Por Marco Faustino
Quando o assunto está relacionado a rastros deixados por aviões no céu, com certeza e invariavelmente, surgirão diversas teorias, tanto científicas quanto conspiratórias. Recentemente foi publicado um especial sobre os "chemtrails" ("trilhas químicas ou "rastros químicos", em português, que gerou bastante repercussão. Divergências são inevitáveis, porém recentemente, poucos dias antes daquele especial ser publicado, surgiu uma notícia apontando que os rastros de condensação deixados no céu por aviões poderiam provocar mudanças socioclimáticas na Terra. Isso poderia interferir no crescimento das plantas, no derretimento das geleiras e até mesmo na geração de energia a parte de fontes heliotérmicas.
Dessa vez foi feito um anúncio preliminar por uma equipe de pesquisadores liderada por Charles "Chuck" Long, pequisador do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES, sigla em inglês), no Laboratório de Pesquisas do Sistema Terrestre (ESRL, sigla em inglês) da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, sigla em inglês).
Para quem não sabe o que é NOAA, saiba que é uma agência federal norte-americana para assuntos sobre meteorologia, oceanos, atmosfera e clima, que orienta sobre o uso e a proteção dos oceanos e dos recursos litorâneos, e que conduz pesquisas para melhorar a compreensão do meio ambiente. Vale ressaltar que a NOAA é ligada ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Vamos saber mais sobre esse assunto?
Principalmente agora no verão onde temos mais tempo de luz solar incidindo no Brasil, provavelmente se você olhar para o céu, notará uma espécie de um rastro branco deixado pela passagem de um avião, sendo que muitos teóricos da conspiração dizem, que seriam de aviões que estariam deliberadamente "pulverizando" produtos químicos ou agentes biológicos para as mais diversas finalidades. Porém, existem muitas explicações científicas para isso como foi mostrado no mais recente especial.
Nesse momento é importante diferenciar algumas terminologias em inglês, que você encontrará amplamente na internet. A primeira delas são os chamados "contrails", que nada mais são dos que os "rastros brancos" (chamados tecnicamente de "trilhas de condensação" ou "rastros de condensação", naturalmente deixados no céu após a passagem de aviões, e que basicamente se formam devido condensação do vapor de água em altas altitudes causadas pela saída dos gases quentes de suas turbinas. Vale ressaltar que contrail na verdade são duas palavras, o "con" vem de "condensation" ("condensação", em português) e "trail" ("trilha" ou "rastro", em português).
A segunda são os chamados "chemtrails", que seria um termo de cunho conspiratório sobre os supostas trilhas ou rastros químicos que citamos anteriormente. O foco desta postagem é sobre "contrails" e sua possível relação em uma possível mudança climática em nosso planeta, entendido?
Agora que você sabe a diferença entre ambos, podemos dizer que os pesquisadores encontraram novos dados que sugerem que a camada de cristais deixada a partir dos rastros de aviões estão gerando um tipo de luz mais difusa. Não há dados suficientes que possam mensurar os efeitos dessa "névoa gelada" deixada por aviões, mas os pesquisadores acreditam, que isso possa estar alterando o nosso sistema climático.
Charles "Chuck" Long, pequisador do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES), no Laboratório de Pesquisas do Sistema Terrestre da NOAA |
"Na verdade podemos estar propagando um tipo de geoengenharia não intencional", completou.
Para que vocês fiquem por dentro do assunto, a Geoengenharia é a ciência que estuda os meios de manipulação do clima através da tecnologia e de forma controlada, se dispondo a resolver os problemas climáticos do nosso planeta. Por outro lado os efeitos colaterais poderiam ser catastróficos, uma vez que que ela poderia criar secas em determinada região ou provocar chuvas intensas em outras. A Geoengenharia visa, por exemplo, através da manipulação dos padrões climáticos, neutralizar o aquecimento global, através de mecanismos artificiais de controle da incidência de radiação solar sobre a superfície terrestre.
Voltando ao assunto dessa postagem, essa teoria tem como origem um estudo prévio de quanta luz solar atinge a superfície da Terra. Da década de 1950 até o final da década de 1980 a luz solar aparentava estar diminuindo, então começou a aumentar novamente, mostrando assim que a energia que nos atingia não era constante.
"Quando os cientistas foram procurar as causas, eles tentaram vincular essas alterações com a energia variável emitida pelo Sol, mas eles não conseguiram encontrar quaisquer correlações", disse o professor Martin Wild, do Instituto de Ciências Atmosféricas e Clima do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, localizado na Universidade de Zurique, na Suíça.
"Se não é o sol, então 'tem que ser a atmosfera', a responsável pelas alterações", completou.
O Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES), localizado no campus da Universidade do Colorado, na cidade de Boulder |
Sabe-se que parte da luz do sol viaja diretamente até a superfície da Terra, mas parte dela se dispersa enquanto viaja através da atmosfera. Com menos poluição, esta luz difusa deveria ter diminuído, mas ao invés disso, aparentou estar aumentando. A luz difusa, também chamada de radiação difusa, é radiação solar que alcança a superfície da Terra a partir de todas as direções, após ter sido dispersada pelas moléculas e partículas presentes na atmosfera.
"Temos um mistério aqui, deve haver algo na atmosfera que está dispersando a luz solar. Pequenas partículas de gelo se encaixariam perfeitamente nesse cenário", disse Chuck Long. Ele acredita que o tráfego aéreo é a razão para todas estas partículas, uma vez que o sistema de exaustão das turbinas de um avião gera aerossóis e vapor d'água.
"Parece bem possível que a observação de Chuck Long seja algo real", disse Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas. Entretanto, há muito mais trabalho que precisa ser feito para comprovar o que foi encontrado e relacionar isso ao clima.
"O céu não é claro o tempo todo, e a razão para um dia ser mais claro e o outro não, poderia ser relevante. A razão para a existência de um céu claro é algo que precisa ser mais explorado", completou.
O próprio Chuck Long admitiu que seu estudo gera muito mais perguntas do que respostas. Atualmente, ele coletou dados mais concretos de apenas um ponto em Oklahoma, sendo que o céu poderia estar "clareando" menos em locais que não recebem tanto tráfego aéreo.
A Notícia Publicada no Site do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES)
Leu, leu e não entendeu muita coisa? Vamos explicar novamente, mas utilizando a notícia publicada no site do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES) cujo título é "Accidental Geoengineering?" ("Geoengenharia acidental?", em português). Segundo ela, o tráfego aéreo poderia estar ajudando a criar uma "névoa gelada" que estaria tornando os céus dos Estados Unidos mais claros. Os dados não fazem muito sentido, porém pode ser a versão mais correta a ser considerada antes de um grande avanço na compreensão do assunto. Neste caso, os cientistas têm alguma evidência de que os céus no território continental dos Estados Unidos estariam "clareando", após várias décadas de chamado "escurecimento global".
Neste ponto é importante ressaltar que o chamado "Escurecimento Global" ("Global Dimming", em inglês) é um tema muito interessante e recomendo a leitura deste artigo do Sobrenatural.org, caso você queira saber mais detalhes sobre esse assunto. Basicamente, o "escurecimento global" significa a diminuição da quantidade de radiação, que chega à superfície terrestre, e que paradoxalmente (uma vez que deveria resfriá-la), pode significar que o aquecimento global seja muito mais ameaçador do que se pensa.
Em relação ao escurecimento observado sob as condições de um céu limpo, a convenção apontaria para os aerossóis. Os níveis destas partículas minúsculas, associados à poluição, estavam aumentando ao longo das décadas anteriores à década de 90, e começaram a cair depois que mecanimos de controles de poluição foram implementados, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Assim sendo, isso poderia significar que os céus hoje em dia fossem mais brilhantes do que os céus na década de 70 ou 80, e também poderia esquentar o ambiente, uma vez que mais radiação direta atingiria a superfície, certo?
Entretanto, quando Chuck Long, pequisador do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES), no Laboratório de Pesquisas do Sistema Terrestre da NOAA e seus colegas foram investigar mais a fundo, perceberam algo que não fazia muito sentido.
Se a recente tendência de clareamento do céu era devido a um ar mais limpo e com menos aerossóis, isso deveria ser acompanhado de um aumento na radiação de onda curta direta, ou seja, uma parte da radiação solar que atinge diretamente a superfície, ou seja, vindo diretamente do Sol. Isso não aconteceu, e foi justamente isso que Chuck Long relatou no Encontro de Outono da União de Geofísica Americana, realizado em São Francisco, nos Estados Unidos, entre os dias 14 e 18 deste mês.
Algo assim não poderia simplesmente acontecer se apenas os aerossóis fossem os responsáveis pelo céu mais brilhante. Menos aerossóis deveriam significar menos radiação de onda curta difusa, uma vez que as partículas na atmosfera são capazes de refletir a luz e devolvê-la ao espaço.
Assim sendo, os cientistas investigaram um pouco mais a fundo, e em uma nova análise um tanto quanto "provocante", ainda não publicada, Chuck Long sugeriu que uma "névoa gelada" em alta altitude, criada pela água juntamente com outras emissões a partir das turbinas de aeronaves, seria a responsável pelo aumento dessa radiação de onda curta difusa.
"Estou falando sobre uma 'névoa gelada" sub-visual criada pelos rastros, o que nós não classificamos como uma nuvem, mas dá o céu azul uma tonalidade mais clara", disse Chuck Long.
A descoberta - se comprovada - poderia significar que estamos, essencialmente falando, já realizando um experimento de geoengenharia na atmosfera, acrescentando partículas de gelo, que mudam a forma como a radiação solar atinge a superfície da Terra.
"Entender o impacto global de tais alterações no aquecimento ou de arrefecimento na superfície dependerá de mais pesquisas", disse Long.
Chuck Long e seus colegas descobriram que a hipótese tem certo suporte circunstancial quando contrastada com outros conjuntos de dados. A tendência de clareamento está estreitamente correlacionada com as horários de vôo comerciais durante 1995-2007, obtidos juntamente com a Administração de Aviação Federal dos Estados Unidos. Os aviões emitem a água e as partículas necessárias para água em alta altitude cristalizar e formar gelo.
Instituto Federal Suíço de Tecnologia, localizado na Universidade de Zurique, na Suíça |
O professor Martin Wild, do Instituto de Ciências Atmosféricas e Clima do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, localizado na Universidade de Zurique, na Suíça, disse que está interessado na nova hipótese, uma vez que ela vai exigir mais pesquisas.
"Nós nos preocupamos com escurecimento e o clareamento, porque estes fenômenos podem não só afetar o aquecimento global, mas também afetar o crescimento das plantas, derretimento de geleiras, o ciclo da água, a geração de energia, e muito mais", disse Martin Wild.
De qualquer forma, mais pesquisas poderiam ajudar os pesquisadores a entender melhor as origens do escurecimento e do clareamento, fenômenos com amplas implicações ambientais e socioeconômicos.
Entenda Também Como os Rastros de Condensação Podem Bloquear a Luz Solar
Esse fenômeno ocorre quando as aeronaves voam acima de 25.000 pés (7.620 metros), onde a temperatura do ar é de cerca de -65ºC. Isso faz com que o vapor de água emitido pelas turbinas dos aviões se cristalize e forme as faixas brancas tão familiares através do céu, conhecidas como rastros condensação, sendo que esses rastros podem ter uma curta duração.
Entretanto, se já houver uma quantidade significativa de umidade na atmosfera, esses rastros podem durar horas, uma vez que o excesso de vapor d'água vindo das turbinas faz com que o ar ao seu redor passe do seu ponto de saturação. Isso tudo acaba atuando como um catalisador para acelerar o processo natural de formação de nuvens do tipo Cirrus, que começam a se formar em torno desse rastros.
Os cientistas dizem que essas nuvas se expandem em finas camadas, e podem cobrir uma surpreendente área de até 51.000 km² do céu. O nível de umidade do ar em altas altitudes não está relacionado às condições climáticas ao nível do solo, razão pela qual é possível ver os rastros em um dia claro.
O professor Keith Shine, especialista em nuvens, da University of Reading, localizada na Inglaterra, disse que as nuvens formadas por vapores de aeronaves poderiam "durar horas", fazendo com que as áreas sob rotas movimentadas de voo fossem privadas de uma parte da energia solar. Especialistas alertaram que, como resultado, a quantidade de luz solar que atinge a terra poderia ser reduzida em até 10%.
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-3364867/Aircraft-contrails-unintentionally-changing-atmosphere-warming-planet-researchers-warn.html
http://cires.colorado.edu/news/press/accidental-geoengineering/
https://agu.confex.com/agu/fm15/meetingapp.cgi/Paper/60749
http://www.sobrenatural.org/materia/detalhar/4522/global_dimming___escurecimento_global/