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Mulher é Acusada de Torturar a Filha de 8 Anos por Suspeitar de "Possessão Demoníaca" em Ceilândia, no Distrito Federal

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Por Marco Faustino

O caso que iremos contar para vocês nessa postagem é extremamente revoltante, e começou a ser noticiado na sexta-feira passada (5) pelo site de notícias Metrópoles, assim como o site do jornal Correio Braziliense. Ao ler todo o material que foi gerado pelos veículos de imprensa do Distrito Federal, sinceramente custei a acreditar na monstruosidade e na covardia cometida contra crianças no coração do nosso país. Evidentemente, não posso dizer que estou surpreso, ainda mais considerando que já abordamos outros casos onde mães foram acusadas e posteriormente condenadas por matarem suas próprias filhas. Porém, se você vem acompanhando de perto o nosso blog, sabe que costumo dizer que "sempre parece mais difícil contar algo desse gênero quando acontece em nosso próprio país". Ainda temos uma carga e uma influência que muitas vezes nos faz pensar que isso só acontece em outros países. Quando leio muitos comentários em nossa página no Facebook ou até mesmo em nosso canal no Youtube, sempre vejo usuários dizendo: "Ah, só podia ser no México", "Tinha que ser na Rússia" etc. Culturalmente, somos influenciados a pensar que somos um país abençoado, um país alegre, de um povo caloroso, acolhedor, que recebe bem o turista ao mostrar o carnaval, a feijoada e Cristo Redentor. Embora boa parte disso ainda consiga ser verdade, a redenção, tanto no sentido literal quanto no teológico, está cada vez mais distante do nosso cotidiano.

Um exemplo disso é esse caso que envolve uma mulher de 44 anos, que está sendo acusada de torturar a filha de apenas 8 anos de idade, por suspeitar e acreditar que a menina estivesse sendo vítima de uma "possessão demoníaca". Contudo, ela não fez isso sozinha. Para isso ela teve ajuda de uma pastora evangélica de uma pequena "igreja" chamada "Casa da Oração Pentecostal dos Escolhidos de Deus", em Ceilândia, no Distrito Federal. A menina seria mantida em um quarto escuro de um "barraco", nos fundos dessa mesma igreja, que acabamos de mencionar, na QNN 05, em Ceilândia Norte. Por conta de todos os maus-tratos, ela praticamente não conseguia falar e nem mesmo se locomover. Inicialmente, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) acreditava que a menina vinha sendo torturada ao longo dos últimos 4 anos, porém em uma recente notícia, essa estimativa caiu para pelo menos 2 meses. De qualquer forma, é muito tempo para alguém, ainda mais uma criança, ser mantida em cativeiro, com condições precárias de higiene, sem alimentação adequada e sequer uma cama para dormir, visto que a polícia encontrou a menina deitada diretamente no chão gelado desse "barraco".

Antes de começarmos a contar essa história, é importante ressaltar mais uma vez que nosso principal compromisso é com a informação, sendo transmitida com credibilidade e ética, não com crenças pessoais. Ontem, comentamos sobre a "estátua de Jesus Cristo", que "teria aberto os olhos" na Catedral de Santiago, em Saltillo, no México, e mostramos para vocês toda a realidade sobre aquele caso. Aliás, a absoluta maioria dos usuários nos elogiaram pela forma com que abordamos o caso em nossa página no Facebook. Faríamos o mesmo se fosse um símbolo religioso de qualquer outra crença, mas sempre mantendo o respeito pela mesmo, visto que esse preceito é fundamental. Portanto, não é porque existe uma pastora evangélica envolvida nesse caso, que deixaríamos de divulgar. Já abordamos por exemplo, o caso daquela menininha que tinha sido vítima de uma suposta "seita espiritual" (posteriormente noticiado como "salão de umbanda") para "tratar e curar a asma" em Teresina, no Piauí, em abril desse ano. Lembram desse caso? Pois bem, a divulgação desses casos, assim como esse de Ceilândia, que vamos comentar a partir de agora, deveria servir para que entidades religiosas comprometidas com o bem-estar de seus seguidores se manifestassem em repúdio ao tratamento dado aos mesmos, porém nem sempre isso acontece. Enfim, vamos saber mais sobre esse assunto?

Um Pouco Sobre Ceilândia, no Distrito Federal 


Para quem não conhece, Ceilândia é a região administrativa mais populosa do Distrito Federal, maior do que muitas cidades que temos em nosso país. Segundo o último censo realizado em 2010, Ceilândia contava com praticamente 400.000 habitantes. Esse número atualmente seria de 489.000 habitantes, e se fosse oficialmente considerada como cidade, seria a 43ª maior cidade do nosso país.

Ceilândia também conta com graves problema sociais e de segurança pública, visto que a mesma foi apontada como a "região mais violenta" do Distrito Federal no início de 2015, e novas medidas de segurança foram implementadas no começo desse ano para tentar reduzir o índice de criminalidade da região, principalmente em relação a homicídios e assaltos em coletivos (interpretem como ônibus e demais veículos de transporte coletivo).

Imagem do Google Maps mostrando a localização de Ceilândia (em destaque no mapa),
a mais populosa região administrativa do Distrito Federal

Um dos símbolos da região, a caixa d’água de Ceilândia, no Distrito Federal, foi reconhecida
como patrimônio histórico pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal em 2013
A região administrativa era originalmente dividida em quatro grandes áreas: Ceilândia Norte, Ceilândia Centro, Ceilândia Sul e Guariroba. Porém, atualmente é subdividida em diversos outros bairros, como Setor "O", Expansão do Setor "O", P Norte, P Sul, QNQ, QNR, entre outros, que, em sua grande maioria, são densamente povoados. Enfim, vamos voltar ao assunto principal dessa postagem.

Como Toda Essa História Começou a Ser Divulgada na Imprensa


Conforme dissemos anteriormente, toda essa história começou a ser divulgada, quando o site de notícias Metrópoles e o site do jornal Correio Braziliense divulgaram na noite da sexta-feira passada (5), que policiais militares haviam prendido uma mulher, cujo nome não foi divulgado (supostamente o nome seria Rose), de 44 anos, que mantinha a própria filha em cárcere privado, ou seja, o que é popularmente conhecido como "cativeiro". O motivo: a mãe acreditava que a menina, de apenas 8 anos de idade, estava "possuída pelo demônio".

Na ocasião, uma pastora evangélica chamada Jaci, de 45 anos, também foi presa por supostamente convencer a fiel que a filha estava possuída. O caso ocorreu em Ceilândia, no Distrito Federal, e as duas mulheres foram presas em flagrante e autuadas por cárcere privado e tortura. Ambas tinham sido conduzidas até a 23ª Delegacia de Polícia (P Sul), porém o caso seria investigado pela 15ª DP.

O caso ocorreu em Ceilândia, no Distrito Federal, e as duas mulheres foram inicialmente
conduzidas para a 23ª Delegacia de Polícia (P Sul).



De acordo com o que foi publicado na noite da sexta-feira passada (5), no site Metrópoles, e segundo os policiais que atenderam a ocorrência, o caso foi denunciado ao Conselho Tutelar de Ceilândia, a partir de uma denúncia anônima, que apontava que a menina era torturada em um quarto escuro de um barraco, nos fundos de uma pequena igreja, na QNN 05, no bairro Ceilândia Norte. Inicialmente, de acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a criança era submetida a essas condições há pelo menos quatro anos (esse número vai cair drasticamente no decorrer dessa postagem). Por conta de todos os maus-tratos, ela mal sabia falar ou andar.

Quando chegaram ao local, os policiais do Departamento Operacional (DOP) da Polícia Militar encontraram a criança trancada em um cômodo, nos fundos do barraco. "A menina estava muito assustada, apresentava sinais de desnutrição, desidratação, inflamação na boca e muita fraqueza", explicou o major Márcio Rogério, em entrevista para o Metrópoles.

De acordo com o site do Correio Braziliense, que publicou uma notícia sobre esse caso, naquela mesma noite, a menina teve que ser encaminhada para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) para receber uma transfusão de sangue devido a um quadro de anemia aguda. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado para o transporte da criança até o hospital. A suspeita era que a vítima tivesse permanecido por mais de um mês sem se alimentar direito, ou seja, essa estimativa de tempo era bem diferente, porém ainda assim igualmente grave.

Cõmodo no qual a menina de apenas 8 anos de idade era mantida trancafiada pela própria mãe,
e por uma suposta pastora evangélica
O cárcere desmontado pela polícia não possuía condições de higiene e de acomodação, ou seja, era sujo e não possuía sequer uma camaou colchão. Quando a polícia desmontou o cativeiro, a criança estava deitada sobre o chão gelado do quarto, e sem forças para se locomover. Segundo a PMDF, a mãe havia sido alertada pela pastora que a criança estava possuída pelo demônioe que, para melhorar, deveria ficar trancafiada no quarto. Após as providências legais, elas seriam encaminhadas para a penitenciária feminina, onde permaneceriam à disposição da Justiça.

Segundo o Conselho Tutelar, a Menina de 8 Anos Não Seria a Única Vítima de uma Pastora Evangélica em Ceilândia


A menina de oito anos que era mantida em cárcere privado pela própria mãe, no bairro de Ceilândia Norte, não seria a única vítima da pastora evangélica. Sim, isso mesmo que você leu, outras crianças poderiam ter sido ou estar sendo vítimas dela. Em uma notícia publicada na manhã do dia seguinte, em um sábado (6), pela jornalista Mirelle Pinheiro, no site de notícias Metrópoles, a suposta religiosa estaria dizendo a outras famílias da cidade, que os filhos poderiam estar "possuídos pelo demônio". A conselheira tutelar que resgatou a menina contou que um bebê foi colocado para adoção após os pais terem sido convencidos de que o recém-nascido também tinha "espíritos malignos". A notícia também aponta que esse "barraco", nos fundos da igreja, seria o local onde a mãe morava com a filha.

"Acreditamos que existem outras vítimas. Por isso, a ajuda dos moradores é muito importante. É preciso denunciar. Foi graças a essas informações anônimas que conseguimos resgatar essa criança", disse a conselheira Cristina Caetana.

Fraca, a criança não conseguia se levantar do chão. Ela estava trancada em um quarto vazio, sem móveis e no escuro, por ao menos dois meses, ou seja, a estimativa de tempo realmente era entre um a dois meses. Um vídeo divulgado pela Polícia Militar mostra o exato momento em que a menina Ana B. (o nome não será divulgado para preservar a identidade da menina) foi encontrada pelos policiais. Assim que os conselheiros chegaram à residência, a mãe alegou que a filha estava no quarto porque era "doente", não andava e tinha dificuldades para falar. "Levei ela no hospital várias vezes, a médica desconfia que ela também tenha gastrite", disse a mãe.

Confira o vídeo publicado no dia 6 de agosto, no canal do site Metrópoles, no Youtube, em que as imagens revelam a negligência com que a criança era tratada. Ana B. estava magra, deitada no chão sem qualquer proteção e totalmente abandonada:



O vídeo basicamente retrata um trecho da abordagem realizada pela PMDF, onde claramente mostra a influência exercida pela pastora que tenta se apresentar "como se fosse uma mãe" da mulher, que mantinha a própria filha em cárcere privado, querendo ditar o que a mesma deveria ou não falar para a polícia. No vídeo ainda é mencionado que a menina supostamente teria um "colchão" (provavelmente apenas um "colchonete") para dormir durante a noite, porém ela suspostamente urinava durante o dia, razão pela qual foi encontrada deitada diretamente sobre o chão.

Em outro trecho, a menina afirma que nunca bateram nela, mas a deixavam sozinha. Quando questionada sobre o local onde dormia, se era em uma cama, ela disse que não. Falou aos conselheiros que tinha apenas uma colcha, mas que não a usava por medo de urinar no pano, já que não a levavam ao banheiro. No final do vídeo é possível ouvir a mãe dizendo que ninguém havia explicado nada para ela, mas que certo dia a menina teria voltado da escola com um sangramento em suas partes íntimas.
 
Aos conselheiros, a menina conseguiu dizer que estudava, tinha amigos e até conseguia "andar rápido". No entanto, a mãe a teria colocado "de castigo". Ela não sabia dizer há quanto tempo estava trancada. "Lá era muito escuro, ela perdeu a noção do que era dia ou noite. Falava que comia biscoito, às vezes", ressaltou a conselheira Cristina Caetana.

Sobre o suposto tratamento recomendado pela pastora, a criança informou que a mãe não a tratava pelo nome. "Ela me chama de demônio", disse a criança à conselheira. Assista a um vídeo onde a menina responde algumas perguntas sobre como era o tratamento que davam a ela, que também foi recentemente publicado no canal do site Metrópoles, no Youtube:



Comovidos com a situação, os policiais militares que atuaram na ocorrência se mobilizaram para comprar brinquedos para a menina. A entrega foi realizada naquele mesmo dia, ou seja, na tarde de sábado passado (6) no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde Ana B. ainda estava se recuperando de um quadro de grave desnutrição, e sem previsão de alta.

"Foi muito impactante chegar lá e ver essa situação. Sou pai de família e, como policial, temos que aprender a controlar as emoções. Ela me disse que tinha que se rastejar para usar o banheiro. Teve os brinquedos tomados, por isso queremos levar um pouco de alegria para ela", disse na época, o major Marcio Rogério, em entrevista para o site Metrópoles.

O major Márcio Rogério, um dos responsáveis pela operação, levou a filha de 5 anos, Rafaela, para entregar os brinquedos, sendo que alimentos também foram doados.

O major Márcio Rogério, um dos responsáveis pela operação, levou a filha de 5 anos, Rafaela,
para entregar os brinquedos, sendo que alimentos também foram doados
De acordo com uma publicação realizada no site da Polícia Militar do Distrito Federal, o sonho de Ana B. era ter uma boneca Barbie. Sensibilizado com a declaração, ainda mais por ter uma filha da mesma faixa etária, o major controlou as emoções e decidiu fazer uma surpresa.

"A gente não consegue entender porque uma mãe faz uma coisa dessas, mas a gente consegue entender o porquê, diante de tantas adversidades, a gente não desiste de combater e de servir", disse o major Márcio Rogério.  Também foi noticiado que os parentes da menina tinham sido localizados, porém suspeitava-se que os familiares não sabiam da tortura que estava sendo cometida contra a menina.

Segundo uma outra notícia publicada no período da noite, pelo jornalista Carlos Carone do site Metrópoles, o pai de Ana B. não foi localizado após fugir do Distrito Federal para evitar a prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia. Além disso, devido ao estado de saúde, a menina tinha perdido dois dentes.

Mãe e a Pastora que Prendiam Criança por Estar Supostamente "Possuída" São Soltas Pela Justiça do Distrito Federal


Para a "surpresa" de muitos, tanto a mãe de Ana B. quanto a pastora evangélica, ambas acusadas de torturar e manter a menina de apenas 8 anos em cárcere privado, foram soltas apenas dois dias depois. Sim, é exatamente isso que vocês leram, elas estão em liberdade provisória.

Segundo informações do site Metrópoles e do Correio Braziliense, o alvará de soltura tinha sido expedido após uma audiência de custódia realizada ainda no sábado passado (6) no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Na ocasião, o juiz também estipulou que a "guarda da criança com sua mãe poderia ser prejudicial", suspendendo cautelarmente o poder familiar da mãe da menina.

Resumindo, ambas foram liberadas no domingo (7), porém continuariam sendo investigadas pela polícia.

A mãe de Ana B. e a suposta pastora evangélica foram soltas no último no domingo (7),
porém continuariam sendo investigadas pela polícia.
Na tarde da última terça-feira (9), o site do Correio Braziliense revelou novos detalhes sobre o momento em que a mãe e a pastora foram abordadas pelo Conselho Tutelar e pela Polícia Militar na sexta-feira passada (5). De acordo com o site, o Conselho Tutelar soube do caso por denúncias de moradores da região. Segundo a conselheira Selma Aparecida da Costa, uma denúncia anônima motivou a averiguação.

"Essa pastora já era monitorada por nós desde uma chamada pelo Disque 100, que tratava de uma situação semelhante: uma mãe estaria maltratando um bebê de 2 meses. Ela havia sido influenciada pela pastora a acreditar que o recém-nascido era do capeta, do demônio. Ela acabou entregando o menino para a adoção. Já faz dois meses que está no cadastro. Ligamos uma coisa a outra depois que falaram dela novamente", disse a conselheira, do Conselho Tutelar 1 de Ceilândia.

Na sexta-feira passada (5), Selma foi até a igreja e pediu para visitar a casa da mãe de Ana.B. A suposta pastora recebeu a equipe do Conselho Tutelar e indicou onde a mãe estava.

"Elas nos receberam bem, calmas, como se nada tivesse acontecendo e nos levaram até o local. A menina estava deitada no chão, suja, desnutrida, em um quarto escuro. Na mesma hora, abrimos as janelas, chamamos o Samu e a polícia", completou a conselheira.

O major Márcio Rogério da PMDF (à esquerda), ao lado da conselheira Selma Aparecida da Costa (à direita),
da equipe do Conselho Tutelar 1 de Ceilândia, no Distrito Federal
Segundo a notícia, a mãe afirmou que daria sua versão dos fatos em um momento oportuno, e que vizinhos disseram que a pastora morava em Águas Claras, no Distrito Federal. Curiosamente, o texto apontava que a mãe e a pastora acreditavam que a menina seria vítima de "obsessão demoníaca", e não exatamente de uma "possessão demoníaca". De qualquer forma, nada justificava aquela atitude de ambas as partes.

Em uma outra notícia publicada no site do Correio Braziliense, ainda na última sexta-feira (9), havia sido informado que o pai de Ana B. tinha sido localizado. O homem estava em uma chácara, longe da região administrativa. Ele foi até o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde a menina continuava sendo tratada diante dos quadros de anemia e desnutrição, e entrou em contato com o Conselho Tutelar 1 da região, que está acompanhando o caso. Segundo um depoimento prestado pelo pai, ele não sabia o estava acontecendo com a filha. Aliás, o homem estava há cerca de dois anos sem ver a menina.

Segundo a conselheira Selma Aparecida da Costa, ele afirmou que a mãe o proibia de fazer visitas. "Ele disse que nos primeiros dois anos, a mãe deixou. Que pagava pensão, que chegou, inclusive, a aceitar ficar com a menina para que a mãe pudesse trabalhar, mas ela teria voltado atrás. Além disso, não deixou mais ele ver a criança", disse Selma.

O pai e a família materna da criança tinham manifestado interesse em ficar com a menina, porém o Conselho Tutelar disse que seria realizada uma investigação social com o objetivo de avaliar se a família tinha condições de recebê-la ou se tinha o mesmo perfil religioso da mãe. A guarda da menina continuava com o Conselho Tutelar até que essa situação fosse resolvida.

Testemunha Aponta que Pastora e Mãe "Sacrificariam" Criança Supostamente "Possuída" em um Ritual


Segundo os jornalistas Carlos Carone e Michael Melo, do site de notícias Metrópoles, o destino da criança trancada pela própria mãe em um quarto escuro em Ceilândia, após uma pastora evangélica induzí-la a acreditar que a filha estava "possuída pelo demônio" poderia ter tido um desfecho trágico.

Foi informado em uma notícia publicada na última quarta-feira (10), que denúncias levadas ao Conselho Tutelar por uma testemunha, davam conta de que a menina de 8 anos seria sacrificada. Uma espécie de "ritual de exorcismo", porém com uma finalidade muito sombria, contaria com a participação da própria mãe, e da pastora Jacivã Pereira dos Santos, mais conhecida como Jaci, que continua pregando na igreja "Casa da Oração Pentecostal dos Escolhidos de Deus".

A pastora Jacivã Pereira dos Santos, mais conhecida como Jaci,
que prega na igreja "Casa da Oração Pentecostal dos Escolhidos de Deus".
O episódio teria provocado uma verdadeira "enxurrada de denúncias", que foram recebidas pelo Conselho Tutelar, sendo que o caso poderia ser ainda mais assustador. Segundo relatos de testemunhas, pelo menos quatro crianças foram abandonadas pelas mães – todas fiéis da igreja – por suposta influência de Jaci. A pastora teria convencido as mulheres de que os filhos delas estavam com o "demônio no corpo", e que elas precisavam se afastar das crianças. As fiéis teriam sido orientadas a se separar dos respectivos maridos, e a cortar relações com todos os parentes, com a desculpa de que todos estariam "endemoniados".

Na noite da última terça-feira (9), uma equipe do site Metrópoles esteve na "igreja" em Ceilândia Norte, e registrou parte do culto. Mesmo depois de passar 48 horas na cadeia, Jaci fez questão de contar aos fiéis que, de fato, a menina, vítima de cárcere privado, estava com o "demônio no corpo", e que poderia se tornar uma ameaça a todos. Confira o vídeo que foi publicado no canal do site Metrópoles, no Youtube, na última quarta-feira (10):



"Qualquer hora ela poderia pegar e matar, né? Manifestar os demônios", disse a pastora durante o culto. Quando percebeu que estava sendo gravada, Jaci fechou as portas do local.

A Força da Influência Exercida Pela Pastora Jaci em Suas Fiéis


A notícia apontou a força da influência que Jaci mantinha sobre suas fiéis. O site Metrópoles conversou com "Jéssica" (nome fictício), uma parente de uma mulher que abandonou o filho, de apenas 6 meses, por acreditar que o menino estava "possuído". Sob a condição de não ter a identidade revelada, ela conversou com o site, e contou que a familiar é uma empresária, dona de uma escola de educação infantil em Ceilândia. Ainda assim, a mesma teria sido influenciada por Jaci.

"Ela tem formação superior em pedagogia. Não se trata de uma pessoa humilde e sem instrução, mas teve a personalidade modificada por essa pastora. Ela foi convencida a largar o marido. e a abandonar o filho de 11 anos com o pai. Por último, entregou o seu bebê de 6 meses para adoção simplesmente porque a pastora afirmou que todos estavam possuídos", disse a mulher. Ainda segundo essa testemunha, a fiel cortou relações com todos os parentes mais próximos, e o bebê foi deixado em um abrigo do governo, aos cuidados da Vara da Infância e da Juventude (VIJ).

"Tentamos ficar com a criança, todos da família a queriam, mas ela disse que o bebê estava com o demônio e que deveria morrer. Estamos tentando reaver a guarda", desabafou a familiar da frequentadora da igreja.

A pastora Jaci ao chegar à igreja evangélica onde prega, em Ceilândia, no Distrito Federal
Segundo a denúncia, que foi encaminhada ao Conselho Tutelar, a intenção da pastora teria motivação financeira. O plano seria afastar parentes e garantir o pagamento do dízimo (doações à igreja), sem interferências. "Como essa minha parente é dona de uma escola e fatura um bom dinheiro, a pastora recebe cerca de R$ 2.000 por mês com o dízimo", completou.

Outra apuração conduzida pelo Conselho Tutelar envolve um casal de servidores públicos. A mulher foi convencida que o marido e o filho estariam sendo "comandados pelo demônio". Ambos também frequentavam a igreja de Jaci. O modus operandi, ou seja, a forma de agir, foi o mesmo dos demais casos. A fiel teria sido orientada pela pastora a abandonar todos os parentes, mas sem se esquecer das obrigações com o dízimo. A funcionária teria se separado do marido, e a criança ficou com o pai.

Após o culto da noite de terça-feira (9), o site Metrópoles tentou falar com Jaci, mas ela se recusou a comentar as acusações. A empresária que deu o filho para a adoção, e faz parte do grupo de fiéis da igreja, também foi procurada na escola que administra, mas não foi localizada. Enfim, caso tenhamos quaisquer outras novidades sobre esse caso, manteremos vocês atualizados.

De qualquer forma, se você souber de algo semelhante ou até mesmo tiver alguma informação a mais sobre esse caso, denuncie, disque 100, que é o número de serviço de utilidade pública coordenado e executado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Por meio do 100, você pode denunciar violências contra crianças e adolescentes, saber informações acerca do paradeiro de crianças e adolescentes desaparecidos, tráfico de pessoas – independentemente da idade da vítima – e obter informações sobre os Conselhos Tutelares. A ligação é gratuita, e o atendimento funciona 24h por dia, sete dias por semana, inclusive feriados. As denúncias recebidas são analisadas e encaminhadas aos órgãos responsáveis, conforme a competência, em um prazo de 24h. Sua identidade é mantida em absoluto sigilo, combinado?

Nessa parte final da postagem, gostaria de agradecer ao Fernando Braga, editor do site Metrópoles, que gentilmente nos concedeu permissão para republicar trechos das notícias, imagens, e incluindo os vídeos publicados no canal do site Metrópoles, no Youtube. Saiba que esse reconhecimento da seriedade do nosso trabalho é muito importante para nós.

Comentários Finais


De onde nascem os monstros? Foi justamente essa pergunta que não saiu da minha cabeça ao terminar de escrever essa postagem. Sinceramente, não sei dizer a vocês, e talvez eu nunca venha a ter uma resposta para essa pergunta. É um conjunto mórbido, sórdido, vil, covarde e de ignóbeis acontecimentos tão amplo, que muito provavelmente seria impossível de responder em uma única linha ou até mesmo em uma tese de doutorado. Podemos apenas especular diante das condições em que a monstruosidade encontra o campo perfeito para semear essas pequenas sementes de maldade, que em pouco tempo se tornam uma floresta escura, úmida, silenciosa e sombria, mesmo diante do clima árido do planalto central. Enquanto a árvore da bondade e da generosidade demora anos para florescer diante de um duelo diário para evitar que seja cortada, a árvore do desprezo à vida humana e da imoralidade demora apenas alguns pouco dias para que sua copa esconda toda podridão da qual ela nasceu, e de onde seus semeadores vivem praticando atos, que me faltam palavras para expressar toda a indignação que sinto nesse momento. Posso não saber de onde os monstros nascem, mas sei o que eles temem: a voz da pessoas que lutam diariamente para proteger as demais árvores, cujos frutos alimentam aqueles que têm esperança. Quando alguém denuncia algo assim, ainda que anonimamente, é como se um pequeno facho de luz conseguisse atravessar a cortina negra que encoberta esses atos, e isso definitivamente incomoda. A luz se converte em som e ressoa pela floresta, atormentando e atrapalhando os planos de quem pretendia semear a maldade.

Assim sendo, estivemos diante de uma mãe, que não sabia explicar o porquê mantinha a filha daquela forma, dizendo que a tinha levado ao médico, que ninguém sabia o que a menina tinha, talvez gastrite, porém estava bem apreensiva diante da autoridade policial. Também estivemos diante de uma pastora, porém a mesma não apresentava nenhum temor diante da situção. Afinal, provavelmente a mesma, em sua cabeça, era uma "escolhida de Deus", então o que ela tinha a temer? Conforme mencionei anteriormente, a árvore do desprezo à vida humana cresce rapidamente. Não demorou muito para ficarmos sabendo, através de mais denúncias, que poderia haver mais casos, outras crianças inocentes que foram abandonadas por suas mães. A influência da pastora transformava o seu rebanho de ovelhas em suas filhas, uma legião perversa de pessoas, que da noite para o dia, poderiam se tornar tão somente um instrumento na mão da mesma, no qual poderia ser utilizado até mesmo para matar seus bens mais preciosos. A estratégia, por outro lado, estava bem estabelecida. Primeiro era necessário fragilizar o seu rebanho, destruir o psicológico das mulheres, para depois introduzir algo totalmente novo e deturpado. E não podemos dizer que as vítimas eram "negras, pobres e burras", porque a capacidade da pastora ia muito além disso. Teria alcançado, inclusive, a proprietária de uma escola de ensino infantil. Não sabemos todas as intenções da pastora, talvez nunca saibamos, mas aparentemente algo era fundamental para ela: o dinheiro.

Quanto vale uma vida? Quanto vale uma filha? Quanto vale um filho? Essas são perguntas mais fáceis de responder, não é mesmo? Afinal para as três perguntas, muito provavelmente temos uma resposta em comum: não tem preço. Porém, não podemos nos esquecer que não é somente a pastora que deve pagar pelos seus atos. Onde estavam os maridos dessas mulheres que não lutaram por suas companheiras? Onde estavam que não lutaram para desvencilhar suas esposas da influência dessa pastora, e disseram aos quatro ventos o que estava acontecendo? Como que você não luta pelas pessoas que mais deveriam importar na sua vida? Além disso, se for verdade o que a mãe da menina disse, onde estava o poder público, seja através da escola onde a menina estudava, seja através das unidades básicas de saúde, que não tomaram providências em relação a alegação que a menina, certo dia, teria voltado com sangramento da escola? Será que a escola não sabia dessa informação? Ninguém realmente quis ir até a casa da mãe da menina para ver se havia algo errado, mesmo após um a dois meses sem que a mesma frequentasse as aulas? O que mais dói nesse caso, é que depois de tantos questionamentos, a pastora pode ter mesmo razão quando ela disse que "ninguém fez nada". Afinal de contas, tudo que é necessário para que floresta do desprezo à vida humana enegreça o ambiente ao nosso redor, é que ninguém faça nada, ninguém fale nada. Por favor, nunca faça silêncio, seja esse pequeno facho de luz, porque muitas crianças em nosso país têm motivos, dentro de suas próprias casas, para ter medo do escuro.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/08/05/interna_cidadesdf,543391/mae-trancafiou-menina-de-8-anos-por-suspeitar-de-possessao-demoniaca.shtml
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/08/07/interna_cidadesdf,543477/mae-e-pastora-sao-liberadas-pela-justica-apos-audiencia-de-custodia.shtml
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/08/09/interna_cidadesdf,543655/policia-investiga-mae-e-pastora-que-torturaram-crianca-de-7-anos.shtml
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/08/09/interna_cidadesdf,543773/pai-de-menina-mantida-em-carcere-privado-procura-conselho-tutelar.shtml
http://www.metropoles.com/distrito-federal/ela-me-chama-de-demonio-diz-crianca-que-era-mantida-presa-pela-mae
http://www.metropoles.com/distrito-federal/mae-e-pastora-que-prendiam-crianca-por-ela-estar-possuida-sao-soltas
http://www.metropoles.com/distrito-federal/seguranca-df/mae-achava-que-filha-estava-possuida-pelo-diabo-e-e-presa
http://www.metropoles.com/distrito-federal/seguranca-df/menina-mantida-em-carcere-pela-mae-ficara-com-o-conselho-tutelar
http://www.metropoles.com/distrito-federal/seguranca-df/pastora-e-mae-sacrificariam-crianca-possuida-em-ritual-diz-testemunha
http://www.pmdf.df.gov.br/site/index.php/2011-08-07-02-53-55/11760-crianca-mantida-em-carcere-privado-tem-sonho-realizado-por-policial-militar


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