Por Marco Faustino
Ao redor do mundo existem as mais diversas e estranhas formas de homenagear, e até mesmo enterrar os nossos entes queridos, que infelizmente, por alguma fatalidade ou problemas de saúde, deixaram essa vida para continuar suas jornadas em outro plano ou simplesmente descansarem em paz, e serem eternizados na memória daqueles os amavam em vida. Em Porto Rico, por exemplo, existe uma funerária que presta um serviço um tanto quanto exótico para seus clientes. Segundo a proprietária, algumas pessoas pedem para velar seus parentes como se estivessem jogando sinuca com eles, bebendo, dançando, escutando música, ou seja, como se a pessoa falecida ainda estivesse presente. Certa vez, houve um caso de um boxeador que foi colocado dentro do ringue onde lutava, de uma senhora idosa que foi velada descansando em sua cadeira de balanço, de um homem sentado em sua moto, e até mesmo de um paramédico que foi velado como se estivesse dirigindo uma ambulância (leia mais:Os Inusitados Velórios Realizados Por Uma Funerária de San Juan, em Porto Rico). Estranho, não é mesmo? Contudo, existem práticas bem mais sombrias. Em uma determinada região da Indonésia existe um ritual de desenterrar os mortos, limpá-los e vesti-los com roupas totalmente novas, uma vez no ano, para que eles sejam carregados pelos familiares do local do sepultamento até a casa em que viviam. Evidentemente, existem outros exemplos, mas ficaríamos uma postagem inteira apenas escrevendo sobre eles.
Geralmente esses casos inusitados quase sempre acontecem em locais mais remotos, onde não há um fluxo expressivo de pessoas. No entanto, imagine que você está passando por uma avenida movimentada da sua cidade. Então, despretensiosamente você olha para o lado, em direção a um determinado estabelecimento comercial que está fechado, porém é possível ver seu interior através das vidraças. Essa é uma situação praticamente normal do cotidiano das pessoas, principalmente das grandes cidades, não é mesmo? Em seguida, ao olhar para dentro do estabelecimento, você se depara com uma grande cruz de madeira e abaixo dele um caixão com um corpo dentro, em direção a porta. Nesse momento, as reações provavelmente seriam as mais variadas possíveis. Algumas pessoas fariam o "sinal da cruz", outras ficariam com medo, e outras continuariam observando, ainda que fosse um ato um tanto quanto mórbido. Entretanto, uma vez que praticamente qualquer pessoa hoje em dia possui um celular com câmera, mesmo que não seja de boa qualidade, uma atitude é praticamente certa: a inusitada situação será fotografada, filmada e muito provavelmente, em questão de segundos, será compartilhada pelas redes sociais. E foi exatamente isso que aconteceu essa semana em Buenos Aires, na Argentina. Vamos saber mais sobre esse assunto?
A Notícia Divulgada pelo Site do Jornal "Crónica"
Na noite da última quarta-feira (6), o site do jornal argentino "Crónica" publicou um estranho caso de um caixão, com um corpo dentro, que estava dentro da "Casa de Massas Don Cosme", um estabelecimento comercial dedicado a venda de massas italianas (marcarrão, lasanha, cannelloni etc.), localizado na Avenida Montes de Oca & Olavarría nº 977, no bairro de Barracas, em Buenos Aires. Segundo o Crónica, desde o último sábado (2) havia um caixão com o corpo de um homem dentro do local, e isso era algo que estava deixando os vizinhos muito assustados. Desde então, as atividades do estabelecimento comercial teriam sido interrompidas, e não teriam mais aberto suas portas.
Imagens do Google Maps (acima) e do Google Street View (abaixo) mostrando a localização do bairro, e da Avenida Montes de Oca & Olavarría, onde fica localizada a "Casa de Massas Don Cosme" |
Naquela noite, como era de se esperar diante de um caso tão estranho quanto aquele, diversos vizinhos se aglomeraram na porta do estabelecimento para fotografar, registrar vídeos, e até mesmo comentar sobre o assunto. As fotografias e vídeos realizados foram parar nas redes sociais, até que chegou ao conhecimento do "Crónica", justamente um dos primeiros sites a divulgar o caso. O "Crónica" até mesmo conseguiu obter com exclusividade uma declaração de um vizinho chamado "Martín Peña".
Antes de ler o que ele disse ao "Crónica", veja o vídeo que começou a circular pelos grupos de Whatsapp e pelo Twitter, em Buenos Aires, no canal do próprio jornal no Youtube:
"No sábado, do nada, apareceu o caixão. Ninguém sabe o motivo, ou qual foi a razão da morte", disse Martín Peña, alegando também que frequentava regularmente o local para comprar massas, em razão da popularidade das mesmas, e nunca havia notado nada de estranho.
"Nunca vi nada assim antes. É algo extremamente raro. Além disso, os proprietários do local estiveram hoje lá dentro, mas não abriram as portas paravender as massas. Não entendo como o corpo pode ficar tantos dias sem enterrar ou qualquer coisa assim", continuou.
Ainda de acordo com o Crónica, a multidão aglomerada na frente do estabelecimento atraiu a atenção de policiais da 26ª Delegacia de Polícia, que estavam fazendo um patrulhamento de rotina no bairro.
"Um policial se aproximou para ver o que estava acontecendo. Ao mesmo tempo que ele pediu para nos afastarmos, saiu uma senhora de dentro do local. Ela olhava para o caixão e em seguida nos olhava como se não houvesse nada de errado", completou.
Ainda de acordo com o Crónica, a multidão aglomerada na frente do estabelecimento atraiu a atenção de policiais da 26ª Delegacia de Polícia, que estavam fazendo um patrulhamento de rotina no bairro. |
Enfim, os vizinhos queriam que o caixão fosse retirado do local, porém o mesmo continuava dentro do estabelecimento, para a "insatisfação" dos moradores locais. O grande problema, porém, não era bem os vizinhos, mas sim a dimensão e a repercussão, que isso rapidamente ganhou nos principais veículos de comunicação da Argentina, mais precisamente, é claro, da região de Buenos Aires.
O Escândalo Provocado pela Imprensa Argentina em Torno desse Caso
Desde as primeiras horas da manhã de ontem, quinta-feira (7), mais de 15 profissionais de imprensa, entre repórteres e cinegrafistas, foram até o local com suas respectivas unidades móveis, que disputavam um local para estacionar, para exibir ao vivo o estabelecimento. O local anteriormente vendia massas, porém o mesmo estava sendo utilizado para velar um "corpo misterioso", que "ninguém tinha explicação" sobre quem era ou muito menos a causa da morte. Os jornalistas estavam sendo motivados pela intensa movimentação das redes sociais, principalmente pela repercussão da notícia publicada na noite anterior pelo site do "Crónica".
Diversos canais de TV começaram a entrar ao vivo desde às 6h, tentando entrevistar pessoas que passavam pelo local, bem como vizinhos da "Casa de Massas", mas a situação começou a ser esclarecida somente quando surgiu uma vizinha, que rapidamente foi entrevistada pelos repórteres, dizendo que não era um homem que estava sendo velado, mas a mãe da proprietária do estabelecimento.
Segundo essa moradora, o corpo era de uma idosa de 94 anos, que estava com a saúde debilitada em razão da idade avançada, e tinha sido internada no Hospital Argerich, um hospital público da região metropolitana de Buenos Aires, onde veio a falecer entre a noite do último sábado e madrugada de domingo (entre 2 e 3 de julho). Aliás, de acordo com ela, a "Casa de Massas Don Cosme" não funcionava há pelo menos 17 anos, ou seja, toda aquela história contada pelo "Crónica" havia se desmantelado completamente.
Confira a entrevista dessa vizinha que foi publicada pelo canal de TV chamado "Telefe" (Televisión Federal), em seu respectivo canal do Youtube (TelefeNoticias, em espanhol):
Ainda de acordo com essa vizinha, havia também uma certa "tradição familiar", visto que a "Casa de Massas" estava fechada há quase duas décadas, em razão do falecimento do marido dessa senhora que estava sendo velada. O marido também havia sido velado no mesmo local por cerca de uma semana, e da mesma forma que estava acontecendo agora. Além disso, os vizinhos não estavam reclamando de quaisquer odores, que seriam típicos da decomposição de um corpo ao longo do tempo (visto que o caixão estava aberto), mas devido a incômoda presença daquele caixão quando eles passavam pela rua.
Evidentemente, essa mesma vizinha deu entrevistas para outras emissoras de TV, praticamente repetindo a mesma história. Porém, em algumas outras entrevistas ela disse que a porta de aço era diariamente erguida, embora o estabelecimento permanecesse com as vidraças trancadas. Os vizinhos frequentemente viam a proprietária, a Sra. Maria, seu irmão, Eliseo, e a mãe deles, a Sra. Mariana Circosta (justamente quem tinha falecido), todos já com uma certa idade, dentro do local. Eles costumavam se reunir pela manhã para tomar mate, uma espécie de rotina que eles sempre faziam questão de ter. Não eram pessoas que conversavam com os vizinhos, porém não se envolviam em quaisquer problemas.
Todavia, a imprensa argentina não iria "perder a viagem", e praticamente acampou na avenida, esperando que a Sra. Maria aparecesse, algo que segundo os vizinhos, acontecia por volta das 8h da manhã. Por volta desse horário ela erguia a porta de aço, e entrava com seu irmão no estabelecimento. E assim, começaria uma jornada surreal em torno desse assunto. Assistam as duas primeiras entradas ao vivo do canal de notícias C5N, que foram publicadas em seu respectivo canal no Youtube (em espanhol):
A triste situação em que a imprensa argentina colocaria a Sra. Maria, proprietária do estabelecimento, começou por volta de 7h50 da manhã. A senhora estava extremamente estressada, se vendo cercada pelos profissionais de imprensa. Seu irmão também estava acuado e assustado com a situação. Ao mesmo tempo que choviam perguntas sobre o que estaria acontecendo dentro do lugar, a Sra. Maria tentava responder, ainda que muito nervosa, ao que era questionado. Veja abaixo o que foi exibido ao vivo pela C5N (em espanhol):
"Os vizinhos são ruins, eles têm inveja de mim, porque eu tenho a propriedade. Aqui dentro está minha mãe morta, não é um cachorro que morreu. Fiquem longe da minha propriedade", disse Maria, com um forte sotaque italiano.
Ao ser perguntada até quando ela pretendia velar a mãe, ela disse que logo aquilo iria terminar, porém, em seguida, visivelmente irritada, disse: "Por quanto tempo eu vou velar a minha mãe? Vou velar minha mãe até o ano que vem". Disse também que tudo aquilo havia sido um pedido de sua própria mãe, assim como também havia sido um desejo de seu pai. Ela demonstrou também seu temor que o corpo fosse roubado, e não iria revelar exatamente o horário que planejava enterrá-la.
"Somos pessoas honestas, trabalhadoras. Meu pai trouxe muito dinheiro para Argentina. Estamos morando há 50 anos no país", continuou Maria, apontando que sua mãe havia morrido por culpa de uma vizinha, que a pertubava e lhe causava um desconforto físico e mental.
"Tudo isso é culpa da mulher do (apartamento) nº 9, que colocava objetos contra a porta, e não deixaria minha mãe passar. Ela é uma put*, minha mãe morreu enquanto discutia com ela", afirmou categoricamente.
Como se isso não bastassse, a imprensa argentina passou a mencionar que os vizinhos chamavam a família de "Los Locos Addams" ("A Família Addams", em português), em referência a série de TV norte-americana, que posteriormente virou filme, onde mostrava uma família que tinha o prazer na maioria das coisas que as pessoas "normais" teriam medo. A pior parte disso tudo é que a proprietária do estabelecimento disse uma frase, que inicialmente foi ignorada pela imprensa da argentina, no momento que ela foi questionada sobre o corpo estar sendo velado desde sábado (2).
"Isso é mentira, trouxemos o corpo ontem (6), e hoje planejávamos enterrá-la no cemitério", disse Maria. Contudo, nem isso sensibilizou a imprensa que estava no local, que obviamente terminaria o que havia começado. Assistam as duas últimas entradas ao vivo realizadas pelo canal C5N (em espanhol):
Toda essa confusão terminou apenas por volta das 11h, quando um veículo de uma funerária local estacionou bem próximo do estabelecimento para conduzir o corpo de Mariana Circosta, em seu caixão, ao Cementerio San José de Flores, localizado no bairro de Flores, na região centro-oeste da cidade, onde a mesma foi enterrada ao meio-dia.
Ontem a tarde, o próprio "Crónica", principal responsável por mostrar que era possível ter uma boa repercussão ao divulgar esse caso, tentou minimizar o erro grotesco que havia cometido na noite anterior, publicando uma declaração da Sra. Maria sobre toda aquela situação: "Minha mãe me pediu para velar seu corpo aqui no estabelecimento, assim como fizemos com o meu pai. Se fosse por mim, eu iria velar seu corpo o ano inteiro, porque foi um pedido dela. Sempre fomos pessoas honestas e trabalhadoras, nunca tivemos quaisquer problemas, tudo que eu peço é que vocês nos respeitem. Há uma pessoa que mora em um apartamento ao lado, que deixava minha mãe maluca, e isso resultou em sua morte. Minha mãe era uma mulher muito solidária e ajudava a todos", disse Maria.
"Desde domingo que o corpo estava ali. As pessoas que passavam viam o caixão lá dentro devido a porta de aço erguida. Além disso, desde que o homem morreu (referindo-se ao Cosme), sempre usavam roupa preta o dia inteiro. Não sei o que vai acontecer a partir de agora, porque ela é uma mulher temperamental, e pode ser violenta", disse Juana.
O Delegado da 26ª Delegacia de Polícia de Buenos Aires Afirmou que Não Havia Nenhuma Irregularidade
Aparentemente, o "Crónica", assim como alguns outros veículos de imprensa, também ignoraram completamente o que havia sido dito pela polícia metropolitana de Buenos Aires, na manhã de ontem, e que foi publicado pelo site do jornal "La Voz", assim como no site do "Telefe Noticias".
"O que foi divulgado pelos veículos de imprensa foi uma invenção. Não havia nenhuma irregularidade, tudo foi verificado pelo governo municipal e pela polícia mortuária", disse Silvio Garacoche, delegado de 26ª Delegacia de Polícia de Buenos Aires.
"A senhora morreu no último domingo, no Hospital Argerich, de causas naturais, e somente ontem à tarde, que a família conseguiu contratar uma funerária para levar o corpo até o local, que está fechado por mais de 15 anos, para que ele fosse velado", continuou.
A Polícia Metropolitana de Buenos Aires confirmou que a Sra. Mariana Circosta havia morrido de causas naturais no Hospital Argerich |
"Desde a última quarta até quinta-feira de manhã, os comerciantes do bairro prestaram suas últimas homenagens, e por volta do meio-dia o corpo foi levado ao Cemitério de Flores. A única anormalidade ou estranheza é que a família desejava velar o corpo dentro do estabelecimento, mas foi tudo dentro da lei. O que foi divulgado na mídia foi uma invenção", completou Silvio Garacoche.
O site do jornal "Clarín", que anteriormente havia publicado erroneamente que o corpo estava "cheirando mal", posteriormente tentou se retratar dizendo que a realização de um velório no local não infrigia nenhuma lei, visto que era uma cerimônia particular, em um espaço pertencente a família da Maria. Exceto, é claro, se fosse efetivamente produzido alimentos no local ou que o mesmo começasse a ser utilizado para a realização de velórios, visto que deveria possuir uma licença específica para isso.
É Permitido Velar uma Pessoa em Casa, na Cidade de Buenos Aires?
Essa foi a pergunta feita ontem pelo site do jornal "La Nación", visto que havia uma certa polêmica em torno desse assunto, e que tinha sido levantada pelo caso envolvendo um velório em um estabelecimento comercial de Buenos Aires.
"Informamos que na região da polícia mortuária, subserviente a Direção Geral de Cemitérios, foi realizada uma inspeção na Avenida Montes de Oca & Olavarría, na altura do número 900, no qual havia uma casa de massas, que parou de funcionar há anos atrás. Neste momento, eles estão velando o corpo de Mariana Circosta, proprietária do estabelecimento, que será enterrada no Cemitério de Flores. Informamos que o velório transcorre dentro das normas", dizia o comunicado da Direção Geral de Cemitérios de Buenos Aires, que foi emitido antes do corpo ser conduzido ao cemitério.
Segundo Ricardo Péculo, especialista em tanatologia (estudo científico da morte) e organizador de ritos funerários, o velório de uma pessoa em uma casa era uma prática comum, e assegurada por uma lei municipal.
Ricardo Péculo, especialista em tanatologia (estudo científico da morte) e organizador de ritos funerários |
"Não se pode exumar uma pessoa antes de 12 horas e após 36 horas de sua morte, porém não há problema algum em realizar o velório dentro de uma habitação. Algumas vezes acontece da família estar aguardando a vinda de um parente que mora longe, e nesse caso existe a necessidade em notificar ao município que a cerimônia será estendida", disse Ricardo Péculo.
Em relação a decomposição do corpo, Ricardo Péculo disse que "contanto que fosse feita a tanatopraxia (o procedimento de preparação do cadáver para o velório ou funeral), não haveria problema, porém nem sempre isso é feito". Por fim, esse ressaltou que a exposição de cadáveres e caixões em direção a parte externa do estabelecimento ou da funerária, não era algo permitido.
Comentários Finais
Sinceramente, eu conheço o "Crónica" já algum tempo, visto que frequentemente realizo postagens relacionadas a América Latina. Se existe algo que eu possa dizer que seja a "marca" deles, é que eles possuem uma forte presença nas redes sociais, e estão sempre entre os primeiros a divulgar algum assunto relacionado a Argentina. O assunto pode ser divulgado por aplicativos de mensagens instantâneas (entenda como Whatsapp), por sites de compartilhamento de vídeos, tal como o Youtube, ou por redes sociais tais como o Twitter e o Facebook. Assim que algo se destaca, eles prontamente divulgam. É justamente nesse ponto, que reside a curiosidade mórbida da história. Se antes da última quarta-feira não havia nenhuma publicação por parte do "Crónica", como que um corpo dentro um caixão sendo velado desde o sábado anterior, em uma avenida extremamente movimentada de Buenos Aires, teria passado desapercebido pelos celulares de curiosos, e consequentemente do faro "jornalístico" deles, que constantemente monitoram as redes sociais? Pois é, muito provavelmente a Polícia Metropolitana de Buenos Aires tinha razão em dizer que o corpo começou a ser velado somente na última quarta-feira, mas a palavra "desculpa" parece não fazer parte do vocabulário da imprensa argentina. Aliás, assistam esse vídeo, de uma entrada ao vivo, realizada pela "Crónica Televisión" (clique aqui para assistir), no qual o apresentador e o repórter discutem sobre o caso. Em um determinado momento há um trocadilho, ao dizer que as pessoas, ao tentarem comprar uma "massa" no último domingo, perceberam que só tinha "massa fria" para comprar. Se você achou isso engraçado, imagine se fosse com a sua mãe.
Diante desse cenário caótico, estivemos diante uma imprensa praticamente "enfiando" os microfones pela garganta de uma senhora de idade, na tentativa de conseguir uma declaração da mesma, para esclarecer algo, que só virou notícia pela mais pura incompetência, que o sensacionalismo poderia oferecer. Ao invés de tentar entrar em contato com as autoridades locais, e até mesmo especialistas, o que se viu foi totalmente o oposto. Foi como se houvesse uma cartilha para isso. Decidiram acampar na frente do estabelecimento a espera de uma senhora, que estava velando sua própria mãe dentro de um local que pertencia a família dela. Sinceramente, ver aquele aglomerado de jornalistas ao redor daquela mulher e do irmão, que visivelmente estava desnorteado diante daquela situação, causou indignação não somente a mim, mas em boa parte da população argentina, que repudiou a forma como o caso foi tratado. Obviamente não era certo expor o corpo de uma pessoa, em seu caixão, em plena luz do dia ou até mesmo durante a noite, porém, a atitude daquela senhora, independentemente do seu passado e do seu temperamento, havia durado apenas algumas horas, e não dias. É bem difícil acreditar que aquela mulher, a Maria, não tratasse bem a sua mãe, visto que a mesma morreu com 94 anos, e por causas naturais. Vocês ainda têm a mãe de vocês? Se vocês ainda contam com a presença física da mãe de vocês, rezem para que ela permaneça ao lado de vocês além dessa idade, porque muitos de vocês que estão lendo essa postagem, não podem dizer o mesmo.
Obviamente, a culpa não é totalmente da imprensa. A culpa é de todos aqueles que promoveram a história de algo que não tinham ideia do que realmente estava acontecendo. Uma culpa ainda maior tiveram aqueles que sabiam da verdade, e fingiram que não sabiam de nada, apenas acompanharam o "fluxo" da invenção generalizada que aconteceu ontem pela manhã. Espero sinceramente que vocês tenham assistido aos vídeos que foram repassados através dessa postagem, e me respondam com sinceridade: Esse é o tratamento que desejariam ter ao perder a mãe de vocês? Não sei medir, quantificar ou qualificar a dor que uma pessoa sofre, mas evidentemente, todos os animais, inclusive o ser humano, ficam com raiva ao sentirem dor, e isso é absolutamente normal. O que não é normal, é que estamos nos tornando escravos de nossa própria mentalidade que reivindica o direito sobre qualquer coisa que nós vemos. Temos realmente o direito a fotografar e gravar sem medir nossas consequências? Enfim, independentemente da resposta, o estrago já foi perpretado. Os microfones e as câmeras permaneceram impassíveis, diante do rosto atordoado de uma senhora, envolta de jornalistas, que só sentiam o frio invernal de Buenos Aires. Uma cidade que não sepultou apenas a mãe daquela senhora, sepultou também toda a dignidade da imprensa argentina.
Até a próxima, AssombradOs.
Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino
Fontes:
http://equilibrioinformativo.com/2016/07/misterio-por-un-cad-ver-dentro-de-un-negocio-de-pastas/
http://muy.clarin.com/actualidad/tetrico-mujer-adentro-fabrica-pastas-60632.html
http://telefenoticias.com.ar/actualidad/desde-el-sabado-hay-un-velatorio-sin-deudos-en-una-fabrica-de-pastas-cerrada/
http://www.bigbangnews.com/actualidad/Los-Locos-Addams-de-Barracas-segun-una-amiga-creen-en-su-propio-Dios-20160707-0026.html
http://www.clarin.com/ciudades/Sorpresa-Barracas-velan-local-pastas_0_1609039096.html
http://www.cronica.com.ar/article/details/72553/ataud-con-cadaver-en-fabrica-de-pastas-de-barracas
http://www.cronica.com.ar/article/details/72788/la-macabra-historia-del-feretro-en-casa-de-pastas
http://www.diariopopular.com.ar/notas/262059-barracas-sorpresa-un-velatorio-una-fabrica-pastas
http://www.diarioveloz.com/notas/162993-la-due241a-la-fabrica-pastas-barracas-voy-velar-mi-madre-el-a241o-que-viene-
http://www.infobae.com/sociedad/2016/07/07/misterio-por-un-cadaver-dentro-de-un-negocio-de-pastas/
http://www.lanacion.com.ar/1916329-es-posible-velar-a-alguien-en-su-casa
http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/develan-el-misterio-del-feretro-dentro-de-una-fabrica-de-pastas-de-barracas
http://www.perfil.com/sociedad/Hablo-la-hija-de-la-difunta-en-la-casa-de-pastas-La-voy-a-velar-hasta-2017-20160707-0009.html