Por Marco Faustino
Quem não gosta de uma boa história sobre fantasma? Em relação a esse tema tivemos diversas postagens bem interessantes, desde o início do mês de dezembro do ano passado. Entre os casos nacionais podemos citar dois ocorridos em Caldas Novas, no estado de Goiás. Um deles era sobre aquele suposto "fantasma", que teria aparecido na janela de um carro a caminho do Festival "Caldas Country Show", e o outro estaria relacionado aos supostos "fantasmas", que tinham sido registrados na academia de ginástica um hotel da cidade, por uma jovem paulistana que estava de férias. Já entre os casos internacionais os destaques ficaram por conta das supostas "vozes fantasmagóricas", que teriam sido gravadas por um caçador de aventuras em uma antiga mina de ouro abandonada, do rosto de um "fantasma" que teria aparecido durante uma investigação paranormal em túneis abandonados na Inglaterra, e o recente caso envolvendo a foto de um suposto "fantasma" de um menino de 12 anos, que poderia solucionar um "assassinato" ocorrido há mais de 500 anos. Não podemos nos esquecer, é claro, do icônico "Trisaksri Ghost Repellent", um dispositivo que prometia "afastar" e "destruir" supostos espíritos malignos, que havia sido lançado em 2009, mas que ganhou uma "nova versão" no ano passado. Aliás, dizer que aquilo pudesse funcionar para alguma coisa, exceto fazer você desperdiçar energia elétrica, é quase uma afronta a inteligência de qualquer pessoa.
Esse último caso é especialmente interessante, porque eu havia comentado que praticamente todos os "grupos paranormais" afirmam adotar métodos científicos, e a maioria dá essa impressão, porque eles utilizam equipamentos científicos de alta tecnologia, tais como contadores Geiger, detectores de campos eletromagnéticos (EMF), detectores de íons, câmeras de infravermelho, microfones altamente sensíveis etc. No entanto, não adianta você utilizar um equipamento sem saber exatamente o que está fazendo com ele e para o que realmente foi projetado e destinado a fazer. De acordo com o renomado escritor norte-americano Benjamin Radford, vice-editor da revista Skeptical Inquirer, autor de oito livros sobre os mais diversos assuntos considerados "sobrenaturais", essa é uma realidade desconcertante, que os caçadores de fantasmas tentam evitar a todo custo, visto que nenhum dispositivo, eletrônico ou não, jamais demonstrou de forma conclusiva a existência de fantasmas. As supostas ligações entre fantasmas e campos eletromagnéticos, temperaturas baixas, radiação infravermelha ou não, imagens fotográficas estranhas e borradas, e assim por diante atualmente seriam baseadas em nada mais do que suposições, experiências particulares subjetivas, teorias não comprovadas e conjecturas vagas. Essa é claro, é a análise dele, porém acho extramente válido isso ser mencionado, uma vez que existe o lema sobre levar o desconhecido realmente a sério. Apresentar diversas análises, desde que embasadas, faz parte desse processo.
Assim sendo, na quinta-feira passada (12) surgiu um interessante caso na mídia norte-americana sobre o registro em vídeo de um suposto "fantasma" centenário de uma cantora de ópera chamada Eva Gray, justamente em um teatro onde diversas pessoas alegam que ela se tornou uma moradora permanente desde sua morte em 1904. O teatro chama-se "Biddeford City Theater", uma casa de ópera da era vitoriana restaurada, e localizada na cidade de Biddeford, no estado norte-americano do Maine. Um grupo de investigação paranormal que atua no estado, teria permanecido no local por cerca de 2h30 e 4h, no dia 19 de dezembro do ano passado, e durante esse período eles teriam registrado o que eles acreditavam que fosse o espírito de Eva Gray. O caso, é claro, foi recebido com muita euforia pelas emissoras de TV e jornais locais, porém houve uma certa dose de ceticismo em relação ao que realmente teria sido registrado pela câmera. É justamente sobre esse registro que iremos comentar. Vamos saber mais sobre esse assunto?
Conheça um Pouco Sobre o Teatro da Cidade de Biddeford
Assim como costumo fazer, vamos conhecer um pouco sobre o Teatro da Cidade de Biddeford, para que vocês possam se ambientar e ter uma experiência melhor em termos de leitura e conhecimento sobre o caso.
A cidade de Biddeford comprou um terreno no final da década de 1840, na esquina da rua Adams com a rua Principal, e naquele local tinha sido planejado o primeiro edifício exclusivamente para o governo da cidade. O objetivo era abrigar todos os escritórios municipais, assim como a casa de ópera original. A casa de ópera foi inaugurada em outubro de 1860 com uma peça retratando a escravidão nos estados do Sul - uma tema apresentado justamente às vésperas da Guerra Civil. Uma época histórica relacionada ao teatro começou para a cidade de Biddeford. Nomes consagrados como Edwin Booth, Joseph Jefferson e Pat Rooney também fizeram parte de sua história ao longo dos anos.
A casa de ópera devidamente restaurada foi reinaugurada em 20 de janeiro de 1896, e retomou rapidamente seu papel como o principal ponto cultural do condado de York. O gênero teatral "vaudeville" era um sucesso de público, e Biddeford rapidamente se tornou uma referência nesse sentido. Apresentações dramáticas realizadas por imortais do palco como os membros da conhecida família teatral "Barrymore", juntamente com espetáculos de menestrel e peças de teatro da própria comunidade também eram bem populares naquela época. O diretor local e ator J.J. Salvas entreteve o público com o seu retrato de diversos personagens, assim como canções ilustradas também tinham caído no gosto popular.
Pouco tempo depois, os filmes começaram a ganhar popularidade, e quando os "talkies" (termo informal para filmes que passaram a incorporar diálogos audíveis e sincronizados em vez de placas legíveis de texto) foram introduzidos em 1928, o teatro ao vivo estava praticamente eclipsado. A casa de ópera transformou-se uma "casa de cinema" na década de 1930. Os grandiosos dias de "vaudeville" estavam encerrados, exceto pela aparição ocasional de um ato entre os filmes. Algumas melhorias foram realizadas em 1955, quando a casa de ópera passou a se chamar "Teatro da Cidade". O hall de entrada e sua escadaria receberam revestimento, novos painéis para a exposição de cartazes foram criados, juntamente com uma sala de projeção, e uma tela de projeção que foi instalada de forma permanente. A transição da ópera para o cinema não foi fácil, e nem graciosa.
Antiga foto tirada em 1955 mostrando como era a casa de ópera, que passaria a se chamar "Teatro da Cidade" naquele mesmo ano |
A casa de ópera transformou-se uma "casa de cinema" na década de 1930. Os grandiosos dias de "vaudeville" estavam encerrados, exceto pela aparição ocasional de um ato entre os filmes |
Em 1977, a recém-criada "City Theatre Associates" iniciou um movimento para reabrir o Teatro da Cidade. Através de um trabalho muito árduo e voluntário por parte da comunidade local, o teatro reabriu em 1978 com o internacionalmente aclamado Norman Luboff Choir. O teatro havia sido repaginado, mas ainda precisava de muitas melhorias e também de uma grande restauração. O público apoiou o teatro e o comparecimento cresceu à medida que peças, musicais, concertos, recitais de dança e eventos comunitários agraciaram o palco.
Em 1996, o teatro comemorou seu centenário e recebeu um presente da cidade de Biddeford: novos assentos. Pouco tempo depois, uma combinação de fundos recebidos de fontes federais, estaduais, municipais, particulares e de empresários, a restauração do local pode finalmente começar. O teatro ganhou um novo letreiro, sendo que suas paredes e o teto sofreram grandes restaurações. O teatro também recebeu um novo e moderno sistema de iluminação e som, um projetor digital, assim como a instalação de um novo sistema de aquecimento e ar condicionado.
Imagem do Google Street View mostrando a atual entrada do Teatro da Cidade de Bidderford, sendo que a prefeitura da cidade permanece ao lado do mesmo. |
Enfim, acho que vocês puderam conhecer um pouco da história desse teatro, e perceber que a importância histórica dele para a comunidade local é muito maior do que meramente um fantasma. É justamente por isso que gosto de trazer um material mais completo para vocês, e que possam adquirir conhecimento ao invés de simplesmente taxar um local por ser ou não "assombrado".
Um Grupo de Investigação Paranormal do Maine Conseguiu Registrar o "Fantasma de Eva Gray"?
Um dos primeiros locais a publicar essa história foi o site do jornal "Portland Press Herald", em 12 de janeiro desse ano (quinta-feira passada), dizendo que um grupo de investigação paranormal chamado "EVP Paranormal of Maine" acreditava ter registrado o fantasma de Eva Gray subindo as escadarias do Teatro da Cidade de Biddeford, onde acreditava-se que ela tivesse desmaiado ao final de sua apresentação e morrido nos bastidores há mais de 100 anos.
Esse grupo teria visitado o teatro no dia 19 de dezembro do ano passado, e segundo esse jornal teria passado cerca de quatro horas registrando imagens em infravermelho, que mostraram o que eles acreditavam ser uma mulher usando um vestido. O grupo tinha postado um vídeo mostrando essa imagem, em sua página no Facebook, no dia anterior a notícia divulgada pelo "Portland Press Herald" (11). Confira o vídeo abaixo ou clique aqui para assistí-lo através do Facebook (segundo o grupo "EVP Paranormal of Maine" esse vídeo pode assustar algumas crianças e adultos, muito embora eu considere isso improvável):
Caroline Mezoian, 51 anos, da cidade de Saco, que fundou o grupo juntamente com Beverly Young, da cidade de Buxton, disse que anteriormente acreditava que a história sobre Gray - que ela tivesse morrido na véspera do Halloween de 1904 cantando "Good Bye Girl, Good-Bye" perante sua filha de 3 anos na plateia - parecia ter sido inventada de forma deliberada.
"Uma vez que você vê a foto, como você pode negar que não há algo?", continuou. Os céticos, no entanto, costumavam dizer que essas imagens, que não são incomuns, eram o resultado de problemas com os equipamentos fotográficos ou ajustes da iluminação.
"Registrei um homem no balcão do teatro também", disse Caroline. Ainda segundo ela, essa "imagem masculina" aparentava ser uma "enorme chama".
A imagem feminina não foi a única que a equipe, composta por cinco pessoas, teria registrado durante a visita. Caroline acreditava ter registrado uma figura masculina no balcão do teatro. |
Imagem aproximada do que Caroline acreditava ser uma figura masculina no balcão do teatro |
Ela também disse que planejavam retornar para tentar determinar se o que eles viram era "energia residual" ou um "espírito inteligente". Confira alguns equipamentos utilizados por Caroline, no vídeo abaixo, ou clique aqui para acessá-lo diretamente no Facebook (em inglês):
Em casos assim, principalmente quando começa de forma bem estranha, invariavelmente acaba gerando muita polêmica, e foi justamente isso que aconteceu no dia posterior a divulgação do caso pela mídia local.
As Controvérsias Geradas Pela Divulgação do Caso na Mídia Local
No dia 13 de janeiro, houve uma nova notícia sobre o caso, novamente publicada no site do jornal "Portland Press Herald", e aparentemente uma nova tentativa de separar as pessoas em razão de suas crenças, uma vez que era mencionado que os "céticos" estavam questionando a veracidade da imagem. Vale lembrar nesse ponto, que a utilização do termo "cético"é raramente empregada em veiculos de imprensa norte-americanos, visto que carrega um teor altamente pejorativo, como se questionar fosse proibido, e fizesse com quem acreditasse em espíritos ou seres sobrenaturais fosse obrigado a engolir qualquer coisa que fosse publicada. Não é bem assim que as coisas funcionam, visto que uma pessoa pode acreditar em algo, mas não necessariamente em qualquer coisa que aparece, e nem assim essa pessoa poderia ser taxada de cética.
Enfim, de acordo com esse novo texto, havia uma controvérsia gerada pelas imagens, uma vez que uma mulher chamada Sara, filha da diretora artística Linda Sturdivant, tinha acusado o grupo de propagar uma farsa. Em uma postagem no Facebook, e nos comentários da notícia anterior do site "Portland Press Herald", Sara Sturdivant questionou se o grupo havia realmente estado no teatro, visto que as fotos exibidas do mesmo eram de anos atrás, e não refletiam o seu recente estado de conservação.
Uma mulher chamada Sara (na foto), filha da diretora artística Linda Sturdivant, acusou o grupo de propagar uma farsa |
Entretanto, Phil Radding (na foto), gerente de edificações de Biddeford, disse que permitiu a entrada do grupo, que por sua vez possuía câmeras de infravermelho |
"Ninguém está chateado com ninguém. Houve um pouco de aflição da nossa parte, visto que não sabíamos como aquelas pessoas tinham entrado no teatro", disse Linda Sturdivant.
Segundo Caroline, o teatro estava escuro, e ninguém viu nada naquele momento. A imagem só apareceu no vídeo, e apenas brevemente. "Não a vimos como se ela estivesse dançando na escadaria, apenas a vimos como se fosse um flash bem rápido. Em um breve segundo ela estava lá, e no outro não estava mais", disse Caroline. Na notícia ainda é mencionado que essa era a primeira vez que ela havia registrado uma imagem fantasmagórica.
Segundo Caroline, o teatro estava escuro, e ninguém viu nada naquela hora. A imagem aparece apenas brevemente no vídeo |
"As proporções estão todas erradas. Se uma pessoa normal estivesse andando naquele local, aquela imagem do fantasma de Eva teria apenas 45 cm", disse Linda Sturdivant.
"Não sei a razão pela qual a imagem é pequena. Se é um fantasma, não podemos dizer-lhes para obedecer as nossas regras. Não sei o modelo matemático disso", rebateu Caroline.
"Se eles acreditam que seja Eva Gray, bom para eles. Estou tranquila em relação a isso. De qualquer forma isso não me incomoda", finalizou Linda.
Naquele mesmo dia (13), uma outra notícia sobre o assunto foi publicada pelo site do "Journal Tribune", considerado como o "único jornal diário do Condado de York". No texto é mencionado que a investigação do grupo "EVP Paranormal of Maine" tinha durado cerca de 2h30 (contrariando a informação anterior sobre as mais de 4h de investigação), e contou com novas declarações de Caroline Mezoian.
"Muitas coisas acontecem quando estamos nos preparando. Inicialmente começam como uma espécie de orbe - no mundo paranormal ninguém gosta da palavra 'orbe' - mas ela apareceu rapidamente no teatro onde estávamos, na escadaria. Ela definitivamente estava lá", declarou Caroline.
Esse ponto é no mínimo curioso, porque aparentemente Caroline e sua equipe acreditam fielmente que a existência de "orbes luminosos" seja um fenômeno paranormal, quando claramente não é, e existem dezenas de explicações para o que aparecem em vídeos ou fotografias. De qualquer forma, confira o registro do que Caroline chamou de "orbe" no Teatro da Cidade de Biddefordou clique aqui para assistir diretamente pelo Facebook:
Assista também a esse outro vídeo ou clique aqui para assistir diretamente pelo Facebook:
"Eu jamais afirmaria algo sobre isso, que não fosse 100% preciso. Essa é uma ciência anormal. Se eu posso dizer definitivamente que é a Eva Gray? Não posso dizer que é realmente a Eva Gray, mas se parece muito com ela", disse Caroline.
"Uma aparição de corpo inteiro? Esse foi o melhor presente de Natal que eu poderia ter. Provavelmente, esse é um dos melhores lugares que já estive", continuou.
Ela também reafirmou seu desejo de voltar ao Teatro da Cidade de Biddford em um futuro próximo, para tentar conversar com Eva Gray, e ver se ela responde as suas perguntas. O grupo planejava utilizar a tecnologia para registrar fenômenos eletrônicos de voz (conhecidos em inglês como EVPs), sons que pudessem ser interpretados como "vozes de espíritos". Sem dúvida alguma esse é um outro ponto interessante, visto que um grupo chamado "EVP Paranormal of Maine" não fez absolutamente nada nesse sentido, independentemente de estarem por 2h30 ou mais de 4h no local.
Foto dos membros do grupo de investigação paranormal chamado "EVP Paranormal of Maine". Conforme vocês podem perceber, todos os membros são mulheres. |
"Não sou uma médium, não tenho nenhum dom. Estou mais para uma descobridora de fatos. É um passatempo caro, mas gostamos de fazer isso. Nós vamos primordialmente nas casas das pessoas, quando existe alguma atividade paranormal. As pessoas provavelmente querem ouvir que não estão malucas", finalizou.
Curiosamente, a notícia informava que Eva Gray havia morrido na noite de Halloween (31) e não na véspera (30). Além disso, ela mencionava que parentes de Eva Gray tinham visitado o local alguns meses antes. Será que Eva Gray morreu mesmo na noite de Halloween ou na véspera? Será que ao visitar o teatro, Eva Gray teria se manisfetado diante dos seus parentes? É justamente isso que vocês vão conferir a partir de agora!
A Visita Anterior da Neta e da Bisneta de Eva Gray ao Teatro da Cidade de Biddeford: Quando Eva Gray Realmente Morreu?
Para começar a tentar responder a essa pergunta. temos que voltar um pouco no tempo, mais precisamente em 14 de julho do ano passado, visto que o site do "Journal Tribune" publicou uma notícia sobre a visita de familiares de Eva Gray ao Teatro da Cidade de Biddeford. Confira o texto dessa notícia:
"É uma das histórias mais grandiosas e assustadoras de Biddeford. Na noite de Halloween de 1904, a cantora Eva Gray morreu no Teatro da Cidade de Biddford após ter realizado seu terceiro bis da noite, desmaiando nos bastidores enquanto a plateia continuava chamando seu nome. Foi algo quase simbólico: após encerrar sua apresentação com a canção 'Goodbye, Little Girl, Goodbye', Eva Gray, uma soprano do repertório da companhia Dot Karroll, curvou-se ao público e se encaminhou aos bastidores onde sentiu um aperto no peito antes de morrer cerca de uma hora depois. Gray morreu de insuficiência cardíaca. Sua filha de 3 anos estava na plateia.
Na quarta-feira, 112 anos depois, duas descendentes de Eva Gray tiveram a oportunidade de visitar o Teatro da Cidade, onde ela - atualmente conhecida como o 'fantasma residente' do teatro - morreu. A neta de Gray, Patricia Saltzman, 77 anos, e a bisneta Laura Hopkins-Day, de 59 anos, visitaram o teatro para fazer um passeio e uma reconexão espiritual ao local onde Eva Grayse apresentou centenas de vezes antes de sua morte.
Cerca de 10 anos atrás, Patricia Saltzman mal tinha ouvido falar do legado de sua avó. Sua mãe, Edna Carucci, filha de Gray, que estava presente no teatro no momento da sua morte, faleceu quando Patricia Saltzman tinha apenas 6 anos de idade. Elas só ouviu algumas partes da história de Eva Gray através de suas meias-irmãs mais velhas. E para ela e sua filha Laura, que por sua vez mora na cidade de San Antonio, no estado norte-americano do Texas, ir ao teatro justamente agora era importante por muitas razões.
Patricia Saltzman, que mora em Florida Keys, no estado norte-americano da Florida, sofre de degeneração macular e só tem a visão em um olho. Ela nunca tinha visto uma foto de sua avó. Para ela e Hopkins-Day, a época para visitar Biddeford era agora ou nunca. Porém, para ambas, ver o teatro foi muito além da história de Eva Gray. Lisa, uma outra filha de Patricia Saltzman, morreu de uma forma de câncer de ovário em maio de 2015. As três tinham planejado ir ao teatro há três anos, antes da Lisa ficar doente.
Laura Hopkins- Day (à direita), e sua mãe e neta de Eva Gray, Patricia Saltzman (à esquerda), veem uma "foto" de Eva Gray no lobby do Teatro da Cidade |
'Estou grata pelo fato que eles estão o reformando, e mantendo o teatro assim como ele foi um dia, o trazendo de volta como ele era. Isso é importante não apenas devido a minha avó, mas para as gerações futuras e essa geração também', disse Patricia Saltzman.
'Há um grande senso de história em relação ao teatro, e ao ficar aqui, em pé, posso imaginar como era para minha bisavó pisar no palco. Você tem uma boa sensação da presença teatral, e está justamente onde outros estavam antes de você. Você tenta vivenciar um pouco do que eles vivenciaram olhando para o plateia', disse Laura Hopkins-Day.
Patricia Saltzman aceitando um presente do presidente do conselho do Teatro da Cidade de Biddeford, Mark Nahorney, retratando uma "imagem" de sua avó, Eva Gray, cantando para a plateia do teatro |
As descendentes de Eva Gray esperavam que ela se manifestasse durante o passeio pelo local. Ela não se manifestou, mas ambas disseram que a experiência havia valido todo o esforço.
'Ficamos muito emocionadas e empolgadas ao vivenciar o teatro e por estarmos no mesmo palco que Eva Gray esteve um dia', disse Laura Hopkins-Day. Patricia Saltzman e Laura Hopkins-Day também disseram que continuarão buscando por respostas sobre a vida e a morte de Eva Gray, sua família e seu legado.
'Vamos continuar pesquisando até encontrarmos mais informações. Essa é uma grande parada ao longo dessa linha', completou Laura Hopkins-Day."
Confira também um vídeo que foi publicado no canal do próprio "Journal Tribune", no YouTube, em 13 de julho de 2016, que consiste basicamente em depoimentos bem curtos de ambas a respeito da visita ao Teatro da Cidade de Biddeford (em inglês):
Conforme vocês puderam observar, nem mesmo as descendentes de Eva Gray sabem exatamente sobre sua vida, morte e o seu legado. Tudo que envolve essa cantora soa como uma colcha de retalhos do início do século XX, onde a informação também tinha seus grandes problemas em termos de veracidade do que era mencionado, e ainda surfava na onda espiritualista que varria os Estados Unidos.
Assim sendo, tentei procurar por mais detalhes que indicassem quem era Eva Gray, a começar pelo dia de sua morte. O site oficial do Teatro da Cidade de Biddeford, por exemplo, menciona em apenas um único parágrafo, que Eva teria morrido na véspera do Halloween, ou seja, no dia 30 de outubro. Já o "Journal Tribune" apresentou a história, citando um artigo publicado naquela época pelo "Biddeford Daily Journal", que sua morte teria acontecido no dia 31 de outubro. A razão da data ser importante? Bem, nesse caso o motivo é bem simples, visto que dizer que alguém nasceu ou morreu justamente em uma data tão simbólica nos Estados Unidos quanto o Halloween chama muito mais a atenção da mídia, atrai um público ávido por atividades paranormais, aumenta o turismo na cidade etc. Afinal de contas, sempre pode surgir uma correlação sobre maldições, uma música que poderia ser uma premonição de sua morte, entre outras coisas.
Não encontrei o artigo que teria sido publicado no "Biddeford Daily Journal", e apesar de não ser apresentado na notícia publicada pelo "Journal Tribune", que exaustivamente mencionou que Eva Gray teria morrido na noite de Halloween, talvez ele exista no acervo público da cidade. Por outro lado, encontrei dois artigos publicados sobre esse assunto naquela época: um do jornal "The Kingston Daily Freeman", de 2 de novembro de 1904, e outro publicado no "The New York Times", nessa mesma data e bem parecidos entre si. O maior problema é que ambos não mencionam exatamente a data da morte de Eva Gray. Contudo, ambas as notícias dizem que ela teria desmaiado nos braços de uma "stage manager" (traduzido literalmente como "gerente de palco", que seria referente ao profissional do teatro que comanda toda a equipe de um espetáculo) chamada Claire (somente o "The Kingston Daily Freeman" menciona esse nome) e morrido cerca de 15 minutos depois.
Entretanto, um vídeo publicado por um usuário chamado Warren Randolph, em 21 de maio de 2009, no Vimeo (como se fosse uma espécie de YouTube para quem nunca ouviu falar dele) apontou alguns aspectos interessantes dessa história. O vídeo é uma espécie de mini-documentário produzido por estudantes da Universidade do Sul de Maine sobre um "fantasma" que assombrava o Teatro da Cidade de Biddeford, ou seja, supostamente o "fantasma" de Eva Gray. Confira o vídeo abaixo (em inglês, mas comentaremos rapidamente sobre o mesmo, não se preocupem):
No vídeo, a então coreógrafa e diretora Debra Lombard mencionou que a lenda dizia que Eva Gray teria morrido no dia 31 de outubro de 1904, após cantar pela terceira vez a música "Goodbye, Little Girl, Goodbye". Naquela ocasião, ela estava viajando com a companhia Dot Karrell, da cidade de Nova York. Ela não sabia dizer a partir de qual momento as pessoas passaram a vê-la pelo teatro, visto que muitas pessoas tinham frequentado o local ao longo dos anos, e que só podia falar a respeito de sua própria experiência nesse sentido.
Debra também disse que, naquela época (em 1904), Eva Gray havia recentemente se separado do marido e que ela tinha que cuidar sozinha da filha de apenas 3 anos. Eva estaria passando por um momento difícil e estressante em sua vida, e ela não estarva gostando do rumo que as coisas estavam tomando.
aqui) e ao mesmo também receber respostas de supostos fantasmas. De qualquer forma, é uma história bem interessante, e o final do vídeo é particulamente singelo e emocionante.
Será Mesmo que o "Fantasma de Eva Gray" Apareceu Diante da Câmera de Infravermelho do Grupo "EVP Paranormal of Maine"?
Esse é um ponto crucial e provavelmente a pergunta que vale "1 milhão de dólares", não é mesmo? Afinal, quem não quer ser um milionário? Deixando de lado as referências cinematográficas é importante que vocês considerem alguns aspectos muito importantes a respeito do que foi filmado. A imagem em infravemelho, por exemplo, nos faz questionar duas coisas. A primeira, evidentemente, é sobre o que foi registrado. A segunda é basicamente um questionamento sobre a altura de Eva Gray, ou seja, ela era bem baixinha ou então bem alta? A pergunta é válida, porque o corpo do suposto fantasma aparenta ter pouco menos de 1 metro de altura. Vale lembrar, é claro, que o grupo apresentou outra imagem, uma espécie de borrão bem semelhante a anterior, que também tinha um formato humano ou então "fantasmagórico", como queiram.
Embora muitas pessoas tenham acusado o grupo de ter falsificado a imagem, é possível aliviar um pouco toda essa história, e quem saber acreditar que a imagem não tenha sido manipulada digitalmente. Porém, isso quer dizer é que mesmo um fantasma de verdade? Não exatamente. As imagens poderiam ser, por exemplo, uma falta de cuidado durante a utilização das câmeras de infravermelho, ou seja, manchas ou sujeiras na lente da câmera, assim como poderiam ser resultado de uma grande incompreensão de como a tecnologia funciona, ou seja, uma vez que o grupo descobriu "brinquedos" novos, não saberiam interpretar corretamente o que é mostrado na imagem. Vamos explicar rapidamente sobre essa segunda possibilidade.
Segundo o blog Skeptic's Boot, uma vez que as câmeras de infravermelho apresentam uma imagem composta por gradientes de temperatura, seria bem plausível que estivéssemos vendo algo ligeiramente mais quente do que o ambiente ao seu redor. E justamente nesse aspecto, Ben Radford demonstrou como as imagens em infravermelho podiam gerar muitos falsos-positivos em termos de investigações paranormais em um artigo para a Skeptical Inquirer, em 2010:
"O calor é, naturalmente, menos transiente do que a luz. Se desligar um interruptor de luz em uma sala fechada, a área fica escura quase instantaneamente. Porém, se desligar uma fonte de calor - incluindo o calor do corpo - em uma área ou em uma sala, o calor pode permanecer por algum tempo depois da fonte ter sido removida... Em uma investigação que realizei no ano passado para a série de TV chamada MysteryQuest, um dos caçadores de fantasmas usou uma câmera de infravermelho (FLIR) para detectar um ponto quente vertical, de 30 cm de comprimento, em um pilar. Ninguém sabia explicar o que havia causado isso, mas uma pessoa sugeriu que era um indício de que um fantasma estava nos observando. Na verdade, eu tinha visto um dos caçadores de fantasmas encostado no pilar alguns minutos antes, e o ponto quente correspondia exatamente à altura e a forma do antebraço daquele homem", disse Ben Radford.
Em um artigo de 2010 para a Skeptical Inquirer, Ben Radford chegou a demonstrar como as imagens em infravermelho podiam gerar muitos falsos-positivos em termos de investigações paranormais |
A grande verdade é que se tem pouquíssima informação sobre quem foi Eva Gray, a real causa de sua morte e nem mesmo há coerência sobre o dia exato em que ela morreu. Aparentemente, teria sido nos braços de uma "stage manager", porém nem mesmo a neta e bisneta sabem maiores informações sobre isso. O mesmo se aplica ao Teatro da Cidade de Biddeford, que exibe apenas um quadro, que mais parece ser uma imagem genérica e transparente de uma mulher usando trajes antigos, e olhando em direção a um teatro completamente vazio. Algo melancólico e que não mostra realmente quem era Eva Gray. Vale ressaltar ainda, que não há nenhuma investigação complementar nesse sentido.
Além disso, seria de se estranhar que tivessem aparecido fotos antigas, supostamente de Eva Gray e sua filha, sendo que no vídeo a respeito dela de 2009, e na notícia publicada poucos meses antes, em julho do ano passado, nenhuma foto foi exibida. A pior parte é saber que as fotos são meramente ilustrativas, e não refletem a realidade. A suposta foto de Eva Gray, que aparece no vídeo publicado pelo grupo "EVP Paranormal of Maine", pode ser facilmente encontrada em uma busca na internet (clique aqui para conferir a imagem utilizada). Sequer é mencionado no vídeo que a foto era meramente ilustrativa.
A pior parte é saber que as fotos são meramente ilustrativas, e não refletem a realidade |
Comentários Finais
Sinceramente? A história que é contada sobre Eva Gray é quase de partir o coração. Afinal de contas, como não se comover diante de uma história de uma soprano, que teria morrido logo após cantar três vezes uma mesma "canção de despedida", sendo aclamada por um público deslumbrado por sua beleza e por sua voz, e diante de sua própria filha com apenas 3 anos de idade? Como não se comover com a história de duas senhoras, todas descendentes de Eva Gray, que pisaram no palco onde ela se apresentou pela última vez? Se formos considerar que, originalmente a visita seria realizada por três pessoas, e que infelizmente o destino levou uma delas antes que a mesma pudesse conhecer um pouco mais sobre o seu antepassado, isso se torna ainda mais dramático. Quem não gostaria de ouvir uma história assim, e ainda mais saber que seu espírito, benevolente diga-se de passagem, continua circulando livremente no teatro onde foi venerada pela última vez? O maior problema, é claro, é que toda essa póetica e centenária história foi praticamente manchada por um "grupo de investigação paranormal", que em quatro anos não conseguiu um registro sequer de supostos fantasmas. Porém, ao adquirir equipamentos modernos e sofisticados, finalmente teria conseguido um registro, e propagado isso pela imprensa local, e consequentemente mundial, visto que chegou até os tabloides britânicos, que nem farei questão de mencioná-los aqui. Todos os "esforços" do "grupo de investigação paranormal", e que carrega o termo EVP ("Electronic Voice Phenomena", em inglês ou "Fenômeno da Voz Eletrônica", em português), demonstram ser uma sucessão de erros, más interpretações, e de certa forma "politicamente incorreto" ao não respeitar a história do teatro. Será que não deveriam ter consultado primeiramente os responsáveis pelo mesmo, em vez de um gestor público que pudesse estar mais interessado em promover a cidade, de pouco mais de 20 mil habitantes, cuja administração municipal nunca fez muita questão de mantê-lo funcionando?
Não é nem preciso dizer que prédios ou construções antigas são uma espécie de nicho de graciosidade, história e mistério. De vez em quando surgem rumores sobre teatros, museus ou prédios históricos, que sugerem a existência de supostos fantasmas circulando em suas dependências. Um exemplo disso em nosso país, por exemplo, é o Teatro Amazonas, em Manaus, que algumas pessoas dizem ser assombrado. Há quem diga também que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, assim como a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e a Câmara dos Vereadores, entre tantos outros locais da cidade sejam igualmente assombrados. Provavelmente, em sua região você deve conhecer algum lugar que dizem que é assombrado por alguém ou algo misterioso. Porém, você já parou para pensar na história real por trás dessas construções, quem morou no local ou o que realmente aconteceu? Infelizmente, muitos não pensam sobre isso ou não possuem recursos e nem tempo disponível para fazer uma investigação mais aprofundada em relação os locais que mencionam ter registrado, eventualmente, um fantasma. É justamente por isso que, ao surgirem casos onde é possível realizar uma pesquisa bem mais completa do que é oferecido como conteúdo para vocês, em sites de notícias mais populares, faço questão de trazer um material que lhes permita avaliar adequadamente o que é divulgado praticamente sem nenhum filtro. Vale lembrar também, que essa divisão que tentam criar entre céticos e o resto do mundo, ateus e o resto das crenças ou situações do gênero são extremamente nocivas. Isso induz você a acreditar em qualquer coisa, sem questionar ou ponderar sobre o assunto, simplesmente porque acredita em fantasmas. Entendem onde quero chegar?
Enfim, particularmente gostei muito da lenda que é contada sobre Eva Gray. Fico triste em não ter mais informações sobre quem ela foi, sua história de vida, seus medos, suas preocupações, ouvir sua voz e nem mesmo poder conhecer o seu rosto. Fico muito indignado com o completo despreparo da "EVP Paranormal of Maine" ao entrar no teatro sem ao menos consultar educamente aqueles que realmente se dedicam diariamente a preservá-lo, e por divulgar aos quatro ventos dois borrões como se fossem fantasmas, sem qualquer tipo de investigação adicional, ainda que a mesma pudesse ser passível de questionamentos. Ah, antes que alguém tente mudar o rumo dessa história e tente apontar que estou criticando por serem apenas mulheres, bem, poderia ser um grupo composto por quaisquer gêneros, visto que com essa mentalidade sobre o mundo considerado "paranormal" ou "sobrenatural", o resultado seria o mesmo: um fracasso em termos investigativos. O produto final é bem ruim, subjetivo e extremamente fraco, que nem de longe responde a altura a importância do Teatro da Cidade de Biddeford e da vida de uma pessoa como Eva Gray, caso ela realmente tenha sido tudo isso que imaginamos em nossas mentes. Gostaria de lembrar de Eva como se ela estivesse realmente perambulando pelo teatro, vendo sua filha na primeira fileira e cantando todas as noites para seu público, que nunca deixou de amá-la ou ouvir sua voz. Uma vida em outro plano, onde não haveria dor e nem sofrimento, apenas a incansável alegria de cantar até que as cortinas se fechassem. Não é bem uma despedida, é apenas um até breve até o raiar do Sol. Boa noite, Eva Gray, descanse em paz.
Até a próxima, AssombradOs.
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://wjbq.com/ghost-at-biddeford-city-theater-caught-on-camera/
http://www.citytheater.org/about-us/history/
http://www.journaltribune.com/news/2016-07-14/Front_Page/An_encore_112_years_in_the_making.html
http://www.journaltribune.com/news/2017-01-13/Front_Page/Ghost_of_Eva_Gray_returns_to_City_Theater.html
http://www.necn.com/news/new-england/Ghost-Sighting-at-Maine-Theater-410670545.html
http://www.pressherald.com/2017/01/12/paranormal-investigators-capture-ghostly-imagine-in-biddeford-city-theater/
http://www.theclassicalarts.com/articles/41049/20170116/investigators-claim-biddeford-city-theater-haunted-ghost-singer-show-photos.htm
http://www.wcsh6.com/news/local/biddeford-saco/ghostly-figure-captured-by-paranormal-investigators-at-biddeford-city-theater/385586544
http://www.wmtw.com/article/is-this-a-ghost-haunting-biddefords-city-theater/8595384
https://www.facebook.com/EVPparanormalofMaine/
https://www.vimeo.com/4772891
https://www.youtube.com/watch?v=fTUOfGGBa1k