente. Ele colocou um sinal na porta de seu castelo dizendo "Vou ao hospital, já volto", e pegou um ônibus para Jackson Memorial em Miami e morreu três dias depois em seu sono com a idade de 64. Depois de sua morte, um sobrinho que morava em Michigan herdou o castelo. Em 1953, pouco antes de sua morte, o sobrinho vendeu o castelo a uma família de Illinois. Durante a mudança, foi encontrada um conjunto de instruções que levaram à descoberta de trinta e cinco notas de US $ 100, suas economias de vida.

De 1923 até 1951 Edward Leedskalnin construiu Coral Castle para o amor da sua vida, Agnes. O único outro tributo que pode ser comparado é o Taj Mahal, construído ao longo de vinte anos e por vários milhares de escravos, como monumento à esposa do rei Shah Jahan.

Foto de Edward ao lado de uma rocha com algumas inscrições, como ano de nascimento 1887 na Letônia e quando foi iniciado (1923) até se mudança completa para Homestead (1939).


Como ele Fez Coral Castle?

Coral Castle têm sido muitas vezes comparado com Stonehenge e as Grandes Pirâmides. Quando questionado sobre como movia os blocos de coral, Ed responderia apenas que compreendia as leis do peso e aproveitava bem. Este homem com apenas uma educação de quarta série construiu um gerador de corrente AC, cujo restos estão em exibição hoje.

Como ninguém testemunhou como ele fez e ele não deixou escrito, seus métodos continuam a confundir engenheiros e cientistas.

Ed movia os blocos a maior parte do tempo a noite, sob a luz de lampião. Isso gerou enorme especulação, porque um dia não havia nada em um lugar e no outro dia tinha uma enorme rocha. Ele dizia quando questionado que havia entendido todas as leis de peso e alavancas. Ele dizia: "Descobri os segredos das pirâmides. Descobri como os egípcios e os antigos construtores do Perú, de Yucatan e da Ásia, com ferramentas primitivas, levantavam e posicionavam blocos de pedras de muitas toneladas."

Na verdade, Edwark Leedskalnin escreveu em um dos seus folhetins que toda a matéria é composta de imãs individuais. Ele acreditava que imãs no centro da Terra atraiam objetos que tem pólos magnéticos norte e sul causavam a gravidade. Será possível que Ed tenha descoberto uma forma de anular a gravidade através de suas ideias?

Uma história diz que duas crianças espionaram Ed e viram blocos movendo-se pelo ar!

Algumas das ferramentas usadas na construção ficavam guardadas na "Torre". Ao lado Ed usando o que seria um dos aparelhos, que muitos acreditam que possa estar relacionada a anti-gravidade


Sistema de polias usado na construção de Coral Castle


Esta caixa retangular que ficava acima do tripé de madeira seria um dos segredos da anti-gravidade? Note que existe uma escada em uma das toras de madeira para levar até ela.


Esses misteriosos números entalhados na rocha dentro da "Torre" poderiam ser a chave para o mistério da antigravidade?

Explicando a Construção

Ed levou 28 anos para fazer Coral Castle, usando ferramentas básicas. Para muitos, ele não descobriu o segredo da levitação ou algo do gênero, ele era somente obstinado e bastante paciente. Também foi descoberto um raro vídeo mostrando Ed trabalhando em Coral Castle, junto a vários turistas, e nele é possível ver como ele trabalhava.

E mais, Leedskalnin trabalhava a maior parte do tempo sozinho, só que ele não era um eremita recluso; Tinha amigos que via frequentemente. Um homem, Orval Irwin, foi não só um amigo de longa data de Leedskalnin, mas também um empreiteiro de construção com um profundo conhecimento de técnicas de construção. Ele escreveu um livro em 1996 com o título inspirador "Mr. Can't is dead: The story of the Coral Castle" (O Sr. não pode morrer! A História do Castelo de Coral), e nele ele explica, através de fotografias, desenhos e esquemas, como foi feito Coral Castle.

Irwin derrama água fria sobre as teorias paranormais de que energias desconhecidas, tecnologia alienígena ou levitação construíram o castelo. Na verdade, ele acha essas teorias um insulto ao trabalho duro e à integridade de seu amigo: "Nos tempos em que Ed começou a esculpir suas pedras originais era uma geração que conhecia as realizações pelo suor do trabalho duro, não do misticismo, e foi com trabalho duro que Ed realizou seu grande projeto."

Eis algumas explicações de como ele construiu Coral Castle:

- Como ele movia as Rochas?
Primeiro ele usava troncos de madeira para a rocha deslizarem pelo chão. Isso é mostrado em uma das fotos. Depois em uma outra foto vemos uma estrutura tripé composta por troncos de árvores, com uma roldana e correntes , além de uma estrutura retangular preta no topo. O segredo é exatamente esse: ele usava correntes de ferro e roldanas para posicionar as rochas onde queria. Cada corrente de ferro aguentava até 15 toneladas, usando portanto conseguia mover 30 toneladas, o peço da maior rocha do complexo, a Estrutura Astronômica.

- O que era a estrutura retangular no topo do Tripé?
Era somente um apoio para o tripé não abrir. Aquela caixa deveria estar cheia de materiais pesados, para assim dar mais forças as três grande toras de madeira onde estava apoiado a roldana com as correntes de ferro.

- Como ele fez a porta giratório de 9 toneladas? 
Simplesmente achando o centro de gravidade! Como funcionou permaneceu um mistério até 1986, quando parou de se mover. Quando o portão foi removido, foi revelado que ele rodou em um eixo de metal e descansou em um rolamento de caminhão, no centro preciso de gravidade da rocha. Achando o centro de gravidade torna possível você mover até uma casa inteira!

- O que são os 2 números encontrados entalhados em rochas no andar superior da Torre?
Muita gente acredita que seja o segredo para a anti-gravidade. Na verdade um número é "Número do Registro de Imigração" e o outro o"Número da Cidadania" que estão registrados no papel de imigração de Edward Leedskalnin que está guardado até hoje.

- E a estrutura que geraria a anti-gravidade?
Nada mais seria do que um gerador AC usado para acender duas lâmpadas dentro da torre. É isso que um guia do local diz para os visitantes. Nunca foi usado para iluminar o complexo.

- De onde vinham as Rochas?
Do lado de Coral Castle. Observe que existe uma grande depressão, era de lá que ele pacientemente tirava as rochas, usando serras. A rocha calcária de coral é bem maleável, sendo possível cortá-la com ferramentos primitivas, só levaria tempo.

Papel de Imigração de Edward Leedskalnin e os números que ele gravou na rocha dentro da "Torre" em Coral Castle. Nada haver com o segredo da anti-gravidade.


Rara filmagem mostras as rochas sendo movento com troncos na parte inferior e puxados por correntes de ferro.


Foto grande esquerda: Estrutura no topo do tripé seria para fixação; Foto superior direita: roldanas usadas para erguer as rochas e Foto direita baixo: Isso seria um gerador AC que depois que girasse a manivela acenderia 2 luzes dentro da torre.


Foto aérea mostra o local exato de onde as rochas foram tiradas


Fazendo uma Visita

Atualmente Coral Castle é uma atração turística em Homestead, e você pode fazer uma visita. Ele fica aberto para visitação de domingo à quinta das 8h as 18h e de sexta e sábado das 8h - 20horas. O preço do ingresso varia de acordo com a idade:

- Crianças (menores de 6 anos) Grátis
- Crianças (idades de 7 - 12) $ 8.00
- Adultos (idades de 13 - 64) $ 18.00
- Idosos (idades de 65+) $ 15.00

Se quiser fazer uma visita em grande grupo tem desconto :)

Quer fazer um evento privado, como seu casamento, festa familiar, aniversário? Tem como também. Só entrar em contato, fazer a reserva da data e pagar a taxa.

Não tem como ir lá pessoalmente? Faça uma visita via Google Maps!


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Conclusão

Considerada a única estrutura megalítica da era moderna, Coral Castle é um mistério para muitos. Será que Edward Leedskalnin descobriu a antigravidade e como manipula-la? Parece que ele descobriu como manipular grandes objetos e ele escreve sobre isso em um folhetim. Conforme suas palavras, ele descobriu os segredos das pirâmides do Egito.

Mas vamos pensar por outro lado. Foram 28 anos trabalhando nas rochas e com trabalho árduo, ele fez isso sem a ajuda de anti-gravidade, extraterrestre ou seja qualquer outra coisa paranormal, como disse seu amigo em livro publicado em 1996.

O que podemos ver em Coral Castle é a força do amor. Alguns homem quando perdem suas amagas apelam para ameças, violência física até mesmo a morte. Já Leedskalnin foi em outra direção, buscou mostrar para sua amada que apesar de ser franzino e pobre, tinha capacidade para fazer muita coisa, e dedicou sua obra, Coral Castle, a sua amada ex-noiva, que infelizmente nunca veio conhecê-la...

Aliás, na verdade Edwark Leedskalnin pode ser um fugitivo! O pesquisador Andris Stravo pesquisou a vida de Edward na Letônia e descobriu um documento que diz ele trabalhava como guarda armado contra o Czar de 1905 a 1907 e fugiu de lá causa da repressão da polícia secreta do Czar!

Fontes (Acessadas em 08/04/2017)
- Coral Castle Museum
LiveScience: Mystery of the Coral Castle Explained
- Skeptic.com
Wikipedia.en: Edward Leedskalnin
Wikipedia.en: Coral Castle
- Encontros com o Inexplicável: O Mistério do Castelo de Coral
- Alienígenas do Passado S08 E02: Estruturas Misteriosas
- Youtube.com: O Castelo de Coral
- Youtube: Darren Nemeth: Footage of Edward Leedskalnin and his Coral Castle.
Youtube: Coral Castle Mystery 100% Solved with 1930's Film Footage!
- Youtube: Coral Castle Museum

Uma "Entidade Demoníaca" Teria Sido a Principal Responsável Por um Trágico "Acidente de Trânsito", na Cidade de México?

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Por Marco Faustino

Em determinados casos é necessário respirar fundo diante do que é divulgado deliberadamente pelos sites de notícias. Infelizmente, não é de hoje que a mídia aprendeu que a melhor estratégia financeira diante de um texto, é torná-lo o mais chamativo possível para atrair o maior número de pessoas, que serão inundadas com dezenas de propagandas e cookies que visam, inclusive, rastrear e monitorar o que os usuários acessam e seus respectivos interesses. Resumindo, cada dia que passa a informação vem perdendo cada vez mais o seu valor, e ocupa um espaço cada vez menor dentro de um site. A ironia da situação é que muitos tentam se encaixar na categoria de "produtores de conteúdo", mas isso não que dizer que essas mesmas pessoas tenham interesse de levar algo sério para vocês. Muitas vezes a informação é transmitida e descaracterizada, virando nada mais do que um entretenimento torpe, raso e especulativo. Vale lembrar, que programas assistencialistas dominicais também se dizem ser os "paladinos do povo", quando na verdade muitas vezes promovem e espetacularizam uma tragédia ou um drama pessoal. Além disso, é importante frisar que minha prioridade não é exclusivamente dizer para vocês se algo é estritamente "verdadeiro ou falso", ou seja, se é "preto no branco", visto que meu maior objetivo é mostrar todo um conjunto probatório para vocês terem uma noção da realidade por trás de um determinado caso. Assim sendo, vocês podem refletir ao longo do texto, com a ajuda dos meus comentários finais (nas vezes em que escrevo, é claro), se vocês concordam que um determinado caso é realmente uma farsa ou se estou totalmente enganado.

É justamente esse conjunto probatório que mais utilizo em minhas postagens, visto que ele oferece uma gama muito maior de informações, que mostram exatamente o grau de distorção de uma notícia. Um exemplo claro disso foi o caso da menina de Bahraich, lembram dela? É possível perceber claramente como a mídia indiana e as demais autoridades locais tentaram convencer o mundo que uma garotinha entre 8 e 10 anos de idade estaria convivendo com macacos bondosos, sendo que algumas pessoas acreditavam que ela teria sido criada por eles. O problema é que nascer mulher na Índia e ainda ter uma condição de saúde debilitante é praticamente uma sentença de morte, que eles tentam disfarçar a todo custo. Só que essa "versão" da história não durou muito tempo. Após uma extensa pesquisa na sexta-feira passada (7), publiquei a realidade por trás do caso no dia seguinte (8). Como complemento, apontei qual poderia ser a síndrome que a menina sofria, mostrei que a absoluta maioria dos casos de "crianças ferais"é uma completa farsa, assim como o tratamento dado as mulheres na Índia. Simplificando? Além de mostrar que a informação propagada era totalmente irreal, ainda forneci um conjunto probatório para vocês terem uma "noção de como as coisas funcionam" naquele país (leia mais: Uma Garotinha de Apenas 8 Anos Foi Encontrada Vivendo e Agindo como Macacos em uma Reserva Florestal, na Índia?).

Agora, eis que me deparo com uma notícia sobre uma bruxa chamada Zulema, que foi até o local onde uma tragédia - que chocou a Cidade do México - para exorcizar o suposto "espírito maligno" que teria ocasionado um "acidente de trânsito" envolvendo vítimas fatais. Com a ajuda de ervas, uma vela, um boneco estranho e duas cabeças, aparentemente de brinquedo, a esotérica tentou determinar "quem foi responsável pelo acidente de trânsito", e realizou um ritual para as vítimas descansarem em paz. Provavelmente, vocês estão curiosos para saber que tragédia foi essa não é mesmo? Porém, infelizmente ela não é tão incomum e de vez em quando acontece aqui no Brasil também. Na madrugada do dia 31 de março, uma sexta-feira, por volta das 3h30, um motorista totalmente alcoolizado bateu com sua BMW, a quase 200 km/h, em um poste de aço, na Avenida de la Reforma, uma das principais avenidas da Cidade do México (obviamente, a capital do México). O impacto foi tão forte que partiu o carro ao meio. No interior do veículo tinham cinco pessoas, mas apenas o motorista "milagrosamente" sobreviveu. Pouco a pouco os detalhes dessa tragédia começaram a ser revelados, assim como diversas especulações surgiram. Recentemente, algumas pessoas passaram a dizer que viram um "fantasma" ou a própria "Morte", em uma gravação de uma das câmeras de segurança da cidade e, inclusive, surgiu essa tal bruxa Zulema dizendo que um "demônio" estava por trás do "acidente". Vamos saber mais sobre esse assunto?

Entenda o Caso: Uma Tragédia Anunciada que Chocou a Cidade do México


Essa parte da postagem é essencial para que vocês possam entender exatamente as nuances dessa tragédia praticamente anunciada. É muito importante que vocês acompanhem as informações abaixo, conforme elas foram divulgadas na imprensa mexicana, para que vocês tenham uma capacidade de discernimento bem mais apurada, do que se fosse colocado apenas um mero resumo aqui.

Pois bem, no dia 31 de março, o site do jornal mexicano "Excélsior", começou a contar uma história de verdadeiro absurdo e horror. Quatro mortos e um ferido foi o saldo de um "acidente" grave envolvendo um carro de luxo, nas primeiras horas da madrugada daquela sexta-feira. O incidente ocorreu na esquina da Avenida de la Reforma com a rua Liege, em direção ao centro da cidade, quando uma BMW de cor branca bateu em uma árvore e, em seguida, em um poste.

Imagem do Google Maps mostrando o local do "acidente" em questão,
na esquina da Avenida de la Reforma com a rua Liege
Imagem do Google Street View mostrando o local aproximada do "acidente"
De acordo com os primeiros relatos, o condutor do veículo perdeu o controle do mesmo em uma curva devido ao excesso de velocidade. O forte impacto fez com que o carro fosse partido ao meio, e fez com que os passageiros, exceto o motorista, fossem projetados para fora do veículo. O Corpo de Bombeiros e os paramédicos da Cruz Vermelha do México foram acionados e regastaram com o vida o condutor, que ficou com o corpo preso nas ferragens.

Durante várias horas, todas as faixas de Avenida de la Reforma em direção ao centro foram fechadas para facilitar o trabalho das equipes de emergência. As faixas só foram reabertas por volta de 8h da manhã. Confira um vídeo realizado pelo site do jornal "Excélsior" mostrando algumas imagens do estado que o veículo ficou, assim como do resgate do condutor do veículo, que foi publicado em um canal de terceiros, no YouTube:



De qualquer forma, isso seria apenas um prefácio do que seria revelado conforme as horas fossem passando. Naquele mesmo dia, o "Excélsior" mencionou que o Ministério Público da Coordenação Territorial GUH-5 já tinha iniciado a investigação das causas do "acidente", e que a Procuradoria-Geral da Cidade do México havia informado que os mortos eram duas mulheres e dois homens com idades entre 25 e 30 anos de idade.

Por sua vez, a Secretaria de Segurança Pública da Cidade do México confirmou que havia cinco pessoas no veículo, e que apenas o condutor havia sobrevivido. Ele acabou sendo levado para a Cruz Vermelha do distrito de Polanco.

Foto mostrando o estado que o veículo ficou após colidir contra um poste de aço
Mais uma foto mostrando o estado do veículo que partir ao meio diante do choque
Ainda naquela sexta-feira seria divulgado que o condutor do veículo, Carlos Salomón Villuendas Adame, 33 anos, estava dirigindo totalmente embriagado. Por incrível que pareça ele saiu do "acidente" apenas com uma escoriação no braço devido ao acionamento de um airbag do veículo. Porém, pouco tempo do "acidente", os policiais sequer conseguiram extrair quaisquer informações do condutor, porque ele simplesmente adormeceu devido ao nível de embriaguez.

Horas mais tarde, Carlos Salomón disse que não se lembrava de nada, apenas "que estava dirigindo". Confira também uma das primeiras notícias sobre essa tragédia, que acabou sendo publicada no canal "Excélsior TV", no YouTube, no dia 31 de março (em inglês):



No dia seguinte, dia 1º de abril, um sábado, o próprio "Excélsior" tentou explicar "cientificamente" a razão pela qual a tragédica aconteceu. Segundo o site do jornal, a equação "massa x aceleração = desastre" era a melhor forma de explicar o "acidente" (como se dirigir bêbado não bastasse).

Então eles informaram que o condutor estava dirigindo uma BMW Série 6 Coupé E63, com um motor V8 de 360 cv. De acordo com um site de terceiros, o modelo acelerava de 0 a 100 km/h em pouco mais de 5 segundos e ia de 0 a 209 km/h em cerca de 20.7 segundos, Para freá-lo, estando a 112 km/h era necessário cerca de 48.7 metros.

Por incrível que pareça, o condutor saiu do "acidente" apenas com uma escoriação no braço
devido ao acionamento de um airbag do veículo
O texto mencionou que a reta que liga o monumento "Fuente de Petróleos" até o local do "acidente" possuía cerca de 4 km de extensão, e por volta do horário em que tudo aconteceu normalmente está praticamente vazia. Ao final dessa reta existe uma curva para a esquerda bem fechada. Ao perder a aderência pela "força lateral", empurrando o carro para fora da curva, cerca de 1,7 toneladas de massa não tinham nenhuma forma de parar até bater contra alguma coisa.

Nesse caso, o carro bateu um poste na calçada que separa as faixas centrais e laterais da avenida. Confira essa sequência inicial de vídeos bem curtos, que acabaram sendo divulgados a partir de câmeras de segurança da Cidade do México, e que mostram a trajetória do veículo, assim como o trabalho das equipes de resgate:







O texto terminava dizendo que não importava se a pessoa tivesse um carro com freios ABS, controle de tração e estabilidade, 10 ou 15 airbags e os melhores sistemas de segurança do mundo, visto que se bater o veículo a 200 km/h, o resultado será fatal. A publicação do "Excélsior", no entanto, abafou certos pontos e detalhes, que seriam divulgados por outros veículos de comunicação.

Quem Eram as Vítimas? A Revolta dos Familiares e o Aparente Descaso do Condutor da BMW


No domingo (2), a Procuradoria-Geral da Cidade do México acusou Carlos Salomón por homicídio culposo agravado, e pediu sua prisão preventiva.

"A Procuradoria-Geral de Justiça da capital informa que o condutor da BMW, de cor branca, que supostamente causou o 'acidente', foi levado para o Centro de Detenção Provisória Masculino do Sul", indicou inicialmente a Procuradoria-Geral, em um comunicado.

Pouco tempo depois, no entanto, em outro comunicado, foi mencionado que Carlos Salomón acabou sendo transferido para um outro centro de detenção (dessa vez do Norte), onde permaneceria aguardando uma audiência preliminar, que seria realizada no dia 7 de abril.

Rara foto onde mostra Carlos Solómon sendo transferido para o Centro de Detenção Provisório
Vale ressaltar nesse ponto, que nesse dia houve uma audiência juntamente com uma juíza chamada Gloria Hernández Franco, porém Carlos Salomón, por recomendação de seu advogado, não revelou mais detalhes sobre o que aconteceu naquela trágica noite, uma vez que a intenção era que estabelecessem o crime de homicídio culposo.

Em contrapartida, o Ministério Público explicou que a mecânica de fatos indicava que que Carlos Salomón estava dirigindo bêbado e em alta velocidade, o que representava "um risco para ele, seus amigos e para a sociedade."

Pouco tempo depois, no entanto, em outro comunicado, foi mencionado que Carlos Salomón acabou sendo transferido para um outro centro de detenção (dessa vez do Norte), onde permaneceria aguardando uma audiência preliminar, que seria realizada no dia 7 de abril
Após ouvir ambas as partes a juíza decidiu acatar o pedido de prisão preventiva por homicídio culposo agravado. Além disso, nessa mesma audiência, os familiares das quatro vítimas negaram conceder perdão ao condutor.

"Não vamos fazer isso (perdoá-lo). Queremos sensibilizar os cidadãos, que se faça justiça para as quatro famílias que perderam seus entes queridos. Isso não deve acontecer novamente", disse Paloma, irmã de Karla Saldaña, uma das vítimas. Os familiares evitaram dar entrevistas para os veículos de imprensa, e ficaram bem incomodados quando foi mostrada uma foto de Carlos Solomón dormindo tranquilamente, em uma cadeira durante o recesso de 20 minutos.

Os familiares evitaram dar entrevistas para os veículos de imprensa, e ficaram bem incomodados quando foi mostrada uma foto de Carlos Solomón dormindo tranquilamente, em uma cadeira durante o recesso de 20 minutos
No dia seguinte (3), o chefe de governo da Cidade do México, Miguel Ángel Mancera, disse em entrevista para a Televisa que, de acordo com a análise de especialistas, o veículo colidiu contra um poste de aço, de 30 cm de diâmetro, da CFE (Comissão Federal de Eletricidade), a uma velocidade de 185 km/h, no cruzamento da Avenida de la Reforma com a rua Liege. Depois que ele foi atendido na Cruz Vermelha de Polanco, e foi iniciado o processo legal para saber as causas do "acidente", o condutor não permitiu que fosse realizado um exame de sangue para determinar se ele havia consumido algum tipo de droga antes do "acidente". Apesar do impacto, o poste não se moveu e acabou funcionando como uma espécie de lâmina ao partir o veículo em dois.

No entanto, o vice-procurador Óscar Montes de Oca, em entrevista a Rádio Fórmula, mencionou que um médico-legista constatou, através de um exame físico, que o condutor estava "sob a influência de drogas". De qualquer forma, não foram mencionadas que drogas seriam essas. Segundo esse mesmo funcionário, no caso das quatro pessoas que morreram foram encontrados "altos níveis de concentração de álcool no sangue."

Confira também essa excelente reportagem publicada no canal Excélsior TV, no YouTube, no dia 4 de abril, mostrando as declarações da irmã de Karla Saldaña, do advogado da família, entre os detalhes assim como o funeral de Karla, e um pouco sobre as pessoas que estavam no interior do veículo (em espanhol):



Conforme mencionamos anteriormente, a colisão provocou a morte de dois homens e de duas mulheres, porém até então não sabíamos todos os nomes, e quem eram realmente essas pessoas. O nome das duas mulheres eram Karla Saldaña, 29 anos, e Claudio Ivonne Reyes Millan, 25 anos. Já os dois homens eram Carlos Martinez Zorrilla, 25 anos, e Luis Fernando García, 30 anos. Aparentemente, Karla Saldaña era uma amiga de Luis Fernando, que por sua vez foi informado inicialmente que era único dos quatro passageiros que conhecia o condutor. No entanto, posteriormente foi verificado que todos se conheciam ou tinham amizades em comum.

De acordo os perfis de Carlos Salomón Villuendas e Luis Fernando García Heredia, ambos se consideravam como irmãos. Claudia Ivonne Reyes Millán conhecia Luis Fernando. Já Carlos Martínez Zorrilla era amigo de Ivonne. A única que parecia não conhecer Carlos Solomón pessoalmente era a Karla Saldaña, apesar de tê-lo como amigo no Facebook. Naquela madrugada, Karla entrou na BMW porque foi oferecida uma carona para levá-la para casa, localizada perto do monumento dedicado a "Diana, a Caçadora", local bem próximo do "acidente", porém, infelizmente, ela não chegou em casa. Para aumentar ainda mais a dor da tragédia, Karla tinha planos de se casar no religioso nos próximos meses.

Antes do "acidente", no entanto, todos eles estavam em bar chamado "Barezzito", no distrito de Polanco, na Cidade do México.

Antes do "acidente", no entanto, todos eles estavam em bar chamado "Barezzito", no distrito de Polanco, na Cidade do México
Miguel Ángel Mancera disse que o condutor sobreviveu devido aos airbags do veículo, porém o que agravou a situação dos demais passageiros, é que eles sequer estavam usando o cinto de segurança, algo que poderia, ainda que remotamente devido a força do impacto a quase 200 km/h, dar uma chance que alguém pudesse sobreviver. Por outro lado, Óscar Montes de Oca disse que o condutor não tinha nenhuma infração grave de trânsito, e não tinha sido detido nenhuma vez por conduzir embriagado ou sob efeitos de drogas, até esse "acidente" em questão.

Segundo o site de notícias "La Silla Rota", o encontro realizado no bar "Barezzito" teria sido em comemoração ao aniversário de Pilar Villuendas Adame, a irmã de Carlos Solomón. Assim sendo, às 23h, teriam chegado Claudia Ivonne e Pilar Villuendas juntas, depois de terem jantado em um determinado restaurante. Carlos Salomon Villuendas, Luis Fernando e Carlos Martínez também teriam chegado juntos, depois de terem jantando em outro restaurante. Karla Saldaña chegou sozinha ao Barezzito, por volta de 0h30. Assim sendo, às 3h, Pilar Villuendas acabou saindo juntamente com seu marido (que não foi citado por alguma razão nessa linha do tempo em questão). Por volta das 3h10, Carlos teria mandado uma mensagem para a irmã para saber se tinham chegado bem, sendo que o texto enviado estaria bem redigido. Em algum momento depois desse horário, todos saíram do Barezzito, sendo que minutos mais tarde ocorreria o trágico "acidente". Conheça agora um pouco mais sobre cada uma das vítimas, ao menos de acordo com o texto publicado pelo site mexicano de notícias "Debate" (devidamente adaptado e simplificado em relação ao que se sabe até o momento):

Karla Saldaña Sánches


Empreendedora desde pequena, sua família disse que, em tempos difícies, ela fazia de tudo para "sustentá-los". Durante alguns meses vendeu de tudo, incluindo quesadillas, até conseguir emprego em uma empresa de prestígio, onde trabalhou até o dia do "acidente". Ela estava prestes a receber um "anel de noivado" do seu companheiro (entraremos em detalhes sobre isso daqui a pouco). Seus amigos disseram que ele queria surpreender sua família com um grande casamento no religioso, no mês de junho. O jovem casal estava organizando tudo, e juntando dinheiro para que não faltasse nada.

Karla Saldaña ao lado de seu companheiro Benito Jiménez
No dia do "acidente", ela enviou uma mensagem para seu companheiro dizendo que não tinha planos de sair. Entretanto, um de seus melhores amigos, o Luis Fernando, que também morreu no "acidente", a convenceu de sair de casa naquela fatídica noite. De qualquer forma, esse é um ponto divergente, visto que alguns veículos de comunicação mexicanos publicaram que o companheiro de Karla sabia que a mesma estava na companhia de Luis Fernando, uma pessoa de sua confiança.

Claudia Ivonne Reyes Millan


Ivonne era a mais alegre. Com 25 anos, ele tinha conseguido emprego em uma empresa de crédito, no qual ela estava um ano e meio trabalhando. Em seu perfil no Facebook havia uma foto dela olhando para o horizonte e diversas fotos de viagens ao exterior. Ela era uma amiga próxima de Pili Villuendas, a irmã de Carlos Salomón, que por sua vez estava dirigindo a BMW. Ela estava em uma "relação sentimental" há cerca seis meses, porém o site "Debate" não entrou em maiores detalhes nesse aspecto.

Em seu perfil no Facebook havia uma foto de Ivonne olhando para o horizonte e diversas fotos de viagens ao exterior. Ela era uma amiga próxima de Pili Villuendas, a irmã de Carlos Salomón, que por sua vez estava dirigindo a BMW
Seus amigos não acreditavam no que ela estava fazendo dentro daquele carro no dia do "acidente", visto que ao sair ela sempre pedia um táxi ou outro serviço de transporte. Das quatros pessoas, o perfil de Ivonne estava sendo um dos mais visitados.

Carlos Roberto Zorrilla


Carlos Roberto era considerado aventureiro, e possuía muitos amigos. Fotos do mar, de acampamento ou vivendo uma nova experiência eram frequentes em seu perfil. Saía frequentemente com familiares mais próximos ou com sua namorada, um relacionamento que já vinha durando alguns meses.

Carlos Roberto (na foto, ao lado de sua namorada) era considerado aventureiro, e possuía muitos amigos.
Fotos do mar, de acampamento ou vivendo uma nova experiência eram frequentes em seu perfil
Ele tinha uma grande preocupação com o meio-ambiente, os animais, e geralmente tinha uma boa relação com as pessoas. Assim como Ivonne, ele também tinha 25 anos, e era um dos mais queridos do grupo.

Luis Fernando García Heredia


Sempre buscava a liberdade de expressão e estava envolvido com projetos digitais. Estava a frente de uma empresa chamada "R3D", uma "rede em defesa dos direito digitais", e era mais conhecido por seu projeto. Era entrevistado frequentemente para falar sobre tecnologia e as novas leis nesse sentido.

Luis Fernando sempre buscava a liberdade de expressão e estava envolvido com projetos digitais. Estava a frente de uma empresa chamada "R3D", uma "rede em defesa dos direito digitais", e era mais conhecido por seu projeto.
Ele também era um ativista político, mais voltado para a esquerda, porém dizem que ele não tinha aspirações políticas. Era um usuário assíduo de redes sociais e aplicativos de celulares. Seus amigos também não entenderam como ele aceitou entrar no carro, porque ele sempre usava o Uber.

A Crueldade Propagada de Parte da Sociedade Mexicana em Relação a uma das Vítimas Desse Trágico "Acidente"


O site mexicano "Debate" ainda acrescentou alguns novos detalhes sobre os momentos que antecederam a tragédia. De acordo com o condutor da BMW, um piscar de olhos, um mero momento de descuido, teria sido o levou à tragédia onde quatro pessoas morreram. Ele teria "adormecido" no volante, e não teria percebido que estava a mais de 180 km/h. E acreditem, não era apenas isso. Carlos Salomón disse que estava festejando há 24 horas, ou seja, estava cansado e já tinha bebido muito anteriormente. Ao sair do bar em Polanco, ele disse que não imaginava que ficaria tão cansado, e que, em um piscar de olhos, o seu pé direito foi pouco a pouco pressionando cada vez mais o acelerador.

Pouco depois do "acidente", o condutor desapareceu das redes sociais, porém descobriram que ele tinha colocado a sua BMW à venda a partir de um anúncio em grupo do Facebook, cerca de 9 dias antes do "acidente", no dia 22 de março. Em seu perfil, ele tinha diversas fotos de festas, e era possível vê-lo sempre copos de bebida nas mãos.

Ainda de acordo com o "Debate", as cincos pessoas que estavam dentro da BMW tinham festejado e bebido até 3h da madrugada, quando Luís Fernando ofereceu uma carona para Karla que, em seguida pediu para que Ivonne, que não a deixasse sozinha e que fosse com ela. Por sua vez, Ivonne acabou pedindo para que Carlos Roberto as acompanhassem.

Pouco depois do "acidente", o condutor desapareceu das redes sociais, porém descobriram que ele tinha colocado a sua BMW à venda a partir de um anúncio em grupo do Facebook, cerca de 9 dias antes do "acidente", no dia 22 de março
De acordo com site do jornal "El Universal", e conforme dissemos anteriormente, Karla Saldaña estava prestes a receber um "anel de noivado" por parte de seu companheiro, Benito Jiménez. Ela morava na casa de sua mãe, juntamente com ele, sendo que eles já tinham se casado no civil há cerca de oito meses, mas a mãe não sabia dessa informação.

"Tinha uma surpresa para ela, que era dar o anel de noivado, embora já tivéssemos casado no civil, algo que mantivemos em segredo em relação as nossas famílias. Porém, agora queriaa formalizar isso para a sociedade, para nossas famílias e, assim sendo, minha intenção era entregar o anel de noivado para ela, em abril", disse Benito Jiménez. Foi na quinta-feira (30) pela manhã, que Benito viu Karla pela última vez. Devido a um compromisso, Benito tinha ido dormir naquele dia na casa dos seus pais. Na sexta-feira de manhã, no entanto, a família de Karla não sabia que ela tinha saído de casa e muito menos que estava morta.

"Percebi que ela não estava em casa, pensei que ela tivesse ido ao banco, insisti em ligar no seu celular e não atendia. Fiquei inqueita, porque isso não era normal. Por um instante pensei que ela tinha sido sequestrada", disse María de los Ángeles Sánchez de la Cruz, a mãe de Karla. Graças as câmeras de segurança da casa, os familiares descobriram que Karla saiu por volta de 0h10. Horas mais tarde, os familiares descobriram sobre o "acidente". Confira também mais essa outra reportagem publicada no canal "Excélsior TV", no YouTube, a respeito dos planos de Karla e Benito de se casarem no religioso (em espanhol):



"Que isso sirva como uma mensagem de que o álcool e o volante não andam de mãos dadas", disse Benito, acrescentando que tinha medo que a justiça não fosse feita em relação a esse caso.

Entretanto, o site da emissora de TV mexicana "Univision" destacou uma triste face de parte da sociedade mexicana. Após o "acidente", diversas pessoas através das redes sociais culparam a vítima pela sua própria morte, simplesmente por ter saído sem o seu marido naquela noite. Para essas pessoas, o único elemento que diferenciava Karla das demais vítimas, é que a culpa por sua morte não era do condutor bêbado, mas por ela ser uma "p***". Sim, isso mesmo que você entendeu.

Para essas pessoas, o único elemento que diferenciava Karla (na foto) das demais vítimas, é que a culpa por sua morte não era do condutor bêbado, mas por ela ser uma "p***". Sim, isso mesmo que você entendeu
"Que mulher decente e casada anda na rua com outros homens a essa hora!!! E ainda por cima seus pais querem justiça, que bárbaro!!!! (sic)", escreveu um usuário, em uma publicação no Facebook por parte de um veículo de imprensa mexicano.

"Não era hora e nem lugar para que uma mulher séria e comprometida ficasse festejando com amigos de madrugada, pensei que essas mulheres fossem algumas prostitutas que estavam acompanhando esses sujeitos!! (sic)", disse um outro usuário. Ambas os comentários tiveram centenas de "curtidas".

O site da emissora de TV mexicana "Univision" destacou uma triste face de parte da sociedade mexicana. Após o "acidente", diversas pessoas através das redes sociais culparam a vítima pela sua própria morte, simplesmente por ter saído sem o seu marido naquela noite
O próprio Facebook se solidarizou com a situação e transformou os perfis das vítimas em páginas de "recordação e celebração de suas vidas", mas isso não impediu, que algumas pessoas ainda insistissem em criticá-la ofensivamente por seu comportamento.

Outras pessoas, no entanto, criticaram a atitude de quem estava julgando a Karla, a exemplo da usuária Tania Tagle, que fez o seguinte comentário indignado em seu Twitter: "México: quatro pessoas morreram em uma BMW na sexta-feira. Três devido ao impacto e uma por ser p***. Nós mulheres sempre morremos por sermos p****".

Comentário da usuária "Tania Tagle" em sua respectiva conta no Twitter
"Espero justiça, espero que as autoridades tenham ciência que não podem sair impunes, não pode ser simplesmente um 'acidente' de trânsito. Não pode ser, é a vida de quatro seres humanos e, portanto, de suas famílias também, porque quando nossos filhos morrem, morre uma parte de nós também", disse a mãe de Karla.

O Bar "Barezzito" e o "Serviço de Valet" Tiveram Alguma Responsabilidade Sobre o Trágico "Acidente"?


Ainda no início de abril, os familiares das vítimas pediram para que fosse investigado o responsável por entregar as chaves da BMW ao condutor em estado de embriaguez, ou seja, os familiares queriam que fossem investigadas as responsabilidades do bar e do serviço de valet (estacionamento com manobrista).

"Temos que investigar se havia um estacionamento com manobrista, e como tudo aconteceu. Verificar se o veículo estava estacionado mediante parquímetro ou se o serviço de valet entregou-lhe as chaves, apesar do estado de embriaguez que o condutor se encontrava", disse Gabriel Regino, advogado da família de Karla Saldaña.

O advogado do bar, Ricardo Olmedo, no entanto, negou que a empresa tivesse responsabilidade em relação a essa tragédia, e confirmou que não havia se reunido com as famílias das vítimas.

O advogado do bar, Ricardo Olmedo, no entanto, negou que a empresa tivesse responsabilidade em relação a essa tragédia, e confirmou que não havia se reunido com as famílias das vítimas
"Entendo a dor deles, entendo essa tragédia, mas no final do dia não é culpa do estabelecimento, e o estabelecimento não é responsável pelo que aconteceu... Não conversamos, visto que não temos nenhuma responsabilidade", disso Ricardo Olmedo, em entrevista para a Televisa, isentando também o serviço de valet, que acabou sendo citado como sendo o responsável por ter entregado as chaves do BMW ao Carlos Salomón.

"O serviço de estacionamento com manobrista presta serviços para todo o centro comercial, inclusive para a região de Polanco e Polanquito", continuou.

"Temos informações que nenhuma BMW branca estacionou por lá... Tomamos todas as medidas preventivas para que as pessoas saiam do estabelecimento e cheguem em segurança em suas casas, nesse mesmo sentido... Não podemos ser responsabilizados por ações tomadas no final, quando eles saem do estabelecimento", completou. Vocês podem conferir a entrevista de Ricardo Olmeda, na íntegra, através de um canal de terceiros, no YouTube (em espanhol):



Uma equipe da Televisa conversou com pessoas, que trabalhavam nos serviços de valet na região de Polanco, e eles disseram que era necessário entregar os carros para os seus proprietários, não importando o estado que estivessem. Anonimamente, um funcionário disse que eles não podiam negar o veículo ao seu dono.

"Se o proprietário do veículo está bêbado, a responsabilidade é do cliente", disse o funcionário. Vocês podem conferir esse diálogo, na íntegra, através de um canal de terceiros no YouTube (em espanhol):



O texto publicado pela Televisa ainda acrescentou que a BMW branca conduzida por Carlos Solomón percorreu as ruas Oscar Wilde, Emilio Castelar, atravessou o Parque Lincoln, passou pela Julio Verne, até entrar na Avenida de la Reforma. As câmaras de segurança da Cidade do México registraram o momento que a BMW aumentou a velocidade na altura do Museu Nacional de Antropologia. De acordo com as opiniões de especialistas, Carlos Solomón, começou a perder o controle do carro na altura do monumento "Estela de Luz" e, em seguida, bateu em um poste a 185 km/h.

Confira também uma reportagem realizada pela Televisa, onde ele mostraram "minuto a minuto" o caminho realizado pelo Carlos Solomón, até culminar em toda essa tragédia. O vídeo foi publicado na conta da "Noticieros Televisa", no YouTube (em espanhol):



Agora, vocês acham que o bar e o serviço de valet (caso tivesse sido realmente utilizado) poderiam ter evitado a tragédia? Bem, vamos dar uma olhada rápida no que diz a legislação mexicana em relação a esse assunto.

A Lei de Estabelecimentos Comerciais da Cidade do México aponta que os bares devem "sugerir" ao condutor, quando seja notório seu estado de embriaguez, que ele não dirija. A lei apenas indica isso, ou seja, que ele devem sugerir, sem determinar nenhuma outra situação em matéria de negar o veículo. Ainda segundo a lei, os estabelecimentos devem possuir bafômetros ou medidores para testes de embriaguez ou nível de álcool no sague, porém não há nenhuma indicação que os clientes sejam obrigados a fazê-los.

Ricardo Olmedo, advogado do bar Barezzito, disse em entrevista para a "Imagen Televisión", que o estabelecimento cumpre com as medidas de seguranças exigidas por lei. Entre elas, a de possui um bafômetro.

Foto mostrando uma parte da área interna do bar Barezzito
Mais uma foto mostrando uma parte da área interna do bar Barezzito
"A lei exige certas questões, como ter um bafômetro. Temos um e sugerimos que os clientes devem utilizar caso vejamos que estão ingerindo álcool. Não podemos obrigá-los, mas sugerimos", disse Ricardo Olmedo. Conforme apontou o advogado, essas são apenas sugestões, uma vez que nem a lei e nem seus regulamentos dizem para que os estabelecimentos neguem as chaves do carro para quaisquer clientes, e até mesmo o teste do bafômetro requer prévio consentimento por parte de usuários ou clientes.

Conforme apontou o advogado, essas são apenas sugestões, uma vez que nem a lei e nem seus regulamentos dizem para que os estabelecimentos neguem as chaves do carro para quaisquer clientes, e até mesmo o teste do bafômetro requer prévio consentimento por parte de usuários ou clientes
De acordo com Gabriel Regino, advogado da família de Karla Saldaña, a família estava querendo que isso não fosse apenas uma sugestão, mas que fosse exigido mediante força de lei. Após a morte de Karla, a família vinha buscando ajuda de especialistas sobre esse assunto, com o intuito de promover uma mudança na lei nesse sentido. Gabriel Regino também indicou que analisaria se o bar tinha alguma responsabilidade civil por permitir que o condutor dirigisse embriado, se vendeu uma quantidade de álcool maior do que o devido ou se o bar permaneceu vendendo bebidas depois do horário determinado por lei para o fechamento do estabelecimento (cerca de 2h da manhã, na Cidade do México, é claro).

Vale lembrar que apesar, dos pesares, a Lei de Estabelecimentos Comerciais estabelece que o proprietário do estabelecimento deve implementar medidas para "prevenir ou dissuadir os clientes de conduzirem veículos sob a influência de álcool." Entre essas medidas constam nomear um funcionário para aplicar o teste do bafômetro e ter alguém capacitado em primeiros socorros. No entanto, mesmo que o motorista não passe no teste do bafômetro, o estabelecimento não pode impedir que o condutor pegue as chaves e vá embora.

"A lei exige certas questões, como ter um bafômetro. Temos um e sugerimos que os clientes devem utilizar caso vejamos que estão ingerindo álcool. Não podemos obrigá-los, mas sugerimos", disse Ricardo Olmedo
Como tentativa de minimizar casos assim, o chefe de governo Miguel Ángel Mancera disse que passaria a utilizar helicópteros para prevenir acidentes por excesso de velocidade. Os helicópteros do agrupamento Cóndor iriam identificar e seguir os veículos até que fossem parados pelos policiais em terra. No mais, ele disse que sinalizaria melhor a Avenida de la Reforma.

Condutor da BMW se Negou a Indenizar as Vítimas do Trágico "Acidente", Porém Ainda Não Conseguiu Escapar: Carlos Solomón Será Julgado Por Homícido Culposo Agravado


Aparentemente, Carlos Solomón estava recorrendo a diversas estratégias para evitar ter que pagar uma eventual indenização às vitimas. Como exemplo, esse disse que era apenas um mero funcionário de uma paleteria (uma espécie de sorveteria onde vendem paletas, os famosos "sorvetes quadrados" mexicanos) e ganhava apenas 1.000 pesos por semana (aproximadamente R$ 168 pela cotação atual). Além disso, de acordo com o processo de investigação CI-FCH /CUH-5/UIC/D/689/03-2017, Carlos Solomón apresentou uma apólice de seguros, que não coincidia com o seu veículo, algo que impediria de pagar o seguro por danos a terceiros.

Entretanto, Gabriel Regino disse que havia indícios que Carlos Solomón fosse sócio de algumas empresas, sendo que estava sendo investigada a origem da BMW que ele possuía. O advogado de Karla Saldaña acrescentou, que as declarações de Carlos poderiam indicar uma tentativa de não pagar indenizações para as vítimas. Curiosamente, um dia antes da audiência que iria definir se Carlos Solomón iria ser realmente julgado pelo "acidente de trânsito", uma equipe médica do Centro de Detenção Provisória Masculino do Norte o diagnosticou com "estresse pós-traumático".

Muitas pessoas deixaram homenagens no local da tragédia
Pois bem, eis que o dia da definição do futuro de Carlos Solómon chegou, no dia 7 de abril, sexta-feira passada, e ele realmente será julgado pelo crime de homicídio culposo agravado. Isso foi determinado pela juíza encarregada do caso, após uma audiência de cerca de sete horas na qual "registrou-se um amplo debate entre a defesa do acusado, o promotor do Ministério Público e os assessores jurídicos das vítimas indiretas, ou seja, dos familiares das pessoas que morreram no referido 'acidente' de trânsito", informou o Tribunal Superior da Cidade de México (TSJCDMX), em um comunicado.

O advogado da família de Karla, Gabriel Regino, disse à imprensa no final da audiência que o prazo de investigação complementar será de dois meses, período no qual Carlos Solomón permanecerá preso.

O Tribunal Superior de Justiça explicou, que no início da audiência, o debate centrou-se nos argumentos da defesa do acusado, "que incidiram na condição psicológica, física e mental do mesmo, algo que foi refutado pelo Ministério Público e assessores jurídicos das vítimas indiretas, baseando-se que tais argumentos não eram apropriados nessa etapa processual". Posteriormente, foi pedido que o acusado respondesse apenas pelo crime de homicídio culposo sem agravante, algo que foi rejeitado pela juíza. Confira mais detalhes dessa audiência através de um vídeo publicado pelo canal "Excélsior TV", no YouTube (em espanhol):



Antes da audiência, o advogado Gabriel Regino disse ao site "Animal Político", que sem uma argumentação adequada por parte do Ministério Público e da acusação havia o risco que Carlos Solomón simplesmente fosse solto. Portanto, durante a audiência foram apontadas evidências para provar a responsabilidade direta do acusado no "acidente".

O advogado Gabriel Regino disse que o objetivo da defesa de Carlos Solomón era reduzir a gravidade dos fatos ou excluir a responsabilidade do motorista, argumentando que ele caiu no sono durante a condução do veículo, sofria de alguma doença, entre outras possibilidades. O risco era que a juíza decidisse não vinculá-lo no processo por falta de provas incriminatórias, e que o acusado fosse colocado em liberdade sem o pagamento de nenhum indenização às vitimas.

Também antes da audiência, o promotor Rodolfo Ríos adiantou em entrevista para o programa "Despierta con Loret", da Televisa, que as autoridades tinham certeza sobre o estado de embriaguez do condutor, visto que o médico-legista poderia comprovar isso quando pelo menos outras seis pessoas atestassem o estado de embriaguez do condutor, mediante não cooperação do mesmo. O Ministério Público também usou as comandas de consumo do Barezzito como evidência da ingestão de bebidas alcóolica. Confira também o mais recente vídeo mostrando essa trágico "acidente" por um outro ângulo, através do canal "Milenio", no YouTube (em espanhol):



Outros argumentos utilizados para fazer com que Carlos Solomón permanecesse preso foi que ele violou as leis de trânsito por excesso de velocidade, e as diversas contradições sobre o local onde morava e seu emprego. O promotor apontou que o condutor alegou ser empresário, mas depois mencionou que trabalhava em uma paleteria e ganhava apenas 1.000 pesos. Ele também mudou o local onde morava, visto que inicialmente ele disse que morava em Morelos, e depois disse que morava na Cidade do México.

Curioso para saber os detalhes das comandas apresentadas pelo Ministério Público? Bem, a conta principal apontava para um gasto de 11.793 pesos (aproximadamente R$ 2.000) entre comidas e bebidas. Na lista constava 30 doses de Black Diamond (um drinque a base de vodka ou tequila), 7 doses de Lamborghini Flame (um drinque a base de licor Curaçao Azul), 2 tequilas, 1 garrafa de gim e 2 garrafas de rum. Além disso, tinham outras comandas individuais nos valores de 600 pesos (cerca de R$ 100), 1.500 pesos (cerca de R$ 250), 5 mil pesos (cerca de R$ 840) e 500 pesos (cerca de R$ 84). Resumindo, havia muito álcool envolvido nessa história.

A Espetacularização da Tragédia: Apareceu um "Espírito Maligno" em uma das Câmeras de Segurança? Uma "Entidade Demoníaca" Foi a Responsável Por Tudo Isso?


Antes de continuarmos, é interessante apontar que essa não é a primeira vez que tentam dizer que um "fantasma" apareceu na Avenida de la Reforma. Não sei se vocês se lembram, mas em setembro do ano passado, um vídeo de apenas 31 segundos, que foi publicado por um canal do Youtube chamado "Oxlack Investigador", que por sua vez possui quase 1,5 milhão de inscritos, e teoricamente destina-se a investigar casos supostamente paranormais, ufológicos e sobrenaturais de modo geral, deu o que falar. Naquela época, ao menos de acordo com diversos sites de notícias mexicanos, tudo teria acontecido por volta das 2h20 da madrugada, do dia 18 de setembro do ano passado, em um trecho da Avenida de la Reforma

Durante o vídeo, que era extremamente curto, era possível perceber que um suposto "fantasma" surgia próximo a faixa de pedestres assim que um carro se aproximava com os faróis acesos. Aparentemente seria de uma mulher com cabelos pretos e longos, além de estar vestida supostamente de branco. Alguns sites mexicanos disseram que poderia ser a lendária "La Llorona", o fantasma de uma mulher, que muitos escutam seu choro compulsivo, diante da morte de seus filhos, durante a noite. Confira abaixo, esse vídeo em questão:



Segundo o canal "Oxlack Investigador", o vídeo foi cedido por um homem chamado Mario Montoya, porém não sabíamos quem era essa pessoa, e nenhuma investigação mais aprofundada foi realizada pelo canal. Além disso, muitos usuários questionaram a aparência do suposto fantasma. Por que sempre tem que ser uma mulher? Por que sempre de cabelo comprido e preto? Por que sempre tem que estar vestindo uma roupa branca? Muitos disseram que esse "fantasma" era apenas uma espécie de "carimbo" ou até mesmo a personagem fictícia chamada "Samara" do filme "O Chamado". Resumindo, muitos acreditavam que o vídeo fosse falso, e tudo não passesse de manipulação digital.

Aliás, algo que podia denotar essa manipulação digital era quando se aproximava a imagem do suposto "fantasma". Era possível notar aos 26s, que o mesmo "pixalizava" aparentando ser uma espécie de projeção de baixa resolução, ou seja, parecia que tinha sido inserido digitalmente nos vídeos das câmeras de segurança. Fato é, que nada indicava que esse vídeo fosse realmente verdadeiro ou isento de quaisquer manipulações digitais. Muito provavelmente (99,9999% de chances) era apenas mais uma farsa da internet. Dito e feito, alguns dias depois, a farsa foi revelada e tudo não passava de uma mera campanha viral de uma cervejaria mexicana. O vídeo original da ação publicitária foi deletado, mas você conferí-la em um canal de terceiros, no YouTube:



Agora, diante de toda essa tragédia, que muitos tentam buscar uma explicação racional para tudo isso que aconteceu, infelizmente algumas pessoas começaram a buscar uma eventual "sobrenaturalidade" em torno dessa questão. Chega a ser até mesmo difícil culpar essas pessoas, diante de tantas outras, que foram capaz de ofender de forma grosseira e totalmente desrespeitosa uma das vítimas. Aliás, um deteminado canal de TV mexicano chegou a exibir e publicar no YouTube um vídeo, sem censura, mostrando os corpos ou o que havia restado dos corpos das vítimas jogados na calçada. Apesar do vídeo já ter sido deletado, muitas cópias foram feitas, e estão espalhadas nas redes sociais e no próprio YouTube. Recomendo fortemente, que vocês não procurem em hipótese alguma por isso.

Por outro lado, em um "tom mais ameno", milhares de usuários começaram a perceber uma estranha sombra se movimentando da esquerda para direita, muito rapidamente, nas imagens divulgadas (ou vazadas) de uma das câmeras de segurança da Cidade do México. Vejam o vídeo abaixo, e reparem bem no canto superior direito da imagem, entre 10 e 12s:



Não conseguiram perceber? Então, reparem na imagem abaixo:

Por outro lado, em um "tom mais ameno", milhares de usuários começaram a perceber uma estranha sombra se movimentando da esquerda para direita, muito rapidamente, nas imagens divulgadas (ou vazadas) de uma das câmeras de segurança da Cidade do México
Por incrível que pareça, imagens semelhantes e vídeos onde mostravam somente esse trecho da gravação foram amplamente compartilhados através das redes sociais mexicanas, páginas em espanhol dedicadas ao gênero de terror, no Facebook e, inclusive, virou assunto de programas de TV do México. Os vídeos tiveram milhões de acessos e centenas de milhares de compartilhamentos. Muitos disseram que seria um "fantasma" ou um "espírito maligno". Já outros apontaram que seria a própria "Morte" (como entidade), que estaria espreitando tendo em vista uma fatalidade iminente.

Entretanto, será que estamos mesmo diante de um fenômeno sobrenatural? Bem, a resposta, como vocês já devem imaginar, é um grande e sonoro não. Como vocês podem perceber, as imagens das câmeras de segurança foram filmadas ao utilizar um celular e gravando a tela de um monitor onde tais imagens estavam sendo exibidas. É possível notar o reflexo da sala onde esse monitor estava em diversas imagens desse mesmo vídeo, mais fortemente no lado direito da tela. Confira abaixo alguns exemplos do que estamos dizendo:

Como vocês podem perceber, as imagens das câmeras de segurança foram filmadas utilizando-se um celular e gravando a tela de um monitor onde tais imagens estavam sendo exibidas
É possível notar o reflexo da sala onde esse monitor estava em diversas imagens
desse mesmo vídeo, mais fortemente no lado direito da tela
Assim sendo, o suposto "fantasma" nada mais é do que alguém passando atrás do monitor, na sala onde o mesmo se encontrava. Aliás, o local onde a sombra passa está "colorido" denotando esse reflexo, enquanto o restante da imagem está preto e branco, o que seria esperado e normal. Enfim, não há nada de sobrenatural aqui. Aliás, essa também foi a mesma opinião de canais do YouTube, que levam o desconhecido um pouco mais a sério, no México.

Outra situação que ganhou muita repercussão da mídia mexicana foi o aparecimento de uma "bruxa" chamada "Zulema". Diversos sites de notícias mexicanos passaram a divulgar que, segundo essa "bruxa", a principal responsável pela tragédia teria sido uma "entidade demoníaca" ou até mesmo o próprio "Satanás". Então, na noite de 4 de abril ela foi até o local do "acidente" para realizar uma espécie de "exorcismo". Munida de velas pretas, ervas, álcool e figuras semelhantes a cabeças humanas ela praticou seu ritual na frente de dezenas de pessoas e diante das câmeras de diversas emissoras de TV (algo que muito provavelmente ela avisou antes que faria, é claro).

Segundo "Zulema" o ritual serviu para afastar a tal "entidade demoníaca", de modo a evitar futuras tragédias, e para que as almas das pessoas que morreram finalmente pudessem descansar em paz. Vocês podem conferir esse "ritual", que foi publicado por um canal de terceiros, no YouTube (aliás ela até mesmo realiza uma "limpeza espiritual" em um homem, que teria sentido uma "estranha presença" no local durante o seu ritual):



Aliás, vocês podem conferir mais trechos desse ritual e do que a bruxa Zulema fez nessa noite, através de um vídeo publicado pelo canal "Proyecto Paranormal", no YouTube (em espanhol), onde ela inclusive fala da estranha coincidência do número "3" se repetir diversas vezes nesse caso (vale lembrar nesse ponto que alguns sites apontaram o horário do "acidente" como sendo 3h33, já outros mencionaram 3h30, mas não vejo nada demais nesse sentido). Contudo, para a bruxa "Zulema" o condutor seria inocente, porque teria sido "possuído" pela tal "entidade demoníaca".



"Mãe Santíssima, minha mãe, eu te faço presente, aos espíritos negativos desse lugar, agora mesmo minha mãe eu te peço e te rogo a fazer desse filho da p*** de Satanás, que causou tantos danos a essas pessoas, que neste momento se faça presente", disse "Zulema" durante uma parte do ritual.

Agora, vocês podem se perguntar: Em que a bruxa "Zulema" estava se baseando para dizer que havia uma entidade demoníaca rondando aquele trecho da Avenida de la Reforma? Bem, acertou quem disse que ela se baseou naquele vídeo apontando um suposto "fantasma", que na verdade não é fantasma algum. Resumindo? Tudo o que ela fez, independente do que tenha sido esse "estranho ritual" e aparentemente sem nenhum sentido, foi baseado em algo que nunca existiu e que ela sequer foi capaz de notar isso. Aparentemente, Zulema está acostumada a usar e ser usada pela mídia.

Um exemplo claro disso foi a reportagem realizada pelo programa "Al Rojo Vivo", da emissora Telemundo, que está disponível para ser assistida, no YouTube (em espanhol):



Aliás, segundo essa reportagem, a bruxa "Zulema" tinha realizado um "ritual satânico para capturar a entidade demoníaca", ou seja, nem mesmo os veículos de comunicação entraram em consenso sobre o que exatamente teria acontecido naquela noite (talvez nem mesmo a própria Zulema).

É importante destacar que "Zulema" costuma dizer que tem mais de 25 anos de experiência em realizar feitiços, amarrações e até mesmo exorcismos. Ela também seria conhecida nacionalmente e internacionalmente por lidar com "magia negra" e fazer previsões polêmicas em relação ao mundo dos famosos e das celebridades. Será que, ainda que remotamente e totalmente improvável, Zulema tinha alguma razão no que disse? Será que uma "entidade demoníaca" teria sido mesmo a responsável por esse trágico "acidente"? Não teria sido simplesmente culpa do condutor bêbado? Esse é um assunto para os meus comentários finais.

Comentários Finais


Para vocês terem uma ideia, eu usei a palavra "acidente" aproximadamente 40 vezes nessa postagem, e em nenhuma dessas vezes foi acidental, ou seja, não foi um acidente de trânsito, visto que Carlos Solomón assumiu o risco de matar quatro pessoas ao entrar em sua BMW, e percorrer as ruas e avenidas da Cidade do México em alta velocidade, estando completamente embriagado. Ele tinha consumido uma quantidade absurda de álcool em um período de 24 horas, e mesmo que estivesse apenas um pouco acima do permitido, segundo a legislação mexicana ou de qualquer país civilizado, ainda assim ele teria uma grande capacidade de não colocar somente a sua própria vida em risco, mas dos passageiros, demais condutores e pedestres. Aliás, nesse caso, por sorte uma pessoa que passava próxima do local não foi atingida pelo impacto do veículo. Nem mesmo gosto de pensar sobre a visão que essa pessoa deve ter tido diante do que sobrou da BMW e, infelizmente, dos corpos dos seus passageiros. Deve ter sido algo assustador e ao mesmo tempo uma sensação imensa de impotência, visto que todos os passageiros, exceto o condutor, morreram no impacto. Prefiro pensar que aquelas pessoas não sentiram dor diante da força e da rapidez como tudo aconteceu, mas é impossível negar ou fingir que seus familiares, que aqui ficaram, não tenham sentido e continuarão sentindo, pelo resto de suas vidas, a dor da ausência delas. Uma dor sufocante, que só pode ser expressada por indignação e clamor por justiça.

Além disso, esse caso é uma completa sequência de absurdos. Uma pessoa que bebe deliberadamente durante horas e resolve dirigir, outras pessoas que ainda assim entram no carro diante de um motorista que havia ingerido uma grande quantidade de álcool, um bar e um serviço de valet que nem ao menos pediram ou insistiram para que as pessoas voltassem para casa utilizando um táxi, e um chefe de governo que acha que vai resolver o problema do "excesso de velocidade" ao utilizar helicópteros e uma melhor sinalização. Ninguém gosta ou quer imaginar que tragédias assim ocorram, mas quando há tanta omissão por todos os lados, isso abre espaço não para uma "entidade demoníaca" possa atuar, mas para que a natureza egoísta e covarde de algumas pessoas aflorem. Afinal de contas, qual bar ou restaurante ligaria para a polícia diante de uma situação dessas? Provavelmente, tinham dezenas ou centenas de outras pessoas que fizeram a mesma coisa naquela noite, que continuam e continuarão fazendo repetidamente. Todas elas devem ter voltado para casa, achando que tinham plena capacidade de dirigir, e que a ingestão de álcool jamais causaria problema algum. Pessoas egoístas que não pensam na dor, que seus familiares e amigos podem sentir, e na dor que podem causar a pessoas que sequer conhecem, e que possam cruzar o caminho delas. De qualquer forma, fato é que quatro pessoas não voltaram para casa, e nunca mais vão voltar.

O pior é saber que muito provavelmente nenhuma lei que obrigue bares ou restaurantes a realizarem o teste do bafômetro, e impedir que clientes sigam dirigindo será aprovada. Qual bar gostaria de fazer isso e ver sua receita com a venda de bebidas cair? Qual bar gostaria de colocar isso em prática quando dezenas de outros não vão colocar? O pior é pensar que muitos bares não pensam como isso pode ser lucrativo, visto que eles podem oferecer diversos serviços adicionais para o cliente, assim como levá-lo até em casa e ao mesmo tempo levar seu carro, ampliar o cardápio em relação aos pratos oferecidos, e uma série de outras vantagens como realizar parcerias com empresas de táxis nesse sentido. É uma questão de saber conciliar a responsabilidade social do empreendimento e não jogar toda a responsabilidade em cima do Estado, que também deveria fazer sua parte. Investir mais em campanhas de conscientização, policiamento ostensivo nas vias mais rápidas de acesso etc. Contudo, não é isso que vemos. Assistimos apenas a espetacularização da tragédia, onde parte da população fez com que a vítima se tornasse vítima de si mesma por ser mulher, e ainda por cima foi taxada de vagabunda. Assistimos o Carlos Solomón dormindo tranquilamente, e tentando dar a entender que não tinha dinheiro para pagar indenizações às vítimas. Assistimos as pessoas vendo um fantasma onde não existia, e a bruxa Zulema dizer que a culpa não foi do Carlos, mas de uma "entidade demoníaca", que também nunca existiu. Esse é um caso que a princípio tentamos compreender e pensamos: e se cada ação tomada por cada uma daquelas pessoas fosse diferente? Será que essas pessoas estariam vivas e teriam voltado bem para casa? Talvez, se procurarmos a fundo por respostas, quem sabe as encontremos, mas nunca encontraremos respostas suficientemente claras para explicar a estupidez e a ignorância humana.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
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http://noticieros.televisa.com/ultimas-noticias/cdmx/2017-04-06/bar-se-deslinda-accidente-reforma/
http://regeneracion.mx/fallecidos-en-el-bmw-de-reforma-habrian-consumido-11-mil-793-pesos-en-alcohol/
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https://www.debate.com.mx/mexico/Ellos-perdieron-la-vida-en-el-terrible-accidente-del-BMW-20170405-0011.html
https://www.eloccidental.com.mx/sin-categoria/el-mundo-del-esoterismo-con-la-bruja-zulema
https://www.publimetro.com.mx/mx/ciudad/2017/04/04/reforma-investigar-valet-parking-bar.html
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