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Um Mistério Chamado "FRB 121102": Contato Extraterrestre ou Tão Somente uma Jovem Estrela de Nêutrons?

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Por Marco Faustino

Neste ano de 2016, abordamos diversos assuntos relacionados a Astronomia. É importante salientar que o blog AssombradO não trata apenas de assuntos supostamente paranormais ou sobrenaturais, mas também, de vez em quando, do Universo. Quando existe algum mistério, uma descoberta muito relevante que esteja sendo amplamente divulgada pela mídia ou então alguma especulação sobre uma tentativa de contato extraterrestre ainda que, quase sempre, seja considerada desprezível até mesmo por institutos como o SETI, é praticamente certeza que traremos esse assunto ao conhecimento de vocês. Entre os casos os mais interessantes sobre essas "tentativas de contato" por parte de supostas "civilizações extraterrestres", podemos incluir o sinal "WOW!", que no primeiro dia deste ano ganhou um novo capítulo. Na época, Antonio Paris, professor de astronomia da Faculdade de São Petersburgo, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, fez uma publicação no site do Centro para Ciência Planetária dizendo que tinha a provável resposta para a origem do mistério de quase 40 anos, que até hoje intriga cientistas das mais diversas áreas. O professor Antonio Paris acreditava que o sinal pudesse ter vindo devido a passagem de um ou mais cometas, apontando os mais prováveis responsáveis pelo sinal: um cometa chamado 266P/Christensen e outro chamado P/2008 Y2 (Gibbs). Para provar que poderia estar certo, Antonio Paris propôs que os astrônomos observassem a mesma região do sinal "Wow!" quando esses dois cometas estivessem de volta naquela mesma direção. O cometa 266P/Christensen será o primeiro a transitar pela região em 25 de janeiro de 2017 (daqui pouco menos de 1 mês). Em seguida teremos o P/2008 Y2 (Gibbs) em 7 de janeiro de 2018. Vale a pena aguardar! (leia mais: O Misterioso "Sinal Wow!" Pode Ter Vindo de Cometas, não de Civilizações Extraterrestres).

Cópia do papel onde foi detectado o sinal "Wow!" por Jerry Ehman na noite de 15 de agosto de 1977
Não podemos nos esquecer da euforia, que a mídia internacional criou em torno de um forte sinal de rádio, que teria sido captado pelo radiotelescópio RATAN-600, em Zelenchukskaya, uma localidade rural no Distrito da República da Carachai-Circássia, uma divisão federal da Rússia, não muito longe da fronteira com a Geórgia, no Cáucaso. O sinal estaria vindo da direção de uma estrela chamada "HD 164595", na constelação de Hércules. A princípio, essa estrela seria muito semelhante ao nosso Sol, visto que possui cerca de 0,99 massa solar, uma idade estimada de 6,3 bilhões de anos e uma metacilidade praticamente idêntica. Para ser mais preciso, sua temperatura média seria um pouco mais quente que o nosso Sol, e cerca de 100 milhões anos mais jovem que a nossa estrela. Além disso, ela estaria a "apenas" a 95 anos-luz de distância da Terra. Posteriormente, Douglas Vakoch, presidente do METI International, disse que o Conjunto de Telescopios Allen já havia completado seu reconhecimento inicial da HD 164595, porém "sem indicações de tecnologias extraterrestres em freqüências de rádio". Nick Suntzeff, astrônomo da Universidade Texas A&M, nos Estados Unidos, em entrevista para o site "Ars Technica", disse que não ficaria surpreso se o sinal estivesse relacionado a uma origem terrestre, visto que foi observado numa parte do espectro de rádio utilizada pelos militares. Aliás, o próprio SETI disse que o sinal da HD 164595 marcaria no máximo "2" na escala Rio, o que significaria "interesse baixo", e mais provavelmente atingiria apenas 1 (algo "insignificante"), ou seja, nada tão interessante. Pouco tempo depois, o assunto caiu no esquecimento (leia mais: Contato Extraterrestre? Um Intrigante Sinal de Rádio Teria Vindo da Estrela "HD 164595", na Constelação de Hércules?).

Foto aérea do radiotelescópio RATAN-600 pertencente a Academia de Ciências da Rússia
Imagem divulgada no estudo enviado a diversos pesquisadores do SETI sobre um forte sinal,
que teria vindo da direção da estrela HD 164595
Outro caso pertencente a essa linha de um suposto e eventual "contato extraterrestre" foi noticiado no fim de outubro, onde dois pesquisadores de uma universidade canadense acabaram encontrando um padrão muito interessante, uma espécie de "sinal" oriundo de 234 estrelas, entre as 2,5 milhões que foram verificadas por eles. O artigo publicado sobre o assunto sugeria um comportamento errático, que pudesse ser um "sinal" de vida inteligente, ou seja, os demais astrônomos e cientistas deveriam dar um pouco mais de atenção as mesmas. Entretanto, no decorrer do artigo eles disseram que as alegações precisavam ser confirmadas por mais estudos e, além disso, também existia uma possibilidade de que os sinais estivessem atrelados a composições químicas altamente peculiares em uma pequena fração de estrelas que conhecemos atualmente. Apesar de ser curioso, o trabalho de Ermanno Borra e Eric Trottier basicamente separou um grupo de 234 estrelas em que poderia estar ocorrendo um fenômeno que nunca vimos anteriormente, que abrigassem civilizações inteligentes extraterrestres ou nem uma coisa e nem outra, ou seja, poderiam ser meros artefatos da ótica instrumental ou introduzidos durante a redução de dados. A questão é que nem mesmo o SETI ficou animado com essa história. Na escala "Rio" de detecção de inteligência extraterrestre, os resultados de Borra e Trottier ganharam uma classificação entre 0 e 1. Por outro lado, se esses "234 sinais" forem mesmo interpretados como sendo de origem extraterrestre ao longo do tempo (apesar disso ser considerado altamente improvável), isso implicaria em muitas civilizações em nossa Via Láctea, ou seja, cerca de 200 milhões de civilizações espalhadas em nossa galáxia (leia mais: Astrônomos de Universidade Canadense Teriam Encontrado Cerca de "234 Civilizações Extraterrestres" em Nossa Via Láctea?).

Eis que para fechar o ano, recentemente a mídia internacional começou a dar destaque para a chamada FRB 121102. Para quem nunca ouviu falar nisso, saiba que FRB é o acrônimo em inglês para "Fast Radio Burst" ("Explosões Rápidas de Rádio" ou "Rajadas Rápidas de Rádio", em português). O número que o acompanha está relacionado a data em que esses pulsos extremamente rápidos de rádio são detectados pelos radiotelescópios, e que geralmente duram apenas alguns milissegundos. Apesar da estimativa de que esses fenômenos astrofísicos ocorram cerca de 10.000 vezes por dia, desde 2001 até hoje, ou seja em 15 anos, só conseguimos detectar menos de 30 ocorrências, o que tornam esses fenômenos muito raros e ao mesmo tempo muito difícies para serem estudados. Contudo, um deles, justamente a FRB 121102 vem intrigando os pesquisadores por ter sido detectada diversas vezes e sempre dentro de um mesmo padrão. Muitos sites de notícias especularam que o fenômeno fosse uma possível tentativa de contato extraterrestre, porém os pesquisadores envolvidos acreditam a origem desses pulsos possa estar relacionada a uma jovem estrela de nêutrons. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Uma Rápida e Simplificada Explicação Sobre Estrelas de Nêutrons, Pulsares e FRBs


Como de praxe e para que vocês possam acompanhar a postagem da melhor forma possível, vamos dizer para vocês o que são as estrelas de nêutrons, pulsares e FRBs. Evidentemente, não iremos dizer tudo o que se sabe até hoje sobre os mesmos, visto que daria um nó na cabeça de vocês, o que não é o nosso objetivo. O intuito é que vocês tenham um conhecimento básico, porém suficiente nesse primeiro momento para compreender o nosso assunto principal. Afinal, a Astronomia é composta basicamente de pessoas que tentam responder as inúmeras dúvidas e questionamentos, que surgem o tempo todo sobre o imenso e incomensurável Universo que nos cerca. Não é preciso ser um especialista, muitas vezes precisa apenas um pouco de boa vontade e disposição pra tentar explicar e tentar entender. Vamos começar com as estrelas de nêutrons, depois falaremos rapidamente sobre pulsares e então fecharemos com FRBs, combinado?

Basicamente, as estrelas de nêutrons são corpos celestes supermassivos (muito pesados), extremamente compactos e com gravidade extremamente alta. Pela descrição, quase chegamos ao ponto de um buraco negro, não é mesmo? Porém, não está tão longe disso assim. As estrelas de nêutrons são um dos possíveis estágios finais da vida de uma estrela, e são criadas quando estrelas com uma massa bem grande, diversas vezes maiores do que o nosso Sol, explodem como supernovas. Essa explosão ejeta as camadas mais externas da estrela, formando um "remanescente de supernova". Instantes antes da explosão, a região central da estrela se contrai com a gravidade, fazendo com que elétrons sejam empurrados para os núcleos dos átomos e se combinem com prótons formando nêutrons. Assim sendo, temos a "estrela de nêutrons".

As estrelas de nêutrons são um dos possíveis estágios finais da vida de uma estrela, e são criadas quando estrelas com uma massa bem grande, diversas vezes maiores do que o nosso Sol, e explodem como supernovas. Essa explosão ejeta as camadas mais externas da estrela, formando um "remanescente de supernova"
Na estrela de nêutrons, as reações nucleares que fornecem energia às estrelas cessou. A força da gravidade (em média 2 bilhões de vezes maior do que na Terra), sem a contrapartida da atividade nuclear, comprime a matéria dentro de uma esfera com um diâmetro bem pequeno, de algumas dezenas de quilômetros (cerca de apenas 20 km). Com o tempo esse movimento da matéria faz com que a estrela de nêutrons acabe girando rápido, muito rápido mesmo.

Instantes antes da explosão, a região central da estrela se contrai com a gravidade, fazendo com que elétrons sejam empurrados para os núcleos dos átomos e se combinem com prótons formando nêutrons. Assim sendo, temos a "estrela de nêutrons"
Imagem relacionada ao tamanho de uma estrela de nêutrons se comparada, por exemplo, a Manhattan, Nova York, nos Estados Unidos. Lembrando que a força de gravidade (em média 2 bilhões de vezes maior do que na Terra), sem a contrapartida da atividade nuclear, comprime a matéria dentro de uma esfera de diâmetro bem pequeno, de algumas dezenas de quilômetros (cerca de apenas 20 km).
Se a Terra, por exemplo, demora 24h para dar uma volta em torno de seu próprio eixo, e o período de rotação do nosso Sol varia entre 25 dias (região equatorial) a 36 dias terrestres (regiões polares), uma estrela de nêutrons pode dar uma volta completa, em torno do seu próprio eixo, em milésimos de segundos, alcançando mais de 700 rotações por segundo.

Essas estrelas possuem um campo magnético muito forte, e a pouca radiação que escapa da sua superfície se traduz em ondas de rádio, raios gama, entre outros. Tudo isso na forma de "jatos" com a direção do eixo magnético norte-sul. Esse eixo não necessariamente coincide com o eixo de rotação da estrela, fazendo com que esse "canhão" de partículas seja disparado em diferentes regiões durante sua rotação, ao invés de ficar apontado para uma única região do espaço. Quando isso acontece, temos um pulsar, que nada mais é do que esse canhão de radiação da estrela apontado para nós periodicamente.

Basta imaginar um farol daqueles antigos, que até hoje existem no litoral de algumas regiões do mundo, para orientar os navegantes. Quem está longe, em alto-mar, o avista como pulsos do luz. Agora imagine um farol girando muito rápido e pulsando uma grande quantidade de energia. Simplificando, é mais ou menos isso.

O eixo magnético norte-sul não necessariamente coincide com o eixo de rotação da estrela, fazendo com que esse "canhão" de partículas seja disparado em diferentes regiões durante sua rotação, ao invés de ficar apontado para uma única região do espaço
Além disso, o pulsar ou pulsares são estrelas de nêutrons muito pequenas e muito densas. Conforme dissemos anteriormente, à medida que uma estrela vai perdendo energia, sua matéria é comprimida em direção ao seu centro, ficando cada vez mais densa. Quanto mais matéria da estrela se move em direção ao seu centro, mais rápido ela gira. Quando a estrela gira, o feixe de energia é espalhado no espaço, como o feixe de luz de um farol. Somente quando o feixe incide sobre a Terra é que podemos detectar os pulsares através de radiotelescópios.

Basicamente, o pulsar ou pulsares são estrelas de nêutrons muito pequenas e muito densas
Apesar do pouco tamanho, os astrônomos estimam que exista um limite de massa para as estrelas de nêutrons que seria entre 1.3 e 1.5 massa solar, porém em 2010 os astrônomos encontraram uma estrela de nêutrons com duas vezes a massa do Sol, e que girava no próprio eixo cerca de 317 vezes a cada segundo. A massa do corpo celeste denominado PSR J1614-2230 (um pulsar) representava um desafio aos cientistas, já que não se conhecia uma estrela de nêutrons com mais de 1.5 massa solar.

Agora, se uma estrela de nêutrons for mais pesada que esse limite, atualmente estimado entre 1.5 e 3 massas solares (apesar de não ser uma certeza conforme acabamos de ver acima), a mesma irá colapsar para forma ainda mais densa, podendo vir a formar um buraco negro. Interessante, não é mesmo? Caso ainda assim não tenha entendido, recomendo um vídeo bem interessante do canal Socratica Português, no YouTube, justamente sobre estrelas de nêutrons:



E no meio de toda essa energia circulando e viajando através da nossa galáxia e do nosso Universo, temos um fenômeno chamado FRB, acrônimo em inglês para "Fast Radio Burst" ("Explosões Rápidas de Rádio" ou "Rajadas Rápidas de Rádio", em português), que nada mais é do que um fenômeno astrofísico de alta energia manifestado como um pulso de rádio transitório, que dura apenas alguns milissegundos. A grande questão é que a origem dessas rajadas rápidas de rádio não são conhecidas, o que gera uma grande especulação em torno do assunto. Não é nem preciso dizer, que de vez em quando a hipótese extraterrestre circula, ainda que de forma velada, pelos sites de notícias que abordam assuntos relacionados a Astronomia de forma mais "descontraída".

Enfim, para vocês terem uma ideia, essas rajadas rápidas liberam tanta energia em um único milissegundo quanto o nosso Sol em um período de dias ou semanas, e ninguém até hoje conseguiu comprovar a origem das mesmas, principalmente pela raridade em termos de detecção desse fenômeno.

A FRB nada mais é do que um fenômeno astrofísico de alta energia manifestado como um pulso de rádio transitório que dura apenas alguns milissegundos. A grande questão é que a origem das rajadas rápidas de rádio não são conhecidas, o que gera uma grande especulação em torno do assunto.
Ao contrário do que acontece com os pulsares, as rajadas rápidas de rádio aparentam ser simplesmente esporádicas, e na absoluta maioria dos casos são detectadas apenas uma única vez. No entanto, apesar das poucas detecções que tivemos ao longo de 15 anos, ao menos uma delas intriga e muito a comunidade astronômica internacional, que é justamente a FRB 121102.

Em relação a própria FRB 121102, desde 2012 até a presente data, os astrônomos já detectaram cerca de 17 rajadas rápidas de rádio, todas vindo da mesma direção do espaço, porém aparentemente oriundas de fora da nossa Via Láctea. Além disso, também há um padrão de repetição de sinais diferente de tudo o que tínhamos visto antes. É justamente sobre ela que vamos comentar a seguir!

A FRB 121102: Contato Extraterrestre ou Será Tão Somente uma Jovem Estrela de Nêutrons?


Uma nota à imprensa publicada em 10 de julho de 2014, no site do Instituto Max Planck para Radioastronomia, dava uma dimensão da importância que a FRB 121102 começava a ter entre os astrônomos. A descoberta de rajadas rápidas de rádio de uma fração de segundos usando o radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, fornecia novas e importantes evidências sobre os pulsos misteriosos que pareciam vir do espaço profundo. As descobertas de uma equipe internacional de astrônomos liderados por Laura Spitler do Instituto Max Planck de Radioastronomia em Bonn, na Alemanha, foram publicadas naquele mesmo dia na edição online do periódico científico "The Astrophysical Journal".

As descobertas de uma equipe internacional de astrônomos liderados por Laura Spitler do Instituto Max Planck de Radioastronomia (na foto) em Bonn, na Alemanha, foram publicadas naquele mesmo dia na edição online do periódico científico "The Astrophysical Journal"
Segundo a notícia, as rajadas rápidas de rádio (FRBs) eram flashes brilhantes de ondas de rádio que duravam apenas alguns milésimos de segundos, sendo que os primeiros registros desse fenômeno (cerca de apenas seis vezes desde 2001), tinham sido feitos por cientistas usando o Observatório de Parkes, que consiste em um radiotelescópio com uma antena de 64 metros de diâmetro, a cerca de 20 km ao norte da cidade de Parkes, New South Wales, na Austrália.

Entretanto, a ausência de resultados semelhantes por outros radiotelescópios ao redor do mundo levou à especulação de que o equipamento australiano poderia ter captado sinais provenientes de fontes terrestres ou próximas da Terra. A descoberta em Arecibo até então havia se tornado a primeira detecção de uma rajada rápida de rádio usando um instrumento além do radiotelescópio de Parkes. Essas rajadas vinham da direção da constelação de Auriga, no céu do Hemisfério Norte.

A descoberta em Arecibo (na foto) até então havia se tornado a primeira detecção de uma rajada rápida de rádio usando um instrumento além do radiotelescópio de Parkes. Essas rajadas vinham da direção da constelação de Auriga, no céu do Hemisfério Norte.
"Existem apenas, em média, 7 rajadas rápidas de rádio a cada minuto em algum lugar do céu, então você precisa ter muita sorte em ter seu telescópio apontado no lugar certo e na hora certa", disse, na época, Laura Spitler do Instituto Max Planck de Radioastronomia (MPIfR), a principal autora do artigo. Ela acrescentou que as características observadas em Arecibo eram consistentes com as rajadas anteriormente observadas através do Observatório de Parkes.

"Nosso resultado é importante, porque elimina qualquer dúvida de que essas rajadas de rádio sejam verdadeiramente de origem cósmica", disse Victoria Kaspi, professora de astrofísica da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, e principal pesquisadora do projeto de pesquisa de pulsares, que detectou a FRB 121102. Ela também disse que as ondas de rádio apontavam ter vindo de um lugar além da nossa Via Láctea.

O que poderia estar causando tais rajadas rápidas de rádio representava um grande enigma para os astrofísicos. As possibilidades incluíam uma grande gama de de objetos astrofísicos exóticos, tais como a evaporação de buracos negros, fusões de estrelas de nêutrons ou flares de magnetares (um tipo de estrela de nêutrons com campos magnéticos extremamente poderosos).

"Nosso resultado é importante, porque elimina qualquer dúvida de que essas rajadas de rádio sejam verdadeiramente de origem cósmica", disse Victoria Kaspi (na foto), professora de astrofísica da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá
"Outra possibilidade é que elas sejam rajadas muito mais brilhantes do que pulsos gigantes observados a partir de alguns pulsares", disse James Cordes, professor de Astronomia na Universidade de Cornell, em Nova York, nos Estados Unidos, e co-autor do estudo.

O pulso incomum havia sido detectado em 2 de novembro de 2012, no Observatório de Arecibo, e durou cerca de 3 milissegundos. Conforme mencionamos anteriormente, as rajadas pareciam estar vindo de algum lugar além da nossa galáxia, a Via Láctea, com base em medições de um efeito conhecido como "dispersão de plasma". Os pulsos que atravessam o cosmos se distinguem da interferência causada pelo homem devido ao efeito de elétrons interestelares, que fazem com que as ondas de rádio viajem mais lentamente em freqüências de rádio mais baixas. O que tinha sido detectado em Arecibo tinha cerca de 3 vezes a dispersão máxima do que esperado para uma fonte dentro da nossa galáxia.
O pulso incomum havia sido detectado em 2 de novembro de 2012, no Observatório de Arecibo, e durou cerca de 3 milissegundos. Conforme mencionamos anteriormente, as rajadas pareciam estar vindo de algum lugar além da nossa galáxia, a Via Láctea, com base em medições de um efeito conhecido como "dispersão de plasma"
Vale acrescentar nesse ponto, que em dezembro do ano passado, ao examinarem cerca de 650 horas de dados do arquivo do Radiotelescópio de Green Bank, pertencente a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos, na Virgínia Ocidental, uma equipe de astrônomos descobriu mais uma FRB, dessa vez denominada de FRB 110523, ou seja, ocorrida em 2011, mas só foi notada em 2015. A pesquisa indicava que a rajada originou-se dentro de uma região altamente magnetizada do espaço, possivelmente a correlacionando a uma supernova recente ou ao interior de uma nebulosa formadora de estrelas, a cerca de 6 bilhões de anos-luz. Como vocês podem perceber, sempre existiu uma grande dificuldade em estudar as FRBs, porque as descobertas aconteciam muito depois da ocorrência das mesmas, embora uma delas, a FRB 140514, tivesse sido registrada em "tempo real". Os astrônomos apontavam que a FRB 140514, por exemplo, teria ocorrido a uma distância de 5.5 bilhões de anos-luz da Terra.

De qualquer forma, as FRBs sempre aparentaram ser fenômenos isolados, ou seja, que aconteciam apenas uma única vez, por alguns milissegundos, e que nunca mais se repetiam. Então, para a surpresa de todos, foi publicada em março desse ano, na versão online da revista Nature, uma face até então desconhecida da FRB 121102: as rajadas rápidas de rádio se repetiram, não apenas uma ou duas vezes, mas cerca de 10 vezes em 2015, sendo que 6 vezes ocorreram em um espaço de tempo de apenas 10 minutos.

Para a surpresa dos astrônomos, a FRB 121102 mostrou em março desse ano uma face que não conhecíamos antes: as rajadas rápidas de rádio se repetiram, não apenas uma ou duas vezes, mas cerca de 10 vezes, sendo que 6 vezes ocorreram em apenas 10 minutos.
Até aquele momento, a maioria das teorias sobre a origem desses pulsos misteriosos envolvia incidentes catastróficos que destruíam sua fonte - uma estrela explodindo em uma supernova ou uma estrela de nêutrons que colapsava em um buraco negro, por exemplo. Porém, esse pensamento foi ampliado em novembro do ano passado quando o estudante Paul Scholz, candidato ao programa da PhD, da Univesidade McGill, estava examinando os resultados de observações de acompanhamento relacionadas a FRB 121102, e descobriu 10 rajadas rápidas de rádio, entre maio e junho de 2015 (lembrando que estudo acabou sendo publicado somente em março deste ano na versão online da revista Nature). Todas vinham da mesma direção daquele pulso detectado em 2012, e novamente utilizando o Observatório de Arecibo.

A descoberta sugeria que essas rajadas rápidas de rádio poderiam ter vindo de um objeto exótico, assim como uma estrela de nêutrons rotativa muito jovem, com um poder sem precendentes, que permitia a emissão de pulsos extremamente brilhantes.

Tudo mudou em novembro do ano passado quando o estudante Paul Scholz (no centro da imagem, a frente do quadro-negro), candidato ao programa da PhD, da Univesidade McGill, estava examinando os resultados de observações de acompanhamento relacionadas a FRB 121102, e descobriu 10 rajadas rápidas de rádio, entre maio e junho de 2015
O mistério envolvendo a FRB 121102 aumentou recentemente com a publicação de um estudo no periódico científico "The Astrophysical Journal", no dia 16 de dezembro, no qual uma equipe de astrônomos internacionais, novamente liderados por Paul Scholz, descobriram mais 6 rajadas rápidas de rádio vindos daquela mesma região.

"Relatamos as observações de rádio e de raios-X, da única fonte conhecida e recorrente de rajadas rápidas de rádio, a FRB 121102. Detectamos cerca de seis rajadas de rádio adicionais dessa fonte: cinco com a ajuda do Radiotelescópio de Green Bank a 2 GHz e uma a 1,4 GHz a partir do Observatório de Arecibo, resultando em um total de 17 rajadas rápidas de rádio dessa fonte", disseram os astrônomos. Assim sendo, além do Observatório de Arecibo, o equipamento em Green Bank também foi capaz de observar tais rajadas rápidas de rádio, mas o que estava gerando essas rajadas permanecia um completo mistério.

"Sendo a FRB 121102 um objeto único na amostra atualmente conhecida de FRBs ou não, e ainda que todas as FRBs sejam capazes de repetirem os sinais, sua caracterização é extremamente importante para a compreensão dos transientes de rádio extragalácticos", completaram.

Qual Seria a Suposta e Remota Relação das FRBs e um Eventual Contato de Civilizações Extraterrestres?


Uma outra possibilidade que sempre circula em alguns sites de notícias, principalmente aqueles de vertente um pouco mais especulativa, é que tais sinais não tenham uma origem natural. Desde as primeiras descobertas das FRBs e outros "sinais transientes" (sinais aparentemente aleatórios ou temporários, também chamados de transitórios) os mesmos têm sido alvo das mais diversas especulações. Como vocês devem imaginar, algumas pessoas têm sugerido ao longo do tempo, que eles podem ser a prova da existência de civilizações extraterrestres.

Em 1967, por exemplo, depois de perceber uma estranha leitura de um radiotelescópio na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, a astrofísica Jocelyn Bell Burnell e sua equipe consideraram a possibilidade de que eles tinham recebido uma mensagem alienígena. Após um período de discussão a respeito do que realmente tinha sido captado, concluiu-se que as leituras observadas por Jocelyn estavam relacionadas a descoberta dos primeiros pulsares. Contudo, a possibilidade desses sinais serem de civilizações extraterrestres permaneceu viva na imaginação das pessoas (e também de parte da comunidade científica).

Em 1967, por exemplo, depois de perceber uma estranha leitura de um radiotelescópio na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, a astrofísica Jocelyn Bell Burnell (na foto) e sua equipe consideraram a possibilidade de que eles tinham recebido uma mensagem alienígena
Em um artigo intitulado "Cosmic Radio Plays An Alien Tune", e publicado pela revista New Scientist, em abril de 2015, por exemplo, a escritora e astrofísica Sarah Scoles explorou "possíveis e estranhos padrões" de algumas FRBs, que pareciam ser oriundas de algum ponto no interior da Via Láctea, e que talvez pudessem ser interpretadas como uma evidência de inteligência extraterrestre.

A escritora e astrofísica Sarah Scoles explorou "possíveis e estranhos padrões" de algumas FRBs, que pareciam ser oriundas de algum ponto no interior da Via Láctea, e que talvez pudessem ser interpretadas como uma evidência de inteligência extraterrestre
Entretanto, a probabilidade desses sinais estarem sendo enviados por extraterrestres é bem baixa. A razão é até bem simples, visto que as FRBs não são uma maneira eficaz de enviar uma mensagem. A Dra. Maura McLaughlin, da Universidade da Virgínia Ocidental, que fez parte da descoberta da primeira FRB (a FRB 010724, em 2007), em entrevista por email para o site Universe Today, em agosto desse ano, explicou que é necessária muita energia para produzir um sinal que se propague através de muitas frequências (uma característica que difere das FRBs). E se essas rajadas rápidas de rádio vieram de fora de nossa galáxia, o que certamente parece ser o caso, elas teriam que ser incrivelmente energéticas para chegar até aqui.

"A quantidade total de energia necessária para produzir apenas um pulso FRB é equivalente ao que o Sol produz em um mês! Embora possamos imaginar que as civilizações extraterrestres enviem sinais de curta duração, o envio de um sinal nas bandas de rádio amplamente largas sobre as quais as FRBs são detectadas, exigiria uma quantidade incrivelmente imensa de energia. Imaginamos que as civilizações extraterrestres transmitam em uma faixa bem estreita de frequências de rádio, assim como uma estação de rádio aqui na Terra", disse a Dra. Maura McLaughlin.

A Dra. Maura McLaughlin, da Universidade da Virgínia Ocidental, que fez parte da descoberta da primeira FRB (a FRB 010724, em 2007), em entrevista por email para o site Universe Today, em agosto desse ano, explicou que é necessária muita energia para produzir um sinal que se propague através de muitas frequências (uma característica que difere das FRBs)
Enfim, independentemente desses sinais serem naturais ou de civilizações extraterrestres, eles apresentam algumas possibilidades bem interessantes para a pesquisa astronômica e o nosso conhecimento do Universo. O mais importante é que você saiba que a hipótese de contato extraterrestre é muito remota quando falamos de FRBs, justamente pela quantidade de energia empregada em um único pulso. Exceto, é claro, que estejamos completamente errados sobre o que sabemos até o presente momento sobre o Universo.

Até a próxima, AssombradOs!

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://gizmodo.uol.com.br/explosoes-radio-recorrentes/
http://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/833/2/177/meta
http://spacetoday.com.br/frb-140514-os-astronomos-observam-pela-primeira-vez-uma-rapida-explosao-de-ondas-de-radio-ao-vivo/
http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-4061990/Are-aliens-trying-contact-Earth-Six-new-mysterious-blasts-radio-energy-detected-deep-space.html
http://www.ibtimes.co.uk/frbs-mystery-repeating-radio-signals-discovered-emanating-unknown-cosmic-source-1547133
http://www.ibtimes.co.uk/six-more-fast-radio-bursts-have-been-discovered-coming-mystery-cosmic-source-1597938
http://www.mcgill.ca/newsroom/channels/news/mysterious-cosmic-radio-bursts-found-repeat-259440
http://www.mpifr-bonn.mpg.de/pressreleases/2014/8
http://www.mpifr-bonn.mpg.de/pressreleases/2016/5
http://www.sciencealert.com/6-more-mysterious-radio-signals-have-been-detected-coming-from-outside-our-galaxy
http://www.space.com/22180-neutron-stars.html
http://www.universetoday.com/127669/fast-radio-bursts-on-repeat-were-not-saying-its-aliens-but/
https://en.wikipedia.org/wiki/Fast_radio_burst
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_de_nêutrons
https://public.nrao.edu/news/pressreleases/2015-gbt-frb
https://www.newscientist.com/article/2079411-repeating-cosmic-radio-blast-adds-mystery-to-their-origins/
https://www.newscientist.com/article/mg22630153-600-is-this-et-mystery-of-strange-radio-bursts-from-space/

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