Por Marco Faustino 🎆
Eis que o ano temido por muitos e para ser esquecido por outros está indo embora, assim como um novo ano está chegando nas primeiras ilhas do Pacífico, assim que esse texto for publicado. Se pudéssemos acompanhar do alto cada localidade estourando os fogos de artíficio, e celebrando o encerramento de todo um ciclo e o começo de outro, veríamos o quanto somos diferentes em um mesmo planeta. Teríamos localidades, por exemplo, que não haveria uma única queima de fogos, talvez os santuários para animais de estimação. Algumas comemorações seriam tão silenciosas, que nem saberíamos que o ano terminou. Já em outras, elas seriam extremamente efusivas, transformando a cada hora, a nossa casa, a única casa que conhecemos em meio a esse Universo que parece, e talvez nunca haja um verdadeiro fim, em um mar de cores, de todas as cores.
Igualmente presente está a resiliência humana, nossa capacidade ímpar de superar obstáculos e adversidades, mostrando toda sua força. Afinal, sempre temos um desejo intríseco que o próximo ano seja melhor que o outro, muito embora o que separa um ano do outro seja apenas um segundo, quer dizer, nesse ano são dois. Apesar da perspectiva econômica e política não ser nada favorável no Brasil, e muito menos em dezenas de outros países, ainda assim comemoramos, ainda assim nos reunimos e ainda assim acreditamos. Portanto, vamos derrubar um último mito sobre o tão "famigerado" ano de 2016?
Não acredite que 2016, por exemplo, foi o ano em que mais "celebridades" morreram. Nem mesmo a imprensa norte-americana chegou a um consenso sobre isso. Segundo o site Hollywod Reporter morreram cerca de 180, porém para o Los Angeles Times foram apenas 91. Para a CNN morreram cerca 118 celebridades, porém esse número teria sido bem maior em 2015, cerca de 159. Evidentemente, tentar traduzir em números o sentimento de perda envolve diversas questões básicas: O que torna uma pessoa uma "celebridade"? Quais mortes deveriam ser consideradas? E o número de mortes de pessoas que fizeram realmente a diferença em uma comunidade local, em um hospital infantil, em uma zona de guerra, em uma região extremamente carente, simplesmente ajudou uma família ou a salvou uma única vida? Essas pessoas não importam? A grande maioria dessas pessoas, seres humanos que nunca vão subir em um palco, que nunca foram sequer mencionadas, e que provavelmente nunca iremos conhecê-las, é que deveriam estar nessa conta, que seria ainda mais imprecisa. A conta não levaria em consideração o número de nascimentos de outros seres humanos, que terão potencial para ajudar alguém no futuro.
Ainda assim você pode ignorar tudo isso e pensar somente nas "celebridades". Bem, se ainda insistir nisso, saiba que as redes sociais aproximaram "pessoas comuns" das supostas "celebridades", e isso acabou transformando a morte delas em eventos mais amplamente divulgados e emotivos. É como se fossem pessoas próximas a nós, mas que nunca souberam quem somos. Para muitas dessas "celebridades" somos apenas números, por mais que você não entenda ou não queira entender dessa forma. Infelizmente, até mesmo esse número de mortes é motivo de manipulação. Vou explicar rapidamente como funciona. Primeiramente, se formos considerar a época de nossos pais, por exemplo, a morte de "celebridades" eram noticiadas por apenas alguns poucos canais de TV e jornais impressos. Não havia tantos programas de TV criados para gerarem essas "celebridades". Não existia YouTube ou redes sociais para taxarmos alguém de "celebridade", simplesmente por serem populares. Essa mudança na paisagem do entretenimento levou não somente ao aumento nas notícias sobre mortes de "celebridades", mas também ao aumento do número total de pessoas consideradas como "celebridades". Vale lembrar que os números ou as imagens que você costuma ver na internet, correspondem ao número de mortes que os meios de comunicação tradicionais consideraram dignos de mencionar. E uma vez que as notícias relacionadas as mortes de celebridades normalmente geram um grande número de cliques e exibições de página, uma possível explicação para o aparente aumento do número de mortes de "celebridades"é que os sites de notícias simplesmente noticiam mais mortes para atrair mais visitantes, ou seja, novamente você é apenas um número, dando mais importância as perdas, do que suas conquistas. Entenderam, a dinâmica? Não se deixe influenciar, principalmente pelas redes sociais. Pare ao menos por um momento de olhar para frente, como se tiver antolhos e cabresto, e olhe para os lados, para os que estão vivos e amam você.
Apesar de ter sido um ano difícil para muitos, é um momento de agradecermos pelas conquistas e pelos momentos felizes que tivemos durante o nosso ano. O carinho de alguém, o sorriso de alguém ou o abraço apertado de alguém importa, e deve entrar na sua conta. Sei que muitos perderam o emprego esse ano, mas se você conseguiu arrumar um novo emprego ou então começou um negócio por conta própria, mesmo que ainda esteja engatinhando, e que não você não tenha o mesmo retorno funanceiro de antes, também deve agradecer. Por falar em engatinhar, se você teve um filho(a), é mãe ou pai de alguém, agradeça pela chance que você tem de entender o que é cuidar de alguém. Se seu filho(a) nasceu saudável, agradeça. Se não nasceu, mas está se recuperando, agradeça aos médicos e enfermeiros(as) que passarão a virada do ano cuidado dele(a). Sei que vidas se foram, mas ainda assim agradeça por ter conhecido essas vidas, de ter feito parte da vida de alguém. Agradecer é importante, extrair bons momentos não apenas de um ano inteiro, mas de cada dia de nossas vidas é primordial, essencial. Em nome de toda a equipe do AssombradO, agradeço a vocês pelo ano que passou e por terem lido ou assistido cada material que tivemos a oportunidade de trazer ao conhecimento de vocês. Para mim, mesmo que não me conheçam, repassar um conteúdo sério, digno, da forma mais correta possível, sem explorar a boa fé ou subestimar a inteligência de vocês, sem sensacionalismo, clickbaits ou títulos escandalosos, importa.
Lembre-se também que o ser humano não é uma fábrica de sonhos, mas um conglomerado industrial incessante de crenças no melhor estilo "revolução industrial". Repetimos constantemente o que acreditamos sem parar e pensar, que o mundo pode ser melhor caso simplesmente deixemos algumas dessas crenças temporariamente de lado, para tentar abordar algo de maneira totalmente nova, de forma mais eficiente, com menos desgaste físico ou psicológico. Consumimos e somos consumidos por nossos conceitos e pré-conceitos, e não paramos para valorizar as pessoas simplesmente pelo bem que elas nos fazem. A questão então se torna sobre o que fazer com todas essas crenças. A maioria delas significa progresso e prosperidade, porém outras significam ilusões e nossa extinção não apenas como espécie, mas a extinção de tudo aquilo que acreditamos, não tivemos a chance de acreditar ou construímos ao longo de gerações de seres humanos. Os mesmos que apontavam para cima em busca de ajuda, e que ainda continuam apontando, quando a única ajuda que realmente conhecemos está em terra firme, talvez ao nosso lado ou talvez um pouco distante. Portanto, se tem algo que talvez realmente mude o seu ano em apenas um ou dois segundos, é você acreditar que o ser humano, independentemente de quem ele seja, possa evitar toda sua própria natureza e ser simplesmente, bom. Não estamos em uma época que podemos nos dar ao luxo que deuses, não importa qual seja a sua religião, sejam novamente sobrecarregados com inúmeros pedidos, e que sejam responsáveis pela nossa felicidade, sucesso financeiro ou nossa paz. Levante e mude o mundo, começando pelo seu próprio mundo, porque esse eu tenho certeza, que você vai conseguir.
Feliz Ano Novo, AssombradOs!
Marco Faustino 🎆