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A Misteriosa "Vulture Stone": Um "Pilar de Pedra" Provaria que um Cometa Provocou um Verdadeiro Caos na Terra Há 13 Mil Anos?

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Por Marco Faustino

Sinceramente, algo muito estranho vem se passando nas universidades do Reino Unido ultimamente. No início desse mês, mais precisamente no dia 4 de abril, publiquei uma postagem comentando que havia sido divulgado no dia anterior (3), um estudo no periódico "Journal of Archaeological Science: Reports", realizado por arqueólogos, que teria revelado que determinadas pessoas da região de Yorkshire, um condado histórico na região Norte da Inglaterra e o maior do Reino Unido, teriam tanto medo dos mortos que desmembraram, quebraram e queimaram os corpos de pessoas mortas para terem absoluta certeza que elas não voltariam à vida, durante a Idade Média. Esse estudo promovido pela "Historic England" (um órgão executivo público não-departamental do governo britânico subsidiado pelo Departamento de Cultura, Mídia e Desportos) e pela Universidade de Southampton talvez pudesse representar a primeira evidência científica na Inglaterra, em relação a eventuais tentativas de impedir que os mortos caminhassem novamente, e prejudicassem os vivos. Aliás, essa prática seria vista como "algo muito comum" no folclore em diversas partes do mundo. Interessante, não é mesmo? No entanto, isso era mesmo verdade?

Pois bem, isso não era verdade, ou melhor, não era possível concluir e afirmar isso categoricamente. Era uma mera questão de alguém simplesmente ler esse estudo em questão, que estranhamente foi publicado justamente no dia seguinte a exibição do último episódio, da sétima temporada, da série norte-americana "The Walking Dead". Contudo, aparentemente, nenhum veículo de comunicação britânico leu o estudo, e praticamente nenhum lugar no mundo noticiou isso da forma correta ou pelo menos da forma menos errada e sensacionalista. Basicamente, a absoluta maioria se aproveitou de declarações unilaterais de um dos envolvidos no estudo, para disseminar um conteúdo totalmente deturpado e recheado de fotos de zumbis daquela mesma série televisiva. Até onde pude acompanhar, somente um único site, chamado "Mental Floss", chegou no mesmo ponto que mostrei a vocês. Evidentemente, fiz questão de destrinchar o assunto e explicar o que precisavam saber, assim como a respectiva tradução da conclusão do estudo (leia mais: Será Verdade que os Ingleses Mutilavam e Queimavam os Corpos dos Mortos Para Evitar que Ocorresse um "Apocalipse Zumbi"?).

Agora, surgiu uma nova polêmica e novamente envolvendo dois fatores principais: a completa falta de leitura de um estudo científico, e o envolvimento de mais uma universidade do Reino Unido. Apesar da estranha coincidência, dessa vez o estudo trata de alguns "pilares de pedra" dentre vários outros pilares dispostos de forma circular em Göbekli Tepe, um sítio arqueológico no topo de uma montanha na região Sudeste de Anatólia, na parte asiática da Turquia, a cerca de 12 km a nordeste da cidade de Şanlıurfa. É justamente dentro desse sítio, que se encontra um dos "objetos" de toda essa polêmica: a chamada "Vulture Stone" ("Pedra do Abutre" ou "Pilar do Abutre", em português), também conhecida como "Pilar 43", que deveria ser um pilar como qualquer outro, mas para algumas pessoas ele simboliza o registro de um evento cataclísmico, possivelmente um cometa que se chocou contra o nosso planeta. Esse abalo teria sido tão descomunal, que teria gerado uma espécie de "mini era glacial" no planeta, principalmente em áreas mais ao norte do globo, durante 1.400 anos (um período conhecido como "Dryas recente"), e com isso teria desencadeado as primeiras civilizações tal como conhecemos hoje em dia. Essa discussão sobre a queda de um cometa não é nova, porém a associação desse evento com a "Vulture Stone"é relativamente recente. Foi justamente sobre essa relação, que dois pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, fizeram um estudo e o publicaram em um periódico científico revisado por pares. A mídia britânica novamente ficou em polvorosa, dizendo que os cientistas finalmente teriam confirmado essa relação, tão especulada no passado. Contudo, será mesmo que houve essa confirmação? Vamos saber mais sobre esse assunto?

Um Rápido Resumo Sobre o Sítio Arqueológico de Göbekli Tepe


Conforme dissemos anteriormente, Göbekli Tepe é um sítio arqueológico no topo de uma montanha na região Sudeste de Anatólia, na parte asiática da Turquia, a cerca de 12 km a nordeste da cidade de Şanlıurfa. Esse sítio arqueológico é composto por duas fases de supostos usos ritualísticos, que remontam entre 10.000 e 8.000 anos a.C.

Na primeira fase, no período Neolítico Pré-Cerâmico A (PPNA), foram erguidos círculos de enormes pilares de pedra em formato de T (cada pilar com 6 metros de altura e pesando 20 toneladas), que são os megalitos mais antigos do mundo (pelo menos até onde os pesquisadores conhecem). Na segunda fase, no período Neolítico Pré-Cerâmico B (PPNB), os pilares erguidos eram menores e ficavam em salas retangulares com pisos de cal polido. Após esse período, o sítio foi abandonado.

Imagem do Google Maps mostrando a localização do sítio arqueológico Göbekli Tepe
Conforme dissemos anteriormente, Göbekli Tepe é um sítio arqueológico no topo de uma montanha na região Sudeste de Anatólia, na parte asiática da Turquia, a cerca de 12 km a nordeste da cidade de Şanlıurfa. Esse sítio arqueológico é composto por duas fases de supostos usos ritualísticos, que remontam entre 10.000 e 8.000 anos a.C.
É interessante notar que muitos dos pilares são decorados com pictogramas enigmáticos ou abstratos, sendo possível ver representações de animais esculpidos, e em relevo nos mesmos. Os pictogramas podem representar símbolos sagrados comumente conhecidos, assim como encontramos em pinturas rupestres neolíticas em outros lugares.

Já os relevos aparentam retratar mamíferos como leões, touros, javalis, raposas, gazelas e burros, tal como serpentes e outros répteis, artrópodes (assim como insetos e aracnídeos), e pássaros (particularmente abutres). Na época que o local foi erguido, possivelmente o território ao redor era uma grande floresta, e capaz de sustentar essa grande variedade de vida selvagem.

É interessante notar que muitos dos pilares são decorados com pictogramas enigmáticos ou abstratos, sendo possível ver representações de animais esculpidos, e em relevo nos mesmos. Na foto podemos ver a misteriosa "Vulture Stone", também conhecido como pilar 43
Já os relevos aparentam retratar mamíferos como leões, touros, javalis, raposas, gazelas e burros, tal como serpentes e outros répteis, artrópodes (assim como insetos e aracnídeos), e pássaros (particularmente abutres). Na época que o local foi erguido, possivelmente o território ao redor era uma grande floresta, e capaz de sustentar essa grande variedade de vida selvagem
Os detalhes sobre a real finalidade da estrutura permanecem um mistério até hoje. O local foi escavado por uma equipe arqueológica alemã sob a direção de Klaus Schmidt, um proeminente arqueólogo alemão, de 1996 até sua morte, em 2014. Schmidt acreditava que o local era uma espécie de santuário neolítico primitivo usado como um local sagrado, não como um assentamento. Ele considerava o local como um centro de culto aos mortos, e que os animais esculpidos estavam presentes justamente para protegê-los.

Os detalhes sobre a real finalidade da estrutura permanecem um mistério até hoje. O local foi escavado por uma equipe arqueológica alemã sob a direção de Klaus Schmidt (na foto), um proeminente arqueólogo alemão, de 1996 até sua morte, em 2014
Embora nenhuma sepultura ou tumba tenha sido encontrada até hoje, Schmidt acreditava que as mesmas ainda seriam descobertas em nichos localizados atrás das paredes dos círculos sagrados. Por outro lado, Steven Mithen, professor de Arqueologia na Universidade de Reading, na Inglaterra, surgeriu que no início da cultura Neolítica de Anatólia e do Oriente Próximo, os mortos eram deliberadamente expostos, com o objetivo de serem escarnados por abutres e outras aves que se alimentavam de carniça.

Concepção artística mostrando o que poderia teria sido a construção de Göbekli Tepe
Apesar de tudo isso ser uma mera especulação, uma vez que Göbekli Tepe foi bem pouco escavada até hoje (estima-se que apenas 5% do local tenha sido efetivamente exposto até hoje, apesar de quase duas décadas de escavações), o sítio arqueológico é considerado uma descoberta de grande importância, visto que poderia alterar profundamente a compreensão de uma fase crucial no desenvolvimento da sociedade humana.

Apesar de tudo isso ser uma mera especulação, uma vez que Göbekli Tepe foi bem pouco escavada até hoje, o sítio arqueológico é considerado uma descoberta de grande importância, visto que poderia alterar profundamente a compreensão de uma fase crucial no desenvolvimento da sociedade humana
É justamente nesse local que, conforme mencionamos anteriormente, se encontra a chamada "Vulture Stone" ("Pedra do Abutre" ou "Pilar do Abutre", em português), também conhecida como "Pilar 43", que deveria ser um pilar como qualquer outro, mas para algumas pessoas ele simboliza o registro de um evento cataclísmico, possivelmente um cometa que se chocou contra o nosso planeta.

Vocês também podem conferir um pouco mais sobre o que estamos falando através de um pequeno documentário de cerca de 20 minutos sobre Göbekli Tepe que passou no programa "Enigmas do Passado" do National Geographic (dublado em português, até 20:42):



Assim como no documentário "Civilização Perdida", do History Channel, que também abordou rapidamente sobre Göbekli Tepe (dublado em português):



Esse é o assunto principal da nossa postagem, mas seria complicado dizer isso sem antes comentar sobre o sítio arqueológico, não é mesmo? Fiquem tranquilos(as), que ainda vamos falar rapidamente sobre o período "Dryas recente", para que vocês não fiquem perdidos em meio a tantos termos e informações estranhas. A seguir, vamos ver como essa história está circulando na internet.

Como Essa História Envolvendo a "Vulture Stone" e um Evento Cataclísmico Devido a Suposta Queda de um Cometa Está Sendo Noticiado Pela Mídia Internacional?


Como exemplo, vamos citar o que foi divulgado pelo Daily Mail (DM), mas poderia ser por qualquer outro site de notícias, visto que as distorções foram amplamente divulgadas por sites como Yahoo! e até mesmo pela revista "New Scientist", que se baseou apenas nas informações fornecidas pela agência de notícias britânica "Press Association", que curiosamente também esteve envolvida no caso dos "zumbis ingleses". Aparentemente, a falta de leitura é um problema crônico dessa agência.

Com dois títulos diferentes (um no endereço e outro na própria publicação), ou seja, "Gravuras em pedra confirmam que cometa atingiu a Terra há 13.000 anos" (no endereço) e "O violento nascimento do homem moderno: as incríveis gravuras em pedra antiga, que revelam como o impacto de um cometa devastador há 13.000 anos matou milhares, alterou o clima e desencadeou o surgimento das primeiras civilizações" (na publicação), o DM começou dizendo que os cientistas acreditavam, que símbolos antigos esculpidos em pedra, em um sítio arqueológico na Turquia, contavam a história sobre o impacto de um cometa devastador, que desencadeou uma "mini era glacial" há mais de 13.000 anos.

O DM começou dizendo que os cientistas acreditavam, que símbolos antigos esculpidos em pedra, em um sítio arqueológico na Turquia, contavam a história sobre o impacto de um cometa devastador, que desencadeou uma "mini era glacial" há mais de 13.000 anos
A evidência das esculturas, feitas em um pilar de pedra conhecido como "Vulture Stone" ("Pedra do Abutre" ou "Pilar do Abutre", em português) sugeria que um enxame de fragmentos de cometa atingiram a Terra por volta de 11.000 a.C. Acreditava-se que uma imagem de um homem sem cabeça simbolizasse desastres humanos e uma extensa perda de vida. O evento devastador, que aniquilou criaturas como mamutes lanudos, também teria ajudado a desencadear o surgimento da civilização.

Os cientistas especularam durante décadas, que um cometa poderia ter causado a queda acentuada na temperatura durante um período conhecido como "Dryas recente". Esse período é visto como um momento crucial na história da humanidade, uma vez que coincide com os primórdios da agricultura e as primeiras civilizações neolíticas.

A evidência das esculturas, feitas em um pilar de pedra conhecido como "Vulture Stone" ("Pedra do Abutre" ou "Pilar do Abutre", em português) sugeria que um enxame de fragmentos de cometa atingiram a Terra por volta de 11.000 a.C. Acreditava-se que uma imagem de um homem sem cabeça simbolizasse desastres humanos e uma extensa perda de vida
Assim sendo, os cientistas estavam analisando os símbolos misteriosos esculpidos em pilares de pedra em Göbekli Tepe, na Turquia, para descobrir se eles poderiam estar relacionados as constelações. Engenheiros da Universidade de Edimburgo estudaram as gravuras de animais feitos em um pilar - conhecido como "Vulture Stone" - no sítio arqueológico.

Ao interpretar os animais como símbolos astronômicos, e usando software de computador para combinar suas posições com os padrões estelares, os pesquisadores dataram o evento em 10.950 a.C com uma margem de +/- 250 anos, sendo que o mesmo teria sido provavelmente resultante da fragmentação de um cometa gigante no Sistema Solar interior.

Ao interpretar os animais como símbolos astronômicos, e usando software de computador para combinar suas posições com padrões estelares, os pesquisadores dataram o evento em 10.950 a.C. Essa imagem mostra a posição do Sol e das estrelas durante o solstício de verão de 10.950 a.C.
O céu em 10.700 a.C (imagem superior) e 11.200 a.C. (imagem inferior), sendo avisto avistado a partir de Sanliurfa (próximo de Göbekli Tepe) e diante de uma margem de erro de mais ou menos 250 anos.
Além disso, teria sido por volta dessa mesma época, que o período chamado de "Dryas recente" teria começado, ao menos de acodo com os dados do núcleo de gelo da Groelândia, nos quais apontam que esse período teria iniciado em 10.890 a.C. Antes da queda do cometa, grandes campos de cevada e trigo permitiam que os caçadores itinerantes no Oriente Médio criassem campos base permanentes. Contudo, as gélidas condições criadas pelo impacto teriam forçado essas caçadores a se juntarem e encontrar novas maneiras de cultivar. Assim sendo, eles teriam desenvolvido a irrigação e a reprodução seletiva para enfrentar o clima severo formando as práticas agrícolas modernas.

O DM ainda apontou que, segundo os pesquisadores de Edimburgo, as gravuras esculpidas na rocha pareciam ter permanecido importantes para o povo de Gobekli Tepe durante milênios. Isso sugeria que o evento e clima frio que se seguiu, provavelmente gerou um sério impacto. A equipe sugeriu, que as imagens tinham a pretensão de registrar um evento cataclísmico. Além disso, o simbolismo nos pilares indicava que, as mudanças de longo prazo no eixo de rotação da Terra, foram registradas naquela época, usando uma forma inicial de escrita. O simbolismo sugeria que Gȍbekli Tepe era um observatório para meteoros e cometas.

O DM ainda apontou que, segundo os pesquisadores de Edimburgo, as gravuras esculpidas na rocha pareciam ter permanecido importantes para o povo de Gobekli Tepe durante milênios. Isso sugeria que o evento e clima frio que se seguiu, provavelmente gerou um sério impacto
A descoberta apoia uma teoria, que a Terra provavelmente experimentará períodos em que os impactos de cometas serão mais prováveis, devido à órbita da Terra, que interceptaria a órbita de anéis de fragmentos de cometas no espaço.

"Acredito que essa pesquisa, juntamente com a recente descoberta de uma ampla anomalia de platina em todo o continente norte-americano, virtualmente selam o caso em favor de um impacto de cometa no período Dryas recente. Nosso trabalho serve para reforçar essa evidência física. O que está acontecendo aqui é o processo de mudança de paradigma", disse o Dr. Martin Sweatman, da Escola de Engenharia da Universidade de Edimburgo, que participou do estudo.

A descoberta apoia uma teoria, que a Terra provavelmente experimentará períodos em que os impactos de cometas serão mais prováveis, devido à órbita da Terra, que interceptaria a órbita de anéis de fragmentos de cometas no espaço
"Parece que Göbekli Tepe era, entre outras coisas, um observatório para monitorar o céu noturno. Um de seus pilares parece ter servido como um memorial para este evento devastador - provavelmente o pior dia da história desde o fim da Era do Gelo", completou.

Uma Rápida Explicação Sobre o Período "Dryas Recente" e suas Controvérsias


Antes de mostrarmos a realidade por trás desse "estudo científico"é necessário darmos uma rápida passada e mostrar para vocês o que teria sido o período "Dryas recente". Tentarei não me alongar muito nessa parte, visto que a mesma é recheada de controvérsias por todos os lados.

Bem, o período "Dryas recente"é um período geológico compreendido entre 12.900 a.C. e 11.700 a.C., no qual aconteceu um declínio acentuado das temperaturas sobre a maior parte do Hemisfério Norte, no final do Pleistoceno, precedendo imediatamente o Holoceno, que por sua vez se estende até hoje. Todas as formas de vida que conhecemos estão presentes, com destaque para os seres humanos, visto que nossa civilização se organizou e foi capaz de produzir artefatos tecnológicos, como uma lança ou um computador moderno, algo que nenhuma outra espécie do planeta conseguiu realizar ao longo da história.

Bem, o período "Dryas recente"é um período geológico compreendido entre 12.900 a.C. e 11.700 a.C., no qual aconteceu um declínio acentuado das temperaturas sobre a maior parte do Hemisfério Norte, no final do Pleistoceno, precedendo imediatamente o Holoceno, que por sua vez se estende até hoje
 É interessante destacar nesse ponto que o "Dryas recente" marca um período emblemático de interrupção no aumento das temperaturas, que vinha ocorrendo durante o último período glacial, e durou apenas cerca de 1.400 anos, em constraste com as dezenas ou centenas de milhares de anos de eras glaciais anteriores. Resumindo? Algo muito específico e de curta duração teria acontecido nesse período. O problema é que até hoje ninguém sabe o que aconteceu, sendo justamente esse ponto o grande centro das atenções sobre esse assunto.

Acredita-se que todo esse caos climático, que afetou a agricultura, a fauna e flora, provocou o aumento do nível dos oceanos, entre outros efeitos diversos e complexos, tenha sido causado por um declínio na força de circulação meridional do Atlântico, que transporta água quente do Equador para o Polo Norte, que por sua vez teria sido provocada por repentino influxo de água gelada da América do Norte, a partir do Lago Agassiz, assim como a deglaciação dessa parte superior do próprio continente, no Atlântico Norte.

Acredita-se que todo esse caos climático, que afetou a agricultura, a fauna e flora, provocou o aumento do nível dos oceanos, entre outros efeitos diversos e complexos, tenha sido causado por um declínio na força de circulação meridional do Atlântico, que transporta água quente do Equador para o Polo Norte, que por sua vez teria sido provocada por repentino influxo de água gelada da América do Norte, a partir do Lago Agassiz, assim como a deglaciação dessa parte superior do próprio continente, no Atlântico Norte
Uma teoria alternativa sugere que essa força de circulação, conhecida como "Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico", teria se deslocado para o norte, em resposta à alteração forçada da topografia devido ao derretimento da camada de gelo da América do Norte, trazendo assim mais chuva para o Atlântico Norte, que por sua vez teria resfriado a superfície do oceano o suficiente para retardar a circulação termohalina.

Meio complicado, não é mesmo? Por outro lado, há quem acredite em um hipótese bem mais simples: o impacto de um asteroide ou cometa na Terra. Contudo, provar qualquer uma dessas teorias não é tão simples quanto imaginá-las. Vamos conhecer algumas controvérsias geradas ao longo do tempo.

Uma teoria alternativa sugere que essa força de circulação, conhecida como "Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico", teria se deslocado para o norte, em resposta à alteração forçada da topografia devido ao derretimento da camada de gelo da América do Norte, trazendo assim mais chuva para o Atlântico Norte, que por sua vez teria resfriado a superfície do oceano o suficiente para retardar a circulação termohalina
Essa história sobre o impacto de asteroide ou cometa teria começado em 2007, quando uma equipe de cientistas anunciou evidências de um grande impacto extraterrestre, que teria ocorrido há cerca de 12.900 anos. O impacto teria causado um súbito arrefecimento do clima norte-americano, matando mamutes e outras megafaunas. A evidência apresentada por esses cientistas, e que tem sido amplamente contestada desde a primeira vez que foi apresentada, incluiu diversos tipos de "marcadores de impacto", algumas vezes encontrados quando objetos extraterrestres colidem contra a Terra. Esses supostos marcadores incluem grãos incomuns de uma forma rica em titânio de magnetita mineral, pequenas esférulas magnéticas, e níveis elevados de irídio, um elemento relativamente raro, que é mais comum em objetos extraterrestres do que na crosta terrestre.

Esses pesquisadores descobriram que todos esses marcadores estariam inseridos em camadas incomuns de sedimentos escuros, ricos em matéria orgânica, que os cientistas geralmente chamam de "esteiras pretas". Eles observaram que esses estratos eram vestígios de antigos brejos e pântanos e, em muitos locais da América do Norte, especialmente no Sudoeste do Continente Americano, essas "esteiras pretas" começaram a se acumular no início do período "Dryas recente". Alguns paleontólogos observaram que essas "esteiras negras" muitas vezes são uma espécie de linha divisória entre os sedimentos mais antigos, contendo fósseis da megafauna da Era do Gelo, e os sedimentos mais jovens que não os possuem. Alguns arqueólogos também observaram que as "esteiras pretas" parecem marcar o desaparecimento da cultura Clóvis, porque as distintas pontas de lança que eles produziam são comuns nos sedimentos inferiores das camadas, mas não aparecem nas camadas superiores.

Essa história sobre o impacto de asteroide ou cometa teria começado em 2007, quando uma equipe de cientistas anunciou evidências de um grande impacto extraterrestre, que teria ocorrido há cerca de 12.900 anos. O impacto teria causado um súbito arrefecimento do clima norte-americano, matando mamutes e outras megafaunas
De acordo com a hipótese do impacto de um cometa, divulgada em 2007, grandes quantidades de calor geradas pela explosão do cometa, quebraram e derreteram grande parte da camada de gelo, em algum local sobre a parte leste do Canadá, fazendo com que o Atlântico Norte recebesse subitamente uma grande quantidade de água gelada, interrompendo a circulação oceânica, o que provocou um frio prologado, desaparecendo com a cultura Clóvis e arrematando a última megafauna da Era do Gelo. Entenderam o esquema? Essa explosão ainda teria gerado uma avassaladora onda de calor, viajando a centenas de quilômetros por hora, que teria provocado extensos incêndios florestais por todo o continente. Enfim, é basicamente isso que vocês precisam saber.

Conforme mencionei anteriormente, há quem tenha refutado toda essa história. Em janeiro de 2009, pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, publicaram um estudo colocando essa teoria à prova ao examinar os registros de carvão e pólen, de modo a avaliar como o regime de incêndios na América do Norte mudou entre 15 e 10 mil anos atrás, uma época de grandes e rápidas mudanças climáticas. Os resultados não forneciam evidências para incêndios em escala continental, mas apoiavam o fato de que o aumento de incêndios em larga escala em todas as regiões do mundo, durante a década anterior, estava relacionado a um aumento no chamado "Aquecimento Global".

Conforme mencionei anteriormente, há quem tenha refutado toda essa história. Em janeiro de 2009, pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, publicaram um estudo colocando essa teoria à prova ao examinar os registros de carvão e pólen, de modo a avaliar como o regime de incêndios na América do Norte mudou entre 15 e 10 mil anos atrás, uma época de grandes e rápidas mudanças climáticas. Os resultados não forneciam evidências para incêndios em escala continental.
Em dezembro daquele mesmo ano, uma equipe internacional de cientistas liderada por pesquisadores da Universidade do Havaí, em Manoa, nos Estados Unidos, também não encontrou evidências que apoiassem um evento de impacto extraterrestre no início do período "Dryas recente", há 13 mil anos. Além disso, eles adicionaram outros argumentos contra essa hipótese do cometa, uma vez que, por exemplo, não existe nenhuma cratera de impacto conhecida. Um evento dessa magnitude deveria ter provocado uma cratera bem generosa no solo. Há outros argumentos, mas vou pular essa parte para não ficar cansativo para vocês.

Em dezembro daquele mesmo ano, uma equipe internacional de cientistas liderada por pesquisadores da Universidade do Havaí, em Manoa, nos Estados Unidos, também não encontrou evidências que apoiassem um evento de impacto extraterrestre no início do período "Dryas recente", há 13 mil anos
Podemos ainda citar outro exemplo, diante de um estudo publicado por dois arqueólogos norte-americanos (um da Universidade do Arizona e outro da Universidade Metodista do Sul), em 2010, onde eles argumentaram que não há nada no registro arqueológico, que poderia sugerir um colapso repentino da cultura Clóvis.

Eles acreditavam que o desaparecimento das pontas de lança da cultura Clóvis era mais provável de ter sido uma escolha cultural do que um colapso da população. Eles concluíram que não havia dados convincentes para indicar que os Paleoindianos da América do Norte tiveram que lidar com ou foram afetados por uma catástrofe, extraterrestre ou de alguma outra forma, no Pleistoceno terminal.

Os arqueólogos acreditavam acreditavam que o desaparecimento das pontas de lança da cultura Clóvis era mais provável de ter sido uma escolha cultural do que um colapso da população. Eles concluíram que não havia dados convincentes para indicar que os Paleoindianos da América do Norte tiveram que lidar com ou foram afetados por uma catástrofe, extraterrestre ou de outra forma, no Pleistoceno terminal
Por outro lado, também conforme dissemos anteriormente, há que tente até hoje apresentar evidências para a teoria de um impacto cósmico. Um exemplo disso foi um estudo publicado em 2013 que, usando dados do núcleo de gelo da Groenlândia, Michail Petaev e seus colegas da Universidade de Harvard descobriram o que parecia ser evidência desse impacto. Eles descobriram que a concentração de platina aumentou em cerca de 100 vezes, há aproximadamente 12.900 anos.

As taxa de platina/irídio e platina/alumínio estavam muito elevadas, indicando, que a platina provavelmente não possuía uma fonte terrestre. Enquanto a maioria das rochas vulcânicas possui altas relações de Pt/Ir, suas taxas de Pt/Al são baixas. Por outro lado, as taxas de Pt/Ir e Pt/Al em meteoritos de ferro magmáticos são muito altas, sugerindo que a platina encontrada no núcleo de gelo teria vindo de um meteoro. De qualquer forma, Michail Petaev e seus colegas advertiram, que os próximos pesquisadores precisariam, essencialmente, localizar um local de impacto para confirmar essa hipótese.

Um exemplo disso foi um estudo publicado em 2013 que, usando dados do núcleo de gelo da Groenlândia (a foto ilustra um exemplo de núcleo de gelo obtido na Groelândia), Michail Petaev e seus colegas da Universidade de Harvard descobriram o que parecia ser evidência desse impacto
Evidentemente, fizemos um grande resumo sobre toda essa controvérsia para vocês, apontando os diversos lados dessa história. Porém, é importante destacar que essa é uma briga, que chamaríamos de "cachorro grande", ou seja, entre arqueólogos, paleontólogos, geólogos, astrônomos etc. Pesquisadores e cientistas munidos com muitos dados, muito tempo de pesquisa científica séria e robusta (apesar de algumas falhas ou falta de dados suficientemente claros e mais abrangentes), sendo submetidos o tempo todo a refutações e eventuais corroborações. Esse é um assunto complexo, que não se resolve da noite para o dia. Então, vocês já devem imaginar o que vem a seguir.

A Realidade Por Trás de Todo o Estudo Relacionado ao Sítio Arqueólogico "Göbekli Tepe" e a Possível Queda de um Cometa


O estudo que partiu da Universidade de Edimburgo, na Escócia, possui três pontos muito críticos. Vamos comentar sobre cada um deles para vocês entenderem exatamente os problemas apresentados.

O Primeiro Ponto: Os Autores do Estudo não São Arqueólogos, Geólogos, Paleontólogos e nem mesmo Astrônomos


Não há a participação de nenhum arqueólogo, paleontólogo, geólogo ou astrônomo nesse estudo. Os dois autores, o Dr. Dimitrios Tsikritsis e o Dr. Martin Sweatman, pertencem a Escola de Engenharia da Universidade de Edimburgo.

Não há a participação de nenhum arqueólogo, paleontólogo, geólogo ou astrônomo nesse estudo. Os dois autores, o Dr. Dimitrios Tsikritsis e o Dr. Martin Sweatman, pertencem a Escola de Engenharia da Universidade de Edimburgo (na foto)
Para vocês terem uma ideia, a única informação disponível é que o Dr. Dimitrios Tsikritsis pertenceria ao Instituto de Bioengenharia. Já o Dr. Martin Sweatman pertenceria ao Instituto de Materiais e Processos, possuiria interesse na área de Mecânica Estatística no campo da Engenharia Química, e teria PhD em Física Teórica pela Universidade de Bristol. Nenhum deles demonstra ter qualquer experiência em analisar símbolos antigos esculpidos em megalitos de quase 10.000 anos a.C., e não possuem qualquer experiência arqueológica prévia.

O Segundo Ponto: A Inspiração em Graham Hancock e Andrew Collins


Talvez o ponto mais extenso entre os três, é que estudo foi basicamente inspirado por um livro chamado "Göbekli Tepe: Genesis of the Gods: The Temple of the Watchers and the discovery of Eden" do autor Andrew Collins, que tem uma corrente de pensamento muito semelhante ao Graham Hancock. Calma, vou explicar essa situação para vocês e mostrar o quão caótico isso pode ser quando aplicado a um estudo teoricamente científico. Acompanhem a pequena saga logo abaixo:

Graham Hancock, 66 anos, é um escritor e jornalista britânico, que se "especializou" ao longo do tempo em "teorias não convencionais", que envolvem civilizações antigas, monumentos de pedras ou megalitos, estados alterados da consciência, mitos antigos e dados astronômicos/astrológicos do passado. Um dos principais temas abordados em seus livros seria uma espécie de conexão global com uma "cultura mãe" de onde ele acredita que todas as civilizações antigas surgiram. No entanto, seu trabalho é visto como um exemplo clássico de pseudoaqueologia, sendo que nada do que fez até hoje foi revisado por pares, e nem mesmo aceito em periódicos acadêmicos.

Graham Hancock, 66 anos, é um escritor e jornalista britânico, que se "especializou" ao longo do tempo em "teorias não convencionais", que envolvem civilizações antigas, monumentos de pedras ou megalitos, estados alterados da consciência, mitos antigos e dados astronômicos/astrológicos do passado
Em um artigo publicado no "The Guardian" em fevereiro de 2002, Graham Hancock, com 51 anos na época, fez a seguinte declaração: "Não sou um acadêmico; Não sou um arqueólogo. Eu sou um escritor, comunicando ideias ao público. Existe um modelo de como o passado é, e um monte de acadêmicos arqueólogos estão refinando esse modelo. Não se trata de mudar radicalmente o modelo. Não estou ciente de qualquer corrente que seja, sobre mudar radicalmente o modelo. Sério, sou apenas eu."

Agora repare em outro artigo postado em outubro de 2015, quando Graham Hancock foi entrevistado pelo britânico Daily Telegraph. No artigo escrito pelo jornalista Rupert Hawksley, o público é informado que Hancock não tem qualificações formais em Arqueologia, História ou Astronomia. Seu interesse de longa data em drogas alucinógenas também não colaborou em relação a sua reputação. Porém, o autor disse que nunca alegou ser um acadêmico. Ele se apresenta como um jornalista que está simplesmente relatando teorias por cientistas que acreditam que podem preencher algumas das lacunas na história da humanidade - buracos previamente conhecidos pelos acadêmicos do chamado "mainstream" (uma espécie de "principal corrente de pensamento").

No artigo escrito pelo jornalista Rupert Hawksley, o público é informado que Hancock não tem qualificações formais em Arqueologia, História ou Astronomia. Seu interesse de longa data em drogas alucinógenas também não colaborou em relação a sua reputação
Em um livro chamado "Fingerprints of the Gods", lançado em 1995, Hancock tentou sustentar que alguma civilização antiga e enigmática, porém altamente avançada, teria existido na pré-história, e teria servido como "civilização progenitora" comum a todas as civilizações antigas conhecidas. O autor propôs que, em algum momento por volta do fim da última Era do Gelo, essa civilização sucumbiu devido a um cataclisma, mas que transmitiu para os seus "herdeiros" um profundo conhecimento sobre astronomia, arquitetura e matemática.

A teoria basicamente baseia-se na ideia de que as principais interpretações de evidências arqueológicas são falhas e incompletas, e obviamente inúmeros pontos foram refutados dezenas de vezes ao longo dos anos por arqueólogos. De qualquer forma, Graham praticamente rascunhou nesse livro, que o tal cataclisma poderia ter sido devido a um "impacto cósmico" (ele meio que deixa isso em aberto). Para vocês terem uma ideia o livro teria feito muito sucesso e vendido mais 9 milhões de cópias. Então, ao longo de 20 anos, Graham acabou fazendo "escola", ou seja, mais escritores surgiram com pensamentos semelhantes ao dele. Um deles, como vocês devem imaginar, é justamente o Andrew Collins.

Em um livro chamado "Fingerprints of the Gods", lançado em 1995, Hancock tentou sustentar que alguma civilização antiga e enigmática, porém altamente avançada, teria existido na pré-história, e teria servido como "civilização progenitora" comum a todas as civilizações antigas conhecidas
O Andrew Collins possui até mesmo uma página dedicada a ele e seus livros dentro do site do Graham Hancock, onde ele é apontado como um escritor e explorador histórico que vive no Reino Unido, sendo o autor de mais de uma dúzia de livros que "desafiam a maneira como percebemos o passado". Novamente, pelo que tudo indica, estamos diante de alguém sem nenhuma qualificação acadêmica. Em alguns sites também é informado que ele se tornou um investigador do fenômeno OVNI na adolescência e que a investigação de um caso de abdução teria mudado a sua vida. Assim sendo, ele teria se tornado jornalista, escrevendo para a revista "Strange Phenomena", e procurou abertamente a ajuda de médiuns em uma tentativa de compreender melhor a relação entre "OVNIs, sítios pré-históricos, as energias terrestres e a mente humana". O próprio Google menciona, que Andrew Collins seria o fundador da "busca psíquica", método através do qual sonhos e visões são usados para descobrir artefatos ocultos e descobrir mistérios do passado e do presente.

Apesar do estudo dos engenheiros da Universidade de Edimburgo não mencionar o nome de Graham Hancock, ele se inspiraram e citaram claramente o Andrew Collins, juntamente com seu livro "Göbekli Tepe: Genesis of the Gods: The Temple of the Watchers and the discovery of Eden", publicado em 2014, em uma linha de pensamento muito similar ao livro "Magicians of the Gods", que seria lançado um ano depois (em 2015) pelo próprio Graham Hancock. Ambos tratam basicamente da suposta exploração do complexo megalítico de Göbekli Tepe, tentando responder quem o construiu, sua arquitetura, os detalhes das figuras esculpidas nas pedras e principalmente como isso teria sido construído como reação a um cataclisma global. Graham Hancock cita amplamente todos os estudos científicos que indicam isso, mas obviamente falha em mostrar o outro lado da moeda e quão controverso continua sendo esse assunto. Andrew Collins ganhou destaque porque, teoricamente, teria sido o primeiro a sugerir uma eventual relação entre Göbekli Tepe e um evento cataclísmico de ordem global provocado por um suposto cometa.

Apesar do estudo dos engenheiros da Universidade de Edimburgo não mencionar o nome de Graham Hancock, ele se inspiraram e citaram claramente o Andrew Collins, juntamente com seu livro "Göbekli Tepe: Genesis of the Gods: The Temple of the Watchers and the discovery of Eden", publicado em 2014...
... em uma linha de pensamento muito similar ao livro "Magicians of the Gods",
que seria lançado um ano depois (em 2015) pelo próprio Graham Hancock
Sei que me alonguei um pouco nessa parte, mas era necessário que você entendesse que a situação é realmente bem caótica em termos de credibilidade do estudo em questão, principalmente em relação a dois trechos onde fica bem fica explícita a influência da "escola" de Graham Hancock, e também do autor Andrew Collins.

O primeiro deles está na página 9, onde os autores do estudo dizem ser "muito provável", que imagens em baixo relevo de animais, nos pilares, representem constelações (asterismos), sendo que a "Vulture Stone" (pilar 43) teria uma datação correspondente ao ano 10.950 a.C com uma margem de +/- 250 anos. Aqui residem dois problemas. O primeiro é assumir que os desenhos realmente representem constelações, e não as diversas outras hipóteses já formuladas por arqueólogos. O segundo é que eles não fizeram nenhuma nova datação por radiocarbano desse pilar, simplesmente se basearam em uma "análise estatística". Além disso, eles fazem a seguinte declaração: "Entretanto, a nossa interpretação de alguns dos símbolos abstratos e a conexão com o período Dryas recente é bem especulativo nesse ponto."

Aqui residem dois problemas. O primeiro é assumir que os desenhos realmente representem constelações, e não as diversas outras hipóteses já formuladas por arqueólogos. O segundo é que eles não fizeram nenhuma nova datação por radiocarbano desse pilar, simplesmente se basearam em uma "análise estatística"
Já o segundo trecho vem logo a seguir, ainda na página 9, em relação ao pilar 18, que seria praticamente abstrato, sendo que uma "raposa" seria o único animal esculpido no pilar, cujo significado é desconhecido. Os autores questionaram que, considerando "o tema astronômico" e asterismos, se a raposa não poderia ter nenhum significado nesse sentido. Aliás, presumindo que o pilar 43 estivesse relacionado ao "hipotético" Dryas recente, e considerando que o principal fator desencadeador do mesmo estivesse relacionado a cometas, os autores acreditavam que valia a pena questionar se outros símbolos estariam relacionados a cometas e chuvas de meteoros. Assim sendo, até onde eles sabiam, o primeiro a propor isso teria sido o Andrew Collins, mas seus argumentos seriam limitados:
  • A "fivela de cinto", que consiste em formas aninhadas de "U"é uma boa representação do arco da onda de choque, que um bólido cria conforme ele penetra a atmosfera da Terra. Collins fornece uma comparação muito clara de ambos;
  • O simbolismo da raposa indica uma espécie de "pegadinha cósmica", e as caudas de raposa ocasionalmente foram usadas para representar cometas no folclore e na mitologia. Porém, acredita-se que os lobos eram mais frequentemente usados para simbolizar cometas. Talvez os mitos da raposa e do lobo estivessem relacionados.
Foto da do pilar 18 (à esquerda). Segundo os autores, a "fivela de cinto", que consiste em formas aninhadas de "U"é uma boa representação do arco da onda de choque, que um bólido cria conforme ele penetra a atmosfera da Terra (imagem do canto superior e inferior direito). O simbolismo da raposa indica uma espécie de "pegadinha cósmica", e as caudas de raposa ocasionalmente foram usadas para representar cometas no folclore e na mitologia
Nisso os autores dizem que a "fivela de cinto" seria uma "excelente semelhança" de uma onda de choque muito específica de um objeto esférico hipersônico, mas o Collins não aponta maiores detalhes ou fontes sobre essa alegação. Dizem também que o simbolismo da raposa é problemático e que talvez ela representasse uma constelação. Então, os autores dizem que as "cobras" são as representações mais usadas em Göbekli Tepe, embora nenhuma apareça no pilar 18.

De acordo com eles, cobras e serpentes representam muitas vezes morte e destruição na mitologia. Para completar, a serpente seria uma bom símbolo para representar a trajetória de um meteoro. Na parte final do "estudo" eles dizem acreditar que a raposa, por uma série de motivos, representaria o norte da constelação de Aquário.

De acordo com os autores, cobras e serpentes representam muitas vezes morte e destruição na mitologia.
Para completar, a serpente seria uma bom símbolo para representar a trajetória de um meteoro
Uma das coisas mais estranhas dessa história é o total desprezo pelas dezenas de outras interpretações sobre a simbologia das serpentes e suas mais variadas utilizações no decorrer da história da humanidade. Não somente em termos geográficos, mas também religiosos. Vale lembrar nesse ponto, que a serpente é o mais significativo e complexo de todos os símbolos animais e, talvez, o mais antigo. As serpentes esculpidas em chifres no paleolítico, na África, ou desenhadas nas paredes das rochas eram basicamente símbolos de fertilidade ou da chuva, e o simbolismo da fertilidade sexual ou agrícola permaneceu como um elemento básico na maioria dos cultos posteriores à serpente.

A serpente era, acima de tudo, um símbolo mágico da força da vida primitiva, às vezes uma imagem da própria divindade criadora. Enfim, eu poderia passar horas aqui falando sobre a simbologia das serpentes e, ainda assim, a parte referente sobre "morte e destruição" ocuparia bem menos que um parágrafo. Obviamente, os autores não tinham interesse nisso e, valendo-se de uma interpretação meramente especulativa e nem um pouco científica, taxaram as curvas sinuosas presentes nos pilares como cobras ou serpentes e adotaram a versão que eles quiseram. Aliás, desde quando um traçado sinuoso poderia representar a trajetória de um meteoro ou cometa?

O Terceiro Ponto: Segundo os Próprios Autores, o "Estudo" Não Pode Confirmar a Queda de um Cometa


Seria cômico se não fosse trágico. Lembram que os sites de notícias deram essa informação, dizendo que os cientistas confirmaram que a "Vulture Stone" representava a queda de um cometa, destruição, "mini era glacial", e teria desencadeado o surgimento das primeiras civilizações? Pois bem, reparem bem nos que os autores escreveram na conclusão do "estudo": "De acordo com o ponto de vista catastrofista, o evento 'Dryas recente' foi provavelmente causado por um 'encontro cometário com o complexo taurídeo.'Agora, podemos confirmar isso? Não."

Pois bem, reparem bem nos que os autores escreveram na conclusão do "estudo": "De acordo com o ponto de vista catastrofista, o evento 'Dryas recente' foi provavelmente causado por um 'encontro cometário com o complexo taurídeo.'Agora, podemos confirmar isso? Não."
Os autores ainda tentaram relevar a situação sobre o que "eles podiam dizer", mas ficou bem claro que eles não podiam confirmar absolutamente nada sobre a queda de um cometa ou meteoro. Sinceramente, não sei dizer como isso passou em um períodico revisado por pares. Poderia ser pela baixa notoriedade do períodico ou então focaram apenas em verificar o modelo "estatístico" utilizado e o programa de computador pra tentar simular o céu noturno há 13.000 anos atrás, algo considerado surreal, mas que eles acreditavam que o software utilizado por eles tinha a resposta para essa questão.

Simplificando Toda Essa História: Até Mesmo o Andrew Collins Rechaçou o "Estudo" e fez Questão de Mencionar que Tudo Isso Seria Apenas uma Simples Teoria


Nessa parte final da postagem, acho que seria interessante resumir e simplificar toda essa história para vocês, principalmente para aqueles que chegaram meio perdidos até esse ponto. Bem, vamos começar a tentar fazer um apanhado geral para vocês, utilizando como base o artigo escrito pelo Jason Colativo sobre esse assunto.

O artigo chamado "Decoding Göbekli Tepe with Archaeoastronomy: What Does the Fox Say?" ("Decodificando Göbekli Tepe com Arqueoastronomia: O que diz a Raposa?", em português) foi publicado no periódico "Mediterranean Archaeology and Archaeometry" Vol. 17, Nº 1, (2017), pp. 233-250. O mesmo foi escrito por Martin B. Sweatman e Dimitrios Tsikritsis, ambos engenheiros (ou seja, não são arqueólogos) da Escola de Engenharia da Universidade de Edimburgo. Por mais que os autores não citem Graham Hancock, eles citam Andrew Collins e listam em sua bibliografia a maioria dos mesmos artigos sobre o impacto de um suposto cometa no período Dryas recente, que Graham Hancock menciona. Além disso, existe mais uma evidência dessa proximidade de pensamento em relação a Hancock e especialmente Collins, quando os autores dizem que Göbekli Tepe deve se interpretado astronomicamente. No entanto, não é oferecida nenhuma boa garantia de que "se" a interpretação artística deles estiver correta, então o catastrofismo é verdadeiro e "as implicações são sensacionais."

O artigo chamado "Decoding Göbekli Tepe with Archaeoastronomy: What Does the Fox Say?" ("Decodificando Göbekli Tepe com Arqueoastronomia: O que diz a Raposa?", em português) foi publicado no periódico "Mediterranean Archaeology and Archaeometry" Vol. 17, Nº 1, (2017), pp. 233-250
Observe os problemas lógicos: Os autores presumiram que o cometa realmente atingiu a Terra (algo que não existe nenhum consenso até hoje), presumindo que Göbekli Tepe deveria ser entendido astronomicamente (algo que também não há nenhum consenso) e, portanto, eles usam essas suposições para provar que o cometa atingiu a Terra, e que isso foi registrado em Göbekli Tepe.

Os autores começam com uma suposição, em que não há fundamento sólido - a mesma que Graham Hancock usou a partir de fontes seletivas - que os animais encontrados nos pilares de Göbekli Tepe representam constelações do sistema de constelações babilônico/grego, particularmente Escorpião. Por diversas razões isso é profundamente incerto. Isso porque as constelações zodiacais, tal como as conhecemos, não são demonstradas em uma data tão longíqua quanto a Era do Gelo, principalmente pela pouca evidência da existência delas antes de 500 a 1.000 a.C. Ainda que acrescentemos mais 10.000 anos nessa conta, ainda sequer chegamos no momento em que os autores presumem que elas existiam no céu noturno.

Por mais que os autores reconheçam, ainda que de forma vaga, que isso é um problema, eles se relacionam com Hancock e Collins - às vezes quase literalmente - ao atribuir formatos a partir de animais e figuras dos pilares tentando encaixá-los em padrões estelares no céu moderno. Ambos os conjuntos de escritores enfatizam a importância do asterismo denominado de "O Bule de Chá" em relação a Sagitário e, estranhamente, também trazem à tona os potenciais alinhamentos astronômicos do sítio arqueológico para provar que podem estar certos.

Ambos os conjuntos de escritores enfatizam a importância do asterismo denominado de "O Bule de Chá" (na foto) em relação a Sagitário e, estranhamente, também trazem à tona os potenciais alinhamentos astronômicos do sítio arqueológico para provar que podem estar certos
Com base no pressuposto de que as figuras são estelares, os autores concluem que as imagens no pilar 43 representam o seu noturno em 10.950 a.C, o ano do cometa. Isso pressupõe uma exatidão excepcional, e todos nós sabemos que, devido ao lento deslocamento das estrelas, uma tolerância razoável poderia cobrir um longo período de ambos os lados dessa data. Uma vez que seja razoavelmente próximo de quando se acredita que o sítio tenha sido construído, imediatamente podemos nos perguntar o porquê devemos concluir que as imagens, mesmo que representem estrelas, estejam indicando um cometa em vez de, digamos, o céu no momento que os pilares foram erguidos.

Isso fica ainda pior com os autores argumentando que os símbolos específicos são "consistentes" com cometas, ou seja, "fivelas de cinto" e "cobras". A questão é, como se sabe que as pessoas que criaram Göbekli Tepe os usavam para essa finalidade? Os autores parecem acreditar que os formatos, em sua maioria curvos, se parecem exatamente com a trajetória de um cometa hipotético.

A questão é, como se sabe que as pessoas que criaram Göbekli Tepe os usavam para essa finalidade? Os autores parecem acreditar que os formatos, em sua maioria curvos, se parecem exatamente com a trajetória de um cometa hipotético
Agora, a pior parte mesmo é chancelar um "estudo" altamente especulativo como esse, e colocá-lo em um período científico como se fosse uma espécie de confirmação científica para algo que não se sabe até hoje. Para vocês terem uma ideia, até o próprio Andrew Collins ficou com um certo "pé atrás" perante toda essa história, e por incrível que pareça rechaçou o estudo. Vou terminar essa postagem com os três primeiros parágrafos que ele escreveu em uma sobre esse assunto. Confiram abaixo a tradução do mesmo:

"Uma nova teoria alega que a Vulture Stone (pilar 43) em Göbekli Tepe, é um retrato do céu em 10.950 a.C. mostrando a data e o horário do impacto de um cometa. A mesma interpreta o proeminente relevo de um abutre como sendo a constelação de Sagitário, algo defendido por Graham Hancock em 'Magicians of the Gods'. A mesma também interpreta todos os seus outros relevos esculpidos de animais como constelações, e identifica o objeto em formato de bola, acima da asa do abutre central do pilar, como sendo o Sol. Uma vez que esse artigo é escrito por dois acadêmicos e publicado em um jornal acadêmico suas alegações sensacionalistas e um tanto quanto rebuscadas foram disseminadas pelos meios de comunicação internacionais e até mesmo pela revista 'The New Scientist'

Embora, assim como observei em meu livro de 2014, chamado 'Göbekli Tepe: Genesis of the Gods', os primeiros pilares de Göbekli Tepe foram construídos quase certamente como uma resposta ao chamado 'evento do impacto de um cometa em 10.800 a.C' do período Dryas recente. Talvez os mesmos tivessem sido usados pelos xamãs para se opor as influentes ameaças de cometas. A aparência do pilar 43 muito provavelmente relaciona-se com as primeiras crenças e práticas neolíticas a respeito da viagem da alma do plano terrestre ao reino do mortos, algo que já foi aceito por alguns arqueólogos que trabalharam no sítio arqueológico. Essa nova teoria do impacto do cometa ignora o fato de que o professor Klaus Schmidt identificou o objeto em formato de bola, acima da asa do abutre, como sendo uma cabeça humana desencarnada, um símbolo abstrato da alma humana e não leva em consideração que as estrelas de Sagitário nunca foram vistas no antigo Oriente Próximo como um abutre, o pássaro mais comumente visto como guia das almas ou pássaro da alma no mundo Neolítico Pré-Cerâmico em sítios arqueológicos tais como: Göbekli Tepe, Nevali Çori e Çatal Höyük na Turquia, e Jerf el-Ahmar, no norte da Síria. Todas as indicações são de que o pilar 43 reflete a viagem da morte da alma ao mundo dos céus. Contudo, uma vez que essa nova teoria foi proposta por dois acadêmicos, ela ganhou as manchetes internacionais.

Para vocês terem uma ideia, até o próprio Andrew Collins (na foto) ficou com um certo "pé atrás" perante toda essa história, e por incrível que pareça rechaçou o estudo
Lembrem-se que isso é tão somente e simplesmente uma teoria. Só porque foi escrito por acadêmicos não a torna necessariamente correta. Além do mais, é apenas uma das diversas interpretações já aplicadas à extraordinária imagem esculpida na 'Vultore Stone' em Göbekli Tepe. Agora é a hora de criar teorias sobre as imagens esculpidas em Göbekli Tepe. Ainda mais importante é fazer previsões que possam ser confirmadas em futuras descobertas no sítio arqueológico. Os resultados das minhas próprias previsões sobre Göbekli Tepe e suas imagens serão publicada no novo livro chamado 'The Cygnus Key: The Denisovan Legacy, Göbekli Tepe and the Birth of Egypt', ainda esse ano"

Enfim, AssombradOs, acho que é isso. Finalmente chegamos ao fim dessa postagem, que acabou ficando mais longa do que eu previa. Eu podia ter colocado simplesmente o que estava sendo divulgado pela mídia internacional e destacar que os autores do estudo não podiam confirmar nada sobre a queda de um cometa. Porém, meu compromisso é com a veracidade dos fatos, mostrar exatamente quem são as pessoas envolvidas, e como determinados assuntos chegam de forma distorcida e fantasiosa até os olhos de vocês. Infelizmente, a informação no mundo está se tornando cada vez mais deturpada, com as pessoas se preocupando muito mais com o dinheiro que podem ganhar ao disseminar um conteúdo totalmente raso, do que realmente fornecer uma base de conhecimento para os leitores. Sempre que eu puder e tiver tempo disponível, tentarei elucidar essas questões para que vocês não sejam tão facilmente enganados.

Até a próxima, AssombradOs!

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://www.andrewcollins.com/page/articles/sagittarius.htm
http://www.arecatalog.com/Authors/Author/11/Andrew-Collins
http://www.bristol.ac.uk/news/2009/6123.html
http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-4432554/Stone-carvings-confirm-comet-hit-Earth-13-000-years-ago.html
http://www.heraldsun.com.au/news/special-features/in-depth/the-comet-that-smashed-atlantis-is-on-its-way-back-did-it-is-it/news-story/a4bbdc9812695fd8e2a63b7208ea5e84?nk=9604f3487ff696433a8e1c6141f400a9-1493237215
http://www.jasoncolavito.com/blog/academic-journal-runs-article-claiming-gobekli-tepe-records-comet-strike-misses-fact-that-article-is-based-on-speculative-andrew-collins-book
http://www.sciencemag.org/news/2012/04/no-love-comet-wipeout
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/asteroide_resfriou_o_planeta_ha_12_900_anos.html
https://badarchaeology.wordpress.com/2014/01/02/hancocks-fingerprints-of-the-gods-part-i-misunderstanding-early-modern-cartography/
https://br.noticias.yahoo.com/cometa-que-atingiu-terra-ha-13-mil-anos-causou-uma-mini-era-gelo-080705635.html
https://en.wikipedia.org/wiki/G%C3%B6bekli_Tepe
https://grahamhancock.com/author/andrew-collins/
https://grahamhancock.com/scientists-find-link-between-comet-and-asteroid-showers-mass-extinctions/
https://phys.org/news/2013-08-evidence-cosmic-impact-younger-dryas.html
https://tepetelegrams.wordpress.com/2017/04/21/archaeoastronomy-meteor-showers-mass-extinction-what-does-the-fox-say-and-what-the-crane-the-aurochs/
https://www.eurekalert.org/pub_releases/2009-12/uoha-aoe120709.php
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1994902/
https://www.newscientist.com/article/2128512-ancient-carvings-show-comet-hit-earth-and-triggered-mini-ice-age/
https://www.sciencedaily.com/releases/2010/09/100929171815.htm
https://www.theguardian.com/education/2002/feb/06/artsandhumanities.highereducation

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