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A Triste Situação do "Cemitério Geral do Sul" na Venezuela: Um Lugar Onde Nem Mesmo os Mortos Descansam em Paz

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Por Marco Faustino

No último domingo foi celebrado o "Dia das Mães", uma data comemorativa em que se homenageia as mães, sejam elas biológicas ou não, e a maternidade como um todo. Nem todo os países do mundo comemoram essa data no segundo domingo do mês de maio, porém, assim como o Brasil, países como a Alemanha, o Chile, os Estados Unidos, dentre tantos outros ao redor do mundo, também comemoram nesse mesmo dia. Infelizmente, muitos já não podem mais contar com a presença física ou afetiva de suas respectivas mães. Essas pessoas, é claro, pelo menos em sua maioria, esperam que suas mães estejam em um lugar melhor.

De qualquer forma, a maioria dos corpos são enterrados em cemitérios, que geralmente são lugares silenciosos e de paz, tanto para os mortos, quanto para seus parentes que os visitam regularmente, ainda mais em datas como essa. Afinal, muitos filhos consideram esse momento como uma oportunidade muito simbólica de irem rezar perante os túmulos de suas mães, assim como os netos que muitas vezes rezam diante do túmulo de suas avós.

Entretanto, e se no último domingo você chegasse e visse o túmulo de sua mãe totalmente aberto, profanado, cujo crânio ou boa parte de sua ossada simplesmente tivesse sido roubada? Sem dúvida alguma essa é uma cena bem aterrorizadora, porém ao caminhar um pouco, em meio a dor e ao desespero de ver esse tipo de situação, você descobre que o túmulo de sua mãe não foi o único a ser violado, mas que ele foi apenas mais um entre dezenas, centenas, e milhares de túmulos que vêm sendo profanados ao longo dos últimos anos. Aliás, nenhuma autoridade faz absolutamente nada para mudar essa situação. Complicado, não é mesmo? Pois saiba que esse é caso do "Cementerio General del Sur" ("Cemitério Geral do Sul", em português), localizado na Região Metropolitana de Caracas, na Venezuela, onde nem mesmo os mortos conseguem descansar em paz.

A pior parte é que a violação de túmulos é apenas a "ponta do iceberg" de verdadeiras histórias de horror, que acontecem diariamente no local. Criminosos bêbados circulam pelos corredores do cemitério, tanto a pé, quanto de moto, praticando todo o tipo de crime: assaltos, sequestros, estupros, assassinatos etc. Além disso, as ossadas roubadas são utilizadas em plena luz do dia por praticantes de "seitas satânicas", em rituais um tanto quanto obscuros. Quando isso não acontece, os ossos são vendidos para as mais diversas finalidades, alimentando financeiramente as organizações criminosas, que controlam inúmeras favelas ao redor do cemitério. Não estamos falando de fantasmas ou espíritos que poderiam assombrar um cemitério, mas sim de um medo real, um que se esconde atrás de cada sepultura ou imagem sacra de um dos maiores e mais antigos cemitérios da Venezuela, e com certeza um dos mais perigosos do mundo. Vamos saber mais sobre esse assunto?

Acho que indepentemente das convicções políticas de cada pessoa, é impossível dizer que a Venezuela não seja um desastre econômico completo. No ano passado havia sido noticiado que faltava até mesmo papel higiênico no país, alguém lembra desse episódio? Os hotéis chegaram a pedir para que os futuros hóspedes levassem rolos de papel higiênico, sendo que os próprios turistas poderiam ter seus produtos de higiene pessoal, comprados legalmente, confiscados pelo próprio governo. O país sempre enfrentou uma inflação explosiva, onde um pacote de camisinha chegou a custar cerca de R$ 2.000. Um simples paracetamol, pelo menos até o ano passado, era praticamente um artigo de luxo. Enfim, toda essa desordem abre brechas significativas para a criminalidade, que é assustadoramente violenta, se tornando o mais puro e verdadeiro em essência, desrespeito aos direitos humanos. Isso que nem vamos entrar no mérito da questão sobre os cortes diários de energia elétrica, de até 4 horas em diversas regiões do país, algo que estimula ainda mais os criminosos a praticarem seus crimes.

Imagem do Google Maps mostrando a localização do "Cementerio General del Sur"
("Cemitério Geral do Sul", em português)
Se grande parte da população sofre com essa situação, espera-se que após a morte, as pessoas finalmente encontrem paz e descansem eternamente um local livre de quaisquer problemas, dores ou sofrimentos. Entretanto, não é bem isso que acontece no "Cemitério Geral do Sul", que possui uma área de 246 hectares (cerca de 2.460.000 m²), cuja responsabilidade administrativa pertence ao governo do Município Libertador de Caracas. O cemitério foi fundado em 1876 por ordem do então presidente Antonio Guzmán Blanco, e desde então diversas personalidade do mundo literário e da política na Venezuela se encontram enterrados nesse cemitério.

Aliás, entender a complexidade da divisão política e administrativa da região de Caracas é quase um desafio. Isso porque existe o chamado "Distrito Capital" (antigamente chamado de "Distrito Federal"), uma das 24 entidades federativas da Venezuela, que é constuído basicamente por toda a extensão territorial do Município Libertador de Caracas, que por sua vez possui um prefeito chamado Jorge Rodriguez, um cargo teoricamente eletivo. A capital do "Distrito Capital" seria a cidade de Caracas.

Jorge Rodriguez, prefeito do Município Libertador de Caracas
Entretanto, o "Distrito Capital" possui o que denominam como "chefe de governo", um cargo ocupado por uma pessoa nomeada diretamente pelo Presidente da Venezuela, representando assim o órgão executivo do "Distrito Capital". Aliás, o presidente pode nomear ou exonerar pessoas que ocupem esse cargo como ele bem entender. Além disso, o Município Libertador de Caracas juntamente com os municípios de Baruta, Chacao, El Hatillo e Sucre, formam o que se chama de "Região Metropolitana de Caracas" (também conhecida como "Distrito Metropolitano de Caracas"), e que possui uma autoridade civil, política e administrativa chamada "Prefeito Maior" ou "Prefeito Metropolitano de Caracas".

Obviamente, não entrarei em detalhes sobre toda essa complexidade político-administrativa. Logo, para evitar quaisquer erros de localização, e para uma melhor compreensão geral do assunto, é melhor citar apenas que o "Cemitério Geral do Sul" está localizado na Região Metropolitana de Caracas. De qualquer maneira, a autoridade administrativa responsável pelo cemitério, e a mais cobrada pela população é o prefeito Jorge Rodriguez, mas isso é algo que ainda iremos comentar ao longo dessa postagem. Vamos começar contando um pouco sobre o que aconteceu em relação a esse cemitério na semana passada.

A Limpeza e Manutenção Supostamente Realizada pelo Governo Local para o "Dia das Mães"


Entre os dias 4 e 5 de maio, foi amplamente divulgado em boa parte dos sites de notícias venezuelanos, que Robinson Navarro, presidente da "Cemitérios e Serviços Funerários de Libertador", informou que há duas semanas estava sendo realizada a limpeza e uma manutenção geral do "Cemitério Geral do Sul", em virtude da celebração do "Dia das Mães", que ocorreu no último domingo (8). As orientações teriam sido repassadas pelo então prefeito, Jorge Rodríguez.

Funcionários da "Cemitérios e Serviços Funerários de Libertador" trabalhando na lavagem
de ruas e calçadas do Cemitério Geral do Sul

Funcionários da "Cemitérios e Serviços Funerários de Libertador" trabalhando para recolher
o lixo espalhado pelo Cemitério Geral do Sul
Estavam sendo realizados o serviço de capina das áreas verdes, pintura, a lavagem de ruas e calçadas, desentupimento de bueiros, a coleta de resíduos mistos e a poda de galhos de algumas árvores. Neste sentido, mais de 120 funcionários foram deslocados com o objetivo de "embelezar o cemitério", onde se esperava receber centenas de visitantes durante o último fim de semana. Segundo o site oficial da Prefeitura de Caracas, estimava-se que cerca de 12 mil pessoas visitariam suas mães, cujos corpos jazem na chamada "necrópole de Caracas". Um amplo esquema de segurança também seria montado para os visitantes.

Foi informado que há duas semanas, estava sendo realizada a limpeza e uma manutenção geral do "Cemitério Geral do Sul",
em virtude da celebração do "Dia das Mães", que ocorreu no último domingo (8)

Estavam sendo realizados o serviço de capina das áreas verdes, pintura, a lavagem de ruas e calçadas, desentupimento de bueiros, a coleta de resíduos mistos e a poda de galhos de algumas árvores

Mais de 120 funcionários foram deslocados com o objetivo de "embelezar o cemitério",
onde se esperava receber centenas de visitantes durante o último fim de semana
As informações e as fotos também foram divulgadas pelo Gabinete de Comunicação e Informação do Governo do Distrito Capital, na Venezuela. Considerando as imagens acima, qualquer um poderia ver um trabalho realmente sendo feito com o objetivo de proporcionar um maior conforto para a população poder orar pela alma de seus entes queridos, não é mesmo? Porém, essa não é a verdadeira realidade do lugar, que sofre com a ausência de policiamento, a profanação de sepulturas, e até mesmo assassinatos.

A Situação do Cemitério Geral do Sul no "Dia das Mães"


O site do jornal "El Nacional", que por sua vez é o jornal de maior circulação da Venezuela, repercutiu uma forte declaração de Carlos Julio Rojas, coordenador da Frente em Defesa do Norte de Caracas. O mesmo
disse que milhares de pessoas, que visitaram o "Cemitério Geral do Sul" no último domingo, arriscaram suas vidas ao homenagearem suas mães já falecidas, uma vez que as forças policiais tinham sido retiradas há dois meses do local. Havia o temor que os policiais fossem assassinados pelas facções criminosas que atuam na região.

"O cemitério estava sendo protegido apenas por 12 policiais da PNB (Policía Nacional Bolivariana), mas diante das ameaças da facção "El Lucifer", os mesmos foram retirados, deixando os cidadãos que pretendem visitar os entes queridos já falecidos, totalmente indefesos e correndo o risco de serem assaltados, sequestrados ou até mesmo assassinados", disse Carlos Julio Rojas.

Carlos Rojas explicou que o cemitério estava completamente deserto, com túmulos enferrujados no meio das ruas, toneladas de lixo e mato por todas as partes, e que esse era o palco que tinha sido montado para presentar a cidade de Caracas no "Dia das Mães".

Carlos Rojas explicou que o cemitério estava completamente deserto, com túmulos enferrujados no meio das ruas, toneladas de lixo e mato por todas as partes, e que esse era o palco que tinha sido montado para presentar a cidade de Caracas no "Dia das Mães".
"Nos últimos tempos foram repassados milhões de bolívares para a realização de melhorias no Cemitério Geral do Sul, mas não sabemos o que Jorge Rodriguez tem feito com esses recursos. Um local histórico que logo completará 140 anos, poderia ser um lugar turístico, mas não, reflete o abandono que a nossa cidade de Caracas vive", continuou.

O ativista social disse que, desde a sua última denúncia sobre o que vem acontecendo sistematicamente no Cemitério Geral do Sul, a situação se tornou ainda mais grave: centenas de túmulos continuvam sendo profanados e assassinatos sendo cometidos dentro do cemitério, algo que tornava o ambiente mortal para qualquer um que desejasse visitá-lo.

As forças policiais tinham sido retiradas há dois meses do local.
Havia o temor que os policiais fossem assassinados pelas facções criminosas que atuam na região.
"Fiquei com o coração partido ao ver o túmulo da túmulo da minha avó completamente destruído no Dia das Mães. Não concordamos com o Robinson Navarro, presidente da 'Cemitérios e Serviços Funerários de Libertador', quando ele disse que tinha sido realizada uma manutenção no cemitério. O prefeito Jorge Rodriguez deveria parar de mentir e prestar contas aos cidadãos, em vez de fazer politicagem boicotando o referendo", completou.

Wilter Ochoa, porta-voz do "100% Santa Mónica", disse que pessoas entram no cemitério, a qualquer hora do dia ou da noite, para realizarem rituais satânicos onde são utilizados os ossos retirados das sepulturas das pessoas para a prática de "bruxaria", e sacrificam animais na frente de todo mundo.

Wilter Ochoa, porta-voz do "100% Santa Mónica", disse que pessoas entram no cemitério, a qualquer hora do dia para realizar rituais satânicos, onde eles usam os ossos retirados das sepulturas para a prática de "bruxaria", e assassinam animais na frente de todo mundo
"Este cemitério é um reflexo do país: descaso, ambulantes vendendo bebidas alcoólicas e drogas, lixo por todas as partes e insegurança", disse Wilter Ochoa.

"Este cemitério é um reflexo do país: descaso, vendedores ambulantes vendendo bebidas alcoólicas e drogas, lixo por todas as partes e insegurança", disse Wilter Ochoa.
A notícia ainda conta com o depoimento de um cidadão chamado Luis Cárdenas, que sofreu recentemente com a profanação do túmulo de seu pai. Ele disse que alguns meses atrás foi visitar o "Cemitério Geral do Sul" e encontrou uma cena abominável, visto que o local havia sido totalmente destruído. O caixão tinha sido aberto, os ossos retirados para fora do caixão, e o crânio de seu pai havia simplesmente desaparecido.

"Este foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Conforme nos foi relatado por traficantes do mercado negro, um crânio custa até 50.000 bolívares (cerca de R$ 18.000). Este é um comércio que se baseia no abuso e no sofrimento de milhares de famílias", disse Luis Cárdenas. Assista também a um vídeo publicado recentemente no Youtube (em espanhol), por um usuário chamado Alexander Rodriguez, que apesar de não ser informado exatamente quando o mesmo foi gravado, mostra o estado em que diversas sepulturas e o próprio cemitério se encontra:



Enfim, como podemos ver nas fotos, aparentemente a situação do "Cemitério Geral do Sul" não era exatamente a que o governo local havia prometido na semana passada. Também podemos perceber que isso era algo que vinha acontecendo desde algum tempo. E você vai se surpreender por quanto tempo essa história vem se repetindo diariamente nesse cemitério.

Será Mesmo que Toda Esse Caos no "Cemitério Geral do Sul"é Verdade ou Apenas Algo Para "Tentar Desestabilizar o Governo Local"?


Trazer uma notícia envolvendo a Venezuela diante do cenário político em que muitos países da América Latina enfrentam é sempre algo complicado. Porém, antes de mostrar o retrospecto caótico do "Cemitério Geral do Sul", eu tentei encontrar algum material disponível na internet que pudesse, ao mesmo tempo, retratar a beleza e o cenário de horror que o local enfrenta diariamente. Parece algo impossível de se imaginar, mas eu encontrei.

Em um trecho de uma postagem chamada "Visitando os Mortos", do site Aicando.org, realizada no dia 26 de outubro de 2014, dá a seguinte dimensão da situação do cemitério na respectiva época:

"Um desses lugares para testemunhar o espiritualismo caraquenho certamente é um cemitério. Hudie me falou muitas coisas sobre este Cemitério Geral do Sul até que finalmente fomos para vê-lo, embora ela estivesse um pouco nervosa para me levar a este lugar, porque está localizado em uma área perigosa da cidade, que é famosa porque há muitos ladrões que roubam as pessoas em plena luz do dia. Outra coisa é que a maioria dos funerais que são feitos nesse cemitério pertencem a membros de grupos armados;não é o melhor lugar para que um gringo faça uma caminhada, especialmente enquanto os criminosos afogam suas tristezas no licor e atirando para o alto.

No entanto, fomos porque Hudie realmente queria fazer uma visita aos mortos.


Muitas placas mostram a data em que a pessoa morreu.
Muitas não tem mais de 25 anos, morreram provavelmente assassinadas.
Este cemitério é tão grande quanto antigo. Logo na entrada há alguns túmulos novos para os heróis que morreram na luta pela revolução durante o tempo do Presidente Chávez. Atrás deles, também há um lugar relativamente novo, para as novas sepulturas de gente comum. Muitas placas mostram a data em que a pessoa morreu. Muitas não tem mais de 25 anos, morreram provavelmente assassinadas. E atrás desses estão os túmulos antigos, principalmente de gente rica, profissionais ou eclesiásticos. Existem presidentes, médicos, professores, freiras e padres católicos. Também há uma área chamada La Peste, onde foram enterrados todos os casos de morte por febre amarela nos anos 1800, onde ninguém vai, hoje em dia, por ser um "ninho de ratos", ali vivem criminosos escondidos, ladrões e pessoas capazes de qualquer coisa por dinheiro.

Túmulo de Maria Frância
Aproveitamos a oportunidade para olhar o mais interessante. Por exemplo, visitamos o túmulo de Maria Frância, uma Santa ou virgem (de muitos que acreditam lá) que deve ter sido uma professora muito boa ou aluna excepcional, não estou certo. É a Santa dos estudantes, e muitos vêm até ela para fazer promessas com o intuito de ajudá-los a passar pelos exames ou passar de ano… inclusive para ajudá-los na pós-graduação da faculdade ou ingressar ensino superior em que só um milagre é possível..."

Basicamente, esse é um site criado por um casal que viaja ao redor do mundo para conhecer os povos, seus costumes, sua cultura, a maneira como vivem, entre os mais diversos aspectos sociais. É praticamente um compilado da vivência de ambos em diversos países do mundo. Embora seja apontado no site que Hudie seja graduada em Comércio Internacional na Venezuela, o mesmo não é voltado para nenhuma crítica político-econômica, o que dá uma boa base para começarmos a entender a situação pela qual esse cemitério passa. Aliás, a postagem não mostra nenhuma imagem negativa do cemitério.

Um Pouco do Retrospecto Recente da Sombria Fama do "Cemitério Geral do Sul"


No início de março desse ano, o site do tabloide venezuelano "Diario 2001", noticiou que um homem chamado Brenys Ruiz, de 40 anos, havia sido assassinado por dois homens no "Cemitério Geral do Sul", que o tinham sequestrado na principal avenida da região, com o intuito de assaltá-lo. O incidente teria acontecido no dia 26 de abril, por volta das 23h. Ruiz trabalhava como operário da construção civil na GMVV (Gran Misión Vivienda Venezuela), uma espécie de "Minha Casa, Minha Vida" da Venezuela.

"Meu filho foi para Caracas a trabalho há três anos", disse Cristina Ruiz, mãe da vítima, ressaltando que que Brenys Ruiz tinha sido baleado no rosto. Ela também disse que soube da morte do filho somente no dia 28 de abril, quando um vizinho de Ruiz ligou para ela. Além disso, tinha sido bem difícil para ela "reclamar o corpo" por falta de dinheiro para o enterro. A mãe disse que não sabia onde Ruiz vivia ou o que ele estava fazendo naquela região durante a noite.

"Meu filho foi para Caracas a trabalho há três anos", disse Cristina Ruiz, mãe da vítima,
ressaltando que que Brenys Ruiz tinha sido baleado no rosto
"É surpreendente que não haja segurança neste país", completou a senhora, dizendo que a vítima era o mais velho de cinco irmãos, porém ele não deixou filhos.

Infelizmente, é apenas mais uma morte para uma estatística incerta e sombria que assola o "Cemitério Geral do Sul". Em setembro de 2013, o site do jornal "El Nacional" noticiou que um homem chamado José Carmona Piñero, havia sido assassinado com dois tiros na cabeça, por volta de 3h30 da madrugada, dentro desse mesmo cemitério. A vítima era pai de dois filhos, e trabalhava há 15 anos como vendedor ambulante, basicamente vendendo cerveja e outros tipos de mercadorias no cemitério.

O assassino era o sobrinho de outro vendedor ambulante, que também vendia cerveja, e com quem Carmona havia discutido anteriormente, porque ele estava vendendo cerveja por 12 bolívares (cerca de R$ 4,20 se fôssemos considerar a cotação atual) , sendo que o acordo entre eles, era que a cerveja deveria ser vendida por 15 bolívares (cerca de R$ 5,20).

Em agosto daquele mesmo ano, o site de notícias "El Universal" noticiou que um policial da Polícia Nacional Bolivariana havia sido morto durante uma troca de tiros com criminosos dentro do Cemitério Geral do Sul. Porém, uma vez que a cobertura dos incidentes por parte da imprensa é um tanto quanto limitada, não se soube exatamente as condições pelas quais o assassinato aconteceu.

Abertura utilizada por bandidos para entrar no Cemitério Geral do Sul,
no muro que havia sido criado para separar o cemitério das favelas que o cercam.
O que se soube na época é que o policial se chamava Manuel Fierro, pertencente a Brigada Motorizada de Santa Rosalía, e morreu com um tiro no rosto, que foi disparado por um bandido que havia se escondido atrás de uma lápide no cemitério. Manuel Fierro deixou uma filha de apenas 5 anos de idade.

O policial se chamava Manuel Fierro, pertencente a Brigada Motorizada de Santa Rosalía,
e morreu com um tiro no rosto de um bandido, que se escondeu atrás de uma lápide no cemitério
A situação, no entanto, não se limita apenas a crimes dessa ordem. Em novembro do ano passado, Carlos Guillermo Arocha, presidente da Comissão de Segurança e Direitos Humanos do Conselho Metropolitano de Caracas, denunciou em entrevista ao tabloide "Diario 2001", que cerca de 45% das sepulturas no cemitério tinham sido violados por bandidos que vendiam partes dos caixões para comprar drogas e também por praticantes de religiões cubanas, tais como "paleros", seguidores de uma religião chamada "Palo", de origem africana, mas considerada como uma das formas mais temidas e poderosas do mundo de "magia negra".

"O Cemitério Geral do Sul tornou-se o local perfeito para a criminalidade, vem sendo negligenciado, não há presença de nenhuma autoridade policial, não existe nenhuma lei, há mato e escombros por toda a parte, atos graves de vandalismo são cometidos, mas o pior é que cerca de 45% dos túmulos foram profanados, é algo que nunca se viu antes. No passado havia muito respeito pelos mortos, mas agora estão roubando as ossadas, especialmente os crânios, é uma coisa terrível. Se você for por volta das 17h, você verá pessoas fazendo rituais satânicos ou rituais de palería, rezando com pedaços de restos humanos na mão, coisas muito estranhas", disse Carlos Guillermo Arocha, apontando também que muitos desses crimes provavelmente são acobertados pelo pessoal que trabalha no próprio cemitério.

"Não tenho conhecimento, mas é impossível que as autoridades e os vigias do cemitério não tenham quaisquer ligações com aqueles que violam os túmulos, porque esses atos não que pode ser realizados sem que ninguém perceba", continuou.

Carlos Guillermo Arocha, presidente da Comissão de Segurança e Direitos Humanos do Conselho Metropolitano de Caracas, denunciou em entrevista ao tabloide "Diario 2001", que cerca de 45% das sepulturas no cemitério tinham sido violados por bandidos que vendem partes dos caixões para comprar drogas e também por praticantes de religiões cubanas
"O país está ruim, mas o Cemitério Geral do Sul está pior. Se em Caracas a criminalidade, a violência e a impunidade reinam entre os vivos, imagine para os mortos. Em Caracas não há paz nem nos túmulos", completou.

O "Diario 2001" também contou a história de uma cidadã chamada Andrea Castillo, que infelizmente teve que se deparar com a profanação do túmulo do próprio tio.

"Quando chegamos, vimos o túmulo aberto na altura da cabeça, e presumimos que fosse para ver se ele tinha um dente de ouro, mas ao redor tinha vestígios de tabaco e velas. Assim sendo, ficou claro que era um ato de vandalismo por parte dos paleros", disse Andrea Castillo, alegando também que procurou as autoridades responsáveis pelo cemitério para denunciar o caso, porém não obteve nenhuma resposta.

Aliás, assista a uma reportagem (em espanhol) que foi publicada em 8 de maio do ano passado, no Canal do Youtube da Univison, que é um canal de TV dedicado a comunidade hispano-americana dos Estados Unidos. O mesmo conta com novelas, esportivos, sitcoms e programas de variedades como suas principais atrações. É o canal de língua espanhola com uma das maiores audiência no mundo, e sua principal concorrente é a Telemundo:



Em meados de dezembro do ano passado, um site venezuelano de notícias, o "Últimas Noticias" contou a história sobre 30 túmulos que tinham sido profanados em menos de um mês. Esse era o relato de um homem chamado Fermín Suárez, que na semana anterior tinha ido visitar o túmulo de seu pai, porém havia se deparado com o caixão aberto, e apenas alguns ossos de seu esqueleto. Além do túmulo de seu pai, havia outros que tinham sido violados de forma semelhante.

"Contei mais ou menos 30 túmulos, que estavam abertos em plena luz do dia. Em todos os túmulos os crânios tinham sido levados, assim como o granito e o mármore das sepulturas", disse Fermín Suárez, ressaltando que esteve pela última vez no cemitério, em novembro, e não tinha visto uma situação daquela.

"Eu vinha todo mês e sempre via isso acontecer todas as vezes, ninguém fazia nada, especialmente na parte alta do cemitério, mas agora está acontecendo em todo o lugar. Desta vez, pude sentir isso na pele, e ninguém me deu nenhuma satisfação", continuou.

Em meados de dezembro do ano passado, o site venezuelano de notícias, o "Últimas Noticias" contou a história
sobre 30 túmulos que tinham sido profanados em menos de um mês
Tudo isso aconteceu em um domingo, quando o escritório administrativo do "Cemitério Geral do Sul" estava fechado, porém ele resolveu questionar a coveiros particulares, juntamente com outros familiares que tiveram a mesma "surpresa" que ele. Os coveiros disseram que o cemitério não se responsabilizava pelas profanações. Eles ainda comentaram que prestavam serviços para exumar os restos dos corpos que tinham sido profanados, e também poderiam esvaziar os túmulos, a pedido dos familiares, com o objetivo de poder reutilizá-los no futuro. Porém, isso tinha um preço.

"Foi oferecido que me entregassem o pouco do que restava de meu pai em uma pequena caixa por valores entre 30 e 100 mil bolívares", completou Fermín Suárez. Fazendo a coversão da moeda, teríamos valores entre 10 e 35 mil reais pela cotação atual. Algo completamente surreal.

Em em 26 janeiro desse ano, o mesmo site de notícias divulgou que a Polícia Municipal de Caracas (Policaracas), havia prendido cerca de três homens: William Antonio García García, 40 anos, Fredy Ramírez Crespo, 48 anos, e Cristian Eduardo Mejías Vivas, 24 anos, quando eles estavam saindo do "Cemitério Geral do Sul" carregando simplesmente uma ossada humana. A Comissária-chefe da Polícia Municipal de Caracas, Lupi Lisbey Arellano, disse que os indíviduos ainda portavam uma picareta e uma pá, que tinham sido utilizadas para profanar os túmulos. Os três afirmaram que o objetivo era vender os ossos no mercado negro.

Em 11 de fevereiro desse ano, o site do Crónica Uno contou a história de um homem chamado Armando Regalado, que tentava defender as vítimas de profanações no "Cemitério Geral do Sul", por mais de uma década. Ele disse que até o final de janeiro desse ano ninguém havia violado o pequeno panteão onde ele havia enterrado os restos mortais de diversos parentes. Porém, no começo de fevereiro ele não encontrou o crânio da própria mãe que havia sido enterrada em 2011.

Armando Regalado (à direita), o homem que tenta defender as vítimas de profanações
no Cemitério Geral do Sul, por mais de uma década
A partir da entrada do cemitério, Armando Regalado andou por cerca de 10 minutos para chegar até uma área denominada "El Artista", que supostamente seus filhos, sua mãe e sua sogra estariam descansando em paz. Ele passou por inúmeros túmulos, pisou em epitáfios e viu que a maioria dos caixões tinham sido profanados. Quando ele viu que o panteão de sua família havia sido violado, ele foi logo verificar para ver quais corpos tinham sido levados, e percebeu que o caixão inteiro de sua mãe tinha sido jogado a poucos metros de distância.

"São pouquíssimos aqueles que se salvam de serem vítimas desse crime, mas a forma que são profanados, indica que são pessoas diferentes que fazem isso. Desde que eu enterrei meu filho, em 2006, comecei a ver todos os crimes aqui. Então, eu criei a Associação para a Promoção e Defesa das Famílias de Vítimas de Profanação (Aprofamiliares). Acredito que fizeram isso como forma de advertência", disse Armando Regalado, com as lágrimas ao ponto de cair de seu rosto.

As roupas que ele havia enterrado sua mãe estavam ao lado do pequeno panteão, e quando ele se aproximou do caixão, não havia crânio. Desesperado, ele começou a procurar nos arredores para ver se ele o encontrava, e notou que alguns dos ossos foram espalhados entre as roupas de sua mãe.

Armando Regalado, principal responsável pela Associação para a Promoção e Defesa das Famílias de Vítimas de Profanação (Aprofamiliares), disse que o corpo de sua mãe foi profanado como forma de avertência pelo trabalho,
que vem realizando no Cemitério Geral do Sul
Ele então foi conversar com a administração do cemitério, porém um funcionário apenas se ofereceu para transferir os restos mortais de seus parentes para um espaço próximo da entrada, onde eles podiam vigiar melhor os criminosos que profanavam os túmulos. Vale ressaltar nesse ponto que Armando Regalado tinha recebido destaque por parte do próprio Crónica Uno, no final de janeiro desse ano, em uma outra matéria que o exaltava como o "Guardião dos Mortos do Cemitério Geral do Sul". O corpo de sua mãe foi profanado cerca de alguns dias depois da publicação dessa matéria.

Ainda foi destacado que em 2006, diante de tantas denúncias envolvendo o "Cemitério Geral do Sul", e também por não querer pagar mais nenhum centavo para exumar os corpos, o ex-presidente Hugo Chávez ordenou que o mesmo fosse fechado. Assim sendo, o município encerrou o contrato de concessão com a  Jardines La Chinita (Jarchina), que administrava anteriormente o cemitério.

Depois que o cemitério passou a ser administrado por orgãos públicos, a situação que já era ruim, passou a piorar cada vez mais. Não é difícil imaginar tal situação, visto que é possível encontrar vídeos no Youtube mostrando a situação do "Cemitério Geral do Sul", que datam desde 2009, como este abaixo (em espanhol):



Hoje em dia a exumação dos corpos, roubos que ocorrem até mesmo durante funerais, estupros, assassinatos, uso de drogas, e evidentemente, a profanação de sepulturas, figuram na lista de crimes que são cometidos dentro do cemitério. Crânios, fêmures e outros restos mortais de seres humanos ficam expostos para quem quiser ver e a qualquer hora do dia.

Os caixões de Joaquín Crespo, que foi presidente da Venezuela por duas ocasiões no final do século 19,
e de sua esposa já tinham sido profanados no passado
O Crónica Uno fez questão de mencionar, que os casos envolvendo roubos de ossadas humanas não eram uma novidade, porém a situação havia piorado nos últimos meses, considerando que não havia mais nenhum túmulo que se respeitasse. Como exemplo, foi citado que os caixões de Joaquín Crespo, que foi presidente da Venezuela por duas ocasiões no final do século 19. e de sua esposa, já tinham sido profanados no passado. Até hoje não se sabe do paradeiro do crânio de Joaquín Crespo, muito menos dos objetos valiosos que teriam sido sepultados com ele.

Em uma matéria publicada pelo site de notícias "El Estímulo", em 18 de fevereiro desse ano, foi dito que a criminalidade não respeitava mais nada, muito menos a dor das pessoas, visto que a nova estratégia do crime era sequestrar as pessoas no cemitério. Qualquer pessoa que estivesse carregando flores, um terço ou uma lembrança para ser colocada no túmulo de um ente querido, poderia se tornar um alvo dos criminosos, que usavam binóculos do alto do morro, no bairro "Las Quintas", para caçar suas vítimas. Qualquer pessoa que chegasse em um carro novo ou pelo menos um que estivesse em bom estado, poderia ser tornar uma vítima em potencial de sequestro.

A vista panorâmica do alto do morro era de um cemitério desolado, com mais de 40% dos túmulos profanados, e repleto de criminosos. Eram eles que passeavam pelos caminhos estreitos entre os túmulos para subjugar as pessoas que simplesmente estivessem rezando um terço ou até mesmo chorando em um último adeus.

Qualquer pessoa que estivesse carregando flores, um terço ou uma lembrança para ser colocada no túmulo de um ente querido, poderia se tornar um alvo dos criminosos, que usavam binóculos do alto do morro, no bairro "Las Quintas", para caçar suas vítimas
Em 31 de janeiro, um domingo pela manhã, por volta das 11h, um casal foi "escolhido" e se tornou vítima de uma terrível emboscada. Eles chegaram em utilitário, um Kia Sportage, para prestar homenagens a algum familiar que muito provavelmente estaria enterrado no "Cemitério Geral do Sul", mas minutos depois seus planos foram subitamente interrompidos. Sob a ameaça de morte, homens armados sequestraram o casal dentro do cemitério. Eles foram levados em um outro veículo, uma caminhonete Toyota Hilux. O carro do casal foi deixado para trás.

Uma pessoa que testemunhou o que havia acontecido foi quem alertou a polícia, que estava parada na entrada do cemitério. Os criminosos tinham seguido pela Avenida Guzmán Blanco, também conhecida como "Cota 905", uma região em que casos de sequestros e roubo de veículos são alarmantes. O mais angustiante é que não se sabe exatamente o que aconteceu com o casal, afinal nenhum site de notícias da Venezuela atualizou as informações referentes a esse caso.

Segundo o site "El Estímulo", as autoridades policiais já tinham matado cerca de 30 criminosos em menos de 6 meses nessa mesma região. Apesar desse número, a taxa de criminalidade não diminuiu, pelo contrário, vinha se multiplicando. Muitos dizem que há uma geração inesgotável de criminosos.

Em 31 de janeiro, um domingo pela manhã, por volta das 11h, um casal foi "escolhido" e se tornou vítima de uma terrível emboscada. Eles chegaram em utilitário, um Kia Sportage, para prestar homenagens a algum familiar que muito provavelmente estaria enterrado no "Cemitério Geral do Sul", mas minutos depois seus planos foram subitamente interrompidos.
Sob a ameaça de morte, homens armados sequestraram o casal dentro do cemitério

A mesma coisa aconteceu com um homem que foi visitar o túmulo de um parente no final de 2015. Quando estava limpando a sujeira deixada pelas folhas e pétalas mortas das flores, que tinham sido anterioremente levadas por ele, o mesmo foi abordado por dois homens. Um deles o abraçou, disse algo bem próximo dele, e depois os três estavam caminhando em direção a um matagal, que fica entre o cemitério e o bairro vizinho. Um trabalhador testemunhou o que aconteceu, mas optou em permanecer em silêncio por medo. Ele foi ameaçado de morte, e teve receio de se tornar mais um túmulo no "Cemitério Geral do Sul", que provavelmente seria uma questão de tempo até ser profanado.

Todas as vítimas de sequestro acabam pagando em dólar para serem libertadas, e isso contribui para o financiar as facções criminosas na "Cota 905". Segundo a matéria, os policiais até sabem onde os grupos criminosos se escondem, mas não fazem nada por diversos fatores: não se tem autorização para invadir os locais ou territórios pacificados, estão em desvantagem em relação ao poder de fogo dos criminosos, e parecem ter perdido a prática em relação aos procedimentos a serem adotados nesses casos.

Os criminosos tinham seguido pela Avenida Guzmán Blanco, também conhecida como "Cota 905", uma região em que casos de sequestros e roubo de veículos são alarmantes. Segundo o site "El Estímulo", as autoridades policiais já tinham matado cerca de 30 criminosos em menos de 6 meses nessa mesma região
Não somente o crime de sequestro tem crescido, mas tem o de roubo de veículos. Os comerciantes são testemunhas da violência praticada pelos criminosos, que roubam cerca de 15 a 20 carros por dia. Infelizmente, muitas vítimas preferem estacionar nos arredores do cemitério, do que pagar um estacionamento particular. De qualquer forma, mesmo que não tenham seus carros roubados, provavelmente serão vistos por criminosos do alto do morro, e serão roubados dentro do cemitério.

Atualização #1: 11/05 - 23h50


A usuária Tatiana Uchoa comentou em nosso vídeo publicado no Youtube, que ela morava no estado de Roraima, mais precisamente próximo da fronteira com a Venezuela. De acordo com ela, o câmbio na cidade de Santa Elena de Uairén, na Venezuela, estava em 280 bolívares por R$ 1,00 (considerando a cotação praticada na cidade nesse mesmo dia). Assim sendo, 50 mil bolívares seriam equivalentes a R$ 178,57.

Na verdade, isso reflete uma notícia publicada no site do jornal "El País", em 10 de julho do ano passado, que informava que o bolívar venezuelano valia apenas 1% do que dizia o câmbio oficial. Resumindo? "Oficialmente", um crânio custa cerca de R$ 18.000, porém, "na prática ele custa por volta de R$ 180". Ironicamente, é fácil entender o motivo pelo qual os criminosos cobram, em dólar, o preço pela liberdade de suas vítimas.

Comentários Finais


Em 10 de dezembro de 2009, foi publicada uma matéria no site do NYT, assinada pelo correspondente Simon Romero, que atualmente é chefe da sucursal brasileira do jornal "The New York Times". A matéria simplesmente apontava que nem mesmo os mortos descansavam em paz na Venezuela. Naquela época, já se dizia que em nenhum lugar o "tráfico de ossos" prosperava mais do que no "Cemitério Geral do Sul". Durante o dia, criminosos bêbados passeavam por seus corredores a pé ou em motos, e que de vez em quando assaltavam os visitantes. A polícia era acusada de insultar e intimidar as pessoas, além disso ignoravam os abusos que viam diariamente. Quando jornalistas apareceram no portão do cemitério com uma autorização para a realização de entrevistas, os policiais disseram que a autorização não tinha valor, e exigiram uma propina de 1.000 bolívares (cerca de R$ 350 pela cotação atual), para permitir a continuidade do trabalho. Diante da recusa dos jornalistas, eles reagiram dando de ombros. José Francisco Ceballo, um ex-administrador do "Cemitério Geral do Sul", causou tumulto no mês de maio daquele ano, quando disse que o cemitério estava "um caos". Naquele mês, segundo ele, inspetores descobriram que pelo menos 475 caixões tinham sido saqueados.

Os praticantes locais do "Palo" alegavam na época, que a religião era incompreendida e demonizada devido aos relatos de "caos" no "Cemitério Geral do Sul". Eles reconheciam a importância dos ossos humanos para sua religião, que eles colocavam em uma espécie de caldeirão de metal chamado de "nganga", junto com terra e gravetos, e ofereciam a um espírito ou "mpungu". Porém, os paleros (como são conhecidos os seguidores da religião) protegiam muitas de suas práticas da vista da pessoas. Um homem chamado Samuel Sambrano, um líder palero local, disse que era fácil culpar os paleros por todos os problemas da Venezuela, e fez a seguinte pergunta: "Será que todos os católicos devem ser culpados por alguns padres ruins?" Sem dúvida alguma uma ótima pergunta, porém totalmente fora do contexto diante da situação caótica pela qual o cemitério passava. Na religião do "Palo" os ossos representariam os ancestrais e espíritos dos mortos. Por conter a energia espiritual dos mortos, quanto mais poderosa fosse a pessoa em vida, mais fortes seriam os ossos.

Algumas pessoas que tiveram ossos de parentes roubados culpavam o governo Chávez, por ter trazido milhares de consultores políticos cubanos. Porém, especialistas em religião diziam que a migração do Palo à Venezuela, e sua evolução local com fortes influências venezuelanas, antecedia a ascensão de Chávez ao poder. Segundo Andrew Chesnut, especialista em religiões latino-americanas da Virginia Commonwealth University, nos Estados Unidos, o Palo provavelmente chegou à Venezuela com a primeira onda de cubanos fugitivos da revolução, no início da década de 1960, e tinha se fortalecido ao longo das últimas décadas. Diante desse cenário, teria se originado a atração por restos mortais encontrados em mausoléus ornamentados. E desde aquela época, em 2009, a cena de destruição se repetia por todo o cemitério, que é ligado a favelas através de estradas de terra.

E aqui estamos, cerca de 7 anos depois, contando praticamente a mesma história publicada no NYT em 2009. Infelizmente e aparentemente, o que muda são as apenas os nomes das vítimas que tiveram seus restos mortais profanados e os nomes de seus familiares, que entram em desespero ao ver os ossos de entes queridos sendo roubados e seus caixões destruídos. Isso é muito além de qualquer política ou de qualquer religião. É o total e completo desprezo pela vida e pela dignidade humana. Não há lei, não há ordem, não há progresso, não há vida, não há sequer esperança, porque as pessoas sequer têm direito de chorar ao se depararem com os túmulos abertos. Se demorarem muito ou se estiverem distantes da entrada do cemitério, correm um risco ainda maior de ocuparem o espaço vazio deixado nos túmulos de seus parentes.

Provavelmente, o "Cemitério Geral do Sul"é o local mais democrático de Caracas, onde a morte pode atingir qualquer um, a qualquer hora, independentemente da condição social ou em quem votou na última eleição. Do alto do morro, durante a noite, criminosos inescrupulosos avistam uma "estrela vermelha" e brilhante no céu, o planeta Marte, cujo nome remete ao Deus da Guerra, intensamente cultuado e adorado na Antiga Roma. Não importa por quantas horas a população ficará sem luz, Marte continuará brilhando no céu, fazendo com que todos os cidadãos lembrem do óxido de ferro que cobre sua superfície, assim como a ferrugem de milhares de sepulturas de seus entes queridos no cemitério. Sem dúvida alguma a culpa não pode ser atribuída apenas a uma estrela, mas seria fundamental que Marte fosse apenas e tão somente um pequeno ponto no céu, e não a principal fonte de exemplo e inspiração de criminosos.

Até a próxima, AssombradOs.

Criação/Tradução/Adaptação: Marco Faustino

Fontes:
http://www.nytimes.com/2009/12/11/world/americas/11venez.html?_r=0
http://www.noticias24.com/venezuela/noticia/316084/realizan-jornada-de-desmalezamiento-y-remocion-de-escombros-en-el-cementerio-del-sur/
http://www.2001.com.ve/con-la-gente/130386/cementerio-del-sur-fue-acondicionado-para-el-dia-de-las-madres---fotos-.html
http://www.el-nacional.com/sociedad/Cementerio-Sur-azotado-Dia-Madres_0_844115607.html
http://atodomomento.com/fotos-asi-se-encuentra-el-cementerio-del-sur-que-es-azotado-por-el-hampa/
http://www.analitica.com/sucesos/cementerio-del-sur-esta-sin-un-policia-y-azotado-por-el-hampa/
http://ccnoticias.com/2016/05/08/cementerio-general-del-sur-no-se-salva-del-hampa-dia-las-madres/
http://aicando.org/blog/america-latina/uma-visita-aos-muertos/
http://www.2001.com.ve/con-la-gente/114271/-en-caracas-no-hay-paz-ni-en-los-sepulcros-.html
http://www.eluniversal.com/noticias/caracas/cementerio-del-sur-esta-tomado-por-hampa-repleto-basura_8342
http://www.ultimasnoticias.com.ve/noticias/actualidad/sucesos/detienen-a-tres-profanadores-de-tumbas-en-cementer.aspx
http://www.2001.com.ve/en-la-calle/130067/dos-motorizados-asesinaron-a-un-hombre-en-el-cementerio-.html
http://www.ultimasnoticias.com.ve/noticias/ciudad/parroquias/bs-100-mil-cobran-por-exhumar-una-tumba.aspx
http://www.2001.com.ve/con-la-gente/114271/-en-caracas-no-hay-paz-ni-en-los-sepulcros-.html
http://elestimulo.com/climax/cementerio-del-sur-secuestro-por-llorar-a-un-muerto/
http://cronica.uno/cementerio-del-sur-no-asustan-los-muertos-sino-tumbas-abiertas/
https://www.youtube.com/watch?v=SAX8_aR2fjQ
https://www.youtube.com/watch?v=A7MkQMk1n4o
https://www.youtube.com/watch?v=LGSbk35NnRo
https://www.youtube.com/watch?v=MihZ6Mc57ko

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