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Conheça o Verdadeiro Terror que Moradores Estão Passando ao Terem que Enterrar Seus Familiares com as Próprias Mãos em Linhares/ES!

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Por Marco Faustino

Sempre gosto de trazer casos ao conhecimento de vocês, que tenham um forte caráter humano envolvido. Um exemplo disso foi aquela matéria sobre um senhor chamado Edson Carvalho, que morava há 11 anos em um "mausoléu abandonado" no Cemitério Municipal de Marialva, no Estado do Paraná. Ao escrever dessa forma, até parece que contei aquela história no ano passado, mas faz tão somente pouco mais de um mês apenas que a publiquei. Isso porque, aparentemente, os veículos de comunicação paranaenses, somente após 11 anos, descobriram a existência de um senhor de 45 anos, que fez do local, visivelmente insalubre, o seu lar. Um senhor que conseguia ganhar entre R$ 600 a R$ 700 por mês, atuando em serviços de construção, incluindo obras no próprio cemitério, e que cujas refeições diárias acabavam sendo parte do seu próprio pagamento. Edson teria ido parar nas ruas após a morte dos pais e, no pequeno e apertado "mausoléu", com dimensões de 1,8 x 2,4 m, ele passou a dormir enrolado em velhos cobertores, mesmo nos dias mais frios, e no meio dos mais diversos insetos (leia mais: Conheça Edson Carvalho: O Homem que Mora há 11 Anos em um "Mausoléu Abandonado" no Cemitério Municipal de Marialva/PR) .

Lembro como se fosse ontem que, em uma das reportagens sobre esse senhor foi mencionado, que sua condição de vida parecia "não incomodar os habitantes de Marialva, cidade paranaense que tem sua base econômica sustentada pela agricultura e pelo cultivo de uvas finas. Edson Carvalho havia se tornando uma figura folclórica no município sendo adjetivado por alguns como 'morto-vivo' ou 'sem terra'." Para completar a situação, um pedreiro chamado Leonel Batista, que trabalhava no cemitério, acreditava que o homem era "alvo de 'uma maldição'." Sem dúvida alguma, aquele caso foi muito emblemático e particularmente me sensibilizei muito com a situação de Edson. De onde estou, talvez, não tivesse condições de efetivamente ajudá-lo, até mesmo porque cabe a prefeitura local resolver os inúmeros problemas, que tinham em relação ao caso, e aos moradores locais cobrar e exigir, que a vida de um semelhante fosse tratada com dignidade em seu município. Contudo, eu podia escrever, podia mostrar e alertar a vocês, que isso acontece bem debaixo dos nossos narizes, e que o verdadeiro e puro terror existe diariamente para muitas pessoas. Um terror real, o medo presente em uma vida humana, e não apenas em um mero vídeo de supostos fantasmas.

Agora, me deparei com um outro caso que vem acontecendo em nosso país, novamente envolvendo um cemitério, mas dessa vez na cidade de Linhares, no Estado do Espírito Santo. O caso? Bem, sem coveiro, os moradores da região do Baixo Quartel, no interior do município, vêm usando as próprias mãos para sepultar os seus próprios familiares. E sabem o que é pior? Quem visita o cemitério percebe que o mesmo está estranhamente limpo. Isso porque o antigo coveiro do cemitério, José Vitório Sarmento, dispensado pela prefeitura no mês de janeiro, trabalha toda semana no local, sem cobrar um único centavo de ninguém. Como se isso não fosse suficiente, e o que não foi mencionado recentemente, é que essa não é a primeira vez que isso ocorre. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Conheça um Pouco Sobre a Cidade de Linhares, no Estado do Espírito Santo


Conforme sempre faço questão de mostrar, vamos falar rapidamente sobre a cidade de Linhares para que vocês possam ter uma melhor noção do local onde o caso está acontecendo. Considero isso importante, porque diante de um país de tamanho continental, seria muito complicado conhecer cada cidade do país e, muitas vezes, isso ajuda a explicar o porquê determinadas situações ocorrem.

Bem, Linhares é um município do Estado do Espírito Santo, sendo considerada a principal cidade da região norte capixaba, localizada a aproximadamente 130 km de Vitória, a capital do Estado, e possui um alto índice de desenvolvimento humano. De acordo com uma estimativa do IBGE, para o ano de 2016, a mesma já contaria com pouco mais de 166 mil habitantes. Além disso, Linhares é o município com maior extensão litorânea e maior extensão territorial do estado.



Linhares é um município do Estado do Espírito Santo, sendo considerada a principal cidade da região norte capixaba, localizada a aproximadamente 130 km de Vitória, a capital do Estado, e possui um alto índice de desenvolvimento humano
 Para vocês terem uma ideia, em um levantamento realizado em 2015 pela empresa de consultoria "Austin Rating", e que foi encomendado pela Revista IstoÉ,  Linhares foi considerada a quinta melhor cidade de médio porte do Brasil, levando em consideração o desenvolvimento humano e industrial. No total, 475 cidades foram levadas em consideração, sendo Linhares a única cidade capixaba a aparecer no topo do ranking nacional.

De acordo com o site da Prefeitura Municipal de Linhares, a vigilância ao tráfico de ouro através do Rio Doce deu origem ao Povoado de Coutins, onde, em 1800, foi implantado um Quartel Militar, de mesmo nome, que fazia a proteção da navegação do rio Doce. Os índios do grupo Botocudos, nação Gês ou Tapuias, foram os primeiros donos da terra, e resistiram bravamente a qualquer colonização de brancos na região, até que armas superiores às suas os dizimaram totalmente (ou quase dizimaram totalmente). Naquela época, toda área da região era coberta pela Mata Atlântica, que aos poucos, e no decorrer de um século, foi devastada dando lugar a povoamentos, pastoreio e a agricultura.

Visão aérea de uma parte da cidade de Linhares, no Espírito Santo
O primeiro povoado, no entanto, foi inteiramente destruído por ataques dos índios botocudos. Em 1809, outro povoado surgiu no mesmo local, recebendo o nome de Linhares, em homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares. O povoado ficava situado em um platô no formato de meia-lua, às margens do rio Doce. No leste e no oeste do povoado ficavam situados dois quartéis militares para avisar a população de prováveis ataques dos indígenas: um quartel estava situado onde hoje é o Bairro Aviso (daí o nome bem sugestivo). Já o outro, localizava-se nas proximidades de onde atualmente fica o Colégio Estadual.

Em 1819, é feita, por ordem de Francisco Alberto Rubim, uma "Vista e Perspectiva do Povoado de Linhares", e nela, vê-se também a Primeira Igreja, construída sob o patrocínio de Rubim. O povoado foi construído em volta de uma praça quadrada (que é a atual Praça 22 de Agosto),e  que guarda até hoje seu traçado original. Era justamente nessa praça, que os índios dançavam e cantavam no passado.

Em 1819, é feita, por ordem de Francisco Alberto Rubim, uma "Vista e Perspectiva do Povoado de Linhares", e nela, vê-se também a Primeira Igreja, construída sob o patrocínio de Rubim
Em abril de 1833, em execução a uma "Provisão de Paço Imperial" o povoado foi elevado a condição de Vila, sendo a sede do município do mesmo nome, Linhares, sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição. Vale ressaltar nesse ponto, que "Provisão de Paço" corresponde, atualmente, a um decreto do Presidente da República. Em 22 de Agosto daquele mesmo ano, realizou-se a primeira sessão solene da Câmara de Vereadores do Município de Linhares, dando "início a sua vida política e administrativa".

Naquela época, o Brasil ainda era um Império, e o Espírito Santo era uma Província, e a sede dos municípios era chamada de Vila. Não existiam prefeitos, os municípios, por assim dizer, eram administrados pela Câmara de Vereadores. O território do município de Linhares abrangia os que são hoje os municípios de Linhares, Rio Bananal, Colatina, Baixo Guandu, Pancas, São Gabriel da Palha, Sooretama e partes de Ibiraçu, Santa Tereza e Itaguaçu.

O povoado foi construído em volta de uma praça quadrada (que é a atual Praça 22 de Agosto),e  que guarda até hoje seu traçado original. Era justamente nessa praça, que os índios dançavam e cantavam no passado.
No final do século XIX, a Vila de Linhares entrou em decadência e o povoado de Colatina, que pertencia ao município de Linhares, cresceu rapidamente graças à colonização italiana com o plantio de café e a inauguração dos trilhos da Estrada de Ferro Vitória - Minas. Assim sendo, em dezembro de 1921, foi criado o município de Colatina, por decreto, englobando a Vila e o Antigo município de Linhares. Esse fato contribuiu ainda mais com a decadência de Linhares.

Em 1930, começaram a chegar em Linhares os trabalhos de abertura de uma estrada até Vitória, e posteriormente até São Mateus. Essa situação, somada ao trabalho de linharenses junto ao Governo do Estado, fez com que a situação se transformasse. Em dezembro de 1943, por decisão do Governo do Estado, o município de Linhares foi restabelecido e desligado do município de Colatina, algo que teria sido muito comemorado pelos linharenses.

Foto considerada recente do Centro da cidade de Linhares, no Espírito Santo
Mais uma foto de um trecho do Centro da cidade de Linhares, no Espírito Santo
Ainda segundo o site da Prefeitura Municipal, com o passar do tempo teria surgido um polo moveleiro na cidade, consolidando-se como um dos mais importantes do Brasil, projetando Linhares em nível nacional e internacional. Além disso, a agricultura e a pecuária seriam de extrema importância para a economia local. Empresas produtoras e exportadoras de frutas se destacariam pela sua participação significativa na economia e pela geração de emprego.

Atualmente, a cidade de Linhares seria a maior exportadora brasileira de mamão papaya, principalmente para os mercados consumidores da Europa e dos Estados Unidos. O município de Linhares ainda se destacaria como um grande produtor de petróleo e gás natural.

Ainda segundo o site da Prefeitura Municipal, teria surgido um polo moveleiro na cidade, consolidando-se como um dos mais importantes do Brasil, projetando Linhares em nível nacional e internacional
Entretanto, aparentemente, essas informações acima ressaltam a situação do município até o ano de 2014. Se fizermos uma rápida busca por informações sobre o município, no Google, podemos perceber que diversas festas municipais chegaram a ser canceladas em 2015 devido a "crise econômica nacional"; a cidade declarou situação de emergência em dezembro do ano passado, devido a seca que estava afetando o Estado do Espírito Santo (algo que afetou e muito a agricultura); atrasou o pagamento do salário de dezembro do ano passado, e do 13º do funcionalismo público; continua sofrendo devido ao rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, visto que o rio Doce foi praticamente dizimado, e a lama tomou conta de uma grande faixa do litoral capixaba, que é bem importante para o turismo local e estadual; e ainda sofreu com uma onda de violência no início desse ano, devido a um protesto de familiares, que impediam a saída de viaturas e policiais militares dos quartéis.
Resumindo? Aparentemente, os anos de glória evaporaram, e isso naturalmente traria consequências. Ainda assim, a situação que vem acontecendo é praticamente inexplicável. É justamente sobre essa situação que vocês vão conferir a partir de agora.

Entenda a Situação: O Caso dos Moradores que vêm Usando as Próprias Mãos para Sepultar os Seus Próprios Familiares


Foi devido a uma recente reportagem realizada pela TV Gazeta Norte, uma afiliada da Rede Globo, no Espírito Santo, e que acabou indo parar no Portal G1, no dia 7 de agosto, que fiquei sabendo dessa triste e lamentável situação. No texto que acompanhava a reportagem era mencionado, que moradores da região de Baixo Quartel, interior de Linhares, estavam tendo que enterrar os próprios familiares, porque não havia coveiro no cemitério da localidade há seis meses. Confira a mesma abaixo, que foi publicada em um canal de terceiros, no YouTube (irei comentá-la a seguir):



No início da reportagem, nos deparamos com uma frase de uma trabalhadora rural chamada Adriana, dizendo que há mais de seis meses não havia nenhum coveiro no cemitério. Em seguida, o repórter Kaio Henrique, responsável pela matéria, indagou como as pessoas faziam na ausência desse profissional, ou seja, quem abria a cova e enterrava as pessoas? E ele mesmo responde: a própria família.

No início da reportagem, nos deparamos com uma frase de uma trabalhadora rural chamada Adriana, dizendo que há mais de seis meses não havia nenhum coveiro no cemitério
Esse era o caso da dona de casa Maria da Penha, que levou as ferramentas, e mais duas outras pessoas juntamente com um ex-coveiro para cavar a cova de um parente, que tinha morrido no mês anterior. Era possível notar sua revolta e seu sentimentos ao tentar buscar palavras para se expressar. Era nítido, que ela queria expressar ser merecedora um pouco de dignidade, mesmo diante dos seus erros de português, que se tornaram totalmente irrelevantes perante o descaso que estava acontecendo.

Esse era o caso da dona de casa Maria da Penha, que levou as ferramentas, e mais duas outras pessoas juntamente com um ex-coveiro para cavar a cova de um parente que tinha morrido no mês anterior.
Agora, a situação mais comovente da reportagem de quase 3 minutos foi a do ex-coveiro do Cemitério de Baixo Quartel, o Sr. José Vitório, que foi dispensado pela Prefeitura Municipal de Linhares, em janeiro desse ano e, mesmo desempregado, trabalhava toda semana no local, sem cobrar um único centavo por isso. Era justamente por isso que o cemitério estava limpo e relativamente conservado.

Ao ser questionado sobre o porquê ainda fazia isso, o senhor José gaguejou, talvez ainda tentando procurar palavras para a situação que estava lidando, mas no fim ele conseguiu dizer o motivo que todos nós já estávamos pensando desde o início: se ele não estivesse ali, assumindo aquele lugar, o mesmo provavelmente já teria sido consumido pelo mato alto, por insetos, pela criminalidade etc.

Agora, a situação mais comovente da reportagem de pouco menos de 3 minutos foi a do ex-coveiro do Cemitério de Baixo Quartel, o Sr. José Vitório, que foi dispensado pela Prefeitura Municipal de Linhares, em janeiro desse ano e, mesmo desempregado, trabalhava toda semana no local, sem cobrar um único centavo por isso
De forma lamentável, outro cemitério de Linhares, o Cemitério de Santo Antônio, no bairro Planalto também sofria com o visível abandono e descaso do poder público, cuja situação já havia sido mostrada pela TV Gazeta no mês passado. No local havia sepulturas com o concreto quebrado, sendo que dava para ver até mesmo um caixão no interior de uma delas. Além disso, o mato alto havia tomado conta de uma parte do cemitério, o muro havia cedido, e nem mais portão o cemitério tinha.

De forma lamentável, outro cemitério de Linhares, o Cemitério de Santo Antônio, no bairro Planalto também sofria com o visível abandono e descaso do poder público, cuja situação já havia sido mostrada pela TV Gazeta no mês passado. No local havia sepulturas com o concreto quebrado...
...sendo que dava para ver até mesmo um caixão no interior de uma delas.
Além disso, o mato alto havia tomado conta de uma parte do cemitério,
o muro havia cedido e nem mais portão o cemitério tinha
Na parte final da reportagem vemos o depoimento emocionado de um trabalhador rural chamado Marcelo que, com lágrimas nos olhos e voz embargada disse que não fosse o Sr. José, o ex-coveiro, o cemitério já teria sido quebrado e estaria em ruínas.

Na parte final da reportagem vemos o depoimento emocionado de um trabalhador rural chamado Marcelo que, com lágrimas nos olhos e voz embargada disse que não fosse o Sr. José, o ex-coveiro, o cemitério já teria sido quebrado e estaria em ruínas
Como forma de dar alguma satisfação para a população, o ESTV (programa jornalístico local, no qual a reportagem foi originalmente veiculada) disse que a Prefeitura de Linhares confirmou que José Vitório foi exonerado no início do ano, e que não havia chances de ser recontratado. Segundo a prefeitura, uma outra pessoa assumiu o cargo, mas estava de licença médica. Assim sendo, quando a comunidade precisava de auxílio, o coveiro de Bebedouro (um outro distrito do município de Linhares) era acionado. A prefeitura, no entanto, não explicou a razão pela qual isso não aconteceu para a família da dona de casa Maria da Penha.

Essa não é Primeira Vez que Algo Assim Acontece em Linhares: A Situação é Recorrente e Beira o Absurdo no Município


Geralmente, quando surge esse tipo de notícia, as autoridades, independentemente de qual seja o município, dizem que os casos são pontuais. Apesar de terem sido mostrados dois casos de abandono de cemitérios da cidade de Linhares, talvez alguém realmente pudesse culpar a "crise nacional" pela situação, que teria infelizmente afetado a administração dos cemitérios da cidade. Porém, não é bem isso que acontece em Linhares. Voltando um pouco na linha do tempo, em janeiro de 2016, nos deparamos com uma notícia vinda diretamente do distrito de Bebedouro, o mesmo local que foi mencionado na reportagem anterior.

No dia 4 de janeiro, o "Site de Linhares" publicou, que uma família desse distrito teve que enterrar o próprio parente no fim de semana anterior. Foram os irmãos, cunhados e primos que precisaram colocar o caixão do trabalhador rural Elias Gomes, de 42 anos, na cova. Isso porque, no horário marcado para o sepultamento, não havia coveiro no Cemitério São Sebastião, administrado pela Prefeitura. Confiram a reportagem realizada pelo Site de Linhares, e que foi publicada em seu próprio canal, no YouTube:



A esposa do trabalhador rural, Lindinalva Nunes, diarista, 32 anos, disse que na manhã de sábado (2) por volta das 7h, foi ao cemitério avisar o responsável pela gestão do local, identificado pelos familiares como Gildo Ferraz, que o sepultamento seria às 9h, mas, a resposta que tiveram dele é que o cemitério não possuía coveiro, e que o trabalho deveria ser executado pela própria família. De acordo com Lindinalva, ele apontou o espaço onde a cova teria que ser aberta e colocou os equipamentos a disposição da família.

Devido à rigidez do solo em decorrência da seca (lembram que eu mencionei que o município havia decretado estado de emergência devido a seca?), a esposa pediu uma máquina retroescavadeira emprestada numa loja de material de construção de Bebedouro para abrir a cova. O buraco foi aberto até determinado ponto, e o restante da cova foi aberto pelos familiares e amigos do trabalhador rural que participaram do enterro. "Foi um ato de desumanidade. Eu só peço que as autoridades resolvam o problema para que outras famílias não passem pelo mesmo constrangimento que a nossa", disse emocionada, Lindinalva Nunes.

Devido à rigidez do solo em decorrência da seca (lembram que eu mencionei que o município havia decretado estado de emergência?), a esposa pediu uma máquina retroescavadeira emprestada numa loja de material de construção de Bebedouro para abrir a cova
O buraco foi aberto até determinado ponto e o restante da cova foi aberto pelos familiares
e amigos do trabalhador rural que participaram do enterro.
A irmã da esposa da vítima, a doméstica Maria José, confirmou todo o ocorrido com o seu cunhado a reportagem do "Site de Linhares", e disse ainda que a sepultura não ficou como deveria ser. "Achei tudo isso um absurdo, uma dor na alma. É uma vergonha e isso não deveria acontecer", comentou.

Entretanto, a Prefeitura apresentou uma versão diferente daquela contada pela família. Por meio de Nota, a secretaria municipal de Administração, garantiu que o cemitério de Bebedouro contava com coveiros para atender a demanda da região. A Prefeitura também alegou que foi o profissional, e não os familiares, que solicitou a utilização de uma máquina (tipo retroescavadeira) para realizar a perfuração do solo, pois a escavação manual estava impossível devido à compactação do solo, em virtude da seca.

Contudo, toda essa humilhação não para por aí. Também podemos encontrar uma matéria publicada no site do jornal "Folha Vitória", em março de 2016, onde mencionava que uma família ficou revoltada com o descaso em um cemitério do distrito de Regência, também em Linhares. Um familiar teve que abrir a cova para enterrar parente, por falta de coveiro no cemitério. Filhos, netos e amigos se revezaram para conseguir sepultar uma senhora chamada Hilda, 72 anos. Segundo os moradores, o cemitério estava sem coveiro há oito meses, ou seja, a situação vinha ocorrendo desde 2015.

Um familiar teve que abrir a cova para enterrar parente, por falta de coveiro no cemitério. Filhos, netos e amigos se revezaram para conseguir sepultar uma senhora chamada Hilda, 72 anos.
Além da situação que tiveram que enfrentar, os moradores de Regência também reclamavam da falta de manutenção da capela mortuária local que, segundo eles, estava abandonada. Em nota, a Prefeitura de Linhares chegou a informar que o cemitério de Regência contava com um coveiro, mas que ele tinha sido exonerado por deficiência profissional. A administração garantiu que um novo servidor iria assumir o posto ainda naquela semana do ocorrido.

E vocês pensam que terminou? De acordo com o site do jornal "Folha de Linhares", a situação ocorrida no distrito de Regência voltou a se repetir em maio desse ano. Após uma vida inteira dedicada a comunidade, uma senhora chamada Eurides Rangel Alves, de 97 anos, faleceu no dia 3 de maio. Benzedeira muito conhecida da região, sua morte causou tristeza em muitos moradores, tanto de Regência quanto de outras regiões do Espírito Santo. Porém, a tristeza deu lugar à indignação quando, na tarde do dia seguinte (4), os próprios moradores precisaram cavar a sepultura de Eurides. Segundo a população local, não havia coveiro para trabalhar no cemitério.

Quem também fez uma reportagem sobre esse caso foi a própria TV Gazeta Norte, e que vocês podem conferir diretamente a partir de um canal de terceiros, no YouTube:



Durante essa reportagem, os moradores locais chegaram a mencionar que, após a realização de uma outra reportagem da TV Gazeta Norte, no ano passado, surgiu um coveiro, mas por um período de tempo muito curto. E pasmem, há mais de um ano não tinha a presença de um profissional no local, ou seja, foi algo simplesmente temporário, e que outras famílias já tinham enterrado seus parentes com as próprias mãos anteriormente. O caso da senhora Eurides teria sido apenas o mais recente.

A Prefeitura de Linhares explicou, por meio de nota, que entendia a dor da família e lamentava o ocorrido. O município também esclareceu que o profissional para exercer a função de coveiro no Cemitério de Regência estaria sendo contratado e passaria a exercer as suas funções na semana seguinte. Será mesmo? Bem, esse é um assunto para os meus comentários finais.

Comentários Finais


Durante minha pesquisa para a realização dessa matéria, me deparei com o caso dos avós de um menino chamado Y., que morreu aos cinco anos de idade, devido a uma doença genética, e que estava há três enterrado no cemitério do bairro Planalto, em Linhares, e que também foi citado no texto acima. Eles tomaram um susto ao fazer uma visita ao túmulo, em fevereiro desse ano, visto que a cova da criança tinha sido revirada. O buraco estava aberto, limpo, um monte de terra estava ao lado da mesma. A cruz com o nome do menino ainda estava no local. Os parentes também encontraram uma pulseira do hospital, que foi enterrada com a criança. O coveiro alegou que a autorização para mexer no túmulo veio dos próprios parentes, porém os mesmos disseram que não tinham apresentado nenhuma documentação nesse sentido. A família registrou um boletim de ocorrência para saber o que aconteceu com corpo do menino, porque ele não tinha sido enterrado em um saco, mas em um caixão. Segundo a avó, o cemitério dizia que o mesmo estava em um saco. A Prefeitura de Linhares se limitou a dizer que lamentava o ocorrido e que abriria sindicância interna para apurar os fatos. Sinceramente, essa é uma situação surreal e inimaginável. Uma família, cuja dor nunca irá cicatrizar devido a perda de uma criança, é novamente ferida e soterrada moralmente pelo poder público.

Aliás, a situação em Linhares não se limita apenas aos cemitérios. Um exemplo disso é o posto dos Correios de Baixo Quartel, que há 10 anos entregava as correspondências para os moradores, e que foi fechado pela prefeitura em outubro do ano passado. O motivo? Informações extraoficiais citavam atrasos no pagamento do aluguel do local, que custava aos cofres públicos cerca de R$ 694,10 por mês. Por não pagar mensalmente esse valor, a prefeitura fez com que os moradores locais e adjacentes percorressem aproximadamente 10 quilômetros a mais, para pegar, por exemplo, uma conta de energia elétrica. A prefeitura não quis comentar o motivo do fechamento da unidade, apenas limitou-se a dizer que a agência local era considerada deficitária. Curiosamente, os Correios disseram que sequer sabiam do fechamento do posto, determinado pela prefeitura, e prometeu tomar as medidas cabíveis. Revoltante, não é mesmo? E essas são histórias que, quanto mais você cava, mais você se revolta. É aumento do tíquete-refeição, do salários de vereadores, prefeitos ganhando valores totalmente discrepantes em relação ao restante do Estado, além de inúmeras situações que sequer vale a pena comentar. E, enquanto isso, a resposta é por meio de nota. Um pedaço de papel branco, com letras negras, tão frio quanto a sete palmos de terra. A população precisa de respostas, mas jamais serão obtidas, enquanto ninguém assumir a responsabilidade que lhe cabe e fazer algo realmente pelas pessoas, que pagam impostos e tentam viver a vida da melhor forma possível ou da maneira que podem. Será que é pedir muito ter um enterro decente após uma vida geralmente sofrida? Será que além de todos os direitos que nos tiram diariamente, não temos sequer o direito de nos despedir?

Talvez seja bem emblemático notar o estado bem conservado, e o orgulho pelo qual as administrações municipais mantiveram em relação a praça 22 de agosto, em Linhares, ao longo do tempo. Afinal de contas, foi naquele local onde a cidade surgiu. Porém, anteriormente, o território era ocupado pela dança e por tradições indígenas. A questão é que não houve ocupação pacífica, tudo foi tomado a força pelos colonizadores. Não obstante, praticamente toda uma etnia foi exterminada por ordem do Conde de Linhares. Procure na internet o termo, que se dá sobre a tentativa de acabar com um grupo de pessoas de uma determinada etnia, e você verá que a simbologia se torna algo bem sombrio. Com o passar do tempo, a cidade entrou em decadência, foi anexada, se reergueu, se tornou independente e forte economicamente dizendo. Isso tudo até chegar nos dias de hoje, onde a mesma aparentemente atravessa uma crise financeira, sendo que a culpa é sempre de terceiros, assim como no passado a culpa, por exemplo, era dos índios. A verdade é que existem centenas de Linhares espalhadas pelo nosso país, cada qual com seu conde e com sua tribo. Hoje em dia as tribos não são mais exterminadas com um cano de ferro e pólvora. Atualmente, os membros dessas tribos são exterminados ao entrarem uma cabine em uma tarde de domingo, meio confusos, sem saberem muito bem o que fazer. Então, eles apertam alguns botões, e ouvem um barulhinho no final. O que para muitos pode ser um sinal de esperança, ainda que falsa, para eles é uma sentença de morte.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://g1.globo.com/espirito-santo/norte-noroeste-es/noticia/sem-coveiro-moradores-usam-as-proprias-maos-para-sepultar-parentes-em-linhares.ghtml
http://www.folhadelinhares.com.br/noticia/1621/Sem_coveiro_enterro_de_moradora_de_Regncia__feito_pelos_parentes_e_amigos_da_falecida.html
http://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/2016/03/familia-tem-que-enterrar-o-proprio-parente-por-falta-de-coveiro-em-cemiterio-de-linhares.html
http://www.gazetaonline.com.br/noticias/norte/2017/08/sem-coveiro-parentes-usam-as-proprias-maos-para-sepultar-familiares-1014086801.html
http://www.gazetaonline.com.br/opiniao/colunas/dona_encrenca/2016/03/sem-coveiro-moradores-fazem-cova-em-linhares-1013935098.html
http://www.linhares.es.gov.br/
http://www.sitedelinhares.com.br/noticias/geral/sem-coveiro-em-cemiterio-familia-enterra-corpo-de-trabalhador-rural-em-bebedouro-veja-video

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