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A "Maldição de Bodie": Uma Terrível e Sombria Maldição que Assola uma Cidade Fantasma da Califórnia, nos Estados Unidos!

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Por Marco Faustino

Sem dúvida alguma, existem inúmeros casos e histórias de supostas maldições ao redor do mundo. Recentemente, por exemplo, falei sobre a fortíssima possibilidade da "Maldição de Annabelle" ser tão somente uma farsa, ou seja, algo polêmico diante de tanta crença desenfreada, muitas vezes sem qualquer tipo de questionamento, referente a um caso onde não há nenhuma prova substancial ou sequer minimamente material das incríveis e muitas vezes fantasiosas alegações feitas ao longo do tempo. Felizmente, a matéria foi muito bem recebida pela absoluta maioria daqueles que me acompanham, e sabem da qualidade da pesquisa e do trabalho realizado em cada assunto, o qual me dedico a escrever. Uma coisa é contar uma história de terror, inofensiva do ponto de vista moral, ético ou financeiro, outra totalmente diferente é apoiar, financiar ou promover toda e qualquer espécie de charlatanice ou até mesmo estelionato. Aliás, estelionato é justamente o que muitos supostos videntes, tarólogos, cartomantes ou "médiuns" praticam com pessoas, de todas as classes sociais, que acreditam cegamente, como primeira opção a ser cogitada, que algo de outro mundo esteja acontecendo com suas vidas ou de seus familiares. Isso sem mencionar aqueles casos onde, de vez em quando, resultam em barbaridades físicas contra adolescentes, idosos ou crianças indefesas. Portanto, é necessário ter cautela com as informações que são divulgadas, e levar o desconhecido realmente a sério, utilizando sempre fontes confiáveis e uma análise criteriosa. Algo inerente a essa situação, é que a informação acaba sempre sendo a principal inimiga do medo.

Particularmente, adoro lendas, embora não faça muitas matérias sobre isso. No ano passado, por exemplo, comentei sobre a lenda urbana das crianças de olhos negros de Cannock Chase; dos mistérios e das maldições do Hotel Yara (considerada uma das melhores matérias, segundo os atuais proprietários), na cidade de Bandeirantes, no Paraná; das lendas da cidade de Nova Lima, e da fera do pontilhão da cidade de Juatuba, ambas no estado de Minas Gerais; da "Ilha do Medo" em Itaparica, no estado Bahia, além de muitos outros casos bem interessantes. É justamente sobre uma lenda muito peculiar que iremos tratar dessa vez, e que envolve algo pelo qual sou fascinado: a Corrida do Ouro da Califórnia. Na Costa Oeste dos Estados Unidos, mais precisamente no estado da Califórnia, existe uma autêntica cidade fantasma chamada Bodie. Muito embora ela receba cerca de 200.000 visitantes por ano, não há nenhum morador ou qualquer atividade industrial ou comercial no local. É justamente nesse local que existe uma maldição, conhecida simplesmente como a "Maldição de Bodie". Se qualquer visitante se atrever a pegar e levar embora qualquer coisa do local - que atualmente é um parque estadual - até mesmo uma única pedra, a pessoa será castigada. Conta-se que as pessoas sofrem de má-sorte, problemas de saúde e até mesmo ocorrerem acidentes misteriosos. Curiosamente, muitas pessoas vêm enviando cartas no decorrer dos anos, detalhando o infortúnio pelo qual passaram e, inclusive, devolvendo o objeto furtado, em uma tentativa de quebrar a maldição. No entanto, essa maldição reserva algo muito inusitado. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Um Pouco Sobre a "Corrida do Ouro da Califórnia" e da História da Cidade de Bodie


Não irei me alongar muito sobre a "Corrida do Ouro", e história da cidade de Bodie, porque isso pode se tornar um pouco entediante e cansativo para muitas pessoas, que não apreciam a história da Costa Oeste dos Estados Unidos. Porém, irei fazer uma rápida introdução e contextualização, para que vocês não se sintam perdidos, combinado?

Caso não saibam ou não se lembrem, a chamada "Corrida do Ouro da Califórnia" começou basicamente em 24 de janeiro de 1848, quando um homem chamado James Wilson Marshall, um carpinteiro originalmente de Nova Jersey, encontrou flocos de ouro em um rio, na base das montanhas de Serra Nevada, perto de Coloma, na Califórnia. Na época, James estava trabalhando para construir um engenho de serra movido por roda d'água, que viria a se chamar "Sutter's Mill", na propriedade de um pioneiro chamado John Sutter.

Foto de James Wilson Marshall em fente ao "Sutter's Mill", um engenho de serra movido por roda d'água,
que ele construiu para um pioneiro chamado John Sutter.
Uma réplica do "Sutter's Mill" localizada no Parque Histórico Estadual Marshall Gold Discovery,
em Coloma, na Califórnia
Essa data é particularmente interessante, porque no dia 2 de fevereiro daquele mesmo ano foi assinado o Tratado de Guadalupe Hidalgo, um tratado de paz que pôs fim à Guerra Mexicano-Americana (ocorrida entre 1846 e 1848).

O tratado previa a cessão de territórios do México aos Estados Unidos, compreendendo uma área total de 1,36 milhão de km², e resultando em algo que, hoje em dia, é considerada a região sudoeste dos Estados Unidos (embora a Califórnia já tivesse sido tomada pelos norte-americanos naquela época), em troca de 15 milhões de dólares. Aliás, os Estados Unidos também assumiram cerca de 3,5 milhões de dólares de dívidas de cidadãos norte-americanos com o governo mexicano.

Essa data é particularmente interessante, porque no dia 2 de fevereiro daquele mesmo ano foi assinado o Tratado de Guadalupe Hidalgo, um tratado de paz que pôs fim à Guerra Mexicano-Americana (ocorrida entre 1846 e 1848)
O tratado previa a cessão de territórios do México aos Estados Unidos, compreendendo uma área total de 1,36 milhão de km², e resultando em algo que, hoje em dia, é considerada a região sudoeste dos Estados Unidos (embora a Califórnia já tivesse sido tomada pelos norte-americanos naquela época), em troca de 15 milhões de dólares.
Entretanto, não pensem que John Sutter estava feliz com essa descoberta. Ele tentou fazer de tudo para abafar a situação ao longo do ano, porque ele queria fazer da região um império agrícola, ou seja, ele não tinha interesse na mineração. Não teve jeito. Em março daquele mesmo ano, os rumores começaram a se espalhar, testes confirmaram a presença do ouro, jornais começaram a disseminar a informação sobre a descoberta e, em dezembro de 1948, veio o golpe final para John Sutter: o próprio presidente James Knox Polk confirmou a existência de ouro.

A Califórnia passou por uma grande transformação, e se viu diante de uma onda emigratória e imigratória de mineradores de todas as partes do país e até mesmo do mundo. A propriedade de John Sutter acabou sendo invadida. Suas terras foram tomadas, seu gado roubado e toda sua colheita foi saqueada. Durante os sete anos seguintes, estima-se que cerca de 300 mil pessoas foram para a Califórnia (metade por terra e metade pelo mar) para tentar fazer fortuna a partir da mineração de ouro ou vender suprimentos, tais como: alimentos, roupas, burros, madeira, picaretas e pás para os prospectores.

O "Guia da Emigração" publicado em agosto de 1848, voltado para todos aqueles,
que precisavam de conselhos ou dicas para explorar o ouro da Califórnia, muitas vezes dito como  "inextinguível".
Durante os sete anos seguintes, estima-se que cerca de 300 mil pessoas foram para a Califórnia (metade por terra e metade pelo mar) para tentar fazer fortuna a partir da mineração de ouro ou vender suprimentos, tais como: alimentos, roupas, burros, madeira, picaretas e pás para os prospectores.
O influxo súbito da combinação de pessoas e ouro, em termos de oferta monetária, revigorou a economia norte-americana, porém essa corrida pelo ouro foi um verdadeiro caos para os nativos californianos (leia-se como indígenas). A população de nativos caiu drasticamente devido a doenças, genocídios, sendo que muitos muitos morreram até mesmo de fome. Podemos dizer que "Corrida do Ouro" teve seu lado dourado e ao mesmo tempo obscuro ao longo do anos de intensa exploração.

Cidades como São Francisco, por exemplo, que não tinha absolutamente nada e pouquíssimas pessoas em 1848 (cerca de 1.000 pessoas), sofreu uma profunda transformação. Em 1850, a cidade já contava com mais de 25.000 pessoas. Com o passar das décadas, basicamente o ouro acabou ou então o custo de extração do que ainda havia não compensava financeiramente. Muitas cidades, principalmente no interior da Califórnia, outrora consideradas prósperas acabaram falindo e, posteriormente, abandonadas pelas mais diferentes razões. Já as demais prosperaram e se tornaram as cidades que conhecemos atualmente. Lembrando, é claro, que isso é pequeno resumo (pequeno mesmo) sobre a Corrida do Ouro da Califórnia.

Uma das fotos consideradas mais antigas da cidade de São Francisco, na Califórnia, em 1850
Entre as cidades que se tornaram "fantasmas" está justamente Bodie. A mesma está localizada nas Colinas de Bodie, a leste de Serra Nevada, no Condado de Mono, a cerca de 330 km a leste de Sacramento, capital do estado da Califórnia. A localidade começou a se expandir em 1876, após a descoberta de um veio rentável de ouro e, de repente, chamou a atenção de milhares de pessoas, que passaram a morar na cidade. Atualmente, o Departamento do Interior dos Estados Unidos reconhece o "Distrito Histórico de Bodie" como sendo um "Marco Histórico Nacional".

A localidade também está registrada como um "Marco Histórico da Califórnia", sendo que a mesma foi estabelecida como "Parque Histórico Estadual de Bodie" em 1962. Conforme dissemos anteriormente, o local recebe, em média, cerca de 200.000 visitantes por ano e, desde 2012, Bodie vem sendo administrado pela "Fundação Bodie", que usa o seguinte slogan: "Protecting Bodie's Future by Preserving Its Past" ("Protegendo o Futuro de Bodie Preservando o Seu Passado", em português).



Atualmente, o Departamento do Interior dos Estados Unidos reconhece o "Distrito Histórico de Bodie" como sendo um "Marco Histórico Nacional". A localidade também está registrada como um "Marco Histórico da Califórnia".
A localidade foi estabelecida como sendo o "Parque Histórico Estadual de Bodie", em 1962
Aliás, vocês podem fazer um pequeno passeio pela cidade fantasma Bodie, por assim dizer, utilizando a ferramenta Google Street View. As imagens da antiga cidade, hoje um parque histórico estadual, datam de 2015.



No passado remoto, Bodie foi um agitado centro de mineração de ouro, tendo todas as comodidades inerentes as cidades maiores, incluindo um banco, quatro brigadas voluntárias de combate a incêndios, uma banda de música, ferrovias, sindicatos, um necrotério, um cemitério, diversos jornais e uma prisão. Em seu auge, Bodie chegou a ter 65 saloons (uma espécie de bar típico do Velho Oeste) na rua principal, que tinha cerca de 1,5 km de extensão. Os assassinatos, tiroteios, brigas de bar, e assaltos a diligências eram ocorrências comuns. Também havia um um distrito popular, embora clandestino, da "luz vermelha" (de prostituição), no extremo norte da cidade e até mesmo uma Chinatown, que contava com um tempo taoista. O comércio e o consumo de ópio na cidade também era considerado alto.

Os primeiros sinais de um declínio oficial da cidade ocorreram em 1912 com a impressão do último jornal de Bodie, chamado "The Bodie Miner". Bodie foi descrita pela primeira vez como uma "cidade fantasma" em 1915, sendo que em 1920 a cidade contava com apenas 120 habitantes. Não podemos dizer que a cidade não lutou para permanecer viva, visto que, apesar do declínio e de um grave incêndio no distrito comercial em 1932, que foi iniciado por um garotinho brincando com palitos de fósforo, Bodie contou com moradores permanentes durante boa parte do século XX. Uma agência dos Correios operou entre 1877 e 1942 na localidade, sendo que o último ano de operação da agência também marcou o fechamento da última mina da cidade.

Foto tirada em 1927 mostrando a antiga cidade de Bodie a partir do Moinho Standard
Foto enviada por uma usuária para o site "Western Mining History" mostrando seus avós, Ray e Rose Hise,
no antigo restaurante da família, na antiga cidade de Bodie, em 1930, antes do mesmo ser incendiado devido ao grande incêndio de 1932.
Na década de 1940, a cidade enfrentou uma onda de vandalismo, sendo que a família Cain, que possuía grande parte do território, contratou pessoas para proteger e resguardar as estruturas da cidade. Martin Gianettoni, uma das três últimas pessoas que ainda moravam em Bodie, em 1943, era um desses contratados. O Parque Histórico Estadual de Bodie acabou sendo criado em 1962, sendo que na época ainda havia cerca de 170 edificações resistindo ao tempo. Posteriormente, Bodie foi nomeada como a "Cidade Fantasma Oficial da Corrida do Ouro da Califórnia".

Atualmente, no entanto, apenas uma pequena parte da cidade sobreviveu, com cerca de 110 estruturas que ainda permanecem erguidas. Os visitantes podem caminhar pelas ruas desertas, de estruturas completamente abandonadas e a mercê da ação do tempo, sendo que no interior de muitas delas ainda existem mantimentos, bebidas, e itens pessoais, que foram deixados para trás. Isso porque a situação de Bodie é chamada de "arrested decay", ou seja, o que resta da cidade é protegido, eventualmente é realizado algum reparo, mas nada é substituído ou restaurado (provavelmente, nunca mais será).

Atualmente, no entanto, apenas uma pequena parte da cidade sobreviveu, com cerca de 110 estruturas que ainda permanecem erguidas. Os visitantes podem caminhar pelas ruas desertas, de estruturas completamente abandonadas e a mercê da ação do tempo, sendo que no interior de muitas delas ainda existem mantimentos, bebidas, e itens pessoais, que foram deixados para trás.
Isso porque a situação de Bodie é chamada de "arrested decay", ou seja, o que resta da cidade é protegido, eventualmente é realizado algum reparo, mas nada é substituído ou restaurado (provavelmente, nunca mais será).
Além disso, remover qualquer um dos objetos, que foram deixados para trás é contra as regras do parque, ou seja, os visitantes devem apenas olhar e imaginar o que Bodie foi um dia. Nada de ficar mexendo nos objetos, e muito menos levar para casa. Confesso que deve ser completamente fascinante pisar no solo de Bodie, e imaginar o mesmo que milhares de pessoas fazem anualmente. É incrível pensar quanta história aquelas estruturas já abrigaram, não é mesmo?

Os Fantasmas da Cidade de Bodie e as Possíveis Explicações para Alguns Casos Relatados ao Longo do Tempo


Locais antigos e desérticos inspiram imediatamente muitas pessoas a pensarem em fantasmas, e Bodie não é uma exceção. Bodie representa uma cidade inteira de casas e outras estruturas potencialmente assombradas. No entanto, para os mais céticos os relatos de atividade fantasmagórica tendem a se enquadrar em categorias de fenômenos familiares e bem conhecidos da ciência. Podemos citar, como exemplo, algumas ocorrências que teriam sido relatadas na casa de J.S. Cain, um homem que criou um verdadeiro império em Bodie, na esquina das ruas Green e Park.

A casa de J.S. Cain, um homem que criou um verdadeiro império em Bodie, na esquina das ruas Green e Park
O local foi o lar de um empresário proeminente, e depois a residência das famílias das pessoas contratadas para cuidar da cidade, porém a mesma seria supostamente assombrada pelo fantasma de uma mulher chinesa, bem robusta, por assim dizer, possivelmente uma criada que trabalhou para a família Cain. Conta-se que esse fantasma teria aparecido para crianças no segundo andar da residência e, além disso, temos o estranho relato da esposa de um patrulheiro do parque, que aparece no livro "The Ghostly Gazetteer: America's Most Fascinating Haunted Landmarks", publicado em 1990, pelo autor Arthur Myers:
"Estava deitada na cama com meu marido, no quarto de baixo, quando senti uma pressão sobre mim, como se alguém estivesse em cima do meu corpo. Comecei a lutar. Lutei tanto que acabei parando no chão. Aquilo realmente me assustou. Outro patrulheiro que morava lá, Gary Walters, teve a mesma experiência, no mesmo cômodo, exceto que ele também viu a porta abrir, e sentiu uma presença, além de uma espécie de sufocamento"
O livro "The Ghostly Gazetteer: America's Most Fascinating Haunted Landmarks", publicado em 1990, pelo autor Arthur Myers
Evidentemente, muitos podem acreditar, que tudo isso seja a obra de um espírito maligno, uma entidade demoníaca, um "íncubo" ou um "súcubo". Porém, para os mais céticos, toda essa descrição é bem conhecida pela ciência, e pode ocorrer quando a consciência passa para um estado entre estar completamente adormecida e completamente acordada. Coincidentemente, abordei isso, quando redigi a matéria sobre a britânica "Sian Jameson", que havia concedido uma entrevista exclusiva para um determinado veículo de comunicação do Reino Unido, e contado como teria sido a noite de amor mais memorável de sua vida, com um fantasma.

Evidentemente, muitos podem acreditar, que tudo isso seja a obra de um espírito maligno, uma entidade demoníaca, um "íncubo" ou um "súcubo". Porém, para os mais céticos, toda essa descrição é bem conhecida pela ciência, e pode ocorrer quando a consciência passa para um estado entre estar completamente adormecida e completamente acordada
Naquela ocasião, mostrei a vocês a opinião de uma psicoterapeuta chamada Tina Radziszewicz, quando ela explicou sobre certos tipos de alucinações, que podem ocorrer durante a transição do estado de vigília para o sono (alucinações hipnagógicas, assim como aquela sensação de que estamos em queda livre quando dormimos) ou do sono para o estado de vigília (alucinações hipnopômpicas, sendo que geralmente os indivíduos que sofrem desse tipo de alucinação também sofrem da famosa paralisia do sono). Vale muito a pena conferir aquele material que preparei para vocês (leia mais: Amor Fantasmagórico? Mulher diz que Teve a Melhor Relação Íntima de sua Vida com um "Fantasma" Secular, no País de Gales!).

Na cidade fantasma de Bodie também existem relatos de uma mulher, que olha através de uma janela no segundo andar da casa da família Dechambeau, também conhecido como "Hotel Dechambeau", além do som de crianças rindo, que poderia ser escutado no lado de fora da casa da família Mendocini. Os mais céticos também dizem, que ambos os casos também poderiam ser explicados de forma semelhante pela ciência. Tais experiências podem ocorrer, quando a pessoa vivenciando tal situação está relaxada ou executando seu trabalho de rotina. Tal estado mental pode permitir que imagens ou sons surjam do subconsciente, e assim se sobreponham à consciência.

Na cidade fantasma de Bodie também existem relatos de uma mulher, que olha através de uma janela no segundo andar da casa da família Dechambeau, também conhecido como "Hotel Dechambeau" (à esquerda). Vale ressaltar nesta foto, que o prédio ao lado pertencia a Ordem Independente dos Odd Fellows.
O som de crianças rindo poderia ser escutado no lado de fora da casa da família Mendocini
Ainda segundo o livro "The Ghostly Gazetteer: America's Most Fascinating Haunted Landmarks", um homem que visitou o cemitério de Bodie com sua filha pequena teria notado, que a mesma havia começado a rir e aparentemente brincar com uma "entidade invisível". Essa "entidade" seria supostamente o "Anjo de Bodie", uma criança que teria sido morta, quando acidentalmente foi atingida na cabeça pela picareta de um mineiro.

Na verdade, a criança morta era Evelyn, a filha de três anos de Albert e Fannie Myers, que morreu em 1897. Existe uma figura esculpida em mármore branco, de uma criança na forma de um anjo, sobre sua sepultura, algo que os mais céticos acreditam ser tão somente o modelo ideal para um amigo imaginário de uma criança.

Ainda segundo o livro "The Ghostly Gazetteer: America's Most Fascinating Haunted Landmarks", um homem que visitou o cemitério de Bodie com sua filha pequena teria notado, que a mesma havia começado a rir e aparentemente brincar com uma "entidade invisível". Essa "entidade" seria supostamente o "Anjo de Bodie", uma criança que teria sido morta, quando acidentalmente foi atingida na cabeça pela picareta de um mineiro.
Na verdade, a criança morta era Evelyn, a filha de três anos de Albert e Fannie Myers, que morreu em 1897. Existe uma figura esculpida em mármore branco, de uma criança na forma de um anjo, sobre sua sepultura, algo que os mais céticos acreditam ser tão somente o modelo ideal para um amigo imaginário de uma criança
Enfim, experiências pessoas à parte, pouca coisa se compara a famosa "Maldição de Bodie", sendo justamente isso que iremos conferir a partir de agora.

A "Maldição de Bodie": A Peculiar Origem da Maldição, as Cartas Enviadas por Visitantes e uma Dose de Realidade Sobre a Cidade Fantasma


De tempos em tempos, a mídia norte-americana toca em um assunto delicado quando se fala da cidade fantasma da Bodie ou da "Corrida do Ouro da Califórnia": a "Maldição de Bodie". Na virada do século XX para o XXI, havia uma série norte-americana de TV chamada "Beyond Bizarre", onde eram apresentados mistérios do mundo paranormal. Um dos temas abordados por essa série foi justamente uma maldição, que supostamente paira sobre a cidade fantasma. Confira a introdução que era exibida em cada episódio dessa série, em um canal de terceiros, no YouTube (em inglês):



Aproveite também e confira o episódio inteiro sobre a "Maldição de Curse" da série "Beyond Bizarre" em um outro canal de terceiros, no YouTube (em inglês, mas vale a pena dar olhada nas imagens do episódio, visto que são bem interessantes):



Agora, repare no que foi mencionado no episódio dessa série sobre a "Maldição de Bodie":
"Os moradores de Bodie eram impassíveis, ferozmente possessivos em relação ao que tinham construído no deserto estéril, e conta-se que os espíritos dos mortos de longa data querem garantir que, aquilo que eles deixaram para trás, permaneça intacto. Segundo a lenda, qualquer pessoa que remova qualquer coisa - grande ou pequena - da cidade é amaldiçoada com uma onda de má-sorte. O infortúnio e a tragédia se acumulam contra a vítima até que o item roubado seja devolvido. Algumas pessoas alegam, que os fantasmas de Bodie patrulham as ruínas, que estão desmoronando, para protegê-las contra os ladrões"
No mesmo episódio, aparece um patrulheiro chamado J. Brad Sturdivant dizendo que a maldição ainda existia e que os antigos visitantes assustados, muitas vezes, devolviam os objetos roubados ou outras "lembrancinhas" retiradas ilegalmente da cidade fantasma. No entanto, a maioria devolvia esses objetos em caixas ou cartas anônimas. Naquela época, eles diziam que recebiam cartas de pessoas, que pediam desculpas, na esperança que suas sortes mudassem.

No mesmo episódio, aparece um patrulheiro chamado J. Brad Sturdivant dizendo que a maldição ainda existia e que os antigos visitantes assustados, muitas vezes, devolviam os objetos roubados ou outras "lembrancinhas" retiradas ilegalmente da cidade fantasma
Uma das cartas enviadas por visitantes que foram exibidas no episódio da série "Beyond Bizarre"...
...juntamente com alguns objetos que acompanham essas mesmas cartas.
De acordo com investigador paranormal Joe Nickell, em um artigo escrito sobre a "Maldição de Bodie" para a revista "Skeptical Inquirer", no fim de 2003, a referência mais antiga que o mesmo encontrou para a frase "a maldição de Bodie" aparece nas memórias de um antigo morador, em um texto chamado "The last of the old-time mining camps", de uma publicação chamada "California Historical Society Quarterly IV", em 1925. Contudo, esse morador estava falando de algo completamente diferente, ou seja, sobre o que havia acontecido com Bodie, e o que causou seu declínio. Eis o que foi escrito pelo mesmo:
"...a maldição de Bodie, assim como aconteceu no 'The Comstock',  foi devido ao mercado de ações, que foi manipulado por especuladores em São Francisco visando seus próprios lucros, independentemente dos valores das minas e sem pensar nas milhares de pessoas, que foram arruinadas devido ao seus jogos profanos"
O contexto da "Maldição de Bodie", aquele que não causa prejuízos a cidade, mas a defende dos saqueadores, é muito mais recente do que isso. Para Joe Nickell, não surpreendentemente, a maldição parecia acompanhar os esforços para preservar Bodie como um sítio histórico. Ainda segundo Joe, a "maldição" estava sendo promovida oficialmente, a partir do momento em que um patrulheiro estimulava essa crença em uma série de televisão, e o museu/loja de souvenirs exibia um álbum de cartas daqueles que acreditavam ter sido amaldiçoados.

Ainda segundo Joe, a "maldição" estava sendo promovida oficialmente, a partir do momento em que um patrulheiro estimulava essa crença em uma série de televisão, e o museu/loja de souvenirs exibia um álbum de cartas daqueles que acreditavam ter sido amaldiçoados.
Ao vistar o Parque Histórico Estadual de Bodie, Joe Nickell teria visto de perto algumas cartas (ainda citarei muitas outras até o final desta matéria). Ao ter roubado um prego, uma pessoa escreveu: "Minha vida desde o acontecimento desceu ladeira abaixo. É possível que todos os eventos desagradáveis dos últimos nove meses sejam coincidência, mas, no caso da maldição de Bodie ser real, estou devolvendo o prego".

Em uma outra carta, datada de 1994, aparece como sendo dirigida aos "Queridos Espíritos de Bodie", e assinada "por uma pessoa com uma consciência muito pesada". Confira o que foi escrito:
"Sinto muito! Há um ano, no dia 4 de julho, estive visitando a cidade fantasma. Já tinha estado aí por muitas vezes, mas sempre segui as regras sobre não pegar nada. Esta viagem foi diferente. Acabei pegando alguns itens aqui e outros ali, e os trouxe para casa. Visitei novamente este ano, e enquanto estava no museu, eu li as cartas de outras pessoas que pegaram coisas e tiveram má-sorte. Comecei a pensar sobre o acidente de carro, o emprego que perdi, o fato de continuar sempre doente e outras coisas ruins que me 'assombram desde' o ano passado, durante a minha visita, e minha transgressão. Geralmente, não sou supersticioso, mas... Por favor, confira em anexo tudo o que peguei, itens que 'não resisti em viver sem', e peça aos espíritos, que considerem meu arrependimento"
Foto de uma parte do interior do museu de Bodie, no interior do Parque Histórico Estadual de Bodie, na Califórnia,
que foi tirada no ano de 2013
Ainda durante a exibição do episódio da série "Beyond Bizarre", um homem de nacionalidade alemã relatou como seu tio havia retirado uma pequena garrafa da cidade fantasma de Bodie, e dois dias depois teria sofrido um acidente de carro na Autobahn. No dia seguinte, seu filho levou a garrafa para a escola para mostrar colegas de classe e, no caminho para casa, teria sofrido um acidente de bicicleta. O homem se mostrou convicto e disse que acreditava na "Maldição de Bodie".

No entanto, segundo Joe Nickell, a crença em maldições seria meramente uma superstição, uma forma de pensamento mágico. Uma vez que a ideia se apodera, haveria uma tendência para qualquer ocorrência nociva ser contada como evidência para a crença, enquanto os eventos benéficos são ignorados. Através do poder da sugestão, a convicção mágica se espalha de pessoa para pessoa supersticiosa, até que muitos acreditam, por exemplo, em uma maldição de uma múmia ou uma propensão familiar dos Kennedy para infortúnios (embora também haja toda uma teoria conspiratória por trás dessa história).

Ainda durante a exibição do episódio da série "Beyond Bizarre", um homem de nacionalidade alemã relatou como seu tio havia retirado uma pequena garrafa da cidade fantasma de Bodie, e dois dias depois teria sofrido um acidente de carro na Autobahn.
No dia seguinte, seu filho levou a garrafa para a escola para mostrar colegas de classe e, no caminho para casa, teria sofrido um acidente de bicicleta. O homem se mostrou convicto e disse que acreditava na "Maldição de Bodie".
Naquela época, no entanto, Joe Nickell ainda não tinha conhecimento de uma situação completamente inusitada envolvendo a "Maldição de Bodie": toda essa história não se originou com supersticiosos prospectadores da "Corrida do Ouro" ou de caçadores de fantasmas. Toda essa suposta "maldição" foi criada pelo Departamento de Parques e Recreação da Califórnia, e teve um efeito que o serviço de parques estaduais não esperava.

É justamente isso que nos conta a jornalista Carly Severn, da "KQED", uma emissora de rádio e TV de São Francisco, na Califórnia. Na recente matéria chamada "This Ghost Town’s 'Curse' Isn’t What You Think" ("A 'Maldição' da Cidade Fantasma Não é o que Você Pensa", em português), publicada na última sexta-feira (12), a mesma mostra toda a realidade por trás da "Maldição de Bodie", algo particularmente muito interessante.

Na recente matéria chamada "This Ghost Town’s 'Curse' Isn’t What You Think" ("A 'Maldição' da Cidade Fantasma Não é o que Você Pensa", em português), publicada na última sexta-feira (12), a mesma mostra toda a realidade por trás da "Maldição de Bodie", algo particularmente muito interessante.
Segundo Carly, as cartas de pessoas supostamente amaldiçoadas continuavam chegando ao Parque Histórico Estadual de Bodie ao menos uma vez por semana. Geralmente, as mesmas são escritas à mão, muitas vezes anônimas, e todas possuem algum objeto balançando no interior do envelope. Além disso, todos os autores das cartas se mostram extremamente arrependidos.

Conforme mencionamos pelo menos duas vezes ao longo desta matéria, a lenda menciona que, qualquer pessoa que apanhe qualquer item, objeto ou até mesmo uma mera pedra da cidade, será punido com uma espécie de maldição, atraindo má-sorte para sua vida.

A jornalista Carly Severn (na foto), da "KQED", uma emissora de rádio e TV de São Francisco, na Califórnia
Ao longo dos anos, pessoas arrependidas passaram a enviar essas cartas para a equipe do parque, relatando todo o infortúnio que passaram, e que eles acreditam ter originado a partir do momento que levaram uma "lembrancinha", embora ilegal, do local. No entanto, a parte mais curiosa não era saber se as pessoas realmente acreditavam nisso, mas como toda essa história realmente começou, que foi justamente devido ao Departamento de Parques e Recreação da Califórnia.

Segundo Carly, Bodie é uma cidade escondida nas colinas a leste de Yosemite, ao sul do lago Tahoe e ao norte do lago Mono. São mais de 25 quilômetros até a cidade mais próxima, conectada por uma estreita rodovia sinuosa, que se transforma em uma estrada de terra não pavimentada. Quando a neve do inverno chega, o local muitas vezes se torna intransitável. Ao ficar parado no meio da rua principal da cidade é impossível não imaginar o que Bodie deve ter sido em seu auge: uma cidade barulhenta, próspera, de muito trabalho duro, e o lar de quase 10 mil almas, que se vangloriavam dos seus mais de 60 saloons.

Foto da cidade de Bodie no ano de 1880.
Foto do centro da cidade de Bodie, por volta do ano de 1905.
De acordo com Catherine Jones, intérprete do parque, que trabalha juntamente com os patrulheiros de Bodie, na realização de passeios com o objetivo de mostrar as pessoas um pouco da história da cidade, duelos típicos do Velho Oeste eram comuns.

"Assim como a maioria das cidades do Velho Oeste, no fim do século XIX, provavelmente não havia o mesmo tipo de lei que estamos acostumados hoje em dia", disse Catherine Jones.

Catherine Jones, intérprete do Parque Histórico Estadual de Bodie em frente a Igreja Metodista, construída em 1882, sendo que a mesma é a única igreja de Bodie, que ainda permanece em pé.
Enquanto algumas edificações estão em ruínas e não resta muita coisa para se ver, um olhar através das janelas das estruturas, que estão melhor preservadas revela interiores, nos quais poderíamos dizer que as famílias, que ali moravam, teriam deixado o local apenas no dia anterior.

Na casa de uma das famílias, é possível ver pilhas de pratos na cozinha. No necrotério da cidade, o papel de parede descascando em tiras no teto, balança com o vento, e sobre caixões vazios. De acordo com Carly, é difícil não pensar em fantasmas estando em Bodie ou se sentir estranhamente inclinado a acreditar em lendas de espíritos vingativos da época da "Corrida do Ouro".

Enquanto algumas edificações estão em ruínas e não resta muita coisa para se ver, um olhar através das janelas das estruturas, que estão melhor preservadas revela interiores, nos quais poderíamos dizer que as famílias, que ali moravam, teriam deixado o local apenas no dia anterior. A foto acima é referente ao bar do Hotel Swasey.
Na casa de uma das famílias, é possível ver pilhas de pratos na cozinha. A foto acima é referente a casa da família Miller, na rua Green. Em 1900, Tom Miller, um homem que trabalhava para a Bodie Railway, morava nesta casa com sua esposa, a Jessie, e seus dois filhos.
Foto do antigo necrotério da cidade de Bodie
Segundo Catherine Jones, aparentemente, "alguns anos atrás" (um bom tempo atrás, diga-se de passagem), um patrulheiro do Parque Histórico Estadual de Bodie inventou a história de que infortúnios aconteceriam com aqueles que retirassem algo do parque. Ao dar início a ideia de que as pessoas teriam má-sorte, caso retirassem artefatos de um sítio histórico, a mesma poderia funcionar como um mecanismo positivo, para tentar evitar que essas mesmas pessoas saqueassem o que havia restado da cidade fantasma. Os roubos sempre foram um problema em Bodie, mesmo antes do Estado da Califórnia assumir a responsabilidade pelo local.
"Um sincero aviso para quem pensa que isso é apenas folclore - minha vida nunca esteve tão tumultuada. Por favor, considere meu aviso, e não remova um grão de poeira", trecho retirado de uma carta enviada a Bodie, em 2002.

"Vocês podem ficar com essas pedras abandonadas de volta. Nunca tive tanta má-sorte na minha vida. Por favor, me perdoem por ter colocado a maldição de Bodie à prova", trecho retirado de uma carta enviada a Bodie, em 2004.
Aliás, a cidade foi se tornando "fantasmagórica" aos poucos: a mineração continuou até 1942, mas, naquela época, o que tinha sido uma cidade movimentada, se desvanecia em uma crescente coleção de casas desocupadas. Muitas delas possuíam - e ainda possuem - pertences e bens daqueles que deixaram a cidade com o que podiam, e deixaram para trás o que julgavam desnecessário ou que não tinham dinheiro para transportar. Para moradores locais e visitantes, Bodie era uma cidade meio estranha, meio que abandonada no meio das montanhas, onde as pessoas podiam vagar e talvez pegar uma ou outra "lembrancinha". De acordo com Catherine, certa vez alguém levou um piano de uma casa (saberemos o desfecho dessa história daqui a pouco).

A patrulheira e intérprete do parque, Catherine Jones, mostrando algumas cartas que eles continuam recebendo
de visitantes que se sentiram afetados pela "Maldição de Bodie"
Uma das cartas enviadas anonimamente, cujo remetente devolveu um prego.
Mesmo sendo um parque histórico estadual, com placas e constante monitoramento por parte da equipe, que cuida do que sobrou de Bodie, os visitantes com "mãos leves", aparentemente, continuaram tentados a pegar o que consideram como "lembrancinhas". Então, Bodie conjurou seu próprio bicho-papão: a história de uma maldição, compartilhada com turistas ao longo dos anos para desencorajá-los de lotar seus bolsos com "bugigangas" da cidade fantasma. Atualmente, os funcionários do parque não falam mais sobre a maldição com os visitantes, mas ainda assim as cartas de pessoas supostamente amaldiçoadas continuam chegando. Segundo Catherine, as cartas chegam com tanta regularidade, que a equipe as reconhecem de longe.

"Praticamente toda vez que um patrulheiro vai até agência dos Correios para pegar nossa correspondência há um artefato 'amaldiçoado' por lá", disse Catherine Jones.

Uma série de garrafas de vidro empoeiradas no interior do antigo prédio pertencente aos Odd Fellows.
Eles receberam tantas cartas ao longo dos anos, que as mesmas ficam em exibição no museu de Bodie (assim como acontecia desde a virada do último século). Desde narrativas de várias páginas até desculpas de uma única frase e post-its, as pessoas confessam ter roubado pregos, cacos de vidro, fragmentos de cerâmica, moedas, flores e muito mais. Algumas pessoas alegam, que não sabiam que retirar algo do parque estadual era proibido, apesar das inúmeras placas espalhadas. Outras admitem que sabiam, e simplesmente não conseguiam resistir a tentação de pegar alguma coisa da cidade.
"Por favor, em anexo se encontra um sapato antigo, castigado pelo tempo. O sapato foi removido de Bodie durante o mês de agosto de 1978... Meu rastro de infortúnios é tão longa e depressiva, que não dá para ser listada aqui", trecho retirado de uma carta enviada a Bodie, não datada.

"Esse prego foi retirado da cidade de Bodie... Nada deveria deixar Bodie. Aliás, quem iria querer atrair má-sorte. Por favor, coloque o mesmo de volta para mim", trecho retirado de uma carta enviada a Bodie, em 2017.
Para algumas pessoas, a maldição é explicitamente sobrenatural: aparições fantasmagóricas ou então distúrbios parecidos com um poltergeist. Para a maioria, no entanto, a maldição teria vindo no formato de má-sorte: acidentes, problemas com automóveis ou a perda do emprego. Algumas pessoas relataram experimentar os efeitos da maldição instantaneamente, durante a viagem de volta para casa. Outras pessoas disseram que só perceberam depois que um determinado evento aconteceu. No meio dessas pessoas havia um jovem tão aterrorizado, que ele chegou a devolver todos os itens que a família comprou na loja de presentes do parque.

Uma casa isolada no meio do território antigamente ocupado pela cidade de Bodie.
Algumas situações são quase cômicas. Um jovem escreveu uma carta culpando a maldição, de ter feito com que seus pais o deixassem de castigo. Outras são de partir o coração. Uma das cartas, aparentemente escrita por uma criança, é possível ler um pedido de desculpas por pegar alguns pedaços de vidro, uma vez que a tal criança teria achado os vidros muito bonitos. Como resultado, o peixe que ela tinha, teria morrido no dia seguinte. Já em outra, uma mulher confessou ter pegado um pedra obsidiana como um "objeto de recordação" de uma viagem maravilhosa, porém culpou a mesma por problemas amorosos e em sua carreira profissional.

Entretanto, existem outras cartas, que são muito mais sérias. Em uma carta enviada no ano passado, uma jovem mulher culpou uma pedra, que ela retirou de Bodie, pelo término não somente do seu relacionamento, mas também do casamento dos seus pais. Em uma outra carta, a pessoa alegava que estava perdendo todos os seus entes queridos para o câncer. Obviamente, isso tudo não se resume a meras cartas. As pessoas estão enviando seus itens "amaldiçoados" de volta, porque elas acham que isso vai ajudar de alguma forma, e essa é a razão pela qual a equipe não fala mais sobre a lenda aos visitantes. Isso porque, ao inventar uma maldição - uma que assombra as pessoas até que façam a coisa certa - os membros da equipe do Parque Histórico Estadual de Bodie inconscientemente criaram um problema completamente novo.

Interior de uma escola abandonada de Bodie, na Califórnia
Alguns objetos abandonados em uma das casas,
no que hoje é o atual Parque Histórico Estadual de Bodie
Toda vez que um item é devolvido, a equipe do Parque Histórico Estadual de Bodie tem que tratá-lo exatamente pelo que é: um objeto roubado. Isso significa ter que preencher um boletim de ocorrência a cada objeto devolvido, não importa o quão grande ou pequeno seja. Embora não pareça ser tão relevante o fato de pegar uma pedra e depois devolvê-la mediante remorso, para a serviço de parques, essa mesma pedra carrega um valor histórico e cultural muito verdadeiro. E isso vale para qualquer caco de vidro ou pregos espalhados pelo chão. Quando esses objetos são apanhados e retirados do parque, eles instantaneamente são separados de seu lugar e contexto. No momento em que eles são colocados no bolso de alguém, muito da história, que eles poderiam contar, está perdida para sempre.
"Desculpem-me por pegar esses objetos. Amo antiguidades e, sendo cristão, me senti muito culpado por levá-las na segunda-feira. Sem falar que, na terça-feira, tivemos um pneu furado e meu marido bateu na cabeça em uma pedra", trecho retirado de uma carta enviada a Bodie, em 1998.

"Estou enviando itens furtados, juntamente com minhas mais profundas desculpas por qualquer espírito que tenha ofendido... Já me sinto melhor. A confissão realmente faz bem para a alma", trecho retirado de uma carta enviada a Bodie, em 1996.
Devolver um artefato ainda não resolve esse problema. Quando esses envelopes chegam até Bodie, não significa que os patrulheiros possam esvaziá-los, e espalhar os mesmos pela rua principal. Catherine Jones e seus demais colegas não têm como saber onde exatamente uma determinada pedra ou um prego estava antes de ser retirado(a) do seu local de origem.

Devolver um artefato ainda não resolve esse problema. Quando esses envelopes chegam até Bodie, não significa que os patrulheiros possam esvaziá-los, e espalhar os mesmos pela rua principal. Catherine Jones e seus demais colegas não têm como saber onde exatamente uma determinada pedra ou um prego estava antes de ser retirado(a) do seu local de origem.
"O objeto poderia potencialmente ter vindo de um sítio pré-histórico, um sítio nativo americano, mas não sabemos, porque agora está fora de contexto. Esse é verdadeiro infortúnio sobre coisas sendo retiradas de seu verdadeiro lugar", disse Catherine Jones, acrescentando, que o pior cenário em Bodie era de que os artefatos provavelmente viverão para sempre dentro de uma caixa.

Considere também o piano, que mencionei anteriormente. Catherine Jones disse que o mesmo havia sido devolvido para Bodie, depois que seus "proprietários" (ou "ladrões") souberam da maldição (algo que envolveu "problemas de saúde e problemas de carro" dessa vez). Talvez o piano estivesse quietinho na sala de estar da casa de uma das famílias de Bodie ou então costumava ser tocado em um dos diversos saloons, mas equipe do parque não sabe de onde o mesmo foi retirado. Atualmente, ele permanece em silêncio no prédio da prefeitura.

Um piano foi roubado da cidade fantasma de Bodie, antes que o local se tornasse o Parque Histórico Estadual de Bodie, em 1962. Porém, o piano foi posteriormente devolvido, muitos anos depois, assim que os antigos "proprietários" (ou "ladrões") souberam da "maldição"
Inventar uma maldição atrelada a roubos, sem dúvida, foi algo que trouxe vantagens e ao mesmo tempo desvantagens para o Parque Histórico Estadual de Bodie. A maldição chamou a atenção para o que continua a ser um problema muito real em relação aos roubos, e quase certamente impediu a ação de muitos caçadores de souvenirs. No entanto, também assegurou um fornecimento constante de artefatos órfãos, sem que possam realmente voltar para casa, por assim dizer.

Catherine e seus colegas esperam que, em vez de contarem sobre a maldição para os visitantes, que eles possam transmitir uma mensagem melhor para aqueles que visitam Bodie, e que as pessoas devem deixar tudo em seus devidos lugares. As crianças quase sempre perguntam a Catherine sobre a maldição durante os passeios, mas ela prefere, em vez disso, explicar-lhes o porquê tirar algo de um parque estadual está errado. Segundo Catherine, Bodie é um gigantesco museu ao ar livre, e tudo deve ser tratado como se você estivesse dentro de um museu coberto. As pessoas não roubariam de uma exposição de artefatos em um museu, portanto não devem retirar nada, absolutamente nada mesmo, da cidade fantasma Bodie.

Tudo o que vemos nas fotografias ou até mesmo nas imagens obtidas através do Google Street View é, na verdade, patrimônio histórico da Califórnia. Portanto, Bodie não é exatamente aquilo que parece. É uma cidade dourada e pungente, que agora está silêncio, com uma maldição que nunca existiu, mas com pessoas que, de qualquer forma, ainda acreditam nela. E o fato de que isso vem se arrastando ao longo de décadas, diz muito sobre o desejo das pessoas em acreditar no "outro lado" ao estarem em lugares como Bodie ou, talvez, seja apenas o poder de uma consciência pesada.

Segundo Catherine, Bodie é um gigantesco museu ao ar livre, e tudo deve ser tratado como se você estivesse dentro de um museu coberto. As pessoas não roubariam de uma exposição de artefatos em um museu, portanto não devem retirar nada, absolutamente nada mesmo, da cidade fantasma Bodie
Nesse ponto, gostaria de ressaltar um pequeno trecho de um texto publicado pela escritora Catie Rhodes, em próprio site, sobre a "Maldição de Bodie". Segundo ela, Ed Warren (sim, o falecido marido de Lorraine Warren), especialista no campo da demonologia, maldições e outras atividades paranormais, certa vez, teria tido algumas teorias sobre a "maldição de Bodie". Ele acreditava que a atmosfera inicial de Bodie, de pessoas desesperadas e à procura de riquezas, introduzia alguma forma de poder sobrenatural no local. Ele também teria dito, que as pessoas que desafiam o Mal entrarão em contato com o Mal. Artigos amaldiçoados assumiriam vida própria, e as vibrações do Mal seriam introduzidas nos mesmos. Assim sendo, os espíritos seriam atraídos para o local onde os itens foram retirados. O problema, como sabemos, é que a "Maldição de Bodie" nunca existiu.

Embora as pessoas se apropriem ilegalmente de algo que não lhes pertence dentro de um verdadeiro museu ao ar livre, será que elas deveriam ser expostas a uma mentira, no formato de uma maldição, justamente para evitar que o Parque Histórico Estadual de Bodie seja saqueado? Será que uma boa educação ou câmeras de monitoramento não seriam suficientes? Será que essas pessoas também não foram enganadas por supostos médiuns ou pessoas que disseram ser aptas a ajudá-las espiritualmente? Será que, em decorrência da invenção, essas pessoas não gastaram dinheiro na compra de itens, que supostamente prometiam uma mudança de outro mundo em suas vidas, quando, na verdade, nunca existiu tal maldição? Já pensaram se uma mãe perdeu um filho, e acreditou ter sido vítima da maldição? Imaginem se ela ficou presa por meses ou anos, em silêncio, e banhada pelo sentimento de culpa e remorso? Os desdobramentos podem ser inimagináveis. Acham mesmo que a equipe do parque exibiria a carta dessa mãe ao público? Essa seria uma confissão, que comprometeria a carreira de todas as autoridades envolvidas por propagar uma mentira ao longo dos anos.

Além disso, com certeza muitos objetos históricos sequer foram devolvidos, e devem ter ido parar em uma lixeira qualquer e, juntamente com eles, foi perdida uma parte da história da Corrida do Ouro e da Costa Oeste dos Estados Unidos. Evidentemente, para muitas pessoas, essas tais histórias podem ser irrelevantes, mas o mesmo pode acontecer em qualquer lugar do mundo. Essa é a razão pela qual o desconhecido deve ser levado a sério, e pela qual as memórias daqueles que já se foram devem ser igualmente respeitadas. Ironicamente, o Parque Histórico Estadual de Bodie acabou sendo vítima de sua própria maldição ao fazer com que visitantes fossem oficialmente transformados em criminosos ao fornecerem evidências de seus próprios roubos. Realmente, tudo tem seu preço, seja uma pedra ou uma ideia elaborada de forma tão inconsequente quanto essa.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://www.haunted-places-to-go.com/ghost-towns-1.html
http://www.hauntedbay.com/features/Bodie.shtml
http://www.parks.ca.gov/?page_id=509
https://beatnikhiway.wordpress.com/category/hiway-america/page/4
https://catierhodes.com/2012/04/the-curse-that-follows-you/
https://en.wikipedia.org/wiki/Bodie,_California
https://ww2.kqed.org/news/2018/01/12/how-this-ghost-towns-curse-backfired-on-park-rangers/
https://www.bodie.com/
https://www.csicop.org/si/show/curse_of_bodie_legacy_of_ghost-town_ghosts

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